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O papel da enfermeira no ambulatorio de assistência à puérpera.

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PAPEL DA ENFERMEIRA NO AMBULATÓRIO DE ASSISTÊNCIA À PUÉRPERA*

Ma Cristina S. Figueiredo** Sandra Ma C. Candiotti**

RESUMO: A assistência

à

puérpura no Brasil é analisada no contexto da atenção ao ciclo grávido-puerperal, onde o pré-natal é considerado de baixa eficácia, a atenção ao parto, estanque e o puerpério a etapa esquecida. Nessa perspectiva, é ressaltada a importância da enfermeira na assistência pré, trans e pós-natal, considerando-se a atual sub-utilização dessa profissional nesse processo. Propõe-se a re-orientação da atenção ao puerpério através do retorno

à

atenção domiciliar, da redução do prazo da primeira consulta

à

puérpera, da efetiva implantação do sistema de referência e contra-referência, da incorporação de tecnologia adequada e da ampliação da cober­ tura assistencial.

ABSTRACT:

The assistance to the parturient ater the childbith in Brazil is analyzed regarding the pregnancy cycle, where the pre-natal care is rated as non-effective, the delivery care is isolated and the post-natal stage is forgoten. Under these circumstances, it is emphasized the impotance of the nurse before, during and ater delivery, taking into consideration how little this professional is currently employed in the processo This article suggests the re-orientation towards atention to the paturient through the return to home care, through having the irst consultation ater delivery sooner, through the' efective implementation of the reference system, through the aquirement of the proper technology and through the widening of the assistance coverage.

1.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

outros cuidados prestados na fase de "pré" e "trans"

natal. Como também, entende-se que a ação da enfer­ magem não pode, não deve ser desenvolvida isolada­ mente, sem conexão exata, ixa e permanente com todos os outros proissionais que se tonam necessá­ rios no decorrer do processo.

Discutir a assistência ambulatorial à puérpera, exige ênfase e clariicação de alguns aspectos consi­ derados alicerces para sustentar e garantir o sucesso de qualquer medida.

É

fundamental ser entendido que é de responsa­

bilidade coletiva o resultado das ações de saúde sori­ das pelos indivíduos, sujeitos dessas ações. Desse entendimento decorrem outros, no sentido de estabe­ lecer a saúde como processo e resultado de todo um contexto sócio-econômico e cultural de uma popula­ ção.

Utilizando essas idéias iniciais, na análise do tema proposto, poder-se-ia ressaltar que não se enten­ de o puerpério como fase estanque, cujos aspectos assistenciais podem estar desvinculados de todos os

Pensando de fonna mais ampla, pode-se entender que não é verdadeiro acreditar que a assistência à mulher no ciclo grávido-pueperal pode estar desvin­ culada da assistência à saúde da mulher, enquanto ser social, ser político, enim, enquanto ser humano.

No entanto, devido às exigências de tempo, de oportunidade e até mesmo para favorecer o entendi­ mento do que se pretende abordar, desenvolver-se-á o tema relativo ao papel da enfermeira na assistência ambulatorial à puérpera, apenas como foma de deli­ mitá-lo, mas em todo o instante lembrando que ele é

Trabalho apresentado no Simpósio sobre "O Papel da Enfermeira na Assistência Perinatal - XIII Congresso Brasileiro de Perinatal agia e X Reunião Brasileira de Enfermagem Perinatal, Recife-PE,

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Professoras Adjuntas das disciplinas Enfermagem Materno-Infantil I e IV do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas (UFAL),

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mais um elo de uma corrente que garantirá a coesão, a eiciência e a eicácia das ações de saúde.

2.

UM

OLHAR SOBRE O REAL

o conhecimento, através de pesquisas, sobre os problemas apresentados por mulheres durante o puer­ pério, demonstram também a relevância do assunto, ao mesmo tempo em que subsidiam a elaboração de propostas com vistas a minimizar aqueles problemas.

Segundo o Ministério da Saúde,(2) as complica­ ções da gravidez, parto e puerpério estão dentre as sete principais causas de óbito enre mulheres na faixa etária de 15 a 49 anos. Dentre essas, é dito que a

ifecção puerperal está entre as causas mais reqüen­ tes, em que pese ser de fácil prevenção, controle e tratamento.

MAGALHÃES et al.,(8) em trabalho realizado com mulheres no témino do ciclo grávido-puerperal, indicam que 46% da população pesquisada apresen­ tou ingurgitamento mamário, 46% apresentou disten­ são abdominal, 30% apresentou fissura mamária, 27% febre e 22% desenvolveu infecção no local da episiotomia. Relativos a seus recém-nascidos, os principais problemas registrados foram diarréia, im­ petigo, vômitos e icterícia.

É

válido ressaltar que a amostra dessa pesquisa constou de 240 mulheres e esses dados referem-se àquelas mães que fizeram pré-natal, 6 ou mais consultas, e tiveram parto hospi­ talar.

Todos os problemas levantados são facilmente preveníveis, todos requerem ações de diversos prois­

sionais da área de saúde, desde o desenvolvimento de técnicas especíicas, até ações de cunho puramente educativo e ainda, pode ser visto que os problemas relatados, em sua maioria, manifestam-se no retono da puérpera ao domicílio, tendo em vista a conduta adotada atualmente para alta.

Outras pesquisas trabalham as puérperas em seu retono para consulta pós-parto, e dentre elas é inte­ ressante o trabalho de PINELLI et al)14) preconi­ zando a consulta às puérperas entre o 7° e o 15° dia. Relata queixas e problemas apresentados pelas mães na fase anterior e até o dia previsto para consulta. Assim, foram ditos como problemas mais reqüentes, instalados anteriormente à consulta: ingurgitamento mamário, dor no local da episiotomia, cefaléia, lesão nos mamilos e cólicas uterinas. E desses, permanece­ ram até o dia da consulta: dor no local da episiotomia, cefaléia e mais: constipação, dificuldade de urinar, dentre outros menos reqüentes.

É

oportuno aqui

cha-mar a atenção para o fato de que, são o ingurgitamento mamário e outros desconfortos sentidos pela puépera os grandes responsáveis pelo desmame precoce. Ain­ da nessas mulheres, durante o exame físico, foram detectados problemas dentários, pulso taquicárdico, mucosas hipocrômicas, deiscência de suturas, estado sub-febril e ingurgitamento mamário.

Portanto, por pesquisas diferentes, realizadas em ambientes distintos, pode-se concluir que é alta a incidência de problemas no puerpério, em momentos que decididamente não são visados pelos programas de saúde.

Por outro lado, é agravante o fato, detectado em pesquisa(15) de que as mães gostariam de ter informa­ ções sobre como cuidar do coto umbilical, sobre os cuidados gerais com ela e a criança, alimentação e higiene coporal. Nessa mesma pesquisa foi visto que 76% das mães referem não imaginar que aspectos do puerpério gostariam de saber.

É

amplamente discutido, e portanto do conheci­ mento de todos, que o puerpério se caracteriza basi­ camente pelo retomo da isiologia matena às condi­ ções pré-gravídicas e que essas transformações são fisiológicas e psicologicamente normais, porém ex­ tremamente importantes e potencialmente perigosas. Elas ocorem de ma mais incisiva nos primeiros 10 dias. Consoante a esta airmativa, está o fato de que, o maior índice de desmame acontece na primeira semana, e o alto índice de mortalidade neonatal ocore também nas primeiras semanas após o nascimento. Tudo isso determina o puerpério como um momento também de maior necessidade de acompanhamento, de supervisão e orientação pelo pessoal de saúde.

Complementando e resumindo o quadro, pode ser dito que o pré-natal não é eficiente em vários aspectos, mas não o é, principalmente, no aspecto

educativO<S); a assistência ao parto é estanque, visan­ do exclusivamente o período expulsivo, o ato de

parireS); e o puerpério, inalmente é a etapa esquecida por todos, talvez imaginada como arremate que, com ou sem assistência, acontecerá e por isso tem a natu­ reza como provedora de suas necessidades.

Coerente com essa conduta, vai-se deixando de lado, por exemplo, o sistema de referência e contra­ referência entre os serviços, a assistência domiciliar; as atividades educativas no pré-natal e puerpério e a consulta no pós-parto precoce.

3. UM OLHAR PARA O FUTURO

Diante do exposto, não é possível entender a

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assistência à puérpera no ambulatório como o mo­ mento de corrigir falhas determinadas nas fases pré, trans e pós-natal. Relembrando o que foi anteriomen­ te afirmado, em relação ao se entender saúde como ação coletiva e processual, vê-se que o papel da enfermeira nessa fase nada mais objetiva do que continuidade no assistir, no acompnhar, no processo de adaptação ao aleitamento materno; incentivo ao autocuidado e esclarecimentos com vistas ao plane­ jamento familiar. Tem ainda o objetivo de reforçar o que foi em outros momentos ensinado. Se nada for dito, se nada for esclarecido, se nada for ensinado, nada se terá para reforçar, para corrigir e para super­ VISIOnar.

No entanto, acredita-se que algumas medidas podem atenuar os efeitos da assistência pré e trans

natal inadequadas. Até porque acredita-se que "Nin­

guém comete erro maior do que não fazer nada, porque só pode fazer um pouco" (Edmund Burke). Assim, o retorno à assistência domiciliar, já adotada em vários países do ]0 mundo, como estratégia de redução de custos hospitalares e como resolução para diversos problemas da comunidadé6); a orien­ tação sistemática de cuidados preventivos de infecção pueperal e de outros problemas, aos quais o binômio mãe e filho estão sujeitos nessa fase; a garantia do acesso da puérpera aos serviços de saúde precoce­ mente e em qualquer momento que sinta necessidade, isto é, reduzindo o tempo de agendamento da primeira

consulta para os primeiros 10 dias de pós-parto; enIm

a efetiva implantação do sistema de referência e con­ tra-referência entre os serviços hospitalares e ambu­ latoriais de forma a integrá-los num "continuum" que não fragmenta a assistência, certamente, favorecerá o ajuste da mulher e família nesse período, a instalação

do aleitamento mateno, a continuidade da assistên­ cia, o estímulo e a orientação ao auto-cuidado, a individualização da assistência e, principahnente, de­ terminará o diagnóstico precoce de problemas que têm seu controle na dependência do tratamento pre­ coce.

Toda a história conduz à relexão do que se fazia

e se deixou de fazer, do que se está fazendo e não deveria ser feito e direcionar para o que ainda precisa ser efetivado.

Devem ser criadas ou adotadas tecnologias me­ diante a elaboração de normas que incorporem os avanços teconológicos apropriados a cada realidade, evitando sempre concentrar o progresso em grupos privilegiados. Como isso não se quer dizer que se deve voltar a técnicas superadas, mas que se deve usar tecnologias adequadas e compatíveis com as condi­ ções sócio-culturais.

A atenção primária de saúde "e a chave para alcançar em uturo previsível, num nível aceitável de saúde, que faça parte do desenvolvimento social e se inspire em um espírito de justiça". A assistência pri­ mária de enfemagem é aquela prestada ao usuário do serviço de saúde com o propósito de prevenir o agra­ vamento da doença ou manter o estado de saúde.(lO)

Sendo assim, a enfermagem é um recurso para implantação da assistência primária e tem como meta:

- Contribuir para alcançar os objetivos dos pro­ gramas oiciais de saúde exercendo atividades em todos os níveis de prevenção, de acordo com a realidade sócio-econômica de cada país, obser­ vando os padrões indispensáveis de enfermagem

que assegurem qualidade à assistência prestada.

- Contribuir para extensão de cobertura das ações de saúde à população.

Estas relexões permitem concluir que a enfer­

meira é m proIssional subutilizado em comparação

a seu potencial para assumir funções mais diretas na prestação da assistência primária que antes eram pri­ vativas do médico.

Tudo isso vem a conIrmar a importância e ne­

cessidade da assistência de enfermagem à puérpera

no ambulatório, como co-participante das ações de

saúde necessárias à mulher.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

I. AMORIM, M.H.e. Princpios de humanização na assitência à parturiente no período de dilatação - conhecimento e aplicação por enfermeiras. Dissertação de Mestrado. Escola Paulista de Medicina. São Paulo, 1987 (mimeo).

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência Integrada à Saúde da Mulher: bases de ação proramática. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1984.

70 R. Bras. rll/. rasilia. 46 (\): 6!-71, jan./lIlar. 193

3. CANDIOTTI, Z.M.C. & AMORIM, M.H.C. Estimulo de puérperas para o autocuidado. Escola Paulista de Medicina, São Paulo, 1984 (mimeo).

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5. FIGUEIREDO, M.C.S. et aI. Enfermagem na Assistência Primária ao menor de um ano em ambulatórios hospi­ talares. Rio de Janeiro, 1978 (mimeo).

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7. FONTES, lA.S. Perinatologia Social. São Paulo: Fundo Edi­ torial Byke Procieux, 1984.

8. MAGALHÃES, B.R. et aI. Ação ou omissão. Uma con­ tribuição à análise das relações do Estado e o atendimento

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12. _ Atención Primária de salud Conferência intenacional

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13. _ La mujer, la salud e el desarollo en las Americas: una

bibliografia anotada. Publicación Científica n° 464. Washington D.C. 1984.

14. PINELLI, F.G.S. et aI. Consulta de enfermagem à puérpera. Escola Paulista de Medicina. São Paulo, 1991 (mimeo). 15. SCHOCHI, c.G.S. et aI. O conhecimento de puérperas sobre

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16. ZIEGEL, Ema & CRANLEY M.S. Enfermagem obstétrica. 7° ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1980.

Referências

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