• Nenhum resultado encontrado

Cistos aracnóideos temporais: relato de dois casos operados.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Cistos aracnóideos temporais: relato de dois casos operados."

Copied!
4
0
0

Texto

(1)

CISTOS ARACNÓIDEOS TEMPORAIS. RELATO DE DOIS CASOS

OPERADOS

G I L B E R T O M A C H A D O D E A L M E I D A * J U L I N H O A I S E N * *

A e t i o l o g i a dos cistos a r a c n ó i d e o s é c o n t r o v e r s a . R e g l i ( c i t . p o r H u b e r3 e p o r K r a y e n b ü h l e Y a s a r g i l5

) distribuiu as causas dêstes processos e m 5

g r u p o s : 1 — p e r t u r b a ç õ e s c o n g ê n i t a s p o r m a l f o r m a ç õ e s ou p o r distúrbios

de p o s i ç ã o f e t a l ; 2 — t r a u m a t i s m o s de p a r t o ; 3 — t r a u m a t i s m o s após o

p a r t o ; 4 — processos i n f l a m a t ó r i o s ; 5 — t u m o r e s q u e d e t e r m i n a m o

apa-r e c i m e n t o de cistos associados, c o m o e m alguns casos d e n e u apa-r i n o m a s do

ân-g u l o p o n t o c e r e b e l a r .

A l o c a l i z a ç ã o m a i s f r e q ü e n t e dos cistos a r a c n ó i d e o s é na fossa p o s t e

-r i o -r 1, 2, 4, 6

, s e n d o r e l a t i v a m e n t e r a r o s os situados na r e g i ã o t e m p o r a l 7 . O

p r e s e n t e t r a b a l h o baseiase na a p r e s e n t a ç ã o d e dois casos d e cistos a r a c n ó i

-deos t e m p o r a i s , v i s t o s c o m apenas u m m ê s d e i n t e r v a l o .

O B S E R V A Ç Õ E S

C A S O 1 — R . C . ( R e g . 7 5 1 3 1 9 ) . C r i a n ç a c o m 2 ½ a n o s d e i d a d e , s e x o m a s c u l i n o , m e s t i ç a ( m ã e í n d i a e p a i b r a n c o ) , i n t e r n a d a e m 211264. D e s d e o p a r t o f o i n o t a d o a b a u l a m e n t o n a r e g i ã o f r o n t o t e m p o r a l e s q u e r d a . A l g u n s m e s e s a n t e s d a i n -t e r n a ç ã o o d o e n -t e passou a -t e r c e f a l é i a . Exame físico: m a c r o c e f a l i a ( p e r í m e -t r o c r a n i a n o 53 c m ) , a b a u l a m e n t o f r o n t o t e m p o r a l e s q u e r d o . Radiografias de crânio: fossa m é d i a e s q u e r d a m u i t o a u m e n t a d a ( a b a u l a m e n t o f r o n t o t e m p o r a l , s o a l h o d o a n d a r m é d i o a b a i x a d o e e m p u r r a d o p a r a a f r e n t e ) , p e q u e n a a s a d o e s f e n ó i d e m a i s a l t a à e s q u e r d a . Angiografia cerebral via artéria carótida esquerda: d i s c r e t o d e s v i o d a a r t é r i a c e r e b r a l a n t e r i o r p a r a a d i r e i t a e e l e v a ç ã o d o g r u p o s i l v i a n o ( f i g . 1, A e B ) .

C o m o d i a g n ó s t i c o d e p r o c e s s o e x p a n s i v o c o n g ê n i t o n a r e g i ã o t e m p o r a l f o i f e i t a c r a n i e c t o m i a , e m 28-12-1964. A b a i x o d o p l a n o d u r a i h a v i a g r a n d e c i s t o r e v e s t i d o p o r p i a - m á t e r n a s r e g i õ e s e m c o n t a t o c o m o e n c é f a l o e p o r d e l g a d a m e m b r a n a sem e l h a n t e à a r a c n ó i d e n o r e s t a n t e . A f o r sem a ç ã o c i s t i c a , q u e c o n t i n h a l í q u i d o h i p e r t e n s o , l í m p i d o e i n c o l o r , o c u p a v a a fossa m é d i a a u m e n t a d a , e m p u r r a v a o l o b o t e m p o r a l p a r a t r á s e o f r o n t a l p a r a c i m a . Exame histológico: a r a c n ó i d e s e m p a r t i c u l a -r i d a d e s .

A e v o l u ç ã o p ó s - o p e r a t ó r i a ( 9 m e s e s ) f o i b o a , p e r m a n e c e n d o l i g e i r a d e p r e s s ã o a o n í v e l d a c r a n i e c t o m i a .

C A S O 2 — E . F . M . ( R e g . 7 3 6 6 2 9 ) . P a c i e n t e c o m 18 a n o s d e I d a d e , d o s e x o f e m i n i n o , b r a n c a , i n t e r n a d a e m 26165. C o m 7 a n o s c o m e ç o u a t e r d o r f r o n t o t e m p o r a l d i r e i t a , a t i n g i n d o o a r c o z i g o m á t i c o e o ô l h o d i r e i t o s . A s i n t o m a t o l o g i a d o l o r o s a t i n h a c a r á t e r c í c l i c o , c o m p e r í o d o s d e a c a l m i a d e a p r o x i m a d a m e n t e u m a s e

(2)

m a n a . O q u a d r o i n t e n s i f i c o u - s e p r o g r e s s i v a m e n t e e, h á c ê r c a de 8 anos, foi n o t a d o a b a u l a m e n t o p r o g r e s s i v o da fossa t e m p o r a l , i n t e r i o r m e n t e , nas crises de d o r m a i s intensa, o c o r r i a e s c u r e c i m e n t o da v i s ã o ; há u m a n o , s u r g i u d i p l o p i a e q u a d r o c o n -v u l s i -v o ( c r i s e s g e n e r a l i z a d a s ) . Exame físico: a b a u l a m e n t o f r o n t o t e m p o r a l d i r e i t o , d o l o r o s o à p a l p a ç ã o ; p a r e s i a do r e t o e x t e r n o ã d i r e i t a ; p a p i l e d e m a b i l a t e r a l .

Ele-trencefalograma n o r m a l . Exame do líquido cefalorraqueano n o r m a l . Radiografias do crânio: a u m e n t o da fossa m é d i a c o m a b a u l a m e n t o f r o n t e m p o r a l . Arteriografia cerebral via artéria carótida direita: d i s c r e t o d e s v i o da a r t é r i a c e r e b r a l a n t e r i o r

p a r a a e s q u e r d a ; g r u p o s i l v i a n o e l e v a d o ; v e i a s c e r e b r a i s m é d i a s e l e v a d a s ( f i g . 1, C e D ) .

E m 5-2-65 f o i f e i t a c r a n i o t o m i a t e m p o r a l d i r e i t a . H a v i a v o l u m o s o c i s t o na fossa m é d i a , c o n t e n d o l í q u i d o h i p e r t e n s o , l í m p i d o e i n c o l o r . O l o b o t e m p o r a l e s t a v a e m p u r r a d o p a r a t r á s e o f r o n t a l e l e v a d o . D a s p a r e d e s da f o r m a ç ã o c í s t i c a ( a r a c -n ó i d e e p i a - m á t e r ) s a í a m t r a v e s p a r a o i -n t e r i o r da c a v i d a d e . Exame histológico da

(3)

E v o l u ç ã o ( 7 m e s e s ) m u i t o b o a , c o m r e g r e s s ã o da c e f a l é i a , e s t r a b i s m o , c o n v u l -sões e p a p i l e d e m a .

C O M E N T Á R I O S

E m nossos casos n ã o havia história de t r a u m a craniano, os e x a m e s his-t o l ó g i c o s m o s his-t r a r a m inexishis-tência de r e a ç ã o i n f l a m a his-t ó r i a e os ahis-tos cirúrgicos a f a s t a r a m a possibilidade d e h a v e r t u m o r . A c r e d i t a m o s , p o r t a n t o , que os cistos t e n h a m d e c o r r i d o de a l t e r a ç õ e s congênitas. A s intensas d e f o r m i d a d e s ósseas, observadas no caso 1 desde o nascimento, indicam t a m b é m q u e a i n s t a l a ç ã o d o processo é m u i t o antiga. W e i n m a n7

sugeriu que os cistos aracnóideos t e m p o r a i s t e n h a m o r i g e m na c a n a l i z a ç ã o i n c o m p l e t a do espaço subaracnóideo, na época de seu d e s e n v o l v i m e n t o .

O quadro clínico c a r a c t e r i z a - s e p e l o a b a u l a m e n t o na r e g i ã o t e m p o r a l , podendo, ou não, h a v e r a u m e n t o da pressão do líquido c e f a l o r r a q u e a n o . W e i n m a n7

r e f e r i u q u e os cistos aracnóideos t e m p o r a i s r a r a m e n t e d e t e r m i -n a m quadro de h i p e r t e -n s ã o i -n t r a c r a -n i a -n a ; e -n t r e t a -n t o , a l é m da cefaléia, e-n- en-c o n t r a m o s m a en-c r o en-c e f a l i a no en-caso 1 e p a p i l e d e m a no en-caso 2.

E m nosso segundo doente há r e f e r ê n c i a de q u e o a b a u l a m e n t o foi no-t a d o apenas aos 10 anos de idade, m a s é p r o v á v e l que devesse e x i s no-t i r há m u i t o mais t e m p o , não t e n d o sido percebido antes p o r causa d o m a s c a r a -m e n t o p r o v o c a d o pelo -músculo t e -m p o r a l e p e l o z i g o -m a .

A s r a d i o g r a f i a s simples p e r m i t e m v e r i f i c a r : a b a u l a m e n t o da escama t e m p o r a l , e l e v a ç ã o da asa do esfenóide, erosão da tábua interna e g r a n d e a u m e n t o da fossa m é d i a . A c r e d i t a m o s que nos casos típicos apenas o qua-d r o c l í n i c o (croniciqua-daqua-de, a b a u l a m e n t o t e m p o r a l ) e as r a qua-d i o g r a f i a s simples, s e j a m suficientes para o diagnóstico de cisto aracnóideo t e m p o r a l . E n t r e -tanto, e m p a r t e devido à r e l a t i v a r a r i d a d e do processo, costuma-se f a z e r e x a m e s n e u r o r r a d i o l ó g i c o s para c o m p l e t a r o estudo dêstes doentes.

E m nossos casos n ã o f o i realizada a p n e u m e n c e f a l o g r a f i a . H u b e r3

a f i r -m a q u e o cisto não se enche d e ar e r e f e r e c o -m o achados característicos d ê s t e e x a m e o e n c u r t a m e n t o e o desvio para dentro do c o r n o t e m p o r a l .

O aspecto a r t e r i o g r á f i c o e n c o n t r a d o t e m sido r e l a t i v a m e n t e u n i f o r m e : a a r t é r i a c e r e b r a l a n t e r i o r apresenta-se na linha m é d i a ou d i s c r e t a m e n t e deslocada par a o o u t r o lado e a c e r e b r a l m é d i a encontra-se desviada para c i m a e para dentro. Costuma-se d i z e r3 , 5

que o g r u p o silviano está menos e l e v a d o e estirado do que nos t u m o r e s císticos t e m p o r a i s . H u b e r 3

e K r a y e n -bühl e Y a s a r g i l5

, a o discutirem o diagnóstico diferencial dos cistos aracnói-deos, d e r a m especial i m p o r t â n c i a a o estudo das fases venosas, descrevendo anastomoses anômalas de v e i a s corticais, desembocadura das veias silvianas na v e i a de G a l e n o e d e l i m i t a ç ã o d e t e r r e n o avascular pelas v e i a s . E m nossos casos não pudemos c o n f i r m a r tais achados a não ser no que diz respeito à á r e a avascular.

(4)

desapareceu a c e f a l é i a e no caso 2 houve r e g r e s s ã o d o q u a d r o de h i p e r t e n s ã o intracraniana ( c e f a l é i a , paralisia d o V I par, p a p i l e d e m a ) e das convulsões.

R E S U M O

Os autores a p r e s e n t a m dois casos de cistos aracnóideos t e m p o r a i s , vistos c o m apenas u m m ê s d e i n t e r v a l o . Os dois doentes a p r e s e n t a v a m , a l é m do a b a u l a m e n t o t e m p o r a l , q u a d r o d e h i p e r t e n s ã o intracraniana que desapareceu c o m a o p e r a ç ã o . A e t i o l o g i a do processo, nestes dois casos c o m o na m a i o r i a dos r e f e r i d o s na l i t e r a t u r a , p a r e c e e s t a r l i g a d a a a l t e r a ç õ e s c o n g ê n i t a s ca-r a c t e ca-r i z a d a s p o ca-r c a n a l i z a ç ã o i n c o m p l e t a d o espaço subaca-racnóideo.

S U M M A R Y

Temporal arachnoidal cysts. Report of two cases submitted to surgery

T w o cases o f patients w i t h f r o n t o t e m p o r a l b u l g i n g caused b y t e m p o r a l arachnoidal cysts a r e r e p o r t e d . T h e cases w e r e seen w i t h a i n t e r v a l of o n l y o n e m o n t h . T h e signs and s y m p t o m s of i n t r a c r a n i a l h y p e r t e n s i o n sub-sided a f t e r t h e surgical p r o c e d u r e in the t w o patients. I n those cases the e t i o l o g y of the process lies p r o b a b l y in c o n g e n i t a l m a l f o r m a t i o n s caused b y i n c o m p l e t e c a n a l i z a t i o n o f the subarachnoidal space.

R E F E R Ê N C I A S

1. C H I A P P E T T A , F . ; C H I A S S E R I N I , A . & C O S E L L A , E . — C i s t i l i q u o r a l i d e l l a fossa c r a n i c a p o s t e r i o r e . P o l i c l i n i c o 71:16971704, 1964. 2. H O R R A X , G . — G e n e -r a l i z e d c i s t e -r n a l a -r a c h n o i d i t i s s i m u l a t i n g c e -r e b e l l a -r t u m o -r : i t s s u -r g i c a l t -r e a t m e n t and e n d r e s u l t s . A r c h . Surg., 9:95112, 1924. 3. H U B E R , P . — D i e n e u r o r a d i o l o g i s c h e D i f f e r e n t i a l d i a g n o s e d e r t e m p o r a l e n A r a c h n o i d a l z y s t e . S c h w e i z . A r c h . N e u -r o l . N e u -r o c h i -r . P s y c h i a t . , 89:256-275, 1962. 4. K L E I N , M . R . & B R O G L Y , G . — L e s k y s t e s a r a c h n o i d i e n s d e l a fosse p o s t é r i e u r e . É t u d e c l i n i q u e e t a n a t o m i q u e d ' a p r è s 25 c a s . S e m . H ô p . P a r i s 30:193-197, 1954. 5. K R A Y E N B Ü H L , H . & Y A S A R G I L , M . G. — R ö n t g e n o l o g i s h e r B e i t r a g z u r D i a g n o s e z e r e b r a l e r A r a c h n o i d a l z y s t e n d e r T e m p o r a l r e g i o n . S c h w e i z . A r c h . N e u r o l . N e u r o c h i r . P s y c h i a t . , 89:327339, 1962. 6. L E -W I S , A . J. — I n f a n t i l e h y d r o c e p h a l u s c a u s e d b y a r a c h n o i d cyst. J. N e u r o s u r g . , 1 9 : 431-434, 1962. 7. W E I N M A N , D . F . — A r a c h n o i d a l cysts in t h e s y l v i a n fissure o f t h e b r a i n . J. N e u r o s u r g . , 22:185-187, 1965.

Clínica Neurológica — Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Referências

Documentos relacionados

Tabela 1- Composição taxonômica das espécies coletadas, destacando o número de indivíduos coletados por estações do ano entre fevereiro a outubro de 2016...28 Tabela 2- Valores

As dimensões dos cistos/necrose permi- tiram a diferenciação entre os três tipos tumo- rais: os astrocitomas pilocíticos apresentaram cistos grandes em 75% dos casos, os ependi-

(2019) compared five existing instruments for ability to identify illicit drug, opioid and alcohol use, under privacy expectations consistent with applied practice and using a

internacional, p.. 34 cooperação constitucional entre cidadãos e Estados, de forma solidária, construída com base na multiculturalidade de cidadãos, garantindo a máxima

Foram operados quatro casos de cistos de origem dentária com extensão intra-sinusal (Figura 1 e Figura 2), os quais haviam sido tratados ambulatorialmente por cirurgiões- dentistas,

O diagnóstico deve ser realizado pelos achados radiográficos, sendo que a reabsorção radicular externa sem formação óssea, assimetria no tamanho do folículo do

Na exploração ultra-sonográfica (Fig. 1a e 2a), observou- se que os ovários possuíam aproximadamente 7 cm de diâmetro, estruturas circulares não-ecogênicas variando entre 1,5 e 3,0

Nos casos de cistos de testículo não- neoplásicos, dois tipos devem ser dife- renciados: cistos da túnica albugínea e cistos intratesticulares.. Ao contrário dos cistos da tú-