FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
MESTRADO EM FINANÇAS E ECONOMIA EMPRESARIAL
JOÃO BARBOSA CAMPBELL PENNA
ESPECIFICAÇÃO DA PARIDADE DESCOBERTA DE JUROS NO MERCADO BRASILEIRO
Rio de Janeiro
Joao Barbosa Campbell Penna
ESPECIFICAÇÃO DA PARIDADE DESCOBERTA DE JUROS NO MERCADO BRASILEIRO
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do titulo de Mestre em Finanças e Economia Empresarial da Escola de Pós Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV
Penna, João Barbosa Campbell
Especificação da paridade descoberta de juros no mercado brasileiro / João Barbosa Campbell Penna. – 2014.
29 f.
Dissertação (mestrado) - Fundação Getulio Vargas, Escola de Pós-Graduação em Economia.
Orientador: Rafael Chaves Santos. Coorientador: Giuliano Carrozza. Inclui bibliografia.
1. Taxas de juros. 2. Mínimos quadrados. 3. Testes de hipóteses estatísticas. I. Santos, Rafael Chaves. II. Carrozza, Giuliano. III. Fundação Getulio Vargas. Escola de Pós-Graduação em Economia. IV. Título.
AGRADECIMENTOS
A minha esposa por sempre me apoiar e não medir esforços para estar ao meu lado
nos momentos mais importantes da minha vida.
Aos meus pais, Teresa e Gilberto e minha irmã Carolina que sempre me
estimularam a correr atrás dos meus sonhos.
Ao meu orientador Rafael Chaves Santos e coorientador Giuliano Carrozza que
foram de uma dedicação exemplar ao longo deste trabalho e souberam me orientar
de maneira impecável.
Aos professores, monitores e funcionários da FGV que propiciaram anos
RESUMO
Medimos a validade da paridade descoberta de juros – PDJ - para o mercado
brasileiro no período de janeiro de 2010 a julho de 2014. Testamos a equação
clássica da PDJ usando o Método dos Mínimos Quadrados Ordinários. Após a
estimação dos parâmetros, aplicamos o Teste de Wald e verificamos que a paridade
descoberta de juros não foi validada. Estendemos a equação tradicional da PDJ
para uma especificação alternativa que captura medidas de risco Brasil e de
alteração na liquidez internacional. Especificamente, acrescentamos três variáveis
de controle: duas variáveis dummy que capturam condições de liquidez externa e o
índice de commoditie CRB, que captura o risco Brasil. Com a especificação
alternativa, a hipótese de que os retornos das taxas de juros em Real, dolarizadas,
são iguais aos retornos da taxas de juros contratadas em dólares, ambas sujeitas ao
risco Brasil, não foi rejeitada. Em complemento à análise das taxas representativas
do mercado brasileiro, procurou-se avaliar a predominância da PDJ nas operações
de swap cambial realizadas pela Vale S.A.. Para tanto, a série de taxa de juros em
dólares do mercado brasileiro foi substituída pela taxa em dólar dos swaps
contratados pela Vale. Os resultados encontrados demonstram que, quando
comparado ao comportamento do mercado, as taxas em dólares da VALE são mais
sensíveis às variações das taxas em Reais.
Palavras Chaves: Paridade descoberta de juros, Método dos Mínimos Quadrados
ABSTRACT
We measure the validity of uncovered interest parity - UIP - for the Brazilian market
from January, 2010 to July, 2014. We tested the classical equation of UIP using the
ordinary least squares method. After the estimation, we apply the Wald test and we
verify that the uncovered interest parity has not been validated. We extend the
traditional UIP equation for an alternative specification that captures Brazil risk and
changes in liquidity of the international market. Specifically, we add three control
variables: two dummy variables that capture external liquidity conditions and the
commodity index CRB, which captures Brazil risk. With the alternative specification,
the hypothesis that the returns in interest rates in Real, dollarized, are equal to the
return of interest rate contracted in dollars, both subject to Brazil risk, was not
rejected. To complement the analysis using the interest rates existing in the Brazilian
market, we tried to evaluate the prevalence of UIP in cross currency interest rate
swaps carried out by Vale SA. The interest rate in dollar of the Brazilian market was
replaced by the dollar rate of swaps contracted by Vale. The results show that, when
compared to market behavior, the dollar rates of Vale SA. are more sensitive to
changes in Reais interest rates.
SUMÁRIO
1. Introdução---8
2. Revisão da literatura e descrição do problema---9
3. Paridade descoberta de juros, Carry-Trade e aspectos específicos do mercado brasileiro---10
4. Metodologia e Resultados---14
5. Conclusão---25
6. Referências bibliográficas---26
7. Apêndice---27
Índice de Figuras
Figura I: EVOLUÇAO DI 2Y---16
Figura II: EVOLUÇAO DI 5Y---17
Figura III: EVOLUÇAO DDI 2Y---17
Figura IV: EVOLUÇAO DDI 5Y---18
Figura V: EVOLUÇAO exp_camb---18
Figura VI: EVOLUÇAO CRB---19
Índice de Tabelas Tabela I: Resultado Mercado 2Y - Variáveis---20
Tabela II: Teste de Wald Mercado 2Y - Modelo Alternativo (a) & Modelo Clássico (b)---20
Tabela III: Resultado Mercado 5Y - Variáveis ---21
Tabela IV: Teste de Wald Mercado 5Y - Modelo Alternativo ---22
Tabela V: Resultado VALE SA - Variáveis ---22
8
1 - INTRODUÇÃO
A taxa de câmbio é um dos preços mais importantes para a economia, pois
determina o valor das importações e exportações de um país, assim como o valor da
sua dívida externa, entre outras variáveis. Por conseguinte, os governos a usam
para afetar esses agregados macroeconômicos, tornando-se fundamental entender
a sua dinâmica e seu equilíbrio. Uma das teorias que procura compreender a taxa
de câmbio é a hipótese da paridade descoberta de juros (PDJ). Segundo essa
hipótese, graças ao processo de arbitragem, “os rendimentos esperados dos
depósitos de quaisquer duas moedas são iguais quando medidos em uma mesma
moeda” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2001, p. 357). A PDJ ressalta a importância da
interligação entre as economias. Se em um determinado momento existe a livre
mobilidade de capitais, então a taxa de juros desse país terá que convergir para o
nível das taxas de juros internacionais, reduzindo ou anulando o poder do governo
local para de afetá-la.
Dada a importância da PDJ, este trabalho objetiva testá-la para a economia
brasileira entre 2010 e 2014 e está dividido em mais 4 seções além desta
introdução. Foram testados vários modelos de regressão linear. Em paralelo à
avaliação da consistência econométrica de cada modelo, a interpretação econômica
dos coeficientes angulares permitiu que se verificasse a predominância da relação
de equilíbrio entre taxas de juros e câmbio definida pela paridade descoberta da taxa
de juros. O trabalho pretendeu ainda buscar elementos específicos das operações
de swap cambial realizadas pela VALE S.A. no período de janeiro de 2010 a abril de
2014.
Assim, além desta seção, o trabalho está dividido da seguinte maneira: o capitulo 2
apresenta a descrição do problema e a revisão da literatura, descrevendo os
resultados encontrados em outros trabalhos que pretenderam verificar a
predominância da PDJ em alguns mercados. Além disso, descreve a contribuição
específica deste trabalho. O capitulo 3 expõe brevemente o modelo de paridade de
taxa de juros e o conceito de carry-trade. Em seguida, apresenta uma descrição do
mercado de cupom cambial no Brasil e outras peculiaridades do mercado brasileiro.
9
específico da Vale, exibindo os resultados encontrados. Finalmente, o capitulo 5
apresenta as conclusões e sugestões para trabalhos adicionais.
2 - REVISÃO DA LITERATURA E DESCRIÇÃO DO PROBLEMA
A taxa de câmbio é uma variável de alta volatilidade e de difícil previsibilidade.
Alguns fatores relevantes para se determinar o comportamento do câmbio são o
nível de abertura da economia local, o nível de propensão a risco dos agentes
econômicos, a mobilidade de capitais entre países, e, obviamente, mudanças na
política econômica e cambial.
Por sua vez, variações na taxa de câmbio podem influenciar de forma relevante a
economia local, atingindo diretamente importadores e exportadores e, em série,
consumidores. Por exemplo, a queda de valor da moeda local torna o preço dos
insumos importados mais altos (medidos em moeda local). O repasse natural de
custos aos consumidores faz da queda no câmbio um relevante sinal de alerta de
inflação. No Brasil, o principal instrumento de política monetária e de controle da
inflação tem sido a definição da taxa Selic. Nesse sentido, entender sua relação com
as taxas de câmbio representa algo de bastante relevância.
A PDJ prevê que as moedas com altas taxas de juros nominais devem se depreciar.
Prevê ainda que, ceteris paribus, um aumento da taxa de juros real doméstica deve
apreciar sua moeda. Alguns trabalhos teóricos estudaram as condições de
não-arbitragem entre taxas de juros e taxas de câmbio. Edwards e Khan (1985),
Shambaugh (2004), entre outros, sugerem a impossibilidade de que os agentes
obtenham lucros por meio de arbitragem nos mercados cambial e de títulos de renda
fixa, corroborando a existência de uma paridade descoberta da taxa de juros.
Porém, na prática, as implicações dessa teoria nem sempre são verificadas. Existem
diversas evidências contra a PDJ - Hodrick (1987), Engel (1996), entre outros. Uma
explicação mais comum para a falha da PDJ seria a existência de um prêmio de
risco que muda no tempo como uma recompensa para a posição especulativa na
10
evidências que suportam a PDJ - Bekaert e Hodrick (2001), Baillie e Bollerslev
(2000), Chinn e Meredith (2001, 2003), entre outros. De fato, as conclusões sobre a
PDJ dependem da abordagem aplicada na análise, incluindo o período, o tamanho e
a frequência da amostra.
Com relação aos testes da PDJ em países da América Latina, pode-se destacar o
trabalho de Carvalho e Divino (2010). Os resultados indicam a validade da hipótese
da PDJ em todos os casos examinados, indicando a presença de mobilidade de
capitais em países da América Latina após a adoção de planos de estabilização
econômica. Como aplicação da PDJ à economia brasileira, pode-se citar o trabalho
de Marçal et alii (2003), que conclui sobre a validade da PDJ em determinadas
condições.
Nesse contexto, o presente trabalho procura verificar a predominância da PDJ em
um período mais recente, verificando a influência ou mudança de comportamento no
período de crise ou de mudanças relevantes nas políticas monetária do Federal
Reserve (FED). Em complemento, verificou-se também se a relação de equilíbrio
definida pela PDJ era também observada nas operações de swap cambial realizada
pela Vale S.A. no período analisado.
3 - PARIDADE DESCOBERTA DE JUROS, CARRY-TRADE E ASPECTOS ESPECÍFICOS DO MERCADO BRASILEIRO
A globalização que ocorre em todos os setores da economia mundial se faz bem
visível nos mercados financeiros. Os países são de certa maneira interligados,
fazendo com que os investidores escolham onde eles pretendem fazer suas
aplicações financeiras. Mesmo países menos desenvolvidos, como o Brasil,
possuem seus mercados financeiros suficientemente maduros para atrair
estrangeiros que procurem retornos atrativos para seus investimentos.
Essa interligação dos mercados faz com que títulos de dois países diferentes, com
11
comparação dos rendimentos, será preciso considerar esses títulos na mesma
moeda. Não havendo oportunidades de arbitragem inexploradas, o rendimento dos
dois títulos medidos na mesma moeda deverá ser igual. Essa é a essência da PDJ.
A conhecida estratégia de carry-trade (que consiste em tomar recursos emprestados
em países com baixas taxas de juros e emprestar em países com altas taxas) visa
explorar a invalidez da paridade descoberta dos juros e tem sido crescentemente
utilizada por agentes econômicos.
3.1 - TAXA DE JUROS NO BRASIL
As taxas de juros do mercado financeiro são determinadas, basicamente, pela
política monetária adotada pelo Banco Central do Brasil e pelas expectativas dos
agentes econômicos quanto ao risco dos títulos públicos. As taxas de câmbio, por
sua vez, são influenciadas pela política monetária do Governo Federal, assim como
pelo Saldo do Balanço de Pagamentos e expectativas inflacionárias.
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é um documento de empréstimo entre
bancos, com duração normalmente de um dia útil. Servem aos bancos para cobrir
diferença de posição de saldo de um dia para o outro. Para diminuir o risco da
operação, estes bancos oferecem como garantia de pagamento os títulos públicos
federais que possuem. Assim, diz-se que CDI é um empréstimo com lastro em títulos
públicos federais. A taxa CDI nasce do valor médio destes empréstimos no dia.
3.2 - CONTRATO DI FUTURO
São acordos de compra ou venda da expectativa de taxa de juro de DI para o
período compreendido entre a data de negociação e a data de vencimento do
contrato. De maneira resumida, pode-se dizer que o Depósito Interfinanceiro (DI)
representa uma operação de empréstimo entre bancos e que a taxa média DI da
Cetip representa a taxa referencial básica do custo das operações interbancárias.
A negociação de DI Futuro no Mercado BM&F constitui-se em uma referência para a
economia como um todo por sintetizar as expectativas sobre os comportamentos
dos juros para períodos futuros. Isso é possível, em primeiro lugar, pelo seu elevado
12
total transparência. Além disso, trata-se de um contrato futuro referenciado em uma
taxa amplamente divulgada e conhecida pelo mercado.
3.3 - CUPOM CAMBIAL
O contrato futuro de cupom cambial é a taxa de juros obtida a partir da diferença
esperada entre a taxa acumulada do depósito interbancário (DI) e a variação da taxa
de câmbio no período da operação (PTAX 800 de venda). A negociação do contrato
futuro de cupom cambial iniciou-se em 1998 a fim de substituir o uso combinado dos
contratos futuros de dólar e de depósito interbancário de 1 dia pelos agentes do
mercado.
Também conhecido como DDI – código na BMF&Bovespa – o cupom cambial é
principalmente utilizado por instituições do mercado financeiro. Ele representa o
diferencial da taxa de juro interna e a variação cambial esperada, referindo-se ao
mesmo período. Pode-se dizer então que o cupom cambial é uma taxa de juros em
dólar, ou colocado de outra maneira, é a remuneração liquidada em reais dos
dólares investidos no Brasil. Quanto maior o cupom cambial, maior será a
atratividade da entrada de recursos na economia. Caso haja um aumento na taxa de
juros local ou expectativa de valorização do Real, a taxa do cupom cambial tende a
aumentar. Em outras palavras, o cupom cambial é um título cuja remuneração
corresponde à variação cambial acrescida de uma taxa. Ao comprar o cupom
cambial, o investidor terá lucro se a taxa acumulada do CDI for superior à observada
na depreciação do Real. Cupom = CDI – E(desvalorização do Real).
Existem dois tipos de cupom cambial: Cupom Cambial Sujo, este calculado com
base na PTAX de um dia anterior, sendo contaminado pela variação cambial, e o
Cupom Cambial limpo, onde é retirado o efeito da variação cambial, isto é, é
substituída a PTAX do dia anterior à operação pela taxa do dólar spot.
3.4 - MERCADO DE TAXA DE CÂMBIO NO BRASIL – DÓLAR SPOT E FUTURO
Como demonstrado em Garcia e Urban (2004), as operações do mercado
interbancário brasileiro podem ser feitas diretamente entre os participantes do
13
corretoras têm o papel de unir as duas pontas de uma negociação, a compradora e
a vendedora, não podendo carregar posições em moeda estrangeira.
Como argumentam Garcia e Urban (2004), "mercado interbancário de câmbio é
regulamentado e fiscalizado pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central
do Brasil. Praticam operações nesse mercado apenas bancos expressamente
autorizados. As negociações entre os bancos podem ser realizadas com ou sem a
interveniência de sociedades corretoras.
Adicionalmente ao mercado à vista, existe o mercado de derivativos de câmbio,
entre os quais se destaca o mercado de dólar futuro. O dólar futuro é negociado
principalmente no pregão da BM&F. Como a legislação brasileira referente ao
mercado cambial autoriza o livre acesso à moeda estrangeira à vista tão somente a
bancos com carteira de câmbio (Garcia e Urban, 2004), tal limitação faz com que
diversas operações típicas do mercado à vista sejam transferidas para o mercado
futuro. Segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS, 2007), o mercado
de dólar futuro real/dólar é o segundo maior mercado de derivativos de câmbio
transacionados em pregão do mundo. Enquanto isso, o mercado à vista real/dólar
corresponde a menos de 1% do volume total de câmbio à vista negociado no
mundo.
A legislação com relação ao mercado de derivativos de câmbio é muito menos rígida
do que aquela que rege o mercado à vista de dólar. Uma restrição que não se aplica
é quanto ao carregamento de posições em moeda estrangeira por instituições que
não são autorizadas pelo Banco Central: enquanto no mercado à vista apenas as
instituições autorizadas podem carregá-las, no mercado de derivativos praticamente
qualquer agente pode fazê-lo, desde que atingidas condições mínimas exigidas pela
BM&F.
Assim, uma característica singular do mercado cambial brasileiro é o fato do volume
transacionado no mercado futuro de câmbio ser cerca de cinco vezes superior ao
volume total transacionado no mercado à vista interbancário. Isso não se verifica nos
principais mercados cambiais do mundo (principalmente nos países do G7), onde o
14
4 – METODOLOGIA E RESULTADOS
Dado o objetivo deste trabalho de testar a PDJ para o Brasil, representada na
equação 1, escolheu-se o o período de janeiro de 2010 a julho de 2014 e o Método
dos Mínimos Quadrados Ordinários. Após a estimação dos parâmetros, testamos a
significância estatística dos parâmetros aplicando o Teste de Wald.
camb i
iReais Dólaresexp_ (1)
Onde:
ais
iRe taxa de juros doméstica (moeda local).
Dólares
i taxa de juros em dólares de uma aplicação realizada localmente.
camb
exp_ expectativa de desvalorização da moeda local.
Após estudar diversas alternativas, o modelo escolhido considera como variável
dependente a taxa de juros em dólares, adicionada à expectativa de desvalorização
cambial, e como variáveis independentes, a taxa de juros em Reais e o índice CRB.
CRB DI a camb
DDIexp_ (2)
Onde:
DI taxa de juros em Reais, representada pelo contrato DI futuro
camb
exp_ expectativa de desvalorização cambial, representada pelo futuro de
câmbio (BRL/USD) de dois anos.
DDI contrato de cupom cambial da BM&F
15
Para todas as variáveis neste trabalho foram utilizadas as taxas médias de cada
mês do período de amostragem, contabilizando assim 55 observações mensais.
Teoricamente, a PDJ deve ser válida para qualquer período de tempo e qualquer
periodicidade aplicada à variação cambial e às taxas de juros em Real e em Dólar, o
que corresponde à hipótese de que não há possibilidade de arbitragem, não
importando qual seja o horizonte temporal. No trabalho, a série histórica de DI
Futuro (DI) representa a taxa de juros em Reais. Como dito anteriormente, ela é
usada pelos investidores que querem aplicar em juros no Brasil e é um dos contratos
de maior liquidez negociados na BM&F. Como proxy para expectativa de taxa de
câmbio usou-se o futuro de câmbio BRL/USD com prazo de dois anos. Para a taxa
de juros em dólares foram considerados os contratos DDI da BM&F (cupom
cambial). Ele representa justamente a taxa de juros em dólares negociada no Brasil.
Foram avaliadas duas especificações com diferentes prazos: DI Futuro (DI) e DDI de
2 anos; DI Futuro (DI) e DDI de 5 anos.
Durante o período da amostra tivemos dois subperíodos especiais onde a atuação
do banco central americano (FED – Federal Reserve) exerceu impacto relevante no
mercado. Sua politica de afrouxamento monetário, conhecida como quantitative
easing (programa de recompra de títulos do governo), teve como finalidade reativar
a economia americana após a grave crise de 2008/09 e impactou de forma severa
as taxas de juros e de câmbio nos EUA, e consequentemente, no resto do mundo.
Para se levar em conta a especificidade destes dois períodos, duas variáveis dummy
foram introduzidas no modelo. A dummy d2 capta o período de implementação do
segundo programa de recompra de títulos – QE2 e a dummy d3 o período do
terceiro programa de recompras - QE3.
Para o índice CRB, a regressão considera desvios percentuais da média mensal do
CRB diário em relação à média diária do índice durante o período de 1981 até 2003
(média de 254.66).
O argumento para esta metodologia se baseia no fato de que, como nos últimos 10
anos, com o boom de commodities, o índice está sobre apreciado, e temos
dificuldade em medir o quanto, usar esse critério de descontar a média do índice no
16
commodities sem ter que arbitrar valores que sejam impactados de forma
significativa pelos preços observados na vizinhança da crise de 2008.
A seguir apresenta-se uma rápida análise do comportamento das variáveis do
modelo no período em que foram observadas neste trabalho.
Os dois primeiros gráficos (Gráficos I e II) mostram o comportamento das taxas de
juros em Reais através do contrato de DI futuro de 2 e 5 anos, os dois seguintes
(Gráficos III e IV) retratam o comportamento das taxas de juros em dólares para o
mercado brasileiro através dos contratos de cupom cambial DDI de 2 e 5 anos. Já
nos dois últimos gráficos (Gráficos V e VI) podemos ver a variação do câmbio e do
índice de commodities CRB entre 2010 e 2014. A fonte de todos os dados foi a
Bloomberg.
Figura I – EVOLUÇAO DI2Y
7 8 9 10 11 12 13
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
2010 2011 2012 2013 2014
17
Figura II – EVOLUÇAO DI5
8 9 10 11 12 13 14
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
2010 2011 2012 2013 2014
DI5
Figura III – EVOLUÇAO DDI2Y
1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
2010 2011 2012 2013 2014
18
Figura IV – EVOLUÇAO DDI5Y
2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 4.5 5.0 5.5
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
2010 2011 2012 2013 2014
CC5
Figura V – EVOLUÇAO exp_camb
0 5 10 15 20 25 30 35
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
2010 2011 2012 2013 2014
19
Figura VI – EVOLUÇAO CRB
50 60 70 80 90 100 110 120 130
I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
2010 2011 2012 2013 2014
CRB_SERIE
Assim, a condição de não arbitragem descrita na equação 2 passou a ser definida
como:
3 2 exp_camb a DI CRB d d
DDI (3)
Onde:
1 2
d se t
Ago/10,Jan/11
e d20 se t
Ago/10,Jan/11
1 3
d se t
jul/12,dez/12
e d30 se t
jul/12,dez/12
As tabelas a seguir apresentam os resultados obtidos para os dois modelos finais:
Clássico: (DDI + exp_cambio) = y = c(1) + c(2) x DI + errot
Alternativo:(DDI + exp_cambio) y = c(1) + c(2) x DI + c(3) x dummy2 + c(4) x
20
Na Tabela I, temos como variável explicada, tanto para o modelo clássico de PDJ
como para o modelo alternativo, y = DDIexp_camb.
TABELA I - Resultado M ercado 2Y - Variáveis
Em seguida, foi feito o Teste de Wald para testar a seguinte restrição conjunta dos
coeficientes: c(1) = 0, c(2) = 1, conforme descrito abaixo:
TABELA II – Teste de W ald M ercado 2Y - M odelo Alternativo (a) & M odelo Clássico (b)
(a)Estatisitica Valor GL Probabilidade
Estatistica - F 1.321527 (2, 50) 0.2759
Qui-quadrado 2.643053 2 0.2667
Hypotese Nula: C(1)=0,
C(2)=1
(b)Estatisitica Valor GL Probabilidade
Estatistica - F 127.76 (2, 53) 0.0000
Qui-quadrado 255.53 2 0.0000
Hypotese Nula: C(1)=0,
C(2)=1
c(1) c(2) c(3) c(4) c(5)
Coef. 5,5726 1,2331
p-valor (0,1792) (0,0013)
Coef. 3,2852 1,0743 -4,9867 -4,8598 0,0500
p-valor (0,5600) (0,0110) (0,0031) (0,0050) (0,0984)
c(1) Coef. Angular
c(2) DI2Y
c(3) d2
c(4) d3
c(5) CRB
M odelo classico
21
Neste primeiro modelo onde consideramos taxas de juros de 2 anos em reais e
dólares, quando analisados os coeficientes, p-valores e o teste de Wald, fica clara a
validade da PDJ para o modelo alternativo. Sobre as variáveis incluídas no modelo
alternativo, cabe ressaltar os sinais negativos das duas variáveis dummy que
representam os dois períodos de afrouxo monetário realizado pelo Federal Reserve
(FED) que derrubou as taxas de juros em dólar. Sobre a variável acrescentada,
CRB, ela possui sinal positivo, que faz sentido visto que momentos de índice de
commodities em alta coincidem com momentos de atividade econômica mundial em
alta, traduzindo em taxas de juros maiores no mundo.
Já para o modelo clássico a validade da PDJ claramente não foi verificada quando
observamos o Teste de Wald.
TABELA III - Resultado M ercado 5Y - Variáveis
c(1) c(2) c(3) c(4) c(5)
M odelo classico Coef. 1,7672 1,6170
p-valor (0,7568) (0,0014)
M odelo alternativo Coef. 0,2880 1,3810 -4,3595 -4,9771 0,0513
p-valor (0,9713) (0,0202) (0,0087) (0,0112) (0,1084)
c(1) Coef. Angular
c(2) DI5Y
c(3) d2
c(4) d3
22
TABELA IV - Teste de W ald M ercado 5Y - M odelo Alternativo
Estatisitica Valor GL Probabilidade
Estatistica - F 2.106532 (2, 50) 0.1323
Qui-quadrado 4.213064 2 0.1217
Hypotese Nula: C(1)=0,
C(2)=1
Após analisarmos os coeficientes, p-valores e o teste de Wald, fica clara a validade
da PDJ para o modelo alternativo quando analisado com as taxas de juros de 5 anos
em reais e dólares. Conforme esperado, os sinais das variáveis dummy continuam
iguais aos do modelo de 2 anos. Já para o modelo clássico a validade da PDJ
claramente não foi verificada (coef c(2) bem distante de 1,00).
TABELA V - Resultado VALE SA - Variáveis
TABELA VI - Teste de W ald VALE SA
Estatisitica Valor GL Probabilidade
Estatistica - F 2.269678 (2, 47) 0.1146
Qui-quadrado 4.539355 2 0.1033
Hypotese Nula: C(1)=0,
C(2)=1
c(1) c(2) c(3) c(4) c(5)
Coef. -1,7982 1,5148 -4,7175 -3,3287 0,0413
p-valor (0,7987) (0,0040) (0,0078) (0,0494) (0,1876)
c(1) Coef. Angular
c(2) DI5Y
c(3) d2
c(4) d3
c(5) CRB
23
Na Tabela V e VI, fizemos o teste modificando a taxa em dólares do mercado pela
taxa praticada pela VALE em seus swaps, onde a empresa fica passiva em taxas de
juros em dólares. O resultado do teste nos mostra que os modelos são equivalentes,
exceto pelo coeficiente DI5Y da VALE que é maior que o dos modelos utilizando as
taxas de mercado. Deste fato pode-se concluir que as taxas em dólares praticadas
pela VALE são mais sensíveis a variações do DI que a média do mercado. Podemos
observar que os sinais das variáveis c(3), c(4) e c(5) permaneceram iguais aos dos
modelos de mercado, pois, o afrouxo monetários nos EUA, representado no modelo
pelas duas variáveis dummy, impacta de maneira similar as taxas de juros em
dólares praticadas tanto pelo mercado como pela VALE. Sobre a variável c(5),
podemos perceber que ela afeta muito pouco a taxa de juros em dólares da empresa
visto que a VALE tem seu risco “commoditie” muito associado somente ao minério
de ferro, e não a totalidade das commodities consideradas no índice.
5 – CONCLUSÃO
Os testes realizados não corroboraram a PDJ (paridade descoberta de juros) em sua
versão clássica. Entretanto, na sua versão alternativa, com a inclusão das dummies,
do índice CRB e considerando as taxas de juros de 2 anos e 5 anos, os testes
apresentaram sustentação empírica da PDJ no mercado brasileiro durante o período
de 2010 a 2014.
Quando substituímos a taxa de juros em dólar do mercado pela taxa em dólar
praticada pela VALE S.A., os resultados mostram uma maior sensibilidade da taxa
em dólar em relação à taxa em Reais – DI quando comparado ao modelo com
ambas as taxas de mercado.
Esse resultado era esperado. Da mesma forma que o Beta de equity da Vale é
superior a um, também o mercado de dívida corporativa reflete a maior volatilidade
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6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Jaimilton Carvalho, José Angelo Divino (2010). Paridade Descoberta da Taxa de
Juros em Países Latino-Americanos. Working Paper, Universidade Católica de
Brasília.
Marçal, E. F., Valls Pereira, P. L. V., & Santos Filho, O. C. (2003). Paridade do poder
de compra: Testando dados brasileiros. Revista Brasileira de Economia, 57:159.190.
Francis, B. & Hunter, D. (2002). Emerging market liberalization and the impact on
uncovered interest rate parity. University of South Florida.Working Paper.
Hodrick, R. J. (1987). The Empirical Evidence on the Ef_ciency of Forward and
Futures Foreign Exchange Markets. Harwood.
Engel, C. (1996). The forward discount anomaly and the risk premium: A survey of
recent evidence. Journal of Empirical Finance, 3:123.192.
Bekaert, G. & Hodrick, R. J. (2001). Expectations hypotheses tests. Journal of
Finance, 56(4):115.138.
Baillie, R. T. & Bollerslev, T. (2000). The forward premium anomaly is not as bad as
you think. Journal of International Money and Finance, 19(4):471.488.
Edwards, S. e M. S. Khan (1985) Interest Rate Determination in Developing
Countries: A Conceptual Framework. IMF Staff Papers 32, 377-403.
KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia internacional: teoria e política. 5 ed. São
Paulo: Makron Books, 2001.
Shambaugh, J. C. (2004) The Effect of Fixed Exchange Rates on Monetary Policy.
25
7 – APÊNDICE
Mercado 2Y – Modelo Alternativo
Dependent Variable: CC2+BRLAUX Method: Least Squares
Date: 10/14/14 Time: 12:51
Sample (adjusted): 2010M01 2014M07 Included observations: 55 after adjustments
HAC standard errors & covariance (Bartlett kernel, Newey-West fixed bandwidth = 4.0000)
CC2+BRLAUX=C(1)+C(2)*DI2+C(3)*DUMMY2(-4)+C(4)*DUMMY3(-2)+C(5) *(CRB/254.66-1)*100
Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.
C(1) 3.285224 5.598591 0.586795 0.5600
C(2) 1.074340 0.406927 2.640126 0.0110
C(3) -4.986684 1.602426 -3.111958 0.0031
C(4) -4.859827 1.656748 -2.933353 0.0050
C(5) 0.050001 0.029689 1.684189 0.0984
R-squared 0.243466 Mean dependent var 18.77031
Adjusted R-squared 0.182943 S.D. dependent var 5.027075
S.E. of regression 4.544033 Akaike info criterion 5.952015
Sum squared resid 1032.412 Schwarz criterion 6.134500
Log likelihood -158.6804 Hannan-Quinn criter. 6.022584
F-statistic 4.022718 Durbin-Watson stat 2.488510
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27
Mercado 5Y - Modelo Alternativo
Dependent Variable: CC5+BRLAUX Method: Least Squares
Date: 10/14/14 Time: 12:55
Sample (adjusted): 2010M01 2014M07 Included observations: 55 after adjustments
HAC standard errors & covariance (Bartlett kernel, Newey-West fixed bandwidth = 4.0000)
CC5+BRLAUX=C(1)+C(2)*DI5+C(3)*DUMMY2(-4)+C(4)*DUMMY3(-2)+C(5) *(CRB/254.66-1)*100
Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.
C(1) 0.288054 7.966098 0.036160 0.9713
C(2) 1.381037 0.575818 2.398394 0.0202
C(3) -4.359547 1.596770 -2.730229 0.0087
C(4) -4.977148 1.889238 -2.634473 0.0112
C(5) 0.051322 0.031483 1.630161 0.1094
R-squared 0.243575 Mean dependent var 19.96339
Adjusted R-squared 0.183061 S.D. dependent var 5.110346
S.E. of regression 4.618970 Akaike info criterion 5.984728
Sum squared resid 1066.744 Schwarz criterion 6.167213
Log likelihood -159.5800 Hannan-Quinn criter. 6.055297
F-statistic 4.025099 Durbin-Watson stat 2.446403
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29
Modelo VALE
Included observations: 52 after adjustments
HAC standard errors & covariance (Bartlett kernel, Newey-West fixed
bandwidth = 4.0000)
VALEUSD1+BRLAUX=C(1)+C(2)*DI5+C(3)*DUMMY2(-4)+C(4)*DUMMY3(-2)
+C(5)*(CRB/254.66-1)*100
Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.
C(1) -1.798283 7.010238 -0.256522 0.7987
C(2) 1.514829 0.500096 3.029079 0.0040
C(3) -4.717519 1.697745 -2.778697 0.0078
C(4) -3.328652 1.650074 -2.017275 0.0494
C(5) 0.041292 0.030877 1.337305 0.1876
R-squared 0.221318 Mean dependent var 18.48406
Adjusted R-squared 0.155048 S.D. dependent var 5.166941
S.E. of regression 4.749519 Akaike info criterion 6.045175
Sum squared resid 1060.223 Schwarz criterion 6.232795
Log likelihood -152.1746 Hannan-Quinn criter. 6.117104
F-statistic 3.339607 Durbin-Watson stat 2.599112