CENTRO DE P6S-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
INSTITUTO DE SELEÇÃO E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
FUNDAÇÃO GET(lLIO VARGAS
.
.. RELAÇÃO '·ENTREN!VEL
S6CIO~ECONOMI.CO-CULTURAL .. . . ,. . ....DOS ADULTOS
..I
E A PERCEPÇÃO ESTEREOTIPADA DE CARACTERíSTICAS DE
PERSO-:---+>
NALIDADE PR6PRIAS DE CADA SEXO
NEUSA EIRAS
SOARES-FGV/ISOPICPGP
CENTRO DE pdS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
INSTITUTO DE SELEÇÃO E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
fUNDAÇÃO GETOLIO VARGAS
•
RELAÇÃO ENTRE NíVEL S6CIO-ECONOMICO-CULTURAL DOS ADULTOS
E A PERCEPÇÃO ESTEREOTIPADA DE CARACTERíSTICAS DE
PERSO-NALIDADE PR6PRIAS DE CADA SEXO
POR
NEUSA
EIRASSOARES
Dissertação submetida como requisitQ parcial para.
obtenção do grau de
MESTRE EM PSICOLOGIA
•
I
Vedico
e~~e ~~abalhoao
Jo~ge,meu
ma~idoe
amigo
je
a~ no~~a~ óilha~ que~ida~
Luciana Ga
- Ao Prof. Franco Lo Presti Seminério, orientador desta
tese.
- À Prof~
Lucia Monteiro Fernandes sem a ajuda da qual
esta tarefa teria. sido muito mais árdua.
- Ao CPGPA e ao ISOP da FGV pelo apoio técnicoe adminis
trativo que me proporcionaram, inclusive através
de
uma bolsa para pesquisa.
- A
todos os que direta ou indiretamente
para a conclusão deste trabalho.
.
.
iv
o
presente ~rabalho teve como objetivo verificar se as diferenças de nível sócio-econômico-cultural interferem na - percepção que adultos têm das características de personalidade,de crianças de ambos os sexos, em termos de estereótipos
se-xuais. Para tal,procedemos a uma revisão de literatura que nos
fundamentasse teóricamente, não só em relação às diferençasbi~
lógicas, psicológicas e culturais entre os sexos, mas "também
quanto aos estudos
já
realizados sobre o tema em foco.Visando medir estereótipos e nível sócio-econômico-cultural foram construídos cinco instrumentos específicos para este estudo. Foram levantadas seis hipóteses estatísticas
sen-do que quatro delas foram testadas através sen-do coeficiente de
correlação de Pearson enquanto que as duas outras foram subme-tidas ao teste T de Student.
Os resultados demonstraram a existência de
,correla-çao negativa entre o nível ~õcio-econô~ico-cultural e a perceE
-çao de estereótipo feminino enquanto·que, em relação ao
esteó-tipo masculino esta correlação
ê
positiva. ~ importantedesta-A
car porem que, embora homens e mulheres de uma mesma classe so
cial apresentem um nível semelhante de estereotipia em suas
percepções, estas variam no que se refere aos conteúdos de ca-da um desses estereótipos.
The aim of the present paper was to check whether
socio-economic-cultural leveIs i~terfere with the perception;
in terms of sexual stereotypes, that adults have of the
personality characteristics of children of either sexo With
that end in view, we ment throngh the lit~rature that might
provide the theoretical background not only in relation to
the biological, psychological and cultural differences between the sexes but also in regard to the studies already carried out on this particular subject matter.
With the aim of measuring stereotypes and the
socio-economic-cultural leveI we built five specific
instruments for this study. We raised six statistical hypotheses, fouv of which were tester through Pearsons
correlatio~ coefficient wher.eas the other two were put'th~ough
Student's T testo
The results have shown the existence of negative correlation between the socio-economic-cultural leveI and the
perception of the feminine stereotype. As regards the
masculine sterotype, hawever, the correlation is positive. But i t is important to emphasize that although men and womem ofthe same social class present a similar leveI of stereotype in ther perceptions, such perceptions vary as to the contents of each one of these stereotypes.
Agradecimentos --- iv
Resumo ---~--- v
Summary ---
vi
•
CAPíTULO I - PROBLEMA 1. Introdução --- 012. Formulação do Problema --- 02
3. Objetivo do Estudo --- 02
4. Importância do Problema --- 02
5. Formulação de Hipóteses Substantivas --- 05
6. Limitaç5es e Del~mitaç5es --- 06
CAPíTULO II - REVISÃO DA LITERATURA 1. Fundamentação Teórica --- 08
- Fif~renciação entre os sexos --- 08
• Oiferenças biológicas ---~---~--- 08
· Diferenças psicológicas ---( l~ · Diferenças culturais ---~--- 21
2. Estudos Sobre o Tema --- 31
CAPíTULO III - METODOLOGIA 1. População' e Amostra --- 38
2. Esquema de Pesquisa e Procedimentos Estatísticos --- 40
3. Variáveis e Instrumentos ---~--- 40
4. Hipóteses Estatísticas --- 48
1. Resultados --- 51
2. Conclusões --- 53
3. Recomendações --- 56
•
REFER~NCIAS BILBIOGRÁF~CAS
--- 58
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR --- 62
ANEXOS
---~---~--64·
1. INTRODUÇ1\O
Uma área de grande interesse na Psicologia são os
estudos ligados
à
Percepção Social e Relacionamento Interpes~soaI e, intimamente ligado a eles o estudo de Estereótipos,já
que sabemos serem os mesmos responsáveis por grandes altera
-çõe s em "nOh.6 a man e-lJta
de p eJtc.eb eJt,
60 JtmaJt-lmpJte.6.6
õ
eh de
pe.6-hOa.6" CRodrigues, 1972) e responder às mesmas determinandoq~
se sempre modificações importantes em nosso processo de
rela-cionamento interpessoal. Historicamente este termo foi
utili-zado pela primeira vez pelo jornalista Walter Lipmann e
con-siste na imputação de certas características a pessoas perteg
centes a grupos específicos aos quais se" atribuem determina
-dos aspectos típicos (Rodrigues, 1972). Este autor chama a
a-tenção para o fato de todas as culturas utilizarem estefeoti- "
pos no estabelecimento de regras de re~acionamento social e
também que, embora as características atribuídas a
determina-do grupo sejam trpicas, isto não implica que todetermina-dos os indiví-"
duas desse mesmo grupo possuam as mesmas características. Nes
te ponto Rodrigues concorda com Solomon Asch, por-o reconhecer
que a individualidade de cada ser humano, nao somente do
ponto de vista, do que atribui o julgamento, mas também daque
le que
é
julgado, poderá interferir de tal forma que a avali~ção de um indivíduo a partir de concepções sobre um grupo ou
vice-versa venham a corresponder a um erro grosseiro.
-ção que Krech e outros (1969) apresentam para o termo:
06
e6te~eStipo66io
cogniç;e6
~elativamente6imple6
de
g~up0660ciai6,
que cegam
06indivZdu06
pa~aa6
múltipla6
di6e~ença6 ent~e memb~06de
qualque~ g~upo
~acial,etnico,
de idade, de 6exo, cla66e 60cial,
e tendem a
congela~6eu6 julgamento6.
Por ser esta uma área. muito extensa, nosso
interes-se interes-se focalizará especialmente nos estereótipos interes-sexuais, e,
mais especificamente, ná influência do nível
sócio-econômico-cultural de adultos na percepção estereotipada de
caracterís-ticas de personalidade de crianças.
2.
FORMULAÇ~ODO PROBLEMA
o
nível sócio-econômico-cultural dos adultosinter-fere na percepção que os mesmos tem. das características depeE
sonalidade de meninos e meninas, em termos de estereótipos se
xuais?
3. OBJETIVOS DO ESTUDO
o
objetivo deste estudo ~ verificar se asdiferen-ças de nível sócio-econômico-cultural interferem na percepçao
que adultos têm das características de personalidade de crian
ças em termos de estereótipos sexuais.
4. IMPORTÃNCIA DO PROBLEMA
mulher dentro do grupo dos oprimidos em nossa sociedade e
se-gundo ele
a
de~c~içãotlpica de
pe~onatidade6eminina que
~epode
encont~a~em
t~v~o~de
P~icotoaia, u~uatmentee4c~ito po~ homen~,
é·uma
ext~ao~dina~ia mi~tu~ade
dive~t~mento tote~ante
e
de~p~ezoconde4cendente
-uma cópia
t~an4pa~enteda
pio~ e~péciede
e4te~eótipo da
muthe~, 6o~jado peto~·homen4.Eta4
~ão de~c~1ta4 como
c~iatu~a~ 6~ágei~, boba~, dependente~e
[fi6anti4, que co n4 o·mem toda
.6ua
ene~giatentando
~eJL
.6u6icientemente
at~aente pa~a aga~~a~um homem
de
6o~ma
a
pa4~a~o
~e4toda vida
p~ocu~ando 4ati~6a-zê-to.
Se~boa e4po4a e boa mãe
é
ap~e4entadocomo
o papet
ve~dadei~oe "natuat" da
muthe~,e a
~eatização de .6ua
natu~eza"bá.6ica".
Percebe-se o quanto está enraizado em nossa socieda
de este estereótipo feminino que orienta a educação da menina
no sentido de assumir um papel sexual e social de inferiorida
de, submissão, dependência. Percebemos também que os apelos a .
tualmente
~ançadosa esta geração já formada para que se
tor~nem mulheres profissionalmente independentes e realizadas, se
chocam com o tipo de formação .q ue
~eceb~ram
durante toda / a Oi!!
fância e adolescência, o que as leva a um sentimento'de incer
teza em relação a que papel assúmir.
Evidentemente tais conflitos nao se patenteariam na
idade adulta se as .crianças (meninos e meninas) fossem
educa-dos dentro de uma filosofia que não visasse incutir-lhes
pa-drões de papel sexual e social pré-estabelecidos mas sim,
dar-lhes condições de desenvolverem suas potencialidades
indepen-dentes do sexo a que pertencessem. Desta maneira, acreditamos
que o sentimento de frustração que acompanha atualmente a
gr~de maioria das mulheres que não se casam e não se tornam mães,
seria minimizado uma vez que casamento e maternidade seriam e
mesmo aconteceria em relação aos homens, que teriam liberdade
para escolher sua profissão em função de seus reais interes
-ses e aptidões, e nao como atualmente acontece, por uma
pres-sao social no sentido de escolher profissões masculinas e de
alto prestígio.
•
Embora sendo um consenso geral dentro da Psicologia
que a existência de papéis sexuais são essenciais para o de
senvolvimento da personalidade e que a internalização inade
-quada desses papéis é uma das causas de problemas de ajusta
mento e·de aceitação sexual, pouco se tem feito no sentido de
estabelecer quais as condições e os processos mais adequados
para facilitar a aquisição bem sucedida de padrões
apropria-dos de papel sexual. Por outro lado, a própria validade
des-tes mesmos padrões só recentemente começou a ser questionada
no sentido de serem determinados seus possíveis efeitos
posi-tivos ou negaposi-tivos para o pleno desenvolvimento de homens . e
mulheres.
Atualmente, os movimentos feministas muito se tem
preocupado com a validade dos padrões de papel sexual, uma vez
que é em consequência desses estereótipos que a mulher, emno~
sa cultura, tem sido estigmatizada como segundo sexo e ela co
meça agora a reinvindicar sua emancipação ou seja, que seja
reconhecida sua capacidade para desempenhar, não só os papéis
que lhe são destinados, como mulher, mas também aqueles
atri-buídos ao sexo masculino, e que se dê a ela, e somente a ela,
o direito de escolher seu próprio caminho.
estereótipos que moldam as personalidades femininas,estaremos
identificando também aqueles que determinam o comportamentorra~
culino e, ao preconizarmos uma educação para as crianças, que
formem pessoas, indivíduos completos e espontâneos, estaremos
preconizado não só a liberdade para a mulher, como também
pa-ra o homem, que embopa-ra atualmente se beneficie de um "status"
de superioridade, também'se vê preso e limitado, muitas vezes
sufocado, por uma série de tabus que o impedem, em nossa
so-ciedade, de demonstrar sua sensibilidade, sua insegurança,sua
emotividade, etc ••• por serem estas características consider~
das "femininas" quando na verdade elas existem e s~o mesmo de
sejáveis, em maior ou menor grau, em todos os seres humanos.
Segundo Mead (1969)
não pode
have~ ~oe~edadeque
~n~~~taem que a
mulhe~~~ga
um
pad~ão e~pee~alde
pe~onal~dade, deó~n~doeomo
óem~n~no,que não
v~oletambém a
~nd~v~dual~dadede-
mu~to~ homen~."
5.
FORMULAÇ~ODE HIPOTESES SUBSTANTIVAS
o
presente estudo testou as seguintes hipóteses:(1) há uma correlação negativa entre o nível
sócio-econômico-cul tural e a percepç~o estereotipada' de características de
personalidade próprias de cada sexo.
(2) adultos do sexo masculino e adultos do sexo feminino têm
6. LIMITAÇOES E DELIMITAÇOES
Foi delimitada a faixa etária de três a oito anos de
idade para as crianças que compuseram a amostra por dois
moti
vos: (1) por ser esta uma faixa de idade em que os comporta
-•
mentos infantis não estão claramente diferenciados em
termos
de padrões sexuais e (2) para facilitar a seleção nas escolas
que possuiam turmas no maternal, jardim de infância e
prim~ira série. Deste modo, acreditamos que as percepções dos
adul~tos sejam orientadas muito mais no sentido de
estereótipos
sexuais do que no de uma percepção real do comportamento
in-fantil.
Também em relação a variável nível
sócio-econômico-cultural, foram delimitadas somente duas faixas de atuação ou
seja,
ní~el
médio e nível alto. Isto se deveu ao fato de,
em
trabalhos anteriores, termos percebido uma grande dificuldade
-por parte das pessoas de nível cultural muito baixo em
compr~ender o conteúdo de certas perguntas e sua consequente difi
-culdade em respondê-las •
. A primeira limitação do estudo se deveu, às dificu!
dades encontradas para a caracterização dos indivíduos e a con
sequente escolha da amostra.
A construção do instrumento para medir o nível só
-cio-econômico-cultural foi a responsável pela segunda
limita-ção. Por ser esta uma. variável muito complexa, foi muito difí
cil e trabalhosa a caracterização de situações que
podessem~A terceira limitação se refere a precisão com
quee~ 1tes dados· foram colhidos, uma vez que não se pode exercer um
controle no preenchimento dos questionários para obtenção dos
dados reais de cada caso.
CAP!TULO 11 "
REVIS~ODA LITERATURA
A revis~o de literatura do presente estudo est& CO!
posta de duas partes. Na primeira, encontrase toda a funda
-mentaç~o teórica que serviu de base a este trabalho; na seguE!
•
da foi feito um levantamento das pesquisas j~ realizadas
n~s-..
ta area.
1.
FUNDAMANTAÇ~OTEORICA
1.1.
DIFERENCIAÇ~OENTRE OS SEXOS
A diferenciação entre os sexos será feita segundo
três diferentes abord~gens: biológica, psicológica e cultural.
- DIFERENÇAS BIOLOGICAS
No presente estudo, nos propomos analisar as dife
-renças de comportamento entre indivíduos de ambos os sexos.Em
bora acreditemos que tal diferenciaç~o se deva
primordialmen-te a três fatores fundamentais - a aprendizagem anterior do
indivíduo; a influência do seu meio psicológico imediato e fi
nalmente a influência do meio
sócio-cultu~al
geral em que sedesenvolve - n~o podemos negligenciar a importância dos
fatoresbiológicos, geneticamente determinados ou não, no desen
-volvimento de características comportamentais de indivíduos
de sexos diferentes.
concepçãO.. No exato momento em que o espermatozóide penetra
no óvulo, desencadeia-se um longo processo evolutivo e, neste
mesmo momento, a natureza define o sexo deste novo ser.
Antes de nos determos na determinação do sexo do be
bi e nas caracterIsticas biológi~as decorrentes, alguns con
-ceitos básicos de Genética deverão ser abordados, embora de
maneira superficial.
Segundo Thompson e Thompson (1965) em cada célula
humana existem 46 cromossomos. Esses 46 cromossomos estão dis
postos em pares homólogos, sendo que em cada par um membroori
ginou-se da mãe do individuo e outro membro originou-se dopai
do individuo. Vinte e dois desses pares são semelhantes nos
-
.
~homens e nas mulheres sao os chamados autos somos - mas o v~g~
simo terceíro par diferem nos dois sexos - são os chamados cro
mos somos sexualS - que têm como função a determinação do sexo
do individuo.
Toda a herança fIsicaodo pai e da mae estão conti
-das nesses 46 cromossomos, melhor dizendo nos gens contidospe
los cromossomos. Um gen
é
um segmento de DNA (ácidO desoxirr!bonucleico)e os cromossomos são estruturas nas quais os gens
estão dispostos em ordem linear junto com proteInas e outras
substâncias quImicas. Há cerca de 1.000.000 de gens em urna cé
lula humana, ou seja, mais ou menos 20.000 por cromossomos.
(Mussen - 1974).
Observamos então que este número quase infinito de
gens permite que cada filho receba combinações diferentes de
-ças individuais não s~ entre irmãos como entre todos os seres
humanos. A única situação em que tal não ocorre é o caso deg~
meos idênticos, pOlS possuem a mesma herança genética.
A Determiri~çã6 d6s Sexos - O organismo adulto
con-•
tém duas classes de células: as somáticas que constituem os
ossos, nervos, músculos e órgãos, e as germinais das quais se
derivam os óvulos, ou os espermatozóides •. Estas células germ!
nais após um processo de amadurecimento e divisões específi
-cas, darão origem a um gameta masculino ou um gameta feminino
que, ao contrário das células somáticas, não conterão 23
pa-res de cromossomos e sim apenas 23 'cromossomos, um de cada~.
Deste modo, ao se unirem o espermatozóide com o óv~
lo, há a formação do ovo, ou zigoto, que por sua vez possuira
23 pares de cromossomos.
Sabemos que a mulher normal possui um par de cromos.
somos sexuais de tamanho grande - os chamados cromossomos X,
enquanto que o homem normal, além de um cromossomo X possui
um outro pequeno, chamado cromossomoY logo,o par feminino é
xx
e o masculino é XY.Durante a formação dos gametas esses cromossomos são
separados pois cada gameta só poderá possuir um deles. Desta
forma quando um óvolo que contém um cromossomo X se une comum
espermatozóide, haverá a formação de um embrião do sexo
femi-'nino XX. Por outro lado se a união de um óvulo que forçosame~
te possui um cromossomo X se der com um espermatozóide quepo~
demos observar, há 50% de probabilidade de, ao se formar um
novo ser, este ser menina e 50% de probabilidade de ser
meni-no, mas esta união se dá inteiramente ao acaso, contrariando
muitas vezes as expectativas e desejos dos pais.
A Import;ncia doS Gens·- Como ressalta MonederoQ972)
os gens determinam o aspecto anatômico do indivíduo, toda a
constelação de seus processos físico-químicos, se ele será ho
mem ou mulher, alto ou baixo, gordo ou magro, podem influir
em sua resistência a diversas enfermidades e mesmo estabele
-cer limites além dos quais sua inteligência não poderá se
de-senvolver; todavia a capacidade determinante dos gens dopo~
to de vista psicológico, está ainda por ser esclarecida. Tudo
leva a crer em uma multiplicidade de gens atuando na d~termi
naçao de q~alidades psíquicas herdadas.
Mussen (1974) chama a atenção para o fato deser
ex-tremamente difícil determinar "quais" e" "como" os gens são
C!!
pazes de exercer influência no aparecimento de diferentes con
-dutas e traços de personalidade e principalmente, de que
for-ma podemos qeterminar qual o efeito específico da interaçãode
forças hereditárias e ambientais na determinação de tais
ca-racterísticas • .
Características Biológicas Próprias de Cada Sexo
Evidentemente as características somáticas de cada indivíduo
serão fundamentalmente determinadas por sua herança genética.
Carmichael (1970) em exaustivo estudo sobre o desenvolvimento
infantil ressalta as diferenças sexuais no crescimento físico
o
efeito dos hormBnios das gBnadas se fazem sentir
logo no início da gestação, uma vez que a ação dos gens
do~mossoma Y provoca nos meninos, em torno da nona semana de ida
de fetal, a transformação em testículos reconhecíveis das
gB-nadas anteriormente diferenciadas. Já no caso das meninas
es-ta diferenciação se dá um es-tanto mais es-tardiamente. Somente
a
decima semana de idade fetal a gBnada se transforma em ovário,
e por volta da decima quarta semana a genit$lia externa a9qu!
re a aparência feminina.
Na época do nascimento o menino típico é maior emais
pesado que a menina típica e continua crescendo mais rapida
-mente que a menina até mais ou menos sete meses de nascido. A
partir daí a meinia
cres~emais rápido até mais ou menos
os
quatro anos de idade. Dai até a adolescencia
n~ose constata
nenhuma diferença na velocidade decrescimento de ambos os
se-xos. Na adolescência observa-se novamente que as meninas -têm
seu "estirão" de crescimento, cerca de" dois anos antes que os
meninos.
A partir da adolescência o dimorfismo sexual se tor
na evidente através dos efeitos diferenciais do
crescimento
dos ossos, músculos e gordura. Segundo Carmichael
(1970)os
meninos apresentam um aumento maior não só no comprimento dos
ossos, mas também na espessura da camada compacta enquanto que
as meninas apresentam uma menor perda de gordura, principal
-mente na região do tronco
e
pernas.
As meninas apresentam um estirão particularmente
gr'a~de na largura dos quadris durante a adolescência enquanto que
meninos. Também estas diferenças de crescimento se devem
à
a-tçao de hormônios distintos: nas moças as células
cartilaginosas dos quadris, na área de articulação da pelvis, são espe
-cializadas para se multiplicarem em' resposta
à
produção de estrógeno, enquanto que nos rapazes o desenvolvimento das
célu-las cartilaginosas da região dos· ombros se dá em resposta
secreção de andrógenos como a testosterona .
.
-
..
...
aExistem padrões de desenvolvimento ósseo nao so
pa-ra a pelvis como também papa-ra o joelho, o tornozelo, e mao e o
pulso. A maturidade óssea mede até que ponto os ossos de uma
área progrediram em direção
ã
maturidade, n:o em relação detamanho, mas sim em relação a forma e nas suas posições
relati-vas uns aos outros~ Car~ichael C1978}.O escore de maturidade
cronológica em qualquer idade será sempr~ maior para as
meni-nas que--para os meninos. Isto se deve ao fato de as mulheres
atingirem a maturidade biológica cerca de dois anos ant~s ~ue
os
homens.-Não cabe neste estudo um detalhamento mais profundo
das diferenciações-fisiológicas entre os sexos. Importa saber
que tais diferenças existem e devem ser reconhecidas e respe!
tadas não como uma justificativa para que um sexo se sinta in
ferior ao outro mas sim para que se tornem complementos um do
outro. Talvez a natureza tenha dotado o homem de maior porte
e força muscular para que ele subjugasse os animais no
momen-to da caça, e tenha dotado as mulheres de uma maturidade
bio-lógica mais precoce, para que elas pudessem ter filhos maisce
do, amamentá-los e criá-los. Desta forma homens e mulheres te
riam papel igualmente importante: garantir não só a sobrevi
- DIFERENÇAS PSICOLOGICAS
A aceitação de papéis sexualS diferenciadGs na civi
lização ocidental se dá de modo tão natural que muitos pesqui
sadores se viram inclinados a desenvolver pesquisas
visando
•
determinar especificamente se existem ou não diferenças
psic~lógicas entre os sexos.
Lindzey e Hall (1977) publicaram o extensivo
traba-lho de Maccoby e Jacklin que resumem magnificamante os
resul-tados dessas pesquisas.
Citaremos aqul as áreas de maior polêmica,
dentre
elas:
Percepção Estudos realizadoS com crianças peque
-nas constaram que as reações masculi-nas e' femini-nas para esti
mulos visuais e auditivos são semelhantes. Poucos são
os,tra-balhos sobre os sentidos do tato e do olfato e embora seus re
sultados indiquem uma maior sensibilidade do sexo feminino
tanto el11 meninas récem nascidas como em mulheres adultas,
,
há
necessidade,de'pesquisas adicionais para que estes resultados
sejam confirmados.
Aprendizagem - Pesquisas sobre aprendizagem por
co~dicionamento e tempo de extinção de respostas mostraram que os
dois sexos reagem ao condicionamento e a extinção de uma ma
-neira extraordinariamente semelhante. Estes resultados nãocon
firmam as hipóteses levantadas em trabalhos mais
antigos
(Broverman 1968) que dizia que as mulheres seriam superio
re-petitivo enquanto que os homens se sobressairiam em
comporta-I
mento complexo, que requerem solução de problemas, a demoraou
a reversão de hábitos comuns.
Maccoby e Jacklin desenvolveram pesquisas
específi-cas para testar as hipóteses de ~roverman e, em todos os tra~
balhos, verificaram que os testandos masculinos e femininos
não diferiam em seus resultados.
Inteligência - Os testes de inteligência geral nao
foram construidos para mostrar diferenças entre os sexos mas
estas diferenças muitas vezes aparecem nos c~btestes de
habi-lidades especiais. Trabalhos realizados na década de trintain
dicavam
que as meninas se destaca~am nas tarefas verbajs e osmenanos nas tarefas matemáticas e viso-esp~ciais. Trabalhosmais
atuais têm' deix~do margem a grandes dúvidas em relação a
es-sas conclusões.
Uma das variáveis que têm influenciado nesses resul
tados
é
o nível sócio-econômico mas, mesmo assim, só foi con~tatada uma pequena superioridade das meninas sobre os meninos,
em habilidade verbal, após os dez anos de idade, em classes
mais favorecidas enquanto que, em classes menos favorecidas,
são ainda as meninas que se destacam em conceitos numéricos e
habilidades matemáticas. Somente em grupos de adolescentes
que foi encontrada uma ligeira superioridade masculina na
ha-bilidade viso-espacial.
Motivação
de Realização - O desempenho em ativida-ção de realiza-ção e, muitas pessoas acreditam que esta motiva
ção seja inferior no sexo feminino desde a infância, o que
a-carretaria um número pequeno de mulheres em cargo de alta
ca-tegoria em atividade~ intelectuais. As pesquisas feitas nessa
área mostram que durante os anos escolares as meninas mantêm
•
um nível razoavelmente alto de motivação acadêmica, ao passo
que os rapazes se orientam menos na direção da escola (Lindzey
e Hall, 1977) e outros estudos mostraram que os escores dos
sexos na persistência em seguir tarefas são semelhamentes.
Acreditamos que a explicação para o fato de haver
diferenças na realização da mulher adulta em relação ao homem
adulto não se deva absolutamente a diferenças na motivação de
realização, mas sim a fatores sociais que serão
melhor'explo-rados no item "Percepção Social e Expectativas" ao final
des-te Capítulo.
/
Sensibilidades e Afiliação - Muitas pessoas
acredi-tam que as mulheres sejam mais carinhosas, mais dependentes
afetivamente, mais preocupadas com as opini5es de outros a
seu respeitq e tenham mais dificuldades de se sentirem bem es
tando sozinhas. As pesquisas nesta área (Maccoby e Jacklin
,
1977) demonstra~am que não há confirmação "de que as crianças
de um sexo possuam mais interesse que as de outro por
estímu-los sociais ou sejam mais suscetíveis a elogios ou críticas
por seu desempenho ou tarefas intelectuais. Estudos sobre
de-pendência ou apego aos pais mostram que crianças de ambos os
sexoa procuram estar perto de seus pais principalmente em
mo-mentos de tensão e, por outro lado, estão sempre dispostas a
. Todos estes estudos confirmam que as opiniões
das
pessoas, em relação a características psicolôgicas próprias de
cada sexo se baseiam em estereôtipos que não resistem a
uma
análise científica mais pr.ofunda •
•
Agressão - Muitas pesquisas feitas em nossa cultura
tem mostrado a agressão como uma característica marcadamente
masculina mas, como teremos oportunidade de verificar no
pró-ximo capítulo ao abordarmos estudos antropológicos veremos que.
as diferenças culturais se fazem presentes.
Dentro da Psicologia vârias são as teorias que
ten-tam explicar a agressão; algumas a colocam no grupo das
cara~terísticas inatas,
enquant~outras a incluem entre as caracte
rísticas adquiridas. Analisemos resumidamente cada uma delas.'
Foram os acontecimentos da primeira guerra mundial
que reforçaram em Freud a importância da .igressão, qu.e até
e~tão não havia sido abordado de maneira objetiva e sistemática
pois, no sadismo e no masoquismo a agressão era
cons i del'ada
como um componente acidental. A destruição trazida pelo con
-flito armado levou Freud a considerar a agressão como um
ins-tinto propriamente dito, um insins-tinto de destruição (Wyss,197S).
A este instinto Freud denominou Instinto de Morte estando seus
efeitos visíveis tanto na observação de repetição neuróticade
situações traumáticas e auto-destrutivas como na agressão
al-ter ou auto dirigida (Lindzey, lS71). A agressão que
transfo~ma destrutivamente o
V1VOno morto, o sadismo e o masoquismo,
estão submetidas ao instinto de morte (Wyss, 1975).
Segundo"
do, e instinto de morte ou agressão inevitamente cumpriria a
sua missão.
Konrad Lorenz (1973) da mesma forma que Freud,
con-sidera a agressão como algo instintivo e obviamente inato. Se
gundo este autor o instinto de agressão
é
um verdadeiro ins-tinto herdado de nossos antepassados antropóides e destinado
originalmente a conservação da espécie.
o
queé
indiscutível em ambos~s
teóricosé
quene-nhum dos dois fez qualquer distinção entre sexos no que se r~
fere
à
agressão ou seja, homens e mulheres, machos e fêmeas terlam o mesmo potencial inato de instinto agressivo variandoso
~
.
mente conforme as especles.
-Sullivan, Dollard e Miller consideram a agressao co
mo uma característica adquirida que se manifesta como uma rea
ção
à
frustração.Para SullivanCcitado em Wyss, 1975) a meta
princi-paI da natureza humana seria, por um lado, a 'satisfação das
necessidades corporais por ele chamadas "instintos" ou seJa ,
fome, sexo, sede e, por outro a busca de segurança. Estas
se-riam as tendências iniciais do homem e mais tarde, durante a
inf~ncia a "busca do poder" seria anexada ~s tendências
ini-ciais. O fator q~e durante o desenvolvimento do indivíduo vem
a se tornar um obstáculo ·à busca de segurança e de satisfação
das necessidades primárias seria a angústia que,em suas
medi-das extremas ,apresenta num extremo o p~nico e no outro a eufo
-são, para. Sullivan, não seria algo inato mas sim um impulso,
que pode ser sublimado através das formas de conduta social
-mente reconhecidas, ou descarregada no sonho ou na fantasia,
e que surgiria corno consequência da frustração decorrente de
sua impossibilidade de satisfazer suas necessidades (Wyss 1975).
-Dollard e ou'tros (citado por Sears, 1970) publica
-ram em 1939 um trabalho em que explicavam sua teoria sobre a
relação entre Frustração e Agressão. Eles partiram em seus e~
tudos do pressuposto de que a agressão é sempre urna consequê~
cia da frustração. Mais especificamente, a proposição é que a
ocorrência de comportamento agressivo pressupõe a existência
de frustração e, inversamente, a existência de frustração cul
mina, sempre em alguma forma de agressão. Muito se tem
discu-tido a respeito de tal teoria e os próprios aut0res já
refor-mularam alguns dos pontos principais corno no que se refere a
.
frustração produzi~ um nGmero grande de d~ferentes tipos de
respostas sendo urna delas a instigação a alguma forma. de a~~
são (Miller, 1941). Já Sears (1970) embora afirme que a
frustração usualmente desperte a agressão, aceita que hajam cir
-cunstâncias em que tal não ocorre e outros fatores, além da
frustração podem também produzir agressão.
Urna das variáveis que interferem no aparecimento da
..
resposta agressiva, segundo Sears (1970) e o grau de
arbitra-riedade da frustração de modo que quanto mais arbitrária for
a frustração maior será o grau de agressão despertado. De qual
quer forma, mesmo modificada pela evolução do pensamento dos
autores a teoria "Frustração-Agressão" em momento algum vincu
J~ Skinner (lS70) e Bandura (1974) consideram a
a-I
gressão como uma reação adquirida por aprendizagem.
Para Skinner (1970) o indivíduo
ê
produto dos condicionamentos do meio ambiente em que Vlve. Os comportamentos ~
presentados nada mais são que aqnelas respostas que foram re~
forçadas quando ocorreram pela primeira vez. Uma resposta
positivamente reforçada quando sua emissão
ê
imediatamente seguida de um estímulo que faz com que ela seja emitida novame~
te. Considerou a agressao como aprendida por reforçamento si~
nifica que uma resposta agressiva foi emitida casualmente e
os resultados desta resposta foram reforçadores para o indivi
duo e, desta forma, em situações semelhantes, ele tenderá a
emitir ~espostas agressivas para que o reforçamento positivo
ocorra. Para este autor nao haveria diferenciação entre sexo
ou raça para que o comportamento agressivo se manifestasse
,
ele seria consequência apenas das vivências do indivíduo'e·da
interação entre as suas respostas e as do meio ambiente.
Embora desde o início co século tenham surgido
mui-tos trabalhos enfocando a aprendizagem por imitação, a teoria
de Bandura (1974) quando se fala em aprendizagem através de
modelos, é inevitamente citada. Segundo este autor a aquisi
-ção de pautas de comportamento se dá primordialmente através
da ;~itação dos modelos paterno e materno que são aqueles que
as crianças têm diante de si desde o nascimento. Em seus estu
,dos comprovou que os modelos filmados não são tão eficazes co
mo os da vida real para transmitir pautas de comportamento o
que justifica, até certo ponto, o fato de crianças que,
apresentam comportamentos opostos a estes quando seus pais não
são pessoas agressivas.
De acordo ,com os estudos de Kogan e Moss (1960) con
firmado por Bandura (1960) as variaç3es nas características
comportamentais de meninos e meninas se devem primeiramente a
imitação dos modelos paternos e maternos que normalmente apr~
sentam comportamento estereotipadamente diferenciados e, em
segundo lugar, as influencias sociais (eSCOla, amigos,
paren-tes, meios de comunicação, escrita e falada) que apresentam
também modelos sexualmente estereotipados. Desta 'forma pode
-mos verificar que, respeitando as diferenças individuais, a
tendência a manifestação de respostas de conteúdo agressivo
seria consequência não de fatores intrinsicamente ligados ao
sexo do in~ivíduo, mas sim de imitação dos modelos que lhe fos
sem apresentados em seu convivio social.
- DIFERENÇAS CULTURAIS
Quando falamos de diferenciação entre os sexos, não
podemos nos limitar nem ao estudo dos fenômenos biológicos que,
evidentemente, 'determinam as variaç3es ~~anto ao aspecto
so-mático nem ao estudo das diferenças psicológicas pois como
Ruth Benedict (1946) enfatizou,
é
necessário contemplar o comportamento humano em seu'contexto cultural. Não se pode
invo-car a natureza humana como uma explicação das atividades do
homem, pois a natureza humana
ê
extraordinariamente maleáveldiri-gí-la em'diferentes direções. A tradição cultural, os estereó
tipos sexuais diferentes que dominam nas diversas culturas,as
características próprias de cada povo, fazem como que todo in
divíduo seja condicionado ,por aprendizagem e por educação a
um contexto particular de tradição cultural (Keesing, 1961) •
•
Os conhecidos e respeitados trabalhos de Margareth
Mead sobre habitantes de ilhas oceânicas, vivendo em estado
de semi-primitivismo, com culturas plenas de valores e
cren-ças muitas vezes opostos aos nossos, nos dão uma prova
incon-testável da importância e alcance deste tipo de condicionamen
to para a determinação das características de
próprias de cada sexo.
comportamento
-Os Arapesh, por exemplo, sao um povo que desde a
ln
fância são educados no sentido de serem extremamente colabora
dores, nenhuma forma de competição
é
estimulada entre eles;~
sua plantação,colheita ou mesmo caça são efetuadas sempre de
maneira grupal, de modo que o fruto dessas atividades seja
sempre dividido e apreciado por todos. Não desenvolvem o
sen-timento de posse de bens materiais e mesmo em relação a
ter-ras herdadas de seus antepassados, o sentimento
é
de que aspessoas pertencem
à
terra e não a terra às' pessoas (Mead,1950).Homens e mulheres exibem uma personalidade que, de acordo com
os valores de nossa sociedade, poderia ser chamada de
mater-nal em seus aspectos parentais e em seus aspectos sexuais de
feminina: ambos aprendem a ser cooperativos, não agressivos,
e suscetíveis às necessidades e exigências alheias. Homens e
vas entre si. Mesmo na divisão de trabalho o critêrio usado
•
não é o de "tarefas mais importantes" para um sexo e as "mais
inferiores" para outro. O critério utilizado ê o da força fí-.
sica em que as tarefas mais pesadas são deixadas ao homem. Des
se modo cozinhar o alimento cotidiano, trazer lenha leve e
água é trabalho feminino; cozinhar o alimento cerimonial, car
regar porcos e toras pesadas, construir casas, costurar
fo-lhas de palmeiras, caçar e cultivar inha~e são tarefas
mascu-linas; já fazer ornamentos e cuidar das crianças é tarefa de
ambos.
Na educação do Arapesh vemos ~ pa~ assurrir uma ati
tude tão carinhosa e paciente em· relação às crianças quanto a
mae; a criança é criada sem tabus· sexuais, sem uso de . roupas
até aproximadamente cinco anos de idade; ~eu desmame é feito
de maneira lenta e carinhosa em torno dos três anos de idade;
aprendem a amar um número enorme de adultos como seus pa~s e
suas mães, o que lhes dá segurança e tranqúilidade. A criança
é estimulada a descarregar suas emoções violentas sobre o meio
ambiente, rolando na lama ou jog~ndo pedras' ou lenha no chão, . ,
mas nunca agredindo a um companheiro·. Tais atitudes são
esti-muladas até a vida adulta, fazendo com que sentimentos de hos
tilidade ou desejo de guerra não sejam alimentados entre eles,
a não ser em defesa da aldeia contra ataques externos.
Temos então, que entre os Arapesh não são
desenvol-vidos papéis opostos para o menino e para a menina. Ambos são
educados para serem sensíveis, meigos e pacíficos e as leves
variações temperamentais observadas não se devem ao sexo do
Por outro lado, na cultura Mundugumor, meninos e me
nlnas são educadosl para se tornarem adultos implacáveis,
a-gressivos, com um mínimo de aspectos carinhosos e materiaisern
sua personalidade. (Mead, 1969}. Desde o período de gestaçãoa
criança Mundugumor é rejeitada e, muitas vezes, após o
nasci-mento é eliminada, salvo quando ~e trata de uma menina, pois
elas são úteis para serem trocadas no futuro, por esposas
pa-ra seu pai ou seu irmão. Desse modo, desde o nascimento a cri
ança começa uma vida sem amor, em que a amamentação
é
feitade maneira apressada, estando a mãe de pé e a crlança numa p~
sição extremamente desconfortável e o desmame é feito de modo
rude e violento. A criança Mundugumor .aprende desde cedo
não deve agarrar-se
à
mãe nem por medo, nem por afeição;que
-
.nao
deve chorar, a menos que queira ser esbofeteada; não -. devem
exigir atenção~ e não ser com os raríssimos adultos que gostam
de crianças e outras proibições semelhantes. Desde a malS ten
ra infância, meninos e meninas são habituados a conviver num
mundo hostil, onde a maioria dos membros de seu próprio sexo
serao inimigos, onde jamais uma gentileza ou carinho lhes foi
dirigido a fim de torná-los dóceis.
Entre os Mundugumor vemos entã,o que, da mesma forma
que entre os Ar~pesh, não existe teoria de que mulheres
dife-rem dos homens no caráter e no temperamento. Mas enquanto os
Arapesh cultuvam a gentileza e a docilidade para ambos os
se-x6s, entre os Mundugumor .espera-se que homens e mulheres
se-l
Em
no~~a~
abo~dagen~
~ob~e
t~lbo~
p~lmltlva~
u~a~emo~
o
ve~
bo no
p~e~ente, embo~a~abendoque o contato
de~~a~ t~ibo~com
o~ p~ovo~ civillzado~tenha uma in6luência
muit~ veze~negativa
em
~ua manei~ade
vlve~, alte~ando ~eu~ eo~tume~e
~ua~ c~enç.a~, levaJ1.do-o~
até a uma
pe~da.de
~uaimpoJt:tâ.l1úa
g~-jam violentos, competitivos, agressivamente sexuados,
ciumen-tos e pronciumen-tos a ver e vingar insulciumen-tos, deliciando-se na osten
tação, na ação e na luta (Mead, lS69).
Um terceiro povo da Nova Guiné que mostra padrões
•
de conduta e de papéis sexuais bem diversos dos nossos sao
-os Tchambuli. Vivempr'incipalmente para a arte, dança,
escul-tura, trançado, pintura e outras. Embora seja uma sociedade~
trilinear onde os homens são nominalmente pro~rietários das
casas, chefes das famílias, até mesmo donos das empresas, mas
a verdadeira iniciativa e o poder se acham nas mãos das mulh~
res (Mead, 1969). A verdadeira propriedade, aquela que o
ho-mem realmente possui, ele a recebe das mulheres, em troca de
olhares languidos e palávras doces. são elas que pescam para
a sobrevivência da tribo e que controlam o negóeio de troca
de pescados por sagu, taioba e noz de areca ou de mosquitei
-ros, redes, etc ..• por canoas ou outros p~odutos.
As mulheres Tchambuli·são sólidas, preocupadas,
po-derosas, com os cabelos rentes e sem adornos; formam um grupo
coeso, amigo, e convivem num clima de confiança e solidaried~
de umas com as outras. Sexualmente são a parte ativa do casal,
cabendo a ela a iniciativa numa relação sexual, embora o
ho-mem possa ter mais de uma esposa, caso seja por ela escolhido.
A atitude das mulheres em relação aos homens
é
detolerância e estima.
carinhosa
o
homem Tchambulié
sensivel, vaidoso, usa o cabelodelicadamente arranjado em cachos, cobertura pública feita de
requebra-do e ar autoconscient~ como um ator a representar uma sériede
papéis encantadores. Na realidade a preocupação maior de umho
mem dessa tribo
ê
sua aparência fí~ica, seus trajes, suas máscaras, sua habiiidade em tocar flauta, e nas danças, jogos ou
representações que realizam frequantemente para as mulheres.O
.
.
relacionamento entre os homens se dâ num clima de tensão e vi
gilância, pois os comentârios fingidos e de duplo sentido são
a tônica, havendo frequentemente sentimentos feridos e
peque-nas rixas, que são solucionadas através de ofertas de
presen-tes que são dados pela mulher ao marido para que este os
ofe-reça ao amigo magoado.
É este o modelo de home~ e mulher que a criança
Tchambuli tem diante de' si desde o nascimento. Apesar de os
papéis serem praticamente o oposto do desempenhado pelos adul
tos em nossa civilização, não devemos pensar que as mulheres
I _
Tchambuli sejam criaturas masculinizadas ~ grosseiras, que r~
negam sua situação biológica de mulher. Muito aos contrário ,
a gravidez
ê
um evento agradâvel, a amamen~ação se dá numa relação de afeto entre mãe e filho, e o desmame é feito de
ma-neira suave e terna.
Não nos deteremos aqUi em profundos estudos antrop~
lógicos sobre diferentes papéis sexuais. Acreditamos que
es-tas três culturas de hábitos tão distintos da nossa cultura
sul americana, sejam exemplos suficientes. Importante seria
que tais maneiras de educar crianças, tais sistemás de valo
-res tão diversos fossem vistos como formas perfeitamente
•
injustificado atribuis se aos Arapesh características
"femini-nas" para ambos os sexos, aos Mundugumor traços "masculinos 11
para homens e mulheres, enquanto que os Thambuli seriam, por
nós, considerados "invertidos" em termos de papéis sexuais •
•
f
compreensível que cada povo julgue os outros atravês de sua própria escala de valores. Mas uma cultura "civil i
zada", evoluída como a cultura ocidental ceve fugir de uma
a-nálise unidirecional e procurar aprender com os primitivos no
vas maneiras de relacionamento interpessoal que talvez sejam
tão velhas como a próprias humanidade e que nos permitam, não
substituir os nossos padrões por padrões primitivos de papel
sexual, mas sim, permitir e aceitàr as manifestações indivi
duais de comportamento e temperamento sem que venham previa
-mente rotulados
e
limitados pelo sexo biológico a queperten-cem.
NORMAS SOCIAIS
Todo indivíduo nasce em uma sociedade estruturada
por malS primitiva que ela seja. Isto implica em que tal
so-ciedade apresenta um conjunto de costumes, tradições, normas,
papéis, valores, modas e todos os demais critérios de
compor-tamento que estão estabelecidos como consequência de uma inte
ração entre os indivíduos que vêm e constituir as chamadas
"normas sociais" CScheriff, 1936). Tais normas atuam sobre o
indivíduo desde o seu nascimento muitas vezes de modo
incons-ciente, sem que o sujeito perceba que diretrizes externas a
...
Cada grupo social apresenta um conjunto de normas
que permitem que seus componentes, apesar de apresentarem co~
portamentos distintos, se compreendam uns aos outros porque
tanto sua conduta como a interpretação da cond~ta dos demais
está, em grande parte, determina9a por estas normas comuns
CNewcomb, 1973).
Evidentemente alguns conjuntos de normas estão
vin-culadas a profissões que o indivíduo exerça, a determinadas e
tapas de sua vida que irão surgindo
ã
medida que cresce mas noexato momento em que a criança nasce, dependendo de sue sexo
e da sociedade a que pertence, o conjunto específico de
nor-mas sociais que deverá obedecer fica automaticamente estabele
cido e passa a lhe ser sutilmente i~posto.
STATUS E PAPSrS
Vimos até aqui que as normas sociais sao prescri
çoes par3. a conduta do indivíduo. U1Jl conj unto. de normas que tem
validade para certas categorias de pessoas serão denominadas
"papéis". Cada um de nós desempenha um número variado de
pa-péis convencionais com os quais estamos tão familiarizados que
nem sequer percebemos até que ponto nossas atividades estão
circunscritas pelo papel assumido (Brwn, 1974; Shibutani,196l).
As noções de "papel" e de "status" estão
intimamen-te relacionadas. Segundo Stoetzel (1~67) o status de uma
pes-soa se define pelo conjunto de comportamentos a respeito de
Ainda para Stoetzel o "papel" seria o conjunto de comportame,!!
tos que as demais pessoas esperam por parte de determinadoi,!!
divíduo. Segundo Linton (1970) não existem papéis sem status,
nem status sem papéis. Para este autor "status" de um
indiví-duo em relação a determinada sociedade é o lugar que ele
ocu-pa nessa sociedade em um momento dado enquanto que "ocu-papel" s!:
rla o aspecto dinâmico desse status; tudo aquilo que o indivi
duo deve fazer para confirmar seu direito a tal status.
Os status podem ser atribuidos ou adquiridos. Os ~
tribuidos sao os que se designam aos indivíduos sem referên
-cla as diferenças de capacidades inatas e os adquiridos nao
são atribuidos aos indivíduos desde o nascimento mas Slm sao
por eles conquistados durante o decorrer da vida. Em todas
as sociedades a atribuição de status permite começar imediata
mente o adestramento para o status e papéis em potencial. O
-
....mais simples e mais universalmente empreggdo ponto de referen
Cla para atribuição de status e papéis é o sexo.
Todas as sociedades prescrevem aos homens e às mu
-lheres atitudes e atividades diferentes baseada nessa atribui
ção de status. A maioria delas tenta racionalizar estas
pres-crições em termos de diferenças fisiológicas entre os sexos ,
ou entre seus diferentes papéis no processo de reprodução mas
as atribuições de fato são quase inteiramente determinadas p!:
la cultura (Linton, 1970)
Evidentemente os estudos antropológicos de M. Mead
confirmam as palavras R. Linton ao mostrar o quanto varia, de
lher e ao homem.
f
im~rescindIvel que se ressalte aqui a im-portância dessa diferenciação por uma sociedade se organiza
baseada na divisão de trabalho, de atribuições. O que se
con-testa no corpo deste estudo
é
que, em muitas s?ciedades, comoa sociedade ocidental contemporânea,
ê
atribuidoã
mulher u~•
status inferior ao do homem e se torna muito difIcil para as
crianças, que começam o seu treino, o seu condicionamento,quer
por reforçamento, quer por modelação, perceber que há falhas
no sistema de valores que lhe está sendo incutido.
PERCEPÇ~O
SOCIAL E EXPECTATIVAS
'"'" • . t a . .,li
A
percepçao d~papels e de efeitos de papelse umcaso complexo e sutil de percepção social. Todos nós
aprende-mos a julgar com alguma precisão, a adequação dos comportame~
tos de pessoas que representam muitos papeis comuns. Nossass~
?
posições a respeito de uma pessoa no desempenho de um papel
abrangem seus sentimentos e suas expressões emocionais, suas
motivações e seus traços, suas intenções, sua posição e hie
-rarquia social, etc ..• (Lambert e Lambert, 1975). O conjunto
destes e de outros fatos da percepção social nos leva a per
-cepçao de papel de que depende o comportamento social
adequa-do.
Deste modo podemos avaliar a complexidade de um
pa-pel social uma vez que ele sofre a influência da percepção que
o indivIduo tem do que deveria ser seu desempenho, regido por
normas sociais igualmente complexas e da percepção que os
mesmo desempenho. Como consequência disso vemos que em torno
de cada papel se cria uma expectativa por parte do indivíduo
e por parte do meio social que muitas vezes
é
o fator determinante para que seja 'mantido um desempenho específico. Quando
existe uma discordância entre o papel esperado e desempenho
do indivíduo se origina uma dificuldade de adaptação nas rela
ções interpessoais (Delay-Pichot, 1979).
No caso específico deste estudo podemos verificar o
quanto é ambiguo para a menina o papel que ela deverá assumir
na vida adulta: se por um lado ela é estimulada a estudar, a
exercer com sucesso uma profissão esta deverá ser uma
profis-são feminina na qual ela não suplante o homem em capacidadei&
telectual e nem sequer perca as características mais
atraen-tes de seu sexo pois espera-se também que ela se torne esposa,
mãe e dona de casa bem sucedida. Deste modo, em nossa socieda
de as possibilidades de as mulheres se sentirem frustradás -na
idade adulta são bem maiores que as dos homens que são
educa-dos e condicionaeduca-dos desde o nascimento dentro de uma linha de
estereótipo bem mais estável e definida· que a mulher.
2. ESTUDOS SOBRE O
TEMAOs trabalhos experimentais sobre estereótipos
se-xuais foram iniciados em'1968 por Inge Broverman que
cons-truiu e utilizou um instrumento composto de 122 itens
bipola-res de características tradicionalmente tidas como masculina
papel sexual numa pesquisa em que solicitou aos sujeitos que
descrevessem o indivíduo saudável, maduro e competente do po~
to de vista social, quer do sexo masculino, quer do sexo femi
nino. Obteve como resposta que a mulher saudável se caracteri
za por se submissa,
dep~ndente,
influenciâvel, poucoagressi-•
va, pouco competitiva, pouco competente etc •.. Em continuação.
ao seu trabalho, solicitou aos mesmos sujeitos (homens e
mu-lheres) que descrevessem as características do ser humano ide
aI independente do sexo. Surpreendentemente as respostas obti
das aproximavam muito mais o adulto ideal do estereótipo
mas-clllino anteriormente descrito do que do estereotipo feminino
demonstrando o quanto a mulher ocupa uma posição desprestigi~
da. Tais valores estão incutidos de forma tão profunda que as
próprias mulheres se atribuem caracter!sticas inferiores e
com isto., éonfirmam o estereótipo de "submissas·" que a elas é
atribuído. As conclusões de Broverman confirmaram o ponto de
I
vista exposto na obra de Roge~ Brown (1965) de que os estereó
tipos masculinos são mais valorizados socialmente por serem
considerados _ próprios de um "status" superior. e com
caracte-rísticas mais positivas que os estereótipos feminin~s.
As afirmações de que padrões de papel sexual esta
-rlam determinados pelas diferenças biológicas entre os dois
sexos serão discutidas adiante neste trabalho, embora possa
-mos antecipar que elas já foram largamente contestadas pelas
pesquisas transculturais realizadas por antropólogos.
Verifi-cou-se que muitos aspectos dos papéis correspondentes ao sexo
masculino ou ao sexo feminino, em qualquer cultura, que
minados arbitrariamen{e pela sociedade. Estes papêis foram so
lidificados atravês de gerações em cada cultura e muitas
ve-zes não encontram correspondentes em outras, uma vez que nao
são universais.
"
Tais padrões de papêis sexuais podem ser definidos
como um conjunto de comportamentos socialmente estabelecidos
que diferenciam homens e mulheres, o que 'implica, segundo Mead
(1950) em que "M
pe.tL6onaR...i.dade.6 do.6 do.i..6
.6exo.6 .6ejam.6oc..i.aR..-mente p~oduz.i.dM". Evidentemente observamos que a família e
as demais instituições sociais, ao educarem uma criança,
ten-dem a moldar muito mais um homem ou uma mulher que uma pessoa,
um indivíduo independente de seu sexo. O papel do homem e o
papel da mulher são distribuídos antes mesmo que a
personali-dade es~~ja suficientemente desenvolvida, numa êpoca em que a
criança está exposta a toda espêcie de influência no seu
pr0-cesso de socialização. Dessa forma a família incute nela
opi-niões e normas de conduta, a escola complementa o processo e
os estereótipos, principalmente os sexuais,- se estabelecem a
partir de expectativas de papêis sociais a serem desempenha
-dos pelas crianças em seu relacionamento. O que
frequentemen-te ocorre ê que as crianças assumem esses papêis em plena
in-consciência com a possibilidade de os recusarem quando, mais
tarde, adultos, descobrirem sua artifici&idade.
Nos últimos anos este assunto tem despertado o inte
resse dos psicólogos e começaram então a se intensificar as
pesquisas na área, embora muito ainda esteja por pesquisap
se seguiram mostrando a influência negativa dos estereótipos
sexuais, uma vez que estes levam os indivíduos muitas vezes a
deixar de perceber as reais características que determinados~
xo possui, enquanto outras, inadequadas, lhe são imputadas. O~
servou-se também que há uma cert~ concordância entre indiví
-duos de ambos os sexos quanto ao estereótipo adequado a cada
um deles. Nesse ponto há ·concordância entre os estudos de Broverrnan
e outros (1970) e de Rosenkrantz e outros (1968). Acreditamos
que o condicionamento social seja tão intenso e tantos osanos
de opressão e anulação que a maioria das mulheres nem mesmo
se questiona a respeito de suas reais potencialidades.
Mello (1975) observa o quanto a escola fortalece os
estereótipos sexuais, quer através do livro-texto, quer das
atividades'curriculares ou mesmo através da orientação voca
-cional ministrada pelos orientadores educacionais. Rosernberg
I
(1975) fez uma revisão de pesquisas que analisam a figura da
mulher na literatura infanto-juvenil e, em resumo, sao estas
as suas principais conclusões:
~ ~
- · 0 numero de personagens masculinos e superior ao
~
numero de personagens femininos;
os personagens adultos masculinos sao apresenta
dos fora do lar e desenvolvendo atividades de grande prestí
-gio, enquanto que os adultos femininos aparecem entre quatro
paredes desempenhando atividades domésticas e de pouco presti
gio;
- os personagens adultos masculinos são descritos e