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Oralidade e memória em projetos testemunhais

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Academic year: 2017

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ORALIDADE E MEMÓRIA EM PROJETOS TESTEMUNHAIS

Marieta de Moraes Ferreira

Na atualidade estão sendo realizados inúmeros projetos, por diferentes instituições, que visam registrar, através da coleta de relatos orais, as experiên­ cias vivenciadas pelas populações envolvidas em grandes traumas. O grande tema que inaugurou esse tipo de iniciativa, e que pode ser chamado de movi­ mento testemunhal, foi o Holocausto.

s sociedades contemporâneas passaram a ter uma verdadeira "obsessão pela memórià'. O medo diante da possibilidade de uma amnésia nos tempos pós-modernos gerou justo o oposto. O passado tornou-se uma das preocupa­ ções centrais no mundo ocidental. Houve um deslocamento do foco do futu­ ro-presente para o passado-presente. Vários estudos assinalam que febres de comemoração do passado tomaram conta da Europa e dos EUA, podendo-se falar do desenvolvimento de uma cultura memorialista ou uma "inflação de memórias", para usar as palavras de Andreas Huyssen.1 Nos Estados Unidos, o exemplo mais recente é o 11 de setembro, que passou a ser uma data marcante para a rememoração do atentado ao World Trade Center, sendo produzidos a cada ano documentários, exposições e programas de V sobre esse evento.

Nessa conjuntura, verifica-se uma busca por explicações sobre o passado recente no campo das ciências humanas. François Hartog e ]acques Revel consideram que "o contemporâneo tonou-se um imperativo, uma pressão [ ...

]

que se exerce sobre as ciências sociais".2 Há noções que são inevitáveis, como memória, identidade, testemunhos e genocídio, e que permeiam as discus­ sões dos especialistas. Na disciplina histórica, esse avanço do contemporâneo pode ser percebido em múltiplas facetas dos programas acadêmicos. A cha­ mada "história do tempo presente" passou das margens do campo historio­ gráfico para o centro da disciplina.3

Como os historiadores se inserem nas comemorações do passado e no debate público sobre elas engendrados? Se por um lado eles estão presentes nos projetos editoriais e aceitam participar de comissões judiciárias4 e discus­ sões na mídia, por outro lado, não conduzem o calendário das comemorações nem tampouco são responsáveis pelos termos desses debates. O terreno do contemporâneo é amplamente ocupado pelos jornalistas e outros profissio­ nais da comunicação, além das testemunhas, o que coloca questões adicionais para o historiador. 5

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Os eventos traumáticos da história recente oferecem uma oportunidade ímpar de se repensar o passado. Nesse sentido, a história da África do Sul e da Bósnia são casos contemporâneos que têm recebido grande atenção, pois re­ presentam embates pela memória e oferecem ao historiador do tempo pre­ sente a oportunidade de pensar sobre como os relatos orais estão sendo utili­ zados nos projetos testemunhais. Como a memória está sendo reelaborada? Quais questões essa profusão de memórias coloca para a escrita da história? Como o historiador pode pensar o seu lugar nesses constantes embates de memória? A idéia é partir desses casos para refletir sobre as articulações entre a memória e a história nos projetos testemunhais da atualidade.6

O recente conlito e os massacres ocorridos na ex-Iugoslávia suscitaram polêmicas sobre os motivos das populações envolvidas, bem como sobre as atitudes tomadas pela comunidade internacional, sobretudo as Nações Uni­ das. Uma das primeiras interpretações sobre o conlito procutava associar di­ retamente os fatos recentes ao Holocausto. Na mídia, as fotos ou imagens em movimento eram comparadas às da Segunda Guerra Mundial. Madelaine A1bright, então representante dos EUA na ONU, proferiu em

1994 um dis­

curso intitulado "A Bósnia à luz do Holocausto".7 A evocação do passado ocor­ reu, de acordo com Todorov, a partir de um "uso intensivo da memória e de uma banalização exacerbada do passado". 8 Isto é, antes mesmo de se procurar anisar e trazer informações sobre o conflito em curso, procedeu-se a uma colagem automática entre o passado e o presente, descartando-se as especificidades. Slobodan Milosevic passou a ser o novo Hitler e todas as víti­ mas do colito foram associadas à memória dos judeus do Holausto.' Mas quais foram realmente os alvos desses massacres? Que atores estavam envolvidos?

Em 2002, um projeto de uma comissão de inquérito do Parlamento holandês se propôs a investigar m massacre ocorrido em

1995,

em Srebrenica,

uma área que foi alvo de políticas das Nações Unidas. Logo no início do con­ flito da Bósia, Srebrenica foi considerada uma área de segurança, ficando sob a responsabilidade do exército alemão, comandado pela ONU. A popu­ lação muçulmana sentiu-se protegida pelos "capacetes azuis", mas, em julho de

1995,

as tropas das Nações Unidas abandonaram a área e a cidade foi con­ quistada pelos sérvios, que massacraram milhares de civis, especialmente ho­ mens e jovens (mais de 7 mil pessoas).1O

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como, por exemplo, a busca de desaparecidos e o reconhecimento público dos mortos durante a guerra. As narrativas das mulheres muçulmanas estão marcadas por sua religiosidade. Elas se reconhecem como vítimas de um mas­ sacre, porém também expressam uma reação ativa de denúncia diante da rea­ lidade. São discursos carregados de emoção, como evidencia o seguinte tre­ cho do depoimento de Sabaheta:

f muito difícil falar sobre isso. eu nunca vou poder contar tudo que passei. Eu posso contar apenas uma parte a história. No dia 11 de julho. perco das cinco horas da tarde, cheguei com meu filho em Potocari. Já havia muita gente lá, refugiados de Srebrenica que vieram no mesmo caminho. Nós dormimos do lado de fora nas duas noites seguintes. Havíamos tentado enerar no campo de refugiados das Nações Unidas, cujas cercas haviam sido cortadas para permitir que as pessoas eouassem, porém não havia mais espaço lá. No dia 12, às dez horas, o exército sérvio dominou a região. [ ... ] Eles levaram todos os homens. Eu estava aterrorizada, mas tentava não demonstrar isso ao meu filho. Minha mãe estava comigo. [ ... ] Eu vi ao longe, entre os sérvios, 5treten . e Milisav G. O primeiro era meu vizinho e estava com seu ilho Pedrag, que tinha a mesma idade do meu illio. Eu decidi ir até eles pedir proteção. Tentei atravessar a multidão. Mas, de repente, tive uma urgência de retonar ao local onde eles estavam. Minha mãe estava chorando, mas meu iki não estava mais lá.

Sabaheta recorre aos seus vizinhos e consegue ter o filho de volta nesta noite, sobre a qual ela fonece o seguinte testemunho:

Uma terrrível noite cheia de choro e horror. Você podia ouvir alguém chorando, talvez as 15 mil pessoas estivessem chorando. Você pode imaginar 15 mil ou 16 mil pessoas chorando e ninguém escutando! Eu acho que aquilo devia ter sido ouvido em metade da Sérvia. E o mundo não sabia o que estava acontecendo?

No dia seguinte, ao se direcionarem para os ônibus, os soldados sérvios ordenaram que Riki seguisse em outra direção. Sabaheta narra da seguinte forma esse momento: "Nós não seguimos as ordens. Mas isso não era permi­ tido. Eles vieram até nós e disseram que meu flho deveria ir pela direita e eu deveria seguir em frente. Lágrimas vieram em sua face, ele me abraçou, me beijou e disse 'por favor, vá, mamãe"'. 12 Sabaheta ainda luta para encontrar os

corpos de seu marido e filho, pois como mulher muçulmana é seu dever enterrá-los. Ao testemunhar, as mães, como Sabaheta, querem evitar que tais acontecimentos sejam esquecidos e assim perpetuar a memória das vítimas de Srebrenica.

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um século de regime de segregação racial, o apartheid foi suspenso. No entan­ to, os conflitos raciais ainda constituem uma questão aberta na democracia em construção na África do Sul." Em 1995, foi criada, pelo goveno da União Nacional da África do Sul, a Comissão de Verdade e Reconciliação, para lidar com os efeitos dos conflitos que resultaram em abusos contra os direitos hu­ manos durante o regime do apartheid. O objetivo do ptojeto era colher depoi­ mentos orais das vítimas de abuso racial, assegurando ao depoente que sua fala atingiria o

status de verdade pública.

O trabalho da Comissão dizia respeito sobretudo ao registro dos relatos dos envolvidos no diícil conflito racial sul-africano, com vistas à obtenção de uma reconciliação social. No entanto, uma avaliação sobre mais de quatro­ centas entrevistas, realizada por Lazarus Kgalema, demonstrou que havia uma divergência entre os objetivos da Comissão e as demandas dos entrevistados. Em geral, aqueles que relataram os abusos sofridos desejavam, além de deixar seu testemunho, uma ação mais efetiva por parte da Comissão, como fica ex­ plicitado nos três depoimentos abaixo:

Minha solicitação é: eu gostaria que você [para o entrevistador da Comissão] pergun­ tasse ao senhor Ndlouvu o que aconteceu com o meu ilho. porque ele deve [eI matado O meu filho e eu quero apanhar o corpo e enterrá-lo.

Esta é a rzão pela qual eu vim aqui dar estas declarações, s6 para encontrar o porquê de eles terem matado meu irmão mais novo. Eu gostaria que eles viessem até aqui e explicassem por que o mataram.

Esta é a miha rzão para estar aqui, simplesmente encontrar quem foram os culpados. 14

Esses testemunhos expressam uma recorrente requisição para a identifi­ cação dos culpados ou a investigação sobre os desaparecidos. No entanto, a Comissão não estava agindo no sentido de fazer justiça. O Boletim da Co­ missão informa seu objetivo undamental: recuperar a verdade para promo­ ver a reconciliação, ou seja, o relato das vítimas visava não à punição dos cul­ pados, mas na visão do goveno promover a reconciliação. 15 A busca da ver­ dade não estava vinculada a punições - o que inclusive seria contra a política de anistia em voga -, mas sim a um trabalho que possibilitasse a reconciliação social. Havia, sim, a legitimação dos discursos das vítimas com o propósito de obtenção de uma paz social.16

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de depoimentos orais busca-se oferecer às vítimas a possibilidade de perpetu­ ar as suas memórias. Assim, além de possibilitar a publicidade de uma narra­ tiva que muitas vezes seria obliterada pelos discursos oficiais, tis projeros vi­ sam também a uma espécie de catarse social, muitas vezes com o objetivo de obter a paciicação de conliros imediaros, como no caso da Comissão de Verdade.

Nosso objetivo ao tratar desses projeros testemunhais, na África do Sul e na Bósnia, não é avaliar os resultados políticos ou sua eficácia no atendimen­ to das demandas dos grupos envolvidos, mas sim analisar esses materiais e as questões suscitadas para a escrita da história do tempo presente e para refle­ xões próprias à disciplina histórica.

TESTEMUNHO. MEMÓRIA E HISTÓRIA

o dever de memória é uma premissa que está presente nos projetos tes­ temunhais. A idéia central postula a necessidade de se preservar a memória do que ocorreu, com o objetivo de tentar evitar futuras manifestações de autoritarismos e desrespeito aos direitos humanos. A questão é saber se a i­ vulgação de uma narrativa da memória é capaz de atuar dessa maneira nos rumos do presente. Isto é, talvez seja elucidativo deixar claro que a memória, em si, não é boa nem má. Muitas vezes os benefcios que se procura extrair dos projetos testemunhais podem ser desvirtuados devido às formas assumi­ das pelas rememorações. Pode-se lembrar uma violência com o objetivo de evitar a sua repetição, porém pode-se acionar essa mesma memória para justi­ ficar vinganças violentas no presente. Tal é o princípio dos revanchismos so­ ciais, que estão longe de favorecer um apaziguamento de conflitos. I?

No campo das reminiscências há uma tendência a se "sacralizar" ou "ba­ nalizar" o passado, como airma Todorov. 18 A sacralização está relacionada ao

isolamento de uma lembrança, negando-se a possibilidade de interlocução entre o passado e o presente. Uma população que sacraliza a memória de m

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que essas perspectivas reforçam a perpetuação de rótulos como o do herói, da vítima ou dos moralizadores. Ao se privilegiar um dever de memória, muitas vezes acaba-se resvalando nesses extremos. Qual seria uma outra possibilida­ de de relação com o passado? Em vez de uma militância pela memória, seria necessário pensar em um trabalho sobre a memória.

A realização dos projeros testemunhais coloca alguns problemas para serem pensados pela história, enquanto disciplina. Os resultados dos projetos testemunhais podem ser vistos como a escrita de história, especialmente pelo grande público. Isso aponta para uma questão importante: o que distingue as vozes da memória dos resultados de um trabalho que pode ser realizado a partir dessas vozes?

Essa questão não pode ser respondida a partir de uma oposição simplista entre memória e história. Tal reducionismo tende a associar a memória ao falso e a história à verdade. Este é um tema que vem sendo discutido pela historio­ gria há décadas e obras importantes já foram produzidas nos campos da his­ tória da memória ou história das representações. I' A memória foi incorpora­

da como um problema pela disciplina histórica e, para os nossos propósitos, cabe apontar algumas reflexões propiciadas pelo trabalho com os projetos tes­ temunhais.

Uma consideração importante diz respeito às relações entre as memórias trazidas pelos testemunhos e a utilização política desse passado rememorado. Paul Ricoeut chama a atenção para uma relação entre o exagero na exortação da memória e uma desvalorização do papel do historiador. De acordo com Ricoeur "a memória possui uma vantagem em relação à história, que é o reco­ nhecimento.

[

...

]

A história não reconhece, reconstrói".20 O reconhecimento atrela-se, portanto, mais facilmente às verdades testemunhais, enquanto as críticas oferecidas pelos historiadores podem enfrentar um julgamento públi­ co desfavorável se propuserem leituras diferenciadas sobre as narrativas soci­ almente aceitas. A liberdade fica restrita quando se trabalha com aconteci­ mentos que já foram julgados publicamente. Enquanto o juízo judicial é de­ finitivo, o do historiador é revisionista.

A história se reescreve permanentemente, mas não de modo aleatório. A

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his-toriador pode vir a ser um intérprete dos equívocos políticos do passado e dos mecanismos de construção das memórias, não se deixando levar pelos rótulos fáceis da banalização ou da sacralização da memória. A partir da aná­ lise histórica pode, inclusive, relativizar as memórias, ou melhor, questionar a unção desse passado rememorado. Esquecer também é uma das faces do campo da memória. Estudar o que é esquecido e o que é lembrado parece fundamen­ tal para entender o presente. Huyssen se pergunta: "Por que estamos constru­ indo museus como se não houvesse mais amanhã?" 22 Ou, dito de outra ma­ neira, qual o lugar do passado em nossos dias?

E nesse sentido é que se devem entender os embates próprios do campo da memória. A todo momento, indivíduos e grupos tomam posições diante dos acontecimentos e, ao fazerem isso, utilizam-se de memórias e reelaboram o passado recente. Como já foi dito, essas memórias em circulação, expressas por exemplo nos projetos testemunhais, não são boas ou más em si mesmas. Sobretudo, cabe dizer que essas memórias, mais do que possibilitarem uma compreensão do passado, atuam no tempo presente. E, nesse terreno da atua­ lidade, é importante estar atento ao papel que cabe ao historiador.

O historiador faz a história. O compromisso do historiador com o pre­ sente no exercício do seu ofício não deveria estar associado a uma militância em prol de uma memória social específica. Através dos instrumentos da his­ tória, poder-se-ia propor uma mudança de perspectiva do dever de memória para o trabalho com a memória. O historiador não tem o monopólio sobre a memória, mas ele detém os instrumentos para lidar com a plutalidade e a frag­ mentação da memória.

É

certo que a análise sobre os fatos ocorridos, a iden­ tificação dos episódios e a reflexão sobre esse passado recente será resultado de um esforço de escrita da história. Um trabalho sobre o terreno da memória, mas próprio à história.

NTAS

1

Há uma musealização do mundo ao mesmo tempo que a memória se tornou uma mercado­ ria em circulação nos meios de comunicação de massa. Como afirmou Andreas Huyssen: 'Não podemos discutir memória pessoal, geracional ou pública sem considerar a enorme inluên­ cia das novas tecnologias de midia como veículos para [Odas as formas de memória." Ver HYSSEN, Andreas. Seduzidos pea memória. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000. p. 21.

2 HARTOG, François; REVEL, Jacques. Note de conjoncture historiographique. In:

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3 Em 1978, foi undado o Institut d'Histoire du Temps Présent, pelo CNRS. Desde então, na França, houve um constante avanço dos estudos da história do tempo presente, que eram, ainda naquele momento, relegados a um segundo plano da disciplina, cujas áreas mais desta­ cadas eram os estudos clássicos ou medievais.Ver HARTOG e REVEL, op. cit., p. 21.

4 As comissões judiciárias são constituídas por especialistas com diferentes formações; os his­ toriadores têm destacado papel para verificar e avaliar os aspectos históricos de processos cri­ minais e atestar ou não sua veracidade.

5 No Brasil, a comemoração dos cinqüenta anos do suicídio de Getúlio Vargas demonstrou

como essas questões se fizeram presentes na conjuntura do país. Ver FERREIRA, Marieta de Mora�s. Uma memória em disputa: Vargas e as comemorações. In: Getúlio :rgs: da vida

para a história. Porto Alegre: Prova, 2005.

6 No Brasil, um episódio traumático da história recente, a tortura e os assassinatos sofridos pelos opositores do regime militar, não resultou em um projeto testemunhal de maiores di­ mensões. O movimento Tortura Nunca Mais atua no sentido de impedira esquecimento dos crimes cometidos no período e desenvolve um trabalho de coleta de informações, sobretudo listas de desaparecidos e torturadores, mas não realizou um projeto testemunhal nos moldes apresentados neste artigo. Isso não signiica que inúmeros trabalhos acadêmicos não tenham se ocupado do tema com propósitos diferenciados.

7 Ver TODOROV, Tzveran. Memória o mal, tentação o bem: indagações sobre o século X. São Paulo: Arx, 2002. p. 288.

• Ibid., p. 287.

9 Huyssen também chama a atenção para o fenômeno de exacerbação da memória do Holocausto, airmando: "No movimento transnacional dos discursos de memória, o Holocausto perde sua qualidade de índice do evento histórico especíico e começa a funcio­ nar como wna metáfora para outras histórias e memórias. ( ... ) A comparação com o Holocausco também pode servir como uma falsa memória ou simplesmente bloquear a percepção de his­ tórias especíicas." Ver HlNSSEN, op. cit., p. 13.

10

s ações da ONU e da comunidade intenacional nesse conflito foram alvo de graves crí­ ticas, porém o quadro não iria se modiicar logo em seguida. Entre 1995 e 1999, as tentativas de intervenções diplomáticas e acordos políticos falharam sucessivamente até que se deu uma intervençao militr liderada pela OTAN, entre março e junho de 1999. Essa expedição mili­ tar também resultou em fracasso e morte de civis. O início de uma pacicação da área come­ çaria com a derrota eleitoral de Milosevic, em 2000, e � aporte de ajuda humanitária a partir de então. Além de provocar a morte de muitos civis, a expedição da OTAN bombardeou

reservas de água, centrais de eletricidade, pontes e ferrovias, afetando a vida de wn número ainda maior de pessoas. O exército sérvio, soube-se depois, perdeu apenas 14 carros de com­ bare e 20 peças de artilharia. Ver TODORO, op. ciro p. 301.

" Ver LEYDESDORFF, Selma. The oficial public language and the silenced voices of the

women of Srebrenica. In: INTERNATIONAL ORAL HISTORY CONFERENCE, l3.,

2004, Roma. Anas . . . Roma: Inrernacional Oral History Association-IOHA, 2004.

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13 O apartheidfoi gradualmente extinto a partir do governo de Frederik de Klerk, iniciado em

1989. depois de décadas de resistência. Em 1994, realizou-se a primeira eleição multirracial e o líder da resistência negra, Nelson Mandela, foi eleico. Em 1999, Thabo Mbeki, também

uma liderança que lutou contra o apartheid, substituiu Mandela. Em abril de 2004, Mbeki

foi reeleito para a presidência do país. Para mais informações ver o site da BBC:

ww.bbc.uk.com.

14 Ver KGALEMA, Lazarus. The search for me trum in SourhMrica: an analysis of the Truth

and Reconciliation Conission vicrims hearings. In: INTERNATIONAL ORAL HISTORY

CONFERENCE, 12., 2002, África do Sul. Anais ... África do Sul: Internarional Oral History

Assoeiarion - IOHA, 2002. p. 1945

l' KGALEMA, op. cir., p. 1932.

16 Para uma visão critica do processo de anistia e reconciliação na África do Sul. ver: SOYlNKA,

Wole. Thérapie collecrive de la mémoire en Mrique du Sud. In: BARRET-DUBROCQ, Françoise (Org.). Porquoi" souvenir! Paris: Grasser, 1999. p. 215-222 (Académie Universelle des Culrures).

17 Sobre a questão "das memórias acorrentadas a ressentimentos" e as discussões envolvidas

nessa problemárica, ver BRESCIANI, Srella; NXARA, Márcia (Orgs.). Memória e

(res}sentimento: indagações sobre uma questão sensível. Campinas: Edicora Unicamp, 2004.

p.12.

18

Ver TODOROV, op. cir., Capítulo 4, Nem sacralizar, nem banalizar. p. 189-195.

19 Para uma síntese da discussão historiogrica sobre o tema, ver o artigo de Marie-Claire

Lavabre, Peut-on agir sue la mémoire?, publicado na revista Lei CahierI Français, n. 303, de julho-agosco de 2001. p. 8-13. O tema dessa edição é La mémoire, entre histoire et politíque.

20 Entrevista a Paul Ricoeur. Historia, Antropoloía y Fuentes Orales, n. 30, 3. época, 2003, p. 55. Ver rambém sobre essa questão: RICOEUR, Paul. La mimoire, 'hstoire, l'oubi. Paris: Le Seuil, 2000.

" CERTEAU, Michel de.A escrita z história. Rio de Janeiro: Forense Universirária, 1982. p. 66.

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