PLANTA DANINHA, I(2):27-30, 1978
ESTIMATIVA DO GRAU DE INFESTAÇÃO
NUMA PASTAGEM DE
Panicum maximum
JACQ
RESUMO
Um piquete de capim- colonião (Panicum max imumJacq) sub metido a pas toreio contínuo e a roçadas periódicas revelou, seis anos após o pl an tio, el ev ado grau de infe staç ão po r ou tr as plantas, de stacando- se en tre el as a grama- ba ta-tais (Paspalum notatum Flügge) que apre sentou 85% de frequência e 20,9% de biomassa epígea seca relativa. As dicotiledóneas, em conjunto, apre-sentaram frequência de 95% e biomassa relativa de 38,7% mas a sua contribuição específica foi muito reduzida. O capim-colonião, por sua vez, apesar da frequência de 95%, apresentou apenas 32,2% de biomassa relativa (diminuição de 67,8%). Est as pro fundas alterações da flo ra e da vegeta-ção podem ser atribuidas, em grande parte, a dois fatores: a) ação seletiva da roçadeira; b) preferências alimentares e disseminação endozoócora da grama-batatais pelos bovinos.
UNITERMOS: Malerbologia, Pastagens, Panicum maximum Jacq., Paspalum notatum Flügge, Competição.
SUMMARY
ON THE DEGREE OF WEED INFESTATION IN A PASTURE OFPanicum maximumJACQ
A pasture of Guineagrass(Panicum maxi mum Jacq.) submitted to continuous grazing and periodic clearing revealed, after six years from its planting, a high degree of weed infestation. Ba-hiagrass (Paspalum notatum Flügge) exhibited a frequency of 85% and a relative dry epigeous bio-mass of 20,9%. Dicotyledons as a whole exhibited a frequency of 95% and a relative biomass of 38,7%. On the other hand, Guineagrass, although
G. DE MARINIS*
* Professor-Titular, Departamento de Botânica, Instituto de Biociências de Rio Claro, Universidade Estad ual Pauli sta .Juli o de Mesquit a Fi -lho». 13.500 Rio Claro, SP.
Recebido para publicação em 06.06.78
with a frequency of 95%, exhibited a relative bio-mass of onl y 32, 2% equivalen t to a dec rea se of 67,8%. This great floristic and vegetational chan-ge may be ascribed to mechanical selective action of the scythe and to grazing selection and zoocho-rous dissemination of Bahiagrass by cattle.
HEYWORDS: Weeds, Pastures,Panicum maximumJacq., Paspalum notatumFlügge,
Competi-tion.
INTRODUÇÃO
A pastag em artifi cial de capim-coloni ão (Pan icu m maxi mum Jac q.) con stit ui o sust ent ácul o de uma imp or-tan te ativ ida de pecuária e cheg a a ser a tônica da pais agem na regi ão nort e-oci dent al do Est ado de São Paul o. Quando suj eita à deterio ração, a past a-gem passa a ser invadid a por dive rsas pla nta s, cuj o estudo é de gra nde int e-res se.
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nhu ma pala tab ilidade, ou de men or va-lor nutritivo ou, às vez es, tóx ica s.
O pre sente tra balh o vis a ver ific ar alg umas modifi caçõ es da flora e da ve-get açã o ocorri das numa pastag em de capim-col onião, após seis anos a partir da sua imp lantaç ão. Ao exame vis ual est a past agem se apresen tav a forte-mente inf estada por outr as plan tas, en-tre as quai s se dest acav a a gra mbat a-tais(Pas pal um nota tum Flü gge) .
Capim- colonião e gram a-bat atai s perten cem a gênero s pró xim os dent ro da tri bo Pani ceae (Potzt al, 10) mas dife-rem cons ider avel ment e no hábi to e na origem geo gráf ica. P. maxi mum é um capim ces pitoso, erecto, que pode al-can çar 2,5 m de altura, enq uant o que P. nota tum é uma gra ma riz omat osa as -cen dent e, de 15 a 50 cm de alt ura (Hit-chc ock, 8). 0 primeiro é nat ivo da África tropic al e ampl amen te nat uralizado na América e Asi a, enquant o que o se-gun do é ess encialmente neot rópi co, desde o México e Índ ias oci dent ais até a Arg enti na (Hitch cock, 8; Potz tal , 10).
As duas espéci es são cul tivadas como forrag eiras (Araújo , 1) , e a res peito do capimcol onião exi stem informa -ções de Fur lan (7) obti das em ensaio s com plan tas envasa das e de Pedr eira (9) obt ida s em con diçõ es de cam po; algu-mas caracterís tic as da forr agem foram est udadas por Bose (4).
Ambas são malerb as mui to abun -dan tes no Brasil, de nov icidade mode-rad a no caso do capim-colonião e alta no caso da gra ma- batatai s (Blanc o, 3).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi est udado um piq uet e de cerca de 1 ha de área, situ ado na Est ação Ex-per imental de Zootec nia de São Jos é do Rio Preto (SP). O clim a desta cid ade, seg undo Arid et al. (2) é tro pic al quen -te -úmid o com ver ão chuv oso e invern o sec o (tip o AW de Koe ppen ). A fase cli mática sec a, dura nte a qual as precipi -taç ões são inferiores à eva potr ans pira
cão, vai de abril a setembro, enq uant o que na fas e úmi da, de out ubr o a mar ço, as pre cipi taç ões cons egue m quase sem-pre saturar o sol o e for necer exceden-tes. Dura nte os seis anos de dura ção do piq uet e estudado, houv e, de permei o, um biê nio de estiagem ace ntuada, com pluvio sid ade insuficien te para susten-tar a eva pora ção.
Seg undo a Comissão de Sol os (5), a Est ação Experimental de Zootec nia de São Jos é do Rio Pret o está situ ada em sol o podz oliz ado de Lins e Man ilia, var. Lin s.
No piq uet e estudado empr ego u- se per iodicamente (três vez es por ano em média) uma roç adei ra reg ula da a 30 cm de alt ura.
O lev ant amen to em que se sei am os resultados do pre sent e tra ba-lho foi feit o atr avés de 200 par cel as de 50x5 0 cm (0, 25 m2) cada uma, local iza-dos por sort eio. Em cada par cela for am col etadas tod as as plan tas vas cula res exi stente s no dia 10 de abr il de 1970 , corres pondent e à fase inicial do out uno. O materi al col etado foi rep artido em quat ro grupos, corres pondent es ao capim-colonião, à gram a-batatais, às outra s gra míneas (principa lmente Cyn odon dact ylo n Pers. e Cen chr us ech inatus L.) e às dic otiled õnea s. Toda s as pla nta s for am cortad as ren te à supe rfície do sol o, lev adas para uma estufa a 105-110° C e submet idas a sec agem até peso con stant e. Obteve -se, ass im, a bio-mas sa epi gea sec a (Bes ) cuj os val ores foram red uzi dos a kg/h a. Foi tam bém cal cul ada a fre quên cia (F) em porc ent a-gem do núm ero total de par celas estu-dadas.
RES ULTA DOS E DISCUSS ÃO
GRAU DE INFESTAÇÃO EM PASTAGEM
QUA DRO 1 - Biomassa epigea seca (Bes) e frequência (F).
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da biomas sa, passou a repres enta r ape -nas 1/3 do tot al, sofr endo uma redução rel ativ a de 67,8 %. Do ponto de vis ta da fre qüência, o rec uo do coloni ão foi mui -to pequen o, apenas 5%, most ran do que est e não abandonou de man eira sign ifi -cativa a área inicial mas decaiu quanto à cobert ura, permiti ndo a inf iltr ação de out ras plan tas.
Em segundo lug ar, ficou pat ente a agr ess ividade da gra ma- bat atai s que, alé m de se alastrar por quase tod a a áre a (F= 85%) chegou a represent ar 1/5 da biomas sa total. As demais gra mí-nea s (principal mente Cynodo n dact ylon Per s. e Cenchr us ech inatus L.) ape sar de sua nat ureza altamen te agr essi va, per manecer am infe rioriz adas, repr e-sentan do apen as 8,9% da biomas sa to-tal.
Em ter ceir o lugar, as dic otiled ô-nea s, tom adas em con junto, apresen ta-ram biomass a relativ a cons ider ável (ma is de 1/3) e fre quênci a quase total (F= 95%) . Por outr o lado , nenhuma di-cot iledônea apresen tou índ ices específi-cos dig nos de menção e foi por este mo-tiv o que tod as elas fora m con sid eradas em bloco. Cumpre nota r que o núm ero de espécies dico til edôn eas encontr adas no piq uet e (ao red or de tri nta) não é partic ular mente elev ado. Na mes ma Es-taç ão Experim ent al, em local próx imo, num a área equivalent e e submetida a con diç ões muit o sem elha nte s, De Mari -nis (6), aos 90 dias após o ter mino da lim peza complet a do solo , atr avés de re-pet ida s arações e gra dage ns, encontro u 76 espéci es. Est e fato su ger e a hi-pót ese de o capim -colo niã o ter ofer eci
do con sid eráv el resistência ao estabele-cim ent o das espécies inf esta nte s, muit o embora não se possa excluir a ocorrê ncia de competição eliminatór ia ent re as próprias dico til edôneas. O fat o é que nenhuma plan ta latifoliada con seg uiu alc ançar, dur ant e os sei s ano s, qualqu er gra u expres sivo de dominâ ncia especif ica.
As causas prov ávei s desta cons i-der ável alte raç ão floríst ica e veg etacio-nal ocor rid a no piqu ete pode m ser in-clu ída s em dois itens:
a) Aç ão se le ti va me câ ni ca ex er ci da pe -la ro ça de ir a, a fa vo r da s pla nt as ba i xas ou se mi -ra st eira s (pr in ci pal me n te gr am a- ba ta ta is ) e co nt ra as pl an tas erectas mais altas (inclusive o ca pim-colonião).
b)Ação sel etiv a biol ógica exercida pe los bov inos, atravé s de prefer ências ali ment ares (seleção de dic otiled õ-nea s, prin cipalmente não legumin o-sas , em prejuíz o das gra míneas) e atr avé s da dis semi nação end ozoóco-ra (sel eção da grama- bat atai s) de acordo com Araújo (1, pg. 196) .
PLANTA DANINHA I(2):30-37, 1978 AGR ADE CIME NTOS
Ao Eng .° Agr. ° Paulo Gastão da Cunha, Chef e da Est ação Experi ment al de Zootecnia de São José do Rio Pret o, por ter permit ido e facilit ado a execu-ção do present e tra balh o.