1200000430edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ·YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
C U L T U R A B R A S IL E IR A E O C O N S U M O D E A L IM E N T O S :zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo t~.ijãocor11a r r o z . .
B a n c a e x a m in a d o ra
Prota. Orientadora Maria Cecília Spina Forjaz
Prot. Marcos Henrique Nogueira Cobra
Prof. André Torres Urdan
. '.
Às duas mulheres de minha vida: minha mulher e minha mãe.
-,
....
""" .· FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
JOSÉ VICENTE MARINO
O feij~();BA
com
arroz .:11111'1
edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA3 0 .
Dissertação apresentada a o .Cu rso de
Pós-Graduação daFGV/EAESP
Área de concentração: Políticas de
governo como requisito para obtenção de título de mestre em Administração.
Orientadora: Prota. Maria -Cecllia Spina.
Forjaz
SÃO PAULO
,;)
:1." I
SP-00016089-3
"
MARINO, José Vicente. Cultura brasileira e o consumo de Alimentos~ O
féijãocomBA
arrolo
São Paulo: EAESP/FGV, 2000. 107p. (Dissertação deMestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação daEAESP/FGV,
Área de Concentração: Políticas de governo).
Resumo: Trata da influência do processo de formação social no Brasil no
consumo de alimentos no ano 2000. Abordao processo de decisão do
consumidor, o conceito antropológico de cultura, a visão da cultura'
brasileira sob a ótica de Gilberto Freyree da alimentação no Brasil.
Realiza uma pesquisa quantítatlva com 448 mulheres da cidade de
Curitiba. Aponta os reflexos; da formação social brasileira nos pratos
feijão e arroz.
Palavras-Ohaves: Cultura ~ Consumo ~Alimentação ~ Comportamento do
consumidor ~ Pesquisa mercadológica ~Alimentação no Brasil- Feijão
S U M Á R IOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1. INTRODUÇÃO 1
2. METODOLOGIA E HIPÓTESE 6
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
3.2 CULTURA
3.3 CULTURA BRASILEIRA - A ABORDAGEM DE
GILBERTO FREYRE
3.4 ALIMENTAÇÃO NO BRASIL - AS CONTRIBUiÇÕESedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1 0
1 0
22
34
41
4. PESQUISA DE CAMPO
4.1 CONCEiTUAÇÃO
4.2 CONCLUSÕES DO CAMPO.
4 9
4 9
6 1
5. CONCLUSÕES 64
6. ANEXO -TABELAS DE RESULTADOS DA PESQUISA 71
Agradecimentos:
A Deus;
A Refinações de Milho, Brasil Ltda;
A In pesquisa e Marketing, pela aplicação dos questionários da pesquisa de
campo;
Aos Professores Maria Cecília S. Forjaz, Marcos Cobra e Rubens da Costa
Santos pela concepção do presente trabalho ter surgido em função de seus
1 -YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAIN T R O D U Ç Ã OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Às vésperas dos 500 anos do descobrimento do Brasil, várias atividades
ligadas ao tema têm suscitado na população a reflexão: o que é o Brasil e
quem é o brasileiro. Programas de televisão, atividades culturais, publicações
de temas relacionados às origens ganham espaço dia-a-dia, tanto em nível de
debate acadêmico quanto nas ruas das cidades.
O resgate do tema tem, entretanto, um caráter histórico e busca
encontrar em cada brasileiro a valorização do seu país. A maior emissora de
TV, a Rede Globo, com altos índices de audiência para uma única
programação, adotou o modelo de "programetes" diários com o título:zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA500 anos
de Brasil, em horário> nobre e instalou placares nas grandes cidades, com a
contagem regressiva de dias. Tudo isto contribui para a atualidade do tema.
Dentre todas as atividades culturais 1, no sentido restrito do termo, este
estudo revive a discussão da obra de Gilberto Freyre, que, neste ano, completa
o primeiro centenário de seu nascimento. Publicações, seminários, filmes de
curta e até um longa metragem estão sendo inspirados pela obra desse autor,
que, diga-se, foi muito atacado e criticado na academia, mas hoje, felizmente, é
reconhecido, independente de correntes políticas, como um dos que mais
contribuiu para que se compreendesse oBrasil e o brasileiro.
O seminário Os clássicos do pensamento social brasileiro, ministrado
pela professora Ora. Maria Cecília Spina Forjaz, em nível de pós graduação
strictu sensu, na EAESP/FGV em 1997, motivou a leitura da obra de Gilberto
Freyre. Adicionando o interesse com hábitos alimentares, tem-se o presente
trabalho e seu tema central: ainda hoje, o brasileiro, não só na sua maneira de
agir, na forma de relacionamento social, mas também na alimentação é fruto de
1Trataremos do conceito de cultura no desenvolvimento do trabalho.
sua herança cultural, e ela está diretamente relacionada à condição social em
que viveram os povos que formaram a sociedade brasileira na época de nossa
colonização".
O maior desafio que este estudo enfrentou desde sua concepção residiu
na necessidade de extrapolar os limites departamentais das ciências e, ao
mesmo tempo, imprimir a conjunção de conhecimentos de Antropologia,
Ciências do Comportamento, Ciência Política, Estatística e Mercadologia.
A primeira parte do presente estudo restringe-seedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà revisão bibliográfica.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA=<;
A mesma é feita em quatro itens: a) comportamento do consumidor, b) cultura,
c) a abordagem de Gilberto Freyre e d) alimentação no Brasll: as contribuições.
A segunda parte consiste numa pesquisa de campo de hábitos e
atitudes na alimentação e culinária. Finalmente, conclui-se o estudo com a
comprovação de nossa hipótese centraí.e com os resultados dela advindos.
No campo das ciências do comportamento este trabalho volta sua
atenção ao comportamento do homem enquanto consumidor. Este tema,
entretanto, por si, engloba mais de uma área do conhecimento, nascendo no
campo da Teoria Econômica e se desenvolvendo com a Sociologia e
Psicologia. Tema em franco desenvolvimento graças aos interesses
econômicos das empresas que buscam o entendimento de seus consumidores
como forma de conquistar riqueza.
A bibliografia sobre comportamento do consumidor cumpre o capítulo
3.1. Inicialmente faz-se uma análise da evolução do tema, mas volta-se o foco
para o entendimento do modelo de comportamento de consumo, seguido da ,.
interferência que a cultura tem neste modelo.:~!
, _ O ,?
A partir da Antropologia chegou-se ao conceito de cultura e se tornou
possível acompanhar historicamente a evolução do conhecimento sobre o .~.
2Ver capítulo 2.
tema. A cultura, muito estudada no passado, principalmente para justificar
processos de unificação social e para entender semelhanças, ocupa lugar de
destaque neste estudo. O capítulo 3.2 é dedicado ao entendimento do
conceito de cultura.
A cultura em um país continental como o Brasil manifesta-se de várias
formas e tem características muito particulares de acordo com a região
geográfica focalizada. Portanto, tratar de cultura brasileira de forma unificada,
será sempre difícil.
Ainda no que se refere à cultura, tenta-se entender de forma mais
objetiva sua interferência no consumo, e percebe-se de forma muito clara que o
consumo, como atividade cotidiana do homem, com todos os seus significados,
acaba por imbricar-se na própria cultura.
O estudo volta-seedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà cultura brasileira. Da obra de Gilberto Freyre,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBACasa
Grande e Senzala (1995), emergiu a opção de mostrar uma interpretação do
Brasil e dos brasileiros. As demais leituras críticas foram de relevância para o
entendimento do tema mas o fulcro da abordagem apóia-se no pensamento de
Freyre. Mais do que isto, o ponto central de sua obra" é o ponto de partida de
nosso estudo. Veja-se à frente que nossa hipótese, focada em alimentação e
culinária, é decorrência do pensamento de Freyre e será testada e observada
no campo. Mesma metodologia utilizada por Freyre.
Um rápido levantamento sobre as contribuições deixadas por
portugueses, índios e negros, no que se refere à alimentação, é feita com base
em ingredientes e técnicas culinárias. Não se vai ao detalhe de receitas
completas senão das principais conhecidlase encontradas ainda hoje. A análise
regional também é desprezada e tenta-se analisar as contribuições que
ganham caráter nacional.
3 Há um capítulo dedicado ao entendimento da obra de Gilberto Freyre
A última etapa desta pesquisa dedica-se exclusivamenteedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà alimentação e
à culinária; primeiramente através da conceituação e realização de uma
pesquisa quantitativa de hábitos alimentares e culinários na preparação dos
principais pratos do cardápio brasileiro: feijão e arroz; e, em seguida, pelo
estabelecimento de um paralelo entre as receitas da época da colonização e as
utilizadas hoje, buscando identificações e coincidências tão relevantes que
delineiem a conclusão de que, no decorrer de anos de história, mantêm-se as
mesmas receitas culinárias que alimentaram os homens de ontem ainda hoje.
Como não é o escopo do presente trabalho levar em consideração as
diferenças regionais, e dadas as limitações econômicas do presente estudo, a
pesquisa foi realizada apenas na cidade de Curitiba. A escolha recaiu em
Curitiba e não em São Paulo (como havia sido definido no projeto deste estudo)
devido à viabilização econômica", O capítulo 4, Pesquisa, descreve a
metodologia, os procedimentos utilizados, bem como os resultados alcançados.
Este estudo trata de cultura brasileira mas não se pode deixar de discutir
o tema da globalização. Assim, abre-se uma discussão de tendência mundial,
apresentando-se a visão de diversos autores sobre os temas: globalização
versos regionalização. Eles vêm sendo discutidos e estão sendó revistos,
principalmente pelas implicações que estabelecem em nível mundial, tanto na
economia quanto na política.
Entender o mundo de forma globalizada não significa simplificar a cultura
da humanidade ao padrão ocidental de pensar. Uma das lições que se tira
desta revisão bibliográfica é que deve-se deixar de lado a lente da visão,
através da qual enxerga-se o mundo, para poder analisar o comportamento
humano. Percebe-se que, na grande maioria dos textos percorridos, o autor
está impregnado de seu próprio aprendizado, de sua própria cultura.
4 ver capítulo 4, pesquisa.
o
debate sobre a globalização e de como será organizado o mundo embreve está apenas começando. Por outro lado, a visão ocidentaledcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé uma delas.
O debate da globalização é especialmente importante em nosso estudo pelas
implicações conclusivas que traz, uma vez que pretende-se demonstrar que a
condição social de dominação acaba impondo seu modo de vida, alterando
hábitos e comportamentos cotidianos. ( É o que acontece com os índios e
escravos do Brasil colônia). Da mesma forma, poder-se-á inferir que em um
mundo globalizado os hábitos de comportamentos dominantes acabarão por se
implantar de forma espraiada.
2 -YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAM E T O D O L O G IA E H IP Ó T E S EzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Dois métodos de estudo são utilizados no presente estudo: revisão
bibliográfica e pesquisa de campo.
Primeiramente faz-se uma visita à bibliografia dos temas centrais do
estudo: comportamento do consumidor, cultura, cultura brasileira, pesquisa
mercadológica: Desta primeira leitura selecionam-se as abordagens
consideradas mais adequadas para uma segunda leitura mais profunda e
posterior resenha. Buscam-se complementar as eventuais lacunas deixadas
pelas resenhas com alguma referência bibliográfica adicional", e até com
conceitos novos. Surgiu assim o capítulo 3 do presente estudo, subdividido em
quatro partes: comportamentod o consumidor, cultura, a abordagem de Gilberto
Freyre, a alimentação.
Em seguida estrutura-se a pesquisa de campo. Conceituam-se todos os
passos e etapas e parte-se para a aplicação. Os resultados são sistematizados
em um "software" de tabulação" que facilita em muito o trabalho de campo, pois
libera o foco do estudo para análise de dados e não para as tabulações
propriamente ditas.
É utilizada a pesquisa quantitativa, com realização de entrevistas
telefônicas. O uso do telefone foi o meio encontrado para viabilizar
economicamente a pesquisa, pois permitiu a aplicação do questionário por
várias pessoas.
Um questionário estruturado levantou informações sobre os pratos
servidos no almoço do dia anterior, os ingredientes utilizados e a forma de
5 Há momentos em que o próprio estudo acaba.por criar conceitos teóricos. Este fato se dá na
teoria do comportamento do consumidor, na qual não identificamos em nenhuma obra o conceito de indiferença em relação ao consumo.
6 Utilizou-se o programam francêszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBASphinx, versão lexica. Informações podem ser obtidas no
"sne" www.sphinxbr.com.br
preparo (arroz e feijão), e informações sobre sopas (tipos e freqüência de
consumo).
A pergunta sobre o dia anterior foi necessária e as entrevistas divididas
igualmente nos dias da semana para evitar coincidências de cardápio.
Percebe-se empiricamente, através da observação, que há uma certa regra de
construção de cardápio de acordo com o dia da semana, como: quarta-feira é
dia de feijoada; sexta-feira, dia de peixe.
Elementos foram selecionados aleatoriamente, com -estabelecimento de
intervalo a partir da lista telefônica da Cidade de Curitiba, eliminando os
elementos que não se enquadravam no perfil desejado.
A cidade de Curitiba foi dividida em quatro quadrantes eqüitativos em
quantidade de População Residente da faixa etária entre 18 e 70 anos. (IBGE
-Contagem da População 1997)
Os procedimentos adotados, bem como as métricas estatísticas
adotadas são descritas no capítulo 4.YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
H IP Ó T E S E
O mundo moderno tem sofrido alterações muito rápidas e profundas. O
consumidor da cidade de Curitiba pode em 15 minutos fazer todas as suas
compras no supermercado sem sair de casa, por telefone', .e ainda recebe toda
a encomenda em no máximo vinte e quatro horas. Se o indivíduo tiver acesso à
internet, poderá comprar livros que ainda serão publicados em qualquer lugar
do mundo e recebê-los 48 horas após o lançamento. Outro exemplo:
recentemente, um jovem americano começou uma experiência de viver comedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
7 Além de redes de lojas estarem se estruturando para oferecer isto como um serviço, existem
empresas especializadas em fazer compras, a partir de listas, garantindo ao consumidor além da conveniência o menor preço na aquisição de cada produto.
conforto e realizando tarefas cotidianas normais sem sair de casa, apenas com
comunicações e ordenações de suprimentos necessários através da internet.
Esta experiência terá a duração de dois anos.
Já nas principais cidades do interior ou das periferias das capitais do
nordeste, as pessoas, para se abastecerem de alimentos, chegam de diversas
cidades e vilas do entorno, em "paus de arara" para, nos finais de semana,
reunirem-se num local onde acontece a "feira".
Quanto mais desenvolvida for uma cidade e os meios de comunicação
de massa que atingem as pessoas mais forte será a influência da cultura
hegemônica mundial do ocidente (norte-americana). No entanto,
encontraremos. na sociedade brasileira traços culturais arraigados
historicamente tão fortes e marcantes que mesmo numa cidade de dois milhões
de habitantes (Curitiba) eles podem ser comprovados através da alimentação.
Muito pouco se sabe do grau de importância que a formação da
sociedade brasileira desempenha no consumidor ainda hoje. Também pouco
se sabe sobre as caraterísticas do consumidor de hoje se levados em
consideração os hábitos trazidos pelas culturas dos povos que formaram a
sociedade brasileira", portugueses, índios e negros.
Nossa pesquisa tem a seguinte hipótese principal:
Apesar de toda a influência recebida desde a chegada dos
colonizadores portugueses ao Brasil, as "culturas" formadoras da sociedade
brasileira influenciaram-na de maneira tão intensa que deixaram hábitos até
hoje praticados na alimentação e na culinária. Essa herança, decorre
diretamente do papel social que cada uma das culturas desempenhou. Ou seja,edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
8 É importante destacar a influência de outros processos de incorporação de culturas pela
influência que outros povos têm no comportamento do consumidor, aqui a referência é
basicamente ao grande processo de imigração que se deu principalmente no sudeste e sul do Brasil.
o resultado do processo de formação da sociedade brasileira foi tão marcante e
de raízes tão profundas que, apesar da globalização e de toda influência
sofrida pelo meio externo e interno, guardam-se marcas tão profundas que até
hoje podem ser reconhecidas no dia-a-dia. Pretende-se demonstrar através de
pesquisa quantitativa de preparo e consumo de alimentos no lar, realizada no
campo, que ainda são mantidos fortes traços culturais da sociedade formadora
da cultura brasileira: pratos e receitas. Far-se-á a comparação dos resultados
desta pesquisa com estudos de alimentação e culinária na época da formação
de nossa sociedade.edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
. '. _ . < 1 .
3 -YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAR E S E N H A B IB L IO G R Á F IC A
3 . 1 C O M P O R T A M E N T O D O C O N S U M ID O RzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Decorrente da necessidade de as empresas convencerem consumidores
na aquisição de produtos, ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAcomportamento do consumidor é um tema de
interesse muito recente na história. Sua pouca idade deve-se ao estreito
espaço de tempo que liga um mundo onde se consumia o que se produzia a
um mundo no qual o consumidor é soberano para escolher entre diversas
opções da oferta disponível. Mesmo nos tempos atuais, dependendo da
ocasião ou do mercado, a soberania do consumidor é ainda relativa. O estudo
do tema tem sido utilizado principalmente por empresas que buscam o
entendimento do comportamento para estabelecimento de suas estratégias de
atuação no mercado.
Pode-se, porém, utilizar este conhecimento não apenas de maneira
. ,
positiva para o interesse das empresas, mas também para o estabelecimento
de mecanismos de defesa dos consumidores frente a abusos e desrespeitos,
bem como agir no sentido de estabelecimento de políticas públicas, tais como:
a proibição de consumo de bebidas alcóolicas por menores, o aviso de que
fumar provoca malefícios àsaúde.
As perspectivas sobre comportamento do consumidor vêm tendo
significativo avanço com a globalização. Uma perspectiva de entendimento do
consumidor como ser global, ou melhor, como consumidores influenciáveis da
mesma forma vem ganhando muita força. Apesar do processo de globalização
ser evidente e inegável deve-se ter bastante cautela em admitir que os
consumidores são influenciáveis da mesma forma em todo mundo.
o
estudo do comportamento do consumidor se inicia no campo dasCiências Econômicas com Adam Smith, em 1776, em seu tratado sobre
economia: AzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBARiqueza das Nações (1983). A visão econômica, hoje denominada
microeconomia, não será suficiente para explicar o comportamento do
consumidor, porém não pode deixar de registrar contribuição tão importante.
O ponto central dessa teoria volta-se para o consumidor, que,
apresentando restrição econômica, tenta" maximizar sua satisfação,ou como na
teoria econômica, sua utilidade. A teoria tem como princípio básico a lei da
utilidade marginal decrescente. Ao escolher uma cesta de bens e serviços o
consumidor vai optar por aquela que lhe traga a maior "utilidade" por unidade
econômica despendida. Ou seja, por um mesmo valor econômico o consumidor
optará por uma cesta de bens e serviços que gere uma utilidade maior que
outra.
À medida que a quantidade de um bem ou serviço é consumida há um
aumento da utilidade total dada pela soma total das cestas consumidas, sendo
que este aumento se dá a taxas decrescentes. Ou seja: a utilidade gerada pelo
consumo de mais uma unidade vai gradativamente caindo. A quantidade de
utilidade gerada pelo consumo de mais uma unidade dó bem ou serviço
chama-se utilldade marginal.
Este são os conceitos básicos que tentam explicar o comportamento" do
consumidor sob o ponto de vista econômico". O estudo do comportamento do
consumidor daí em diante se dá de forma interdisciplinar com contribuições de
diversas áreas do pensamento: psicologia, antropologia, economia,
mercadologia, sociologia dentre outras.edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
9 Neste momento não se detalha a teoria micro econômica do comportamento do consumidor.
Entretanto .os conceitos apresentados no texto acima são a base pela qual a teoria se desenvolve e deve-se utilizar tais contribuições para a agregação interdisciplinar do tema.
APRENDIZADO
Antes de iniciar a apresentação de um modelo do comportamento do
consumidor, considera-se importante . discorrer sobre o conceito de
aprendizado.
Psicólogos colocam-no como um dos processos mais importantes do
comportamento humano. Este dado torna-se relevante parao presente estudo
porque salienta o principal problema do modelo econômico apresentado acima:
considerar gostos e preferências de maneira estática; por outro lado, amplia a
dimensão do tema.
Encontram-se várias definições sobre aprendizado porém ao se
reunirem dois aspectos principais nelas presentes pode-se assim agrupá-Ias: a)
alterações mais ou menos permanentes que ocorrem como resultado da
prática; b) processo pelo qual uma atividade se origina ou é alterada por reação
a uma situação encontrada.
Há duas correntes que diferem quanto ao que se aprende: o
Behaviorismo e a Gestaít".
O CONSUMIDOR E SUA ESCOLHA
Ao decidir consumir, o consumidor tem muitas escolhas a fazer. O que
comprar? Como' comprar? Onde comprar? Quando comprar?' Gomo pagar?
Como usar? Enfim, todas estas respostas são dadas. pelo consumidor no
processo de consumo.edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1 0 o behaviorismo, iniciado com Watson em 1913, que tem em Skinner seu maior representante,
está formulado com base no conceito de condicionamento operante, e é' também conhecido como estimulo-resposta. Segundo esta corrente aprendem-se hábitos. A Gestalt'? ou escola cognitiva, diz que aprendem-se por estruturas cognitivas e portanto não é possfvel entender um estimulo de maneira isolada do contexto amplo. A Gestalt parte do conceito de percepção para fundamentar sua teoria.
Os autores James Engel, Roger 81ackwell e Paul Miniard apresentam a
abordagem mais completa sobre esse tema, portanto estará aqui sintetizado,
mas, complementado por outros autores, quando necessário.
A decisão do consumidoredcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé influenciada por muitos fatores que podem
ser classificados em três diferentes categorias: diferenças individuais;
influências do ambiente e processos psicológicos. Cada categoria compreende:
Diferenças individuais:
Recursos: cada consumidor tem diferentes recursos disponíveis para
uma aquisição, como tempo, dinheiro e disposição para uso.
Conhecimento: cada consumidor tem uma quantidade de informações
armazenadas na memória que influem no comportamento.
Atitudes: do negativo ao positivo, cada consumidor tem uma diferente
atitude frente a alguma situação, marca, produto.
Motivação: A motivação interna de cada consumidor muda de forma
considerável de acordo com a situação em que se encontra.
Personalidade, valores e estilo de vida: as diferenças individuais são'
notadamente importantes na definição do comportamento.
Influências do ·ambiente:
Cultura: valores e significados dos bens atuam significativamente em
cada consumidor.BA "'ctt,;~
Classe Social: as diferenças de classe social normalmente diferem na
forma de comportamento.
Influências pessoais: todos os indivíduos são sujeitos a influências de
pessoas próximas.
Família: consiste no primeiro núcleo de influência comportamental.
Situação: cada consumidor pode se comportar de uma determinada
forma, dependendo da situação.
Processos psicológicos:
Processamento de informações: o processo de comunicação interfere no
comportamento.
Aprendizado: experiências vividas são aprendidas e mudam o
comportamento
Mudança de atitude e comportamento: em uma situação de escolha, a
alteração de uma variável pode mudar comportamentos. Éo caso das
promoções.
Engel, 81ackwell e Miniard descrevem o comportamento do consumidor
em um modelo com sete fases distintas e organizadas no tempo, a saber:
Identificação de necessidade; busca de informações; Pré-avaliação das
alternativas de compra; Compra; Consumo; Avaliação pós-consumo;
Eliminação do bem.
Veja-se cada fase:
1- Identificação de necessidade.
Todo processo comportamental se inicia apartir-do' momento emque há
a identificação de uma necessidade. Evidente que nem sempre racionaliza-se
esta identificação no dia-a-dia.
Para se definir esta etapa pode-se utilizar uma expressão matemática
simples que descreve bem o limiar em que se inicia o reconhecimento da
necessidade.
ED > EA, onde ED= estado desejado e EA = estado atual.edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Esta expressão mostra que, se o estado desejado for superior, maior,
mais intenso que o estado atual em que se encontra o indivíduo, obtém-se a
identificação de uma necessidade.
O exemplo clássico da fome ilustra muito claramente o conceito. Se o
sentimento de fome aparecer em intensidade superior ao de satisfação,
teremos a identificação da necessidade de comida. Muitos outros exemplos
poderiam ilustrar esta etapa do processo", pode-se inclusive detalhar
necessidades bem específicas.
2- Busca de informações
Após identificar a necessidade procura-se a satisfação, assim, inicia-se
um processo de busca de informações. Esta busca inicia-se internamente com
a utilização de conhecimentos e de experiências anteriormente vividas, é a
passagem por toda a memória para obter informações suficientes que ajudem o
indivíduo a satisfazer sua necessidade.
Pode-se ainda recorrer a informações externasedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà memória; quando a
busca interna se mostra insuficiente, lança-se mão da busca externa1 2 . Nada
mais do que procurar fora da memória informações que ajudem o.processo de
satisfação da necessidade.
1 1 Como não. se pretende esgotar o assunto mas simplesmente apresentar uma visão sintética
do processo de comportamento do consumidor não se detalha uma série de situações que levam à identificação de necessidade. Por exemplo: tempo após último cigarro; aquisição de um micro gera identificação de necessidade de um cursos, dentre outras.
1 2 Mais uma vez pode-se detalhar todo processo de busca externa com todas as suas
dimensões e uma análise mais criteriosa, detalhando quando e como ela acontece, incluindo os motivos que a influenciam. Um exemplo para se entender esta magnitude basta lembrar da aquisição de um bem de grande valor, como uma empresa. Evidentemente será analisada em detalhes uma série de informações para tomada desta decisão; em outro extremo pode-se citar a aquisição de uma bebida quando se tem sede no meio. da rua, o máximo que se recorre é a informações externas da disponibilidade de produtos e seus preços. Como se vê quanto mais corriqueira for a compra menor será a necessidade de informações e vice versa.
3- Pré-avaliação das alternativas de compra
Desvinculada da busca apenas para efeitos didáticos, a pré-avaliação
das alternativas é o terceira etapa do modelo de comportamento no consumo,
segundo o próprio nome diz, consiste em avaliar previamente as escolhas
adotada para satisfazer a necessidade identificada.
O processo dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBApré-avaliação varia enormemente de acordo com a
importância relativa da escolha: valor, importância estratéqica, sentimento etc.
Este processo pode ser dividido em quatro fases distintas: a)
estabelecimento de critérios. Preço: um dos critérios mais adotados é o fator de
decisão principal quando se trata da compra de "commodlties?". Marca: Muitas
vezes a marca é o critério de avaliação adotado. Uma marca muito forte e viva
na cabeça do consumidor decide a compra. Muitos outros critérios podem ser
estabelecidos;b) após estabelecer o critério, decide-se quais alternativas
devem realmente ser avaliadas. As alternativas variam muito de pessoa para
pessoa e de acordo com os critérios estabelecidos. Pode-se criar uma lista dos
principais critérios dependendo do produto, da necessidade etc.; c) definidas as
alternativas a serem avaliadas, são atribuídos valores a cada uma. Aqui
começam as primeiras eliminações, um preço fora do aceitável em valores,
uma qualidade percebida abaixo do necessário, dentre outras; d)finalmenteedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAh á .
o estabelecimento deurna regra de decisão. Decide-se qual será a 'estratégia
utilizada para selecionar as alternativas em avaliação. Esta estratégia pode ser
dividida em mais de uma fase. Uma não compensatória, isto é, um atributo
fraco de um produto não pode ser substituído por outro forte, e uma
compensatória, como aceitar uma qualidade inferior pelo preço correspondente.
1 3Ao contrário do que possa parecer o preço nãoé o principal fator de decisão de compra do
consumidor, mesmo em casos de compras habituais. Vários estudos foram realizados
principalmente pelo setor varejista e conclui-se que o preço é muito importante, mas nem
sempreé o principal fator de escolha do consumidor. Ver Raphael Murray (1998).
4- Compra
Na quarta etapa do processo de comportamento do consumidor está a
compra propriamente dita. Até aqui pode-se, por qualquer motivo, desistir da
compra. Uma necessidade satisfeita de outra forma, uma mudança na
circunstância, uma nova informação adquirida, ou mesmo a faltade oferta para
a alternativa escolhida.
Com o aumento da competitividade, muitas facilidades são criadas para
dirigir o consumidor à compra: formas de pagamento, acesso a financiamento,
entregas, dentre outras.
Uma compra pode ser classificada em três categorias: a) compras
pré-planejadas: o consumidor sabe claramente o que deseja comprar e busca a
solução; b) parcialmente planejadas: o consumidor sabe a categoria que
deseja, mas vai à compra sem ter a definição exata do produto/serviço a ser
adquirido; e c) não planejadas ou por impulso: considerado uma exceção no
modelo de comportamento de consumidor; há estudos completos sobre esta
categoria de comprasedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA1 4 .
Várias formas e modos diferentes de compra são analisados e
estudados. Mais recentemente o foco destes estudos tem se '{citado à compra
,
-via internet, dada a importância que a- rede mundial de computadores assume
atualmente.
A tentativa de personificação da oferta, e a consideração de que se deve
individualizar tratamentos e produtos vem despertandlo cada vez mais a
atenção para "marketing" direto, "telemarketing", "helpdesk" e outra formas
individualizadas que pretendem facilitar a compra.
5- Consumo
'
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1 4 A compra por impulso ,segundo Dennis D. Rook (1987), pode conter uma das seguintes
caracterlsticas: espontaneidade, compulsão, excitação, sem conseqüências.
Uso do bem ou serviço adquirido, o consumo tem sido alvo das mais
diversas e profundas pesquisas de mercado. O consumo de um mesmo
produto ou serviço pode-se dar de formas diferentes em países diferentes, em
situações diferentes, ou mesmo em ocasiões diferentes.
Determinante para as empresas adequarem seus produtos, cada vez
mais busca-se não apenas o convencimento da compra do produto como
também de seu uso. O exemplo que pode-se utilizar é o <dosrefrigerantes. Até
dez anos atrás, as embalagens disponíveis eram: individuais em garrafas de
290 ml, e família em garrafas de 1 litro. Hoje uma lata, embalagem individual,
contém 350 ml, ou seja, 60 ml a mais de produto para a mesma dose, um
aumento de 21% na dosagem. Garrafinhas de 600 ml aparecem como a nova
dose individual, enquanto a embalagem família dobrou, mudou de um para dois
litros.
Outro exemplo bem conhecido dos profissionais de "marketing" é o dos
cremes dentais. Para aumentar o consumo de creme dental,em uma escovação
aumentou-se o diâmetro da boca do tubo.
Serviços estão cada vez mais disponíveis. Um aparelho de telefone que
cabe no bolso e funciona em qualquer lugar do planeta é um exemplo moderno
de como a disponibilidade gera consumo.
O consumo pode ainda ser compalsivo-ou fruto 'de vlciocomo'bebtdase
jogos, e a interferência do poder público para regular este consumo também
requer conhecimento do assunto. Um bom exemplo é o da indústria tabagista.
Após anos de discussões, concluiu-se que o fumo provoca câncer e uma série
de malefíciosedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà saúde dos indivíduos, assim, assiste-se hoje a uma "
compensação financeira da indústria ao governo americano pelos recursos
gastos nos tratamento gerados pelo cigarro. Certamente, os demais países emzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
..<:
que estas indústrias atuam, também acabarão por exigir a mesma postura.
6- Avaliação pós consumo
O processo de comportamento não se encerra com o consumo
propriamente dito, visto que uma avaliação pós-consumoedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé sempre realizada.
Esta avaliação pode ter três formas: satisfação, indiferença e insatisfação1 5 , o
primeiro e último em diferentes graus de intensidade.
É comum pesquisar consumidores com o objetivo de avaliarsua reação
quanto ao consumo de um produto ou serviço, inclusive medindo diferentes
graus de satisfação. A avaliação decorre da comparação da expectativa antes
do consumo e da constatação após o mesmo. A diferença de intensidadeé que
irá determinar a avaliação.
APC - E> O satisfação
APC - E =O :::;> indiferença
APC - E< O insatisfação
Nem tudo , ou melhor, quase nada é absoluto no campo do
comportamento do consumidor, assim pode-se estar satisfeito com alguma
coisa e insatisfeito com outra no mesmo; serviço, Por exemplo, .um cliente de
um banco pode estar satisfeito com o serviço de "home-banking", mas
insatisfeito com o auto atendimento na agência. Pesquisas de gostos e
desgostos são realizadas por empresas na busca de aprimoramento dos
produtos e serviços oferecidos ao consumidor.
Cada vez a retenção de consumidores atuais torna-se mais importante,
ou melhor, dá-se-Ihe mais valor. Um recente estudo "Zero Defections" revelou
que se uma organização for capaz de reter 5% dos consumidores que
geralmente a deixariam, seu lucro dobraria em 5edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAa n o s " . Este fator diz respeito
a um crescimento de 15% ao ano nos lucros, Ou seja, uma meta pouco atingida
por empresas.
7 - Eliminação do bem
A fase de eliminação, apesar de sempre ter ocorrido,' ganha maior
importância principalmente por motivos ambientais. Poderíamos citar quatro
formas como o processo pode ser feito: eliminação total, eliminação parcial,
reciclagem, revenda.
Recentemente, tem-se dado maior atenção principalmente pela
possibilidade de reciclagem, que inclusive passa a ser um atributo de alguns
produtos que são explorados mercado'logicamente. Um produto bom para o
meio ambiente é sempre preferível ao que agride o ambiente.
Na Itália, há um programa consistente e oficial de eliminação de veículos
no qual o governo contribui com a isenção de parte dos impostos da aquisição
de um veículo novo se o consumidor devolver seu veículo com mais-de 10 anos
para ser reaproveitado pela própria indústria.
Vêem-se cada vez mais atividades como esta acontecendo nos
diferentes ramos: e países e o aproveitamento' do "Iixoi
'já é um' hábito em
muitos países .:
1 5 Não foi encontrada na literatura a opção da indiferença do consumidor e por nossa própria
iniciativa inclutmo-ía como Uma possibilidade neste processo.
1 6Ver ThomasJames e Sasser (1995).
A INFLUÊNCIA DA CULTURA NO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Apresentado sinteticamente o processo de comportamento do
consumidor na compra de um produto e as influências exercidas sobre o
consumidor: individuais, psicológicas e do ambiente, a continuidade deste
trabalho está voltada para a influência da cultura no processo de compra e
consumo. Em seguida estreitar-se-á o foco ainda mais para olhar essa
influência no que diz respeito à alimentação e à culinária.
3 . 2YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAC U L T U R AzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
As primeiras preocupações com o estudo da cultura surgem nos séculos
XVIII e XIX, justamente porque nesta época o pensamento da Igreja deixa de
ser hegemônico em termos do estudo do conhecimento humano e deixa de
dirigir de forma imperativa a evolução da ciência.
A primeira definição de cultura, que tinha a grande virtude de juntar o
conceito germânico de "kultur" e o conceito francês de "civilization" formulada
antropologicamente foi de E. Tylor em 1871, durante muito tempo cultura e
civilização passam a ter o mesmo significado. Tylor, um evolucionista, estava
mais preocupado com as igualdades do que com a diversidade nas suas
considerações antropológicas. Segundo ele, citado por Roque Laraia (1986),
desigualdades são simples diferenças de estágios do processo evolutivo.
Esta definição surge sob o ponto de vista relativista, evolucionista, e
acabava por servir de justificativa para a hegemonia dos povos colonizadores
sobre seus colonizados. A observação de outras culturas se dá so~a realidade
do observador, isto é, cria-se uma hierarquização das culturas observadas,
dada a aceitação de que a cultura do observador é superior numa escala de
evolução humana e que não será possível um caminho"q u e leve a um estado
diferente daquele que se encontra o observador.
Não há conceito de diversidade cultural e simplifica-se a existência
humana. Os primeiros conceitos são desenvolvidos na Alemanha, fato que se
explica, pois naquela época era uma nação dividida em várias unidades
políticas, e a utilização do conceito de cultura servia para tentar a unificação.
o
início da principal discordância quanto ao conceito evolucionista decultura começa com Franz Boas:"
"São as lnvestlqações históricas o que convém para descobrir a origem deste ou )
daquele traço cultural e para interpretar a maneira pela qual toma lugar num dado conjunto sociocultural". (BOAS em LARAIA, 1986 p.36)
Esta discordância de Boas é também perigosa de ser adotada sem
algumas considerações. Há uma certa visão de partes de um todo em sua
definição. É muito comum perceber discussões que justificam o todo cultural
através da soma de várias partes independentes que se juntam em um todo,
atribuindo valor a cada uma destas partes.edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAÉ possível isolar uma parte para
efeito de estudo o que não é válido quando o objeto é a cultura. É o conjunto
de um processo de construção histórica de uma sociedade que determina sua
cultura, é um produto de um processo da vida humana como um todo.
Processos diferentes resultam em culturas diferentes, produtos históricos
diferentes.
A diversidade de culturas é um fato que se estende para dentro de uma
única sociedade. A diversidade não é apenas de idéias mas .se dá nas
diferentes maneiras de vida. Considerando a sociedade brasileira, é facílimo
identificar diferenças internas, porém não se pode olhá-Ias de forma estanque e
sim como parte de todo um processo histórico.
Processo, eis o conceito chave que se deve ter em mente para entender
cultura. Diferentemente do alemão do século XVIII, estuda-se cultura tanto para
compreender as sociedades modernas como para entender as que vão
desaparecendo, pela perda de suas características originais.
1 7 o grande mestre de Gilberto Freyre foi Franz Boas, que por ter sido seu professor o
incentivou muito à realização de sua principal obra, CasazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAGrande e Senzala, baseada em
profundas imersões no campo.
SENTIDOS DO TERMO CULTURA
Fala-se de cultura de diversas formas. O termo está muito associado a
estudo, educação, escola. Os jornais trazem cadernos de cultura referindo-se a
manifestações artísticas como música, teatro, cinema, pintura, fotografia. As
festas folclóricas são também festas culturais, não no sentido meramente
artístico mas de cerimônias, de tradição. Pode-se, como no caso deste estudo,
referir-seedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà alimentação, culinária, ingredientes. Outros sentidos podem facilmente ser depreendidos de "cultura".
Afinal, porque existem tantas referências à cultura? O que leva o homem
a utilizar o mesmo termo, em diversas línguas do mundo, para referir-se a
significados diferentes?
Poder-se-ia localizar mais de uma centena de definições para o termo,
mas há duas concepções básicas que reúnem todas as definições conhecidas.
Em qualquer concepção é fundamental a referência à totalidade da esfera
social. Não se podem limitar partes, e, entender a esfera social como um todo
indissociável, resultado de um processo de formação, que é dinâmico e por isto
se modifica com as relações internas e por influências externas à própria
sociedade.
A primeira, que aqui se denomina-de concepção limitada, retere-se mais
especificamente a conhecimentos, idéias, valores e a maneiras como estes
existem na vida social. A ênfase é dada a domínios, conhecimentos e suas
dimensões, sempre abordando o caráter social por inteiro. Não se pode falar
em conhecimentos separados de uma realidade social. Assim, poder-se-ia citar
a cultura naturalista. A ela se estaria considerando o todo de uma sociedade,
mas imediatamente surgem imagens referencias como restaurantes
naturalistas, passeios em locais de natureza preservada, ecologia, nudismo
dentre outras.
A segunda, cultura no seu todo, refere-se a todos os aspectos da vida
social. Diz respeito a tudo que caracteriza a existência social de um povo, de
uma nação, ou de subgrupos de uma sociedade. Assim, pode-se tratar a
cultura brasileira, cultura rural, cultura muçulmana. Esta concepção de culturaedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé
mais utilizada quando se fala de povos ou de realidades sociais diferentes.
Apesar deste trabalho focalizar o domínio cultural da alimentação e
culinária, sempre que houver menção à cultura, emprega-se o conceito no seu
todo.
A definição mais completa que se pode citar em nosso entendimento é
descrita por Marshall Sahlins em KAPLAN e MANNERS (1975):
liA realidade concreta afinal inclui como elementos coordenados ,e influentes coisas como instrumentos, técnicas, arranjos de posse e coisas afins. Elas estão no sistema. Elas entram em relações funcionais com a estrutura social; nessas relações
elas, e não os elementos sociais sozinhos, podem ser forças de coerção. É um sistema
de coisas, relações sociais e idéias, um mecanismo complexo pelo qual as pessoas existem e persistem. Não está meramente organizado para ordenar relações, mas para sustentar a existência humana. Uma compreensão, do esquema de tais, mecanismos, então, provavelmente, teria que considerar redes de relações ainda mais amplas, além do contexto natural e superorgânico de influências no qual as sociedades estão
inseridas. Nossa visão é ampliada em seu alcance. E, o malsímportante.iêestendída a
esse mecanismo complexo- incluindo o conjunto de relações soclalsv cujo nome em
antropologia americana é cultura". (SAHLlNS, citado em KAPLAN e MANNERS, 1975,
p.17)
CULTURA E CONSUMO
As ciências sociais têm sido muito lentas no estudo da correlação entre
cultura e consumo. O consumo é, dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAper si, um fenômeno cultural que
influencia e é influenciado pela cultura.
Os bens de consumo têm significados que se expressam ao serem
utilizados, criando estilos de vida e mudanças sociais. As culturas modernas
são alteradas durante seu processo de construção pelo consumo. A forma
como se consome, o que se consome, a razão do consumo interferem de
forma decisiva no modo de agir de toda sociedade.
O ambiente tem influência determinante no comportamento do
consumidor, sendo a cultura a principal influência do ambiente. Cultura é
aprendida. Comportamentos e cultura são mutáveis e um contínuo processo
de transformação, desta forma, é fundamental entender o processo de
mudanças que as instituições sofrem ao longo do tempo para entender o
consumidor.
Toda sociedade tem símbolos com seus significados. O laçador é o
símbolo do gaúcho por tudo que ele representa; a Av. Paulista é o símbolo da
cidade de São Paulo, com seus prédios e seu movimento. Da mesma forma
produtos representam significados de uma cultura. De forma geral, alimentos
estão associados a significados e representam muitas vezes a identidade de
grupos. Receitas e seus significados são passadas de geração a geração. Um
exemplo é a cenoura que representa a saúde dos olhos não porque
cientificamente tem influência sobre a visão, mas este significado está
convencionado na sociedade.
O dito popular, aceito de forma simplista por muitos, que oconsumismo
estraga a sociedade, que o consumismoedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé a causa das-principais dificuldades
do homem, é provavelmente o fator principal pelo qual se retardou enxergar de
frente a relação entre consumo e cultura, e a possibilidade de observá-Ia de
forma mais abrangente.
Deixa-se de perceber que, na realidade, os bens de consumo e o
processo de consumo têm sido um dos principais instrumentos de manutenção
e criação das relações sociais no Ocidente. Felizmente, estuda-se o tema e
tanto a área de comportamento do consumidor quanto a Antropologia têm
produzido novos conhecimentos.
Sob o foco do comportamento do consumidor a mudança mais
significativa é a de deixar de olhar apenas para o comportamento de compra
mudando o foco para o comportamento de consumo.
Nas grandes empresas de bens de consumo, as áreas de vendas
preocupam-se muito com o comportamento na compra, enquanto as áreas de
"marketing" focam seus estudos no comportamento do consumo. Como
decorrência, assiste-se cada vez mais propagandas que usam situações de
consumo prazerosas associando-as a este ou aquele produto ou serviço.
Em Antropologia, o mais relevante é o estudo da cultura cotidiana que
ganha mais espaço frente ao estudo daquilo que é diferente, marginal.
Também há uma mudança de foco.
OS VALORES E O CONSUMO
A cultura afeta profundamente a razão do consumo. Tanto no que se
refere aos produtos como no processo de consumo.
O Consumidor, ao consumir um bem ou serviço, busca: benefícios
funcionais, de forma e de significado.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Funcionais - exemplo clássico é o remédio. Há uma substância que
provoca uma função no organismo que levaedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà cura ou provoca efeitos bem
definidos. É o apelo mais forte feito em uma propaganda, a razão de ser de um
produto com benefício funcional é cumprir o que promete..Assim, um sabão em
pó deve deixar as roupas brancas, um ferro de passar roupas deve esquentar
para passar as roupas, um "no-break" deve manter energia para uma máquina
em caso de falta de alimentação de energia convencional.
Mesmo os benefícios funcionais variam de uma cultura para outra.
Citam-se a Europa, seus automóveis e utensílios do laIr. Naquele continente,
veículos e eletrodomésticos são feitos para ter maior durabilidade que nos
Estados Unidos ou no Brasil, e é comum encontrar pessoas de bom poder
aquisitivo com veículos mais antigos, e em suas residência os eletrodomésticos
com mais de uma década de uso. Desta forma, percebe-se que o contexto
cultural define também a intensidade da função de um produto.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Forma - espera-se que os produtos tenham formas definidas. Assim,
uma cerveja deve estar sempre gelada, enquanto uma refeição deve estar
quente, e se for de peixe o mesmo deve estar bem cozido. A perspectiva
cultural também muda a forma que se busca ao consumir. Por exemplo: os
japoneses se entendem muito bem com peixes crus, "sushi e sashimi". Na
Itália, em pleno inverno, com temperaturas baixas e com neve nas ruas, assim
como em outros países da Europa, as sorveterias estão cheias.
O contexto cultural nitidamente interfere na forma do consumo.
Significados - em cada cultura os bens de consumo estão associados a
algum significado. E o significado de um mesmo bem pode variar de uma para
outra sociedade. Este é uma das matérias-primas mais utilizadas por quem
trabalha com moda e com objetos de decoração de forma geral. O espinafre
significa força para o organismo, a carne de vaca é a principal fornecedora de
proteína animal no ocidente e um bem sagrado na India.
O processo cultural em uma sociedade de consumo transfere
significados em três diferentes localizações: ambiente social, produtos e
serviços e consumidores. Esta transferência de significádos se dá de várias
formas e em todos os sentidos. PETER e OLSON (1996), a partir de uma
adaptação de Mc Cracker, exibem um modelo de transferência de significados
culturais.
S· ifi dolt I b· nt fi· . I
I Ign ca cu ura noam le e SICOe socla IedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
.-t
t
t
Estratégias Sistema de Outras
de marketing moda instituiçõesBA
i
i
i
I
Significado cultural em produtos e serviçosI
Rituais Aquisição Nurturing Posse Personalização Troca Desinvestimento Grooming
•
I
Significado cultural em consumidores (as)I
ações sociais Ações intencionais
Inter
(Peter e 0150n, 1996, p.380 - tradução livre)
A escala de valores de cada cultura irá ter impacto decisivo no consumo.
Os valores básicos de uma cultura mostram como as pessoas agem e se
comportam e, em conseqüência, o que consomem.
Os profissionais de "marketing" estão cada vez malsinteressados em
valores individuais e de grupos porque eles acabam por de~~ir como os
produtos são utilizados em uma sociedade. No Brasil, falando em alimentação,
os valores não apenas determinam a forma como um alimento deve ser
consumido, mas também suas ocasiões mais apropriadas de consumo.
As relações e estrutura de compra também variam de acordo com
valores. No Marrocos, mesmo dentro de lojas de cadeias internacionais, há que
se pechinchar pelo preço de um bem - conseguem-se diferenças superiores a
3 0 0 % .
Nos supermercados americanos encontra-se comida já preparada e
pronta para ser adquirida e levada para casa, chegando a requintes de opções
de especialidades como: comida japonesa, chinesa, árabe e várias opções de
sanduíches.
No Brasil, não há o hábito do comer apressadamente. No interior do Rio
Grande do Sul o churrasco ou o galeto com macarrão só é servido se estão
todos à mesa. Os valores, assim como a cultura, mudam ao longo do tempo,
mas os valores principais de uma sociedade mudam muito lentamente.
Pode-se oferecer uma série de exemplos atuais de mudança de valores
e seus impactos em compra e consumo. Ultimamente tem-se experimentado a
revolução da rede mundial de computadores que além de mudar as estruturas
de compra - cada vez mais há a loja sem loja - está mudando os valores de
consumo de alimentos, de notícias, de móveis, dentre outros. A correria da vida
moderna, as metrópoles com grandes distâncias estão mudando os valores de
alimentação. Mais "fast-food" , quase nenhuma refeição ao redor de uma mesa
com toda família, fazem parte do atual cotidiano dos brasileiros.
Neste contexto, surgem bens de consumo que ajudam a sedimentar
novos comportamentos, como também agem ativamente como sujeitos de
mudanças comportamentais. Na culinária, o microondasedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAé um bem de consumo
que gera mudanças drásticas na alimentação: substitui técnicas culinárias e
proporciona novas experiências. O microondas é um bem de consumo que
merece ser objeto de estudo mais profundo acerca de sua influência na
mudança do comportamento de alimentação.
Pode-se afirmar que os valores de uma sociedade determinam a
qualidade da função, forma e significado do consumo de um bem, que, por sua
vez, também interfere diretamente na mudança dos valores de uma cultura.
Este ciclo não pára, e as alterações são permanentes.
A formação destes valores depende diretamente do processo de
formação de cada sociedade e da intensidade com que este processo se dá.
Assim, uma sociedade mais fechada terá menores mudanças que uma
sociedade aberta.
Poder-se-ía fazer ainda algumas considerações a respeito de outros
temas ligadosedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà cultura e que influenciam os valores de forma geral: etnia,
classe social, grupos de influência, família, e situação em que o indivíduo ou
grupo se encontra.1 8
GLOBALlZAÇAO
Há nos dias atuais grande discussão sobre o futuro das culturas
mundiais, e fala-se muito na formação de uma única sociedade global, uma
única cultura. Vale alertar que esta é uma visão muito simplificadora do
processo histórico e muito ocidentalizada. A existência de organismos mundiais
pós 2a Guerra Mundial e a concentração econômica em empresas
multinacionais de abrangência planetária, levam a imaginar uma sociedade
unificada no mundo.
Entretanto, deve-se observar a cultura como força unificadora mas
também desagregadora. Os povos separados politicamente, mas de mesma
identidade cultural, tendem a se unificar. O exemplo mais gritante é a
Alemanha, seguida da China e Coréia. Porém os povos unificados
politicamente, mas separados culturalmente, tendem a se desagregar, como é
o caso da extinta União Soviética, Iugoslávia ou Bósnia.
Segundo Samuel P. HUNTINGTON (1997),
1 8 Muitos estudos são escritos sobre a influência da fam llia, grupos, classes SOCiaiS,
principalmente nos dias. atuais nos quais o processo de .mudança se dá de forma tão rápida. Porém, neste ponto do trabalho, serão focalizadas influência culturais como um todo, voltando nossa análise para os aspectos de amplo espectro como a globalização.
a cultura a as identidades culturais - que em nível mais amplo, são as identidades das civilizações - estão moldando os padrões de coesão, desintegração, e
conflito no mundo pós Guerra-fria. (HUNTINGTON, 1997 p.edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA1 8 )
Alguns pensadores americanos, dentre eles GALBlRAITH, entendem que
o conceito de mundo global está sendo "vendido" ao mundo com o objetivo de
permitir aos americanos influenciar em mercados de capitais em todo o mundo,
sem que sejam percebidos como intrusos ou meros especuladores.
Evidentemente que não se quer aqui contestar a globalização como um
processo histórico em pleno curso e de exemplos concretos e definitivos. Ao
analisar uma série de comportamentos e atividades da vida cotidiana
percebe-se nitidamente a velocidade com que hábitos e formas de comportamento têm
sido incorporadas de forma global na sociedade brasileira.
Admitir, porém, que daí se parte para uma cultura universal é, no
mínimo, desrespeitar a força da cultura como agregadora e cimento social em
torno do qual a sociedade se perpetua.
Sob este aspecto veja-se o pensamento de Peter Drucker (1993)
Mas nas últimas décadas - a partir talvez dos anos 70 - a nação-estado começa a se desfazer. Ela já havia sido superada em áreas nas quais 'soberania' perdeu todo o significado. Cada vez mais, os novos desafios enfrentados pelos governos simplesmente não podem ser superados através de a ç õ e s nacíonaís ou mesmo internacionais. Eles exigem agências transnacionais, que possuem um soberania própria. Também o nacionalismo está superando cada vez mais a nação-estado. E
internamente a nação-estado está sendo corroída pelo tribalisrno: (DRUCKER, 1997, p.104)
Pode-se citar exemplos de ações empresariais que reconhecem a
regionalização1 9 e agem levando-a em consideração.
A revistazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAAmanhã, de outubro de 1998, à página 55, publica um artigo
com o título: "Uma para cada Brasil". Trata de mostrar que agências de
1 9 Trata-se aqui de regionalização não como blocos regionais econômicos mas como
diversidade de cultura dentro de uma própria sociedade ou nação.
propaganda, que trabalham muito com percepção da realidade da vida
cotidiana, estão descentralizando sua atuação, reconhecendo que globalização
e regionalização se complementam. Mostra que quatro das maiores empresas
de propaganda do Brasil têm operação regionalizada, sendo a menor operando
em cinco áreas e a maior em 10, chegando ao ponto de separar operação
dentro da mesma região geográfica do país.
Algumas empresas lançam marcas específicas para determinadas
regiões do Brasil, fator muito comum no nordeste brasileiro. Poderíamos encher
livros de exemplos como estes em vários lugares do mundo.edcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
3 . 3YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAC U L T U R A B R A S IL E IR A - A A B O R D A G E M D E G IL B E R T O
F R E Y R E
o
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAque é o Brasil? quem é o brasileiro? As perguntas que voltam àordem do dia, pelo aproximação dos 500 anos de descobrimento, são as
mesmas que faziam os três autores dos anos 30, Gilberto Freyre, Sérgio
Buarque de HoHandae Caio Prado Jr.
Apesar de suas diferenças de formação, de influências, de região, dentre
outras, vivem os anos 30 e têm como preocupação central o Brasil. Estão em
oposição às idéias autoritárias dos anos 20, continuam desvinculados da
academia e apresentam grandes ensaios sociológicos, como:zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBACasa Grande e
Senzala (1995), Formação do Brasil contemporâneo (1994) e Raízes do Brasil
(1975) . O questionamento sobre a desordenada realidade é tão grande, que
os citados autores procuram entender como resultou o Brasil.
Acerca desta preocupação percebe-se ao longo de toda 'sua obrâ' que
ambos colocam a dicotomia entre o Brasil "legal" e o Brasil real. O "legal" vem
esconder o autoritarismo que existe e impera no real.
A diferença de enfoques para responder à mesma pergunta deve-se em
grande parte à formação pessoal de cada um. Enquanto a visão de Caio Prado
Jr. é mais política e econômica, a de Freyre é antropológica, privilegiando em
sua análise os fatores culturais.
Neste estudo analisar-se-á a abordagem de Gilberto Freyre, por refletir
mais integralmente a realidade cultural brasileira.
Gilberto Freyre nasceu em 1900, em Recife. É membro da elite agrária
pernambucana. Diferentemente do que acontecia na época, maior influência da
cultura francesa, estuda em escola americana. Vai aos Estados Unidos e
realiza seu mestrado na Universidade de Columbia, Faculdade de Ciências
Sociais. É lá que inicia sua principal obra,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBACasa Grande e Senzala(1995). Volta
ao Brasil em 1924 e tem atuação política regional, ocupando o cargo de oficial
de gabinete do governador. Exilado pela Revolução de 30, vai a Portugal eedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà
África onde praticamente escreve toda a obra que publicaria em 1933, um ano
depois de retornar do exílio. Em 1946 é eleito deputado federal constituinte pela
UDN (União Democrática Nacional). Sua principal influêmcia é de Franz Boas,
antropólogo cultural americano, que foi seu mestre e o incentivou a escrever a
obra.
Freyre , como ele mesmo coloca, vai direto à fonte nas pesquisas que
realiza para entender a condição econômica e social das culturas que formam o
Brasil. O que mais importa é a condição social e não o fato de serem
portugueses, índios e negros.
Aprendi a considerar fundamental a diferença entre raça e cultura; a discriminar
os efeitos de relações puramente genéticas e os de influências sociais, de herança
cultura e de meio. Neste critério de diferenciaçáo fundamental entre raça e cultura
assenta todo o plano deste estudo. (FREYRE, 1995, p. xlvii)
Sua tese central trata a formação do Brasil através de um equilíbrio de
antagonismos, ou seja, o Brasil é um amálgama de antagonismos. Para
defender seu ponto de vista descreve em primeiro momento o modelo
econômico implantado no país. Um modelo de latifúndio, monocultura,
patriarcal e escravocrata. Este modelo é implantado em duas fases: a
colonização à deriva, que vai até 1532, na qual vinham ao Brasil portugueses
aventureiros,e, a partir deste momento as famílias, centro de poder político e
econômico formam as capitanias hereditárias, o que se poderia
exageradamente chamar de feudalismo brasileiro.
Estes verdadeiros latifúndios têm a felicidade de encontrar no açúcar um
produto valorizado e que se adapta muito bem às condições naturais da
Colônia. Para viabilizar a produção de açúcar, os portugueses, (que são uma
mistura de raças, com forte influência semita, com forte características de
mobilidade, e moura) trazem ao país o negro africano, que, como escravo, vai
trabalhar na produção de açúcar. Esta foi uma alternativa encontrada, visto que
a tentativa de escravizar o índio para incorporá-lo àedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp r o d u ç ã o açucareira
tornou-se inviável.
A atividade agrícola que se desempenha no Brasil nãoé senão a falta de
opção que o colonizador encontra. Ao português melhor seria ter encontrada
uma nova índia, com riqueza advinda da exploração de especiarias.
Como herança deste modelo de colonização, surge a miscigenação de
raças e cultural, fator determinante da formação da sociedade brasileira,
decorrente da condição social e econômica que cada cultura desempenhou
neste processo.
',.'
•...
No Brasil, as relações entre os brancos e as raças de cor foram desde a
primeira metade do século XVI condicionadas, de uma lado pelo sistema de produção
econômica - a monocultura latifundiária; do outro pela escassez de mulheres brancas,
entre os conquistadores. (FREYRE, 1995, p. xlix)
Vencedores no sentido militar e técnico sobre as populações indigenas;
dominadores absolutos dos negros importados da África para o duro trabalho da
bagaceira, os europeus e seus descendentes tiveram entretanto de transigir com índios
e africanos às relações genéticas e sociais. ( FREYRE, 1995, p. I)·
A organização econômica e social tem no patriarcalismo uma
característica marcante. Desde os primórdios da colonização as famílias tomam
a frente do processo de construção da sociedade e não esperam o estado. A
figura do patriarca se impõe perante toda sociedade. A "vitória" do patriarca
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sobre os jesuítas dá-lhes inclusiveedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAo controle sobre â Igreja, eram os "donos do
Brasil". O Brasil sofre uma colonização privada, patrocinada pelas famílias
enquanto unidade produtiva.
Toda sociedade é organizada em torno da família, do patriarca e da
casa-grande.
A casa-grande, completada pela senzala, representa todo um sistema
econômico, social, polftico: de produção (a monocultura latifundiária); de trabalho (a
escravidão); de transporte (o carro de boi,...); de religião (o catolicismo de família...); de
vida sexual e de família (o patriarcalismo polfgamo); ; de polftica (o compadrismo).
(FREYRE, 1995, p. Iiii)
Explica-se daí o surgimento das oligarquias políticas brasileiras, tão
presentes até hoje nas funções públicas.
O papel dos jesuítas, como educadores e catequistas, é fundamental no
processo de colonização. O catolicismo é a unidade da nova sociedade. Como
se viu, não há a restrição de raças na formação da sociedade, o que importa é
a religião católica.
Freyre passa 80% da obra analisando cada uma das ?ontribuições
deixadas pela culturas.
Os Portugueses - Colonizador
Longe da imagem que se aprende nos livros de história do Brasil, Freyre,
até de forma ufanística, demonstra que não são bandidos ou de mau caráter os
que vêm colonizar o "continente". Evidentemente que com a prosperidade de
Portugal no comércio com as fndias não é a nata da sociedade portuguesa que
para cá se desloca.
Portugal, considerado Europa somente após o sucesso com as grandes
navegações, é um país formado por invasões constantes e com influências
muito marcantes. Além dos semitas e mouros deve-se considerar a enorme
influência que a Igreja católica desempenhou. No Brasil, os jesuítas acabam
sendo o cimento ideológico que até certo ponto mantém o país unificado. Os
jesuítas também são os principais responsáveis pelo desaparecimento da
cultura indígena no país, dada a ação de catequização que desenvolveram.
O português e seus descendentes são particularmente importantes dada
a condição de senhor de engenho, núcleo central da família e da sociedade,
dono da casa-grande e portanto dos escravos, da produção agrícola, e
responsável pela colonização privada realizada no Brasil. Donos do poder
político que se institui a partir da família, transcende os domínios públicos, o
poder econômico exatamente por ser o senhor dos escravos e das terras.
A singular predisposição do português para a colonização híbrida e
escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes,
cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. (FREYRE, 1995, p.5)
A vitória portuguesa em sua colonização deve-se, em grande parte, a
três características particulares: mobilidade, miscibilidade e aclimatabilidade.
Como não havia o que fazer dado o modelo escravocrata implantado e a
cultura de que trabalho manual era designado a escravos, o português acaba
por acomodar-se e pouca atividade significativa tem para a sociedade.
O Negro africano - escravo
Gilberto Freyre chega a dizer que o brasileiro deveria pedir desculpas ao
negro por tê-lo colocado na condição de escravo. Esta afirmação não