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Leishmaniose tegumentar alviericana na Ilha Grande, Rio de Janeiro: III. reservatórios silvestres e comensais.

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Academic year: 2017

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L E IS H M A N IO S E T E G U M E N T A R A lV iE R IC A N A N A IL H A G R A N D E , R IO D E J A N E IR O . I I I . R E S E R V A T Ó R IO S

S IL V E S T R E S E C O M E N S A IS { * )

N e ls o n A . d e A r a ú jo F i l h o * * J . R o d r ig u e s C o u r a * * *

V e r a L . L . R e i s * * * *

E m 2 0 3 anim ais silvestres e comensais examinados na Praia Vermelha, Ilh a Grande, m unicípio de A ngra dos fíeis, R J, du ra nte o estudo de um surto de Leishmaniose Tegumentar Americana, foram encontrados 2 exemplares d e P r o e c h im y s d i m id ia t u s , com lesões hipocrômicas nas extrem i­ dades das orelhas, e 1 exem plar de R a t t u s n o rv e g ic u s n o rv e g ic u s , com úlcera de dorso, cuja histopa-tologia revelou a presença de L e is h m a n ia sp. nos 3 exemplares.

IN T R O D U Ç Ã O

Os estudos de reservatórios da Leishma­ niose Tegumentar Americana (L T A ), no Estado do Rio de Janeiro, tiveram início a p artir do surto ocorrido no m unicípio de Magé, em 1947. Nessa ocasião Guimarães17 examinando animais domésticos, silvestres e co mensais, não encontrou exemplares infec­ tados.

A prim eira comprovação de infecção na­ tu ra l pela L T A em animais, no Rio de Ja­ neiro, fo i assinalada por Barbosa, Mello & Coura5 durante os estudos de um foco pes- toso nos lim ites dos m unicípios de Teresó- polis e Nova Friburgo, quando descreveram 5 exemplares de O r y z o m y s e liu r u s parasitados.

Na grande epidemia de L T A ocorrida em Jacarepaguá, neste Estado, a F IO C R U Z 13 realizando exames em 242 animais domés­ ticos e silvestres também não obteve resul­ tados positivos.

Durante o surto da L T A ocorrido na Praia Vermelha, Ilha Grande, m unicípio de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, (Araújo Filho & cols,4 , A raújo F ilho & Coura3 , uma etapa

das investigações fo i dirigida no sentido de detectar a presença de animais silvestres e comensais naturalm ente infectados com essa protozoose.

M E T O D O L O G IA

A a'rea de estudo fica localizada a noroes­ te da Ilha Grande, m unicípio de Angra dos

Reis, Rio de Janeiro. Os dados sobre as con­ dições geoclimáticas da área estão descritos em trabalho anterior (A raújo F ilh o 2).

D urante o período de janeiro a dezembro de 1976, foram realizadas capturas sistemá­ ticas de animais, durante 8 a 10 dias por mês

utilizando-se 12 armadilhas de arame com is c a s u s p e n s a , de d im e n s õ e s de 30 cm x 10 cm x 15 cm, colocadas em locais de matas de segunda form ação, em d o m icí­ lios e peridom icílios. A isca mais utilizada fo i a banana e, eventualmente, o m ilho e a mandioca. As armadilhas eram colocadas du­ rante a tarde e recolhidas na manhã seguinte. Os animais capturados eram levados a um la­ boratório, m ontado previamente na área, onde, após anestesiados com éter ou

cloro-*T ra b a lh o do D epartam ento de M edicina Preventiva da Faculdade de M edicina da Universidade Federal do R io de Janeiro.

* * D ocente da Universidade do Am azonas, M édico Mestre em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Univer­ sidade Federal do R io de Janeiro.

* * * Professor T itula r do D epartam ento de M edicina Preventiva da Universidade Federal do R io de Janeiro. * * * "Professora assistente do D epartam ento de D erm atologia da Universidade Federal do R io de Janeiro.

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fó rm io , adotava-se uma ro tin a para a conse­ cução dos seguintes itens: cadastram ento e m ensuraçfo, retirad a d e ectoparasitas, pesqui­ sa d e hem oparasitas e endoparasitas, ta x id e r­ m ia d e 10% dos exem plares d e cada espécie para classificação.

E m tod o s os anim ais era fe ito um exam e ectoscópico, e, som ente naqueles qu e a pre­ sentaram alterações d o teg u m e nto com o ulcerações, nódulos, hipocrom ias extensas, e outras, fo ra m realizadas biópsias, aposição em lâm ina ( 4 lâm inas por a n im a l), histoptologia em preparações coradas pela H em a-toxilin a-eo sina. Giem sa e P A S , e inoculação em foc in ho e pata de 2 a 3 ham sters, segun­ d o as técnicas d e Lainson & S haw 26

RESU LTA DO S

D u ra n te 1 3 3 n o ites d e c ap tura fo ra m «pletados 2 0 3 exem plares d e anim ais silves­ tres e comensais. A m édia d e captura f o i de

1 ,5 anim al por n o ite.

Os anim ais coletados p erten ciam às ordens M A R S U P IA L IA , R O D E N T IA e C H IR O P -T E R A , com um to ta l de 17 difere ntes espé­ cies. O s roedores fo ra m cap turad o s com m a io r freq üê nc ia , com 1 8 4 exem plares, sen­ do p re d o m in a n te a espécie P r o e c h im y s d i m i ­ d ia t u s c om 1 0 5 (5 1 ,7 2 % ) exem plares.

E n tre os 2 0 3 anim ais coletados, 15 a pre­ sentavam alteração d o te g u m e n to , e em 3 fo ra m observadas fo rm as am astigotas d o gê­ nero L e is h m a n ia . O ín d ic e d e infecção fo i de

1 ,4% sobre o to ta l (T a b ela I).

Nos 3 anim ais infectados, 2 p erten ciam á espécie P r o e c h im y s d im i d i a t u s e 1 à espécie

R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s .

N os 15 anim ais com alteração do teg u ­ m e n to , fo ra m encontradas 17 lesões com p redo m inân cia na cauda e na orelha (T a ­ bela II ) .

E m alguns anim ais observaram -se ta m b é m lesões m ú ltip la s e em áreas d ife re n te s do cor­ po.

Os anim ais positivos, 2 P r o e c h im y s d im i

-T A B E L A I

A n im a is silvestres e com ensais exam inados, para L T A , na localidade d e Praia V e rm e lh a , Ilha G ran d e, m u n ic íp io de A ngra dos Reis,

R io de Janeiro — 1 9 7 6

ESPÉCIE

A N IM A IS CAPTURADOS

COM LESÃO SUSPEITA

N? %

COM LESÃO P O S ITIV A

N ? %

D id d p h is m a r s u p ia l is a u r ita 3

_

_

_

_

M a rm o s a in c a n a 13 — — — __

M o n o d e ip h is a m e ric a n a 1 — — __ __

C a m fíia p e r s p ic illa ta 1 — — — _

M y o tis n ig ric a n s 1 — — — _

S c iu ru s in g r a m i in g r a m i 1 — — — —

Ca v ia fu /g id a 6 — — — —

P h y llo m y s a f. b r a z ilie n s is 3 — — — —

P ro e c h im y s d im id ia tu s 105 8 7,61 2 1,90

C o e n d o u in s id io s u s 1 — — __ __

O r y z o m y s la m ia 26 3 11,53 _ __

O r y z o m y s e liu r u s 4 — — _

N e c to m y s s q u a m ip e s o liv a c e u s 4 _ — — _

R h ip id o m y s m a s ta c a lis 3 1 33,33 — _

O x y m y c te r u s q u a e s to r 5 1 20,00 — —

R a ttu s n o r v e g ic u s n o rv e g ic u s 16 2 12,50 1 6 ,2 5

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-. l i i l h o • I W e m b r o , 1 9 X 1 Rev. Soc. Bras. Med. T rop.

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T A B E L A II

T ip o e localização das lesões tegumentares encontradas em roedores da Praia Vermelha, Ilha Grande, m unicípio de Angra dos Reis,

Rio de Janeiro — 1976.

TIPO DE LESÃO LO C AL N? T O T A L DE POSITIVOS

Nódulos Cauda 6

-Hipocrom ia extensa Orelha 2 2 P r o e c h im y s d im i d i a t u s

Eritematosa Orelha 2

-Ulcerada Dorso 2 1 R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s

Orelha 2

-Cauda 1

-Crostosa Orelha 1

-Cauda 1

-d ia t u s , apresentavam áreas de hipocrom ia ao nível da extrem idade distai das orelhas (Fig. 1). No R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s constatou-se uma lesão ulcerada de a p ro xi­ madamente 5 mm, situada no lado d ire ito do dorso (Fig. 3).

iMa aposição em lâmina da lesão, realizada em 10 animais suspeitos, o exame fo i nega­ tiv o .

Foram feitas inoculações em focinho e pata de 17 hamsters a partir de fragmentos procedentes dos animais suspeitos. Os exa­ mes dos hamsters inoculados, após um ano de observação, foram negativos, inclusive os exames de vísceras (fígado e baço).

A histopatologia efetuada em 14 animais suspeitos, apresentou os seguintes resultados: em 11 exemplares não fo i observado parasi- tism o sendo, portanto, considerados nega­ tivos. As estruturas das lesões encontradas foram as seguintes: form ação granulomatosa (2 animais); processo inflam atório crônico (4 animais); processo subagudo ou crônico e

presença de bactérias (4 animais).

Nos 3 roedores infectados com L e is h m a -n ia sp. a histopatologia evidenciou os segun- tes achados:

Na e p id e r m e : os 3 exemplares apresenta­ ram áreas de acantose, descolamento, a tro f ia, hiperceratose e áreas de ulceração.

Na d e r m e : um dos P r o e c h im y s d im i d i a t u s apresentou in filtra d o granulomatoso com his- tió cito s, plasmócitos, linfócitos, células epi- telióides e células gigantes m ultinucleadas. O o utro P r o e c h im y s d im i d i a t u s apresentou

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F ig . 3 — R attus norvegicus c o m u lc e r a ç á o n o d o r s o .

F ig . 4 — H is t o p a t o lo g ia d a u lc e r a ç á fo d e d o r s o d o

Rattus norvegicus norvegicus ( F ig . 3 ) c o m p re s e n ç a d e fo r m a s a m a s tig o ta s d e n t r o e f o r a d e h is tó c ito s v a c u o liz a d o s ( H . E . 1 0 0 0 x ) .

infiltrado com histiócitos, linfócitos, plasmó- citos e raros neutrófilos. Esse in filtra d o era predominantemente peri-anexial e peri-vascu- lar, levando, inclusive, á hasculite com depó­ sito de material fib rin ó id e na luz vascular. 0 R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s apresentou p ro ­ cesso inflam atório inespecífico crônico com­ posto por linfócitos e histiócitos.

As lesões eram pauciparasitárias e as fo r ­ mas amastigotas estavam presentes na derme dentro e fora de histiócitos (Figs. 2 e 4).

Os 3 exemplares positivos foram captura­ dos, 1 no mês de fevereiro ( P r o e c h im y s d i m i ­ d ia t u s ) . e 2 no mês de abril (P r o e c h im y s

d im i d i a t u s e R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s ) , ambos no ano de 1976. 0 m aior número de capturas de animais ocorreu nos meses de abril e agosto, sendo a espécie P r o e c h im y s d im i d i a t u s a mais abundante durante todos os meses (Fig. 5).

D IS C U S S Ã O

As poucas observações sobre reservatórios extra-humanos de LT A . no Estado do Rio de Janeiro, foram dirigidas para os períodos epidêmicos da doença. Os animais coletados e examinados nesses estudos mostraram-se negativos ou apenas com lesões suspeitas (Guimarães17, F IO C R U Z 13).

A infecção natural de L e is h m a n ia s sp. em 5 O r y z o m y s e iiu r u s capturados durante os estudos de peste silvestre, nos lim ites dos m unicípios de Teresópolis e Nova Friburgo (Barbosa, Mello & Coura5) veio dem onstrar a presença do ciclo silvestre de Leishmaniose Tegumentar Americana, no Estado do Rio de Janeiro, em uma área onde se desconhecia a

presença de casos humanos da doença. Das 11 espécies encontradas na Praia V er­ melha fo i evidente a predominância do P r o e c h im y s d im i d i a t u s , conhecido na área como rato paca, e como rato de espinho em outras regiões. A presença de 2 exemplares desta espécie, com form as amastigotas de L e is h m a n ia sp., destaca a provável im portân­ cia desse roedor como um reservatório de

L T A naquela localidade. Pela prim eira vez se registra este achado na literatura médica, entretanto, roedores do gênero P r o e c h im y s têm sido comumente encontrados infectados em outras áreas endêmicas de L T A da região N eotropical. As espécies principais são P r o e c h im y s s e m is p in o s u s no Panamá, segun­ do as investigações do Gorgas M em orial La- b o ra to ry14' l 5 ' 16, de Herrer, T elfo rd & Christensen18, Herrer, Christensen & Beu- m er19, e P r o e c h im y s g u y a n n e n s is assinalado por Tikasingh30, em T rinidad e por Lainsen 6 Shaw23' 27, no Brasil. A importância desses equim ídios decorre do elevado núme­ ro de exemplares infectados com L e is h m a ­ n ia sp., isolada por cultura de sangue ou de

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N

*

OE

A

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IM

A

IS

J u lh o -D e z e m b r o , 1 98 1

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D I S T R U I Ç Ã O M E N S A L DOS M A M Í F E R O S C O L E T A D O S

N A P R A I A V E R M E L H A , I L H A G R A N D E , M U N I C Í P I O D E

A N G R A D O S R E I S , R I O D E J A N E I R O , 1 9 7 6 .

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Neotropical. A localização e o tip o de lesão dos exemplares (Tabela II) são semelhantes àquelas descritas por outros autores, caracte­ rizando-se pelas hipocrom ias ou despigmen- tação das extremidades das orelhas. Possivel­

mente maior número de exemplares alberga L e is h m a n ia sp., porém, o critério m etodoló­ gico adotado de somente realizar provas la­ boratoriais nos animais com alteração de pele visível macroscopicamente deve ter mascara­ do uma taxa maior de infecção. Segundo Lainson & Shaw2 7 a espécie P r o e c h im y s s e m is p in o s u s é classificada como reservatório natural do complexo L . m e x ic a n a e L . b r a z i-lie n s is , e o P r o e c h im y s g u y a n n e n s is como reservatório natural do complexo L . m e x i ­ c a n a , e o mais im portante reservatório natu­ ral da L . m e x ic a n a a m a z o n e n s is .

A segunda espécie de roedor com L e is h m a n ia sp., encontrada na área de estu­ do, fo i 1 exemplar de R a t t u s n o r v e g ic u s n o r ­ v e g ic u s . Esta espécie é também pela prim eira vez registrada na literatura médica com infec­ ção natural. A distribuição dessa espécie, na­ quela área, mostrou-se m uito diversificada; al­ guns exemplares foram coletados em perido- m icílios, a 10 metros do mar, e outros, foram coletados em peridom icílios com a lti­ tudes acima de 60 metros. No to ta l de 16 exemplares coletados, apenas 1 (6,25%) apre­ sentou-se infectado, porém, há de se consi­ derar como uma taxa de infecção elevada em virtude do critério m etodológico aplicado no estudo dos reservatórios, e, tam bém , quanto ao fato de se procurar coletar animais p rin ci­ palmente nas matas e poucas vezes nos peri­ dom icílios.

O único m urídeo descrito como reser­ vatório de LT A , provavelmente L . b r a z i-lie n s is , fo i coletado em área endêmica do Ceará por Alencar, Pessoa & Fontenele1. Os autores isolaram a L e is h m a n ia sp. por meio de hemocultura, em 1 exemplar de R a t t u s r a t t u s a le x a n d r in u s , dentre 153 animais exa­ minados.

Esses achados talvez possam explicar a ocorrência da L T A na área da Praia Verm e­

lha, e em outras regiões do Sudeste brasi­ leiro, onde a doença vem assumindo caracte­ rísticas de transmissão d om iciliar. Na Praia Vermelha, por exemplo, observou-se que os vetores im portantes apresentam excessiva densidade nos dom icílios, e existe a ocor­ rência do homem e do cão doentes, e tam ­ bém, a presença do roedor doméstico infec­

tado, no caso, a espécie R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s . Estes fatos mostram uma grande relação entre elementos que habitam no d om icílio e no p e rid o m icflio que são atingi­ dos pela doença. C ontudo, ao se avaliar isola­ damente a doença na espécie R a t t u s n o r v e ­ g ic u s n o r v e g ic u s , pode-se supor que seja uma conseqüência do período epidêm ico, sendo esse m urídeo apenas um hospedeiro aciden­ tal, como podem ser o cão e o homem doen­ tes.

O conceito de L T A , como zoonose de animais silvestres, tem perm itido que as investigações se concentrem em áreas flores­ tais e, poucas vezes, em roedores de am bien­ te peridom iciliar. Asstm, se observa desde a época de B ru m p t & Pedroso7 e B ru m p t6 , que examinando animais silvestres encontra­ ram 2 cotias, D a s y p r o c t a a g o u t i , com úlceras semelhantes às de L T A , porém não conse­ guindo evidenciar o parasita. Nas Hondruas B r itâ n ic a s , L a in s o n & S tra ng w ays- D ixo n 21' 22 isolaram L . m e x ic a n a em 8 O t o t y l o m y s p h y l l o t i s , em 6 H e t e r o m y s d e s m a r e s t ia n u s e em 1 N o c t o m y s s u m i-c h r a s ti . Disney9 descreveu a infecção natural em O t o t y l o m y s p h y l l o t i s g u a te m a le e em H e t e r o m y s d e s m a r e s tia n u s . N o Panamá, Her- rer, Christensen & Beumer19, durante um período de 7 anos, registraram infecção por L e is h m a n ia sp. em 192 m am íferos exam i­ nados, sendo considerados os principais reser­ vatórios da L . b r a z ilie n s is os da espécie C h o lo e p u s h o f f m a n n i , com 67 animais posi­ tivos; da L . m e x ic a n a a espécie O r y z o m y s c a p it o , com 14 positivos e da L . h e r t i g a

espécie C o e n d o u r o t s h c h i l d i , com 92 exem­ plares infectados. Em T rin ida d, Indias O ci­ dentais, Tikasingh30 isolou L e is h m a n ia sp. de 92 O r y z o m y s c a p it o , sendo também encon­ tradas infectadas as espécies M a r m o s a m i t i s , M a r m o s a fu s c a t a , C a lu r o m y s p h i l a n d e r e H e t e r o m y s a n o m a lo u s . Na Venezuela, Ker- del-Vegas & Essenfeld-Yahr20 isolaram L e is h m a n ia sp. em Z y g o d o n t o m y s m ic r o -t i n u s ; P o n s 2 9 em P h y llo s t o m u s h a s ta tu s , e Torrealba, Gómez-Núnez & U llo a 31 descre­ veram a infecção em H e t e r o m y s a n o m a lo u s . No Brasil as investigações são sobretudo decorrentes de estudos em São Pau‘o e na Am azônia. Em São Paulo, os principais reser­ vatórios silvestres foram descritos por Fo- ra ttin i10 . As espécies encontradas infectadas foram : D a s y p r o c ta a z a r a e , K a n n a b a t e o m v s

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AinH-Julho-D ezem bro, 1981

Rev. Soc. Bras. Med. T rop.

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Paulo, F o ra ttin i & cols.11' 12 isolaram L e is h m a n ia sp., com características de cepa de evolução "le n ta " (Com plexo L . b r a z i-lie n s is ) nas espécies A k o d o n a r v ic u lo id e s , O r y z o m y s n ig r ip e s e O r y z o m y s c a p it o la t i-c e p s . Mais recentemente, no m unicípio de Sete Lagoas, MG, Neves & cols.28 isolaram o parasita, com características do Complexo b r a z ilie n s is , em 1 exemplar de O r y z o m y s c o n c o io r . A Amazônia caracteriza-se por apresentar m aior número de espécies descri­ tas como reservatórios de L T A . Guimarães, Azevedo & Damasceno17 nas matas de Utinga, no Pará, isolaram L e is h m a n ia sp. de 32 O r y z o m y s g o e ld ii. Trabalhando na mesma área, Lainson & Shaw23 descrevem a infec­ ção em 16 O r y z o m y s c a p it o . No Baixo A m a­ zonas e no Estado de Mato Grosso, Lainson & Shaw24' 25 isolaram L e is h m a n ia sp, em M a r m o s a m u r in a , em O r y z o m y s c a p it o , O r y z o m y s c o n c o io r , O r y z o m y s sp. ( Marco- n e lli? ), N e a c o m y s s p in o s u s e N e c t o m y s s q u a m ip e s .

Como se observa na Tabela I outros exemplasres da área de estudo poderiam estar infectados, haja vista que exemplares do mesmo gênero já foram descritos como reservatórios naturais de L T A , em trabalhos anteriores. Entretanto, o critério m etodoló­ gico talvez tenha prejudicado uma maior avaliação das espécies encontradas na área.

As inoculações de macerado de lesão dos roedores em hamsters, consideradas por Lain­ son & Shaw26 e mais recentemente por Dias8 como um m étodo eficiente para o iso­ lamento da L e is h m a n ia sp., foram negativas quando aplicadas na Praia Vermelha. A po­ breza parasitária das lesões dos roedores, também observada no homem e no cão, ta l­ vez fosse um dos m otivos para o resultado negativo, ou seja, o pequeno inóculo de amastigotas talvez não tivesse perm itido o surgim ento da doença nos hamsters inocu- lados.

CONCLUSÕES

1. Entre 203 animais silvestres e comen­ sais, examinados na Praia Vermelha, 2 P r o e c h im y s d i m i d i a t u s e 1 R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s apresentaram alterações de pele positivas para L e is h m a n ia sp.

2. A presença da infecção nos 2 exem­ plares da espécie P r o e c h im y s d im i d i a t u s

confirm a a ocorrência de um ciclo silvestre da doença na área.

3. As lesões dos exemplares de P r o e c h i­ m y s d im i d i a t u s caracterizaram-se pela loca­ lização nas orelhas, hipocromia ou despig- mentação, assemelhando-se às lesões de moe­ dores de outras-áreas de L T A do continente americano.

4. A presença de L e is h m a n ia sp, na espé­ cie R a t t u s n o r v e g ic u s n o r v e g ic u s talvez possa explicar a transmissão da doença em ambien­ te dom iciliar.

5. Os roedores infectados apresentaram lesões pauciparasitárias não sendo possível o isolamento do parasita em animais de labora­ tó rio .

SU M M A R Y

O f t h e 2 0 3 d o m e s t ic a n d w i ld a n im a is e x a m in e d i n P ra ia V e r m e lh a , d u r in g a s t u d y

o f a n o u t b r e a k o f m u c o c u ta n e o u s le is h m a

-n ia s is 2 c a se s o f P r o e c h im u s d im id ia t u s w e re

f o u n d w i t h h ip o c r o m i c le s io n s in th e e a r e x t r e m it ie s a n d o n e ca se o f R a t t u s n o r v e r -g ic u s w i t h a b a c k u lc e r . H i s t o p a t h o lo -g y h a s

s h o w n t h e p r e s e n c e o f Leishmania sp. in th e th r e e s p e c im e n s .

R EFER ÊNC IAS B IB LIO G R Á F IC A S

1. A L E N C A R , J. E.; PESSOA, E. P. & FO N TEN ELE, Z. F. - Infecção natural de R a t t u s r a t t u s a le x a n d r in u s por L e is h m a n ia (provavelmente L . b r a z i­ lie n s is ) em zona endêmica de leishma-

niose tegumentar do Estado do Ceará, Brasil. R e v . In s t. M e d . T ro p . S. P a u lo , 2 : 347-348, 1960.

2. A R A Ú JO FILH O , N. A . de - Epide- miologia da Leishmaniose Tegumentar Americana na Ilha Grande, Rio de Janeiro - estudos sobre a infecção humana, reservatórios e transmissores. Tese de Mestrado, Pós-graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias. Fac. Med. da UFRJ, Rio de Janeiro, 148 p., 1978.

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Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

Vol. XIV - N?s 4 - 6

Teg u m en tar A m ericana na Ilha G ran d e, Rio de Janeiro. Cong. Soc. Bras. M ed. T ro p ., 1 5 ° , Cam pinas (S P ), 1 9 7 9 .

4. A R A Ú J O F IL H O , N . A de; W A N K E , B.; C O U T IN H O , S .G . & C O U R A , J . R. - S u rto de leishm aniose teg um e n ta r na Ilh a G rande. In Cong. Soc. Bras. M ed . T ro p ., 1 2 9 , B elém , 1 9 7 6 .

5 . B A R B O S A , F . S.; M E L L O , D . A . & C O U R A , J. R . — N o ta sobre a infecção natural de roedores por L e is h m a n ia sp.

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