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Leishmaniose tegumentar americana na Ilha Grande, Rio de Janeiro: IV. reservatórios doméstios.

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Academic year: 2017

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LE IS H M A N IO S E T E G U M E N T A R A M E R IC A N A NA IL H A G RA ND E ,

R IO DE JA N E IR O . IV . R E S E R V A T Ó R IO S DO M ÉSTIO S (*)

Nelson A . d e A ra ú jo F ilh o * * J. Ro drig u es C o u r a * * * V e ra L ú cia L op es R e i s * * * *

D u r a n t e u m s u r t o d e L e i s h m a n i o s e T e g u m e m a r A m e r i c a n a ( L T A ) n a H r a ia V e r m e l h a , I l h a G r a n d e , m u n i c í p i o d e A n g r a d o s R e is , R J , d u r a n t e o a n o d e 1 9 7 6 , o s a u t o r e s e x a m i n a r a m 6 4 a n i m a i s d o m é s t i c o s s e n d o 3 8 c ã e s e 2 8 g a t o s . N o s 3 8 c ã e s e x a m i n a d o s , c o n s t a t o u - s e , a t r a v é s d e e x a m e s h i s t o p a t o l ú g i c o s , i n f e c ç ã o n a t u r a l p e l a L e i s h m a n i o s e T e g u m e n t a r A m e r i c a n a e m 4 ( 1 0 , 5 2 % ) c ã e s q u e a p r e s e n t a v a m ú l c e r a s c o m in v a s ã o d e m u c o s a s l o c a l i z a d a s n o f o c i n h o .

IN T R O D U Ç Ã O

O s p rim e ir o s e s tu d o s s o b re a L e is h m a ­ niose T e g u m e n ta r A m e ric a n a ( L T A ) em a n i­ m a is d o m é s tic o s ,' no E s ta d o d o R io d e J a n e iro , f o r a m re a liz a d o s p o r G u im a rã e s 9 q u a n d o re g is tro u a o c o rrê n c ia d e u m su rto dessa p ro to z o o s e n o m u n ic íp io d e M a g é . Na o c a s iã o , e x a m in a n d o 2 3 cães e 1 5 g a to s s u s p e ito u d a e x is tê n c ia d a m o lé s tia e m u m cã o c o m lesões d e o re lh a p o ré m os re s u lta ­ d o s d o s e x a m e s fo r a m n e g a tiv o s p ara a d o e n ç a .

P o s te rio rm e n te , em 1 9 7 4 , d u r a n te o u tr a e p id e m ia d e L T A , nesse m e s m o E s ta d o , o c o rrid a e m J a c a re p a g u á , e x a m in a ra m -s e 1 0 cães c o m lesões c u tâ n e a s sendo ta m b é m os re s u lta d o s n e g a tiv o s p a ra a pesquisa d e p a ra ­ sitas ( F I O C R U Z 8)

O s re s e rv a tó rio s d o m é s tic o s da L T A co n s ­ t it u e m a tu a lm e n te u m im p o r ta n te c a m p o a ser in v es tig ad o nas e p id e m ia s q u e fr e q ü e n te ­

m e n te v ê m o c o rre n d o n o E s ta d o d o R io d e J a n e iro , p rin c ip a lm e n te p o r q u e essa d o e n ç a há m u ito d e ix o u d e ser e s s e n c ia lm e n te silves­ tre .

O p re s e n te tra b a lh o re s u lta d e in ves tig a­ çã o re a liz a d a e m a n im a is d o m é s tic o s d u r a n te u m su rto d e L T A na P ra ia V e r m e lh a , Ilh a G ra n d e , m u n ic íp io d e A n g ra d o s R e is , R io d e J a n e iro , o n d e a d o e n ç a as su m e c a ra c te rís ­ tic a d e tra n s m is s ã o p e ri o u in tr a d o m ic ilia r

(A r a ú jo F ilh o & C o u ra 2 ).

M E T O D O L O G IA

A lo c a lid a d e d e P ra ia V e r m e lh a fic a situ a­ d a a N o ro e s te d a Ilh a G ra n d e ( R J ) . O s d ad o s s o b re a g e o g ra fia d a áre a fo r a m d e s c rito s em tra b a lh o a n te r io r p o r A r a ú jo F ilh o 1

Pa ra este e s tu d o to r a m v is ita d o s to d o s os d o m ic ílio s d a á re a , ca d a s tra n d o -s e os a n im a is d o m é s tic o s e x is te n te s e re g is tran d o -s e os se­ g u in te s d a d o s : d a ta d a v is ita , respon sável

* T r a b a l h o d o D e p a r t a m e n t o d e M e d i c i n a P r e v e n t i v a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r or e a l i z a d o c o m o a u x í l i o f i n a n c e i r o d o C N P q .

* " D o c e n t e d a U n i v e r s i d a d e d o A m a z o n a s . M e s t r e e m D o e n ç a s In f e c c i o s a s e P a r a s it á r i a s p e l a U n iv e r s id a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o .

* * 'P r o f e s s o r T i t u l a r d o D e p a r t a m e n t o d e M e d i c i n a P r e v e n t i v a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e ir o . * * * “P r o f e s s o r a a s s is t e n t e d o D e p a r t a m e n t o d e D e r m a t o l o g i a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o .

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64

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

V o l .

XIV - N?s 4 - 6

pelo an im a l, espécie e no m e d o a n im a l, código in d iv id u a l, idade, sexo, local de nasci­ m ento, te m p o d e residência na área, pro ce ­ dência, tip o de lesão e h is tó ria c lín ic a da mesma.

Os exames do s an im a is fo ra m realizados d u ra n te o mês d e o u tu b ro de 19 7 6 . Os anim ais eram levados ao la b o ra tó rio , m o n ta ­ do na área de estudo, pre via m e n te a c o rre n ta ­ dos e am ordaçados. Para q u e adorm ecessem , embebia-se um chum aço de algodão em c lo ro fó rm io , in tro d u z id o em um saco plás­ tic o , aplicando-se o mesmo na cabeça do anim al. E n q u a n to o an im a l estava a d o rm e c i­ d o efetuava-se a b ió p ; no local suspeito, utilizan do -se um " p u n c h " de 4 m m de d iâ ­ m etro.

Em to d o s os anim ais se fazia um exam e ectoscópico, e, som ente naqueles q u e apre­ sentaram alterações no te g u m e n to , com o ulcerações, nó du los, h ip o cro m ia s extensas e outras, fo ra m realizadas biópsias, aposição em lâm ina (4 lâm inas p o r a n im a l), h is to p a to - logia corada pelas técnicas de H e m a to x ilin a - eosina, Giemsa e PAS, e fin a lm e n te , in ocu la- ção em fo c in h o e pata d e 2 a 3 ham sters. As técnicas d e colora ção, in ocu laçã o e e^am e do m aterial são as descritas p o r Lainson & Shaw1 3 .

R E S U L T A D O S

Em um to ta l d e 6 4 an im a is do m é stico s cadastrados e exam inados na área de estu do, 38 eram cães e 2 6 ga tos (Tabela I).

D os cães, 6 apresentavam lesões no te g u ­ m en to , sendo q u e em 4 fo ra m en co n tra d o s corpúsculos com fo rm a s am astigotas da

L e is h m a n ia sp. E m um gato co m lesão

suspeita o resu ltad o d o s exames f o i negativo.

A s lesões en con tra da s fo ra m : úlcera de fo c in h o (5 cães) e lesões crostosas nas o relhas (1 cão ). 0 ú n ic o ga to co m lesão suspeita apresentava uma úlcera na região cervical d ire ita (Tabela II).

Os resu ltad os das provas la b o ra to ria is para com p rova ção d iag nostica fo ra m os seguintes:

a. Pesquisa pela té cn ica d e aposição em lâm inas (4 lâm inas po r a n im a l), to ta liz a n d o 2 8 lâm inas negativas;

b. In o cula ção em ham ster (3 ham sters po r a n im a l). Esta té cn ica f o i adotada em 6 an im a is co m lesão suspeita. D o s 18 ham sters in o cu la d o s e sa crifica d o s após 1 ano de observação, apenas um , in o cu la d o co m o m a te ria l d o cão n ° 3, a p rese ntou área de pelada no fo c in h o . E n tre ta n to , não se pô de d ia g n o stica r esse achado p o r haver o c o rrid o um d e fe ito té c n ic o com as lâm inas. O exam e das vísceras (fíg a d o e baço) de to d o s os an im a is in ocu lad os m ostrou-se negativo;

c. H is to p a to lo g ia — p e rm itiu o diag nós­ tic o d e presença d e fo rm a s am astigotas de L e is h m a n ia sp. e e stru tu ra s co m p a tív e is com a doença em 4 cães. A h is to p a to lo g ia m os­ tr o u 4 an im ais p o s itiv o s e nos 3 negativos as seguintes estrutu ras:

A N I M A I S P O S IT I V O S :

Na e p id e rm e : ulceração em 3 an im a is; áreas de hiperceratose com acantose e áreas de ulceração e p id é rm ica em 1 a n im a l.

Na d e rm e: p re d o m in o u a fo rm a ç ã o granu- lom atosa com h is tió c ito s , p la s m ó c ito s e cé lu ­ las gigantes m u ltin u cle a d a s, tip o Langhans, nos cães n9 1, 2 e 3; o c o rre u ta m b é m clareira e p ite lió id e no cão n9 1; processo g ra n u lo m a to so a tin g in d o a c a rtila g e m no cão n9 3; e no cão n9 5 o c o rre u processo in fla

-T A B E L A I

Infecção n a tu ra l em an im a is d o m é stico s exa m in a d o s na lo ca lid a d e d e Praia V erm e lh a, Ilha G rande, m u n ic íp io d e A n g ra d o s Reis, RJ — 1 9 7 6

NO M E

V U L G A R ESPÉCIES

E X A M I­ N A D O S

L E S Ã O S U S P E I T A

N? %

P O S I T I V O S

N<? %

Cão C a n is f a m il ia r i s ,

Linnaeus, 17 58

38 6 15 ,7 8 4 1 0 ,5 2

Gato F e lis c a t t u s d o m e s t ic u s , Linnaeus, 1 7 5 8

26 1 3 ,8 4

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Jiilho-Dezembro, 1981

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

165

T A B E L A II

T ip o e localização de lesões em a n im a is d o m é s tic o s de a co rdo com a h is to p a to lo g ia , na lo ca lid a d e d e Praia V e rm e lh a , Ilh a G rande,

m u n ic íp io de A n g ra do s Reis, RJ — 1976.

A N IM A L C Ó D IG O T IP O DE LE S Ã O L O C A L H IS T O P A T O L O G IA

Cão 1 U lcerada F o c in h o Positiva

Cão 2 Ulcerada F o c in h o Positiva

Cão 3 Ulcerada F o c in h o Positiva

Cão 4 Ulcerada F o c in h o Negativa

Cão 5 Ulcerada F o c in h o P ositiva

Cão 27 Crostosa O relhas Negativa

G ato 2 9 Ulcerada Dorso Negativa

m a tó rio peri-vascular e p e ri-a n e xia l lin fo p la s- m o c itá rio . A s lesões caracterizaram -se pela pobreza pa rasitá ria, sendo o pa rasitism o sem­ pre d é rm ic o , d e n tro o u fo ra d e hisciócito s, estes com c ito p la sm a m ais o u m enos va cu o li- zados (Figs. 1 e 2).

A N IM A IS N E G A T IV O S :

E m d o is an im a is (cão n9 27 e g a to n9 29) o c o rre u processo in fla m a tó rio subagudo com num erosas bactérias. N o a n im a l n9 4, com lesão d e fo c in h o fo rte m e n te suspeita, ober- vou-se a fo rm a ç ã o g ra n u lo m a to sa , às custas de p la sm ó cito s, lin fó c ito s e células gigantes m u lti-n u cle a d a s.

A h is tó ria c lín ic a d o s 4 a n im a is com lesões p o sitiva s apresentava o s seguintes d a ­ dos:

Cão n 9 1 — "F o g u e te ", 2 anos d e idade, m acho, nascido na Praia V e rm e lh a , apresen­ ta n d o úlcera rasa, localizada na narina d ire i­ ta , d e a p ro x im a d a m e n te 10 m m de d iâ m e tro , c u jo in íc io deu-se em 1 9 7 5 , encontrando-se a lesão há u m ano em a tivid a d e . No d o m ic ílio o n d e o a n im a l h a bita va, lo calizad o a 7 0 me­ tro s de a ltitu d e , havia d o is casos hum anos de

Leishm aniose T e g u m e n ta r A m ericana (Figs. 1 e 2 ).

Cão n9 2 - " J o ly " , 18 meses de idade, m acho, nascido em A ng ra d o s Reis, vindo para a Praia V e rm e lh a com 1 mês de idade, apresentava úlcera rasa no fo c in h o , com fu n d o h ip e re m ia d o , d e ap ro xim a d a m e n te

1 0 m m d e d iâ m e tro . In íc io da doença no

ano d e 1 9 7 5 , apresentando a lesão um ano d e a tiv id a d e . N o d o m ic ílio , situa do a 6 5

t-ig.

1

— " F o g u e te " — c io d o m éstic o co m lesão úlce-ro -d estru tiv a da estre m id ad e d o fo c in h o .

Flg. 2 — H is to p ato lo g ia d a lesão d e fo cin h o d o cSo

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Rev. Soc. Bras. víed. Trop.

Vol. XIV - N?s 4 - 6

m etros de a ltitu d e , en con tro u-se 1 caso hum ano d e Leishm aniose T e g u m e n ta r A m e ri­ cana, e o u tro caso, ta m b é m h u m a n o , com intra de rm orrea ção po sitiva .

CSo n1? 3 - "B o c a N e g ra ", 2 anos de idade, m acho, nascido na Praia da Longa (Ilh a G rand e), v in d o para a Praia V erm e lh a com 1 ano d e idade já apresentando lesão no fo c in h o . A o exam e c lín ic o , aprese ntou úlcera rasa na narina d ire ita com invasão de m uco- sa, de a p ro x im a d a m e n te 20 m m d e d iâ m e tro . Segundo as in fo rm a çõ e s coletadas, a doença deve te r tid o in íc io e n tre 1 9 7 4 a 19 7 5 , com mais d e 1 ano e m eio d e a tiv id a d e . Neste d o m ic ílio , situa do a 2 0 m e tro s de a ltitu d e , o co rre u 1 caso h u m a n o d e Leishm aniose T egu m en ta r A m e rica n a .

Cão n ° 5 - " T o t ó " , 2 anos d e idade, m acho, nascido em Provetá (Ilh a G ra n d e ), vin d o para a Praia V e rm e lh a no ano de 1975, apresentava lesão ulcerada com perda

de substância e invasão d e mucosa de

a p ro xim a d a m e n te 2 5 m m d e c o m p rim e n to , cuja lesão teve in íc io em 19 76 , com 2 meses em a tivid a d e . N o d o m ic ílio , a 80 m e tro s de a ltjtu d e , não o c o rre u caso da doença.

T o d o s os an im a is p o s itiv o s e negativos fo ra m m a n tid o s livres na área, não sendo fe ito tra ta m e n to o u elim in a çã o do s mesmos.

Nos an im ais p o s itiv o s as lesões entravam em um p e río d o d e regressão, chegando quase à cica trizaçã o, p o s te rio rm e n te re cid iva n d o . A recidiva da lesão deve-se, p ro va ve lm e n te , aos freqü en te s tra u m a tis m o s nas m atas d u ra n te as caçadas, o u mesmo com o conseqüência da p ró p ria doença. A p ó s as b ió p sia s o co rre u m elhora das lesões em 2 anim ais.

Seria possível qu e a o co rrê n cia das lesões tra u m á tic a s nos cães fosse provocada po r vários insetos o u o u tro s anim ais. O bser- vou-se, porém , d u ra n te as investigações, so­ m ente a ação d e carrapatos, m orcegos hema- tófag os e fle b o to m ín e o s , sendo qu e os p r i­ m eiros p re fe ria m o do rso do s an im a is com o local de a lim e n ta çã o , e n q u a n to q u e os fle b o ­ to m ín e o s p re fe ria m o fo c in h o .

O bservou-se, aind a, a pro ced ência do s 38 cães existentes no local. Desses, 20 (52,6% ) eram naturais da Praia V e rm e lh a ; 9 (23,5% ) eram o riu n d o s d e o u tro s povoados da Ilha G rande; 9 (23,5% ) de o u tro s locais com o A ngra dos Reis e P ara ti, RJ, bem com o de o u tro s locais mais dista n te s, co m o São João do M e riti (R J) e S antos (SP).

D IS C U S S Ã O

N os 6 4 an im ais d o m é stico s exa m in ado s, apenas 4 cães encontravam -se in fe c ta d o s com fo rm a s am a stigo ta s d o gênero L e is h m a n ia . Esse achado em se re p e tin d o na m a io ria das investigações no C o n tin e n te A m e ric a n o , > nde esse a n im a l d o m é s tic o é fre q ü e n te m e n te en­ c o n tra d o in fe c ta d o nas áreas o n d e o c o rre m casos hum anos d e L T A . A ssim , P ed roso1 6 , no Estado d e São Paulo, f o i o p rim e iro investigador a c o n firm a r o d ia g n ó s tic o da doença no cão. P o ste rio rm e n te , no mesmo E stado, B ru m p t & P edroso3 , P edroso1 7 , Fo- r a ttin i & S antos7 , no Ceará, Deane & Dea- ne4 e, em M inas G erais, D ias5 , ta m b é m evide ncia ram a in fe cção no cão.

Em o u tro s países d o C o n tin e n te A m e ric a ­ no, a in fe cção n a tu ra l em cães é ta m b é m c o n sta n te m e n te assinalada, p rin c ip a lm e n te naqueles países o n d e a L T A vem se m a n te n ­ d o endêm ica d u ra n te m u ito s anos, com o na A rg e n tin a , segundo os achados d e M azza1 4 , Mazza (1 9 2 7 , ap ud F o r a ttin i6 ) e R om aria & cols.2 1 ; no Peru, segundo H e rre r1 0 ; na V en e­ zuela, d e a co rd o com os da do s de P ifa n o 19 e Pons2 0 ; e no Panam á, H e rre r & C h risten - sen1 1 ' 12

A pro cura d e o u tro s a n im a is d o m é stico s com L T A vem sendo desenvolvida po r alguns pesquisadores. N o B ra sil, nos tra b a lb o s de A le n c a r (1 9 5 9 , ap ud F o r a ttin i6') f o i c o n fir­ mada a doença em um ju m e n to . Em o u tro s d o is países d o C o n tin e n te S ul A m e ric a n o , a L T A ta m b é m f o i diag nostica da em eqüinos, com o na A rg e n tin a , o n d e Mazza (1 9 2 7 , apud F o r a ttin i6 ) descreve a doença em um cavalo; e na V en ezu ela , Pons20 a d ia g n o stica em ju m e n to s . A in d a no B rasil, no Estado do Pará, M e llo 15 descreve a in fe cção n a tu ra l em g a to , sendo este o ú n ic o achado registrado

na lite ra tu ra m édica con sulta da .

A investigação nos 3 4 ga tos da Praia V e rm e lh a re s u lto u em apenas 1 a n im a l en­ c o n tra d o com úlcera, não sendo po ssível, no e n ta n to , d e te c ta r a natureza da lesão.

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Po-Julhõ-Oezembro, 1981

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

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de-se con sid erar a ta xa d e m ais d e 10% en con tra da na po pu laçã o canina da Praia V e rm e lh a , uma ta xa m u ito elevada, p rin c ip a l­ m e n te p o rq u e fo ra m e n co n tra d o s 6 cães com lesões suspeitas e, destes, 4 (66% ) com d ia g n ó s tic o c o n firm a d o . Esta a firm a tiv a ba­ seia-se nos achados d e vários autores, com o f & S an tos7 qu e, em BA cães, e n c o n ­ tra ra m 3 4 an im ais com alteração do tegu- m e n to , e apenas 2 se apresentando suspeitos e 1 p o s itiv o e Diass que, em 3 5 5 cães exam inados, e n c o n tro u 26 an im ais com tegu- m e n to a lte ra d o e, destes, 11 p o sitivo s. Fora d o B rasil H e rre r1 0 , no Peru, e n c o n tro u , e n tre 5 1 3 cães, 4 6 com infecção; Pons20 e n c o n tro u , na V enezuela, en tre 10 cães uma ta xa d e 50% de p o sitivo s; e no Panamá, H e rrer & C h risten sen12 e n co n tra ra m , e n tre 3 3 3 cães exam inados, 11 (3,3% ) anim ais p o sitivo s, sendo isolada po r c u ltu ra , em 9 desses anim ais, a L . b r a x ilie n s is .

A s lesões clín ica s dos cães da Praia V e r­ m elha com p re d o m in â n cia de úlcera de fo c i­ n h o em to d o s eles, são um aspecto c lín ic o observado p o r vários autores citad os, m u ito s deles descrendo invasão da mucosa nasal. A invasão de mucosa nasal f o i observada, neste tra b a lh o , nos cães nú m ero 3 e 5 e, em v irtu d e d o aco m p a n h a m e n to desses casos na p ró p ria área de estu do, observou-se que o c o m p ro m e tim e n to da mucosa nasal nesses an im a is é secundária às lesões in icia is do fo c in h o , e a invasão da mucosa o c o rre por co n tig u id a d e , de fo rm a gradual, d e s tru in d o o te c id o v iz in h o . N o cão de n ú m ero 3, a presença de gra nu lom a a tin g in d o a cartilagem torna -se um aspecto interessante, d e m o n s­ tra n d o que, ta n to no hom em q u a n to no cão, esse te c id o pode ser d e s tru íd o , com o o co rre na espúndia. Pons2 0 , na V enezuela, assinala ta m b é m uma lesão m u tila n te de fo c in h o , em um cão, com intenso c o m p ro m e tim e n to de cartilagem .

A s cara cte rísticas h isto p a to ló g ica s dos cães da Praia V e rm e lh a , com p re do m inâ ncia da fo rm a çã o gra nu lom a to sa, são sem elhantes aos achados h isto pato lógicos dos casos hum a­ nos de L T A da mesma área de estudo, p a rtic u la rm e n te naqueles casos hum anos de evolução prolo nga da . O pequeno n ú m ero de

p a r a s ita s nas lesões desses cães ta m b é m é

uma cara cte rística id ê n tica às das lesões teg um en ta res h u m a n a s ,(A ra ú jo F ilh o 1 )- Essas cara cte rísticas paucipara sitárias das lesões desses an im ais fo ra m razões suficien te s para

que Pessoa & B a rre to 18 e F o ra ttin i & San­ to s 7 registrassem, em seus traba lh os, o papel

secundário dos cães co m o reservatórios de L T A em áreas endêm icas.

A associação de cães e pessoas doentes de L T A em um mesmo d o m ic ílio fo i observada com os an im a is de nú m ero 1, 2 e 3. Esse aspecto f o i re fo n d o ta m b é m por Pedroso1 6 , Pifa n o 1 9 , H e rre r1 0 , Rom ana & cols.21 e Pons2 0 . A s cara cte rísticas epidem iológicas, desse m esm o tip o de associação, m ostram q u e os m ecanism os d e transm issão da doença desenvolvem -se, p rin c ip a lm e n te , sobre os ele­

m entos q u e co a b ita m no am b ie n te fa m ilia r. O pe rcen tu al elevado de cães procedentes de o u tro s locais d e m o n stra qu e anim ais doentes podem te r pe netrado na área de estudo, assim co m o podem ser levados a o u tro s p o n to s geográficos da ilha ou fora dela.

N o B rasil, as investigações sobre L T A visam exclusiva m en te aos cães com alterações m acroscópicas do te g u m e n to . E n tre ta n to , sa­ be-se qu e na região de U ta , no Peru, o cão é considerado o p rin c ip a l rese rvatório da d o e n ­ ça, e a grande m aioria desses anim ais, com o descreve H e rre r1 0 , não apresenta o teg um en­ to a lte ra d o . D a í a im p o rtâ n c ia de se estudar os anim ais ap are n te m e n te sadios, p rin c ip a l­

m ente nos fo c o s da região Sudeste brasileira, onde a doença apresenta cara cte rísticas de •transm issão d o m ic ilia r, só assim então, po­

dendo-se a firm a r a verdadeira im p o rtâ n c ia da população canina na h istó ria n a tu ra l da L T A nessa região.

C o m o uma das m edidas p ro filá tic a s para c o n tro le da L T A na Praia V erm e lh a pode ser preconizada a e lim in a çã o d o s cães doentes da área. Esses an im a is m antêm a doença por longos pe río do s, com recidivas freqü en te s, e a tu am com o fo n te de atração para os fle b o - to m ín e o s , além d e se po de r a te ntar para o deslo cam en to desses an im ais por to d a a ilha, assim com o para o u tra s áreas.

C O N C LU S Õ E S

1. E n tre 6 4 an im ais do m éstico s exam ina­ dos, (38 cães e 26 gatos) 6 cães e 1 gato apresentaram lesões suspeitas de L T A ; 4 cães apresentaram lesões de fo c in h o positivas para L e is h m a n ia sp.

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Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

Vo!. XIV - N?s 4 - 6

nho, fo rm a ulcerada re c id iv a n te , invasão da mucosa nasal a tin g in d o a c a rtila g e m e p o ­ breza parasitária.

3. H o uve uma associação e n tre a presença de pessoas e cães d o e n te s de L T A em um m esm o d o m ic ílio .

4. Os cães da área d e estudo se in fe cta m pro vave lm en te no a m b ie n te d o m ic ilia r em conseqüência da a tiv id a d e hem atofágica dos vetores nesse am b ie n te .

5. O s cães d o e n te s podem carrear a L T A para áreas assim com o po de m pe n e tra r na área de estudo já te n d o a d q u irid o a infecção.

S U M M A R Y

D u r í n g a n o u t b r e a k o f m u c o c u t a n e o u s

le is h m a n ia s is i n t h e y e a r o f 1 9 7 6 , t h e a u t h o r s

e x a m in e d 6 4 d o m e s t ic a n im a is o f w h ic h 3 8 w e r e d o g s a n d 2 8 w e r e c a ts . O u t o f t h e 3 8 d o g s t h a t w e r e e x a m in e d t h e y f o u n d , t h r o u g h h i s t o p a t h o l o g i c s te s ts , n a t u r a l in f e c

-t i o n b y m u c o c u -t a n e o u s le is h m a n ia s is i n f o u r o f t h e m ( 1 0 . 5 2 % ) w h ic h p r e s e n t u lc e r s w i t h in v a s io n o f t h e m u z z le s 'm u c o s a s .

R E F E R Ê N C IA S B I BL I O G R Á F I C A S

1. A R A Ú J O F IL H O , N .A . de - E p id e m io - logia da Leishm aniose T e g u m e n ta r A m e ­ ricana na Ilh a G rande, R io de Ja n e iro — estudos sobre a in fe cção hum ana, reser­ va tó rio s e transm issores. Tese de Mes­ tra d o , Pós-graduação em Doenças In fe c ­ ciosas e Parasitárias. Fac. M ed. da U F R J , R io de Ja n e iro , 17 8 p, 1978.

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9. G U IM A R Ã E S , F. N E R Y - E stu d o de um fo c o de leishm aniose m uco -cutân ea na ba ixa da flu m in e n s e estado d o R io de Jan eiro. M e m . I n s t . O s w a ld o C r u z , 5 3 : 1 -1 1 ,1 9 5 5 .

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Julho-Dezembro, 1981

Rev. Soc. Bras. Med. Trop.

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A g rade cim en to s:

Referências

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