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Arquitetura + música como processo de projeto para a composição arquitetônica

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Academic year: 2017

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Arquitetura + música

como processo de projeto para a

composição arquitetônica.

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Arquitetura

+

música

como processo de projeto para a composição

arquitetônica.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Linha de Pesquisa: Arquitetura Moderna e Contemporânea: Representação e Intervenção.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone

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D331a Del Comune, Agnes Costa.

Arquitetura + Música como processo de projeto para a composição arquitetônica / Agnes Costa Del Comune - 2016. 194 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016.

Bibliografia: f. 169 – 173.

1. Arquitetura. 2. Música. 3. Processo de projeto. I. Título.

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Arquitetura

+

música

como processo de projeto para a composição

arquitetônica.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Linha de Pesquisa: Arquitetura Moderna e Contemporânea: Representação e Intervenção.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone

Aprovada em: ______/______/______

BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________ Prof. Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo

___________________________________________ Profª. Drª. Ana Gabriela Godinho Lima

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo

___________________________________________ Prof. Dr. Marcos Virgílio da Silva

Centro Universitário Belas Artes, São Paulo

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Agradeço a todos os que me ajudaram na elaboração deste trabalho, especialmente:

Aos meus pais, pelo grande incentivo durante todo o mestrado.

Ao Gabriel Ferry, pelo constante apoio para que me torne uma pessoa cada vez melhor.

À CAPES, pelo apoio para o desenvolvimento do trabalho com a provisão da bolsa de mestrado.

Ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pela oportunidade de realização desta pesquisa.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Rafael Perrone, muito obrigada pela sempre excelente dedicação e auxílio, pelas aulas e conversas. Agradeço também o seu constante interesse em querer entender mais sobre esse trabalho, estimulando sempre a pesquisa.

À Profª. Drª. Ana Gabriela Godinho Lima, pela oportunidade em trabalhar nas pesquisas, pelas diversas contribuições, ajudas e conversas, que me fazem evoluir cada vez mais como pesquisadora.

Aos colegas do PPGAU-FAU Mack, pelos momentos que compartilhamos juntos, nas aulas e tarefas desenvolvidas ao longo do curso.

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Sob o tema ‘arquitetura + música’, esta pesquisa de mestrado propõe uma reflexão a respeito do papel da música para a arquitetura, analisando como esta poderia ser empregada pelo arquiteto ao longo do seu processo de projeto, como possível ferramenta para a definição de elementos arquitetônicos. Para tal, o trabalho foi organizado em três partes. Primeiramente, são discutidas algumas possíveis relações entre as duas disciplinas com o objetivo de identificar os modos pelos quais a música concretamente poderia contribuir para a arquitetura, como veículo para o desenvolvimento de formas e elementos em um projeto. Aqui vemos, sob o ponto de vista de Rabelo (2007), que a relação entre as duas disciplinas é uma preocupação que existe desde a antiguidade clássica e que atualmente continua a ser o foco de estudos acadêmicos, como os indicados por Martin (1994) e Kanekar (2015), uma vez que são várias as aproximações que podemos observar entre a arquitetura e a música, entre elas, as que estabelecem relações matemáticas, formais, teóricas, metafóricas e até mesmo de processos criativos. Em um segundo momento são propostas definições para os termos ‘composição’ e ‘elementos’, com base em Perrone (1993), Rocha Junior (2014), Unwin (2012) e Copland (1974), para então discutirmos as prováveis similaridades que envolvem os processos criativos nas duas áreas. Por fim, a união da arquitetura com a música é explorada por meio das análises de três estudos de caso, nos quais seus arquitetos indicam o emprego de uma peça musical no projeto, como conceito e/ou para definição formal dos elementos na arquitetura. De acordo com os conceitos em Martin (1994), Bandur (2001) e Brown (2006), foi possível a definição de alguns ‘modos compositivos vinculados à música para a arquitetura’ para a posterior classificação dos projetos escolhidos.

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Regarding the theme ‘Architecture + Music’, this masters' research proposes a reflection about the role of music to architecture, analyzing how the former could be applied by the architect throughout his design process, possibly as a tool for the formal definition of architectural elements. Hence, this work was organized in three parts. First, it discusses some of the possible relations between both disciplines with the goal of identifying the ways with which music could concretely contribute for architecture, as a vehicle for developing forms and elements in a project. It is possible to see, under Rabelo's (2007) point of view, that the relation between these two disciplines is an existing concern since the classical period and that it still continues to be a target of academic studies, such as the ones indicated by Martin (1994) and Kanekar (2015), given that there are many possible observable approximations between architecture and music, among them, the ones which establish mathematical relations, formal, theoretical, metaphorical and even related to the creative process. Secondly, this work presents definitions for the terms ‘composition’ and ‘elements’, with basis on Perrone (1993), Rocha Junior (2014), Unwin (2012) and Copland (1974), so we can then discuss the potential similarities which involve the creative processes in the two areas. Lastly, the union between architecture and music is explored through the analyses of three case studies, in which their respective architects indicate the application of a musical piece in the project, as a concept and/or for the formal definition of the architectural elements. According to the concepts in Martin (1994), Bandur (2001) and Brown (2006), it was possible to define a few ‘compositional modes tied towards music for architecture’ and the posterior classification of the chosen projects.

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A arquitetura e a música me acompanham há alguns anos, a primeira como profissão, a segunda como hobby e a escolha pelo tema reflete o desejo por continuar com as investigações iniciadas em meu Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo (2010), no qual propus um estudo para a identificação das possíveis relações entre as duas disciplinas. Entre as diversas considerações que pude apreender em meu TFG, a que mais me chamou a atenção foi perceber que um arquiteto poderia buscar na música novas possibilidades para a arquitetura. Com a orientação dedicada da professora Cristiane Gallinaro - que me ensinou os primeiros passos sobre como estruturar um trabalho de pesquisa acadêmica - pude aliar a monografia com a proposta de um exercício projetual, ao aplicar diretamente no projeto os conceitos expostos ao longo do texto.

Também no ano de 2010 desenvolvi o interesse nos assuntos relacionados com a prática projetual e a pesquisa acadêmica, após ter participado como aluna bolsista do projeto ‘Pesquisa acadêmica em áreas de prática projetual: Arquitetura e Urbanismo’1,

financiado pelo Mackpesquisa e liderado pela Profª. Drª. Ana Gabriela Godinho Lima.

Desde o ano seguinte à minha formação participo como pesquisadora voluntária do Núcleo de Pesquisa ‘Percursos e Projetos: Arquitetura e Design’2, que está inserido no âmbito do

1 Para mais informações sobre esse projeto de pesquisa ver: LIMA, A. G. G.; PERRONE, R. A. C.; ZEIN, R. V. Z.; BIGGS, M. A. R.; BÜCHLER, D. M.; SANTOS, C. H. G. R. dos; VILLAC, M. I.; BASTOS, M. A.; CECCO, A. Pesquisa Acadêmica em Áreas de Prática Projetual. Relatório de Pesquisa Apresentado ao Fundo Mackenzie de Pesquisa, Mackpesquisa. São Paulo: FAU-Mackenzie, 2011.

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grupo de pesquisa ‘Arquitetura: Projeto & Pesquisa & Ensino’3 da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. No período dedicado às atividades do Núcleo, tive a oportunidade de me aprofundar em diversas questões de metodologia em pesquisas acadêmicas, como aquelas que envolvem as etapas de levantamento de dados, da busca por resultados, das conclusões e das discussões com professores e colegas. Ao longo deste processo me senti cada vez mais motivada a desenvolver minha pesquisa de mestrado, sendo fundamentais algumas conversas que tive com Daniela Büchler, então professora na Faculdade de Indústrias Culturais e Criativas da University of Hertfordshire e pesquisadora convidada da FAU-Mack. Essas conversas foram decisivas para que eu identificasse o tema arquitetura e música como o caminho que gostaria de seguir nesta etapa.

Além de considerar autores da arquitetura e da música para a argumentação, essa dissertação foi elaborada com base no referencial teórico e nos procedimentos de pesquisa e análises do Projeto de Pesquisa já finalizado ‘Práticas de projeto de arquitetas, arquitetos e designers – análise dos instrumentos de prática projetual e possíveis empregos, de forma direta ou não – na pesquisa acadêmica stricto sensu’4, que tinha o objetivo de

identificar e descrever de que maneira a prática projetual em arquitetura, urbanismo e design pode ser empregada como forma de construção do conhecimento acadêmico.

3 Grupo de pesquisa registrado junto ao CNPq e liderado pelos professores Dr. Rafael Antonio Cunha Perrone e Dr.ª Ana Gabriela Godinho Lima, conforme informações encontradas no link:

<http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/9508422721131403>. O grupo se dedica a investigar os modos de projetar em arquitetura e design, a relevância dos recursos textuais e não textuais, o uso da imagem, e também da

autobiografia de quem projeta nesses processos.

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Introdução... 19

Objeto de estudo, objetivos e procedimentos da pesquisa ... 19

Estrutura da dissertação ... 29

1. Ponderações sobre as relações entre a arquitetura e a música ... 33

1.1 Matemática e geometria como elo fundamental ... 37

1.1.1 Razões e proporções: a harmonia musical em quatro tratados arquitetônicos ... 43

De Architectura Libri Decem ... 45

De Re Aedificatoria ... 47

Quattro Libri Dell`Architettura ... 49

Cours d`architecture ... 51

1.2 Caminhos para novas possibilidades ... 53

1.2.1 Música e forma em Iannis Xenakis ... 54

1.2.2 Arquitetura para traduzir conceitos ... 57

2. Composição e arquitetura ... 61

2.1 Algumas definições ... 65

2.2 Os elementos na composição ... 71

2.3 Sobre composição musical e processo de projeto arquitetônico ... 79

3. Conceito, método ou forma? A música no processo de projeto ... 85

3.1 Levantamento e identificação de casos exemplares ... 89

3.2 Modos compositivos arquitetônicos vinculados à música observados nos casos exemplares . 94 3.2.1 Forma e estrutura ... 97

Stretto House ... 100

3.2.2 Técnica serial ... 124

Jewish Museum... 131

3.2.3 Improvisação e composição ... 145

Bebop Spaces ... 150

Considerações finais... 165

Referências bibliográficas ... 169

Apêndice: Comparações entre características estilísticas arquitetônicas e musicais: um breve levantamento histórico ... 175

Razões e proporções na antiguidade greco-romana ... 178

Arquitetura e música primitiva cristã ... 180

Arquitetura românica e música antiga ... 182

Arquitetura gótica e ars nova ... 184

O Renascimento ... 186

A era barroca ... 188

Século XIX: o clássico, o romântico e o eclético ... 190

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Introdução

Objeto

de estudo,

objetivos

e

procedimentos

da pesquisa

Sob a temática Arquitetura e Música, esta dissertação de mestrado está compreendida dentro da linha de pesquisa “Arquitetura Moderna e Contemporânea: Representação e Intervenção” e propõe uma reflexão sobre o papel da música para a arquitetura contemporânea, no sentido da especulação sobre como a música, a prática ou a teoria musical podem ser utilizadas pelo arquiteto ao longo do seu processo de projeto, como veículo ou ferramenta para conceituação e definição formal de elementos arquitetônicos. Antes de ser um trabalho fundamentado apenas por simples analogias entre as disciplinas, esta pesquisa propõe uma reflexão que abrange algumas inquietações, como:

• O que a música representa para a arquitetura?

• De quais maneiras a música pode ser incorporada no processo de projeto arquitetônico?

• Princípios musicais podem ser utilizados para constituir formas e elementos arquitetônicos?

• Para empregar princípios de teoria ou formas musicais na arquitetura, o arquiteto precisa ser, necessariamente, também músico, ou pelo menos deve ter um pouco de conhecimento sobre teoria musical?

‘Arquitetura + Música’ foi a expressão escolhida para representar que o trabalho irá tratar da união das disciplinas, buscando demonstrar mais a fundo as maneiras pelas quais a música poderia se manifestar em um projeto.

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Parte do embasamento teórico desta pesquisa encontra-se fundamentado nos estudos de Ana Gabriela Godinho Lima, Michael Biggs e Daniela Büchler que dizem respeito à problemática em torno da temática da pesquisa acadêmica em áreas de prática projetual. Em um de seus artigos5, os dois últimos autores procuraram estabelecer relações entre a atividade profissional de alto nível (que academicamente é assumida como pesquisa nas áreas de prática projetual), e a pesquisa acadêmica nas disciplinas tradicionais, identificando possíveis aspectos em comum entre ambos os lados. Este trabalho não irá se aventurar por essas questões, mas as colocações aqui apresentadas poderão, quem sabe, servir de combustível para uma pesquisa futura, na medida em que, a partir do pressuposto de Lima (2011, p. 3) de que a arquitetura e as demais áreas projetuais (como o design e as artes) fazem parte de outro tipo de contexto na pesquisa acadêmica, poderia ser válido levar a discussão também para o campo das disciplinas arquitetura e música, no sentido de produção de pesquisa acadêmica em cada área e suas abordagens metodológicas, pois aparentemente parecem existir certas sobreposições epistemológicas entre elas. Em conversa com Büchler com a autora, esta comentara que:

Enquanto disciplina acadêmica, a Arquitetura compartilha com a Música uma situação muito similar, onde ambas estão presentes no contexto acadêmico há tempos e fazem uso de métodos 'científicos' de pesquisa que podem vir a ocultar a existência de uma dimensão da criação (do projeto arquitetônico e da composição musical) que não está contemplada nos métodos acadêmicos tradicionais (BÜCHLER, em email à autora, 2013).

Segundo Lima et. al., a arquitetura possui tendências interdisciplinares e é cada vez mais comum encontrarmos autores que fazem referência as disciplinas e teorias externas à arquitetura. Entretanto, para os jovens pesquisadores que queiram tratar de questões interdisciplinares é feito o seguinte alerta:

Esta é uma área crescente na pesquisa em arquitetura que emergiu à medida em que autores de arquitetura começaram a encarar outras disciplinas como referencial teórico, método de pesquisa e fonte primária e secundária de literatura de modo a explicar assuntos arquitetônicos. Não obstante, é muito improvável que um estudante de mestrado tenha tempo e habilidade para familiarizar-se com as fontes teóricas de outras disciplinas para a elaboração de sua dissertação. Eventualmente um candidato ao doutorado que provenha de outra área ou que já tenha acumulado um considerável conhecimento no âmbito de outras disciplinas pode achar-se em condições de utilizar-se dessa abordagem (2011, p. 56).

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Atento a essa questão, ao contrário de propor metodologias definitivas para o processo de projeto, esse trabalho se limita a tratar da relação entre arquitetura e música com base em autores conceituados nas duas áreas, para validar as discussões levantadas em termos de processo criativo, de composição e outros tipos de analogias entre elas e por isso a opção por adotar os projetos referenciais como estudos de caso, que por fim fundamentam o objeto de estudos. Os ‘modos compositivos’ que aparecem no capítulo 3 estão diretamente vinculados com os estudos de caso e, uma vez identificados, passam a ser sugestões ou pontos de partida para profissionais que queiram buscar outros métodos semelhantes para a fundamentação ou formulação da arquitetura.

Simon Unwin já dizia que para responder à pergunta: “o que estamos fazendo quando fazemos arquitetura?” poderíamos nos valer da comparação da arquitetura com outras formas de arte, mas tomando o cuidado para não deixar de lado as questões inerentes da ‘natureza da arquitetura’, ou seja, os princípios básicos que envolvem a arquitetura e que tratam da definição prática da palavra arquitetura e de seus objetivos fundamentais. Unwin defende que esquecer essas questões prejudica a compreensão daqueles “que se envolvem com ela saibam o que estão fazendo” (2012, p. 21). Ainda para o autor, “[...] qualquer obra de arquitetura pode ser examinada através de qualquer filtro analítico ou mesmo de todos eles; porém, isso não produzirá, necessariamente, revelações interessantes em todos os casos” (2012, p. 4).

Outro trabalho importante para esta pesquisa é a dissertação de mestrado de Frederico André Rabelo. O autor compara a arquitetura e a música, chamando-as de linguagens e explicitando seus pontos de tangência com base na matemática e na geometria. Ele adota uma abordagem historiográfica no início do trabalho, e na segunda parte compara algumas obras do arquiteto Lúcio Costa com peças do compositor Heitor Villa-Lobos, identificando características da arquitetura e da música no período, assim como o modo de trabalho de cada profissional. “O que se pretende, também, é buscar outros pontos de cruzamento entre a arquitetura e a música [...]. Um desses pontos é a análise das congruências e semelhanças entre os processos de composição nessas duas áreas [...]” (RABELO, 2007).

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idealização do projeto e da música com base na problemática dada pelo profissional ou pelas circunstâncias que o projeto ou a música estão sujeitas; depois haveria uma etapa de desenvolvimento, onde acontece de fato o projeto e a composição musical.

Nigel Cross também é um dos autores que fala da busca em compartilhar diferentes abordagens sobre os processos criativos nas mais variadas áreas profissionais, e afirma que isso pode ser constatado em pesquisas interdisciplinares sobre a prática projetual, em periódicos especializados e conferências. Em um de seus artigos ele apresenta uma interessante colocação de Herbert Simon6, sobre se engenheiros e compositores pudessem manter uma conversa sobre o

próprio trabalho, eles começariam a perceber a atividade criativa em comum na qual ambos estariam engajados, cada qual à sua maneira, a ponto de poderem compartilhar experiências sobre seus processos criativos (CROSS, 2001, p. 53).

A reflexão acerca da prática profissional está relacionada com os processos de fazer e suas experimentações e traz à tona alguns problemas fundamentais. Parte dos possíveis questionamentos que este trabalho pretende abordar gira em torno das colocações a seguir, algumas delas que também fazem parte da problemática central da pesquisa anteriormente mencionada ‘Práticas de projeto de arquitetas, arquitetos e designers – análise dos instrumentos de prática projetual e possíveis empregos, de forma direta ou não – na pesquisa acadêmica stricto sensu’, do qual este trabalho se vincula:

Problema 1: Após levantamento minucioso em bases on-line, como os bancos de dados e teses da CAPES, Scielo e JSTOR, além de buscas nas bibliotecas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, se pôde verificar que há - principalmente no Brasil - um número bastante reduzido de trabalhos acadêmicos nas áreas de prática projetual, assim como pouquíssimos trabalhos em português que abordam a relação arquitetura e música. Há também a falta de pesquisas acadêmicas que forneçam informações relevantes sobre o arquiteto profissional que em algum momento da carreira - seja em um projeto, obra construída ou instalação artística - tenha utilizado como conceito a relação entre arquitetura e música. Solução proposta: Por meio dos estudos de caso selecionados serão identificados e analisados projetos e/ou obras de arquitetos contemporâneos que utilizaram o ‘fator arquitetura + música’. O objetivo é a

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identificação dos procedimentos e do processo sobre como foi empregada a relação das duas áreas, auxiliando a preencher a lacuna existente de trabalhos brasileiros que abordam este assunto.

Problema 2: Conforme apontado por autores internacionais como Nigel Cross e Bryan Lawson, e nacionais como Anelli; Veloso e Elali; Campos e Silva; Lima et all, estamos longe de obter definições precisas sobre as formas de conhecimento mobilizadas pelo arquiteto ao longo de seu processo de projeto, sendo este um tema de intenso debate acadêmico. Solução proposta: Refletir sobre o processo de projeto de arquitetura, identificando os possíveis instrumentos de prática projetual que, no caso deste trabalho, surgem exclusivamente da relação arquitetura + música, ou seja, quando há aproximações entre a composição da peça musical e a elaboração do projeto arquitetônico.

Problema 3: Lima (2013, p. 2)7 aponta a carência de publicações que poderiam fornecer

ferramentas auxiliares aos estudantes, orientadores e pesquisadores profissionais em áreas de prática projetual, “no aperfeiçoamento, em termos de rigor, clareza e qualidade, do que estes grupos vêm tentando fazer em termos de incorporação da prática projetual à pesquisa”. Solução proposta: Argumentar sobre a importância da comunicação e da transmissão do conhecimento como característica essencial de todo tipo de pesquisa acadêmica que visa o interesse coletivo, apresentando reflexões sobre o processo de projeto de arquitetos.

O desenvolvimento deste trabalho, assim como os estudos e outras notícias sobre o tema, está sendo divulgado e disseminado para o amplo público geral e acadêmico e pode ser acompanhado por meio do blog <http://arquiteturaemusica.wordpress.com>, criado exclusivamente para esta pesquisa de mestrado [1].

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[1] Tela inicial do blog. Fonte: Arquivo da autora, 2015.

Visando um melhor direcionamento para este tema, foram realizados no segundo semestre de 2014 os levantamentos preliminares em bancos de dados e teses da CAPES, Scielo e JSTOR8, além de levantamento nas bibliotecas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A seleção de trabalhos relevantes para a pesquisa seguiu sempre o mesmo critério de avaliação para todas as bases de dados: primeiramente foram verificados os títulos dos trabalhos e excluídos aqueles que não se relacionavam com o tema; em seguida foram lidos os resumos destes trabalhos para confirmação de sua relevância.

Os resultados dessa pesquisa inicial demonstraram um número bastante reduzido de trabalhos acadêmicos que abordam a relação arquitetura e música e a maioria das publicações – nacionais e internacionais - encontradas sobre o tema, diz respeito a artigos para jornais ou periódicos, como podemos ver na tabela ao lado:

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PALAVRAS-CHAVE SELECIONADAS ARQUITETURA E MÚSICA ARCHITECTURE AND MUSIC

PALAVRA - CHAVE: ARQUITETURA E MÚSICA

Banco de dados: Portal de periódicos da CAPES Data de pesquisa: 12/07/14

Resultado: 167 trabalhos encontrados. O resumo de todos foi verificado e os trabalhos considerados relevantes para a pesquisa estão listados abaixo:

 ROCHA, Namur Matos. Relações estético-estruturais entre música e arquitetura: Polytopes: uma análise sobre a obra multimídia de Iannis Xenakis. Universidade Estadual Paulista. Instituto De Artes. 2008

 RABELO, Frederico André; Fuao, Fernando Delfino De Freitas. Arquitetura e música: interseções polifônicas. 2007

 OUKAWA, Carolina Silva Amorim, Anália Maria Marinho De Carvalho. Edifício Copan: uma análise arquitetônica com inspiração na disciplina análise musical. 2010

Banco de dados: Banco de teses da CAPES Data de pesquisa: 26/07/14

Resultado: Nenhum resultado encontrado. Banco de dados: JSTOR

Data de pesquisa: 26/07/14

Resultado: 16 trabalhos encontrados, considerando artigos de jornais, livros e panfletos. O resumo de todos foi verificado, porém nenhum dos resultados se mostrou relevante com a pesquisa.

Banco de dados: Scielo Data de pesquisa: 26/07/14

Resultado: Na busca por periódicos, nenhum resultado foi obtido. Na busca por artigos, foram encontrados 5 resultados, porém nenhum deles se mostrou relevante com a pesquisa.

PALAVRA - CHAVE: ARCHITECTURE AND MUSIC

Banco de dados: Portal de periódicos da CAPES Data de pesquisa: 12/07/2014

Resultado: 8201 trabalhos encontrados. Devido a grande quantidade de resultados listados, percebeu-se que a palavra-chave escolhida pode ser considerada muito abrangente para esse banco de dados e por isso mesmo foi eleita a opção de verificar apenas os 50 primeiros itens encontrados. Após a verificação dos resumos destes trabalhos os que podem ser considerados relevantes para a pesquisa foram listados abaixo:

 WATERHOUSE, Paul. Music and Architecture. Music & Letters, 1921, Vol.2(4), pp.323-331

 COSTANTINI, Michela. Architecture and Music: Signs of an Eighteenth-Century Debate on the Harmonic

Theory in Piedmont from Magnocavalli’s Manuscripts to the Reflections in the Academies in Turin. Nexus

Network Journal, 2013, Vol.15(1), pp.15-31

 YOUNG, Gregory; Bancroft, Jerry; Sanderson, Mark Leonardo. Musi-Tecture: Seeking Useful Correlations between Music and Architecture. Music Journal, 1993, Vol.3(), pp.39-43

 CAPANNA, Alessandra. Music and Architecture: A Cross between Inspiration and Method. Nexus Network Journal, 2009, Vol.11(2), pp.257-27

 DAVIS, Jennifer. Drafting music, composing architecture. Canadian Architect, Sept, 2010, Vol.55(9), p.54(1) Cengage Learning, Inc.

 JENCKS, Charles. Architecture becomes music. The Architectural Review, May, 2013, Vol.233(1395), p.91(18) Cengage Learning, Inc.

 EKWALL, Åke. Volutes and Violins: Visual Parallels between Music and Architecture. Nexus Network Journal, 2001, Vol.3(2), pp.127-136

 LEOPOLD, Cornelie. Sound–Sights An Interdisciplinary Project. Nexus Network Journal, 2006, Vol.8(1), pp.123-131

 IMAAH, Napoleon Ono. Music: A Source of Inspiration and Harmony in Architecture: An African View. International Review of the Aesthetics and Sociology of Music, 2004, Vol.35(2), pp.169-182

Banco de dados: Banco de teses da CAPES Data de pesquisa: 26/07/14

Resultado: 17 trabalhos encontrados. Nenhum dos resultados se mostrou relevante com a pesquisa. Banco de dados: JSTOR

Data de pesquisa: 26/07/2014

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resumos destes trabalhos os que podem ser considerados relevantes para a pesquisa foram listados abaixo:

 TRACHTENBERG, Marvin. Architecture and Music Reunited: A New Reading of Dufay's "Nuper Rosarum Flores" and the Cathedral of Florence. Renaissance Quarterly, Vol. 54, No. 3 (Autumn, 2001), pp. 740-775

 WHEATLEY, John. The Sound of Architecture. Tempo, Vol. 61, No. 242 (Oct., 2007), pp. 11-19

Music in Its Relation to Other Arts (Concluded). The Musical Times and Singing Class Circular, Vol. 24, No. 481 (Mar. 1, 1883), pp. 125-128

 IMAAH, Napoleon Ono. Music: A Source of Inspiration and Harmony in Architecture: An African View. International Review of the Aesthetics and Sociology of Music, 2004, Vol.35(2), pp.169-182

 YOUNG, Gregory ; Bancroft, Jerry ; Sanderson, Mark Leonardo. Musi-Tecture: Seeking Useful Correlations between Music and Architecture. Music Journal, 1993, Vol.3(), pp.39-43

 WATERHOUSE, Paul. Music and Architecture. Music & Letters, 1921, Vol.2(4), pp.323-331

 MACGILVRAY, Daniel F. The Proper Education of Musicians and Architects. Journal of Architectural Education (1984-), Vol. 46, No. 2 (Nov., 1992), pp. 87-94

Banco de dados: Scielo Data de pesquisa: 26/07/14

Resultado: Na busca por periódicos, nenhum resultado foi obtido. Na busca por artigos, foram encontrados 5 resultados, porém nenhum deles relacionado com a pesquisa.

Tabela 1 Resumo do levantamento realizado nas bases de dados da CAPES, JSTOR e Scielo, 2º semestre de 2014.

Além do levantamento nos bancos de dados digitais, grande parte do material bibliográfico desta pesquisa foi previamente adquirido e continuamente ampliado desde o ano de 2010, quando as primeiras investigações sobre o tema tiveram início. A busca em bases de pesquisa - como o Google - e sites internacionais - como a Amazon - permitiu a identificação de outros livros, assim como de publicações acadêmicas importantes para a argumentação central da pesquisa. A partir dessa investigação foi possível observar também que não houve registro de teses sobre o tema e somente 6 dissertações foram encontradas no total, embora nenhuma tivesse exatamente a mesma abordagem proposta para este trabalho, conforme indicado na tabela:

Autor Título do trabalho Defesa Instituição Tipo

dissertações brasileiras

OUKAWA, Carolina Silva Edifício Copan: uma análise arquitetônica com

inspiração na disciplina análise musical. 2010

Universidade de

São Paulo Mestrado

RABELO, Frederico André Arquitetura e música: Interseções Polifônicas. 2007 Universidade de

Goiânia Mestrado

ROCHA, Namur Matos.

Relações estético-estruturais entre música e arquitetura: Polytopes: uma análise sobre a obra multimídia de Iannis Xenakis.

2008

Universidade Estadual Paulista

Mestrado

VEIGA, Eduardo José Gorini da

Ritmo e harmonia : relação entre a arquitetura

moderna e a musica. 2003

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestrado

dissertações estrangeiras (em inglês)

ROESLER, Axel

A compositional based approach to 3-dimensional form generation in product design based on music.

2001 Ohio State

University Mestrado

SHEPPARD, Marilyn The music of architecture. 2011

Virginia Polytechnic Institute and State University

Mestrado

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Com relação aos livros levantados, verificamos que não há publicações nacionais sobre arquitetura e música e, por isso, todos os 8 livros que foram selecionados sobre o tema estão em inglês. Praticamente todas as publicações, com exceção de Xenakis (2009), são livros elaborados por autores professores de arquitetura em universidades estrangeiras. Pela biografia indicada de cada autor, podemos perceber que a sua grande maioria é, além de arquiteto, também músico, e mantém uma relação direta com a arte, discutindo no mundo acadêmico sobre as duas disciplinas, por meio de palestras, conferências, publicações de artigos, e disciplinas letivas. Indicamos a seguir uma tabela com os livros selecionados:

AUTORES/ LIVROS SELECIONADOS SOBRE ARQUITETURA E MÚSICA

BANDUR, Markus. Aesthetics of total serialism: contemporary research from music to architecture. Basel: Birkhauser, 2001. BENEDIKT, Michael (Ed.). Center 18: Music in Architecture-Architecture in Music. Center for American Architecture and Design, 2014.

BROWN, David P. Noise Orders. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2006. KANEKAR, Aarati. Architecture's Pretexts: Spaces of Translation. Routledge, 2015.

KLOOS, Maarten; SPAAN, Machiel (Ed.). Music, Space And Architecture. Architectura & Natura, 2011.

MARTIN, Elizabeth. Architecture as a translation of music. Pamphlet architecture 16. Nova Iorque: Princeton Architectural Press, 1994.

MUECKE, Mikesch W. (Autor); ZACH, Miriam S. (Cont.). Resonance: Essays On The Intersection Of Music And Architecture. lulu.com, 2011.

XENAKIS, Iannis. Musica de La arquitectura. Akal Editora, 2009. Tabela 3 Livros levantados sobre o tema arquitetura e música.

Além de discutir sobre as possíveis relações entre as duas disciplinas e tentar estabelecer comparações com o processo de projeto arquitetônico e a composição musical, esta pesquisa centrou seus esforços na análise de três estudos de caso selecionados, no qual cada arquiteto afirmou ter adotado uma peça musical referencial que guiou determinadas atitudes projetuais, estabelecendo assim vínculos formais entre a arquitetura e a música escolhida, utilizando parte da ‘estrutura ou da forma musical’ como ferramenta projetual para a criação e desenvolvimento de elementos arquitetônicos. São casos em que o arquiteto se mostra preocupado com a divisão das diferentes linguagens presentes na sua obra e na obra musical em partes menores, que podem ser por ele associadas, justapostas, sobrepostas, ou lidas de modo independente.

(28)

Resumidamente, a metodologia adotada para esta pesquisa foi estabelecida pelas seguintes abordagens:

 Abordagem qualitativa: com pesquisas documentais e estudos de caso;

 Abordagem empírica: são descritos os diversos dados

(autor, data, local, características técnicas e demais questões consideradas relevantes ao tema) que cercam os projetos e obras selecionados como estudos de caso;

 Abordagem historiográfica: a partir dos estudos das correntes e movimentos arquitetônicos e musicais foram identificados paralelos formais e outras características entre as duas disciplinas, o que indicariam as correntes e tendências de pensamento projetual e artístico de cada período;

 Estudos interdisciplinares: são utilizadas referências a teorias externas ao campo específico da arquitetura, como no caso da música. Autores como Elizabeth Martin, Nigel Cross, Richard Sennett e Aaron Copland auxiliarão na fundamentação desse trabalho;

(29)

Estrutura da

dissertação

A argumentação desta dissertação se organiza em três capítulos principais e o apêndice, que possuem o seguinte escopo:

Capítulo 1: Ponderações sobre as relações entre a arquitetura e a música

Neste primeiro capítulo são discutidas algumas possíveis relações entre as duas disciplinas, com o objetivo de entender como a música ou a teoria musical poderia contribuir para a arquitetura, indo além das comparações e simples analogias entre termos e tornando-se ferramenta para a formulação de elementos em um projeto. As discussões foram divididas em duas frentes:

a) A argumentação inicia-se com considerações a respeito da matemática, da geometria e de princípios de proporcionalidade compartilhados pelas duas áreas que, segundo Rabelo (2007), seria o viés pelo qual a arquitetura e a música mais se aproximam. Esses princípios podem ser observados a partir dos cânones clássicos e por isso consideramos importante apresentar uma breve descrição sobre como essa abordagem consta nos tratados arquitetônicos de Vitrúvio, Alberti, Palladio e Blondel.

b) Em seguida, são apresentadas colocações com base em autores modernos e contemporâneos que defendem outros tipos de aproximação entre as duas disciplinas. Começando por Xenakis, um dos primeiros a aplicar diretamente na arquitetura certos procedimentos musicais, vemos também pesquisadores, como Martin (1994) e Kanekar (2015), que entendem que a tradução da música, ou de conceitos musicais, poderiam trazer novas possibilidades para a arquitetura, tanto no sentido formal, quanto em relação ao processo pelo qual a arquitetura se desenvolve.

Capítulo 2: Composição e arquitetura:

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formas na arquitetura, são apresentadas possíveis contribuições das quatro partes básicas que constituem uma peça musical conforme descritas por Copland (1974) – o ritmo, a melodia, o timbre e a harmonia – identificadas e interpretadas também como elementos de composição formal para a arquitetura.

Ao final do capítulo é apresentada uma pequena discussão sobre processo de projeto e composição musical, com base em autores da arquitetura e design, com Nigel Cross (2011) e Bryan Lawson (2011); da música, com Aaron Copland (1974) e também da sociologia, com Richard Sennett (2009). O objetivo aqui é a indicação de características que envolvem os processos criativos em ambas as áreas e que também parecem ser similares.

Capítulo 3: Conceito, método ou forma? A música no processo de projeto:

O terceiro e último capítulo explora ainda mais as maneiras nas quais a música poderia ser incorporada ao longo do processo de projeto, contribuindo assim para a concepção e o desenvolvimento da arquitetura. Aqui a discussão cai de maneira direta nas questões que envolvem a composição formal arquitetônica.

Com base nos capítulos anteriores e em autores como Martin (1994), Bandur (2001) e Brown (2006), foram definidos tipos de ‘universos compositivos’ arquitetônicos que estariam diretamente vinculados à música, sendo possível por meio deles classificar e agrupar os projetos de arquitetura que foram pensados sob esse viés. Aqui também é esclarecido se entre esses modos compositivos poderiam ser estabelecidos métodos para o processo de projeto arquitetônico e até que ponto seria aplicável à transferência das ideias de uma área para a outra. Nesses quesitos, destacam-se os processos que envolvem a aplicação de diversos procedimentos musicais adaptados para a arquitetura.

(31)

proposta. Os casos selecionados e os ‘modos compositivos arquitetônicos vinculados à música’ identificados a partir dos mesmos foram:

 Formas e estruturas musicais para a arquitetura, a partir de Stretto House (1989-1992) de

Steven Holl

 Técnica serial para a arquitetura, a partir de Jewish Museum (1988-1999) de Daniel

Libeskind

 O improviso para a arquitetura, a partir de Bebop Spaces (2002) de Bennett Neiman.

Apêndice: Comparações entre características estilísticas arquitetônicas e musicais: um

breve levantamento histórico

(32)
(33)

1.

Ponderações sobre as

relações entre a

(34)
(35)

Falar das possíveis relações entre a música e a arquitetura não significa necessariamente discutir a respeito de simples analogias observadas entre um projeto arquitetônico e uma peça ou gênero musical. Mais do que isso, para argumentar sobre a relação das duas disciplinas é preciso construir argumentos a partir de exemplos concretos, sendo por vezes necessário buscar referências na história da arquitetura e assim tentar aproximar as discussões sobre as maneiras nas quais a música se incorporaria no decorrer do processo de projeto arquitetônico para, em seguida, entender como arquitetos poderiam adotar as chamadas ‘estruturas ou formas musicais’ na composição de elementos do projeto ou da obra arquitetônica.

Segundo constatado na pesquisa de mestrado de Frederico Rabelo (2007), é por meio da matemática e da geometria que as relações mais diretas e estritas entre a arquitetura e a música serão melhor percebidas, porque os elementos da geometria e da aritmética - como as razões, as proporções e as séries ou escalas - são fundamentais para ambas e, ao longo dos séculos, foram empregados princípios de proporcionalidade em arquitetura análogos a princípios matemáticos das escalas musicais, entre eles os que são observados pelos cânones clássicos, algo que se confirma em autores como Rasmussen (2015), Doczi (2012) e Wittkower (1971). Para embasar tal afirmação veremos também como a questão aparece a partir de quatro tratados arquitetônicos , de Vitrúvio, Leon Batista Alberti, Andrea Palladio e François Blondel, com a inclusão de um subcapítulo que se justifica devido a importância e grande difusão dos preceitos de arquitetura por eles propostos.

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autores defendem outras aproximações entre as duas disciplinas, diferentes das observadas pelos moldes dos cânones clássicos, pois estão interessados sobre como a arquitetura poderia traduzir em si, os conceitos que embasam uma composição ou as formas musicais.

(37)

1.1

Matemática e geometria como

elo

fundamental

Se, como diz Rabelo (2007), as relações a partir da matemática e da geometria são as que mais se destacam em decorrência da união entre a arquitetura e a música, é porque certos princípios teóricos musicais foram considerados como viáveis e/ou essenciais para a composição da arquitetura em determinado momento.

Mesmo com poucas informações disponíveis sobre o período, comumente se estabelece que esse tipo de relação provavelmente tenha se iniciado na Antiguidade Clássica. Pitágoras de Samos (570 a.C. – 495 a.C.) é considerado um dos primeiros teóricos sobre música de que temos notícia e escritos posteriores apontam que ele e seus discípulos estudaram as proporções existentes entre determinados sons, formulando conceitos que séculos depois se tornaram a base da música ocidental [2].

O arquiteto, professor e escritor dinamarquês Steen E. Rasmussen nos apresenta uma lenda que dizia que Pitágoras, após observar um ferreiro martelando uma bigorna com três martelos de diferentes tamanhos, percebeu que o som estava diretamente relacionado com os tamanhos dos objetos que os produziam:

Continuou a investigar o fenômeno e descobriu que os comprimentos das três cabeças de martelo estavam mutuamente relacionados na razão de 6:4:3. A maior delas produzia a nota tônica; o tom da intermediária era uma quinta acima e a menor das três cabeças, uma oitava acima. Isso levou-o a experimentar com cordas retesadas de diferentes comprimentos e a apurar que, quando os comprimentos estavam relacionados entre si nas razões de pequenos números, as cordas tensas produziam sons harmoniosos (RASMUSSEN, 2015, p. 107).

A corda inteira quando tocada equivale ao som de uma frequência fundamental, cuja proporção é 1:1. Ao pressionar a corda na metade – proporção 1:2 – tem-se o diapason ou intervalo de uma oitava, sendo seu som igual ao anterior, só que mais agudo. Pressionar a corda em uma proporção de 2:3 de sua extensão revela um novo som, equivalente a um intervalo de quinta ou diapente (penta, cinco) e pressioná-la a proporção de 3:4 equivale ao chamado diatessaron

(tessares, quatro), ou intervalo de quarta, já que se ouve um tom referente a uma quarta acima do [2] Pitágoras com objetos e

instrumentos musicais. Gaffurio, 1492. Disponível em:

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que foi emitido pela corda inteira. As consonâncias9 musicais dos intervalos de oitava, quinta e

quarta podem ser expressas pela progressão 1:2:3:4.

Em “O poder dos limites” (2012), György Doczi apresenta uma interessante ilustração sobre esses intervalos sonoros, demonstrando por equivalência visual as harmonias musicais básicas observadas nas cordas em vibração e as notas em um teclado que se inicia pela nota Dó (representada pela letra C) [3]. Para o autor, as proporções que podem ser comparáveis com as harmonias musicais fundamentais estão também presentes em diversas variedades formais, inclusive nos seres vivos e na natureza, sendo amplamente empregadas pelo homem em objetos utilitários, obras de arte e também na arquitetura.

[3] Harmonia musicais básicas no teclado e em cordas em vibração. Retirado de DOCZI, 2012, p.8.

Em música, os experimentos com as variações dos sons a partir das proporções entre os tamanhos das cordas possibilitaram o posterior desenvolvimento da ‘escala diatônica pitagórica’ de sete notas, baseada na superposição de quintas, ou seja, formada sempre multiplicando a frequência anterior pela razão 3:2. Essa escala permaneceu utilizada como base para a música medieval até o fim da era renascentista, por volta de 1600, não sofrendo alterações muito significativas até o início do século XX.

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De acordo com Rasmussen, os gregos teriam descoberto relações entre as “simples proporções matemáticas no mundo visual e a consonância no mundo audível” (2015, p.108), embora ele acreditasse que qualquer comparação entre proporções arquitetônicas e consonâncias musicais deveria ser sempre uma metáfora, uma vez que sons que ‘desobedecem’ tais padrões harmônicos podem se tornar ‘desagradáveis’ aos ouvidos, enquanto proporções deste tipo em arquitetura muitas vezes passam despercebidas por seus usuários. No entanto este pensamento é bastante discutível no que diz respeito às características musicais, pois pressupõe que intervalos que fogem das razões da escala pitagórica de 1:1, 1:2, 2:3, 3:4... tendem a ser uma péssima escolha para os compositores, afinal, Rasmussem considera que o “resultado será um tom de sequência irregular, tremulante, que pode ser bastante desagradável” (2015, p.109).

No entanto a afirmação acima pode ser questionada, pois até mesmo na Grécia Antiga havia aqueles que não concordaram que os padrões de ordem devessem ser inteiramente válidos para música. Entre eles estava Aristoxenus (375 a.C. – 335 a.C.) em Elementa Harmonica10 (300 a.C.),

tratado musical que em parte rejeitava a opinião dos pitagóricos sobre as harmonias. Quando Rasmussen qualifica como ‘tons falsos’ e desagradáveis as dissonâncias, ele nos passa uma definição que foi condicionada culturalmente para explicar um som considerado instável, mas que é amplamente utilizado por compositores nas mais diversas práticas musicais. Um recurso que, se colocado de maneira circunstanciada, permite configurações que também podem ser entendidas como ‘belas’, tanto em termos de soluções composicionais, como para a percepção dos sons pelos ouvintes.

Doczi indica que as obras de arte e as ruínas da Antiguidade Clássica são frequentemente utilizadas como exemplo para demonstrar de que maneira foram aplicadas as razões discutidas acima para os campos além da música. Os templos da arquitetura grega são tidos como ótimas referências para a identificação de proporção e equilíbrio, por geralmente apresentarem dimensões cuja relação entre a parte menor e a parte maior era a mesma entre a parte maior e o todo. Suas dimensões eram múltiplas ou submúltiplas do diâmetro médio das suas colunas, que representavam o módulo de uma ordem.

Segundo o pensamento dos gregos antigos, o homem se sentiria mais confortável ao conviver com razões matemáticas claras e o ser humano - por ser considerado detentor de beleza

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e harmonia ilimitadas - deveria ser a medida padrão para todas as coisas11. Portanto, as ordens da

Antiguidade Clássica eram utilizadas para representar a harmonia em função dos elementos proporcionais e a escala humana era o fundamento compositivo da arquitetura grega.

Outro tipo de relação proporcional encontrada nos templos gregos baseia-se no emprego de simples razões para o estabelecimento das dimensões arquitetônicas, algo que teve a seu desenvolvimento também atribuído aos pitagóricos (RASMUSSEM, 2015). Diz-se que a partir de suas observações da natureza e das formas geométricas eles puderam definir os números irracionais e delimitaram a ‘razão ideal’ para a harmonia entre elementos: a razão áurea. Segundo Rasmussen:

Diz-se que um seguimento de linha está dividido de acordo com a seção áurea quando é composto de duas partes desiguais, das quais a primeira está para a segunda como a segunda está para o todo. Se chamarmos às duas partes a e b, respectivamente, então a razão de a para b é igual à razão de a para a+b (RASMUSSEN, 2015, p. 109).

Doczi (2012, p.3) descreve que a fórmula da seção áurea pode ser expressa pela equação a:b = b:(a+b) e os valores arredondados estabelecidos para a razão entre as maiores e menores partes da seção são os números 0, 618 e 1, 618. O retângulo de proporção 5:8 é considerado um bom exemplo quando para expressar esta razão[4].

É também demonstrado por Doczi como podemos obter razões equivalentes a seção áurea a partir dos intervalos da escala musical pitagórica, de modo que a proporção 2:3 (diapente) resulta em 0,666..., um valor muito

próximo do número áureo 0,618... A proporção 3:4 (diatessaron) é a mesma do triângulo de Pitágoras de lados 3:4:5 e a proporção 1:2 (diapason) representa o “retângulo

composto de dois quadrados iguais que tem uma diagonal de

comprimento , que é igual à soma do comprimento de 2 retângulos áureos recíprocos." (DOCZI, p. 9, 2012)[5].

11 Denominado por antropomorfismo, é o pensamento que considera o homem como o centro e a medida do Universo e que atribui características ou aspetos humanos a deuses, a natureza, a animais, etc...

(41)

[5] Equivalência visual entra as harmonias musicais pitagóricas e a construção da seção áurea. Retirado de Doczi, 2012, p.9.

Observamos essas relações tanto na planta, quanto nas fachadas do Parthenon de Atenas (século V a.C.). No templo, Doczi identifica e explica com base em ilustrações da planta e da elevação frontal, que suas dimensões referem-se tanto às proporções da harmonia pitagórica, quanto à razão do retângulo áureo (2012, p. 109). Em sua análise o autor destaca que a fachada do edifício contém um retângulo áureo deitado e o topo dos capitéis aproxima-se do ponto de ouro12 da altura total. Suas

colunas possuem uma altura igual a cinco vezes e meia a largura da base e seus ritmos proporcionais representam uma alternância entre elementos ‘fortes e fracos’. As medidas verticais das colunas frontais estão na razão de 3:4, correspondendo a um diatessaron ou intervalo de quarta musical. Ele também observa que os eixos das duas colunas dos cantos, mais a linha do chão e o topo do entablamento formam dois retângulos áureos de medida √5. Além disso, Doczi verifica que a planta baixa corresponde a dois retângulos áureos, que equivalem a um intervalo diapente, na razão 2:3 [6].

(42)

[6] Parthenon, Atenas. Retirado de Doczi, 2012, p.108.

Doczi nos revela a existência de uma lógica compositiva arquitetônica baseada na razão áurea e nos padrões harmônicos musicais, algo que, de acordo com Rasmussen, indica um legado da Antiguidade Clássica que perdurou e que foi difundido ao longo de séculos por importantes tratados de arquitetura que ajudaram a propagar o objetivo da composição Clássica em alcançar a harmonia entre as partes, como identificamos em De Re Aedificatoria de Leon Battista Alberti,

Quattro Libri Dell`Architettura de Andrea Palladio e Cours d`architecture de François Bondel (RASMUSSEN, 2015, p.118).

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1.1.1 Razões e proporções: a harmonia musical em quatro tratados arquitetônicos

Para a arquitetura os tratados representam um papel fundamental na leitura do passado. Por meio deles temos a difusão de pensamentos de épocas anteriores, embora devamos tomar cuidado com possíveis distorções interpretativas e com as informações que se perdem ou são possivelmente adicionadas com o tempo. Os tratados são textos que possuem um sentido de normatização e estabeleceram a aplicação de regras consideradas essenciais para a teoria e prática de projeto arquitetônico de determinado período. De acordo com a tese de Ronaldo Ströher,

A ideia de escrever um tratado de arquitetura pode ter várias origens e muitos objetivos, mas ela reflete basicamente a necessidade de registrar e organizar o estado de arte tanto da teoria quanto da prática, como também, ao questionar esse estado, destinar-se a estabelecer diretrizes para o futuro desenvolvimento profissional (STRÖHER, 2006, p. 33).

Grandes arquitetos tratadistas se posicionaram perante temas importantes para a arquitetura, entre eles sobre forma, estética, função e contexto, e por vezes os tratados abordaram princípios arquitetônicos semelhantes - cada um a sua maneira e em seu tempo - que foram apresentados e discutidos de formas diferentes. Esse é o caso da questão da harmonia das proporções como regra compositiva, que foi explorada por cada tratadista com determinada particularidade.

É por esse viés que se verificam similaridades com a teoria da harmonia musical em alguns desses documentos: com a identificação sobre como os princípios musicais estabelecidos primeiramente pelos pitagóricos na Antiguidade Clássica foram abordados posteriormente nos tratados de arquitetura indicados, iniciando pelo tratado do arquiteto romano Vitrúvio (80-70 a.C. - 15 a.C.), e depois com os tratadistas renascentistas Leon Battista Alberti (1406 - 1472), Andrea Palladio (1508 - 1580), François Bondel (1618 – 1686) e Guarino Guarini (1624 - 1683). Os tratados de Alberti, Palladio e Blondel indicam estudos teóricos e práticos que frequentemente trazem referências à música, apoiando-se na representação proporcional entre elementos. Seus autores dedicaram-se ao estudo e teorização sobre como a escala deveria ser aplicada em suas composições, dando continuidade a uma tradição já realizada por Vitrúvio.

Além dos conceitos baseados na proporcionalidade e harmonia das formas, é interessante notar que pelos tratados observam-se recomendações que visam a preservação da cultura musical do arquiteto como algo essencial para uma boa e correta solução espacial.

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em um projeto com proporções que lhe são familiares, ele torna-se capaz de entender o projeto como um todo, visualizando-o em sua mente com clareza, do mesmo modo com a qual o compositor lida com sons que foram identificados por notas já estabelecidas e as coloca no papel para que outros possam executar sua música sem grandes dificuldades. Segundo o autor, essa seria uma comparação justificada entre um arquiteto e um compositor. Porém ele não concorda que se possam comparar as proporções arquitetônicas com as proporções da harmonia musical, pois cada uma seria apreendida por nós de forma diferente. Assim, Rasmussen comenta que "[...] a arquitetura possui seus próprios métodos naturais de cálculo de proporções e é um erro acreditar que as proporções no mundo visual podem ser sentidas do mesmo modo que as proporções harmônicas da música" (RASMUSSEN, 2015, p. 129).

O autor também considera que não existem sistemas de proporções totalmente corretos para a arquitetura, mas que, por conta do período de produção em massa na qual vivemos, tornar-se-ia necessária a elaboração e utilização de unidades padrão baseadas nas ‘proporções humanas’. Na verdade, Rasmussen não se refere a criação de novos padrões, mas ao desenvolvimento das regras de proporções dos tempos antigos que poderiam continuar sendo adaptadas e utilizadas na arquitetura, algo que, de fato, vimos acontecer em determinados estilos arquitetônicos posteriores que trouxeram características derivadas dos princípios clássicos (2015, p. 129). Rasmussen também comenta que, embora o usuário não possa adivinhar as dimensões exatas de um ambiente, ele é capaz de ‘sentir as proporções’ de uma obra, pois as mesmas estão nela subentendidas e nosso olhar consegue identificar as variadas relações das partes em relação ao todo.

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De Architectura Libri Decem

Em De Architectura Libri Decem (séc. I a.C.), Vitrúvio enquadra como fundamental o domínio das mais diversas áreas do conhecimento, inclusive a música, para que o arquiteto empregue ‘corretamente’ as razões em uma obra. Ele aconselhou aos arquitetos que: “é igualmente necessário que saiba música para que tenha noção da ciência dos sons musicais e suas relações matemáticas” (POLIÃO, 1999, p. 51).

Embora Vitrúvio tenha discorrido sobre os intervalos musicais de oitavas, quintas e quartas, ele não desenvolveu em seu tratado uma reflexão sobre como essas proporções (de 1:2, 2:3 e 3:4) seriam exatamente aplicadas aos edifícios. Por outro lado, ele trata da importância das proporções existentes em uma obra arquitetônica e recomenda uma analogia direta entre o corpo humano e as proporções de suas partes com um templo, para que este fosse bem construído e magnificente.

A composição dos templos depende da proporção, cujas relações os arquitetos devem observar muitíssimo diligentemente. É engendrada também pela semelhança [...]. Semelhança é a correspondência entre as medidas de cada um dos elementos das partes da obra e ela como todo, de onde resulta a relação entre as proporções. De fato, nenhum templo pode ser bem composto sem que se considere alguma proporção ou semelhança, a não ser que tenha exatas proporções, como as dos membros segundo uma figura humana bem construída (POLIÃO, 1999, p. 92).

No Renascimento, Leonardo Da Vinci (1452 - 1519) interpretou e ilustrou a questão da proporção do corpo humano na figura do Homem Vitruviano: um homem que possui o umbigo como centro de um círculo, com sua altura igual ao alcance de seus braços estendidos. Essas medidas formam um quadrado que contém o corpo humano em sua totalidade.

Observa-se ao lado, uma leitura de Doczi (2012) elaborada a partir do desenho de Da Vinci [7], nas quais as proporções das

partes de um corpo humano padrão são comparadas com as medidas da seção áurea. É no sentido estético que se encontra o propósito dessa concepção, que diz respeito ao senso comum sobre proporcionalidade.

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Doczi comenta sobre o fato de Vitrúvio ter afirmado que os gregos utilizavam as ‘proporções humanas’ para a construção de seus templos e que, por isso, o arquiteto teria feito suas recomendações compositivas. O autor também apresenta uma ilustração para demonstrar a comparação entre as proporções ideais baseadas nas medidas do corpo humano descritas por Vitrúvio, com a planta de três templos existentes e as consonâncias dos intervalos musicais. As diferenças de medidas entre elas são marcadas pelas letras d1 a d6 [8].

Para Doczi, tanto o corpo humano como a seção áurea “partilham os limites proporcionais das harmonias musicais básicas” (2012, p. 93), o que poderia nos levar a entender que os edifícios clássicos teriam que apresentar, portanto, razões próximas da seção áurea e ao mesmo tempo estar em acordo com as proporções musicais e humanas.

Vitrúvio parafraseia os escritos de Aristoxenus na música para tentar explicar a harmonia musical, mas aborda as proporções harmônicas somente quando trata das construções com necessidade de desempenho acústico, como os teatros. Para ele, por meio da matemática e das proporções musicais o arquiteto poderia criar soluções espaciais ideais para que as vozes pudessem ser ouvidas por todos os espectadores, algo como “elevar a potência da voz segundo as leis da harmonia” (1999, p. 124). A definição de harmonia em arquitetura mais próxima do modo como a entendemos hoje aparece em seu livro quando Vitrúvio fala de eurritmia:

Eurritmia é a aparência graciosa e o aspecto bem proporcionado dos elementos nas composições. É obtida quando os elementos de uma obra são harmoniosos na altura com relação à largura, na largura com relação ao comprimento, todos correspondendo no conjunto à sua proporção (POLIÃO, 1999, p.55).

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De Re Aedificatoria

Em De Re Aedificatoria (1485), Alberti indica que o arquiteto deveria almejar a qualidade de beleza a partir de números, proporção e posição, o qual chamou de concinnitas, indicando a combinação de partes que em essência são diferentes entre si, mas que segundo regras precisas, se correspondem em aparência (ALBERTI, 1997, p. 302).

O conceito de beleza faz referência à harmonia das proporções e se tornou um parâmetro essencial para a construção de novas obras no Renascimento. É atribuída a Alberti a declaração sobre beleza e harmonia das formas que estabelece que o belo é o ajuste de todas as partes proporcionalmente, sendo impossível adicionar, subtrair ou modificar elementos sem prejudicar a harmonia do todo. A harmonia das proporções é por ele entendida como um parâmetro ordenador que estaria presente em todas as formas físicas na Natureza e também nos sons que ‘são agradáveis’ aos nossos ouvidos, podendo ser estabelecida por três métodos de composição: o aritmético, o geométrico e o musical.

Alberti comenta que as relações harmônicas foram largamente empregadas por arquitetos, sempre de modo conveniente para que a arquitetura resultante fosse harmoniosa, agradável e bela (1997, p.305). A arquiteta italiana Angela Pintore (1994) apresenta um interessante diagrama em seu artigo sobre o simbolismo musical na obra de Alberti [9], demonstrando como o arquiteto sugeriu aplicar essas relações harmônicas para pequenas áreas, para

áreas intermediárias e para grandes áreas, representadas na imagem por quadrados e retângulos com círculos inscritos.

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Observa-se que Alberti relaciona os intervalos musicais com módulos variados para as edificações. Os módulos poderiam ser aplicados ao comprimento, largura ou altura de uma obra e garantiriam uma boa proporção quando observados. Pintore conclui que Alberti possuía a intenção de provar que uma sequência de retângulos proporcionais derivados de proporções originais poderia abarcar um grande número de possibilidades espaciais (2004, p. 65).

Apesar de Alberti ter produzido poucas obras arquitetônicas, pela análise projetual notamos como a relação de formas quadradas e retangulares foi aplicada na Igreja de Santa Maria Novella, em Florença, Itália (1470), conforme exemplificado por Rudolph Wittkower em Architectural principles in the age of humanism (1971, p. 41). O autor demonstra que toda a fachada do edifício pode ser inscrita em um quadrado que, ao ser dividido em um eixo central simétrico e horizontal, tem-se a separação entre o térreo e o primeiro piso na proporção 2:1, ou seja, uma oitava. Este quadrado ainda pode ser dividido em frações cada vez menores e a repetição delas irá compor os elementos da fachada (entablamentos, pórtico e volutas), mantendo a proporção 2:1 numa espécie de progressão de oitavas. O pórtico de entrada possui proporção 3:2 – uma quinta. Wittkower considera que a ‘beleza da obra’ está na harmonia dessas proporções e na repetição desses elementos, ou seja, das razões que surgem e das relações das partes com o todo, em um método de duplicação ou progressão de razões [10].

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Quattro Libri Dell`Architettura

Nos seus Quattro Libri Dell`Architettura (1570), Andrea Palladio toma como exemplo as teorias de Pitágoras e Alberti e comenta também sobre o belo, dizendo que este resultará da correspondência entre as partes e o todo, do todo em si, assim como de cada parte sozinha, o que faz com que o edifício possa ser visto como completo e em perfeita harmonia. Um todo harmonicamente justificado.

O belo resultará da forma aprazível e da correspondência desse todo com suas partes, destas partes entre si e destas com o todo; desta maneira as estruturas aparecerão como um corpo inteiro e completo, donde cada membro concorda com o outro e todos eles são necessários para a completude do edifício (PALLADIO, 1997, p. 54).

Usando desse princípio em praticamente todas as suas obras, Palladio se preocupava em empregar proporções harmônicas não somente nas fachadas, mas também nas relações entre os ambientes, partindo de um eixo de simetria e utilizando sete formas básicas, que ele chamou de ‘primordiais’ e que seriam: o círculo; o quadrado; o quadrado com sua diagonal como comprimento; o quadrado mais um terço; o quadrado mais metade; o quadrado mais dois terços e o quadrado duplicado. Essas formas levam em consideração as proporções pitagóricas e são praticamente as mesmas que foram sugeridas cem anos antes por Alberti, porém aqui elas são intensamente exploradas em edifícios que não somente os de tipologia religiosa [11].

Conforme mencionado por Rasmussem, "Palladio dava grande ênfase a essas simples proporções: 3:4, 4:4, 4:6, que são as encontradas em harmonia musical." (2015, p. 114). Ao analisar uma de suas obras, a Villa Foscari em Mira, Itália (1560), Wittkower (1971, p. 129) verifica que há uma proporção predominante referente ao quadrado mais sua metade, que se repete por todos os cômodos e revela um preciso encadeamento entre eles. A planta reflete a forma simétrica na qual foi concebida e cada ambiente possui uma proporção. Os cômodos menores estão em 3:4 (quadrado mais um terço – uma quarta). Os cômodos maiores e a escada possuem proporção 2:3 (quadrado mais metade – uma quinta). O cômodo lateral tem proporção 1:1 (quadrado único – uníssono) e o centro está em 1:2 (quadrado duplicado – uma oitava) [12].

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Palladio também faz referência a três tipos de proporções: a aritmética, a geométrica e a harmônica, denominando por proporção aritmética aquela em que a segunda medida excede a primeira, do mesmo modo que a terceira medida excede a segunda (proporção 2:3:4). Por exemplo: 9 excede 6 por 3, assim como 6 excede 3 por 3.

Na proporção geométrica, a primeira medida está em proporção para a segunda, assim como a segunda está para a terceira (a:b = b:c). Por exemplo: 4 está para 6 assim como 6 está para 9. Já a proporção harmônica é bem mais complexa. Diz respeito a exceder um valor e ser excedido por outro, por meio da mesma fração de valores, ou então multiplicar a maior medida pela menor, multiplicar o resultado por dois e depois dividir o resultado pela soma do maior com o menor valor (b=2ac/(a+c) [13].

[13] Proporções para alturas de salas conforme Palladio. Tradução de Almeida (2005)a partir de Boyd-Brent, 2010, p. 13.

Imagem

Tabela 1 Resumo do levantamento realizado nas bases de dados da CAPES, JSTOR e Scielo, 2º semestre de 2014
Tabela 5 Os três estudos de caso selecionados.
Tabela 7 Similaridades e diferenças entre a arquitetura (Stretto House – Steven Holl) e a peça musical (Música para  cordas, percussão e celesta – Béla Bartók)
Tabela 8 Similaridades e diferenças entre a arquitetura (Jewish Museum – Daniel Libeskind) e a peça musical (Moses  and Aaron – Arnold Schoenberg)

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