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EstereótiposdeGêneroAplicadosaMulheresAtletas
GislaneFerreiradeMelo1AdrianaGiavoni
UniversidadeCatólicadeBrasília
BartholomeuTorresTróccoli
UniversidadedeBrasília
RESUMO–Opropósitodesteestudofoiavaliarseascaracterísticasdodesportoeobiotipodemulheresatletasdesencadeiam aaplicaçãodeestereótipossexuais.Foramavaliadostrêsgruposquediferiamquantoaoenvolvimentocomodesporto:a) grupo1–formadoporatletas,b)grupo2–formadoporalunoseprofissionaisdeEducaçãoFísicaec)grupo3–formadopor sedentários.OinstrumentoutilizadofoioInventáriodosEsquemasdeGênerodoAutoconceito(IEGA).Análisesdevariância multivariada(One-WayMANOVA)foramrealizadascorrelacionandoavariávelindependente“grupo”comosfatoresdas escalasmasculinaefeminina(variáveisdependentes)doinstrumento.Osresultadosdemonstraramqueosgruposnãodiferem emrelaçãoaosfatoresdaescalamasculina,masogrupo3diferedosdemaisgruposemrelaçãoaosfatoresSensualidadee Responsabilidadedaescalafeminina.Conclui-sequeascaracterísticasdodesportosomadaseobiotipodasatletascontribuem paraaaplicaçãodeestereótipossexuais.
Palavras-chave: estereótipos;masculinidade;feminilidade;esporte.
GenderStereotypesAppliedinFemaleAthletes
ABSTRACT–Thepurposeofthisarticlewastoevaluateifthesportcharacteristicsandathletebiotypepromotesexstereotypes applications.Threegroupswithdifferentsportinvolvementwereanalyzed:a)group1–compoundedbyathletes,b)group2 –compoundedbyPhysicalEducators(studentsandteachers)andc)group3–compoundedbysedentarypeople.TheSelf-ConceptGenderSchemasInventory(IEGA)wasusedtoevaluatethesample.OneWayMultivariateAnalysisofVariance (MANOVA)wereperformedamong“groups”(independentvariable)andmasculineandfemininefactors(dependentvariables) oftheinstrument.Theresultsshowedthattherewerenodifferencesamonggroupsinmasculinefactors,buttherewerein femininefactorsSensualityandResponsibility.Thesedentarypeopleperceivedfemaleathletesashavingfewerfeminine characteristicsthantheothergroupsdid.Theseresultsconfirmthehypothesisthatsportcharacteristicsandathletebiotype promotesexstereotypesapplications.
Key words:stereotype;masculinity;femininity;sports.
aagruparosobjetosemcategorias,quepermitemummelhor controleambientaleumainteraçãomaiseficazcomomeio. Umadasconseqüênciasdestareconceptualizaçãoafetaain-terpretaçãoeovalordesignadoaosestereótipos,quepassam desimplespreconceitosocialaseremdescritoscomocatego-rias,potencialmenteneutras,queoperamdeformasimilara qualqueroutroesquema.(Barberá,1998,p.91)
Dessamaneira,osestereótiposassimcomoosesquemas cognitivosfuncionamcomolentesquefiltramasinforma-ções,retendo,organizandoeestruturandosomenteestímulos consideradosconcernentesàestruturacognitiva.“ Oresulta-dodestaorganizaçãoéumpadrãumpadrumpadr operceptivo,oqualseráoperceptivo,oqualseroperceptivo,oqualser utilizado como base para futuros julgamentos, decisões, inferê
infer
infer nciaseprediçõessobreoselfessobreoselfessobreoself”(Markus,1977,p.64) esobreosoutros.
Sendoumaimagemmentaldealtaelaboraçãocognitiva, otermoestereótipoabarca,portanto,duasidéiascentrais:
a)aconceptualizaçãodeestereótipoenquantoconstruçãosub-jetivaqueincluicrenças,expectativas,atribuiçõescausais,o quesignificaqueosestereótiposnãocoincidemcomarealidade eb)umestereótiponãoestácompostoporumúnicopensamento Etimologicamente, o termo estereótipo deriva de duas
palavras gregasstereo(rígido) etipo (traço), e refere-se
a “tornar fixo, inalterável” (Ferreira, 1999).Aplicado
à Psicologia, este termo designa um sistema de crenças compartilhadas acerca de atributos, geralmente traços de personalidadeoucomportamentoscostumeiros,atribuídos a determinados grupos (Rodrigues,Assmar & Jablonski, 1999). É uma construção cognitiva ou sócio-cognitiva a respeitodecaracterísticascompartilhadaspordeterminados grupos. Enquanto construção cognitiva, os estereótipos assemelham-seaosesquemascognitivosquesãoestruturas formadasapartirdenossasexperiênciaspassadas,compostas porumaassociaçãodevariáveisquepermitemaosindivíduos compreenderemassuasprópriasexperiênciaseaorganizar a ampla variedade de informações que possuem sobre si mesmosesobreosoutros(Markus,1977;Markus,Crane, Bernstein&Siladi,1982).
ouidéiasingularsenãoporumconjuntoorganizadodeidéias queseacoplamentresi.(Barberá,1998,p.85)
Dentreosestudoselaboradosenvolvendooconceitode estereótipoencontram-seaquelesquerelacionamostraços de personalidade com gênero, ou seja, os estereótipos de gênero. Nestes estudos, os traços de personalidade são agrupadosemdoisgrandesgrupossegundoasimilaridade dotraçocomaconstruçãosócio-culturaldosconceitosde masculinidadeefeminilidade.Assim,traçosindividualistas ou instrumentais (por exemplo: independente, agressivo, racional)caracterizam-secomosendopertinentesàmascu-linidadeetraçoscoletivistasouexpressivos(porexemplo: amorosa,sensível,delicada)comopertinentesàfeminilidade. Sendoamasculinidadeeafeminilidadeconstrutossociais quedefinemcaracterísticaspertinentesahomensemulheres, respectivamente.
Consideradoscomoconceitosunidimensionaisnoinício doséculopassado,porteremsidotomadoscomoconceitos complementarese,portanto,similaresàfunçãoreprodutora emqueserhomeménãosermulherevice-versa,osconceitos de masculinidade e feminilidade assumiram uma concep-ção bidimensional a partir da década de 70 (Bem, 1974; Constantinople,1973;Spence,Helmreich&Stapp,1975). Nesta nova concepção, a masculinidade e a feminilidade passam a ser construções psicológicas, formadas a partir das interações sócio-culturais e, portanto, independentes dapolaridadebiológicaaqueforaminseridasinicialmente. Atualmente,osconceitosdemasculinidadeefeminilidade sãoconcebidoscomoestruturasmultidimensionais(Antill & Russell, 1982;Archer, 1989;Aubé & Koestner, 1992; Bernard,1981;Feather,1978;Gaa,Liberman&Edwards, 1979,Gaudreau,1977;Koestner&Aubé,1995).
Enquanto construções sociais na qual os indivíduos encontram-se inseridos desde o nascimento, os conceitos de masculinidade e feminilidade acabam por moldar-se nasubjetividadeindividualemestruturassemelhantesaos estereótipos de gênero, denominadas de esquemas de gê-nero.Subdivididosemdoisesquemasdistintos-oesquema masculinoeoesquemafeminino,osesquemasdegênero sãoconstruçõessubjetivasdosconceitosdemasculinidade efeminilidadequeseencontrampresentesnoautoconceito (Bem,1981;Markus&cols.,1982).E,assimcomoestes conceitos,osesquemasdegênerotambémapresentamcom-posiçãomultidimensional(Giavoni&Tamayo,2000).
Formadoporumaassociaçãodevariáveisrepresentativas damasculinidade,oesquemamasculinofiltraestímulosrela-cionadosaesteconceito,influenciandonaformadepensar, sentiresecomportardoindivíduoemrelaçãoaelemesmoe aosoutros;omesmoocorrendocomoesquemafeminino,o qualfiltraráestímulosrelacionadosàfeminilidade.Enquanto construções psicológicas e independentes, os esquemas masculinoefemininoencontram-sepresentesemtodosos indivíduos,variandoquantoaoníveldedesenvolvimento. Quandoavaliadoscomoumpar,acombinaçãoresultantedos esquemasmasculinoefemininopoderávariardesdepares com predomínio do esquema masculino sobre o esquema feminino a pares com predomínio do esquema feminino sobreoesquemamasculino(Giavoni,2000).
Considerandoqueosesquemasdegênerosãoconstruções subjetivasdosconceitosdemasculinidadeefeminilidadee queosindivíduossãoportadoresdestesdoisesquemascog-nitivos,estetrabalhovisouavaliarapercepçãodetrêsgrupos emrelaçãoàimagemfísicademulheresatletaspraticantesde desportocompredomíniodecaracterísticasmasculinas.Isto porqueospadrõesculturaisdemasculinidadeefeminilidade perpassamasmaisvariadasesferas,influenciandoinclusive nadimensãodesportiva.Emliteraturaencontrou-seapenas um estudo que relaciona a aplicação de estereótipos com biotipo,característicadodesportoesexodosatletas(Giavoni, 2002).Porseresteúltimoumestudoexploratóriorealizado apenascomnadadoras,procurou-senesteestudoampliare confirmaraextensãodaaplicaçãodeestereótipossexuais por parte de grupos que apresentam baixo envolvimento comodesporto.
Osdesportos,deumamaneirageral,podemserclassifica-doscomopossuidoresdemaiscaracterísticasmasculinas(por exemplo:hóquei,futebol,halterofilismo)oumaiscaracterís-ticasfemininas(porexemplo:ginásticarítmicadesportiva, nadosincronizado,dança,patinação).Estascaracterísticas, tomadasdeumaformainconsciente,interferemnojulgamen-todosindivíduos,principalmentequandoosexodoatleta contraria a característica do desporto praticado.Além da característicadodesportoedosexodoatleta,outravariável queinterferenojulgamentodosindivíduoséobiotipodos atletas,resultantedapráticadesportiva.
Culturalmente, há um padrão estético definido para a feminilidadeeparaamasculinidade.EstudosdeFranzoie Shields (1984) confirmam a importância que as mulheres atribuemàimagemfísica,revelandoimplicitamentearelação da feminilidade com o meio sócio-cultural. Neste estudo, dois dos fatores que definem a auto-estima corporal das mulheresestãoassociadosàpreocupaçãocomaaparência física vinculada à atratividade sexual e controle do peso. Paraasmulheres,aauto-estimacorporalépositivaquando elaacreditaquedeterminadaspartescorporaisambicionadas peloshomenssãoavaliadasporelasdeformapositiva,ou seja,asuaauto-estimacorporalperpassaadimensãodooutro, mesmoquedeumaformaprojetiva.
Em seus estudos Franzoi (1995) e Franzoi, Kessenich e Surgrue (1989) revelam que a masculinidade apresenta correlaçãopositivamentecomaauto-estima,omesmonão ocorrendocomafeminilidade.Osautoresdemonstramque mulheresfemininasapresentammaiordificuldadeemlibe-rar-sedospadrõesculturaisdefinidosparaafeminilidade, padrõesestesquedefinemocorpofemininocomoum“
or-namentodebeleza”(Franzoi,1995,p.421).Andersen(2000)
descrevequeoInstitutoAustralianodeEsportesdemonstrou que mulheres atletas vivenciam estados de ansiedade em relaçãoàssuasimagenscorporais,devido“àpressãosocial queestabeleceumtipodiferentedecorpo,consistentecom ospadrõ
ospadr
ospadr esdegênero”(Andersen,2000,p.70).
SegundoGiavoni(2002),
desportoscompredomíniodecaracterísticasinstrumentais(for-ça,agressividade,violência)quandopraticadospormulheres e desportos com predomínio de características expressivas (leveza,suavidade,delicadeza)quandopraticadosporhomens, desencadeiamaaplicaçãodeestereótipossexuais.Istoporque as características do desporto versus o sexo do praticante contrariamadesejabilidadesocial,aqualsecoadunacomas construçõessociaisdemasculinidadeefeminilidade(p.28).
Alémdisso,procurou-sedefiniremquaisdimensõesda masculinidade e da feminilidade os grupos diferem entre si.
Método
Amostra
A amostra total foi composta por 90 estudantes com terceirograuincompleto(72,2%),sendo56,66%dosexofe-minino,comidademédiade25,12anos(DP=6,38anos).
Ossujeitosforamclassificadosemtrêsgruposdeacor-docomoenvolvimentoqueapresentavamcomoesporte. Assim,ogrupo1foiformadopor27atletasdeambosos sexos,sendo55,55%dosexomasculino,comidademédia de25,07anos(DP=5,91anos)eníveldeescolaridadeigual aterceirograuincompleto(40,7%)eterceirograucompleto (55,6%).Enquantoatletas,todospraticavamesportevariando afreqüênciadetrêsacincovezesporsemana(29,6%)ecinco asetevezesporsemana(70,4%).
Ogrupo2foiformadoporindivíduosenvolvidoscom oesporte.Nocasoforamescolhidosalunoseprofissionais docursodeEducaçãoFísicadaUniversidadeCatólicade Brasília(UCB).Aamostrafoicompostapor41indivíduos, sendo51,22%dosexofeminino,comidademédiade25,61 anos (DP = 7,05 anos) e variando quanto ao nível de es-colaridadedeterceirograuincompleto(82,9%)aterceiro graucompleto(12,20%).Dossujeitosentrevistados,31,7% praticavamatividadefísicadeumaatrêsvezesporsemana e41,5%detrêsacincovezesporsemana.
O grupo 3 foi formado por indivíduos que não apre-sentavamnenhumenvolvimentocomoesporte.Aamostra foi composta por 22 estudantes universitários sedentários (90,9%)deambosossexos,sendo81,8%dosexofeminino, comidademédiade24,27anos(DP=5,79anos).
Instrumento
Oinstrumentoutilizadoparaavaliarosníveisdemascu-linidadeefeminilidadeatribuídosàsatletasfoioInventário dosEsquemasdeGênerodoAutoconceito(IEGA)(Giavoni &Tamayo,2000).Compostopor83itenssubdivididosem duasescalas–escalamasculina(41itens)eescalafeminina (42itens).Esteinstrumentoavaliaosesquemasdegênero presentesnoautoconceito.Oesquemamasculino,avaliado apartirdaescalamasculina,éconstituídoporcaracterísticas pertinentesàmasculinidadee,talcomoesteconstruto,encon-tra-sesubdivididoemquatrofatoresprincipaisdenominados de:Negligência,Racionalidade,OusadiaeAgressividadee
umfatordesegundaordemdenominadodeIndiferença.O esquemafeminino,compostoporcaracterísticaspertinentes à feminilidade, encontra-se subdividido em cinco fatores principais:TolerâTolerToler
ncia,Insegurança,Sensualidade,Emoti-vidadeeResponsabilidadeeumfatordesegundaordem,o
fatorSensibilidade.
Enquantoestruturasmultidimensionaisobtêm-seescores individuais e independentes para cada fator que compõe osesquemasmasculinoefeminino.Afimdeseobterum escoreresultanteparacadaumdosesquemas,utilizou-seo métododeanálisesespaciaispropostoporGiavonieTamayo (2003),naqualsãoencontradasasnormasmasculina(Nm) efeminina(NfNfNf)dasestruturasespaciaisrepresentativasdos esquemas masculino e feminino. Para tal análise, foram utilizadasasdimensõesdoesquemamasculino(fatores
Ra-cionalidade,IndiferençaeOusadia)edoesquemafeminino
(fatoresInsegurança,SensualidadeeSensibilidade).Como osfatoresdesegundaordem(IndiferençaeSensibilidade) sãocombinaçõessubjacentesdosfatoresdeprimeiraordem, estesnãoserãoconsideradosnaanálisedosdadosportornar redundanteadiscussão,emboratenhamsidoutilizadosno cálculodasnormasmasculinaefeminina,respectivamente.
Emcadaquestionáriofoianexadaumacapaqueapre-sentavaumacolagemfotográficademulheresatletasdealto nívelpraticandodiferentesmodalidadesdesportivas(futebol, basquete, natação, pólo aquático, halterofilismo, corrida com barreira, corrida de longa distância, fisiculturismo e arremessodepeso).
Procedimento
Os questionários foram aplicados individualmente por umdospesquisadorese/oupelotreinadoremsetratandodos grupos1e3ecoletivamente,emsaladeaula,comrelaçãoao grupo2.Asinstruçõesverbaisdadaspelosaplicadoresaos respondentesinformavamquesetratavadeumestudosobre apercepçãoqueosmesmostinhamarespeitodacolagem fotográficaanexadaàescala.
As instruções escritas do instrumento solicitavam que apósobservaracolagemdurantealgunsminutos,orespon-dente avaliasse o quanto cada item se aplicava às atletas, utilizandoparaistodeumaescaladecincopontosnoqualo escore0indicavaqueoitemnãoseaplicavaàatletaatéoes-core4indicandoqueoitemseaplicavatotalmenteàatleta.
Resultados
média.Umavezfeitasestascorreções,asvariáveisatingiram índicesnormais.
Utilizando a variável “grupo” como variável indepen-denteeasvariáveisNegligência,Racionalidade,Ousadiae
Agressividadecomovariáveisdependentesfoirealizadauma
análisedevariânciamultivariada(MANOVA)dotipoone way.Nãoforamencontradasdiferençassignificativasentre ostrêsgruposestudadosemrelaçãoaosfatoresdaescala masculina,Wilks’Λ=0,93;F(8,168)=0,74;p=0,66.
Utilizandoavariável“grupo”comovariávelindependente easvariáveisTolerâTolerToler ncia,Insegurança,Sensualidade,
Emo-tividadeeResponsabilidadecomovariáveisdependentesfoi
realizadaumaanálisedevariânciamultivariada(MANOVA) dotipoOneWay.Resultadossignificativosforamencontrados entreosgruposavaliadoseasvariáveisdependentesmensu-radas,Wilks’Λ=0,73;FFF(10,166)=2,86;p=0,003.
Asanálisesdevariânciaunivariadas(ANOVA)realizadas paracadavariáveldependente,testesestesconduzidospela própria MANOVA ajustados pelo método de Bonferroni, revelaram que os fatoresSensualidade (FFF (2,87) = 6,68;
p=0,002)eResponsabilidade(FFF(2,87)=6,02;p=0,004) apresentavam diferenças significativas entre os grupos. Análisessubseqüentes(posthoc)
Análisessubseqüentes(
Análisessubseqüentes( dotipocomparaçãopar-a-parentreosgrupos(pairwisecomparisons,
a-parentreosgrupos(
a-parentreosgrupos( ajustadaspelo método de Bonferroni) demonstraram que em relação ao fatorSensualidade,ogrupo3(MMM=1,08;DP=0,19)percebe asmulheresatletascomosendomenossensuais,atraentes, vaidosas,simpáticaseelegantesdoqueogrupo1(MMM=2,0,
DP=0,18)egrupo2(MMM=1,80;DP=0,14).
Com relação ao fator Responsabilidade, os resultados demonstraramqueogrupo3(MMM=1,84;DP =0,12)asper-cebemcomomenosresponsáveis,leais,discretas,cuidadosas, dedicadas,morais,caprichosas,fieis,íntegras,respeitosas, ajustadaseorganizadasdoqueosgrupos1(MMM=2,39;DP= 0,11)e2(MMM=2,29;DP=0,09).
Afimdeseavaliarseosesquemasmasculinoefemi-ninovariamentresiquantoaoníveldedesenvolvimento, foramrealizadostestestttpareadoscomparando-seasnormas masculina (Nm) e feminina (NfNfNf) obtidas para cada grupo. Foram encontrados resultados significativos entre as nor-masmasculinaefemininadosgrupos3[t(21)=8,676;p=
0,001]e2[t(40)=3,106;p=0,003],sendoqueparaambos osgruposanormamasculina[grupo3(Nm=3,31;DP= 0,8341)egrupo2(Nm=3,66;DP=0,857)]apresentaram valoressuperioresàsnormasfemininasobtidasparaambos osgrupos[grupo3(NfNfNf=2,31;DP=0,22)egrupo2(NfNfNf= 3,17;DP=0,16)],respectivamente.Emoutraspalavras,os grupos3e2perceberamasatletascomomaismasculinas doquefemininas,aopassoqueparaogrupo1nãoforam encontradasdiferençassignificativas[t(26)=1,77;p=0,09] entreasnormasmasculina(Nm=3,38;DP =1,11)efemini-na(NfNfNf=3,145;DP=0,20).Afigura1apresentaasmédias obtidasparatodasasvariáveisdependentesanalisadas,tanto doesquemamasculinoquantodoesquemafeminino.
Discussão
Osresultadosapresentamdadosimportantesquecorro-boramoestudodeGiavoni(2002)ecomprovamaaplicação deestereótiposporpartedegruposqueapresentambaixo envolvimento desportivo, no caso, o grupo 3.A falta de conhecimentoevivêncianaáreadesportivapropiciaaob-jetivaçãodeumaimagemdistorcidadasmulheresatletas, aopassoqueosindivíduosqueapresentamenvolvimento, nãoasjulgamutilizandoosmesmoscritérios.Nocasodo grupo1formadoporindivíduosatletasdeambosossexos, tomou-seocuidadodeavaliarseaspercepçõesdoshomens diferiam da auto-percepção das mulheres. Não foram en-contradasdiferençassignificativasentreosdoisgruposem nenhumadasvariáveisanalisadasanteriormente.Estesdados corroboramosestudosdeKunda(1999)nosquaisoenvol-vimentoeoníveldeconhecimentosobreogrupojulgado encontram-sediretamentecorrelacionadoscomaaplicação deestereótipos.
Assim,observa-sequeogrupocombaixoenvolvimento desportivotendeajulgarasmulheresatletascombaseem critériosdefinidossocialmenteparaafeminilidade,ouseja, critériosqueestesindivíduosconhecememmaioroumenor intensidadeporestareminseridosemummeiosócio-cultural queestabelecenormas,papéis,padrõesdecomportamentos e, inclusive, o biotipo desejável para homens e mulheres. Dos aspectos que compõem a feminilidade, os julgados comodiscrepantes-sensualidadeeresponsabilidade-,foram exatamenteaquelesqueacaracterizamnoseusentidomais nuclearequesãoconstantementereforçadospelosmeiosde comunicação(Franzoi,1995;Franzoi&cols.1989).
SegundoGiavonieTamayo(2000)ofatorSensualidade
“focalizaaauto-imagemesuainflu
““ êncianainteraçãocom
osoutros(...)eofatorresponsabilidadeavaliaosprincípiosíí
evaloresqueregemacondutadoself”(Giavoni&Tamayo,
evaloresqueregemacondutadoself evaloresqueregemacondutadoself
2000,p.181).Umaanálisemaiscriteriosarevelouqueneste últimofator,ogrupo3diferiudosdemaisgruposnosescores designadosaositens“discreta”e“ajustada”,osquaisforam maisbaixos,confirmandonovamenteainfluênciadaimagem dasatletassobreojulgamentodestesindivíduos.
Sendo a feminilidade fortemente caracterizada pelos aspectosquecompõemasensualidadeequedefineopoder deatraçãodeumamulher,pode-seinferirquetodobiotipo que fuja daquele estabelecido pela desejabilidade social como“biotipofeminino”tendeaestimularaaplicaçãode estereótipossexuaisporpartedaquelesqueapresentembaixo
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envolvimento com o grupo estudado.Assim, as mulheres atletastornam-semenosatraentes,sensuais,elegantes,emo-tivas,delicadas,amorosasesensíveisdevidoaobiotipoque apresentam,biotipoestequetraduzcaracterísticasdefinidas culturalmentecomopertinentesàmasculinidade,taiscomo: definiçãomuscular,rigidez,força,potência,agressividade, determinação,entreoutros.
Torna-seinteressanteressaltarqueosgruposnãodife-riram quanto aos componentes da masculinidade.Assim, apesardeperceberamobiotipodasatletascomodivergente daqueledefinidoculturalmenteparaasmulheres,ogrupo 3 nãoasjulgou comomaismasculinasdoque osdemais grupos.Adiferençadogrupo3paraosdemaisgruposreside especificamente nos fatores nucleares que caracterizam a feminilidade.
Entretanto,comooinstrumentoutilizadoavaliaosesque- masmasculinoefemininopresentesnoautoconceito,efe-tuou-seumaúltimaanálisenaqualosesquemassãotratados comoumpar.Estaanáliseobjetivaavaliarseosesquemassão consideradoscomoisométricosouheterométricos,ouseja, sesãoproporcionaisousehápredominânciadeumesquema sobreooutro(Giavoni,2000).Aisometria,ouheterometria dosesquemas,éavaliadapelasnormasmasculinaefeminina, querepresentamoníveldedesenvolvimentodosesquemas cognitivosquandoestessãoavaliadoscomoestruturasespa- ciais.Deumaformaindireta,apredominânciadeumesque-masobreooutrorevelaapercepçãodosgruposemrelaçãoà masculinidadeefeminilidadeatribuídaàsatletas.
Osresultadosdemonstraramqueosgrupos3e2julga-ramasatletascomosendoportadorasdeumaheterometria masculina,ouseja,oesquemamasculinoémaiordoque oesquemafeminino,aopassoqueogrupo1asdescreveu comoisométricas,ouseja,nãohádiferençaquantoaonível dedesenvolvimentodosdoisesquemas.Adiferençaobtida entreosesquemasnosgrupos2e3ocorreu,nãoporqueo esquemamasculinodiferesignificativamenteentreosgrupos, masporqueoesquemafemininodifere,tornando-semenordo grupo2paraogrupo3.Quantomenoroesquemafeminino, mais heterométrico torna-se o par de esquemas estudado. Assim,pode-sedizerqueosgrupos2e3julgaramasatletas comosendomaismasculinasdoquefemininas,aopassoque ogrupo1asjulgoucomoportadorasdeumequilíbrioentre amasculinidadeeafeminilidade.
Conclui-se,portanto,queobiotipodemulheresatletas vinculadasadesportoscomcaracterísticasmasculinasde-sencadeiam a aplicação de estereótipos sexuais por parte de grupos que ignoram o atleta e o ambiente desportivo. Possivelmente,esteviésperceptivosomadoàpressãosocial deassumircaracterísticas,papéis,atitudes,comportamen-tos e, até o biotipo condizente com os padrões culturais estabelecidosparaafeminilidade,acabemporexercerforte influênciasobremeninaseadolescentesqueestejamnafase detransiçãoentreaaprendizagemeaperfeiçoamentodeum determinadodesportoe/outreinamento.Talvez,estasejauma dascausasdoabandonodesportivo(dropout)tãofreqüente entreadolescenteseminíciodecarreiraatlética.
Outro fator importante a ser considerado em estudos futurosrefere-seàformaçãodegruposdeacordocomos níveis de masculinidade e feminilidade que os indivíduos apresenteme,apósestaclassificação,avaliarojulgamento
destesemrelaçãoaosatletas.Istoporque,possivelmente, o predomínio de um esquema sobre o outro resultará em julgamentos distintos de um mesmo estímulo. Homens e mulherescompredomíniodoesquemamasculinosobreo feminino(heteroesquemáticosmasculinos)tenderãoajulgar estímulosmasculinosdiferentementedehomensemulheres compredomíniodoesquemafeminino(heteroesquemáticos femininos) e homens e mulheres com equilíbrio entre os esquemas(isoesquemáticos).
Outro estudo relevante seria avaliar as percepções de diferentes grupos em relação a colagens de desportistas masculinos praticantes de desportos com características femininas,ouseja,oinversodopresenteestudo.
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Recebidoem05.11.2003 Primeiradecisãoeditorialem27.10.2004 Versãofinalem29.10.2004