• Nenhum resultado encontrado

Estratégias e políticas para o esenvolvimento da região nordeste do brasil nos próximos 20 anos

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Estratégias e políticas para o esenvolvimento da região nordeste do brasil nos próximos 20 anos"

Copied!
131
0
0

Texto

(1)

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

Ademario Alves de Jesus

Estratégias e Políticas para o Desenvolvimento da Região Nordeste do Brasil nos próximos 20 anos

(2)
(3)

Estratégias e Políticas para o Desenvolvimento da Região Nordeste do Brasil nos próximos 20 anos

Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA da Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil, sob a orientação do Prof. Olimpio J. de Arroxelas Galvão – Ph. D

(4)
(5)
(6)

Este trabalho buscou através de pesquisas embasadas em quatro fatores explicativos para o desenvolvimento econômico e social de um determinado local (cultura, geografia, acaso e instituições), informações que auxiliassem na compreensão do baixo nível de desenvolvimento da Região Nordeste em comparação à média brasileira. Complementarmente, pesquisou-se experiências internacionais (Estados Unidos e União Europeia) e também nacionais, em termos de políticas e estratégias de desenvolvimento regional já adotadas e que pudessem servir de referência para o aperfeiçoamento das ações atualmente adotadas no Nordeste ou para a adoção de novas estratégias. De maneira geral, percebeu-se certa similaridade entre as estratégias adotadas em outras partes do mundo e as estratégias atualmente adotadas no Brasil, de modo que as diferenças são mais relacionadas à forma do que propriamente ao conteúdo. A grande distância ainda existente entre os indicadores de desenvolvimento da Região Nordeste em relação à média Brasileira sugerem a necessidade de aperfeiçoamento e adoção de novas estratégias objetivando o enfrentamento desta realidade. Como resultado, a partir das pesquisas e reflexões realizadas, foram elencadas cinco sugestões de estratégias que podem ser adotadas pelos formuladores de políticas públicas, visando a elevação no nível de desenvolvimento da Região Nordeste nos próximos 20 anos.

(7)

This study sought through research informed in four explanatory factors for economic and social development of a particular location (culture, geography, chance and institutions), information that would help in understanding the low of the Northeast development level compared to the national average. In addition, it was researched international experiences (United States and European Union) and also national, in terms of regional development policies and strategies already adopted and that could serve as a reference for the improvement of actions currently adopted in the Northeast or the adoption of new strategies. In general, it was noticed a similarity between the strategies adopted in other parts of the world and the strategies currently adopted in Brazil, so that the differences are more related to the form than

the content itself. The great distance still exists between the Northeast development indicators in relation to the Brazilian average suggest the need for improvement and

adoption of new approaches aiming to face this reality. As a result, from the research and reflections made, were listed five suggestions of strategies that can be adopted by policy makers, aiming at the increase in the Northeast level of development over the next 20 years.

(8)
(9)

Figuras

1 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM 12

2 Demanda e oferta de recursos para o Desenvolvimento Regional 110

Gráficos 1 Participação histórica do Nordeste no PIB Brasileiro 17

2 População Mundial 61

3 Renda Per Capita média no Mundo 61

4 Aplicação do BNDES por Região 111

5 Coeficiente de Gini Regional para o PIB Per Capita 112

LISTA DE TABELAS 1 Expectativa de vida no Nordeste e no mundo 12

2 PIB Per Capita 14

3 Taxa de analfabetismo e mortalidade infantil 15

(10)

1. INTRODUÇÃO ...04

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO...04

1.1.1 Renda – PIB per capita...07

1.1.2 Taxa de Analfabetismo...08

1.1.3 Índice de Mortalidade Infantil...09

1.1.4 Fatores Históricos...10

1.2 PERGUNTA DE PESQUISA...11

1.3 OBJETIVO DA PESQUISA...12

1.3.1 Geral...12

1.3.2 Específicos...12

1.4 JUSTIFICATIVA...12

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...14

2.1 ANÁLISE DOS FATORES EXPLICATIVOS PARA O ATUAL NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO NORDESTE...14

2.2 A hipótese da Geografia...18

2.3 A hipótese da cultura...28

2.4 A hipótese da ignorância ou acaso...42

2.5 A hipótese da qualidade das instituições...48

2.5.1 Por que as instituições de alguns locais são mais efetivas que outras?...51

2.6 EXPERIÊNCIAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL...58

2.6.1 A experiência da União Européia...60

2.6.2 A experiência dos Estados Unidos...70

2.6.3 A experiência brasileira e o papel do Estado...82

3. METODOLOGIA DA PESQUISA...108

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA...108

3.2 TIPO DA PESQUISA...109

3.3 POPULAÇÃO, AMOSTRA E LÓCUS...109

3.4 MÉTODO DE COLETA DE DADOS E ANÁLISE...109

3.5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS...110

4. RESULTADOS...111

4.1 Sugestões de estratégias e políticas para a Região Nordeste...111

4.2 CONCLUSÃO...119

4.2.1 Recomendações para pesquisas futuras...121

(11)

1. INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

O Nordeste é uma das cinco macro-regiões do Brasil, com uma área de 1.558.196 km² ou o terceiro maior território, correspondendo a 18% do total do país. Sua área é superior à soma de relevantes países em quilômetros quadrados, a exemplo da França (534 mil), Alemanha (357 mil) e Espanha (505 mil). Apresenta uma população superior a 53 milhões de habitantes, maior que a de diversas nações com destaque internacional, como o Canadá (33 milhões), Espanha (45 milhões) e Argentina (40 milhões). Tem a segunda maior população ou cerca de 28% dos habitantes do Brasil, que atualmente conta com cerca de 200 milhões de habitantes, perdendo apenas para a região Sudeste com seus mais de 80 milhões de moradores, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Em função das suas características, a região é dividida em quatro sub-regiões: meio-norte, sertão, agreste e zona da mata. É a região brasileira que possui o maior número de estados (nove no total): Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Por sua vez, apresenta alguns dos piores índices de desenvolvimento do país, o que pode ser comprovado a partir da análise do seu Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, com indicador de 0,608 (ano 2005 – dado mais recente), o mais baixo dentre todas as regiões brasileiras, apesar dos avanços mais recentes observados.

(12)

exemplo, apresentam um índice de 0,937 (2012), sendo o 3º maior índice de desenvolvimento humano do mundo.

A comparação com os norte-americanos sempre se mostra oportuna, por tratar-se de um país cuja extensão territorial se assemelha à brasileira, inclusive a sua população, que mesmo um pouco mais numerosa (cerca de 300 milhões de habitantes), mostra-se um bom contraponto. Outra similaridade entre os dois países é a colonização européia, além do início deste processo (século XVI) ter ocorrido quase similarmente.

(13)

Figura 1 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M

Fonte: IBGE

Tabela 1 – Expectativa de vida no Nordeste e no Mundo.

1 REGIÃO EXPECTATIVA DE VIDA

2 SUL 75,8

3 SUDESTE 75,4

4 CENTRO-OESTE 73,6

5 NORDESTE 71,2

6 NORTE 70,8

7 BRASIL 73,8

PAÍS EXPECTATIVA DE VIDA

8 NORUEGA 81,3

(14)

10 EUA 78,7

11 CHILE 79,3

Fonte: PNUD Brasil

Ao analisarmos alguns outros dados do Nordeste Brasileiro de forma isolada, veremos que, de um modo geral, a região apresenta os mais baixos níveis de qualidade em diversos indicadores.

1.1.1 RENDA – PIB PER CAPITA

Conforme dados do Fundo Monetário Internacional – FMI, o principal indicador para analisar a renda de uma determinada região (país, cidade ou estado) é o chamado Produto Interno Bruto – PIB, que corresponde à soma de todos os bens e serviços produzidos em um período determinado (mês, trimestre, ano, etc). O PIB é um dos indicadores mais utilizados na economia com o objetivo de mensurar a atividade econômica de uma região. Para se obter a renda média ou PIB per capita, basta dividi-lo pelo número de habitantes do local requerido.

Segundo dados de 2012, a região Nordeste detém apenas 13,5% do PIB nacional, correspondendo a um PIB per capita inferior a US$ 5.000,00, menos da metade do valor nacional que é de US$ 11.500,00, e bem inferior ao das demais regiões: Sudeste (US$ 13.00,00), Centro-Oeste (US$ 12.500,00), Sul (US$ 11.500,00) e Norte (6.500,00). Comparado ao PIB per capita de países considerados desenvolvidos, esta diferença torna-se ainda mais acentuada. Tomando como base dados do FMI - Fundo Monetário Internacional - do ano de 2012, os EUA apresentam um indicador de aproximadamente US$ 50.000,00, o que corresponde a um PIB per capita dez vezes superior ao da Região Nordeste do Brasil e mais de cinco vezes ao do nacional. Se aprofundarmos um pouco mais, veremos uma discrepância ainda maior na comparação com Noruega (US$ 97.000,00), Suíça (US$ 81.000,00) e Austrália (US$ 65.000,00).

Tabela 2: PIB per capita

(15)

SUDESTE 13.000,00

CENTRO-OESTE 12.500,00

SUL 11.500,00

NORTE 6.500,00

NORDESTE 5.000,00

BRASIL 11.500,00

PAÍS PIB PER CAPITA (US$)

EUA 50.000,00

NORUEGA 97.000,00

SUÍÇA 81.000,00

AUSTRÁLIA 65.000,00

Fonte: IBGE

1.1.2 TAXA DE ANALFABETISMO

Quanto ao índice de analfabetismo - composto por pessoas acima de 10 anos que não têm capacidade de ler e escrever - no ano de 2010, segundo o IBGE, enquanto o Brasil apresentou um índice de analfabetismo de 9,02% da população, ocupando a 82ª posição no mundo, o Nordeste apresentou o pior índice dentre todas as regiões, com uma taxa superior a 17% dos moradores que não sabem ler e escrever, índice comparado a algumas nações Africanas, como a República Democrática do Congo (18,9%). Tal índice retrata ainda uma total discrepância quando comparado à região Sul do país (4,7%), Sudeste (5,11%), Centro-Oeste (6,64%) e até mesmo ao Norte (10,60%). O indicador de analfabetismo é um importante índice, tendo em vista sua relevância na composição de fatores que tendem a contribuir para uma melhoria social e econômica futura de um determinado local. Via de regra, quanto melhores esses índices, maiores são as chances de a população melhorar os seus níveis de renda e, consequentemente, alavancar outros indicadores sociais e econômicos.

(16)

(26º) e Maranhão (27º), são os Estados que possuem as menores rendas per capitas do Brasil, nesta ordem.

1.1.3 ÍNDICE DE MORTALIDADE INFANTIL

Outro indicador relevante a ser elencado trata-se do índice de mortalidade infantil. Este índice representa a quantidade de mortes de crianças no primeiro ano de vida observada durante um determinado ano a cada mil nascidos vivos neste mesmo período. No ano de 2010, segundo o IBGE, a taxa de mortalidade infantil no Brasil era de 16,7 mortes de crianças menores de idade para cada mil nascidos vivos, sendo a 93ª do mundo. A região Nordeste novamente é a que apresenta o pior índice, com uma incidência de 23 mortes de crianças com menos de um ano para cada mil nascidos vivos. As outras regiões apresentam indicadores bem melhores, sendo o Sul (10,1), Sudeste (12,6), Centro-Oeste (17,1) e Norte (21,2). Ainda segundo o IBGE (2013), boa parte dos óbitos de recém nascidos, estavam relacionadas a doenças infectocontagiosas ou problemas durante a gravidez. Contudo, com as melhorias recentes em saúde e nas habitações, a maior parte das mortes atualmente é resultado do rendimento familiar, o que por sua vez afeta a qualidade da alimentação, as condições médico-sanitárias e as condições das moradias. Isto demonstra como todos os compontenes do IDH estão iterligados, sendo que cada um ajuda a explicar e potencializar o outro. Quanto melhores os índices educacionais, melhor a renda. Quanto maior a renda, menor o índice de mortalidade infantil. Quanto menor o índice de mortalidade infantil, maior o nível educacional.

Tabela 3: Taxa de analfabetismo e mortalidade infantil

REGIÃO

%

ANALFABETISMO

MORTALIDADE INFANTIL

SUL 4,7 10,1

SUDESTE 5,11 12,6

CENTRO-OESTE 6,64 17,1

(17)

NORDESTE 17,2 23

BRASIL 9,02 16,7

Fonte: IBGE

1.1.4 FATORES HISTÓRICOS

O Nordeste mantém ainda problemas sociais históricos, como uma agricultura atrasada, com algumas poucas exceções. Grandes latifúndios, concentração de renda e uma indústria pouco diversificada e com baixa produtividade. Nas últimas décadas, segundo Galvão (2013), a região enfrentou diversos fatores críticos, a exemplo da perda dos mercados do açúcar e do algodão nas décadas de 1940\1950, o fim do seu isolamento econômico em relação ao restante do país entre 1950\1960, ficando exposto a uma concorrência inter-regional que não era observada anteriormente, falência das políticas de desenvolvimento regional via incentivos fiscais e fim do último ciclo de crescimento do Nordeste (1970\1980), esvaziamento da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE (1970 até os dias atuais), estagnação da economia nacional e Crise do Estado (1980\2000), desmonte do planejamento e abandono de políticas regionais (1990 até os dias atuais).

A região situa-se em uma área com um dos menores índices pluviométricos do país. O Semiárido com seus 841.260,9 km² corresponde à maior parte do território e abrange oito Estados nordestinos, com exceção do Maranhão. Apesar disto, a região tem se destacado nos últimos anos na redução da pobreza, no crescimento econômico e na melhoria de diversos outros indicadores sociais, cuja evolução tem ocorrido mais rapidamente que em outras regiões do país.

(18)

Gráfico 1: Participação histórica do Nordeste no PIB Brasileiro

(19)

1.2. PERGUNTA DA PESQUISA

Quais as estratégias e políticas mais adequadas para o desenvolvimento da Região Nordeste do Brasil nos próximos 20 anos?

1.3. OBJETIVOS DA PESQUISA

1.3.1 GERAL

Propor sugestões de estratégias e políticas para o desenvolvimento da região Nordeste do Brasil no período de 2015 a 2035

1.3.2 ESPECÍFICOS

• Levantar os fatores explicativos para o atual nível de desenvolvimento da Região Nordeste;

• Descrever experiências internacionais e nacionais em desenvolvimento regional;

• Identificar possíveis estratégias e políticas que possam ser implementadas na Região Nordeste a curto, médio e longo prazos.

1.4 JUSTIFICATIVA

O nível de desenvolvimento sócio-econômico de uma região ou país é fator de fundamental importância. Trata-se de um dos objetivos primordiais da sociedade e dos governos desenvolver políticas que contribuam para a melhoria nos indicadores de desenvolvimento social e econômico de um determinado local. Quanto melhores são os indicadores sócio-econômicos, via de regra, melhor também serão a qualidade de vida e o nível de satisfação da população de um determinado local. Não por acaso, a economia é talvez a área mais sensível da administração pública. Quanto melhores esses indicadores estão, de um modo geral, mais bem avaliados são os seus governantes.

(20)

país, contudo, tais ações ainda não tiveram o impacto necessário para uma mudança significativa no panorama da região. O estudo em questão pretende, além de identificar ações atuais que possam ser eficazes na redução das desigualdades da região, conceber sugestões de estratégias e políticas que possam ser implementadas a curto, médio e longo prazos e que possam ser incorporadas nos planos de trabalho dos formuladores de políticas públicas. A assertividade das estratégias e políticas que poderão ser implementadas, de maneira similar ao que atualmente é feito em empresas públicas ou privadas e em diversos países que adotam ou adotaram modernas estratégias de combate às desigualdades regionais, proporcionando resultados mensuráveis e possibilitando o seu efetivo gerenciamento ao longo do tempo, pode servir de estímulo aos formuladores de políticas e estratégias no país, de modo a reavivar o debate sobre o desenvolvimento regional, trazendo-o novamente para a ordem do dia.

Toda empresa possui, implícita ou explicitamente, visão, valores, missão, propósitos, macroestratégias, macropolíticas, objetivos, desafios, metas, estratégias, políticas, projetos, e, para alcançar os resultados desejados, é necessário que a empresa, respeitando determinadas normas e procedimentos, decomponha, por exemplo, seus objetivos até que sejam transformados em ações e resultados (OLIVEIRA, p. 2, 2012).

Todavia, o estudo em epígrafe não tem a pretensão de traçar um planejamento estratégico, apesar de reconhecer a sua importância, mas tão somente conceber sugestões de estratégias e políticas incorporáveis aos planos de trabalho dos formuladores de políticas públicas. Trata-se de buscar a consolidação de algumas das mais eficazes estratégias e políticas no tocante ao desenvolvimento sócio-econômico e ao desenvolvimento regional e que sejam replicáveis para a atual realidade da Região Nordeste do Brasil. Como poderá ser observado ao longo deste trabalho, várias experiências foram desenvolvidas no Brasil e em outros países nas últimas décadas visando uma melhor distribuição da renda em termos regionais. Diversas teorias tentam ainda compreender efetivamente, quais os principais fatores que contribuem para a concentração da renda e como evitá-los, o que não tem se mostrado uma tarefa simples, gerando acalorados debates.

(21)

consensual a respeito de políticas de intervenção, ou seja, das políticas econômicas mais desejáveis para promover o crescimento econômico regional (GALVÃO, p. 3, 2012).

O Banco do Nordeste do Brasil, como um dos principais agentes indutores do desenvolvimento da região, é também um catalisador de estudos que possam de alguma forma contribuir para a assertividade de suas ações. Desse modo, entendemos que um estudo sobre estratégias e políticas que possam contribuir para a superação do baixo desenvolvimento da região, será uma ferramenta importante para a definição de políticas por parte do Banco com vistas ao cumprimento de sua missão, bem como para os governos e a sociedade.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Análise dos fatores explicativos do atual nível de desenvolvimento do Brasil e da região Nordeste

(22)

do país e da região. Afinal, conforme artigo mencionado no livro de Galvão (2012), “Políticas Regionais na União Europeia e Lições para o Brasil”, afirma Lucas.

Não posso imaginar como seria possível organizar e utilizar a massa de dados disponível sem um modelo. Se nós compreendermos o processo do crescimento econômico [...] deveremos ser capazes de demonstrar este conhecimento criando-o em nossas salas de trabalho. Se soubermos o que é um milagre econômico, deveremos ser capazes de criá-lo (LUCAS, 1993, p. 271).

(23)

Saindo da temática histórica, abordam-se em alguns estudos nacionais e internacionais sobre a temática do desenvolvimento econômico que serão utilizados para balizar as proposições de ações aos formuladores de políticas públicas. Galvão (2013), por exemplo, em seu trabalho sobre políticas regionais na união européia e lições para o Brasil, menciona estudos como os de Lucas (1993), prêmio Nobel em Economia, que em artigo intitulado “Produzindo um Milagre” (Making a Miracle), indaga sobre as razões do enorme sucesso dos países do Leste Asiático e do relativo fracasso de tantos outros. O autor pergunta, por exemplo, por que e como o crescimento aconteceu na Coreia do Sul e em Taiwan e não nas Filipinas, no Egito ou em tantos outros países? A resposta a esse tipo de questão, segundo Lucas (1993, p.251-252), costuma ser dada simplesmente oferecendo-se uma lista de eventos cruciais, que estariam por trás do “milagre” asiático: incentivo às exportações de bens manufaturados, que passavam a incorporar quantidades crescentes de capital humano e de conhecimento; uma atenção especial à educação e ao treinamento da mão de obra; altas taxas de poupança; criação de um ambiente favorável aos investimentos privados, domésticos e estrangeiros; utilização de política industrial e de políticas de comércio exterior consistentes com o crescimento de longo prazo; boa governança; e assim por diante. Esses fatores, assinala Lucas (1993, p. 251-252), devem figurar na explicação de todos os “milagres de crescimento”. Mas não passam de uma “simples lista de eventos que queremos explicar, e não explicações em si mesmas”, argumenta.

Queremos ser capazes de usar esses eventos para avaliar políticas econômicas que possam afetar as taxas de crescimento em outros países. Simplesmente aconselhar uma sociedade a ‘seguir o modelo coreano’ é a mesma coisa que aconselhar um jovem jogador de basquete a ‘seguir o modelo Michael Jordan (LUCAS, 1993, p.252)

(24)

“mecânica do crescimento” para o das causas fundamentais do desenvolvimento, com o objetivo de dar respostas a uma série importante de questões ainda não adequadamente respondidas nas teorias do crescimento.

Ainda segundo Galvão (2008, p. 88), as causas fundamentais já teriam sido abordadas, desde longas datas, por economistas, historiadores e outros cientistas sociais e seu número é praticamente incontável. Essas causas podem ser agrupadas em quatro conjuntos, compreendendo grande parte dos fatores fundamentais que teriam a capacidade de exercer uma influência crucial na explicação das diferenças de potencial de crescimento econômico e das rendas per capita dos países, tanto em épocas passadas quanto nos dias presentes. Esses quatro conjuntos de causas fundamentais são: o acaso ou ignorância, a geografia, a cultura e as instituições.

Para Acemoglu e Robinson (2012, p.38), a maioria das hipóteses propostas pelos cientistas sociais para as origens da pobreza e da prosperidade não funcionam e revelam-se incapazes de explicar, de maneira convincente, as atuais circunstâncias. Segundo os autores, tanto as hipóteses da geografia, cultura e da ignorância ou acaso, não se sustentam a partir de uma análise mais aprofundada. Acemoglu e Robinson (2012) argumentam ainda que “Os países apresentam diferenças em termos de êxito econômico em virtude de instituições distintas, das regras que regem o funcionamento da economia e dos incentivos que motivam a população”. A qualidade das instituições é o fator crucial para o êxito ou fracasso no desenvolvimento de um determinado local, e complementam:

Na América Latina colonial, o Estado concentrava-se na submissão dos povos indígenas. Em nenhuma dessas sociedades havia condições igualitárias de atuação econômica nem um sistema jurídico imparcial. Na Coreia do Norte, o Judiciário não passava de um braço do Partido Comunista reinante; na América Latina, serviu de ferramenta de discriminação contra a maior parte da população (ACEMOGLU & ROBINSON, 2012, p. 58).

(25)

ignorância. Por conseguinte, o capítulo atual será abordado dentro deste formato, com vistas a facilitar o entendimento do leitor, mas sem dispensar outras possíveis linhas explicativas.

2.2 A hipótese da Geografia

Teoria bastante disseminada sobre as causas das desigualdades, cuja hipótese para explicar o abismo existente entre ricos e pobres é a geografia. Nesta teoria, segundo Acemoglu & Robinson (2012, p. 38), muitos dos países pobres, como os da África, da América Central e do Sul da Ásia, localizam-se entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio. As nações ricas, por sua vez, tendem a situar-se nas latitudes temperadas. Para alguns estudiosos, mencionados por Acemoglu & Robinson (2012, p.38), a exemplo do francês Montesquieu,os habitantes dos climas tropicais tendiam a ser preguiçosos e pouco inquisitivos. Em contrapartida, não trabalhavam com o empenho suficiente, nem eram inovadores, motivo pelos quais eram pobres. Ele também especulava que pessoas preguiçosas tendiam a ser governadas por déspotas, sugerindo que a localização nos trópicos justificaria não só a pobreza, mas também parte dos fenômenos políticos associados ao fracasso econômico, como regimes ditatoriais. Nos países quentes, complementam Acemoglu & Robinson (2012, p. 38), teóricos mais recentes colocam ainda outros argumentos: As doenças tropicais, sobretudo a malária, têm conseqüências adversas para a saúde e, por conseguinte, para a produtividade; e segundo, o de que os solos tropicais não permitem uma agricultura produtiva.

(26)

litoral até a Mata dos Cocais no Meio Norte, além de manguezais, cerrados, restingas e a caatinga, que está presente em todos os estados nordestinos, com exceção do Maranhão, segundo o IBGE.

A região possui ainda cinco bacias hidrográficas: Bacia do Atlântico Leste, que compreende uma área de 364.677 km², englobando 2 estados do Nordeste (Bahia e Sergipe); Bacia do Atlântico Nordeste Ocidental: situada entre o Nordeste e a região Norte, fica localizada, quase que em sua totalidade, no estado do Maranhão; Bacia do Atlântico Nordeste Oriental: ocupa uma área de 287.384 km², que abrange os estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas. Os rios principais são o Jaguaribe, Piranhas-Açú, Capibaribe, Acaraú, Carimataú, Mundaú, Parnaíba, Itapecuru e Mearim; Bacia do Parnaíba: é a segunda mais importante, ocupando uma área de cerca de 344.112 km² (3,9% do território nacional) e drena quase todo o estado do Piauí, parte do Maranhão e Ceará; Bacia do São Francisco: é a principal da região, formada pelos rios São Francisco e seus afluentes. Delimita as divisas naturais de Bahia com Pernambuco e de Sergipe e Alagoas, conforme dados do IBGE.

(27)

concentração de mão de obra nessas áreas, o que acentua ainda mais as suas vantagens comparativas.

Para quem observa de forma atenta, parece inegável a influência negativa dos fatores geográficos no processo histórico de desenvolvimento econômico na Região Nordeste e em outras partes do mundo. Contudo, é importante salientar que esta não é uma visão completamente hegemônica entre teóricos. Diversos estudos salientam que é plenamente factível o alcance de grandes índices de desenvolvimento humano, mesmo em áreas que num primeiro momento mostrem-se pouco propícias ao crescimento econômico. Exemplos disto seriam o Estado de Israel, cuja localização e disponibilidade de água e solo são mínimos, o Japão, que dispondo de uma das menores extensões territoriais do planeta é a 3ª maior economia do mundo.

Para os autores Acemoglu & Robinson, na obra “Por que as Nações Fracassam” (2012), a resposta para este dilema da questão climática é que os climas temperados possuem uma vantagem relativa sobre as regiões tropicais e subtropicais. Contudo, as desigualdades mundiais não podem ser explicadas pelo clima ou doenças, nem qualquer outra versão da hipótese geográfica.

Neste sentido, autores colocam a questão geográfica em segundo plano, trazendo a tona o que chamam de “qualidade das instituições”, que será abordada mais adiante. Contudo, eles concordam que creditar tudo isto isoladamente à “qualidade das instituições” também poderia ser uma simplificação excessiva e que o melhor caminho seria buscar entender por que as instituições dos Estados Unidos são tão mais conducentes ao êxito econômico do que as do México ou da América Latina.Acemoglu e Robinson argumentam que a resposta a esta pergunta reside no processo de formação de cada sociedade.

(28)

presentes no êxito das sociedades desde as épocas mais remotas. O autor cita como exemplo dois povos polinésios antigos, os morioris e os maoris.

Enquanto os morioris constituíam um grupo pequeno de caçadores-coletores que viviam isolados, dispondo apenas das mais rudimentares tecnologias e armas, totalmente inexperientes em matéria de guerra e sem qualquer tipo de liderança ou organização, os invasores maoris, (procedentes do norte da ilha de Nova Zelândia) faziam parte de uma população de numerosos agricultores cronicamente envolvidos em guerras ferozes, equipados com tecnologia e armas mais avançada, e que agiam sob o comando de uma liderança forte (DIAMOND, 2012 p. 54).

Para o autor, a superioridade dos maoris, que acabaram chacinando os morioris, exemplifica diversas outras ocorridas tanto no mundo moderno quanto no mundo antigo, quando povos numerosos e bem equipados enfrentavam adversários menos numerosos e mal equipados. O exemplo dos dois povos polinésios é importante e torna-se esclarecedor, pois os dois grupos tinham sua origem comum menos de um milênio antes. Ambos eram povos polinésios, conforme complemento de Diamond:

Os modernos maoris descendem de fazendeiros polinésios que colonizaram a Nova Zelândia por volta do ano 1000 da Era Cristã. Pouco depois, um grupo desses maoris colonizou as ilhas Chatham e se tornou moriori. Ocorre que nos séculos seguintes, os dois grupos evoluíram em direções opostas, sendo que os maoris do norte da ilha desenvolveram uma organização política e tecnológica mais complexa, enquanto os morioris ficavam para trás. Os morioris voltaram a ser caçadores-coletores, enquanto os maoris intensificaram o cultivo da terra (DIAMOND, 2012 p. 54).

(29)

porretes, sem exigir qualquer sofisticação tecnológica”. Isto por sua vez teria sido um dos fatores contributivos para a baixa organização social deste povo, o que os levou a um reduzido nível de desenvolvimento, se comparado aos seus opositores. Como resultado disto, uma população pequena e pacífica, com armas e tecnologia simples, e sem uma liderança forte ou um sentido de organização. Por outro lado, continua Diamond (2012), o norte (mais quente) da Nova Zelândia, o maior grupo de ilhas da Polinésia, era mais adequado à agricultura. Os maoris que permaneceram na Nova Zelândia cresceram numericamente, constituindo uma população de mais de 100.000 pessoas. Em função disto, geraram grandes densidades populacionais cronicamente envolvidas em ferozes batalhas com seus vizinhos. Com os excedentes agrícolas que podiam produzir e estocar, alimentavam artesãos, chefes e soldados. Eles precisavam e desenvolveram diversas ferramentas para a agricultura, as guerras e a arte. Construíram elaborados prédios para cerimônias e numerosas fortificações.

Neste sentido, fica evidenciado que as sociedades maoris e morioris que tiveram origens comuns, seguiram rumos diferentes, passando a nem saber da existência uma da outra, ilustrando como o ambiente pode afetar em determinado período a economia, a tecnologia, a organização política e a capacidade de lutar. O exemplo dado por Diamond é bastante esclarecedor, à medida que não se atém apenas aos impactos mais visíveis da questão geográfica. O autor expõe de forma prática como isto acaba por interferir em diversos outros aspectos de uma sociedade e que à primeira vista não seriam visíveis. Se a evolução das sociedades tem sido alcançada a partir de aperfeiçoamentos tecnológicos, políticos e sociais, ele demonstra como tudo isto em determinado momento pode ter sido influenciado pela geografia. Em outra menção esclarecedora, Diamond coloca a questão geográfica na origem do desenvolvimento das atuais sociedades modernas, partindo da análise do Crescente Fértil, região onde atualmente localizam-se o Iraque, Irã, Síria, dentre outros, que segundo ele oferecia as melhores condições para o início do desenvolvimento da agricultura no mundo:

(30)

No processo de formação econômica do Brasil, por exemplo, nitidamente é observável como as áreas com maior disponibilidade de terras agricultáveis e de água foram as que primeiramente foram ocupadas e tiveram maior êxito econômico. As terras férteis do litoral nordestino logo despertaram o interesse de portugueses, franceses e holandeses que viram nelas uma excelente forma de produzir o açúcar, que era uma das especiarias mais apreciadas à época na Europa. Este fator tem crucial importância no processo de formação econômico da região e do país. Ocorre que pelos atrativos preços do açúcar no mercado internacional, bem como devido a pouca atratividade das terras afastadas do litoral, a monocultura do açúcar passou a prevalecer nas terras brasileiras, que por sua vez, transformou a sociedade à época, conforme mencionou Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala:

O açúcar não só abafou as indústrias democráticas de pau-brasil e de peles, como esterilizou a terra, em uma grande extensão em volta aos engenhos de cana, para os esforços de policultura e de pecuária. E exigiu uma enorme massa de escravos. A criação de gado, com possibilidade de vida democrática, deslocou-se para os sertões (FREYRE, [1933], 2006, p. 32)

As regiões mais afastadas do litoral praticamente não foram exploradas devido à distância e à sua baixa produtividade; isto também contribuiu para um processo de concentração de terras, o que era necessário para cada vez mais acelerar o processo de produção do açúcar cujos preços não paravam de subir. “O homem como um reflexo dos meios de produção”, fica evidenciado na obra de Gilberto Freyre. O autor admite influência considerável, embora nem sempre preponderante, da técnica da produção econômica sobre a estrutura das sociedades, bem como sobre a caracterização da sua fisionomia moral. A monocultura latifundiária teria comprometido, através de gerações, a robustez e a eficiência da população brasileira, cuja saúde instável, incerta capacidade de trabalho, apatia, perturbações de crescimento, tantas vezes são atribuídas à miscigenação. Freyre (2006) salienta que “entre outros males, o mau suprimento de víveres frescos, obrigando grande parte da população ao regime de deficiência alimentar caracterizado pelo abuso do peixe seco e de farinha de mandioca - a que depois se juntou a carne de charque”.

(31)

de concentração. Em artigo publicado na Revista de Desenvolvimento Econômico – RDE (2006), Galvão exemplifica o funcionamento do regime de sesmarias da era colonial, implantado pelos portugueses no Brasil, demonstrando que em sua essência, o objetivo deste regime era justamente evitar os grandes latifúndios e que as terras permanecessem incultas pelos seus proprietários, idéias estas inspiradas no antigo Direito Romano que estabelecia que “a terra pertencia a quem a cultivava”.

Ocorre que as condições para a efetiva aplicação das leis portuguesas no Brasil, segundo o autor, eram inteiramente diferentes das que prevaleciam em Portugal.

O enorme tamanho do país e a urgência do povoamento da colônia – necessária para evitar a sua perda para outras potências estrangeiras – aliados à escassez da população da metrópole e à relativa pobreza do Estado Português, impeliram a Coroa a tomar consciência de que somente oferecendo vantagens especiais poderia a colonização ser agilizada e ter-se garantida a ocupação do Brasil (GALVÃO, 2006, p. 4).

Devido à dificuldade na implementação de uma política específica de estímulo ao povoamento e às baixas condições naturais para a exploração da nova terra, os primeiros governadores gerais da colônia receberam a incumbência específica de arregimentar “homens de cabedal” para estabelecerem engenhos de açúcar e qualquer outra indústria” na colônia (conforme regimento de Tomé de Sousa, primeiro Governador Geral do Brasil de 1549), reproduzido em diversos trabalhos de historiadores brasileiros. A preocupação em ocupar a colônia rapidamente, conforme complementa Galvão (2006), trouxe à tona outra questão, que foi tornar o governo luso muito generoso com respeito à concessão de terras, pela óbvia razão de que apenas mediante o oferecimento de grandes vantagens poderiam os ricos empreendedores portugueses se sentir motivados a se deslocarem para o Brasil e embarcarem, quase às suas próprias expensas, em caras e arriscadas operações.

(32)

especialmente por esta última forma. Ressaltando que não apenas a Coroa portuguesa tinha o poder de conceder sesmarias, mas também diversas autoridades coloniais que residiam no Brasil, desde os Governadores Gerais até meros funcionários, completa Galvão. Neste sentido, as autoridades coloniais eram sujeitas a influências das elites locais e os excessos na distribuição de terras tornaram-se uma prática comum.

Este fato veio a dar origem, num curto espaço de tempo, à formação de uma “aristocracia” de invasores de terra, constituída de plantadores de produtos de exportação e de pecuaristas – que passaram, pouco a pouco, a exercer influência decisiva nos negócios internos da colônia (GALVÃO, 2006, p. 6).

Em suas conclusões sobre o aspecto fundiário, ainda no artigo publicado na Revista de Desenvolvimento Econômico – RDE, Galvão (2006) sustenta que condicionantes locais deixaram marca profunda nos rumos do desenvolvimento do país, de tal sorte que é possível concluir que forças domésticas, talvez mais que externas, operaram como fatores determinantes do atraso do Brasil colonial, influenciando, redirecionando e alterando o curso e os resultados da colonização. As implicações na economia do país deste processo histórico advindo com o surgimento dos grandes latifúndios e consequentemente da monocultura do açúcar é que este grupo de grandes proprietários de terras passou a controlar diversos aspectos da vida na colônia, impedindo a diversificação da agricultura, bem como o surgimento de uma classe de pequenos e médios produtores, os quais contribuiriam para o desenvolvimento posterior do capitalismo local. Galvão (2006), conclui mencionando que em outros países de colonização recente, fatores opostos a esses contribuíram decisivamente para dar origem, em fase posterior, a um desenvolvimento capitalista mais democrático e avançado, tanto política quanto economicamente.

(33)

Uma das conseqüências da escravidão e da hipertrofia da lavoura latifundiária na estrutura de nossa economia colonial foi a ausência, praticamente, de qualquer esforço sério de cooperação nas demais atividades produtoras, ao oposto do que sucedia em outros países, inclusive nos da América espanhola (HOLANDA, 1936, 1995, p. 57). Outra questão abordada por Sérgio Buarque de Holanda na busca por explicações sobre o baixo desenvolvimento do país, e que até hoje provoca acalorados debates, é sobre a colonização. Não poucos estudiosos colocam a colonização portuguesa como um dos fatores negativos na formação histórica brasileira. O debate torna-se ainda mais rico quando se menciona a presença holandesa em terras brasileiras e os eventuais impactos caso o país tivesse sido colonizado pelos europeus do Norte. Este debate, apesar de mais focado no campo cultural, pode ainda também ser abordado dentro da ótica da influência geográfica, haja vista a eventual incompatibilidade dos europeus do norte em regiões tropicais, conforme alguns estudiosos ainda colocam e como mencionou Holanda ([1936], 1995), que a falta da experiência Holandesa no Brasil, foi mais uma argumentação para alguns antropologistas, no sentido de que os Europeus do Norte são incompatíveis com as regiões tropicais. E ao contrário, os Portugueses se adaptaram mais facilmente e entraram em contato íntimo e freqüente com a população de cor.

Todo esse debate em torno de temas relacionados à agricultura no processo de formação da sociedade e do modelo econômico Brasileiro pode gerar alguns tipos de questionamentos, por vezes adequados, sobre a relevância de um modelo de desenvolvimento voltado para a agricultura. É bem verdade que a agropecuária sempre teve papel crucial em todo o mundo, sobretudo quando tratamos do período compreendido entre os séculos XVI a XVIII. Os mais bem aceitos estudos de diversos autores não a colocam como vilã dentro de um processo de desenvolvimento econômico, pelo contrário, ter excedente de alimentos, significa autonomia e maior potencial de desenvolvimento para um povo, como bem aborda Diamond, (2012).

(34)

meio urbano, pois as populações tendem a concentrar-se onde há disponibilidade de alimentos e empregos. Neste sentido, toda a estrutura da sociedade colonial teve sua base fora dos meios urbanos e o pior é que conforme salientado por Holanda, não foi uma civilização agrícola o que os portugueses instauraram no Brasil, foi, sem dúvida, uma civilização de raízes rurais. Holanda (1995), complementa ainda que é nas propriedades rústicas que toda a vida da colônia se concentra durante os séculos iniciais da ocupação européia e que as cidades são totalmente dependentes delas. O autor finaliza afirmando que tal situação pouco se modificou até a Abolição. O modelo de civilização rural que surge no Brasil, conforme já abordado, tem suas origens em fatores históricos e que remetem à vasta disponibilidade de terras adequadas ao cultivo de uma cultura altamente lucrativa (açúcar). Num primeiro momento isto foi bastante positivo, tendo em vista que em meados do século XVIII, provavelmente o Brasil detinha um dos maiores PIBs Per capita do mundo, devido em grande parte a esta cultura, menciona Furtado (2007). Ocorre que isso desestimulou o surgimento de uma sociedade mais organizada com bases em pequenas propriedades, o que num segundo momento tenderia a ser um fator impulsionador do desenvolvimento econômico, político e social. Em sua obra intitulada Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado (2007) coloca de maneira bastante clara, uma das principais diferenças do modelo de desenvolvimento e de sociedade Brasileiro versus Norte-Americano. Enquanto no Brasil a classe dominante era o grupo dos grandes agricultores escravistas, nos EUA uma classe de pequenos agricultores e um grupo de grandes comerciantes urbanos dominavam o país.

(35)

concentrada nas mãos dos grandes produtores rurais que acabavam revertendo os excedentes para importações, por exemplo, o que não estimulava o consumo e consequentemente o desenvolvimento de um mercado interno que pudesse atender a esta eventual demanda.

Ao contrário do que ocorria nas colônias de grandes plantações, em que parte substancial dos gastos de consumo estava concentrada numa reduzida classe de proprietários e se satisfazia com importações, nas colônias do norte dos EUA os gastos de consumo se distribuíam pelo conjunto da população, sendo relativamente grande o mercado dos objetos de uso comum (FURTADO, 2007, p. 61).

Num segundo momento e à medida que a importância relativa do açúcar declina, surgindo outras culturas emergentes, a exemplo do café, o eixo de desenvolvimento econômico se desloca para o sul e sudeste, regiões que ofereciam melhores condições de clima e de terra para a produção deste produto. É bem verdade que atualmente os fatores geográficos inicialmente levantados relativos à qualidade da terra, a baixos índices de pluviosidade, às doenças tropicais dentre outros, podem na maioria dos casos ser corrigidos através de modernas técnicas agrícolas e das demais tecnologias que estão disponíveis à sociedade moderna, o que para alguns estudiosos leva por terra a teoria da geografia, contudo, como mencionado por Acemoglu e Robinson, é incontestável que estes fatores trazem uma desvantagem comparativa. Outrossim, a discussão que abre-se é que mesmo com as desvantagens comparativas da Região Nordeste neste aspecto e que foram agravadas pelo processo histórico de concentração fundiária e pela monocultura, outras partes do mundo conseguiram superar dificuldades similares ou até mesmo piores. Em suma, a geografia pode ser uma fonte de explicação de caráter histórico, mas não condena um país ou região ao atraso e ao subdesenvolvimento, principalmente em tempos contemporâneos.

2.3 A hipótese da Cultura

(36)

desenvolvidos que outros devido a questões de ordem cultural, estando inseridos neste contexto não apenas as religiões, mas também outros tipos de crenças, valores e ética. É importante diferenciar a questão cultural da genética. A idéia da existência de uma raça superior à outra, deixou há bastante tempo de ter respaldo, não estando presente em obras mais recentes. Para Galvão (2010), “o conjunto de determinantes sob a classificação de cultura compreende as crenças, os valores, os costumes e as preferências que influenciam tanto o comportamento econômico individual quanto o da sociedade como um todo”. Galvão ressalta também parte do texto de Acemoglu (2008, p.159), onde esse autor destaca que as diferenças culturais entre países e regiões também podem explicar de maneira relevante os diferentes desempenhos obtidos por cada um. Destaca ainda que a cultura, na amplitude do termo, afeta o desempenho econômico de duas maneiras:

“De um lado, por influenciar as decisões dos indivíduos ou da sociedade em relação às escolhas entre consumir e poupar. O resultado dessas escolhas influencia o nível do investimento e da poupança, as estruturas de mercado e do emprego e a disposição para acumular capital físico e humano. De outro, por afetar a construção de redes sociais baseadas na cooperação e na confiança entre indivíduos e grupos sociais, que são consideradas como fundamentais no processo de desenvolvimento (ACEMOGLU, 2008, p. 159)” (GALVÃO, 2010, p.91).

Galvão destaca ainda outro aspecto que liga a cultua com o crescimento econômico “é apresentado na forma da acumulação de certos valores que estimulam a cooperação e os vínculos de solidariedade social. Conceitos como cultura cívica, civismo e tradições cívicas são amplamente discutidos na literatura”. O autor menciona também estudos que buscam entender as diferenças de desenvolvimento econômico existentes na Itália, onde o Norte e o centro (regiões industrializadas) diferem bastante do sul de Nápoles (região conhecida como

(37)

o cooperativismo, sendo uma maneira bastante estimulada entre a sua população como forma de reduzir custos de produção, melhorar preços de produtos, acessar mercados mais qualificados e que exigem uma “maior escala”, além dos benefícios relacionados à convivência em grupos; em oposição, o cooperativismo na região Nordeste ainda é pouco disseminado e talvez parte das explicações para isto possa ser encontrada no exemplo Italiano anteriormente mencionado.

Para Agemoglu & Robinson (2012), dentre alguns defensores da hipótese da cultura, é comum ouvir reflexões sobre a disciplina japonesa, o que teria favorecido o seu desenvolvimento econômico. A pobreza no continente africano estaria relacionada dentre outras questões, ao fato de aquele povo ser desprovido de boa ética para o trabalho, sendo adepto de práticas restritivas às novas tecnologias. Também é disseminado por muitos que um dos fatores causadores do atraso da América Latina seria o caráter libertino do seu povo, oriundo da chamada “cultura ibérica”, sempre privilegiando deixar as coisas para depois. No campo das religiões, o sociólogo alemão Max Weber, na obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo” ([1920], 2004), destaca a tese de que a ética e as idéias puritanas influenciaram o desenvolvimento do capitalismo. Segundo o autor, na Igreja Católica Romana, a devoção estava associada à rejeição dos assuntos mundanos, incluindo a economia. O mesmo não teria ocorrido no Protestantismo, onde a idéia positiva do enriquecimento teria favorecido o crescimento econômico dos países onde havia esta predominância, a exemplo dos EUA e de vários países da Europa. Mesmo em países onde havia uma divisão entre o catolicismo e o protestantismo, como é o caso da própria Alemanha (país de origem de Weber) e da França, seria possível observar diferenças no comportamento de cada grupo. Weber menciona que dentro dos extratos sociais mais elevados - a chamada Burguesia -, havia a predominância de indivíduos que professavam a religião protestante.

(38)

Weber reconhece a influência de uma eventual predominância dos protestantes entre os mais afortunados pelo processo histórico de formação e de transferência hereditária da posse de riqueza, o que favoreceria a perpetuação posterior entre as gerações seguintes, contudo, não consegue encontrar uma relação de causalidade na escolha pelas profissões.

[...] entre bacharelandos católicos a porcentagem daqueles que saem dos estabelecimentos modernos, Realgymnaisen, Real-schulen, hiihere Biirgerschulen etc., especialmente destinados e orientados a preparar para estudos técnicos e as profissões comerciais e industriais, em poucas palavras, para a vida burguesa de negócios, fique uma vez mais notadamente muito atrás da dos protestantes e que a formação oferecida pelos Gymnasienhumanisticos tenha preferência dos católicos – esse é um fenômeno que não fica explicado pela diferença de fortuna, mas pelo contrário, é a ele que se deve recorrer para explicar, por sua vez, o reduzido interesse dos católicos pela aquisição capitalista (WEBER, 2004, p. 32).

A esse processo cultural sobre como o “capital” é visto, poderia também ser parte das explicações para o atraso relativo da região Nordeste e do Brasil? É reconhecida a formação católica patriarcal em terras brasileiras e sobretudo em terras nordestinas ao longo do período colonial – tendo sido uma das suas marcas mais fortes - conforme amplamente presente na obra de Gilberto Freyre. Este espírito católico e a não valorização do “culto ao capital” pode ser visto tanto no enfoque da causa como também da conseqüência. Ainda sobre este aspecto, Weber tenta tratar o capitalismo não apenas como sistema econômico ou modo de produção, mas o capitalismo enquanto “espírito”, ou seja, um modelo de cultura que norteia a vida das pessoas. Neste sentido, a cultura brasileira e nordestina, guardadas determinadas ressalvas, não poderia ser categorizada como de “espírito capitalista”. Bastando para isto comparar nos dias atuais o volume de jovens que ingressam nas universidades em relação às áreas de estudo mais procuradas, ou até mesmo as áreas com maior carência de profissionais e perceberá um maior foco nas chamadas áreas humanas.

(39)

alardeado “jeitinho brasileiro”. Este jeitinho, presente na obra de Sérgio Buarque de Holanda ([1936], 1995) na figura do chamado “Homem Cordial”, retrata uma característica do brasileiro que num primeiro momento pode ser vista positivamente, afinal, aborda a cordialidade como um traço marcante da sociedade; contudo, esta cordialidade não necessariamente estaria vinculada à gentileza, mas associada a agir pela “emoção” no lugar da “razão”, não vendo distinção entre o público e o privado, detestando formalidades, pondo de lado a ética e a civilidade. Holanda destaca que o brasileiro desenvolveu uma grande propensão à informalidade, devendo-se a isto o fato de que as instituições do país teriam sido concebidas de forma coercitiva e unilateral, não havendo diálogo entre governantes e governados. Por sua vez, Holanda (1995) argumenta que “os detentores do poder transformam o Estado em uma ampliação do círculo familiar, (...) ou de agrupamentos de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. Não existindo desta maneira, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição”.

Outra característica brasileira, servindo para exemplificar um pouco da herança patriarcal, pode ser compreendida a partir da famosa pergunta: “você sabe com quem está falando?” Este tipo de comportamento e insinuação advinda da falta de impessoalidade no lidar com a coisa pública ou coletiva, também estaria relacionada à herança ibérica, na qual o cidadão sente-se mais protegido por conhecer alguém “importante” do que propriamente pela confiabilidade nas instituições. Esse traço, abordado na obra de Holanda, como poderá ser visto adiante, foi amplificado pelo processo de evolução histórica do país.

(40)

(FAORO, 1995, p.2). Como pode ser observado, o caráter guerreiro do povo sempre é destacado por Faoro.

Dos fins do século XI ao XIII, as batalhas, todos os dias empreendidas, sustentadas ao mesmo tempo contra os sarracenos e espanhóis, garantiram a existência do reino. Da junção dos elementos sarracenos e leonês, ambos conquistados através de guerras (...) constituem a fonte dessa civilização (FAORO, 1995, p.2).

No processo de formação do povo brasileiro, observam-se além da figura do Português - cuja origem é bastante diversa - outras influências, a exemplo do índio, negro, além de mais recentemente ter sido forte a imigração de novos europeus, árabes, asiáticos, dentre outros. Tudo isto colaborando para o aumento da diversidade social e cultural do seu povo. A compreensão deste novo povo que surge em terras sul-americanas é imprescindível na busca por informações sobre os desdobramentos sociais e econômicos posteriores. Darcy Ribeiro, um dos mais respeitados estudiosos sobre o país, destaca na obra ‘O povo Brasileiro’ (2006), que “surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos”. Ribeiro complementa que:

Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes raciais díspares, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se fundem para dar lugar a um novo povo, num novo modelo de estruturação societária. Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadores, fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. (RIBEIRO, 2006, p. 17).

(41)

transporta de um continente a outro; seria preciso que se transportasse com ela o meio físico” (p.34).

Assim sendo, em maior ou menor medida, a compreensão do processo cultural brasileiro deve sempre considerar as mudanças impostas pelo “meio”. Outrossim, para compreendermos a atual sociedade e seu processo de formação cultural, além de informações dos povos que lhe deram origem é fundamental compreender o processo histórico de desenvolvimento econômico e social pelo qual o país perpassou.

(42)

pioneirismo na produção de alimentos, sendo que, para ele, este fator contribuiu para que esses povos se adiantassem no caminho que conduzia a armas, germes e aço e conseqüentemente a padrões culturais mais avançados.

A partir das informações acima, é perceptível a importância do fator ambiental (a produção de alimentos) no desenvolvimento de um povo e consequentemente em sua evolução cultural e econômica. É neste contexto que se pode inserir a realidade da Região Nordeste e do Brasil, refletindo sobre como a chamada monocultura do açúcar foi prejudicial ao desenvolvimento brasileiro, dentre outros fatores, pelo fato de ter prejudicado a melhor ocupação espacial do país, desestimulando o desenvolvimento de sociedades em seu interior, tendo privilegiado inicialmente as regiões costeiras, além de ter desencorajado a produção de gêneros alimentícios e de outras culturas econômicas mais democráticas, temas que serão abordadas mais adiante.

Em “Raízes do Brasil”, versando sobre a influência da cultura no processo de desenvolvimento econômico, Sérgio Buarque de Holanda (1995), em referência ao país destaca que os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente, com a cumplicidade ou a indolência displicente das instituições e costumes. “À frouxidão da estrutura social, à falta de hierarquia organizada devem-se alguns dos episódios mais singulares da história das nações hispânicas, incluindo-se nelas Portugal e Brasil” (HOLANDA, 1995, p. 33).

Sobre as nações Ibéricas, Buarque de Holanda (1995) destaca que nelas, diferentemente de algumas terras protestantes, havia uma falta de racionalização da vida, de modo que o princípio unificador foi sempre representado pelos governos. Isto favoreceria nos tempos modernos, por exemplo, o surgimento de ditaduras militares. Outra questão levantada pelo autor, a partir de uma análise dos povos ibéricos é a “invencível repulsa que sempre lhes inspirou toda moral fundada no culto ao trabalho” (p.38). Holanda continua, salientando que só muito recentemente, com o prestígio maior das instituições do Norte, é que essa ética do trabalho chegou a conquistar algum terreno entre eles. “Mas as resistências que encontrou e ainda encontra têm sido tão vivas e perseverantes, que é lícito duvidar de seu êxito completo” (HOLANDA, 1995 p.38).

(43)

sociedade patriarcal, onde praticamente tudo o que ocorria na colônia era centralizado em torno da figura do senhor de engenho, conforme descrição a seguir: “A Casa Grande, completada pela senzala, representa todo um sistema econômico, social, político: de produção (a monocultura latifundiária); de trabalho (a escravidão); de transporte (o carro de boi, o banguê, a rede, o cavalo); de religião (o catolicismo de família, com o capelão subordinado ao pater famílias, culto dos mortos etc.); [...] de política (o compadrismo). Foi ainda fortaleza, banco, cemitério, hospedaria, escola, santa-casa de misericórdia amparando os velhos e as viúvas, recolhendo órfãos” (FREYRE, 2006, p.36).

A singularidade dos estudos realizados por Gilberto Freyre na busca inclusive pelos mais relevantes traços culturais do país, a exemplo da descrição anterior, merecem destaque tendo em vista que apesar de centralizar em torno da casa-grande e do senhor de engenho, o autor consegue dar uma amplitude inimaginável num primeiro momento a uma questão que acabou por influenciar o Brasil de maneira tão marcante, de modo que os traços da época são carregados pela sociedade até os dias atuais. A monocultura, como bem coloca Freyre, marcou decisivamente a sociedade que se formava, dentre outros motivos por ter concentrado excessivamente o poder nas mãos dos donos de terras. O autor, ao demonstrar a grande influência dos senhores de engenho na colônia, cita que a casa-grande venceu a Igreja, nos impulsos que esta a princípio manifestou para ser a dona da terra. “Vencido o jesuíta, o senhor de engenho ficou dominando a colônia quase sozinho. O verdadeiro dono do Brasil. Mais do que os vice-reis e os bispos”, conclui Freyre.

(44)

“decadência ou inferioridade de raças” (p.34). O autor menciona também algumas das conseqüências da hiponutrição, a exemplo da diminuição da estatura, do peso, e do perímetro torácico; deformações esqueléticas; descalcificação dos dentes; insuficiências tiróidea, hipofisária e gonadial, provocadoras da velhice prematura, fertilidade em geral pobre da população, apatia e não raro infecundidade. “Exatamente os traços e físico inferior que geralmente se associam às sub-raças: ao sangue maldito das chamadas raças inferiores”, concluiu.

É importante destacar contudo a evolução histórica que levou a sociedade a este estágio de patriarcalismo. A ambiência local favoreceu a concentração das terras nas mãos de poucos, tendo como contribuição para isto o fato de que o império português queria a qualquer custo que as terras brasileiras fossem ocupadas, evitando tornarem-se atrativas para outros países. Neste processo, pelas dimensões do país, apesar de existirem leis coibindo a concentração de terras, teria levado ao surgimento de grandes latifúndios, sendo favorecido ainda pelas pouca disciplina de funcionários locais. Conforme já destacado anteriormente em artigo de sua autoria, Galvão (2006) versa sobre as “raízes históricas da questão fundiária no Brasil”, demonstrando como apesar do caráter relativamente democrático das leis das sesmarias, o poder imperial português não conseguiu manter o efetivo controle sobre as terras da colônia. O autor trata sobre a generosidade com que as concessões de terra realizadas por Portugal nos mais de três séculos de dominação, objetivando inserir o Brasil nas correntes de comércio internacional, pode ter sido responsável pela apropriação privada de imensas áreas do território do país, consequentemente “excluindo uma vasta e majoritária parcela da população, que acabou por ingressar na era moderna do desenvolvimento nacional na condição de posseiros, sitiantes, moradores ou agregados à grande propriedade”, finaliza. Outros autores, conforme já mencionado, reconhecem que, este cenário de concentração fundiária não era objetivo da política de colonização Portuguesa, havendo uma série de leis e iniciativas que visavam coibir tal prática, de modo a impossibilitar que as terras permanecessem incultas pelo seu proprietário, contudo fatores diversos favoreceram o contrário.

(45)

resultado do poder e da influência das elites rurais brasileiras”. Essa questão da preponderância do poder das elites rurais no controle do país é um dos pontos fundamentais deste trabalho, de modo que diversas evidências indicam que isto foi possível graças a variados fatores - aleatórios ou não - a exemplo da grande vastidão do território nacional, o que dificultava o efetivo controle e aplicabilidade das leis por parte das parcas autoridades locais; o êxito no cultivo da monocultura da cana-de-açúcar em terras brasileiras, que oferecia um preço bastante atrativo à época, estimulando o direcionamento da grande maioria das forças produtivas para esta cultura. Tais fatores, estando inseridos inclusive dentro dos aspectos cultural e geográfico, contribuíram de forma inequívoca no processo de germinação da sociedade nascente, bem como do perfil econômico que passou a prevalecer em terras locais, que foram pouco inclusivos e muito menos democráticos se comparado a outras partes do mundo. Furtado (2007) também retrata isto, mencionando que a ideia original de colonização dessas regiões tropicais a exemplo do Brasil, à base da pequena propriedade, excluía toda cogitação em torno da produção de açúcar, tendo em vista que, dentre os produtos tropicais, mais que qualquer outro, o açúcar era incompatível com o sistema da pequena propriedade, conclui.

(46)

durante o período imperial, quando as solicitações aos governos provinciais e locais sempre obtinham a mesma resposta: “não havia terra pública disponível para distribuição, porque as terras, mesmo quando ociosas, já eram todas de domínio privado” (GALVÃO, 1997, p. 108). Em contraste com esta situação, o autor argumenta que os esforços do Governo Imperial foram exitosos na implementação de colônias de imigrantes no Sul do Brasil, em decorrência de uma série de conjugações geográficas, políticas e econômicas. Mencionando outros estudos sobre a imigração o Sul, Galvão coloca que apesar de a maior parte das terras já estarem sob domínio privado no início do século XIX, as chamadas áreas das “Serras” eram pouco exploradas, e “mesmo assim não pelos seus proprietários, mas por posseiros ou moradores engajados em agricultura de subsistência”. Muitos dos proprietários inclusive estavam dispostos a vender suas terras devido ao baixo retorno em sua utilização. Neste sentido o Governo Imperial não encontrou grandes resistências para o estabelecimento dos imigrantes nessas áreas. O regime do uso adotado para essas terras, segundo Galvão, fornece a principal explicação para o grande sucesso das colônias do sul:

Um regime baseado na exploração de pequenos tratos de terra, que variavam de 25 a 60 hectares, por famílias de agricultores proprietários de suas glebas – um privilégio que era conferido pelo Governo Imperial aos imigrantes, já que o instituto jurídico da pequena propriedade privada rural foi praticamente inexistente no Brasil durante os primeiros 400 anos de sua história (GALVÃO, 1997, p. 110).

(47)

brasileiros, eram negados os mesmos privilégios recebidos pelos estrangeiros em relação ao acesso à terra. Mesmo assim, mencionando alguns outros estudiosos, Galvão relata que uma grande quantidade de brasileiros conseguiu prosperar nos centros urbanos que se desenvolveram nas áreas dessas colônias. Ainda como resultado do progresso agrícola dessas áreas, o autor exemplifica o surgimento de diversos núcleos de expansão industrial, destacando as cidades de Blumenal, Joinvile, Novo Hamburgo, Bento Gonçalves, dentre outras.

A maioria dessas cidades ingressou no século XX como importantes centros regionais de produção manufatureira, gozando de um padrão de vida que, em forte contraste com o da maioria do resto do País, era considerado como não muito distante do que gozavam, na época, muitas cidades modernas da Europa (GALVÃO, 1997, p. 111).

Esses europeus e os demais brasileiros ali instalados acabaram por desenvolver uma cultura diferenciada, vocacionada ao desenvolvimento, num ambiente novo, onde no início do século XX, tomando como base o primeiro censo industrial realizado no Brasil e mencionado no trabalho de Galvão, “os três estados da região sul com uma população inferior a 1,8 milhão de habitantes, em 1900, haviam alcançado, em 1907, um nível de produção industrial 20% superior ao dos 9 populosos estados do Nordeste, com os seus quase 7 milhões”.

(48)

vigoroso mercado doméstico, o desenvolvimento de uma vasta rede interna de transportes e comunicações e a extraordinária expansão das províncias cerealísticas daquele país”. E prossegue:

Por que havia uma massa crítica de bens a serem transportados – por exemplo, das fazendas de base familiar do Velho Oeste, para os mercados das áreas de plantation do Sul americano mas sobretudo para os crescentes e dinâmicos mercados do Nordeste e Leste dos Estados Unidos – um vasto e eficiente sistema de transportes foi desenvolvido em todo o território americano, através de estradas carroçáveis, rios, canais artificiais e ferrovias (Cf. FISHLOW, 1971; FOGEL, 1970; TAYLOR, 1968; JENKS, 1972; RAE, 1944 e GREEVER, 1951).

Imagem

Tabela 1 – Expectativa de vida no Nordeste e no Mundo.
Tabela 2: PIB per capita
Tabela 3: Taxa de analfabetismo e mortalidade infantil  REGIÃO %  ANALFABETISMO MORTALIDADE INFANTIL SUL 4,7 10,1 SUDESTE 5,11 12,6  CENTRO-OESTE 6,64 17,1 NORTE 10,6 21,2
Gráfico 1: Participação histórica do Nordeste no PIB Brasileiro
+6

Referências

Documentos relacionados

Reduzir desmatamento, implementar o novo Código Florestal, criar uma economia da restauração, dar escala às práticas de baixo carbono na agricultura, fomentar energias renováveis

Reducing illegal deforestation, implementing the Forest Code, creating a restoration economy and enhancing renewable energies, such as biofuels and biomass, as well as creating

O Grupo de Pesquisa “Gênese Documental Arquivística” desenvolve estudos teóricos e aplicados sobre a origem e a estrutura do documento de arquivo (convencional ou

16 SISTEMA DE PUNIÇÃO 16.1 A regra 29 da ISAF, conforme autorizado pela CBVela, fica alterada por estas instruções de regata para: “Quando no momento do sinal de partida

A placa EXPRECIUM-II possui duas entradas de linhas telefônicas, uma entrada para uma bateria externa de 12 Volt DC e uma saída paralela para uma impressora escrava da placa, para

O limite de vagas fica condicionado à classificação com as maiores médias obtidas no processo seletivo, não inferiores a 7,0 (sete). As vagas para preceptores

Atualmente, no Brasil, são considerados impostos indiretos o ICMS (Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e o IPI (Imposto sobre Produtos

Portanto, tendo em vista esse grande desafio que a tecnologia impõe às estratégias de preservação digital, e devido à complexidade e à especifi- cidade do documento