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Representações sociais da participação em atividades de lazer em grupos de terceira idade.

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Academic year: 2017

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PESQU I SA

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA PARTICIPAÇÃO EM ATIVIDADES DE ZER EM

GRUPOS DE TERCEIRA IDADE1

SOCIAL REPRESENTATION THE PARTICIPATION lN LEISURE ACTIVITIES lN THIRD AGE GROUPS

REPRESENTAC I ONES S OCIALES DE LA PART I CIPACIÓN EN ACTIVI DADES DE OCIO EN GRUPOS DE TERCERA EDAD

Maria Lúcia Olivetti Bori n i 2 Fernanda Aparecida Ci ntra 3

RESU MO: O objetivo da pesq uisa é estudar as representações sociais acerca da participação em atividades de lazer nos grupos de Tercei ra Idade. Foram real izadas treze entrevistas individuais com participantes homens e mulheres, com idade su perior à 60 anos, em u m Centro de Convivência para a Terceira Idade. Os discursos fora m analisados a partir da técnica de análise de conteúdo e à luz da Teoria das Representações Sociais. As "marcas da vel h i ce" como a falta de atividades, solidão e as doenças são os motivos que levam os i dosos a freq üentarem as atividades de l azer no Centro de Convivência para a Terceira Idade. Eles revelam pertencerem à "família da Tercei ra Idade" e encontra m u m "efeito terapêutico" para as "marcas da velhice". Participar das atividades de lazer em Grupos de Terceira Idade representa a "saída do fundo de poço", traz um sentido para a vida e o próprio renascimento.

PALAVRAS-CHAVE: gerontolog i a , envelhecimento, lazer, terceira idade

ABSTRACT: The objective of this research is to study the social representations concern i n g the partici pation of third age groups i n leisure activities. Thi teen i n d ividual interviews were accom plished with the co-operation of men and women over sixty-years-old in a Th i rd Age Coexistence Center. The d iscourses were analyzed starting from the tech n ique of content analysis, followed by d iscussion based on the Theory of Social Representations. The "marks of old age", such as, solitude, d isease and lack of activity, a re the reasons elderly people take part i n this kind of leisure activities i n the Th ird Age Coexistence Center. They belong to the 'Th ird Age family" and find med icine and thera peutic assistance for the "signs of old age". The participation i n leisure activities represents the "exit from rock-bottom", and bri ngs meaning to the life of elders as well as a sense of rebirth.

KEYWORDS: gerontology, aging, leisure , th ird age

RES U M E N : EI objetivo de la investigación es estudiar las representaciones sociales sobre la participación en actividades de oeio en grupos de Tercera Edad . Se realizaron trece entrevistas ind ividuales con hombres y mujeres de más de 60 anos, en un Centro de Convivencia para la Tercera Edad . Los discursos se anal izaron a partir d e la técn ica dei análisis de contenido y la Teoría de las Representaciones Sociales. Las "marcas de la vejez", como la falta d e actividades, la soledad y las enfermedades son los motivos que los lIevan a frecuentar el Centro. Mediante los d i scursos, los ancianos revelan que pertenecen a la "familia de la Tercera Edad" y descubren un "efecto terapéutico" ante las "marcas de la vejez". Participar en las actividades de ocio e n los Grupos d e Terce ra Edad representa la "salida dei fondo dei pozo" , les da un sentido para la vida y su propio renaci m iento.

PALAB RAS C LAVE: gerontolog ía, envejecimiento, ocio, tercera edad

Recebido em 1 2/09/2002 Aprovado em 20/1 2/2002

1 Resumo de Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Enfermagem, nível Mestrado, da Faculdade de Ciências Médicas da U N I CAM P, em 2002 .

2 Terapeuta Ocupacional. Professora Adjunta da Faculdade de Terapia Ocupacional Centro das Ciências da Vida -PUCCAMP, Campinas, SP. Especialista em Saúde Pública . Mestre em Enfermagem.

3 Enfermeira . Professor Doutor do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da U N I CAM P, Campinas, SP.

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INTRODUÇÃO

A Gerontolog i a , com p reendida como o estudo do processo de envel heci m ento, reú n e várias disci p l i nas e pesq uisadores de diversas á reas do con hecimento ; possui assim, um espaço de ação i nterd isci p l i nar. N esta d i mensão i nterd isciplinar, u m dos g randes desafios tem sido encontrar possibilidades de propiciar ao i dos04 uma vida longa e com q u a l i d ade, oferece n do-l h e cond i ções para enfrentar as inúmeras dificuldades individuais e coletivas, ainda presentes na popul ação idosa .

Na literatura internacional e brasileira, vários estudos a pontam que a p o p u l ação m u n d i a l está envelhecendo rapidamente. No Brasil , os estudos realizados por Neri (1 993), Veras ( 1 994), Paschoal ( 1 996) e Berquó ( 1 999), a partir de dados demográficos do I n stituto B rasileiro de Geografia e Estatística ( I B G E ) , revelam q u e a população com mais de 60 anos de idade até o ano 2025 será 1 6 % da população tota l . A expectativa de vida dos brasileiros tem au mentado, mas a maioria da população vive a i n d a em situação de pobreza , miséria e doenças.

Peixoto ( 1 997) refere que ao fi n a l da década de 70 foram desenvolvidas algumas ações para a promoção e assistência ao idoso. Como exemplos, a autora aponta o Programa de Assistência ao I doso ( PA I ) e a renda mensal vital ícia, i niciativas do governo federa l , e a criação do Comitê Nacional de Saúde do Idoso, nos anos 80. Apesar d estas i n i ciativas, a mesma a utora assi nala q u e , de fato , o Estado brasileiro não assu m i u u m a ação ofensiva para o grupo populacional dos idosos e , em contrapartid a , destaca a partici pação da i n i ci ativa privad a como a do Serviço Social do Comércio (SESC), com seus serviços e prog ramas de promoção e assistência voltados à popu l ação aposentada e idosa .

Considerando que a participação nas atividades de lazer em grupos d e Tercei ra Idade tem sido apontada, nos estudos d a G e rontol o g i a , como uma poss i b i l i d a d e d e promover a qualidade de vida dos idosos, pretendemos nesta pesquisa identificar as representações sociais dos próprios i ntegrantes dos g rupos de Te rcei ra Idade, acerca da sua vivência em atividades d e l azer. Para tanto, consideramos importante destacar as representações sociais que circulam na sociedade sobre a própria condição do envelhecimento e que, possivel mente , a n cora m as rep resentações sobre a partici pação em atividades de lazer.

E m n o s s a s o c i e d a d e a l g u n s " v e r b e t e s " s ã o co m u m e nte u t i l i z a d o s p a ra d e s i g n a r a i d a d e o n d e o envelhecer é mais notado: velho, idoso, terceira idade, melhor idade, idade madura . As marcas e signos que acompanham cada pal avra conferem u m a certa identidade a cada "tipo" das pessoas envelhecidas; há com efeito uma con strução social da vel h ice. Ao "vel ho" são atri bu ídas as i magens de doença , sol idão, i n atividade. O termo idoso é uti l izado em documentos jurídicos, para efe ito d e leis e d i reitos deste g rupo da população e para a Tercei ra I d ade são atri bu ídos signos de saúde e bem esta r.

Debert ( 1 999) ao se referi r às constru ções sociais

da velhice , Terceira Idade e aposentados, considera que nos ú ltimos anos h ouve a criação de uma nova l i nguagem em oposição às a ntigas formas de tratamento dos vel hos e a posentad os. Para e l a , a Tercei ra I dade su bstitu i a vel hice, aposentadoria ativa se opõe à aposentadoria inativa e o asilo passa a ser chamado d e centro residenci a l . Os sig nos do envelhecimento são i nvetidos e assumem designações como: "nova juventude", "idade do lazer". Também invertem­ se os signos da aposentadoria, de um momento de descanso e recolhi mento para tornar-se u m momento de atividades e lazeres.

Segundo esta autora , é nesse contexto que surgem os prog ramas de Tercei ra Idade no Brasil, infl uenciados pelo movi mento de a posentados franceses, na década de 60. O SESC, como já citado, foi u m precu rsor na organ ização dos a posentados e, conseq ü enteme nte , na organ ização de g ru pos de convivência para a Tercei ra Idade , baseados em d i nâmicas de lazer, as quais procuraram reverter a condição marginal do velho. Por l azer entendemos toda ocu pação de l ivre escol h a , que são rea l i za d a s a pós o térm i n o d a s obrigações profissionais, fa m i l i a res e sociais, o u seja as atividades de lazer acontecem no tempo l ivre das pessoas e não são obrigatórias ( D U MAZED I E R, 1 973).

E m nossa experiência profissional com g ru pos de terapia ocupacional, nos quais eram uti l izadas atividades de l azer, observamos q u e os significados das experiências vivenciadas pelos integrantes d ivergiam entre si. O relato de alguns pa utava-se e m uma ava l i ação positiva sobre "estar no grupo" de Terceira Idade; eles comentavam com freqüência que a saúde tinha melhorado e "estavam mais felizes". Outros i n teg r a n t e s a g i a m c o m p u l s i v a m e nte em re l a ção à s atividades, o u sej a , queriam participar d e todos o s passeios, festas e outros eventos criando "um clima de euforia" e de "j uventude". Outros, ainda, apresentavam maior d ificuldade d e i nclu írem-se nas atividades e se desmotivavam com faci lidade, e por ú ltimo a l g u mas pessoas, dependendo do tipo de ativi d a d e , l e m bravam-se do tra b a l h o exerci d o anteriormente e preferiam realizar somente as atividades ditas relaxa ntes , como a g i n á stica , os passeios.

N a revisão da literatura, Borsoi ( 1 996), Ferrari ( 1 996) e Debert ( 1 999) citam que os motivos que mais se destacam para a procu ra dos g ru pos de convivência para a Tercei ra Idade são o encontro com as pessoas e a construção d e novas amizades. A participação em atividades de lazer, sejam os passe i o s , a s festas , a g i n á stica , as a rtística s , nem sempre são evidenciadas, o que leva à suposição que as mesmas possuem u m papel mediador dos encontros entre os parti cipantes dos grupos de Tercei ra Idade .

D i a nte do exposto , propusemo-nos a real izar este estud o buscando responder as seg u i ntes questões:

- Quais são as expectativas dessas pessoas em re l a ç ã o a p a rt i c i p a ç ã o nas a t i v i d a d e s d e l azer? H á preferências? H á opções?

- Existem m u d anças no cotidiano dos i ntegrantes dos grupos de Terceira Idade conseqüentes a sua participação nas ativi dades de l azer?

- O que rep resenta para os i nteg rantes dos grupos

4 Utilizamos, neste estudo, a recomendação da Organização Mundial de Saúde ( 1 979) que considera idosas as pessoas acima de 60 anos, nos pa íses em desenvolvimento e, portanto, no Brasil.

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Representações sociais .. .

d e Terceira Idade participar das diferentes atividades d e lazer promovidas?

E s p e r a m o s n e s s a p e s q u i s a i d e n t i f i c a r a s representações sociais de i ntegra ntes d e g rupos d e Tercei ra Idade acerca da sua participação em atividades de lazer a m p l i ando, ass i m , a com p reensão dos s i g n ificados do envelhecer e a sua relação com as práticas sociais voltadas a este grupo etário.

OBJ ETIVO GERAL

C o m p re e n d e r as re p r e s e n ta ç õ e s s o ci a i s d e i ntegrantes d e grupos de Tercei ra I d ade acerca da sua participação em atividades d e l azer.

OBJ ETIVOS ESPECíFICOS

- Identificar a s expectativas e os motivos dos i nteg rantes de g ru pos d e Tercei ra Idade que d eterminam a sua partici pação em atividades de l azer;

- Identificar os signifi cados que os i nteg rantes de grupos de Tercei ra Idade atri buem à sua partici pação em atividades de lazer;

- Verificar se existem mudanças no cotidiano dos integrantes dos grupos de Tercei ra Idade, e se elas são conseq üentes à participação em atividades d e l azer.

REFERENCIAL TEÓRICO

o referencial teórico adotado para esse estudo é a Teoria das Representações Sociais. Segundo a defi n i ção clássica de Jodelet, "o conceito de representação socia l designa u m a forma especifica de conhecimento, o saber d o senso comu m , cujos conteúdos man ifestam a operação de processos generativos e funcionais social mente marcados. De modo mais amplo, designa uma forma de pensamento social" (JODELET, 1 988, p. 9). A autora apresenta o conceito d a s r e p r e s e n t a ç õ e s s o c i a i s c o m o m o d a l i d a d e s d e pensa mento p rático volta d a s p a ra a com u n i cação, a compreensão e o dom í n i o do ambiente soci a l , material e ideal. Assim podemos chamá-Ias de formas de conhecimento e que se manifesta m como imagens, conceitos, categorias e teorias, ou seja, elementos d o d iscurso do senso comum que provém, dos d i scursos científicos, mais atua l mente propagado pela m í d i a , atravé s d a com u n i cação e d a educação e m gera l .

O referencial teórico das representações sociai s , sob a perspectiva d a psicologia social, nos parece pertinente para ser empregado no estudo dos significados das vivências em atividades de lazer entre participantes de gru pos de Terceira Idade, na medida que o discurso gerontológico sugere uma fi nal idade para estar em atividade, como a ocupação do tempo l ivre q u e , necessari a mente, não é a mesma esperada pelos participantes dos g rupos de Tercei ra Idade. Soma-se a isso o fato d e q u e a formação dos g ru pos de Tercei ra Idade é um fenômeno atua l e que colabora na construção de novas i magens sobre o envelhecer.

CAMPO E ABORDAGEM M ETODOLÓGICA

O estudo foi rea l izado n o Ce ntro M u n i c i p a l d e

Convivência da Tercei ra Idade, n a cidade de Val i nhos, São Paulo. Criado em 1 98 3 , este Centro ate nde homens e mul heres a parti r dos 50 anos e p rocu ra cumpri r a Pol ítica Municipal do I doso, em conformidade com a Lei 8.842/94 da Pol ítica N acional d o I d oso. A i ncl usão dos sujeitos no presente estudo atendeu aos segu i ntes critérios: 1 . homens e m u l heres com mais d e 60 anos de idade; 2 . partici pação no Centro de Convivência para a Terceira Idade, com a freq ü ê n c i a m í n i m a d e d u as vezes por sema n a ; e , 3 . partici pação nas atividades d e l azer nos ú ltimos dois anos, sem i nterru pção.

P a ra a s e l e ç ã o d o s s uj e i to s s o l i citamos a o s participantes d o Centro de Convivência a indicação d e colegas de am bos os sexos, q u e atendessem aos critérios acima estabelecidos. A opção por este tipo de seleção parti u de uma h i pótese de que a escolha dos sujeitos entre os seus pares oferece i n d ícios de que os apontados destaca m-se e n t re o g ru p o , p e l a a s s i d u i d a d e e p a rti ci pação, e o compromisso com o p rograma de atividades oferecido pelo Centro de Convivência. Considerou-se, ainda, para esta opção a i n ex i stê n c i a d e c o n t ro l e de fre q ü ê n c i a d o s participa ntes nas atividades. Os sujeitos indicados fora m consultados sobre a d isponibilidade para paticipar do estudo, mediante um termo de consenti mento. O projeto de pesquisa foi avaliado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas da U n iversidade Estadual de Campinas e recebeu parecer favorável.

Por tratar-se d e u m estudo exploratório, defi n i mos o n ú mero de sujeitos pela repetição e saturação dos dados que emerg i ram das e ntrevistas, bem como pela relevância deste materi a l para a anál ise e adequação aos objetivos propostos (SÁ, 1 998, SOUZA F I L H O , 1 993). Realizamos 1 4 entrevistas, sendo q uatro n a fase d o pré-teste e 1 0 n a pesq uisa propriamente dita . U m a entrevista foi descartada, pois a e n tre v i s t a d a não c o r re s po n d i a à fa ixa etá r i a estabelecida n o s critérios de i nclusão. A s entrevistas do pré­ teste foram incorporadas ao total da amostra , uma vez que apresentavam u m conteúdo relevante para o estudo.

Os dados foram coletados em janeiro de 200 1 (pré­ teste) e em j u l ho de 2 00 1 , no próprio Centro Mun icipal de Convivência . Para a coleta de dados realizamos com cada sujeito uma entrevista i nd iv i d u a l e semi-estrutu rada. A entrevista foi conduzida pela própria pesquisadora por meio de um roteiro, o qual contém dados pessoais dos informantes e abord a os seg u i ntes temas: os motivos que levaram os sujeitos a ingressar no Centro de Convivência, o envolvimento com as atividades de l azer a ntes do ingresso no Centro de Convivência, e a compreensão q ue tinham sobre a sua partici pação nas atividades d e l azer no respectivo Centro . Todas as entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas na ínteg ra . Adotamos nomes fi ctícios para p reservar a identidade dos sujeitos.

O p e rfi l a p re s e n t a d o p e l os 1 3 e n trevi stados c o r re s p o n d e a sete h o m e n s e s e i s m u l h e re s . Os entrevistados encontram-se na faixa etária entre 61 e 78 anos, a maioria é viúva (8/ 1 3) e professa a rel ig ião católica romana ( 1 1 /1 3 ) . Em relação ao g rau de escolaridade, os sujeitos freq üentaram a esco l a por período entre um e 1 3 anos. Haviam q uatro fazendo o curso supletivo no próprio Centro de Convivência M u nicipal . Dentre os 1 3 sujeitos, sete são aposentados, sendo seis por tempo de serviço e um por

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i nvalidez; duas entrevistadas são pensionistas e as demais não possuem vínculos previdenciários. Sobre a atividade profission a l , tod os os h o m e n s ( N = 7 ) ocuparam cargos técnicos, serviços gerais ou mestre d e obras. A maioria das mulheres (5/6 ) é dona-de-casa. A d ata d e i n g resso nas atividades do Centro de Convivência variou entre dois e 20 anos.

Para a anál ise das e ntrevistas uti l izamos a técn ica de anál ise de conteúdo (BARD I N , 1 977). Nela identificamos, i n icialmente , os temas ou as u n i d a d es de signifi cação presentes nos d i s c u rsos dos suj e itos, que reve l a m os sentidos, as motivações, as crenças e os s ímbolos atribu ídos por eles acerca da partici pação nas atividades de l azer. Posteriormente , associamos as u nidades que apresentavam semelhanças temáticas e confluência de sentidos, conceitos e explicações busca n d o a constru ção de categorias de a n á l i s e , as q u a i s n o s l e v a r a m a i n fe r i r s o b re a s representações sociais.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Identifica mos três categorias de anál ise com os respectivos temas:

AS EXPECTATIVAS E OS MOTIVOS PARA PARTICIPAÇÃO: AS MARCAS DA VELH I C E

a ) "A vida está fri a ... "

N a a n á l ise dos d iscursos dos s uj eitos aparece i n icial mente uma relação e ntre a procu ra ou i n g resso no Centro de Convivência e as imagens d e vazio , d a falta de atividades e da solidão. Todas estas imagens são formadas a partir de mudanças no cotidiano dos idosos geradas por rupturas com a esfera ocupacional (aposentadoria) ou familiar. Há um período de transição, na medida que o sujeito tinha sua vida organizada por tarefas ocupacionais da vida adulta e passa a vivenciar um cotidiano desestruturado na velhice. Para os homens entrevistados esta organização do cotidiano se dava a partir do desempenho de atividades do trabalho, e para as mulheres pelo desempenho de tarefas domésticas. Os sujeitos homens se percebem desorientados e com uma rotina marcada pelo téd i o e o vazi o .

O que n o s parece n u m primeiro momento que as marcas da velh ice são produzidas essencialmente pela falta de atividades e pelo conseqüente téd i o , ampl iamos nossa compreensão e percebemos que os idosos do nosso estudo tentavam ocupar o tem po, a ntes do i n g resso no Centro de Convivência, fazendo visitas, assistindo televisão, lendo, mas fa ltava algo para p reencher o vazio. Para eles o "fazer sozi n ho" não preenche a vida, possivelme nte , porque em grande parte de suas vidas rea l izaram as atividades no trabalho, nas tarefas domésticas, e no l azer com outras pessoas , como os fa m i l iares e/ou a migos. " Fazer j u nto" representa u m forte elemento n a busca d a partici pação nas atividades de lazer em Centros de Convivência para a Terceira Idade.

A atividade humana está i m b u ída d e uma rede de afetos, sejam fam i l iares, sej a m no ambiente de trabalho. Fazemos algo para alguém, e para si próprio. É uma teia de relações afetivas entrelaçadas com o fazer humano. O fazer h u mano tem significados na rel ação consigo mesmo e com

o outro.

b ) A c o n v i v ê n c i a c o m a s d o e n ç a s e a recomendação médica

Este seg u n d o tema foi extra ído da maioria dos discursos das mulheres entrevistadas. As doenças apontadas não são necessariamente clín icas, mas grande pate delas de origem emocio n a l , i n d i cando particularmente que as m u l heres estão expostas, ao longo d a vida, às condições adversas que podem gerar sofri mento mental, representado no senso com u m pelas "doenças dos nervos".

A motivação femi n i n a para participar das atividades d e lazer é difere nte d a motivação mascu l i n a . As mul heres, como vi sto no perfi l dos entrevistados, em sua maiori a não desenvolveram atividades profissionais, pelo contrário, foram donas-de-casa, mães e esposas . Ass i m , as mul heres não vivenciam a m u d ança a bru pta em relação às ocupações cotidianas da esfera doméstica, mas por outro lado mostram­ se cansadas e até doentes pelo excessivo cuidado com o outro.

Então eu fiquei assim: eu ea muito doente, eu perdi meu marido, depois perdi meu filho e fiquei em casa muito triste, muito infeliz. Não saía para canto nenhum, a minha vida era chorar e, além disso, eu tinha um filho doente na cama, e tudo dele tinha de ser eu. Eu tomava seis comprimidos por dia e os médicos falavam que eu não podia parar um minuto, um dia aqueles remédios. E eu cada dia ficando pior. (C ícera).

c) E m b u sca do tempo perdido

O tema "em busca do te mpo perdido" representa a oportu n idade para vive n ciar experiências até então não permitidas pelos com p ro m i ssos com o trabalho e pelas responsa b i l idades dos papéis fam i l iares assumidos, como aprender, desenvolver n ovas habilidades, que não foram desenvolvidas ao longo da vida adu lta ou ainda, retomar projetos de vida. A geração de idosos da pesquisa foi privada, princi palmente as m u l h eres , de acesso à i nformação tanto formal como a escolarização, como informal .

N este contexto de privação de acesso ao mundo do trabalho e à escolarização , as idosas entrevistadas tinham a percepção d e esta r fora do mundo. A vida dentro de casa afastou-as d e ter maior contato com outras pessoas , além dos fa m i l i a re s . A v i d a fo i m a rca d a , m u itas vezes, por sofri mento.

O motivo foi a minha vida . . . o mundo diferente sabe ? Eu vivia só dento de casa com o marido e com os filhos, só com o serviço do la, n é ? Então tinha necessidade de aprender alguma coisa e abir mais a mente, poque eu achava que estava fora de tudo, fora de tudo e eu tinha necessidade de aprender alguma coisa, conversar com as pessoas que não eram fechadas e é por isso que comecei na Terceíra Idade . (Terezinha)

OS S I G N I F I CADOS DA PART I C I PAÇÃO E M ATIVI DAD ES D E LAZER: O E F E ITO T E RAPÊ UTICO

a) A fam í l i a d a Tercei ra Idade

Sem diferenças e m relação ao gênero , o que une os homens e as mulheres envelhecidas do nosso estudo é o

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Representações sociais .. .

afeto, a camaradagem, o aco l h i mento , a manifestação de cari nho e a confiança encontrados a partir da parti ci pação no Centro de Convivência.

É neste contexto "familiar" que os idosos encontram a proteção tanto dos profi s s i o n a i s como dos colegas participantes. Há uma substitu ição d e elementos , uma vez que a convivência cotidiana com a fam í l i a de origem torna­ se, em mu itos ca sos, esporá d i ca ( p a i s , i rmãos), como também com a família constru ida (fi l hos). Neste sentido, volta a essência da vida em família, da convivência cotidiana com os semelha ntes q u e possuem experiências da mesma época, do parti lhar as experiências e os vínculos afetivos .

(. . .) Porque eu gosto disso aqui. A turma daqui é boa, a turma é boa. Isso aqui é uma família, é uma irmandade. Não tem discussão. Não tem briga ... (J uvenal). As i magens da fa m í l i a por ora se mesclam com as dos novos amigos; a i magem é tão forte que os sujeitos verba l izam a expressão "pegar amizades", a pontando para a representação de quase u m contágio. Ao participarem em atividades de lazer os idosos ficam contaminados por novos amigos. A inibição i n icial para fazer am igos cede lugar para a dispon ibil idade de esta r j unto com as pessoas. N ão há como escapar. Há um contágio entre aqueles que participam do Centro de Convivência.

É porque é bom demais! (risos). A gente tem muitas amizades, peguei muitas amizades, e depois tem de tudo que a gente gosta, tem ginástica, tem jogos, tem bale, tudo, bate-papo . . . bate-papo é todo o dia!. (Antônio).

b) O reméd i o

A relação dos idosos c o m as atividades de l azer é tão i ntensa q ue mu itos adquirem u m a dependência das mesmas que se aproxima à idéia da dependência de um reméd io. Se o envelhecimento é crônico, no sentido da irreversibilidade do processo, a convivência com ele demanda alternativas; para os sujeitos entrevistados, possivelmente, o l a z e r sej a o " re m é d i o " n e c e s s á r i o p a ra m a n t e r o envelhecimento sob controle. E também aparece o efeito, como o de um remédio, comparado ao al ívio sintomático de doenças em relação à parti ci pação nas atividades de l azer. (. . . ) mas é depois que eu conheci a Terceira Idade (. . .) eu não fico em casa não, só se eu tiver doente, se eu tiver doente tudo bem, mas assim mesmo tem dia que eu estou meio doente e eu venho, aí eu saro. (Bened ita )

O reméd io da partici pação em atividades de lazer ju nto com a "família da Tercei ra Idade" tem se mostrado tão benéfico para as marcas da velh ice , a solidão, as perdas, a i n atividade, as doenças, q u e alguns participantes fazem recomendações e receitam a participação em atividades de lazer para os amigos.

c) A organ ização do tem po

A partir do ingresso no Centro de Convivência para a Terceira Idade a rotina dos entrevistados, caracterizada pela falta de atividades significativas é substitu ída por uma rotina de total ocupação do tempo.

Segundo Von Zuben (200 1 , p . 1 66 ) , "a condição humana é toda perpassada pela tempora lidade". O conceito de tempo pode ser discutido sob várias perspectivas . Os gregos atribuíam dois conceitos para o tempo: aión ou kairós

e chrónos. O termo aión signiica tempo de vida ou a duração do tempo e para alguns a utores gregos representa o tempo de d u ração de uma vida i n d ividual ; é o tempo vivido, as experiências, o tempo p róprio da ação. Ao conceito de c h r ó n o s é a t ri b u í d o o t e m p o g e n é r i c o , cron o l ó g i co (MARTI N S , 1 998, ALVES, 200 1 , VON ZU B E N , 200 1 ).

Para os sujeitos do p resente estudo, a participação em atividades de lazer no Centro de Convivência leva-os à o rg a n ização d e c h ró n o s . O s d i a s s ã o co m p l etos d e compromissos, incluindo os fi ns de semana. Novamente aparecem as expressões "não ten h o tempo" e "trabalho", usadas quando se referiam à vida adulta. Além da organização do tempo cronológico, a partici pação em atividades de lazer para alguns sujeitos ( re)sign ifica o cotidiano dos idosos. A passagem d o te m p o é p e rce b i d a co mo momentos d e felicidade. Estar s e m ativi dade, sign ifica estar infeliz e a passagem do tempo torna-se lenta e monótona. Esta r em atividades significa estar fe liz e a percepção do tempo é inversa: veloz e ativa , é tão rápido que não se vê o tempo passar. N esse momento o tempo chrónos é reapresentado pela perspectiva subjetiva do tempo kai rós.

AS MU DANÇAS N O COTI DIANO: "A SAíDA DO FUNDO DO POÇO"

a) O sentido da vida

O sentido da vida corresponde a uma motivação primária arraigada à natureza humana e, apesar de ser universal , é s u bjetiva e pessoal . Ass i m , existe um sentido pessoal que podemos con s i d e rá-lo como um s i stema cog nitivo elaborado i n d ividualme nte e i nfl uenciado pela cultura . Ter u m sentido n a vida sign ifica ter um propósito e esforçar-se para atingi-lo ( F R E I R E ; RES E N D E , 200 1 ).

A roti n a dos dias vazios , sem ocu pação para os homens, e sem senti d o p a ra os i d osos da pesquisa é substituída por uma roti n a com a participação em muitas atividades diversificadas e o encontro com os amigos. Não há mais sol i d ã o e fa lta d e ocupação. H á expectativa, perspectiva , planos, objetivos e futu ro. O envolvimento nas atividades de lazer do Centro de Convivência traz a sensação de res ponsa b i l idade por um tra b a l h o , para os homens aposentados; representa o retorno de uma força prod utiva , e da uti l idade soci a l . Representa , ass i m , o "sentido da vida" .

A gente ica em casa sem fazer nada, parece que a gente está esperando só o dia de ir embora daqui. Aqui não. Aqui a gente espera um outo dia, para começar tudo de novo .. . a gente não pensa outra coisa, a não ser o que vamos

fazer amanhã, amanhã o dia seguinte! É a ceteza de um

amanhã. É um futuo. Muda a perspectiva. (Antônio)

Para as mulheres a rotina dos cuidados familiares é su bstitu í d a por n ovas ativi d a d e s : p a lestra s , passeios, g i n ásti ca , c u rs o s , j o g o s . A v i d a começa a ter outros significados, de um mundo restrito para o mundo sem limites fora de casa. Peixoto ( 1 997) ressalta que a experiência das mulheres nos gru pos de Tercei ra Idade revela a im portância da real ização pessoa l e auto-sati sfação; é a conquista de um espaço d e atitudes próprias a lcançada após uma vida de obrigações fam i l iares.

b) O a utoc u idado

O autocu idado é uma prática que inclui atividades

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variadas q u e as pessoas podem rea lizar p a ra s e u próprio benefício, para manutenção da vida, da saúde e do bem-estar. É uma necessidade na vida das pessoas, e se estas não forem satisfeitas podem trazer doenças (RODRIGUES; ANDRADE; MARQUES, 200 1 , p. 1 2).

O autocu idado parece ser uma experiência nova na vida dos sujeitos entrevistados. Através das palestras e das p róprias o ri e ntações rece b i d a s p e l o s p rofi s s i o n a i s do P ro g ra m a , os i d o s o s a p re n d e m s o b re a s m u d a n ça s funcionais do envelhecimento e o s cuidados necessários para a man uten ção da sa úde. A partici pação nas atividades de l a z e r p a rece m i n i m i z a r as a l te ra ç õ e s a d v i n d a s d o envelhecimento; a o mesmo tem p o , o s idosos estão mais atentos aos seus problemas d e saúde. Eles sentem-se mais saudáveis e assumem uma posição mais ativa diante dos cuidados à saúde.

c) O renascime nto

A i m agem d a i n atividade está associada à própria morte . N a vivência dos nossos sujeitos , a gradativa perda das atividades, sejam laborais ou de lazer, vai "endurecendo" o idoso e minando suas forças até fossi lizá-lo por completo. As atividades de lazer oferecidas no Centro de Convivência para a Tercei ra Idade, rep resentam para esses sujeitos a oportu n idade de "aprender a a n d a r outra vez" , de "torna r a viver" , de "renascer" .

A gente fica numa idade sem ati vida de, vai ficando .. . não me lembo a palavra, mais fossilizado, não é ? Pois não faz nada, aí começa a endurece, tudo, membos, a memória também fica quadradinha (. . .). E eu acredito que um Cento

de Atividades como esse deu vida para muita gente, (Jovino) A i magem de renascimento também está associada a autonomia para a vida. Sanchez (2000) , considera como sujeito autônomo aquele que atua e tem o poder de decisão sobre seus atos.

As mulheres do p resente estudo, especialmente as que estivera m privadas d e informações e escolaridade, fi caram mais d e ntro d e casa c u i d a n d o d a fa m í l i a . Ao participarem do P rograma descobre m um mundo novo e desenvolvem a autonom i a . Acreditam agora , q u e "isso é a vida". Elas sentem que aprenderam a viver e renasceram ao ingressarem no Centro de Convivência, ou seja, exerceram sua autonomia para decidir, escolher sobre o que q uerem da vida.

Então, dentro da Terceira Idade eu encontrei tudo, encontrei saúde, encontrei alegria, aprendi a vive, sabe pois eu não sabia nem bem conversar. Uma pessoa perguntava uma coisa e eu fica va pensando o que é que eu vou responder, pois eu não sabia responde, pois eu não sabia responder. E aqui eu aprendi, para mim, olha, eu vivi de novo, agora que eu estou vivendo, antes eu não vivia, agora que eu estou vivendo. (C ícera )

As recentes pesq uisas revel a m q u e u m g rande n úmero de mulheres envel hecidas, i ndependentes da classe soci a l , atribuem à atua l vida, como idosa, o momento mais tranqüilo e feliz que já tivera m . O fato da maiori a das idosas de hoje não ter alcançado u m a vida p rofissional ativa , e ao mesmo tempo, terem tido uma vida social limitada em relação aos homens de sua geração, l eva-as a um senti mento de maior satisfação e plen itude, pri ncipalmente ao ingressarem em Prog ramas para a Tercei ra Idade.

CONSIDERAÇÕES FI NAIS

A p a rt i r d a p e rs p e c t i v a a q u i e s b o ç a d a , comp reendemos como os i ntegrantes d e G rupo d e Tercei ra Idade se apropri a m de todo u m processo social e passam a reconstruir (re-significando) seu mundo subjetivo nas relações soci a i s . Procura mos revel a r as rep resentações soci a i s , l i nguagem do s e n s o com u m , man ifestações de cond utas i n stitucional izadas ( O BA; TAVARES ; O L IVE I RA, 2002 ) . Assi m , tentamos ultra passar as representações i nd ividuais para revelar um fenômeno social : idéias e ações de um grupo de Tercei ra Idade sobre sua vivência em atividades de lazer, produzidas no i nterior d e u m determ i nado contexto social e cultura l .

N esse estud o b u scamos verificar se o s idosos ao i ngressarem nos g rupos de Terceira Idade estariam negando o p róprio p rocesso d e envel hecimento. N essa traj etória , i d e n t i fi c a m o s q u e o s s i g n o s d a j u v e n t u d e ( p ra z e r, diverti mento, vitalidade e beleza ) permanecem vinculados aos estág ios i n iciais d a vida h u m a n a . Para os sujeitos d e nosso estud o , princi p a l m ente as m u l heres, não l h es foi permiti d o , ao l o n g o d a v i d a , exercer a auton omia e a l i berdade. Os papéis socia i s desta geração de mulheres, como vi sto , eram m u ito restritos ao mundo doméstico . Os h o m e n s , p o r s u a vez, e m nossa pesq u i s a , fo ram marcados pela exigência do mundo do trabalho. Apesa r de se sentirem mais "livres" que as mulheres, não tiveram plena autonomia sobre o seu tempo, pois o mesmo foi na maioria das vezes preenchido pelo trabalho, especialmente a pós o casamento q u a n d o assu m i a m o papel de p rovedores excl usivos d a fam íl i a .

Os resu ltados de nosso estudo revelam q u e a velhice não está sendo negada , mas s i m considerada uma eta pa de oportu n i d ades e o resgate do tempo perdido, não d e chrónos, m a s de kairós: resgate de poder vivenciar o prazer e a l u d icidade, a convivência, o parti lhar um tempo com sentidos e sign ificados , ainda que, sendo velhos. Conforme Ci ntra ( 1 998, p . 1 83) revela " . . . partimos do pressuposto que o sujeito se constitui nas relações sociais, num processo em que ele (re)elabora m últiplos sentidos e signiicados que, por sua vez mediam a signifi cação das experiências que vivencia no meio social".

A partici pação e m atividades de l azer nos Centros de Convivência para a Tercei ra Idade leva as pessoas a se senti rem fel izes e mais saudáveis. Essa percepção de saúde não está vinculada necessariamente a ausência de doenças. Trata-se d a convivência com as mesmas com garantia de i ndependência e a utonomia, como também uma diminuição do consumo de medicamentos, principal mente os indicados para as doenças e mocionais. Mostramos que as atividades de lazer, às vezes, su bstituem o efeito de outras terapêuticas (medicamentos ) no com b ate às "doenças da vel h ice" . Os idosos adquire m maior domínio sobre seu corpo, apesar de ainda atri b u í re m os c u i d ados à saúde ao co nsumo d e con su ltas m é d i ca s , re médios e exames. N ã o podemos esquecer, no entanto , que este tipo de comportamento pode estar sendo esti mulado pelo modelo de assistência à saúde no país, n o qual a tecnologia médica é h i perva lorizada nos cuidados à saúde d a popu lação.

A felicidade revelada pelos sujeitos da pesq u i sa parece estar vinculada a n ova condição de pertencerem à

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Representações sociais .. .

u m a "fa m í l i a " , ass i m o s i d osos podem comparti l h a r as incertezas e dificuldades desta nova fase da vida, e conquistar um espaço afetivo. Esta fel icidade para as mulheres mostra­ se também vinculada à sensação de l iberdade e autonomia, ao "con hecimento do m u ndo", e também as experíências novas em suas vidas. Para os homens, a fel icidade pode estar associada a sensação de util i dade e ao compromisso, à perspectiva de futuro.

Antes do ingresso n os g rupos de Tercei ra Idade, alguns idosos por nós e ntrevistados tentava m se ocupar, fazendo visitas, cam i n hando, fazendo comp ras, assisti ndo televisão, mas estas atividades não preenchiam "o vazio". O vazio não estava relacionado apenas ao tempo ocioso, mas sim a uma percepção subjetiva e existencial do sentir-se "ve l h o" e excl u íd o , "fora do m u n d o " . N e ste senti d o , a participação nos grupos de Terceí ra I dade revela-se como a possíbil idade de muda nça desta real idade fria, fossi lizada e d e exc l u s ã o . R e p re s e n ta , a s s i m , u m a n ova v i d a , o renascimento, a "saída do fundo do poço".

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