FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
MESTRADO EM FINANÇAS E ECONOMIA EMPRESARIAL
BEATRIZ PULCHERIO BATTELLI
Ativos Intangíveis, Valor da Firma e Estrutura de Capital no
Brasil
BEATRIZ PULCHERIO BATTELLI
Ativos Intangíveis, Valor da Firma e Estrutura de Capital no
Brasil
Dissertação submetida à Banca Examinadora da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Finanças e Economia Empresarial, sob a orientação do Professor André Luiz Carvalhal da Silva
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BEATRIZ PULCHERIO BATTELLI
Ativos Intangíveis, Valor da Firma e Estrutura de Capital no
Brasil
Dissertação submetida à Banca Examinadora da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Finanças e Economia Empresarial, sob a orientação do Professor André Luiz Carvalhal da Silva
Aprovada em 25 de maio de 2011
Banca Examinadora
____________________________________________ Prof. André Luiz Carvalhal da Silva
IAG/PUC-Rio
____________________________________________ Prof. Marco Antonio César Bonomo
EPGE/FGV
____________________________________________ Prof. Otávio Henrique dos Santos Figueiredo
COPPEAD/UFRJ
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais pelo apoio e amizade constantes e por terem sido meu ponto de equilíbrio em todos os momentos difíceis.
Ao meu professor orientador André Carvalhal, por todos os ensinamentos, por ter despertado meu interesse pelo conteúdo do trabalho e por ter me mantido sempre motivada, o que me ajudou a prosseguir os estudos nesta área.
A EPGE por todo o suporte necessário para a realização desse estudo.
A todos os meus amigos, que sempre me deram força e me encorajaram para
RESUMO
Nos últimos anos, a importância dos ativos intangíveis vem crescendo consideravelmente, em função de ser um dos principais determinantes da vantagem competitiva de uma companhia. A implantação da nova lei contábil no Brasil em 2007, com a obrigatoriedade de divulgação do montante de ativos intangíveis em separado pelas companhias de capital aberto, abriu espaço para a realização de novos estudos acerca desse tema. Esse trabalho analisa o impacto dos ativos intangíveis sobre o valor de mercado e endividamento das companhias listadas na BM&FBovespa. Encontramos evidências de que o nível de ativos intangíveis impacta positivamente o valor de mercado e negativamente o grau de endividamento das companhias de capital aberto no Brasil.
ABSTRACT
Over the last few years, the importance of intangible assets has grown substantially, as it is considered the most significant determinant of the competitive advantage of a company. The launch of a new accounting law in Brazil in 2007, with mandatory disclosure of the amount of intangible assets separately by publicly traded companies, contributed to new studies on this subject. This study analyzes the impact of intangible assets on the market value and capital structure of companies listed on BM&FBovespa. We find evidence that intangible assets have a positive (negative) relation with market value (level of indebtedness) of publicly traded companies in Brazil.
SUMÁRIO
1. Introdução...1
2. Revisão da Literatura...3
3. Dados e Metodologia...8
4. Resultados...13
5. Conclusão...16
1
1. Introdução
Desde a década de 80, a contabilidade vem dando maior ênfase aos
ativos intangíveis. O crescimento desses ativos nas companhias pôde ser evidenciado em um estudo com empresas do S&P demonstrando um crescimento no indicador price-to-book entre os anos de 1980 a 2001 de cerca
de 1x para 6x (Lev 2001). De acordo com Schmidt e Santos (2002), fatores como aumento das incorporações, maior interesse por marcas, crescimento
dos setores de serviço e expansão do mercado financeiro explicariam o comportamento desse indicador.
Diversas pesquisas vêm sendo realizadas no sentido de analisar a
relação entre o desempenho, valor de mercado e o nível de ativos intangíveis das companhias no mercado americano. Choi, Kwon e Lobo (2000) mostram
que o mercado financeiro avalia positivamente o valor dos ativos intangíveis reportados pelas companhias. Segundo Speckbacher (2003), os ativos intangíveis geram valor, uma vez que são essenciais para manter a vantagem
competitiva de uma determinada companhia por um longo período.
Estudos recentes sugerem que os ativos intangíveis são importantes
determinantes do endividamento das companhias. As teorias financeiras normalmente indicam haver uma relação negativa entre essas variáveis. Bah e Dumontier (2001) atribuem esse efeito ao problema da substituição dos ativos,
2
aceitação de determinados investimentos, que podem apresentar elevado
risco.
No Brasil, estudos que analisam quantitativamente o impacto dos ativos intangíveis no valor ou desempenho das companhias são bastante escassos,
tendo em vista que somente com a nova Lei 11.638/2007, as companhias passaram a serem obrigadas a divulgar o montante dos ativos intangíveis nas
suas demonstrações financeiras em separado. De acordo com Ferreira (2008), pela nova lei, o ativo intangível passa a conter bens incorpóreos destinados a manutenção das atividades da companhia, tais como direitos de exploração de
serviços públicos mediante concessão, marcas e patentes.
Dada a importância dos ativos intangíveis como um fator diferencial da
competitividade das companhias e a expectativa de que nos próximos anos essa variável se torne cada vez mais relevante, o objetivo desta dissertação é analisar a relação entre ativos intangíveis, valor de mercado e nível de
endividamento das companhias listadas na BM&FBovespa.
Nossos resultados mostram evidência de que os ativos intangíveis
impactam positivamente o valor de mercado e negativamente o grau de endividamento das companhias abertas no Brasil.
A dissertação está estruturada da seguinte forma. A próxima seção
apresenta estudos realizados ao longo dos últimos anos sobre o impacto dos ativos intangíveis no valor de mercado e na estrutura de capital das
3
2. Revisão da Literatura
2.1. Ativos Intangíveis e Valor de Mercado
De acordo com Stewart (2001), o valor econômico de uma companhia
pode ser representado pela soma do valor dos seus ativos tangíveis e intangíveis. Enquanto uma das características dos ativos tangíveis decorre da
certa facilidade com que são adquiridos, os ativos intangíveis possuem a característica de serem exclusivos dentro de uma companhia.
De acordo com Barney (1991), para uma determinada organização
preservar sua vantagem competitiva por um longo tempo, os ativos intangíveis precisam ser “valiosos, raros, inimitáveis e insubstituíveis”. Do ponto de vista
financeiro, os ativos intangíveis, na definição de Lev (2001), são resultado da soma dos fluxos de caixa futuros projetados e descontados a uma taxa de risco apropriada, não possuem corpo físico ou financeiro, derivando do valor
total do negócio após a exclusão de todos os ativos tangíveis.
Seguindo esse mesmo conceito, Reina et al. (2009) ressaltam que os
ativos intangíveis seriam compostos por know-how, habilidades
administrativas, marcas, patentes e ágio, e sua principal finalidade seria a geração de vantagem competitiva, agregação de valor aos produtos e serviços
e conseqüente formação de riquezas para as companhias.
Kayo e Famá (2004) classificam os ativos intangíveis como: (i) ativos
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estruturais, relacionados, principalmente, a sistemas de informação e
processos; e (iv) relacionamento com públicos estratégicos, que contemplam a marca da companhia, ou mesmo direitos autorais e contratos com fornecedores.
Nos últimos anos, a importância dos ativos intangíveis para uma companhia vem crescendo consideravelmente. Lev (2001) realizou um estudo
com empresas do S&P e demonstrou um crescimento no indicador
price-to-book entre os anos de 1980 a 2001, de cerca de 1x para 6x. De acordo com
Schmidt e Santos (2002), fatores como aumento das atividades de fusões e
aquisições, maior importância da marca, expansão dos setores de serviço e desenvolvimento do mercado financeiro explicam o comportamento desse
indicador.
Diversos estudos vêm demonstrando a importância dos ativos intangíveis para a economia global e para o valor de inúmeras companhias. De acordo
com Damodaran (2006), existem evidências de que o valor da marca pode explicar mais da metade do valor de muitas companhias de consumo em
diversos mercados.
Hulten e Hao (2008) analisam 617 companhias intensivas em pesquisa e desenvolvimento e demonstram que os ativos intangíveis que não são
contabilizados no balanço explicam em média entre 40% a 50% do valor de mercado dessas companhias em 2006.
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Chan, Lakonishok, e Sougiannis (2001) mostram que, mesmo controlando pelo
tamanho e patrimônio líquido/valor de mercado, ativos intensivos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tendem a apresentar um desempenho acima dos ativos com baixo ou sem P&D.
Choi, Kwon e Lobo (2000) mostram que o mercado financeiro valora positivamente os ativos intangíveis. No entanto, o mercado valora menos os
ativos intangíveis do que as outras linhas do balanço patrimonial, o que está de acordo com a hipótese de incerteza acerca dos intangíveis.
Perez e Famá (2004), ao analisarem o impacto da presença de ativos
intangíveis não contabilizados nas demonstrações financeiras, demonstram a existência de importantes diferenças de desempenho operacional entre as
empresas intangível-intensivas e as empresas tangível-intensivas para o mercado americano.
No mercado brasileiro, Patrocínio, Kayo e Kimura (2007) demonstram que
fusões e aquisições que envolvem empresas intangível-intensivas listadas na BM&FBovespa apresentam um potencial de retorno substancialmente maior
que as operações que envolveram empresas tangível-intensivas.
Crisostomo e Gonzalez (2006) encontram uma relação positiva e estatisticamente significativa entre investimentos em pesquisa e
desenvolvimento e o valor de mercado das empresas. Azevedo e Gutierrez (2009) verificam que os gastos em pesquisa e desenvolvimento possuem
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Com base nos estudos realizados ao longo dos últimos anos acerca do
tema, essa dissertação buscará responder a seguinte pergunta: “Existe uma relação positiva e significativa entre ativos intangíveis e valor de mercado das empresas listadas na BM&FBovespa?”.
2.2. Ativos Intangíveis e Estrutura de Capital
Estudos sobre os determinantes da estrutura de capital de uma companhia são bastante frequentes na área de finanças. Modigliani e Miller (1958), em um dos principais trabalhos acerca do tema, afirmam que, na
ausência de impostos, a estrutura de capital seria irrelevante para determinação do valor da empresa no equilíbrio. Com a introdução de
impostos nesse modelo, Modigliani e Miller (1963) concluem que a estrutura de capital poderia ser impactada pelos benefícios fiscais obtidos com financiamento. Sendo assim, existiria um grande incentivo para as empresas
se financiarem com dívida.
No entanto, esse modelo desconsidera a existência de tensões
financeiras, como os custos de falência. Neste sentido, Myers (1984) argumenta que uma empresa se endividará até o ponto que os custos relacionados as tensões financeiras (custos de falência) se tornem maiores do
que os benefícios fiscais da dívida.
Segundo a teoria da hierarquia das fontes (pecking order), as empresas
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recursos no mercado. Diversos estudos internacionais (Ghosh e Cai (1999),
Ozkan (2001), Shyam-Sunder e Myers (1999)) e brasileiros (Gomes e Leal (2001), Kayo (1997), Terra (2002)) comprovam a existência do pecking order.
Diversos estudos sugerem que fatores como lucratividade, tamanho,
benefícios fiscais não relacionados a dívidas e custos de falência são os principais determinantes da estrutura de capital das empresas (Song (2005),
Nakamura e Martin (2007), Perobelli e Famá (2003)).
Bah e Dumontier (2001) afirmam que os ativos intangíveis, por serem considerados mais arriscados e de difícil previsibilidade, não podem ser
facilmente oferecidos como garantia de empréstimos (colateral). O’Brien (2003) ainda destaca que as empresas intangíveis-intensivas mantém um
baixo nível de endividamento para garantir que terão recursos suficientes para investir em P&D de forma contínua, lançar novos produtos e expandir seus conhecimentos através de aquisições.
Kayo, Kimura, Basso e Krauter (2006), analisando os principais determinantes da intangibilidade das companhias brasileiras listadas na
BM&FBovespa em 2001, demonstram que as empresas intangíveis-intensivas apresentam, em média, um grau de endividamento mais baixo. De acordo com os autores, uma das causas está relacionada com a dificuldade de avaliar o
valor dos ativos intangíveis, o que gera menor incentivo para os credores realizarem empréstimos para essas companhias.
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de capital. Por outro lado, a quantidade de marcas não mostra relações
estatisticamente significativas com o endividamento, apesar de haver uma relação negativa entre essas variáveis.
Com base nos estudos citados anteriormente, buscamos nessa
dissertação verificar se existe relação significativa entre ativos intangíveis e nível de endividamento das companhias listadas na BM&FBovespa.
3. Dados e Metodologia
3.1. Mudanças Contábeis no Brasil
Em 28 de dezembro de 2007 foi aprovada a Lei 11.638/07, que alterou as
Leis 6.404/76 e 6.385/76, mudando as normas contábeis brasileiras. A nova legislação inseriu novos instrumentos referentes à elaboração das
demonstrações contábeis objetivando a adequação dos relatórios brasileiros aos padrões internacionais. Com essa mudança, as normas brasileiras passaram a seguir os padrões internacionais, estimulando a análise das
demonstrações das empresas brasileiras por investidores estrangeiros interessados em investir no país.
Neste sentido, uma das principais alterações está relacionada ao ativo intangível. Nas normas contábeis brasileiras vigentes até 2007, esses ativos eram reconhecidos dentro do ativo permanente, fazendo com que o ativo
imobilizado, por exemplo, contemplasse bens corpóreos e incorpóreos.
De acordo com a nova legislação, as companhias de capital aberto
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imobilizado, intangível e diferido. Segundo a nova lei, a rubrica ativo
imobilizado, além dos bens corpóreos, passou a contemplar também bens decorrentes de operações em que há transferência a companhia de benefícios, riscos e controle desses bens, sem necessariamente ter havido uma
transferência de propriedade. O ativo diferido deve apresentar atualmente somente as despesas pré-operacionais e os gastos de reestruturação.
Já o ativo intangível passou a considerar direitos que tenham como objeto bens incorpóreos destinados a manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade. São exemplos de ativos intangíveis: (i) os direitos de
exploração de serviços públicos mediante concessão ou permissão do poder público; (ii) marcas; (iii) patentes e (iv) fundo de comércio adquirido.
O ativo intangível deverá contemplar ainda o ágio, o que também diferencia da legislação anterior, em que este era registrado no ativo permanente, porém dentro do subgrupo investimento ou no subgrupo diferido,
dependendo da sua origem (aquisição de empresas ou operações de incorporação ou consolidação de investimentos).
3.2. Dados
De forma a analisar a relação entre os ativos intangíveis, valor de mercado e a estrutura de capital foram obtidos dados de 658 companhias
listadas na BM&FBovespa nos anos de 2008 e 2009 no Economática. Como a alteração da legislação contábil ocorreu em 2007, utilizamos os dados a partir
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apresentaram dados de valor de mercado e ativos intangíveis ou patrimônio
líquido negativo em qualquer um dos anos.
3.3. Metodologia
Para Stewart (1998), se o valor de uma empresa é maior do que o valor que os acionistas possuem, faz sentido atribuir a diferença ao capital
intelectual, ou seja, aos ativos intangíveis. De acordo com Nelson (2006), as empresas com elevada proporção de ativos intangíveis teriam menor razão patrimônio líquido/valor de mercado, pois os preços de mercado tendem a
refletir o valor futuro esperado dos ativos intangíveis que não são capturados pelo valor patrimonial. Ainda de acordo com Nelson (2006), é provável que a
razão book-to-market seja impactado pelo nível de ativos intangíveis e
mudanças na taxa de retorno requerida pelo equity, e pelo fato do mercado ver
os ativos intangíveis como mais arriscados que os tangíveis, descontando os
tangíveis e intangíveis com taxas diferentes.
Com o objetivo de demonstrar o impacto dos ativos intangíveis sobre o
valor de mercado das companhias usamos como variável dependente o
price-to-book (razão preço/valor patrimonial). Rodamos o seguinte modelo:
onde P/B é a razão valor de mercado/valor patrimonial, INT é a razão ativos intangíveis/ativo total, ALAV é a alavancagem (razão passivo exigível/passivo
total) e ROA é o retorno dos ativos (razão EBITDA/ativo total). ROA
ALAV INT
B
11
Além dos ativos intangíveis, a literatura mostra que vários indicadores de
desempenho e contábeis explicam o valor de mercado das empresas. Braouezec (2005) e Fama e French (2002) encontram uma relação entre P/B e o nível de alavancagem das companhias. Vale mencionar, no entanto, que a
direção dessa relação parece bastante controversa. Por um lado, uma empresa mais alavancada possui maior risco e o mercado aplica uma taxa de
desconto maior, reduzindo o valor da empresa. Por outro lado, a dívida gera um benefício fiscal que pode contribuir para elevar o valor de uma companhia.
O mercado de capitais tende a atribuir prêmios para companhias mais
rentáveis. Sendo assim, esperamos que uma maior rentabilidade (medida pelo ROA) resulte em um maior P/B. Felthan e Ohlson (1995) encontram evidências
de que a informação contábil dos ativos operacionais impacta o valor de mercado. Antunes e Procianoy (2003) analisam os dados do mercado brasileiro, e mostram que existe uma relação positiva entre a variação dos
ativos (permanente e imobilizado) e o preço da ação no mercado de capitais. Além da influência dos ativos intangíveis no valor de mercado da firma,
também analisamos se o primeiro tem efeito na estrutura de capital da companhia. Neste trabalho optamos por utilizar como proxy para estrutura de
capital o indicador passivo exigível/passivo total.
De acordo com Bah e Dumontier (2001), a relação negativa entre intangíveis e estrutura de capital está relacionada ao fato de os intangíveis não
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intangíveis-intensivas garantirem recursos suficientes para investir em P&D de
forma ininterrupta.
Os determinantes da estrutura de capital das companhias variam bastante, conforme as diversas teorias acerca desse tema. Harris e Raviv
(1991) e Song (2005) mostram que a alavancagem aumenta com os ativos fixos, benefícios fiscais não relacionados a dívida, oportunidade de
investimentos e crescimento, tamanho da empresa, e decresce com volatilidade, gastos com propaganda, probabilidade de falência, rentabilidade, entre outros.
Song (2005) sugere que a relação entre o efeito da tangibilidade no grau de endividamento se baseia no conflito entre credores e acionistas de acordo
com a teoria de custo de agência, de forma que os credores utilizam instrumentos que os protegem, tais como requerendo ativos tangíveis como colateral.
Conforme a teoria de pecking order, as empresas preferem se financiar
com recursos internos. Seguindo essa teoria, uma empresa só pegaria dívida
se os recursos internos não fossem suficientes para financiar todos os seus projetos de investimento. Mayers e Majhuf (1984) prevêem uma relação negativa entre alavancagem e rentabilidade.
O efeito esperado para a variável tamanho parece ser impreciso. Por um lado, empresas maiores conseguem tomar empréstimos a custos menores,
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aumentar a preferência pela emissão de ações em relação à emissão de
dívidas. Rodamos então o seguinte modelo:
onde ALAV é a alavancagem (razão passivo exigível/passivo total), INT é a razão ativos intangíveis/ativo total, IMOB é a razão ativo imobilizado/ativo total,
TAM é o tamanho da empresa (logaritmo do ativo total) e ROA é o retorno dos ativos (razão EBITDA/ativo total)
.
4. Resultados
A Tabela 1 mostra as estatísticas descritivas das variáveis utilizadas neste estudo. Em média as empresas analisadas foram negociadas em 2008 e
2009 a um P/B de 2,48, sendo o valor mínimo de 0,10 e o valor máximo de 56,50.
Tabela 1: Estatística Descritiva
Estatística descritiva das variáveis usadas no estudo. A definição das variáveis pode ser vista na seção 3.
Variável Média Mediana Desv Pad Min Max
P/B 2,48 1,40 4,78 0,10 56,50
ALAV 59,13 61,00 23,29 0,00 99,70
IMOB 28,57 27,00 24,03 0,00 98,25
INT 6,02 0,89 11,54 0,00 81,50
ROA 4,43 3,70 13,44 -85,00 202,80
TAM 6,23 6,25 0,86 2,19 8,85
A análise dos dados sugere ainda que, em média, o ativo intangível representa 6% do ativo total das companhias. Já o ativo imobilizado representa
em média 29% do ativo total. Vale mencionar que a nossa análise é limitada as ROA
TAM IMOB
INT
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companhias de capital aberto. Pode-se destacar ainda que, na média, o nível
de alavancagem das companhias utilizadas nessa amostra é de 59% e o ROA é de 4,4%.
A Tabela 2 mostra a matriz de correlação entre as variáveis utilizadas
nesse estudo. Pode-se observar que as correlações entre as variáveis são baixas. A baixa correlação entre ativos intangíveis com P/B (0,07) e ALAV
(0,00) parece indicar que não existe relação entre ativos intangíveis, valor de mercado e endividamento das empresas abertas.
Tabela 2: Matriz de Correlação
Matriz de correlação das variáveis usadas no estudo. A definição das variáveis pode ser vista na seção 3.
P/B ALAV IMOB INT ROA TAM
P/B 1,00
ALAV 0,28 1,00
IMOB -0,09 0,00 1,00
INT 0,07 0,00 -0,12 1,00
ROA 0,06 -0,30 0,02 -0,03 1,00
TAM 0,01 0,27 0,23 0,18 0,05 1,00
Para avaliar o impacto dos ativos intangíveis sobre o valor de mercado e
a estrutura de capital das companhias, realizamos regressões cross-section
em 2008 e 2009. A Tabela 3 mostra os resultados das regressões para valor de mercado.
Pode-se perceber que INT é positivo e significativo a 10% no modelo
mais completo tanto em 2008 e 2009. Coerente com a literatura, os resultados indicam uma relação positiva e significativa entre ativos intangíveis e valor de
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Tabela 3: Valor da Firma e Ativos Intangíveis
Regressões cross-section em 2008 e 2009 com price-to-book como variável
dependente. A definição das variáveis pode ser vista na seção 3. ***, **, * indicam significância estatística a 1%, 5% e 10%, respectivamente.
Variável 2008 2009
I II III IV
Constante 2,00***
(0,00) -1,89* (0,09) 2,93*** (0,00) 0,88 (0,32)
INT 0,01
(0,50) 0,02* (0,08) 0,01 (0,63) 0,03* (0,08)
ALAV 0,06***
(0,00)
0,05*** (0,00)
ROA 0,04*
(0,08)
0,11 (0,19)
R2 ajus 0,01 0,07 0,01 0,12
A Tabela 4 apresenta os resultados das regressões para estrutura de capital das companhias. No primeiro (segundo) modelo, o coeficiente é significativo a 5% (1%), ou seja, existe um impacto negativo da proporção de
ativos intangíveis de uma companhia no nível de endividamento. Não existe relação entre o grau de endividamento das companhias e tangibilidade dos
ativos.
O endividamento é impactado negativamente pelo ROA, em linha com a teoria do pecking order, ou seja, quanto mais lucrativa uma companhia menor
o nível de alavancagem dessa empresa. Além disso, o endividamento é positivamente relacionado com tamanho, sugerindo que companhias maiores
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Tabela 4: Endividamento da Firma e Ativos Intangíveis
Regressões cross-section em 2008 e 2009 com nível de endividamento como
variável dependente. A definição das variáveis pode ser vista na seção 3. ***, **, * indicam significância estatística a 1%, 5% e 10%, respectivamente.
Variável 2008 2009
I II III IV
Constante 61,45***
(0,00) -3,61* (0,71) 59,55*** (0,00) 5,06 (0,62)
INT -0,24**
(0,05) -0,35*** (0,00) -0,22** (0,03) -0,36*** (0,00)
IMOB 0,00
(0,96)
-0,03 (0,49)
ROA -0,52***
(0,00)
-0,07 (0,57)
TAM 10,84***
(0,00)
9,10*** (0,00)
R2 ajus 0,01 0,20 0,01 0,12
5. Conclusão
Nesta dissertação analisamos o impacto dos ativos intangíveis no valor de mercado e nível de endividamento das companhias listadas na
BM&FBovespa. Estudos empíricos realizados em diversos mercados mostram uma relação positiva entre o nível de ativos intangíveis e valor de mercado, e
uma relação negativa entre o nível de ativos intangíveis e o endividamento das companhias.
No Brasil, somente em 2008, com a implantação da Lei 11.638/07, as
companhias passaram a serem obrigadas a divulgar o montante dos ativos intangíveis nas suas demonstrações financeiras. Até então, o ativo intangível
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desses números abriu espaço para a análise do impacto dessa variável sobre
indicadores financeiros e contábeis, entre eles, valor de mercado e endividamento.
Utilizando dados das empresas brasileiras listadas na BM&FBovespa em
2008 e 2009, encontramos evidência de que o nível de ativos intangíveis das companhias exerce influência positiva sobre o valor de mercado. A explicação
intuitiva para esse efeito está relacionada à importância dos ativos intangíveis para a competitividade das companhias. Dado o ambiente mais competitivo que as empresas brasileiras vivenciam atualmente, esse tipo de ativo acabou
se tornando um dos principais diferenciais de uma companhia, levando a uma precificação positiva no mercado brasileiro.
Encontramos uma relação significativamente negativa entre ativos intangíveis e nível de endividamento, em linha com diversos estudos sobre o tema. Concluímos dessa forma que o nível de ativos intangíveis exerce forte
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