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A Fogueira do conhecimento: religação de saberes e formação

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Academic year: 2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Cent ro de Ciências Sociais Aplicadas

Program a de Pós- graduação em Educação

Núcleo de Est udos e Pesquisa em Educação, Ciência e Tecnologia Grupo de Est udos da Com plexidade

A Fogueira do Conhecimento:

religação de saberes e formação

M aria de Fát im a Araúj o

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M a r ia de Fá t im a Ar a ú j o

A Fogueira do Conhecimento:

religação de saberes e formação

Dissertação apresentada com o requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, j unt o ao Program a de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Nort e, sob a orient ação da Professora Dra. Maria da Conceição Xavier de Alm eida.

N at al/ RN

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Divisão de Serviços Técnicos

Araújo, Maria de Fátima.

A fogueira do conhecimento: religação de saberes e formação. / Maria de Fátima Araújo. – Natal, 2005.

155 p. il.

Orientadora: Profª. Drª. Maria da Conceição Xavier de Almeida.

Dissertação (Graduação em Pedagogia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Educação.

1. Educação – Tese. 2. Educador - Tese. 3. Formação – Tese. 4. Conhecimento – Tese. 5. Professor – Tese. I. Almeida, Maria da Conceição Xavier de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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Banca Exam inadora

_______________________________________________________ Dra. Maria da Conceição Xavier de Alm eida ( UFRN)

( Orient adora)

Dr. Elizeu Clem ent ino de Souza ( UNEB) ( Exam inador Externo)

Dra.Wani Fernandes Pereira ( UFRN) ( Exam inador I nt erno)

_______________________________________________________ Dr. José Willingt on Germ ano ( UFRN)

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Um a idéia que não é perigosa não é de t odo um a idéia. Osca r W ilde .

Brincar é condição fundam ental para ser sério. Ar qu im e de s.

Segurar um a canet a é est ar em guerra. Volt a ir e .

Fecho m eus olhos para ver. Pa u l Ga u gu in .

Não sou daqueles que t êm um a carreira, m as dos que t êm um a vida. Edga r M or in .

I nvent ar um a nova form a de discurso parece, pois, exigido pela nova reflexão ética. H e n r i At la n .

Cada hom em carrega a form a int eira da condição hum ana. M on t a ign e .

O hom em com põe- se do que t em e do que lhe falt a. Or t e ga y Ga sse t.

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Agradecim ent os

A seu Ant onio, m est re soberano que com sua sim plicidade e sapiência prom oveu a m inha inserção no m undo da lit erat ura e do conhecim ent o. O rest o eu aprendi depois.

A Ceiça, grande borbolet a polinizadora de nossas idéias que m e aj udou a t rilhar o cam inho de volta para m im m esm a e enxergar nas m inhas experiências, a m at riz de referência para a escrit a dessa dissert ação.

A Wani, co- part ícipe dessa dissert ação, lendo am orosam ent e m eu t ext o e cont ribuindo com suas idéias.

Aos m eus avós, Júlia e Manoel que desde cedo m e ensinaram com seus exem plos de vida, o sent ido pleno do am or, da felicidade e da ét ica.

Aos m eus pais Wilson e Maria que nunca descuidaram da t arefa de nos educar: a m im e a m eus set e irm ãos.

Aos professores da Pós- graduação em Educação pelas suas contribuições no cam po teórico e prático.

Aos colegas da pós- graduação em educação pelas trocas enriquecedoras e pelo sent im ent o de solidariedade e com panheirism o nos m om ent os de sucesso e de fragilidade.

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Aos professores- narradores que cont ribuíram com suas narrat ivas de form ação.

A Alm ira Navarro pela revisão cuidadosa. A Luzia, Vera, Rej ane e Ana Lúcia Aragão, pelo apoio e carinho dispensados na hora certa.

A Dj akson Rocha, pelo apoio t erapêut ico cont ribuindo e fort alecendo- m e nessa j ornada de aut oconhecim ent o.

A m eus irm ãos, m eus sobrinhos, m eu filho e m eus am igos, pela ausência nem sem pre com preendida, m as necessária nesse processo.

A m eu prim o Genilson, pelo apoio afet ivo e t écnico na apresentação final do t ext o.

Aos que acredit am que a poesia abre j anelas para o m undo.

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Resum o

As narrativas sobre experiências de vida se const it uem em aprendizagens significat ivas no processo de autoform ação dos educadores. A form ação é um fenôm eno que ext rapola o âm bit o escolar, incluindo as experiências que servem de m at riz para a const rução de conhecim ent o ao longo da vida. Dessa perspectiva, “ o conhecim ent o de si” , t al com o propost o por SOUZA, NÓVOA e JOSSO, é a noção cent ral em t orno da qual de desenvolve est a dissert ação. A pesquisa t em com o foco principal t ranspor para a realidade dos professores o exercício reflexivo de sua docência, m ediante a redescoberta de suas vivências através de hist órias de si que, pot encializadas, pode t ransform ar suas prát icas em sala de aula. Tom o com o pont o de part ida m inhas próprias experiências com o educadora, assum indo a convicção da indissociação entre suj eito e obj eto do conhecim ent o, com o propõe Edgar Morin para falar da ciência da com plexidade. Lanço m ão t am bém das narrativas de form ação de seis professores da rede pública de ensino, reveladoras da construção de conhecim ent o paut ada na coerência do fazer pedagógico com seu m odo de com preender e sent ir o m undo. As obras Meus Dem ônios de Edgar Morin, O Tem po e EU de Luís da Câm ara Cascudo e O Banquet e dos Deuses de Daniel Munduruku, alargam o escopo das narrativas de experiências que se const it uem em m atrizes dos processos de form ação. O trabalho com narrativas de form ação dem onst ra que, a part ir da reflexão do suj eit o sobre sua própria experiência, é possível proj etar novas configurações do conhecim ent o com base na religação ent re vida, idéias e prát icas pedagógicas. A part ir da m et áfora da fogueira é possível com preender a força da com bustão das experiências de vida na form ação docente.

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Resum é

Les récits sur les expériences de vie se const it uent en apprent issages signifiant s dans le processus d´ aut o- form at ion des éducat eurs. La form at ion est un phenom ène qui ext rapôle l’am biance scolaire, incluant les expériences qui servent de m at rice pour la const ruct ion de la connaissance au long de la vie. Dans cet t e perspect ive, «la connaissance de soi», t elle quelle proposée par SOUZA, NOVOA et JOSSO, est la not ion cent rale au t our de laquelle se développe cet t e dissert at ion. La recherche a com m e idée principale t ransposer pour la realité des professeurs l´ exercice reflexif de son enseignem ent , m édiant la redécouverte de ses expériences de vie, a travers des histoires de soi que, pot ent ialisés, peuvent t ransform er ses prat iques dans la classe scolaire. Je prends com m e point de départ m es propres expériences com m e éducat rice assum ant la convict ion de la indissociat ion ent re suj et et obj et de la connaissance, com m e propose Édgar Morin pour parler de la science de la com plexit é. Je fais aussi l´ usage des récit s de six professeurs du réseau publique de l’enseigm ent , révélat eurs de la const ruct ion de la connaissance appuyée dans la cohérence de la praxis pédagogique avec son m ode de com prendre et sent ir le m onde. Les oeuvres «Mes Dém ons» d’Édgar Morin, «O Tem po e Eu» de Luis da Câm ara Cascudo et «O Banquet e dos Deuses» de Daniel Munduruku, ont élargit le cham ps des récit s d’expériences que se const it uent en m atrices des processus de form ation. Le travail avec les récits de form at ion dém ont rent qu´ à part ir de la réflect ion du suj et sur sa propre expérience, il est possible de se proj éter des nouvelles configurat ions de la connaissance t enant com m e base, la reliaison ent re vie, idées, et prat iques pédagogiques. À part ir de la m ét aphore du bûcher il est possible de se com prendre la force de com bust ion des expériences de vie dans la form at ion des enseignant s.

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Sum ário

Fagulhas e Imagens

Preparando a Fogueira:

O suj eito em com bustão

1 2

Narrar para construir laços

Primeiras Chamas:

Narrar para construir laços

2 6

Chama Escarlate:

O conhecim ento de si

4 2

Botando lenha na fogueira:

Com partilhando experiências

5 5

Ressurgindo das cinzas:

O educador com o Fênix

1 4 0

O Lume da fogueira:

O Lume da fogueira:

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Fagulhas e I m agens

I m agem 1- Capa- Fogueira. www. olam belam be.com .br.

I m agem 2- Foto.Gerlúzia Azevedo Alves– Fogueira do DEARTE- Natal- RN, j unho/ 2005.

I m agem 3- Playing with fire. www.burwell.co.uk/ sally/ pfire.ht m.

I m agem 4- Render2.www.rent on.wednet .edu/ .../ Bot Tbl- Render2.j pg

I m agem 5- Fogueira. www.olam belam be.com .br.

I m agem 6- Cam inho.www.poem ar.com / Belour.ht m .

I m agem 7- Pim ent ões.www.nouvellesim ages.com .

I m agem 8- Bonfire- 3..www.zentropolis.com / log im ages 2004.

I m agem 9- Fogueira Junina, Vandeberg Medeiros. Nat al- RN, 2004.

I m agem 10- Adivinhando Chuva, Vandeberg Medeiros. Nat al- RN, 2004.

I m agem 11- Singularity_Cosm os.wwww.sergecar.club.fr/ cours/ theorie cours/ theorie.

I m agem 12- Brinquedo_brincadeira. www.fest ivaldebonecos.com .br/ 2001/ exposicoes.htm .

I m agem 13- Cascudo- outras fotos- 31.www.m em oriaviva.digi.com .br

I m agem 14- Brincando. Nova escola. Abril uol.com .br/ brincando.ht m .

I m agem 16- Jangadas NE –Brasil. Kátia Rocha01 www.m undoint erior. com .br/ kát ia- rocha.ht m

I m agem 17- Fada m adrinha. www celt iquefeu.blogs.sapo.pt / arquivo/ 2004.

I m agem 18- Preguiça2.www.lyceepasteur- ceb- ccslf.com .br/ faune.htm

I m agem 19- Daniel3.www.om elet e.com .br/ cinem a/ art igos/ t aina2/ 3j pg

I m agem 20- fenix.j pg . www.niwidu.org/ praca/ 4791.

I m agem 21- Fenix. www.fractalschlaraffenland.net/ gl10/ fenix.htm

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Preparando a Fogueira:

O sujeito em combustão

A fogueira acesa Pessoas cont ando histórias.

Madrugada vai.

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Estão no centro do debate contem porâneo sobre educação,

questões sobre a Reform a do sistem a Educacional, a Reform a da Educação, a Reform a do Pensam ent o e, port ant o, a reform a do ensino, na perspect iva de cont ribuir para a autoform ação do suj eito. Nest e sent ido a escola se incum be, segundo Edgar Morin, da função de “ ensinar a assum ir a condição hum ana, ensinar a viver e ensinar a se t ornar cidadão” ( Morin, 2001a, p.65) . Um a educação que prom ova a necessária Reform a do Pensam ent o deverá ter com o pressupostos o fim da fragm ent ação do conhecim ent o e a necessidade de art icular e religar saberes, exigindo um a nova post ura do suj eit o diant e do conhecim ent o. I sso im plica recusar a cisão entre a cult ura cient ifica e as hum anidades, entre saber e fazer.

Surge daí a necessidade urgente de educar os educadores, de invest ir na form ação de int elect uais abertos, capazes de refletir sobre a cult ura em sent ido m ais am plo; profissionais encoraj ados a religar suas disciplinas e invest ir em reform as curriculares capazes de rej untar nat ureza e cult ura, hom em e cosm o, const ruindo um a aprendizagem que reponha a dignidade da condição hum ana, hoj e esgarçada e com prom et ida.

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m issão, para quem o ensino deve ser encarado com o um a tarefa política por excelência e deve propiciar a form ulação de estratégias para a vida, o desenvolvim ent o de com pet ências e o dom ínio de um a t écnica e de um a art e.

A essa m esm a pergunt a, form ulada por Karl Marx, “ Quem educará os educadores?” , Gast on Pineau responde apoiando- se nos t rês ‘m est res’ de Rousseau: “ eu, os out ros e as coisas” . E quem form a o form ador? O form ador form a- se a si próprio, através de um a reflexão sobre seus percursos pessoais e profissionais que pode ser denom inado com o um processo de auto- form ação; o form ador form a- se tam bém na relação com os outros, num a aprendizagem colet iva apelando à consciência, aos sent im ent os e às em oções - a hetero- form ação; o form ador form a- se através das coisas, dos saberes t écnicos, cult urais e artísticos e da sua com preensão crítica - a eco- form ação ( Pineau apud Josso, 2004, p.16) .

(16)

Para Marie- Chrstine Josso, falar de aut oform ação não significa dizer que o suj eito aprende por si só. Não é um processo em que se prescinde do form ador. Significa um ‘cam inhar com ’ o suj eit o em form ação e aj udá- lo a reconhecer sua hum anidade singular. Em seu processo de form ação, o professor ” desenvolve um novo olhar que ultrapassa a concepção escolar de form ação, pois pode tom ar consciência da enorm e quant idade de experiências que cada um vive, de onde tira lições e aprende coisas” ( Josso, 2004, p.9) .

É a partir dessa perspectiva que t om am os aqui as narrat ivas de form ação com o operadores cognitivos capazes de reintroduzir o suj eit o no conhecim ent o, am pliando e ret roalim ent ando seus saberes a part ir da reflexão sobre as experiências que foram fundam ent ais para seu processo de form ação.

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im pessoal. Devem os, pelo cont rário, saber que é aí que a com édia t riunfa. O suj eit o que desaparece no seu discurso inst ala- se, de fat o, na t orre de cont role” ( Morin apud Alm eida, 2003, p.11- 12) .

O itinerário aqui t raçado, part e das m inhas observações e inquietações com o professora da rede pública de ensino, m inist rando aulas para crianças em processo de alfabetização e em cursos de form ação de professores. Nesta atividade, percebo o dist anciam ent o exist ente entre os conhecim entos t rabalhados e as histórias e experiências de vida dos suj eit os envolvidos. Com o conseqüência, as escolas e os tão questionados cursos de form ação para professores, vêm form ando suj eit os cada vez m ais incapazes de com preender e dialogar com o m undo, um a vez que os conhecim ent os t rabalhados est ão m uit o dist ant es de suas vidas. Pensar a educação hoj e é ult rapassar o ideário de um conhecim ent o pront o, acabado e desvinculado da vida do suj eit o. Frut o de um a especialização exacerbada, o conhecim ent o cient ífico acabou gerando a figura do especialist a. Assim , ao final da form ação oficial, cada um dom ina a sua parte e desconhece o contexto no qual est á inserida a part e que conhece.

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em form ação, um leque de possibilidades para que est e possa com preender m elhor a si m esm o e ao m undo que o cerca.

Acredit o que o papel da escola deva ser o de possibilitar um a cult ura que cont ribua para o indivíduo com preender m elhor sua condição, perm itindo- lhe ult rapassar o est ado prosaico para viver m ais int egralm ent e, m ais poet icam ent e. O papel da escola deve ser o de favorecer, com o quer Morin, “ um m odo de pensar abert o e livre” ( 2001a, p.11) .

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dissertação, em versos. Faço isso para dem onst rar que é possível, sim , ensinar poesia na escola, com o t am bém se pode escrever um t ext o cient ifico em versos, dando- lhe m ais m usicalidade e sent ido est ét ico. A dissert ação t em com o obj et ivo propor a reflexão acerca das experiências vivenciadas pelos suj eit os que são fundam ent ais para o processo de construção de seus conhecim ent os. Elas se const it uem num a m atriz para o processo de form ação, perm it indo, m ais t arde, am pliar out ros conhecim ent os. Com o se pode observar, na m inha narrat iva, t ive oport unidade de m esm o antes de ingressar na escola, vivenciar situações e conviver com pessoas com o m eus avós e Seu Ant ônio, senhor que t rabalhava na casa de m eus pais e lia versos t odas as noites após o j antar. Essa experiência influenciou m uit o a m inha vida e m eu aprendizado do m undo. A part ir das coisas que Seu Ant ônio m e apresent ou em versos, pude est abelecer relações com elem ent os do universo e da nat ureza, bem com o com sent im ent os m aiores que hoj e com preendo serem os sent im ent os do am or, da felicidade, e o sent ido da ét ica e do respeit o. Aquelas experiências, vividas no passado, m e aj udam , hoj e, a perceber a int er- relação existente entre universo-hom em / nat ureza- cult ura e m e fazem reconhecer que é im possível separá- los.

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da fogueira do conhecim ent o, com o concebo essa dissertação. Na procura dos ‘seus ant ônios’, est arei atenta a situações, fatos, acont ecim ent os e oport unidades que expressam elem ent os reordenadores da visão de m undo dos int erlocut ores que, com igo, m ant êm a com bust ão desse t rabalho- fogueira.

A pesquisa se ancora, sobret udo, nas narrativas de experiências de aprendizagens que cont ribuíram com o est rut uras prim ordiais para a form ação dos suj eitos- autores com os quais dialogo e que, aqui, assum em o lugar de narradores.

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pela professora orientadora dos referidos trabalhos, de form a aleatória e conform e as devidas autorizações dos professores.

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a const rução do Pensam ent o Com plexo no m undo. Em ‘Meus Dem ônios’ Morin narra as experiências m ais m arcant es e decisivas para sua form ação, reveladoras da im portância que t eve para o aut or, a sua inserção na cult ura das hum anidades, result ant es da sua relação com a m ort e prem at ura da m ãe, o sent im ent o de perda, a sua relação com o cinem a e a lit erat ura e com os am igos da Rua Menilm ont ant . Essa vivência subj etiva e artíst ica contribuiu para sua inserção na cult ura cient ífica, perm it indo- lhe escrever sobre quest ões e t em as de form a am pliada, cont ext ualizada, com plexa.

Tom o ainda um a narrat iva do influent e pesquisador da cult ura, o nort eriograndense Luís da Câm ara Cascudo, na qual ele cont a com o se processou seus saberes prim ordiais ( livro ‘O Tem po e EU’) . Está evidenciada em Cascudo, a im portância que t eve a sua prim eira professora e os contos fantásticos a que tinha acesso em sua casa.

Por fim , lanço m ão do livro ‘O Banquet e dos Deuses’ de Daniel Munduruku - educador e escrit or brasileiro, int egrant e do povo que t em o m esm o nom e, para ut ilizar suas experiências, em especial as vividas com seu avô Apolinário, em suas m uitas visitas à aldeia, consideras por ele com o fundadoras para seu processo de form ação.

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Ainda cont am inada pela m usicalidade dos versos de Seu Ant ônio, uso com o artifício a transform ação da prosa em poesia, convert endo em versos, parte das narrativas escritas em prosa.

Com esse t rabalho de invest igação- form ação, espero contribuir para o debate e a reflexão sobre as aprendizagens dos suj eit os a part ir de suas próprias experiências, e am pliar os estudos sobre a utilização das narrativas de form ação no âm bito da form ação dos professores. I sso será possível, na m edida em que consiga transpor para a realidade dos professores, o exercício reflexivo da docência, m ediant e a redescoberta de suas vivências através de hist órias de si. Quando pot encializadas essas hist órias podem t ransform ar suas prát icas em sala de aula, na m edida em que ident ifiquem as bases prim ordiais de suas form ações e conseqüentes im plicações no exercício da docência. Possibilitar ao professor a at ribuição de novos sent idos ao trabalho escolar e facilitar a reflexão sobre a sua própria prát ica, é um a t arefa im portante. Prom over elos ent re educação e vida, de form a a torná- las prosaica e m ais poética possibilit a a form ação de suj eit os m ais plenos e capazes de religar saberes diversos e m últiplos.

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present earem - se com narrat ivas de experiências de vida e conhecim ent o. As prim eiras Cham as anunciam o com bust ível que alim ent ará a discussão, ou sej a, as idéias que perpassam a sua const rução. A Cham a Escarlat e reanim a- se com m inhas narrat ivas de infância, prim eiras e decisivas experiências de vida. Bot ando lenha na fogueira é o tem po e o espaço para reanim ar a fogueira e convidar os narradores para, em torno dela, narrar suas experiências e com part ilhar com os dem ais present es. Nest a t arefa, assum o o lugar de narradora / m ediadora entre as narrativas e as interfaces que elas evocam com o conhecim ent o. Em Ressurgindo das cinzas, faço um a proposição de cont inuidade dessa at ividade pelos educadores, por conceber o inacabam ent o do conhecim ent o, em especial no t rabalho com o conhecim ent o de si, saber que não se esgot a nunca, sendo im possível e arrogant e arriscar qualquer t ipo de conclusão. Por últ im o, O lum e da fogueira anuncia os ilum inadores das idéias a partir das quais se est rut ura a dissertação.

O fogo é um elem ento que inspira poetas, cantores, com posit ores, físicos, quím icos,no afã de representar sentim entos com o am or, paixão; de realizar e com preender a com bust ão de corpos. Tam bém ut ilizado com o figura em blem át ica durant e as festas j uninas no nordeste

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brasileiro, o fogo alim enta as fogueiras em t orno das quais t udo acont ece: bat iza- se, dança- se, t ira- se a sort e, faz- se adivinhações, nam ora- se, vive- se, enfim . No Dicionário de Sím bolos ( 1992) , o fogo é considerado com o a m etáfora dos rit os de passagens e da sabedoria hum ana. Gast on Bachelard dest aca “ o am or com o a prim eira hipót ese cient ifica para a reprodução obj et iva do fogo” ( 1992, p.442) . Ant es de ser filho da m adeira, diz ele, o fogo é filho do hom em . O autor considera o m étodo da fricção com o um m ét odo nat ural, sendo possível que o hom em chegue a ele pela sua própria nat ureza. O fogo, diz Bachelard, “ surgiu em nós, inesperadam ent e, ant es de t er sido arrebat ado ao céu” ( 1992, p. 442) .

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Primeiras Chamas:

Narrar para construir laços

Tam bém fica um a fogueira dent ro do m eu coração.

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Cont ar ou ouvir hist órias deriva sua energia de um a altíssim a coluna de seres hum anos interligados através do tem po e do espaço, sofisticadam ente t raj ados com farrapos, m ant os ou com a nudez da sua época, e replet os a pont o de t ransbordarem de vida ainda sendo vivida. Se exist e um a única font e das histórias e um espírito das histórias, ela está nessa longa corrente de seres hum anos.

Cla r issa Pin k ola Est é s.

A psicanalist a j ungiana, Clarissa Est és, diz que, ent re seus povos, as perguntas costum avam ser respondidas com hist órias. Um a prim eira hist ória sem pre evocava out ra, na qual elas iam se encaixando com o se fosse bonecas Matrióchkas. O ato de narrar, de que nos fala Estés, não se lim it a a responder pergunt as. Ao cont rário, propõe a cont inuidade de um a hist ória que est á a se desenrolar, de form a que a experiência narrada se transform a na experiência daquele que a ouve. Com o que para reforçar esse argum ento, Estés, em seu livro “ O Dom da Hist ória” , na t ent at iva de responder o que const it ui o suficient e, o faz cont ando hist órias que ouvira de seus ant epassados, “ narradores bons e rúst icos” , que as cont avam em várias versões, m uit as noit es j unt o à lareira. Essa prática fez com que a hist ória, sobre o que é suficient e para a vida, se perpetuasse por várias gerações, através da oralidade.

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Sem pre fui o int erm ediário de vocês e agora, quando eu m e for, vocês terão de fazer isso sozinhos. Vocês conhecem o lugar na floresta onde eu invoco a Deus? Fiquem parados naquele lugar e aj am do m esm o m odo. Vocês sabem acender a fogueira e sabem dizer a oração. Façam tudo isso e Deus virá.

Depois que o Bal Shem Tov m orreu, a prim eira geração obedeceu exat am ent e às suas inst ruções, e Deus sem pre veio. Na segunda geração, porém , as pessoas j á se haviam esquecido de com o se acendia a fogueira do j eit o que o Bal Shen Tov lhes ensinara. Mesm o assim , elas ficaram paradas no local especial na floresta, diziam a oração e Deus vinha.

Na terceira geração, as pessoas j á não se lem bravam de com o acender a fogueira, nem do local na florest a. Mas diziam a oração assim m esm o, e Deus vinha.

Na quart a geração, ninguém se lem brava de com o se acendia a fogueira, ninguém sabia m ais em que local exat am ente da florest a deveriam ficar, e, finalm ent e, não conseguiram se recordar nem da própria oração. Mas um a pessoa ainda se lem brava da hist ória sobre t udo aquilo e a relat ou em voz alt a. E Deus ainda veio ( Est és, 1998, p.7- 9) .

(30)

Em bora nenhum de nós vá viver para sem pre, as hist órias conseguem . Enquant o rest ar um a criat ura que saiba cont ar a hist ória e enquant o, com o fat o de ela ser repet ida, os poderes m aiores do am or, da m isericórdia, da generosidade e da perseverança forem cont inuam ent e invocados a est ar no m undo, eu lhe garant o que será suficient e ( Est és, 1998, p.39) .

Dar a palavra aos velhos é, t am bém , um a fort e t radição da cult ura indígena. Por acredit arem que nem t odo m undo é dono das palavras, os velhos é que fazem uso delas porque sabem colocá- las em seu devido lugar. Munduruku, em conferência prom ovida pelo Polifônicas I déias, em Nat al- RN, cont ou- nos que ent re seu povo, os velhos, sendo considerados os m ais experient es, t êm com o t arefa ensinar aos m ais m oços, obedecendo sem pre um a hierarquia na qual cabe aos avós ensinar aos netos as coisas do espírito. As coisas práticas da vida, com o a caça, a pesca e outros conhecim entos necessários à sobrevivência, são ensinadas pelos pais.

(31)

Tam bém por suas experiências e por conhecer profundam ente os efeit os m edicinais das plant as, na cult ura Munduruku, quando um a m ulher est á grávida, deve procurar o Paj é para se aconselhar sobre a escolha do nom e do bebê que vai nascer. De acordo com Munduruku, o paj é prepara um chá feit o da com binação de várias ervas que ele conhece m uit o bem e oferece à m ãe que deverá tom ar pouco antes de dorm ir. Em seguida, a m ãe m ergulha num sono profundo e sonha com algum elem ent o sagrado da nat ureza, com o um peixe, um pássaro, um j acaré, um rio, um a pedra... O elem ent o que aparece no sonho t em com o tarefa convencer a m ãe de que seu filho deverá t er o nom e dele, sem pre alegando bons m ot ivos. Mas esse sonho só vale se se repetir por m uit as vezes. Ent ão a m ãe t em cert eza de que é aquele nom e que deve dar a seu filho e m esm o que ao longo da vida, ele venha receber out ro nom e, o que sua m ãe lhe deu será o seu guia, devendo ser com part ilhado apenas com pessoas m uit o especiais. Est es índios aprendem , desde cedo, que o nom e é a única coisa que lhes pert ence. Todas as outras coisas são apenas t om adas de em prést im o, devendo ser m uit o bem cuidadas e respeitadas, um a vez que deverão ser devolvidas à natureza, de onde vieram . Assim nos cont ou Munduruku.

(32)

É ainda Est és quem fala sobre o at o de narrar. Segundo ela, quando as pessoas se reúnem em volt a de um a fogueira para ouvir e cont ar histórias selam laços de am izade e de com prom isso para sem pre. Esta prática, que aproxim a os suj eitos e cria laços de solidariedade, est á fort em ent e presente nos t erreiros, alpendres e calçadas do hom em sert anej o, o que, m uit as vezes, se const it ui num a ‘escola prim eira’, principalm ent e para as crianças que part icipam dessas ‘rodas’ e vão, no convívio entre elas e com os adult os, nas t rocas de experiências, const ruindo conhecim ent os que lhes serão út eis e necessários, durant e t oda a vida.

Se nas t ribos indígenas, com o na Munduruku, são os velhos que t êm a palavra por serem m ais experient es, na cult ura em que viveu Est es, essa é um a t arefa que se delega t am bém às crianças e j ovens. Na educação isso é m uit o im port ant e porque o professor lida, não só com os adult os que narram suas experiências, m as com crianças e j ovens que, igualm ent e, vivem experiências e podem refletir sobre m uitos aspectos da form ação através de suas narrativas.

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criancinhas, seus m om ent os m ais felizes e aos adolescent es, o que m ais assusta suas vidas. E aconselha:

( ...) dê a palavra aos velhos, passe por t oda a roda, force os int rovert idos, pergunt e a cada pessoa ( ...) Todos serão aquecidos, sustentados pelo círculo de histórias que criarem j untos ( Estés, 1989, p.39) .

Hist oricam ent e, os hum anos sem pre sent iram necessidade de cont ar hist órias, sej a para deixar para as gerações futuras, sej a pelo prazer de registrá- las e de alim ent ar o capit al cognit ivo do sapiens-dem ens, variando conform e o tem po e o espaço: em rochas, cavernas, pergam inhos, livros, verbet es, ou, ainda, perpet uando- as, at ravés da oralidade. Sej a com o for, narrar é um a at ividade peculiar à condição hum ana. Para fazê- lo, o hom em aciona seu im aginário que “ com port a a polifonia das leit uras que o suj eit o faz dele próprio e do m undo” . ( Alm eida, 1996, p.232) .

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em pírico/ t écnico/ racional conduz os hum anos à m ort e; t oda renúncia às suas crenças fundam ent ais desint egra a sua sociedade” ( Morin apud Alm eida, 1998, p.237) . Não há, portant o, um im aginário do hom em arcaico e um im aginário do hom em m oderno, perm anecendo o paradigm a enigm át ico do hom em unidual.

Sendo a experiência vivida e refletida um a form a de reordenar conhecim ent os, essa experiência t em na narrat iva a sua condição operat iva e m ult iplicadora, pois de nada vale um a experiência que se insulariza no suj eit o isolado. Tudo que não é narrado m orre com o suj eit o. Ao cont rário, t udo que é narrado e part ilhado pode se const it uir em elem ent o pot encializador de novas sínteses criativas e em elos que ligam os suj eit os ent re si. Dest a perspectiva, experiência e narrativa são pares indissociáveis do conhecim ent o e da cultura.

Josso considera os contos e as histórias da nossa infância com o os prim eiros elem ent os de um a aprendizagem que “ sinalizam que ser hum ano é t am bém criar as hist órias que sim bolizam a nossa com preensão das coisas da vida” ( 2004, p.43) .

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que est avam adorm ecidos, guardados em algum lugar de nossas m em órias e que, ao serem narradas, passam por um processo de renovação, um a vez que t ent am os ressignificá- las no m om ent o em que narram os. Este fragm ento de Marcel Proust reforça bem o argum ento.

( ...) A m aior part e de nossa m em ória est á fora de nós, num a viração de chuva, num cheiro de quart o fechado ou no cheiro dum a prim eira labareda, em toda parte onde encontram os de nós m esm os o que nossa int eligência desdenhara, por não lhe achar ut ilidade, a últ im a reserva do passado, a m elhor, aquela que, quando todas as nossas lágrim as parecem est ancadas, ainda sabe fazer- nos chorar. Fora de nós? Em nós, para m elhor dizer, m as ocult a a nossos próprios olhares, num esquecim ento m ais ou m enos prolongado ( Proust, 1984, p.172) .

As experiências form adoras são t ant o as que alim ent am a aut oconfiança, quant o as que alim ent am as dúvidas, as quest ões e as incert ezas. Assim com o a hist ória dos povos pode ser reescrita com a felicidade ou desgraça, conform e a conhecem os, a hist ória de nossa form ação e a com preensão de nossos processos de form ação e de const rução do conhecim ent o podem ser transform ados por m eio da narrat iva.

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aprendizagem do suj eit o a part ir de suas próprias experiências, com o um a form a de am pliar os est udos sobre a hist ória de vida, no cont ext o da form ação inicial de professores. O autor propõe a utilização dessas narrat ivas, num a perspect iva de aut oform ação, no âm bit o do est ágio supervisionado, aproveit ando a fert ilidade e a pot encialidade dest a abordagem em proj etos de investigação- form ação de professores.

Segundo Souza, a escrit a da narrativa rem ete o suj eito para um a dim ensão de ” aut o- escut a de si m esm o, com o se estivesse contando para si próprio suas experiências e aprendizagens que const ruiu ao longo da vida, at ravés do conhecim ent o de si” ( 2004, p.72) .

O que est á em j ogo no conhecim ent o de si não é apenas com preender com o se deu o nosso processo de form ação, ao longo da nossa vida, at ravés de um conj unt o de experiências, m as t om ar consciência dessa form a de nos reconhecerm os a nós próprios com o suj eit os m ais ou m enos at ivos, perm it indo, daí em diant e, encarar o seu “ it inerário de vida, os seus invest im entos e os seus obj etivos na base de um a aut o- orient ação ( ...) que art icula de um a form a m ais conscient e, as nossas lem branças, as nossas experiências form adoras, os nossos sent im ent os de pert ença” ( Josso, 2002, p.65) .

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suj eito- professor é o prim eiro passo desse processo. As narrativas, de acordo com Souza, “ m obilizam o suj eito at ravés de um olhar retrospectivo e prospectivo sobre si, possibilidades de com preensão de processos e fenôm enos sócio- educativos” ( 2004, p.130) , em especial aqueles que est ão diret am ent e volt ados para sala de aula e para prát ica docent e.

Tam bém Mat t hias Finger ( 1988) apost a na aut obiografia com o um m étodo capaz de prom over a form ação do suj eito e faz um a crítica à form ação que t radicionalm ent e se prat ica, por estar, cada vez m ais, at relada à ciência. Segundo o aut or, o proj et o da m odernidade, no nível t écnico- econôm ico, é a viabilização de um a produção cada vez m ais cient ífica; no nível polít ico, t em - se com o foco desenvolver um a gestão cada vez m ais racional e, no nível cult ural, difundir, pedagogicam ent e, o saber e os conteúdos científicos. No ent ant o, nenhum a inform ação t em significado isoladam ent e. Para com preendê- la, é necessário que a pessoa int egre e signifique a inform ação a um out ro saber.

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através dele, as pessoas são capazes de elaborar suas ident idades. E se é esse tipo de processo de t om ada de consciência que as pessoas devem at ivar para se form arem , necessário se faz um a reorientação dos processos de form ação.

Morin considera com o o grande desafio do século XX, a reform a do pensam ent o, que visa o desenvolvim ent o de um a dem ocracia cognit iva passível de um a reorganização do saber, perm it indo a religação do que est á separado. Para Morin, t al propost a t raz, em seu âm ago, um paradoxo. A universidade, inst it uição que form a os educadores, é conservadora, e t em com o função a m em orização e rit ualização do pat rim ônio cognitivo. Além disso, “ gera um saber e cult ura que ent ram nessa herança” ( Morin, 1997, p.19) . Ent ão é necessário reform ar a instituição ( as est rut uras universit árias) . Porém , isso é im possível sem a reform a ant erior das m ent es. Da m esm a form a é im possível reform ar as m ent es sem ant es reform ar a instituição.

Para Morin surge aí um a im possibilidade lógica: Quem educa os educadores? A respost a em erge, em grande parte, do exercício da reflexividade.

É necessário que eles se aut o- eduquem e se eduquem prestando atenção às gigantescas necessidades do século, as quais são encarnadas tam bém pelos estudantes ( Morin, 1997, p.19) .

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qualquer t eoria da m udança nos aspectos sócio- históricos e na educação, t raz consigo a necessidade da educação dos educadores. O processo de form ação deve acontecer através da fom entação da ident idade ent re ciência e art e, ciência e t radição, est im ulando a religação entre razão e sensibilidade. A educação dos educadores deverá reconhecer que a função escolar, em qualquer nível em que se exerça, “ precisa estabelecer um a conexão forte entre presente e passado de um lado, e ent re sociedade e indivíduo do out ro” ( Carvalho, 2001, p.102) .

I sabel Alarcão reafirm a a necessidade do professor ser um suj eito cada vez m ais ávido por se autoconhecer para se autodesenvolver e diz que “ ao est at ut o do Professor / narrador / personagem ( ...) subj azem conceit os com o Aprender e Ensinar, Cont ar, Reflet ir, Agir, Criar. Exist ir ( ...) Conscient izar, Julgar, Transform ar” ( Alarcão, 1995, p.130) .

A escrita de autobiografias const it ui- se, dessa perspect iva, um m om ent o singular para desenvolver a com pet ência int erpret at iva e reflexiva sobre o suj eito e, no caso do professor, sobre o cotidiano escolar, prom ovendo um a aut o- reflexão que perm it a o desenvolvim ent o de um a práxis m ais livre, com m enos am arras. Perm it e, ainda, segundo Josso,

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O t rabalho com as hist órias de vida configura- se com o um processo de conhecim ent o. Um ‘conhecim ent o de si’, das relações que o suj eit o est abelece com o seu processo form ativo e com as aprendizagens que const ruiu ao longo da vida. É um processo em que o suj eito se form a a partir da reflexão que faz sobre as experiências vividas.

Vale ressalt ar que nem t odas as experiências vivenciadas pelos suj eitos causam transform ações profundas em seus processos de aprendizagens. Josso propõe um a distinção ent re vivência e experiência. Segundo a aut ora vivem os um a infinidade de t ransações e vivências. Mas estas vivências só atingem o st at us de experiências a part ir de um certo trabalho reflexivo que fazem os sobre o que passou e sobre o que foi observado, percebido e sentido. O conceito de experiência form adora “ im plica um a art iculação ent re at ividade, sensibilidade, afet ividade e ideação. Art iculação que se obj et iva num a represent ação e num a com pet ência” ( Josso, 2004, p.48) .

Para que um a experiência sej a considerada form adora, é necessário que ela estej a relacionada com o processo de aprendizagem , que provoque um a m et am orfose no suj eit o, ou sej a, que essa experiência represent e at it udes, com port am ent os, pensam ent os, saber-fazer, sentim entos que caracterizem um a subj et ividade e ident idades.

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Se essa m aneira de com preender as experiências não denot a um a perspect iva absolut am ent e unit ária e sem conexão do indivíduo com os out ros, cert am ent e Erwin Schrodinger tem razão quando reflete a respeit o de um a ‘t ela’ com um a part ir da qual o ser hum ano conect a suas singularidades e subj et ividades.

Cada um de nós tem a indiscutível im pressão de que a som a total de suas experiências e rem iniscências form a um a unidade m uit o dist int a da de qualquer outra pessoa. A pessoa se refere a si própria com o “ Eu” . O que é esse “ Eu” ? ( ...) penso que ele é bem m ais que um a coleção de dados singulares ( experiências e m em órias) , nom eadam ente, a t ela sobre a qual eles estão coletados.

Er w in Sh r odin ge r .

Para pint ar um quadro, o art ista escolhe, cuidadosam ent e, t odos os artefatos necessários à arte de criar. Prim eiro, um a t ela em branco do t am anho que lhe convém ; depois, t int as, pincéis, com binações, experim ent os, e m uit a, m uit a im aginação. Tem po pra pensar, pra sonhar e, enfim , criar. Todos esses ingredientes com põem o cenário alquím ico da sua produção.

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sua criação, não consigo passar diant e dessa tela, sem reviver toda a at m osfera do m om ent o m ágico em que o art ist a plást ico nat alense, Pedro Pereira, de posse de seus pincéis e t int as, ao som da voz de Adriana Calcanhot o cant ando “ Esquadros” e inspirado em um a página do “ Diário de Frida Kahlo” , t ransform ou narrat ivas em im agem . A experiência, a qual m e refiro, foi vivenciada durante o event o ” Sim posium Pão e Circo” , prom ovido pelo Grupo de Est udos da Com plexidade- Grecom - UFRN, que se int it ulou “ Sob o olhar de Frida Kahlo” e tratava das narrat ivas de vida da artist a m exicana.

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Cham a Escarlat e:

O conhecim ento de si

Fogueira no chão queim a a pont a da varinha da m inha infância.

Tom ok o Kim u r a .

Fogueira... Lem brança longínqua Crianças gritam alegria.

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Aquecida pelas labaredas m ais verm elhas que em anam da

fogueira, com eço a cont ar m inha hist ória. A hist ória de com o aprendi a aprender. Com o acont ece com t odos os suj eit os, as experiências da infância se const it uem em m odelos cognitivos prim ordiais e servem com o base para a construção de um a m at riz que m e perm it e am pliar out ros conhecim ent os, ao longo da vida.

Vej o- m e ainda criança, cam inhando de m ãos dadas com m inha avó, em baixo das enorm es árvores que enfeitavam o cam inho da casa da fazenda at é a vazant e do açude. Ali, ela cult ivava repolhos, coent ro, cebolinha e pim ent ões. A m inha avó

cult ivava pim ent ões verm elhos, verdes e

Imagem 6- Caminho.

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pedindo para ser colhidos e degust ados ali m esm o, na hort a. Regados, tam bém , é claro, pelo carinho e afeto da vovó.

Após os cuidados

dispensados à hort a, colhíam os t om at es, além de folhas de alface e couve, que m ais pareciam grandes leques de m adam es, e volt ávam os para casa a fim de prepararm os as iguarias para o alm oço.

Imagem 7- pimentões.

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Às vezes m eu avô chegava com cara de pouca conversa, cenho franzido... Decerto a praga da lagarta estava devorando a plantação. Nestas ocasiões, ele não ficava para a cest a, t inha providências a tom ar, ou a fam ília não teria provim entos para o resto do ano.

Eu, m enina que era àquela época, aos seis anos de idade, não sabia que t ais experiências e ensinam ent os se const it uiriam , aos poucos, nos alicerces da m inha form ação prim eira. Naquela convivência, eu, com o t odas as crianças do m undo, m as de m odo part icular, est ava sendo iniciada nas prim eiras noções de ética, de respeit o à nat ureza; recebia lições de previsões do tem po, através do relato de experiências dos adultos que m e rodeavam e da observação diret a dos fenôm enos nat urais. Aprendia a gostar e valorizar as pessoas pelas suas histórias, ao m esm o t em po tão singulares e com plexas.

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rendeu m uitos sorrisos à m esa e, at é hoj e, quando nos reunim os e relem bram os os fatos do passado.

Tam bém na fazenda do m eu avô produzia- se queij o de m ant eiga. A enorm e casa circundada por alpendres, t inha com o vizinho próxim o, o curral, onde ficavam as vacas e suas crias, durant e o dia. Quando os últ im os raios de sol se despediam do horizont e, deixando no céu um a faixa am arelo- ouro, que ofuscava m eu olhar, era hora de m eu avô voltar do roçado e, antes de entrar em casa, ir cum prir a t arefa de apartar as vacas dos bezerros. Estes passavam a um out ro curral, onde ficariam noit e a fio. Assim , garant ia- se que os úberes das vacas se enchessem de leit e e, quando o sol com eçasse a dar sinal do seu ret orno, vovô e m eu t io adentravam o curral para a ordenha. Nest a at ividade, m ant inham um t al m ovim ento em suas m ãos, de form a que o leit e, ao cair no balde, em it ia um som t ão rit m ado que m ais parecia um a sinfonia. ‘Saia Branca’ era sua vaca de estim ação e era considerada a m ais fort e e saudável, por isso era dela que vovô enchia m eu copo do leit e m orninho que eu t om ava ali m esm o no curral. Percebo hoj e que encher o m eu copo com o leite de Saia Branca era com o um a declaração de am or do m eu avô a m im . Ele se divert ia com a auréola branca que se form ava em torno dos m eus lábios rosados e, em seu sorriso, havia a generosidade de quem se sabe dando o m elhor de si para a pessoa am ada.

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enchia enorm es ‘t rouxas’ brancas feitas de saco alvej ado e punha para ‘coar’ at é a últ im a got a de soro. No dia seguint e, aquela coalhada se t ransform aria num a branca m ist ura que levada ao fogo, aos poucos, ia ficando dourada e se transform ava em queij o. Term inado o processo, m inha avó deit ava- o, ainda quent e, em t abuleiros de vários t am anhos. Um a part e seria consum ida pela fam ília, o que rest asse seria vendido na cidade para aj udar nas despesas dom ést icas. O queij o era cozido num im enso t axo de m et al e quando dele era ret irado, sobrava um a crosta que se form ava no fundo. Era hora de atacar, hora de raspar o t axo. O queij o, ainda quent e, fazia fios que iam desde a enorm e vasilha at é m inha boca, de form a que, às vezes, eu ficava ent relaçada num a t eia de queij o que grudava nos m eus cabelos e na m inha pele branca. Eu era um a m enina feliz, cheirosa a queij o, a m ant eiga e a pim ent ões verm elhos.

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m ovim ent o que poderíam os designar com o um a gênese cont ínua. E, assim , enquant o t ecem os a t eia, ela vai se tecendo e vai nos tecendo t am bém ” ( Cabral & Alm eida apud Ferreira, 2002, p.41) .

Assim é o conhecim ent o. Ele não é algo que est á dado. É na relação que com ele est abelecem os, nas experiências vivenciadas ao longo de nossas vidas, que vam os tecendo as nossas teias de significados, aos poucos m odificando- as e sendo nós m esm os m odificados, a pont o de não saberm os m ais ident ificar aonde t udo com eçou, assim com o não sabem os onde vai dar, num ent relaçam ent o const ant e, t al qual a t eia que a aranha t ece sem nenhum com prom isso com o t em po.

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Tudo com punha um a peça para realização dos m eus desej os e alim ent o do m eu im aginário.

Tia Elit a, assim com o m inha m ãe, era cost ureira e, freqüent em ent e, as pessoas nos visit avam t razendo pacot es de t ecido que ela t ransform ava em roupas. Eu achava essa at ividade m uit o m ágica. Não ent endia com o um pedaço int eiro de pano podia ganhar t ant as curvas e form as. Talvez, influenciada por essa curiosidade, m uit o cedo com ecei a costurar roupas para bonecas e m ais t arde t ornei- m e cost ureira t am bém de m inhas próprias roupas e de out ras pessoas, sem nunca t er freqüentado um curso ‘form al’ de cort e e cost ura.

Um dia, m inha t ia anunciou que ia fazer um a boneca de pano pra m im . Fiquei m uit o feliz e acom panhei todo o processo de confecção da boneca. Ela fez cada part e separadam ent e: o t ronco, as pernas, os braços. À cabeça ela dedicou um a atenção especial. Bordou o rosto da boneca: boca verm elha, m açãs do rost o rosadas com blush, olhos azuis para com binar com os m eus, sobrancelhas m arrons e cabelos loiros, cheios de cachinhos. Aquela boneca foi a m ais bonit a que t ive em t oda a m inha infância. Seus braços e pernas eram m óveis, perm it indo qualquer m ovim ent o, o que m e deixava fascinada. Além do m ais, ela era enorm e, parecendo um bebê de verdade e eu podia vest ir nela t ant as roupas quant o quisesse.

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de am enizar o t rabalho de m am ãe que t inha de cuidar dos m eus out ros irm ãos, t odos pequenos. As at enções que m e eram dispensadas, além de t odos os at rat ivos que t êm as casas dos avós, faziam do m eu regresso um evento de poucas alegrias. Quando resolviam que era chegada a m inha hora de ret ornar à casa pat erna, era na garupa do cavalo do m eu avô que fazia o longo percurso da volt a. Lem bro- m e de um a dessas ocasiões em que acordei logo cedo e vest i um vest ido verm elho de bolinhas brancas em alt o relevo que m ais pareciam bolinhas de isopor. Eu adorava aquele vestido de corpo princesa e cint o branco na alt ura do quadril. Depois m e m ont aram na garupa do cavalo e seguim os cam inho. Vovó havia am arrado um lenço em m inha cabeça para livrar- m e dos m alefícios do sol. Não t inha um quart o de hora da nossa saída da fazenda, com o t rot ar do cavalo, o lenço desceu à m inha t est a cobrindo m eus olhos e obrigando- m e a escolher ent re soltar a cint ura do m eu avô para aj eit á- lo, correndo o risco de cair do cavalo ou viaj ar de cabra cega. Fiz a segunda opção e, pelo m enos naquele dia, eu não vi a paisagem no cam inho de volt a. Paisagem a m im t ão fam iliar naquelas idas e vindas à casa dos m eus avós.

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est rem ecia a estrada. Percebia a aproxim ação e a travessia das port eiras quando m eu avô se inclinava para frente para abri- las e passar. Ouvia o riacho, sentia o cheiro do m at o e im aginava as figuras de nuvens claras que se form avam no céu. Tam bém m e divert ia ouvindo o t rot e do cavalo, criando m ent alm ent e canções que com binavam com a m elodia de suas pisadas ao chão. Assim , ent re sons, cheiros, m elodias e im agens, capt adas e produzidas pela m inha im aginação, chegam os à casa dos m eus pais.

Os m eus retornos eram sem pre m arcados por m uita festa dos m eus pais e m eus irm ãos. Eu, no ent ant o, ficava t orcendo para que m e m andassem de volt a. Com o isso não acont ecia, levava dias para m e acost um ar à falt a de novidades de m inha casa.

Vovó t inha um a im ensa criação de pat os que nadavam conosco no açude, lado a lado. Eu, nas cost as das m inhas t ias, e eles, livres, alt aneiros, at ravessavam longas dist âncias aquát icas, sem o m enor esforço. De volta à casa de m am ãe, que não criava pat os, m as galinhas, era com est as que t reinava as m inhas lições e t écnicas de m ergulho e nado. As coit adas ficavam num grande alvoroço e se ninguém as socorressem , provavelm ent e eu t eria m at ado m uit as galinhas afogadas. Ficava chat eada e não ent endia porque as aves da vovó nadavam com t ant o prazer e as da m inha m ãe t inham t ant a aversão à água.

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pés com dedos e um par de pés com o nadadeiras. Galinhas, nas suas condições de galinhas, não podem nadar; enquant o que é da nat ureza dos pat os que eles nadem e possam fazer travessias aquáticas que as galinhas j am ais farão, pois galinhas são filhas da terra, e patos, igualm ent e filhos da t erra, t am bém possuem a profundeza das águas em seus corações.

Foi, ainda, nessa época da m inha infância que fiz m eus prim eiros cont at os com um a out ra cult ura. A dos cidadãos do m undo, os ciganos. Meu pai herdara do m eu avô, que herdara do m eu bisavô, o cost um e de dar ‘arrancho’ aos ciganos.

Est es apareciam periodicam ent e lá no sít io, m ont ados em m ulas com seus recém - nascidos m et idos dentro de um a t ipóia, que as m ães t raziam t ranspassada em seus om bros. As casas- barracas, pront as para serem m ont adas e desm ont adas com a m aior facilidade possível, j unt o com vest uários e ut ensílios, eram igualm ent e t ransport ados nos lom bos das m ulas.

Mas, o que m ais m e im pressionava era o m istério que rondava o int erior das t endas arm adas, os longos e coloridos vestidos usados pelas ciganas, as t at uagens feit as em seus corpos ( geralm ent e o nom e do hom em am ado) , os colares de m uitas contas e cores, e suas form as de falar. Algum as ciganas cont avam - nos hist órias fant ást icas de seu m undo e de seus saberes.

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Deuses se revoltaram porque no m undo não exist iam pessoas ‘norm ais’, apenas deuses que disput avam ent re si o poder. Ent ão, um grupo desses deuses resolveu atear fogo no universo, ocasião em que m orreram t odos. O m undo virou um a gigant esca bola de fogo, levando m uit o t em po para esfriar novam ent e. Aí com eçou a surgir os anim ais, dent re eles os hom ens, as plant as e t udo que conhecem os hoj e, dizia ela, naquela ocasião. Ficávam os m uit o confusos porque conhecíam os a hist ória do dilúvio de que fala a Bíblia e não sabíam os em qual hist ória acreditar. Mas a form a m isteriosa que a cigana usava para nos convencer de que a história era verdadeira, nos fascinava. Ela t am bém contava sobre a perseguição que sofria seu povo por não t er um a pát ria e cont ava m uit as out ras hist órias diferent es das que, convencionalm ente, se conta para as crianças.

Esse conj unt o de hist órias ciganas que se confront avam com as hist órias da Bíblia crist ã, cert am ent e m e aj udou a const ruir um a visão de m undo na qual valem várias versões. Creio que a dificuldade que t enho hoj e em aceit ar um a só verdade, um a só hist ória, é oriunda de experiências com o essa que acabo de narrar.

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cinzas que rest avam da fogueira, nas t rem pes em que preparavam seus alim ent os ou em algum obj et o que deixavam para t rás.

Lem bro de com o sonhei fugir com os ciganos. Pensava que eles podiam m e m ost rar um out ro m undo, m as agora acho que o que m ais m e at raía era aquele estilo de vida, ao m esm o t em po, incert o e livre. O que aprendi com os ciganos? Aprendi a respeit ar a diversidade; aprendi a criar m eus deuses, a acredit ar nos m it os; aprendi sobre outras form as de explicar a origem do universo. Aprendi m uit o sobre a vida.

(56)

Botando lenha na fogueira:

Compartilhando experiências

Nesta brasa de letras

que se esfum a a poesia Traga essa cham a que a alm a at eia Nesta fogueira da alm a que ao t ext o ilum ina Traga o verso e nada m ais Na calada da noit e Ou com o sol ardent e.

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Agora, com labaredas j á bast ant e escarlat es, em m eio às fagulhas

que a fogueira cospe, com o que alim ent ada pela hist ória que acabara de ouvir, percebo o vulto de pessoas que vão se aproxim ando, pouco a pouco, e se acom odando em t orno da fogueira, t odos no m ais profundo silêncio. São os m eus convidados que est ão chegando, at endendo ao convit e que os fizera para um encont ro, no qual iríam os com part ilhar nossas histórias de vida e form ação.

Caros colegas profesores, pesquisadores e cient ist as Convido para um encont ro

E ofereço um a pista Com part ilharem os hist órias

Será coisa nunca vist a.

As histórias são de vidas Podendo ser de m ort e t am bém

Fica ao gosto de vocês Cont ar o que lhes convém O im port ant e é que sej am Vivências que o aut or t em .

O local vocês Já sabem Naquele lugar na florest a

Convidei poucas pessoas Espero que venham depressa Com um a fogueira queim ando

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Imagem 9- Fogueira Junina.

Ao perceber que todos j á est ão acom odados nos lugares que escolheram para sent ar j unt o à fogueira, com eço dando as boas vindas e anunciando o que vam os t rat ar nesse encont ro, cant ando em verso para não perder o ritm o.

Bem - vindos m eus convidados Que vieram alegrar Essa noit e ilum inada E suas histórias contar Fiquem t odos à vont ade

(59)

Hoj e cada um de nós Junt os num m esm o passo ao contar nossas histórias

Fortalecerem os laços De am or e am izade Unidos num grande abraço.

Que as cham as da fogueira Aqueça os corações Pra poderm os com eçar E contar nossas versões Narrando nossas histórias

de vidas e form ações.

Um a professora m e disse Valha- m e Nossa Senhora

I sso é tarefa difícil

Penso que quando for m inha hora Com t ant a gent e im port ant e

Nenhum a palavra sai fora.

Te disse: - Mas que t olice! Não m e fale essa asneira Cada um t em um a hist ória

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Porém quero sugerir Nossa aproxim ação Façam os um a rodada

E um a apresentação Para j á saber quem som os

Logo de prim eira m ão.

Obedecendo ao que m anda As regras de boas m aneiras

Morin m e sugeriu Que fosse eu a prim eira

A m e apresentar agora Já em torno da fogueira.

Eu sou Fá t im a Ar a ú j o

E aqui m e sint o bem Sou professora prim ária Tarefa que m e convém Trabalho com form ação De professores tam bém .

Depois de m e apresentar No papel de anfit riã Passo a palavra a vocês Pra se apresentar com afã

(61)

Me cham o Edga r M or in

Na vida não m e confundo Pelo pensam ent o com plexo Tenho um respeit o profundo Sint o- m e um cont rabandist a Dos saberes dest e m undo.

E eu sou M a r ia Zilm a

Professora de criança Term inei graduação Ainda m e rest a esperança

De na nossa educação Prom over m uit a m udança.

Boa noit e, sou Ca scu do

E m e sint o m uito honrado De pra essa ocasião

Ter sido convidado Espero que eu consiga Tam bém dá o m eu recado.

E eu sou Elis Re gin a

(62)

Eu sou Fr a n cisca Fa lcã o

Mas t odos m e cham am Bia Faço rim a e faço versos I sso é t udo que eu queria

Está aqui com vocês Nesse m aravilhoso dia.

O m eu nom e é Lisie u x

E venho lá de Perobas Daquela t erra belíssim a Donde o m ar se desdobra

Ser professora prim ária É o que faço por hora.

Eu sou M a r t a N e ve s

Sant os do Nascim ent o Quero dizer pra vocês Aqui e nesse m om ent o Que é um grande privilégio

Part icipar desse int ent o.

Boa noite m eus senhores E m inhas senhoras t am bém

Eu m e cham o Ve r a Lú cia

(63)

Sou um índio brasileiro E sinto m uita alegria De está aqui com vocês

Nessa noite de m agia Só part ilham os o nom e

Com pessoas de valia

D a n ie l M u n du r u k u

Est e é o m eu guia.

Term inada a apresentação A fogueira a queim ar Um a professora apressada

Com eçou logo a falar Pediu para com eçarm os

E t rat ou de anunciar Que seria eu a prim eira A m inha hist ória cont ar.

Fiquei um pouco corada Nervosa, m as concordei Em com eçar a narrativa Aquela era a m inha vez Aj eit ei um pouco a voz

(64)

Espere aí m inha gente Prest e um pouco de atenção

Peço licença agora Pra lhes cont ar de antem ão Um pouco da m inha hist ória

E da m inha form ação.

Nasci de um a fam ília sim ples De precária form ação

Estiveram na escola Por curtíssim a duração Mas não queriam que seus filhos

Passassem t al provação.

Morávam os num a fazenda Lá pras bandas do sertão As coisas que lá chegavam I am de burro ou cam inhão

E por não haver escola Não fiz alfabetização.

Fazenda dem anda t rabalho Com bois, vacas, pavão

Pat o, galinha, j um ent o Oh, que grande confusão

(65)

Fiz todo esse rodeio Sem querer ser enfadonho

Mas é que quero cont ar Com o conheci seu Ant onio.

A luz do m eu candeeiro O despertador dos m eus sonhos.

Imagem 10- Adivinhando Chuva.

Seu Ant onio era um senhor Muit o agradável, cont ent e Foi cont rat ado por m eu pai

(66)

Você deve t á pensando Que t em a ver o m at uto? Mas lhe falo sem dem ora De com o ele era astuto Com prava cordéis na feira

Pra de noit e t er assunt o.

E sem pre após o j antar Com lua cheia ou não Fazíam os roda no alpendre

Sob a luz de um lam pião Pra ouvir longas histórias

De am or e de paixão De cangaço e ousadia Da cidade e do sertão.

E eu ainda pequena Menina m uit o levada Depois de ouvir tais histórias

Dorm ia inebriada Em balada pelo desej o

De ser alfabetizada Pra roubar aqueles livros

E lê- los dum a t ragada.

O desej o foi crescendo E a curiosidade lat ent e Quando seu Ant onio saia

(67)

Prestava atenção nas palavras Ficava a observar

Queria aprender a ler Tent ando adivinhar Onde é que tava escrito

O que ouvi ele contar.

E foi assim eu lhes digo Que passado pouco tem po Eu conseguia ler os versos

Cheia de cont ent am ent o Não sabia que o dest ino Me preparava um t orm ent o.

Alheia a esse processo Sem saber que eu j á sabia

Mam ãe m e m at riculou Na escola de dona Maria

E num a de ABC Eu t inha que ler t odo dia.

Acont ece que a senhora Tinha apenas um m ét odo só E se os cordéis m e anim avam

(68)

Sem cont ar que seu m arido Ficava t am bém na sala E t inha um a cara t ão verm elha

Com o sangue na navalha Fazia caret as pra m im Me deixando at rapalhada

Eu fazia as tarefas Debaixo da m esa sent ada.

Mesm o assim não reclam ava Se a aula era um a aflição

Pois fazia da viagem Um a grande diversão Brincava com gafanhoto Calango, ninho de azulão

Tom ava banho no riacho Sem sofrer qualquer sansão.

Aquela escola era um engodo Não dava m ais pra agüentar Com um pouco m ais de t em po

Chegou a hora de m ostrar Pros m eus pais, com m uit o t ent o

(69)

Os m eus pais ficaram bobos De orgulho e gratidão Por Maria, a professora Que m e ensinara a lição Não sabiam que m uit o ant es

Eu j á prestara atenção Se só agora eu tava lendo

Foi de m im a decisão.

Esse segredo era só m eu Parece, ninguém not ou Só sei que dali em diant e

Seu Ant onio abandonou O hábito de ler cordel

A m im ele delegou Eu lia elegant em ent e Com o a fia de um dout or.

Fui então pra out ra escola Mais organizada e exigente

Lá, fazia com posição Sobre bicho e sobre gente

I sso eu fazia bem Ficava t oda cont ent e E o prim eiro lugar da classe

(70)

Mas o m eu m aior barato Naquela época da infância

Era escrever à vovó Que se encont rava à distância

E m e m andava elogios Crescendo m inha const ância

De escrever sem m edo E com m ais perseverança.

Depois eu fiz m agistério Pra estudar com o se faz Para atender a crianças E fazê- las aprender m ais

Mas isso não era tudo Eu ainda queria m ais.

Est udei Pedagogia Na Universidade Federal Aprendi novas t endências

Da Educação atual Mas precisava saber m ais

Eu descobri no final.

Participei de congressos Na área da educação De estudos e sem inários

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Foi ent ão que decidi Um proj eto organizar Pra concorrer ao m estrado

E pós- graduação cursar Consegui ser aprovada

E est ou a pesquisar.

No grupo da Com plexidade Onde fui acolhida Me sint o m uit o feliz E t am bém agradecida

De estudar as idéias Que se confundem com a vida.

Tenho com o orientadora Maria da Conceição Que dedica a todos nós

Bast ante dedicação

Com ela desenvolvo a pesquisa De histórias de form ação.

De experiências de vida Part indo logo das m inhas Porque em nossos est udos Com o cost urados com linha

Suj eit o e obj et o

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E nessa m inha pesquisa Confesso que t enho um plano

Nas narrativas dos outros I nsist o, não abandono Pra ver se na vida deles Tam bém t em um Seu Ant ônio.

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Seus cordéis assum iam vida própria quando lido e int erpret ado, t al qual borboletas livres que criam asas, voando e povoando a nossa im aginação, despert ando est ados de ser, m arcando a nossa m aneira de est ar no m undo e const ruindo vínculos definit ivos.

Mas, todos estão ávidos por ouvir a história do nosso prim eiro convidado, que com seu rost o j á verm elho pelo calor das cham as, prepara- se para falar. E em form a de versos, passo a palavra a Morin.

Agora que t erm inei E j á dei o m eu recado Passo a palavra então A esse nobre convidado Que vai contar sua história Com prazer e m uit o grado.

Você que é cient ist a, Cont e- nos! O que cont ribuiu

Para sua form ação O que foi que lhe inst ruiu Para escrever essas coisas Que o m undo int eiro j á viu?

Boa noite, m eus colegas Viaj ant es desse m undo Penso que em nossas vidas

(74)

Imagem 11- Singularity_cosmos

Eu sou Edga r M or in

Encantado com o t al Não separo a m inha vida

Da vida int elect ual Por isso lhes conto agora

Meu saber prim ordial.

Sou dos que t êm um a vida Não dos que t êm um a carreira

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Na fam ília aprendi A gostar de iguarias Do azeite e berinj ela Espinafre, quem diria! Herança dos ancestrais

Que isso t udo com ia.

Meu pai não m e ensinou Um a crença ou tradição Nenhum princípio polít ico

E nenhum a religião Talvez por eu ser filho único

No seio de um a geração.

Mas m eu pai m e t ransm it iu Cult ura de cançonet as Com ele t am bém aprendi

A gostar de operetas Ele cantava e assobiava

Traviata e Rigoletto.

Aos nove anos de idade Aprendi o que é a m ort e

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Porém , m e esconderam t udo Disseram que fora viaj ar

E pra casa de um a tia Me m andaram pr’eu brincar Dizendo que o m eu pai t inha

Com ela ido encont rar.

Dois dias depois do fato A m ort e det ect ei

Com m eu pai em m inha frent e Confesso logo saquei Todo de pret o, enlut ado...

Um a bom ba sufoquei.

Jam ais quis m anifest ar Aquela infinit a dor Escondia o que sent ia Em segredo e com horror

De m eu pai e m inha t ia E quase ninguém not ou.

Referências

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