Universalidade e ortogonalidade em espaços de
Hilbert de reprodução
Universalidade e ortogonalidade em espaços de Hilbert
de reprodução
Victor Simões Barbosa
1Orientador: Prof. Dr. Valdir Antonio Menegatto
Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação - ICMC-USP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências - Matemática . VERSÃO REVISADA
USP – São Carlos
Abril de 2013
1
O autor teve apoio financeiro da FAPESP, Processo nº 2010/13025-3.
Data de Depósito:
B228u
Barbosa, Victor
Universalidade e ortogonalidade em espaços de Hilbert de reprodução / Victor Barbosa; orientador Valdir Antonio Menegatto. -- São Carlos, 2013. 68 p.
Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Matemática) -- Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, 2013.
1. Núcleos positivos definidos. 2. Função layout. 3. Espaços de Hilbert de reprodução. 4.
Agrade¸co primeiramente a Deus, pois sem Ele todo este trabalho ainda estaria por ser feito.
Aos meus pais Hamilton e Gisele por serem as pessoas mais fant´asticas que conhe¸co e por nunca medirem esfor¸cos para possibilitar que eu atingisse meus objetivos.
`
A minha irm˜a Amanda e ao meu irm˜ao Jos´e Luiz por completarem esta fam´ılia maravilhosa a qual devo muito do que sou e tenho hoje.
Aos meus quase irm˜aos e grandes amigos Francys e Lucas pela companhia e todo o apoio que foram fundamentais para superar as dificuldades.
`
A minha namorada Patricia pela imensa paciˆencia e compreens˜ao, pelo enorme carinho e cuidado durante todo o per´ıodo de confec¸c˜ao do presente trabalho e por centenas de outros motivos que contribuiram de forma imprescindivel para que eu chegasse at´e aqui.
`
A Profa. Dra. Marta Cilene Gadotti pela ajuda de sempre.
Aos amigos do ICMC: Alina, Ariadne, Evandro, Gabriel, Gil, La´ıs, Noemi, Preta, Tha´ıs, dentre tantos outros com quem tive o prazer de dividir in´umeros momentos dando-me a certeza que nunca estive s´o nesta caminhada.
Aos funcion´arios do ICMC, em especial `as secret´arias Ana Carolina, Ana Paula, Glaucia e Lha´ıs por toda a aten¸c˜ao e competˆencia.
Expresso ainda minha sincera gratid˜ao ao meu orientador Prof. Dr. Valdir Antonio Menegatto pela dedica¸c˜ao, paciˆencia, amizade e principalmente por toda a confian¸ca depositada sobre mim.
Introdu¸c˜ao 13 1 Preliminares 15
1.1 N´ucleos positivos definidos e a fun¸c˜ao layout . . . 15
1.2 Existˆencia de fun¸c˜oes layout para um n´ucleo positivo definido . . . 17
1.3 Fun¸c˜oes layout e espa¸cos de Hilbert de reprodu¸c˜ao . . . 22
1.4 Espa¸cos de Hilbert de Reprodu¸c˜ao de dimens˜ao finita . . . 25
2 N´ucleos universais 29 2.1 O teorema de Riesz e a fun¸c˜ao layout . . . 29
2.2 A injetividade de jX . . . 32
2.3 A aplica¸c˜ao lX e o seu papel . . . 35
2.4 Universalidade . . . 37
2.5 Universalidade e a teoria de Mercer . . . 38
3 Exemplificando universalidade 43 3.1 Um n´ucleo de Mercer cl´assico . . . 43
3.2 N´ucleos definidos por s´eries de potˆencias . . . 44
3.3 N´ucleos PD sobre a esfera unit´aria . . . 46
3.4 N´ucleos invariantes por transla¸c˜ao sobre Rd . . . 47
3.5 N´ucleos radiais sobre Rd . . . . 52
4 Ortogonalidade a partir de suportes disjuntos 57 4.1 Conceitos preliminares e um exemplo . . . 57
4.2 Ortogonalidade via suportes disjuntos e a fun¸c˜ao layout . . . 58
4.3 Exemplificando . . . 60
Os n´ucleos positivos definidos aparecem em v´arios segmentos da Matem´atica, incluindo ´Algebra Linear, An´alise Funcional, Teoria da Aproxima¸c˜ao, etc.([8, 25]). Mais recentemente, eles tˆem sido usados com relativa frequˆencia na Teoria do Aprendizado ([9]), em problemas envolvendo a an´alise espectral fina de operadores integrais ([3, 10]) bem como em v´arias outras instˆancias em que espa¸cos de Hilbert de reprodu¸c˜ao e espa¸cos nativos aparecem nas formula¸c˜oes dos problemas ([4, 17, 25]).
A teoria dos n´ucleos positivos definidos ´e composta por uma gama consider´avel de objetos, dentre os quais podemos destacar as chamadas fun¸c˜oes layout (feature maps) atreladas a eles. Estas fun¸c˜oes tˆem papel fundamental nessa teoria j´a que elas transferem, via o n´ucleo, propriedades do conjunto dom´ınio do n´ucleo para um espa¸co com produto interno conveniente. O objetivo principal deste trabalho ´e discutir um pouco da teoria dos n´ucleos positivos definidos sobre um espa¸co topol´ogico, focando naquelas propriedades que envolvem diretamente as fun¸c˜oes layout. Assim sendo, tais fun¸c˜oes tem papel determinante nos principais resultados abordados nesta disserta¸c˜ao.
Inicialmente fazemos uma breve introdu¸c˜ao da teoria dos n´ucleos positivos definidos necess´aria para o entendimento do trabalho. Entre defini¸c˜oes, exemplos e resultados, exploramos diversas propriedades: a existˆencia e unicidade do espa¸co de Hilbert de re-produ¸c˜ao associado ao n´ucleo, a representa¸c˜ao do n´ucleo via fun¸c˜ao layout e a descri¸c˜ao do espa¸co de Hilbert de reprodu¸c˜ao via fun¸c˜ao layout. Neste ´ultimo ponto, analisamos a fundo a existˆencia de tal representa¸c˜ao e discutimos a sua n˜ao unicidade. Ademais, apresentamos duas formula¸c˜oes diferentes para explicitar o espa¸co de Hilbert de repro-du¸c˜ao em termos de uma fun¸c˜ao layout, dependendo da presen¸ca ou ausˆencia de uma propriedade de fundamentalidade.
Posteriormente, trabalhando t˜ao somente com n´ucleos positivos definidos cont´ınuos, definimos formalmente o que significa o n´ucleo possuir a propriedade universal da aproxima¸c˜ao (ou resumidamente ser um n´ucleo universal). Partindo desta defini¸c˜ao,
buscamos condi¸c˜oes para garantir a universalidade do n´ucleo, de maneira paralela ao estudo desenvolvido em [16]. Em um dos principais resultados do trabalho, encontramos uma condi¸c˜ao necessaria e suficiente sobre a fun¸c˜ao layout para que um n´ucleo seja universal. Frente as dificuldades existentes, vimo-nos na necessidade de definir diversos objetos, buscando formas de relacion´a-los, at´e obtermos o resultado desejado. Estas defini¸c˜oes e rela¸c˜oes exigiram conceitos nem sempre t˜ao b´asicos de integra¸c˜ao, teoria da medida, an´alise funcional cl´assica, entre outros.
Na sequˆencia, fixando o n´ucleo dentro de alguma categoria definida, exploramos diferentes condi¸c˜oes sobre os mesmos para garantir a propriedade universal da apro-xima¸c˜ao. Para um n´ucleo de Mercer cl´assico, apresentamos uma condi¸c˜ao para uni-versalidade envolvendo as aplica¸c˜oes que comp˜oem sua representa¸c˜ao. Amparados em resultados envolvendo multi-´ındices, justificamos a universalidade de n´ucleos definidos por s´eries de potˆencias em v´arias vari´aveis reais. An´alises similares foram implementa-das para determinar a universalidade de n´ucleos positivos definidos na esfera unit´aria mdimensional, de n´ucleos radiais sobreRne de n´ucleos sobreRn invariantes por trans-la¸c˜oes.
Por ´ultimo, examinamos os espa¸cos de Hilbert de reprodu¸c˜ao associados a n´ucleos positivos definidos cont´ınuos, tentando identificar hip´oteses adicionais para garantir a ortogonalidade a partir de suportes disjuntos no espa¸co. Tal propriedade reflete a ortogonalidade de quaisquer duas fun¸c˜oes do espa¸co, quando as mesmas tˆem supor-tes disjuntos. Nossa an´alise baseou-se na referˆencia [27] e tentou usar, tanto quanto poss´ıvel, as fun¸c˜oes layout previamente estudadas.
1
Preliminares
Neste cap´ıtulo, introduziremos os conceitos necess´arios ao desenvolvimento do tra-balho, exemplificando e apresentando os resultados b´asicos atrelados a eles. Isso ser´a feito de maneira econˆomica, ou seja, n˜ao exploraremos estes conceitos al´em daquilo que o trabalho exigir´a. Referˆencias que cont´em informa¸c˜oes adicionais ou mesmo resultados mais profundos envolvendo estes conceitos ser˜ao indicadas ao longo do texto.
1.1
N´
ucleos positivos definidos e a fun¸
c˜
ao layout
A seguinte defini¸c˜ao contempla a defini¸c˜ao usual de n´ucleo positivo definido. Aqui E ´e um conjunto n˜ao vazio qualquer.
Defini¸c˜ao 1.1.1. Uma fun¸c˜ao K :E×E →C ´e um n´ucleo positivo definido sobre E (resumidamente, n´ucleo PD sobre E) se a matriz n×n com entradas K(xi, xj) ´e n˜ao
negativa definida para todo inteiro positivon e quaisquer n pontos x1, x2, . . . , xn de E.
Em outras palavras, a defini¸c˜ao acima exige que
n
X
j,k=1
cjckK(xj, xk)≥0,
para todo inteiro positivo n e quaisquer que sejam os pontos x1, x2, . . . , xn de E e os
n´umeros complexos c1, c2, . . . , cn.
N´ucleos PD genuinamente complexos s˜ao automaticamente hermitianos. Se o n´ucleo ´e uma fun¸c˜ao a valores reais, e esta mesma propriedade ´e desej´avel, ent˜ao ela tem que
ser adicionada ao contexto. Uma teoria para tais n´ucleos pode ser encontrada em [3]. A referˆencia [21] traz n´ucleos positivos definidos em algoritmos para an´alise de padr˜ao (pattern analysis) e na teoria do aprendizado (learning theory), temas mais modernos onde os mesmos se apresentam.
Agora, ilustraremos a defini¸c˜ao acima com alguns poucos exemplos.
Exemplo 1.1.2. Se E ´e um espa¸co vetorial complexo com produto interno h·,·iE, ent˜ao a express˜ao
K(x, y) = hx, yiE, x, y ∈E, define um n´ucleo PD sobre E. De fato, basta notar que
n
X
i,j=1
cicjK(xi, xj) = n
X
i,j=1
cicjhxi, xjiE =
* n
X
i=1 cixi,
n
X
j=1 cjxj
+
E
≥0,
quaisquer que sejam os n´umeros complexoscj’s e os elementos xj’s de E.
Exemplo 1.1.3. Se f ´e uma fun¸c˜ao complexa com dom´ınioE, ent˜ao a express˜ao K(x, y) =f(x)f(y), x, y ∈X,
define um n´ucleo PD sobre E.
Exemplo 1.1.4. Sejad um inteiro positivo fixado e considere a esfera unit´aria Sd de
Rd+1. SejaPd
k,k ∈Z+, o polinˆomio de Legendre de grauk associado ao inteiro positivo d, como discutido em [12]. Este polinˆomio ´e um m´ultiplo do polinˆomio ultra-esf´erico Pk(d−1)/2 de grau k associado ao n´umero real (d−1)/2 como descrito em [22] e carrega a normaliza¸c˜ao Pd
k(1) = 1. A express˜ao
K(x, y) = ∞ X
k=0
akPkd(x·y), x, y ∈Sd,
onde “·” ´e o produto interno usual de Rd+1, cada ak ´e n˜ao negativo e P∞k=0ak < ∞,
define um n´ucleo PD cont´ınuo sobre Sd. Este resultado ´e uma parte da caracteriza¸c˜ao
dos n´ucleos PD cont´ınuos e bizonais fornecida por Schoenberg em [20]. Em particular, cada fun¸c˜ao (x, y)∈Sd×Sd→Pd
k(x·y) ´e um n´ucleo PD sobre Sd.
A proposi¸c˜ao abaixo descreve uma generaliza¸c˜ao dos dois primeiros exemplos citados acima.
Proposi¸c˜ao 1.1.5. Seja W um espa¸co com produto interno h·,·iW. Se uma aplica¸c˜ao K :E×E →C satisfaz
K(x, y) =hΦ(x),Φ(y)iW, x, y ∈E,
Demonstra¸c˜ao: Se K ´e como na f´ormula do enunciado da proposi¸c˜ao, a forma qua-dr´atica da Defini¸c˜ao 1.1.1 ´e
n
X
j,k=1
cjckhΦ(xj),Φ(xk)i=
* n
X
j=1
cjΦ(xj), n
X
k=1
ckΦ(xk)
+
W ,
uma express˜ao sempre n˜ao negativa.
A proposi¸c˜ao acima motiva a seguinte defini¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 1.1.6. Seja K um n´ucleo PD sobre E. Se existir um espa¸co de Hilbert W
munido do produto interno h·,·iW e uma aplica¸c˜ao Φ :E → W tal que
K(x, y) = hΦ(x),Φ(y)iW, x, y ∈E,
diremos que Φ ´e uma fun¸c˜ao layout para o n´ucleo K.
Usualmente, o espa¸co W da defini¸c˜ao acima ´e chamado de um espa¸co layout para K, mas esta terminologia n˜ao ser´a explorada nesta disserta¸c˜ao. Como a fun¸c˜ao Φ pode n˜ao ser sobrejetora e o espa¸co W ´e pass´ıvel de restri¸c˜oes ou extens˜oes m´etricas, ´e de se esperar que quando uma fun¸c˜ao layout para K existe, ela n˜ao ´e necessariamente ´
unica. Al´em disso, note que a condi¸c˜ao deW ser um espa¸co de Hilbert n˜ao ´e necess´aria para garantir que o n´ucleoK seja positivo definido, por´em a constru¸c˜ao que ser´a feita adiante nos fornece a garantia de que tal condi¸c˜ao pode ser incorporada `a Defini¸c˜ao 1.1.6, sem perda alguma de generalidade. A existˆencia e constru¸c˜ao de fun¸c˜oes layout para um n´ucleo positivo definido K ´e o tema da se¸c˜ao seguinte.
1.2
Existˆ
encia de fun¸
c˜
oes layout para um n´
ucleo
posi-tivo definido
Apresentaremos nesta se¸c˜ao dois m´etodos consideravelmente diferentes para se construir fun¸c˜oes layout para um n´ucleo PD sobre um conjunto n˜ao vazio. Em par-ticular, isto ratificar´a a n˜ao unicidade da fun¸c˜ao layout mencionada no final da se¸c˜ao anterior.
Come¸caremos recordando a defini¸c˜ao de completamento para um espa¸co com pro-duto interno.
Defini¸c˜ao 1.2.1. Seja E um espa¸co com produto interno h·,·iE. Diremos que um espa¸co de Hilbert( ˜E,h·,·iE˜)´e o completamento de (E,h·,·iE), se existir uma aplica¸c˜ao T :E →E˜ linear e injetora satisfazendo
Enunciaremos agora um importante resultado sobre a existˆencia do completamento de um espa¸co com produto interno. Sua demonstra¸c˜ao pode ser encontrada em [15, p.139].
Lema 1.2.2. Todo espa¸co com produto interno E admite um completamento E.˜ Ademais, este completamento ´e ´unico a menos de isomorfismos isom´etricos.
Dando sequˆencia, definiremos formalmenteespa¸co de Hilbert de reprodu¸c˜ao (EHR). Se K ´e um n´ucleo sobre um conjunto n˜ao vazio E e x ∈ E, denotaremos por Kx a
fun¸c˜ao y ∈E →K(x, y).
Defini¸c˜ao 1.2.3. Seja K um n´ucleo PD sobre um conjunto n˜ao vazio E. O espa¸co de Hilbert de reprodu¸c˜ao associado a K ´e um espa¸co de Hilbert(HK,h·,·i) (de fun¸c˜oes de
E em C) que satisfaz as seguintes propriedades: (i) Kx ∈ HK, x∈E;
(ii) (Propriedade de reprodu¸c˜ao) hf, Kxi=f(x), f ∈ HK, x∈E.
A teoria dos espa¸cos de Hilbert de reprodu¸c˜ao est´a bem fundamentada na literatura ([1, 19]). A existˆencia e unicidade do EHR associado a um n´ucleo K s˜ao justificadas abaixo. Antes, por´em, lembremos que se U ´e um subconjunto de um espa¸co de Hilbert
H, o complemento ortogonal U⊥ de U em H ´e o subespa¸co formado por todos os elementos de H que s˜ao ortogonais a cada elemento de U.
Teorema 1.2.4. SeK ´e um n´ucleo PD sobre um conjunto n˜ao vazioE, ent˜ao existe um espa¸co de Hilbert de reprodu¸c˜ao associado aK, o qual ´e ´unico a menos de isomorfismos isom´etricos.
Demonstra¸c˜ao: Consideremos o espa¸co de fun¸c˜oes
H0 = [{Ky :y∈E}].
Para duas fun¸c˜oes quaisquer em H0, digamos
f(·) =
m
X
i=1
αiK(·, xi) e g(·) = n
X
j=1
βjK(·, yj),
a f´ormula
hf, giH0 :=
m
X
i=1
n
X
j=1
αiβjK(yj, xi)
define uma semi-norma em H0. Agora, se hf, fiH0 = 0, podemos usar a desigualdade de Cauchy-Schwarz para deduzir que
|f(x)|=|hf, K(·, x)iH0| ≤ kfkH0kK(·, x)kH0 = 0, x∈E.
Em outras palavras, f = 0. Desta forma, H0,h·,·iH0
´e um espa¸co com produto interno. Como
hf, K(·, x)iH0 =
m
X
i=1
αiK(x, xi) =f(x), x∈E,
as propriedades (i) e (ii) da defini¸c˜ao de EHR j´a valem, mesmo H0,h·,·iH0
n˜ao sendo ainda um espa¸co de Hilbert. O completamento (H,k · kH) de (H0,k · kH0), conforme descrito no in´ıcio desta se¸c˜ao, ´e um EHR associado a K. Para mostramos que ele ´e ´
unico a menos de isomorfismos isom´etricos, suponhamos que (H1,h·,·iH1) seja outro EHR associado K. A defini¸c˜ao de H0 implica imediatamente que H0 ⊆ H1 e pela propriedade de reprodu¸c˜ao v´alida em H1, segue que
hf, giH0 =hf, giH1, f, g ∈ H0. (1.1)
Consideremos a aplica¸c˜ao inclus˜aoH0
i
−→ H1. ´E de conhecimento pr´evio quei´e linear e injetora. Al´em disso (1.1) nos garante que i satisfaz a condi¸c˜ao (i) na defini¸c˜ao de completamento. Por fim, mostremos quei(H0) =H1. Observemos que se esta igualdade n˜ao fosse verdadeira, ent˜ao a inclus˜ao i(H0) ⊆ H1 seria pr´opria, logo poder´ıamos selecionar uma fun¸c˜ao g n˜ao nula no complemento ortogonal de i(H0) em H1. No entanto, a propriedade de reprodu¸c˜ao em H1 implicaria que
g(x) =hg, KxiH1 = 0, x∈E,
uma contradi¸c˜ao. Assim, temos a igualdade sugerida e pelo Lema 1.2.2, conclu´ımos o resultado.
A existˆencia de um EHR (HK,h·,·iHK) associado a um n´ucleo positivo definido K sobreE permite a constru¸c˜ao imediata de uma fun¸c˜ao layout para K. De fato, como a constru¸c˜ao do EHR apresentada na prova do teorema anterior nos d´a
K(x, y) =hKx, KyiHK, x, y ∈E,
basta definirmosW :=HK e Φ(x) = Kx,x∈E.
Teorema 1.2.5. Seja E um conjunto n˜ao vazio e K um n´ucleo PD sobre E. Suponha que K admita uma representa¸c˜ao na forma
K(x, y) = ∞ X
j=0
λjφj(x)φj(y), (x, y)∈E×E,
onde cada λj ´e positivo, cada φj ´e uma fun¸c˜ao com dom´ınio E a valores complexos
e a s´erie converge para cada par (x, y) de E ×E. Ent˜ao, existe uma fun¸c˜ao layout Φ :E → W para K, onde o espa¸co de Hilbert W ´e separ´avel.
Demonstra¸c˜ao: E suficiente tomarmos´ W como sendo o espa¸co de Hilbertℓ2 usual e definirmos Φ : E →ℓ2 pela f´ormula Φ(x) = (x(j)),x∈E, onde
x(j) :=λ1j/2φj(x), x∈E, j = 0,1, . . . .
De fato, denotando o produto interno de ℓ2 por h·,·i2, temos que
hΦ(x),Φ(y)i2 =
∞ X
j=1
x(j)y(j) = ∞ X
j=1
λ1j/2φj(x)λj1/2φj(y) =K(x, y), x, y ∈E.
Isto finaliza a demonstra¸c˜ao do teorema.
A representa¸c˜ao para K usada como hip´otese no teorema anterior est´a em consonˆancia com a representa¸c˜ao para n´ucleos fornecida pelo teorema de Mercer. O teo-rema vale em v´arios contextos, com hip´oteses adequadas a cada um deles. A situa¸c˜ao mais comum ocorre quando E tem alguma topologia e K ´e no m´ınimo cont´ınuo. Por outro lado, o teorema de Mercer usualmente garante a convergˆencia uniforme e absoluta da s´erie que representa K e a sequˆencia de fun¸c˜oes na representa-¸c˜ao ´e usualmente formada por fun¸c˜oes cont´ınuas. Indicamos a referˆencia [10] e outras l´a citadas para informa¸c˜oes gerais sobre o teorema de Mercer e generaliza¸c˜oes.
O teorema anterior ´e perfeitamente adapt´avel para o caso em que a s´erie represen-tando K ´e uma soma finita. Uma formaliza¸c˜ao deste fato forma o conte´udo dos dois resultados a seguir. Usaremosu∗ para denotar o vetor obtido de u∈Cdvia conjuga¸c˜ao
seguida por uma transposi¸c˜ao.
Teorema 1.2.6. Seja E um conjunto n˜ao vazio e K um n´ucleo PD sobre E. Ent˜ao,
HK tem dimens˜ao finita d se, e somente se, existem uma matriz A (que depende de
K) hermitiana e positiva definida de ordemd e um conjunto linearmente independente
{φ1, φ2, . . . , φd} de fun¸c˜oes complexas com dom´ınio E de modo que
K(x, y) =φ(x)Aφ(y)∗, x, y ∈E, (1.2)
Demonstra¸c˜ao: Suponha que HK tenha dimens˜ao d e fixe uma base ortogonal B =
{φ1, φ2, . . . , φd} de HK. ComoKx ∈ HK,x∈E, podemos escrever
Kx = d
X
j=1 αx
iφi, αx1, α2x, . . . , αxd ∈C, x∈E.
Por outro lado, a ortogonalidade de B nos d´a, para cada x∈E, que
hKx, φjiHK =
* d
X
i=1
αxiφi, φj
+ HK = d X i=1
αxihφi, φjiHK =α
x
jkφjk2HK, j = 1,2, . . . , d.
Como cadaφj n˜ao ´e identicamente nula, obtemos
Kx = d
X
j=1
hKx, φjiHK
kφjk2HK
φj, x∈E.
Pela propriedade de reprodu¸c˜ao emHK, podemos agora deduzir que
K(x, y) = hKx, KyiHK = d
X
i,j=1
φi(x)
kφik2HK
φj(y)
kφjk2HK
!
hφi, φjiHK, x, y ∈E.
Rearranjando,
K(x, y) =
d
X
i,j=1
hφi, φjiHK
kφik2HKkφjk
2 HK
φi(x)φj(y), x, y ∈E.
Esta ´e a f´ormula do enunciado comA= (aij), onde
aij =
hφi, φjiHK
kφik2HKkφjk
2 HK
, i, j = 1,2, . . . , d.
A rec´ıproca segue do Teorema 1.2.4 e observando-se que cada Kx pertence ao espa¸co
de dimens˜ao finita [{φ1, φ2, . . . , φd}].
Note que na primeira implica¸c˜ao da demonstra¸c˜ao acima podemos tomar, em par-ticular,B como sendo uma base ortonormal para HK. Neste caso, a matrizA torna-se
a matriz identidade de ordemdenquanto que a representa¸c˜ao para o n´ucleo K toma a forma simplificada
K(x, y) =
d
X
i=1
φi(x)φi(y), x, y ∈E.
Corol´ario 1.2.7. Nas condi¸c˜oes do teorema anterior, se W = Cd com seu produto interno usual h·,·iCd e B ´e uma ra´ız quadrada de A, ent˜ao Φ : E → Cd dada por Φ(x) =φ(x)B, x∈E, ´e uma fun¸c˜ao layout para K.
Finalizaremos esta se¸c˜ao, apresentando um resultado independente que atrela a continuidade do n´ucleo `a continuidade de qualquer fun¸c˜ao layout para ele.
Proposi¸c˜ao 1.2.8. Seja K um n´ucleo PD sobre um espa¸co topol´ogico E. Se Φ : E → W ´e uma fun¸c˜ao layout para K, ent˜ao K ´e cont´ınuo se, e somente se, Φ ´e cont´ınua.
Demonstra¸c˜ao: Seja Φ : E → W ´e uma fun¸c˜ao layout paraK e denote a norma em
W por k · k. ´E f´acil ver que
kΦ(x)−Φ(y)k2 = hΦ(x),Φ(x)iW+hΦ(y),Φ(y)iW− hΦ(x),Φ(y)iW− hΦ(y),Φ(x)iW
= K(x, x) +K(y, y)−K(x, y)−K(y, x).
Portanto, a continuidade de K implica na continuidade de Φ. Para a rec´ıproca, basta usar a desigualdade
|K(x, y)−K(z, w)| ≤ kΦ(x)−Φ(z)kkΦ(y)k+kΦ(z)kkΦ(y)−Φ(w)k, x, y, z, w ∈E.
Isto conclui a demonstra¸c˜ao.
1.3
Fun¸
c˜
oes layout e espa¸
cos de Hilbert de reprodu¸
c˜
ao
Nesta se¸c˜ao, descreveremos dois resultados que estabelecem rela¸c˜oes mais efetivas entre as fun¸c˜oes layout e os espa¸cos de Hilbert de reprodu¸c˜ao.
Vejamos uma motiva¸c˜ao para o primeiro deles. Seja Φ :E → W uma fun¸c˜ao layout para o n´ucleoKPD sobreE. Podemos extrair a seguinte f´ormula da defini¸c˜ao de fun¸c˜ao layout:
Ky(x) = K(x, y) =hΦ(x),Φ(y)iW, x, y ∈E.
Se para u∈ W fixo, colocarmos
Φu(x) :=hΦ(x), uiW, x∈E,
a f´ormula anterior se torna
Ky(x) = ΦΦ(y)(x), x∈E. (1.3)
Em particular, ela revela que
e, portanto, ´e razo´avel tentarmos descreverHK atrav´es das fun¸c˜oes Φu.
Lembramos uma terminologia comum que usaremos ao longo do trabalho.
Defini¸c˜ao 1.3.1. Um subconjunto n˜ao vazio A de um espa¸co vetorial normado V ´e fundamental em V se o subespa¸co gerado por A ´e denso em V. Dependendo do contexto, a palavra fundamental pode ser substitu´ıda pela palavra total.
Proposi¸c˜ao 1.3.2. Sejam K um n´ucleo PD sobre E e Φ : E → W uma fun¸c˜ao layout para K. Se Φ(E) ´e um subconjunto fundamental de W, ent˜ao (HK,h·,·iHK) ´e
isometricamente isomorfo a (HΦ,h·,·iHΦ), onde
HΦ={Φu :u∈ W}
e
hΦu,ΦviHΦ =hv, uiW, Φu,Φv ∈ HΦ. (1.4)
Demonstra¸c˜ao: O primeiro passo ser´a mostrar que o espa¸co HΦ ´e um espa¸co de Hilbert. Um c´alculo direto revela que
Φu+ Φv = Φu+v, u, v ∈ W,
e
λΦu = Φλu u, v ∈ W, λ∈C.
Logo, HΦ tem estrutura de espa¸co vetorial. Observemos ainda que, sendo h·,·iW pro-duto interno emW, a formah·,·iHΦ define um produto interno para o espa¸coHΦ, como pode ser facilmente verificado. Mostraremos agora que HΦ munido do produto (1.4) ´e um espa¸co de Hilbert. Para isso notemos que, se (Φun), un ∈ W, ´e uma sequˆencia de Cauchy neste espa¸co, ent˜ao
kΦun −Φumk
2
HΦ = hΦun,ΦuniHΦ− hΦun,ΦumiHΦ− hΦum,ΦuniHΦ +hΦum,ΦumiHΦ = hun, uniW − hum, uniW− hun, umiW +hum, umiW,
ou seja,
kΦun−Φumk
2
HΦ =kun−umk 2
W, m, n= 1,2, . . . .
Logo, (un) ´e uma sequˆencia de Cauchy em W. Como W ´e completo, existe ent˜aouem
W tal que
lim
n→∞kun−ukW = 0. Da igualdade
kΦun−Φuk
2
conclu´ımos que
lim
n→∞kΦun−ΦukHΦ = 0. Para finalizar a demonstra¸c˜ao, consideremos a aplica¸c˜ao
n
X
j=1
cjKyj ∈[{Ky :y∈E}]
ζ
−→
n
X
j=1
cjΦΦ(yj) ∈ HΦ.
Utilizando (1.3) e as duas f´ormulas citadas no in´ıcio da demonstra¸c˜ao, podemos verificar sem dificuldades que ζ ´e linear e injetora. Por outro lado,
hζ(Kx), ζ(Ky)iHΦ =
ΦΦ(x),ΦΦ(y)
HΦ =hΦ(y),Φ(x)iW =K(y, x), x, y ∈E,
ou seja,
hζ(Kx), ζ(Ky)iHΦ =hKx, KyiHK, x, y ∈E.
Da linearidade de ζ e do produto interno, conclu´ımos que
hζ(f), ζ(g)iHΦ =hf, giHK, f, g∈[{Ky :y ∈E}].
Por fim, sendo a imagem de Φ fundamental em W, segue que ζ([{Ky :y ∈E}]) ´e
denso em HΦ. Todos estes argumentos juntos implicam que HΦ ´e um completamento de [{Ky :y ∈E}]. Assim, pela unicidade do mesmo garantida pelo Lema 1.2.2, segue
que os espa¸cos de Hilbert HΦ eHK s˜ao isometricamente isomorfos.
Fechando os argumentos da proposi¸c˜ao anterior, observe que o espa¸co de Hilbert constru´ıdo tem, de fato, a propriedade de reprodu¸c˜ao para K:
hΦu, KyiH=
Φu,ΦΦ(y)
H =hΦ(y), uiW = Φu(y), y∈E.
A pr´oxima proposi¸c˜ao explica com mais detalhes o efeito real da hip´otese de fun-damentalidade utilizada na proposi¸c˜ao anterior. Essencialmente, a proposi¸c˜ao descreve como tal hip´otese pode ser retirada e a qual pre¸co.
Lembremos que seF ´e um subespa¸co fechado de um espa¸co de Hilbert H, temos a decomposi¸c˜ao H =F ⊕F⊥ ([26, p.40]). Para o resultado a seguir, fixada uma fun¸c˜ao layout Φ : E → W para K, consideraremos a decomposi¸c˜ao W = [Φ(E)]⊕[Φ(E)]⊥ e a proje¸c˜ao ortogonal PΦ deW sobre [Φ(E)].
Proposi¸c˜ao 1.3.3. Seja Φ : E → W uma fun¸c˜ao layout para o n´ucleo K. Ent˜ao, (HK,h·,·iHK) ´e isometricamente isomorfo a (H,h·,·iH) onde
H=nΦu :u∈[Φ(E)]
o
e
Demonstra¸c˜ao: Como no teorema anterior, Htem estrutura de espa¸co vetorial. Para verificar que h·,·iH define um produto interno em H, ´e suficiente usar a linearidade do produto interno em W e a linearidade da proje¸c˜ao PΦ. Para a verifica¸c˜ao de que (H,h·,·iH) ´e um espa¸co de Hilbert, basta observar que se (Φun), un ∈ W, ´e uma sequˆencia de Cauchy em H, ent˜ao
kΦun−Φumk
2
H=kun−umk2W =kPΦ(un)−PΦ(um)k2W, m, n= 1,2, . . . , e repetir os argumentos da demonstra¸c˜ao anterior. Aqui estamos usando o fato da proje¸c˜ao ortogonal ser um operador de norma 1. Como na proposi¸c˜ao anterior, a aplica¸c˜ao
n
X
j=1
cjKyj ∈[{Ky :y∈E}]
ζ
−→
n
X
j=1
cjΦΦ(yj) ∈ H
´e linear e injetora. Uma vez que a imagem dePΦ ´e o conjunto dos pontos fixos de PΦ,
hζ(Kx), ζ(Ky)iH =
ΦΦ(x),ΦΦ(y)
H
= hPΦ(Φ(y)), PΦ(Φ(x))iW
= hΦ(y),Φ(x)iW =K(y, x), x, y ∈E.
Logo, como na prova da proposi¸c˜ao anterior, segue que
hζ(f), ζ(g)iH=hf, giHK, f, g∈[{Ky :y ∈E}].
Finalmente, como [Φ(E)] ´e um subespa¸co fechado do espa¸co de Hilbert W, ele pr´oprio ´e um espa¸co de Hilbert munido do produto interno induzido de W ([15, p.140]). Essa ´e a informa¸c˜ao primordial na justificativa de que a imagem de ζ ´e densa em H.
Observa¸c˜ao 1.3.4. Como consequˆencia da desigualdade de Cauchy-Schwarz temos que uma fun¸c˜ao layout paraK satisfaz
|Φu(x)−Φu(y)| = |hΦ(x)−Φ(y), uiW|
≤ kukWkΦ(x)−Φ(y)kW =kΦukHKkΦ(x)−Φ(y)kW, x, y ∈E.
Se Φ ´e cont´ınua (ou equivalentemente, K ´e cont´ınuo), ent˜ao cada Φu ´e cont´ınua. A
Proposi¸c˜ao 1.3.2 nos revela, ent˜ao, que todo elemento de HK ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua,
ratificando de maneira alternativa metade do que foi justificado na Proposi¸c˜ao 1.2.7.
1.4
Espa¸
cos de Hilbert de Reprodu¸
c˜
ao de dimens˜
ao
fi-nita
Seja, ent˜ao, K um n´ucleo que possui a descri¸c˜ao (1.2) para alguma matriz A de ordem d e fun¸c˜oes φk, k = 1,2, . . . , d, nas condi¸c˜oes do teorema. A ideia principal ´e
tentar vizualizar o espa¸co (HK,h·,·iHK) atrav´es de A.
Inicialmente, definamos o produto interno
hz, wiA=zAw∗ =
d
X
i,j=1
ziwjaij, z, w∈Cd,
onde estamos escrevendoz = (z1, z2, . . . , zd) ew= (w1, w2, . . . , wd). ComoA´e positiva
definida e hermitiana, as propriedades que comprovam que tal aplica¸c˜ao ´e, de fato, um produto interno em Cd s˜ao facilmente verificadas. Definindo, ent˜ao, W := (Cd,h·,·iA), ´e f´acil ver que Φ :E → W dada por
Φ(x) := φ(x) = (φ1(x), φ2(x), . . . , φd(x)), x∈E,
´e uma fun¸c˜ao layout para K.
Para c ∈ [Φ(E)], escrevamos (Ac∗)
i para denotar a i-´esima componente do vetor
Ac∗.
Teorema 1.4.1. Seja K um n´ucleo conforme explicitado acima. Ent˜ao HK ´e
isome-tricamente isomorfo ao espa¸co
H =
( d
X
i=1
(Ac∗)iφi :c= (c1, c2, . . . , cd)∈[Φ(E)]
) .
munido do produto interno
* d
X
i=1
(Ab∗)iφi, d
X
j=1
(Ac∗)jφj
+
HA
=PΦ(c)A PΦ(b)∗, b, c∈Cd,
onde b = (b1, b2, . . . , bd) e c= (c1, c2, . . . , cd).
Demonstra¸c˜ao: Aplicando a Proposi¸c˜ao 1.3.3, temos queHK ´e uma c´opia isom´etrica
do espa¸co
H =nΦc :c= (c1, c2, . . . , cd)∈[Φ(E)]
o ,
onde Φc(x) = hΦ(x), ciA,x∈E. Com isso, pela f´ormula do produto interno em quest˜ao,
obtemos
H=
( d
X
i,j=1
aijcjφi :c= (c1, c2, . . . , cd)∈[Φ(E)]
) . Ou seja, H= ( d X i=1 d X j=1 aijcj
!
φi :c= (c1, c2, . . . , cd)∈[Φ(E)]
Simplificando um pouco mais chegamos a
H=
( d
X
i=1
(Ac∗)iφi :c= (c1, c2, . . . , cd)∈[Φ(E)]
) .
Para obtermos a f´ormula para o produto interno, fixemos dois elementos f =Pd
i=1(Ab∗)iφi eg =Pdj=1(Ac∗)jφj deH. Como
hf, giH=hΦb,ΦciH,
a Proposi¸c˜ao 1.3.3 implica que
hf, giH =hPΦ(c), PΦ(b)iW =PΦ(c)APΦ(b)∗,
e o resultado segue.
Pequenas modifica¸c˜oes nos argumentos utilizados na demonstra¸c˜ao do teorema acima produzem a seguinte formula¸c˜ao adicional. No que segue, AT denotar´a a
trans-posta da matriz A.
Corol´ario 1.4.2. Nas condi¸c˜oes do teorema anterior, se a imagem de Φ ´e um subconjunto fundamental de Cd, ent˜ao
HK =
( d
X
i=1
ψiwi :w= (w1, w2, . . . , wd)∈Cd
)
munido do produto interno
* d
X
i=1 ψizi,
d
X
j=1 ψjwj
+
HK
=Dz AT−1 , wE
Cd, w, z ∈C
d,
2
N´
ucleos universais
Ao longo deste cap´ıtulo, E ser´a um espa¸co topol´ogico de Hausdorff e K um n´ucleo PD cont´ınuo sobreE. Se X ´e um subconjunto compacto n˜ao vazio deE, denotaremos por C(X) o espa¸co de todas as fun¸c˜oes cont´ınuas a valores complexos definidas em X, munido de sua topologia da convergˆencia uniforme emX. A norma em C(X) ser´a denotada por k · k∞. Isto feito, diremos que K ´e um n´ucleo universal se para cada subconjunto compacto X deE, o conjunto {K(·, y) :y ∈X} formado pelas restri¸c˜oes das aplica¸c˜oes Ky a X ´e fundamental em C(X). Equivalentemente, K ´e universal se,
e somente se, fixados o compacto X, uma fun¸c˜ao cont´ınua f :X → C e ε >0, existe uma fun¸c˜ao g no fecho de [{K(·, y) :y∈X}] em C(X), de modo que
kf−gk∞ := max
x∈X |f(x)−g(x)|< ε.
Neste cap´ıtulo, estudaremos detalhadamente a universalidade de um n´ucleo cont´ınuoK em conex˜ao com uma fun¸c˜ao layout paraKfixada. J´a que existe uma forte liga¸c˜ao entre o n´ucleo PD e qualquer uma de suas fun¸c˜oes layout, determinaremos que propriedade a fun¸c˜ao layout deve possuir para que tenhamos garantida a universalidade do n´ucleo e vice e versa. O processo para se chegar a resultados desta natureza ´e longo e t´ecnico, raz˜ao pela qual dividiremos este cap´ıtulo em v´arias se¸c˜oes.
2.1
O teorema de Riesz e a fun¸
c˜
ao layout
Fixada uma fun¸c˜ao layout Φ :E → W, estudaremos nesta se¸c˜ao algumas transfor-ma¸c˜oes integrais especiais definidas atrav´es de Φ. Os resultados s˜ao puramente t´ecnicos
e entram nas justificativas dos resultados principais do trabalho apresentados `a frente. A menos de especifica¸c˜ao em contr´ario, o s´ımboloXindicar´a um subconjunto compacto arbitr´ario e n˜ao vazio de E.
Escreveremos M(X) para denotar o espa¸co de todas as medidas de Radon complexas sobre X. Para cadaµ em M(X), podemos construir naturalmente um ele-mento do dual C(X)∗ de C(X) atrav´es da f´ormula
Iµ(f) =
Z
X
f dµ, f ∈C(X).
A express˜ao
kµk= sup{|Iµ(g)|:g ∈C(X) :kgk∞≤1},
´e usualmente conhecida por varia¸c˜ao total de µ e define uma norma em M(X). Isto pode ser ratificado em [11, p.94] ou no Cap´ıtulo 5 de [13]. Mais do que isso, segundo o Teorema de Representa¸c˜ao de Riesz ([11, p.223]), a aplica¸c˜ao
µ∈ M(X)−→ι Iµ∈C(X)∗ (2.1)
´e um isomorfismo isom´etrico. Por outro lado, se χY denota a fun¸c˜ao caracter´ıstica de
Y, a f´ormula
|µ|(Y) = sup{|Iµ(gχY)|:g ∈C(X) :kgk∞ ≤1}, Y ⊆X,
define uma medida sobreX, amedida de varia¸c˜ao total deµ. Sua rela¸c˜ao com a varia¸c˜ao total de µ´e descrita pela f´ormula kµk=|µ|(X).
Lema 2.1.1. Sejam µum elemento de M(X) e K um n´ucleo PD e cont´ınuo sobre E. Suponha que Φ :E → W seja uma fun¸c˜ao layout para K. Ent˜ao, a f´ormula
L(u) := Z
X
Φu(x)dµ(x), u∈ W,
define um elemento de C(W)∗. Ainda, existe um ´unico w0 ∈ W de modo que
L(u) = hw0, uiW, u∈ W. (2.2)
Demonstra¸c˜ao: E f´acil ver que´ L ´e uma aplica¸c˜ao linear. Para verificarmos a sua continuidade, primeiro note que
|L(u)| ≤
Z X
Φu(x)dµ(x)
≤ Z X
|hΦ(x), uiW|d|µ|(x), u∈ W.
Usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz, conclu´ımos que
|L(u)| ≤
Z
X
Como Φ ´e cont´ınua,
|L(u)| ≤sup
x∈X
kΦ(x)kW
Z
X
kukWd|µ|(x), u∈ W.
Como medidas de Radon complexas s˜ao regulares, segue que
kLk ≤ sup
x∈X
kΦ(x)kWkµk<∞.
A afirma¸c˜ao do lema ´e, ent˜ao, uma consequˆencia do Teorema da Representa¸c˜ao de Riesz usual.
O elementow0 fornecido pelo lema anterior depende deX, Φ (portanto, deK) eµ. Logo, se um destes dados est´a devidamente fixado, esta dependˆencia, apesar de ainda existir, poderia ser omitida nas nota¸c˜oes. Sempre omitiremos a dependˆencia de X, j´a que o contexto deixar´a isto bem claro.
Nas condi¸c˜oes do lema anterior, denotaremos por wµΦ o ´unico elemento w0 l´a descrito. Em outras palavras, wµΦ ´e o ´unico elemento de W que satisfaz
hwµΦ, uiW =
Z
X
Φu(x)dµ(x), u∈ W. (2.3)
A seguinte consequˆencia da f´ormula acima ser´a utilizada `a frente.
Corol´ario 2.1.2. Seja µ um elemento de M(X). Suponha que Φ :E → W seja uma fun¸c˜ao layout para K. Ent˜ao,
hwΦµ,Φ(y)iW =
Z
X
K(x, y)dµ(x), y∈X. (2.4)
Demonstra¸c˜ao: E suficiente observar que a imagem de Φ ´e um subconjunto de´ W e utilizar a f´ormula da defini¸c˜ao anterior comu= Φ(y), y∈X.
Na proposi¸c˜ao abaixo computaremos a norma de wµΦ em W, quando µ e Φ est˜ao fixados. O s´ımboloµ indicar´a a medida conjugada da medida µde M(X).
Proposi¸c˜ao 2.1.3. Seja µum elemento de M(X). Suponha que Φ :E → W seja uma fun¸c˜ao layout para K. Ent˜ao,
kwΦµk2W =
Z
X
Z
X
K(x, y)dµ(y)
dµ(x). (2.5)
Demonstra¸c˜ao: Conjugando a equa¸c˜ao (2.4) e usando o fato de K ser hermitiano, vemos que
hwµΦ,Φ(y)iW =
Z
X
Integrando membro a membro em rela¸c˜ao a µ e utilizando (1.3) e (2.3) vem que
Z
X
Z
X
K(y, x)dµ(x)
dµ(y) = Z
X
hΦ(y), wµΦiWdµ(y) =hwµΦ, wΦµiW =kwµΦk2
W.
Isto completa a demonstra¸c˜ao.
No ´ultimo resultado desta se¸c˜ao registraremos duas propriedades da aplica¸c˜ao jX :M(X)→ W dada por
jX(µ) =wµΦ, µ∈ M(X).
Proposi¸c˜ao 2.1.4. Seja µum elemento de M(X). Suponha queΦ :E → W seja uma fun¸c˜ao layout para K. Ent˜ao, a aplica¸c˜ao jX ´e linear e cont´ınua.
Demonstra¸c˜ao: A linearidade segue de (2.3) e da unicidade de wµΦ. Para obtermos a limita¸c˜ao da aplica¸c˜ao note que, usando a ´ultima igualdade na demonstra¸c˜ao da proposi¸c˜ao anterior, deduzimos que
kwµΦk2W ≤
Z
X
Z
X
|K(x, y)|d|µ|(y)d|µ|(x).
Portanto,
kwΦµk2W ≤ max
x,y∈X|K(x, y)|(|µ|(X))
2 = max
x,y∈X|K(x, y)|kµk
2,
ou seja, jX ´e limitada e sua norma n˜ao excede max
x,y∈X|K(x, y)|.
Observa¸c˜ao 2.1.5. A elimina¸c˜ao dos parˆenteses na primeira desigualdade da demons-tra¸c˜ao acima ´e justificada pelo Teorema de Fubini-Tonelli ([11, p.67]).
2.2
A injetividade de
j
XNesta se¸c˜ao, X ainda ser´a um subconjunto compacto n˜ao vazio de E. Coletaremos v´arios resultados envolvendo as aplica¸c˜oes ι e jX definidas anteriormente. Estaremos
particularmente interessados em poss´ıveis rela¸c˜oes entre elas e uma caracteriza¸c˜ao para a injetividade de jX.
Se U ´e um subconjunto de um espa¸co de Hilbert, a linearidade e continuidade do produto interno do espa¸co fornecem a igualdade [U]⊥ =U⊥. Escreveremos U⊥⊥ para denotar o subespa¸co (U⊥)⊥. Se U ´e um subespa¸co fechado do espa¸co de Hilbert, ent˜ao ´e sabido queU⊥⊥ =U ([26, p.41]).
No primeiro resultado da se¸c˜ao descreveremos o fecho da imagem de jX em W.
Proposi¸c˜ao 2.2.1. Se Φ : E → W ´e uma fun¸c˜ao layout para K, ent˜ao os fe-chos da imagem de jX e do gerado pela imagem de Φ em W coincidem, isto ´e,
Demonstra¸c˜ao: Fixemos uma fun¸c˜ao layout Φ : E → W para K. A demonstra-¸c˜ao consiste em justificar que jX(M(X))⊥ = Φ(X)⊥ e, ent˜ao, usar as propriedades
mencionadas no par´agrafo que antecede a proposi¸c˜ao. Se u∈Φ(X)⊥, podemos usar a equa¸c˜ao (2.3) para obter
hjX(µ), uiW =hwµΦ, uiW =
Z
X
Φu(x)dµ(x) = 0, µ∈ M(X),
e concluir queu∈jX(M(X))⊥. Reciprocamente, sev ∈jX(M(X))⊥, um procedimento
an´alogo nos permite concluir que
Z
X
Φv(x)dµ(x) = 0, µ∈ M(X).
Agora, para cada x ∈ X, a medida de Dirac δx ´e um elemento de M(X). Usando
a igualdade acima para cada δx, conclu´ımos que hΦ(x), viW = Φv(x) = 0, x ∈ X.
Portanto, v ∈Φ(X)⊥. Tendo provado a igualdade inicial, podemos agora escrever
jX(M(X))
⊥
=jX(M(X))⊥ = Φ(X)⊥= [Φ(X)]
⊥ .
Tomando-se o ortogonal em ambos os membros da igualdade acima, temos que
jX(M(X)) =jX(M(X))
⊥⊥
= [Φ(X)]⊥⊥= [Φ(X)].
Isto completa a demonstra¸c˜ao.
A seguir, lidaremos formalmente com os anuladores de alguns subconjuntos deC(X) e tamb´em com suas imagens inversas pelo isomorfismo ι. Se A ´e um subconjunto de C(X), o anulador de A´e o subespa¸co Ao de C(X)∗ dado por
Ao :={F ∈C(X)∗ :F(f) = 0, f ∈A}.
Consequentemente,
ι−1(Ao) ={µ∈ M(X) :ι(µ)∈Ao}=
µ∈ M(X) : Z
X
f(x)dµ(x) = 0, f ∈A
.
Os dois lemas a seguir descrevem propriedades t´ecnicas que at´e extrapolam o con-texto no qual estamos trabalhando. A primeira delas ´e usada implicitamente em algu-mas passagens `a frente.
Lema 2.2.2. Se A ´e um subconjunto de C(X), ent˜ao ι−1(Ao) =ι−1([A]o).
Lema 2.2.3. Sejam A e B subconjuntos de C(X). Ent˜ao, ι−1(Ao) = ι−1(Bo) se, e
somente se, [A] = [B].
Demonstra¸c˜ao: Se [A] = [B], ent˜ao uma aplica¸c˜ao direta do lema anterior implica que ι−1(Ao) = ι−1(Bo). Reciprocamente, suponha que ι−1(Ao) = ι−1(Bo), mas que
[A] 6= [B]. Sem perda de generalidade, assumiremos que [A] [A]∪[B]. Como [A] ´e fechado em [A]∪[B], por uma das consequˆencias do Teorema de Hahn-Banach ([11, p.159]) existe F ∈ C([A]∪[B])∗ que anula [A] mas n˜ao anula [A]∪[B]\[A]. Logo, F anula [A] mas n˜ao anula [B]\[A]. Usando o Teorema de Hahn-Banach e o fato de [A]∪[B] ser fechado emC(X), podemos obter uma extens˜ao (conveniente) ˜F deF em C(X)∗. Escrevamos, via (2.1), ˜F = I
µ, para alguma µ ∈ M(X). Ent˜ao, µ ∈ ι−1(Ao)
mas µ6∈ι−1(Bo). Isto contradiz nossa suposi¸c˜ao inicial.
A seguinte proposi¸c˜ao ´e agora evidente.
Proposi¸c˜ao 2.2.4. Sejam A e B subespa¸cos fechados de C(X). Ent˜ao, A =B se, e somente se, ι−1(Ao) =ι−1(Bo).
O resultado a seguir ´e uma consequˆencia direta do Teorema de Hahn-Banach.
Lema 2.2.5. Seja A um subconjunto de C(X). Ent˜ao [A] = C(X) se, e somente se, ι−1(Ao) = {0}.
Demonstra¸c˜ao: O Teorema de Hahn-Banach garante que [A] =C(X) se, e somente se, Ao ={0}. A equivalˆencia entre esta ´ultima igualdade e ι−1(Ao) ={0}´e imediata.
Tendo estabelecido os resultados t´ecnicos necess´arios, concluiremos a se¸c˜ao com um resultado que descreve uma equivalˆencia para a injetividade dejX. Antes disso, por´em,
introduziremos nota¸c˜oes adicionais. Escreveremos GK(X) para indicar o espa¸co de
todas as fun¸c˜oes em C(X) que s˜ao limites uniformes (de restri¸c˜oes a X) de fun¸c˜oes da forma
n
X
k=1
ckK(·, xk), x1, x2, . . . , xn ∈X, n= 1,2, . . . .
Em outras palavras,
GK(X) = [{Ky :y∈X}], (2.6)
onde o fecho acima ´e tomado em C(X).
Teorema 2.2.6. Seja Φ :E → W uma fun¸c˜ao layout para K. Ent˜ao kerjX ={µ∈ M(X) :ι(µ)∈GK(X)o}=ι−1(GK(X)o).
Demonstra¸c˜ao: Seµ∈i−1(G
K(X)o)
Lema 2.2.2
= ι−1({K
y :y∈X}o), ent˜ao
0 = Z
X
Ky(x)dµ(x) =
Z
X
K(x, y)dµ(x), y∈X.
Neste ponto entramos com a fun¸c˜ao layout para K. Lembrando a Proposi¸c˜ao 2.1.3, a defini¸c˜ao da aplica¸c˜ao jX e usando o Teorema de Fubini para inverter a ordem de
integra¸c˜ao, obtemos
kjX(µ)k2W =kwµΦk
2 W = Z X Z X
K(x, y)dµ(x)
dµ(y) = Z
X
0dµ(y) = 0,
ou seja, µ ∈ ker jX. Isto mostra que ι−1(GK(X)o) ⊂ kerjX. Reciprocamente, se
ν∈ M(X) e jX(ν) = 0, podemos usar a f´ormula (2.4) para deduzir que
Z
X
K(x, y)dν(x) =hjX(ν),Φ(y)iW = 0, y∈X,
ou seja,
Z
X
Ky(x)dν(x) = 0, y ∈X.
Logo, ν ∈ ι−1({K
y : y ∈ X}o) = ι−1(GK(X)o) e, portanto, kerjX ⊂ ι−1(GK(X)o).
Para justificarmos a ´ultima parte do enunciado do teorema, note que a injetividade de jX ´e agora equivalente `a igualdade i−1(GK(X)o) = {0}. No entanto, pelo Lema 2.2.5,
ela torna-se equivalente `a igualdadeC(X) = [GK(X)]. ComoGK(X) j´a ´e fechado em
C(X), esta igualdade ´e, de fato, C(X) =GK(X).
2.3
A aplica¸
c˜
ao
l
Xe o seu papel
Nesta se¸c˜ao, ainda manteremos um compacto n˜ao vazioXdeE fixo e a continuidade do n´ucleoK.
Fixada uma fun¸c˜ao layout Φ : E → W, estudaremos o papel da transforma¸c˜ao conjugada linear lX :W →C(X) dada por
lX(u) = Φu, u∈ W.
A express˜ao que definelX ´e exatamente aquela que aparece no integrando da f´ormula
(2.3) que estabelece a defini¸c˜ao do elemento wu
Φ oriundo da aplica¸c˜ao layout Φ. Ela ´e ´
util principalmente em descri¸c˜oes alternativas para o conjuntoGK(X).
Note que para tal aplica¸c˜ao verifica-se a igualdade
hjX(µ), uiW =
Z
X
lX(u)(x)dµ(x) =Iµ(lX(u)), µ∈M(X), u∈ W. (2.7)
Teorema 2.3.1. Se Φ :E → W ´e uma fun¸c˜ao layout para K, ent˜ao GK(X) coincide
com o fecho da imagem de lX em C(X), isto ´e, GK(X) =lX(W).
Demonstra¸c˜ao: Seja Φ : E → W uma fun¸c˜ao layout para K. Ambos os espa-¸cos da igualdade do enunciado do teorema s˜ao fechados em C(X). Logo, devido a Proposi¸c˜ao 2.2.4, o teorema estar´a demonstrado t˜ao logo provemos que a igualdade ι−1(G
K(X)o) = ι−1(lX(W) o
) vale. Pelo Teorema 2.2.6, j´a temos que ι−1(G
K(X)o) =
kerjX, enquanto que o Lema 2.2.2 nos d´a que ι−1(lX(W) o
) =ι−1(l
X(W)o). Portanto,
a demonstra¸c˜ao resume-se a mostrar que ker jX = ι−1(lX(W)o). Mas, usando (2.7),
vemos imediatamente que para µ ∈ M(X) fixada, a condi¸c˜ao jX(µ) = 0 equivale a
ι(µ)(lX(u)) = 0, u ∈ W, ou seja, equivale a ι(µ) ∈ lX(W)o. A demonstra¸c˜ao est´a
completa.
Corol´ario 2.3.2. Seja Φ :E → W uma fun¸c˜ao layout para K. SeU ´e um subconjunto fundamental deW, lX(U)´e fundamental em GK(X). Em outras palavras, se [U] =W,
ent˜ao GK(X) = [lX(U)].
Demonstra¸c˜ao: Seja U ⊂ W tal que [U] =W. Pelo teorema anterior temos que GK(X) = lX([U]) = lX([U]) = [lX(U)] = [lX(U)],
e o resultado segue.
A ´ultima caracteriza¸c˜ao para GK(X) que apresentaremos, depender´a de uma base
ortonormal para o espa¸co de Hilbert W que aparece na defini¸c˜ao de fun¸c˜ao layout. Como W pode n˜ao ser separ´avel, lembramos dois aspectos fundamentais de uma base ortonormal B para W: fixado u∈ W, o conjunto
{v ∈ B:hu, viW 6= 0}
´e enumer´avel. Al´em disso, vale a decomposi¸c˜ao
u=X
v∈B
hu, viv,
com convergˆencia da s´erie, qualquer que seja a ordena¸c˜ao em B. Tais resultados podem ser ratificados em [2, p.144].
Se Φ :E → W´e uma fun¸c˜ao layout paraK e uma base ortonormalBest´a dispon´ıvel para W, podemos definir o conjunto
ΦX(B) := [{Φv|X :v ∈ B}].
Observa¸c˜ao 2.3.3. A similaridade entre as nota¸c˜oes Φ(X) e ΦX(B) n˜ao deve gerar
confus˜ao, uma vez que Φ(X) ´e um subconjunto de W e ΦX(B) ´e um subconjunto de
Estamos prontos para uma terceira caracteriza¸c˜ao para GK(X).
Teorema 2.3.4. Seja Φ : E → W uma fun¸c˜ao layout para K. Se B ´e uma base ortonormal para W, ent˜ao GK(X) = ΦX(B).
Demonstra¸c˜ao: Como [B] =W, o Corol´ario 2.3.2 implica que GK(X) = [lX(B)] = [{Φv|X :v ∈ B}] = ΦX(B),
a igualdade do enunciado.
2.4
Universalidade
Nesta se¸c˜ao, apresentaremos os resultados principais do trabalho. Essencialmente, descreveremos resultados que fornecem equivalˆencias para que um n´ucleo K PD e cont´ınuo sobre E tenha a propriedade universal da aproxima¸c˜ao.
Iniciaremos com a formaliza¸c˜ao do conceito de universalidade.
Defini¸c˜ao 2.4.1. Um n´ucleo cont´ınuo K :E×E →C possui a propriedade universal da aproxima¸c˜ao (ou resumidamente que ´e K ´e um n´ucleo universal) se para cada sub-conjunto compacto e n˜ao vazio X de E, qualquer ε > 0 e qualquer fun¸c˜ao f ∈ C(X), existeg ∈GK(X) tal que
kf −gk∞≤ε.
Observamos que, devido `a defini¸c˜ao de GK(X) em (2.6), a universalidade K ´e
equivalente `a fundamentalidade de {Ky : y∈ X} em C(X), qualquer que seja o
com-pacto n˜ao vazio X do espa¸co topol´ogicoE. Notemos ainda que, conforme indicado no in´ıcio do cap´ıtulo, o conjunto mencionado acima ´e composto das restri¸c˜oes das fun¸c˜oes Ky a X. Outra maneira de expressar a propriedade de universalidade para um n´ucleo
K ´e exigir que GK(X) = C(X), qualquer que seja o compacto n˜ao vazio X deE.
De maneira an´aloga, introduziremos universalidade para uma fun¸c˜ao layout Φ de K, via o conjunto ΦX(B) introduzido na se¸c˜ao anterior.
Defini¸c˜ao 2.4.2. Sejam Φ :E → W uma fun¸c˜ao layout para um n´ucleo K PD sobre E e B uma base ortonormal para o espa¸co de Hilbert W. A fun¸c˜ao Φ ´e universal se para cada subconjunto compacto e n˜ao vazio X de E, qualquer ε >0 e qualquer fun¸c˜ao f ∈C(X), existe g ∈ΦX(B) tal que
Observamos que a universalidade de Φ ´e ent˜ao equivalente `a fundamentalidade do conjunto{Φv|X :v ∈ B}em C(X), qualquer que seja o subconjunto compacto n˜ao vazio
X deE. Equivalentemente, ΦX(B) =C(X), qualquer que seja o subconjunto compacto
n˜ao vazio X deE.
Uma primeira caracteriza¸c˜ao para universalidade do n´ucleoK est´a, ent˜ao, impl´ıcita no Teorema 2.3.4.
Teorema 2.4.3. SejamΦ :E → W uma fun¸c˜ao layout para o n´ucleoK PD e cont´ınuo sobre E e B uma base ortonormal para o espa¸co de Hilbert W. Ent˜ao, K ´e universal se, e somente se, Φ ´e universal.
2.5
Universalidade e a teoria de Mercer
A teoria de Mercer pode ser intepretada como aquela que engloba resultados envolvendo simultaneamente um n´ucleo positivo definido e o operador integral gerado por ele. Nesta se¸c˜ao, analisaremos os conceitos de universalidade introduzidos na se¸c˜ao anterior, envolvendo um pouco da teoria de Mercer nos resultados.
Em toda a se¸c˜ao, K ser´a um n´ucleo PD cont´ınuo sobre o espa¸co topol´ogico E. Se X ´e um subconjunto compacto e n˜ao vazio de E e µ ´e uma medida de Borel sobre X, ent˜ao a f´ormula
K(g)(x) :=
Z
X
K(x, y)g(y)dµ(y) (2.8)
define um operador integral K : L2(X, µ) → L2(X, µ). A an´alise funcional cl´assica garante, ent˜ao, que a restri¸c˜ao de K a X×X ´e represent´avel por uma s´erie absoluta e uniformemente convergente da forma
K(x, y) = ∞ X
n=1
λnφn(x)φn(y), x, y ∈X,
onde{φn}´e um conjuntoL2(X, µ)-ortonormal formado por fun¸c˜oes cont´ınuas,φn´e uma
auto-fun¸c˜ao do operador integral K associada ao autovalor λn ≥0, respectivamente, e
0 ´e o ´unico ponto de acumula¸c˜ao de {λn}. Por simplicidade, assumiremos que λn > 0
para todo n.
At´e o fnal desta se¸c˜ao, exceto se mencionado o contr´ario, assumiremos o con-texto descrito acima. Consequentemente, sempre consideraremos uma fun¸c˜ao layout Φ :E → W(=ℓ2) paraK da forma Φ(x) = (x(j)),x∈E, onde
como adiantado no Teorema 1.2.5.
Um primeiro resultado que pode gerar uma equivalˆencia para a universalidade de K no ˆambito da teoria de Mercer est´a descrito abaixo.
Teorema 2.5.1. Se K ´e um n´ucleo PD e cont´ınuo como descrito no in´ıcio da se¸c˜ao, ent˜ao, GK(X) =C(X) se, e somente se, [{φn:n = 1,2, . . .}] =C(X).
Demonstra¸c˜ao: Fixado X, a ideia da demonstra¸c˜ao ´e aproveitar tanto quanto poss´ı-vel, o Teorema 2.3.4. Para tanto, comecemos notando que
Φv(x) =
∞ X
j=1
v(j)λ1j/2φj(x), x∈X,
onde estamos escrevendov = (v(j))∈ B(base ortonormal deℓ2). A f´ormula acima im-plica
imediatamente que cada Φv|X ´e um elemento de [{φj :j = 1,2, . . .}] e,
consequente-mente,
ΦX(B)⊆[{φj :j = 1,2, . . .}].
Para demonstrarmos a inclus˜ao reversa, tomemos um elemento gen´erico
ξ=
n
X
i=1 αiφi
em [{φj :j = 1,2, . . .}]. A f´ormula
w:=α1λ−11 /2, α2λ2−1/2, . . . , αnλ−1n /2,0,0, . . .
define um elemento deℓ2 que satisfaz
hΦ(x), wi2 =
n
X
j=1
λ1j/2φj(x)αjλ−1j /2 = n
X
j=1
αjφj(x) =ξ(x), x∈X.
Como ℓ2 ´e separ´avel, podemos, sem perda de generalidade, escrever B ={v1, v2, . . .}. Decompondow com rela¸c˜ao a esta base, digamos,
w= ∞ X
j=1
γjvj, γj ∈C,
obtemos, via continuidade do produto interno,
ξ(x) = *
Φ(x), ∞ X
j=1 γjvj
+ 2 = ∞ X j=1
γjhΦ(x), vji2 =
∞ X
j=1
Segue que ξ ∈ [{Φv|X :v ∈ B}] = ΦX(B) e, consequentemente, [{φj :j = 1,2, . . .}]⊆
ΦX(B). Assim, [{φj :j = 1,2, . . .}] = ΦX(B) e o Teorema 2.3.4 nos d´a que
[{φj :j = 1,2, . . .}] =GK(X).
O resultado segue.
Ainda buscando uma associa¸c˜ao entre o operador integral K e a universalidade do n´ucleo PD K, temos o pr´oximo resultado, que diz respeito `a imagem de K.
Teorema 2.5.2. Se X ´e um subconjunto compacto e n˜ao vazio de E, ent˜ao GK(X)
coincide com o fecho da imagem de K em C(X), isto ´e, GK(X) =K(L2(X, µ)).
Demonstra¸c˜ao: Fixado X, o Lema 2.2.3 garante que a demonstra¸c˜ao resume-se a justificar que
ι−1({Ky :y∈X}o) = ι−1 K L2(X, µ)
o .
Se µ∈ι−1({K
y :y ∈X}o), temos imediatamente que
Z
X
K(x, y)dµ(x) = 0, y∈X.
Por outro lado, se integramos ambos os lados de (2.8) obtemos
Z
X
K(g)(x)dµ(x) =
Z
X
Z
X
K(x, y)g(y)dµ(y)dµ(x), g ∈L2(X, µ).
Da´ı, pelo Teorema de Fubini, segue que
Z
X
K(g)(x)dµ(x) =
Z
X
g(y) Z
X
K(x, y)dµ(x)
dµ(y) = 0, g ∈L2(X, µ).
Em outras palavras, µ∈ι−1(K(L2(X, µ))). Reciprocamente, se
Z
X
K(g)(x)dµ(x) = 0, g ∈L2(X, µ),
ent˜ao procedendo como na parte anterior, podemos deduzir que
Z
X
g(y) Z
X
K(x, y)dµ(x)
dµ(y) = 0, g ∈L2(X, µ).
Em particular, como a fun¸c˜ao
gµ:=
Z
X
K(x,·)dµ(x)
´e um elemento de L2(X, µ), segue que
Z
X
|gµ(y)|2dµ(y) =
Z X Z X
K(x, y)dµ(x) 2
Da continuidade de gµ e da igualdade acima, segue que gµ ´e identicamente nula. Em
outras palavras,
Z
X
K(x, y)dµ(x) = 0, y∈X.
Portanto, µ∈ι−1({K
y :y ∈X}o).
O corol´ario abaixo n˜ao necessita justificativa.
Corol´ario 2.5.3. Seja X um subconjunto compacto e n˜ao vazio de E. Ent˜ao, GK(X) =C(X) se, e somente se, K(L2(X, µ)) =C(X).
Finalizamos a se¸c˜ao registrando um resultado de universalidade envolvendo os re-sultados que acabamos de demonstrar.
3
Exemplificando universalidade
Neste cap´ıtulo analisaremos alguns exemplos concretos, onde os resultados das se-¸c˜oes anteriores s˜ao aplic´aveis. Descreveremos a universalidade do n´ucleo atrav´es de propriedades t˜ao expl´ıcitas quanto poss´ıveis.
3.1
Um n´
ucleo de Mercer cl´
assico
Neste exemplo, consideraremos um n´ucleo de Mercer cl´assico sobre um espa¸co topol´ogico E, ou seja, um n´ucleo K :E×E →C da forma
K(x, y) := ∞ X
j=1
φj(x)φj(y), (x, y)∈E×E,
onde cada fun¸c˜aoφj ´e cont´ınua emE. Assumiremos que a s´erie acima ´e uniformemente
convergente em cada conjuntoX×X, ondeX ´e um subconjunto compacto e n˜ao vazio deE. ´E imediato verificar queK ´e positivo definido (e cont´ınuo).
Demonstraremos o seguinte resultado.
Teorema 3.1.1. O n´ucleo K descrito acima ´e universal se, e somente se, para cada subconjunto compacto e n˜ao vazio X de E, o conjunto {φj|X : j = 1,2, . . .} ´e
funda-mental em C(X).
Demonstra¸c˜ao: Considerando o espa¸co de Hilbert ℓ2 munido de seu produto interno canˆonico, uma fun¸c˜ao layout para K ´e Φ :E →ℓ2 dada por
Φ(x) = (φ1(x), φ2(x), . . .), x∈E.
Assim sendo, usaremos o Teorema 2.4.3 para justificar o resultado, determinando uma condi¸c˜ao para a universalidade de Φ. Fixando a base canˆonicaB0deℓ2, a universalidade de Φ exige que ΦX(B0) = C(X), qualquer que seja o compacto n˜ao vazio X de E. ´E f´acil ver que se v(j) = ei(j) ∈ B
0, onde ei ´e o vetor constituido por um na i−´esima entrada e zero nas demais, ent˜ao
Φv(x) = hΦ(x), viℓ2 = ∞ X
j=1
ei(j)φ
j(x) =φi(x), x∈X.
Logo,
ΦX (B0) = [{Φv :v ∈ B0}] = [{φj :j = 1,2, . . .}],
e a universalidade de Φ corresponde, ent˜ao, `a condi¸c˜ao do enunciado.
Observa¸c˜ao 3.1.2. O resultado acima continua v´alido se na representa¸c˜ao de K ti-vermos uma soma finita. Basta trocar o espa¸co ℓ2 por um espa¸co de dimens˜ao finita. Detalhes ser˜ao omitidos.
3.2
N´
ucleos definidos por s´
eries de potˆ
encias
No exemplo desta se¸c˜ao, abordaremos um n´ucleo positivo definido e cont´ınuo sobre
Rd da forma
K(x, y) := ∞ X
n=0
an(x·y)n, x, y ∈Rd, (3.1)
onde cada coeficiente an ´e positivo. O n´ucleo K acima ´e, de fato, PD em Rd por ser
um limite pontual de n´ucleos deste tipo. Por outro lado, as contas abaixo evidenciar˜ao isso diretamente.
No lema abaixo deduziremos uma express˜ao alternativa paraK. Empregaremos um pouco de nota¸c˜ao multinomial usual. Para um multi-´ındice α = (α1, α2, . . . , αd)∈Zd+, escreveremos
˜ α :=
|α|
α
= |α|! α1!α2!· · ·αd!
.
Lema 3.2.1. O n´ucleo K em (3.1) pode ser escrito na forma K(x, y) = X
α∈Zd
+
φα(x)φα(y), x, y ∈Rd,
onde
φα(x) := ˜αa|α| 1/2
Demonstra¸c˜ao: Escrevendo x = (x1, x2, . . . , xd) e y = (y1, y2, . . . , yd) e usando o
teorema multinomial ([5, p.56]) em (x·y)n obtemos
K(x, y) = ∞ X
n=0 an
X
α1+α2+...+αd=n
n! α1!α2!. . . αd!
(x1y1)α1(x2y2)α2. . .(xdyd)αd
!
, x, y ∈Rd.
Um pequeno ajuste transforma a f´ormula acima em
K(x, y) = ∞ X n=0 X
|α|=n
a|α|α˜(x1y1)α1(x2y2)α2. . .(xdyd)αd
, x, y ∈Rd,
ou seja,
K(x, y) = X
α∈Zd
+
a|α|α˜(x1y1)α1(x2y2)α2. . .(xdyd)αd, x, y ∈Rd.
Podemos condensar ´ındices nesta ´ultima express˜ao e chegar em
K(x, y) = X
α∈Zd
+
a|α|αx˜ αyα, x, y ∈Rd,
e esta ´e a express˜ao do enunciado do lema.
Podemos agora enunciar e provar o teorema principal desta se¸c˜ao.
Teorema 3.2.2. O n´ucleo K em (3.1) ´e universal.
Demonstra¸c˜ao: O lema anterior revela que o n´ucleo se encaixa na descri¸c˜ao do Teorema 3.1.1 comE =Rd e
φα(x) := ˜αa|α| 1/2
xα, α∈Zd+, x∈Rd,
onde agora o conjunto de ´ındices ´eZd+ (ainda enumer´avel). Assim sendo, para provar-mos o teorema basta fixarprovar-mos um compacto n˜ao vazio X de Rd e verificarmos que o conjunto A := {φα|X : α ∈ Zd+} ´e fundamental em C(X). Pelo Teorema de Stone-Weierstrass ([23, 24]), ´e suficiente verificarmos que A ´e uma sub-´algebra que separa pontos emC(X). Tomando-se α = 0, verificamos queA cont´em as fun¸c˜oes constantes. ´
E relativamente simples verificar que se f, g ∈ A, ent˜ao f g ∈ A. Ainda, se r1, r2 ∈ R, tamb´em temos que r1f +r2g ∈ A. Resta, ent˜ao, verificarmos que A separa pontos. Sejam x = (x1, x2, . . . , xd) e y = (y1, y2, . . . , yd) dois pontos distintos de X (se X for
unit´ario, n˜ao h´a nada para ser demonstrado). Existe, ent˜ao, pelo menos um par de n´umeros, xk e yk, com xk 6= yk. Tomemos o multi-´ındice α = (α1, α2, . . . , αk, . . . , αd)
deZd+ com αk= 1 e αj = 0 para j 6=k. Ent˜ao,
Assim, o Teorema de Stone-Weierstrass implica que o fecho de A em C(X) ´e o pr´oprio C(X). Isto completa a prova.
O teorema anterior pode ser generalizado para o contexto complexo. Para isto, o n´ucleo K :Cd×Cd→C tem que ser da forma
K(z, w) := ∞ X
m,n=0
am,n(z·w)m(z·w)n, z, w ∈Cd,
onde “·” ´e o produto escalar usual em Cd e os coeficientes am,n s˜ao todos positivos. A
representa¸c˜ao para K do lema toma a forma
K(z, w) = X
α,β∈Zd
+
φα,β(z)φα,β(w), z, w ∈Cd,
onde
φα,β(z) := (˜αβa˜ |α|,|β|)1/2zαzβ, α, β ∈Zd+, z ∈Rd.
Na demonstra¸c˜ao da vers˜ao complexa do Teorema 3.2.2 ´e necess´ario utilizar a vers˜ao complexa do teorema de Stone-Weierstrass. Os detalhes ser˜ao omitidos.
3.3
N´
ucleos PD sobre a esfera unit´
aria
Nesta se¸c˜ao consideraremos o n´ucleo cont´ınuo e PD K sobre a esfera unit´aria Sd
introduzido no Exemplo 1.1.4:
K(x, y) = ∞ X
k=0
akPkd(x·y), x, y ∈Sd.
O resultado que descreve uma equivalˆencia para a universalidade de K ´e como segue.
Teorema 3.3.1. O n´ucleo K acima ´e universal se, e somente se, cada coeficiente ak
´e positivo.
Demonstra¸c˜ao: Primeiramente h´a de se notar que na verifica¸c˜ao da defini¸c˜ao de universalidade neste caso, basta considerar o caso X = Sd, uma vez que a pr´opria
Sd j´a ´e compacta. Como no exemplo anterior, a ideia aqui ´e reescrever a express˜ao
que define K, colocando-a no formato de um n´ucleo PD cl´assico. Para tanto, seja
{Ykj : j = 1,2, . . . , N(k, d)} uma base ortonormal (com rela¸c˜ao ao produto interno de
L2(Sd) usual) do espa¸co de todos os harmˆonicos esf´ericos de grau k em d+ 1 vari´aveis.
O teorema da adi¸c˜ao para harmˆonicos esf´ericos ([12]) nos informa que para cada k,
Pkd(x·y) =
σd
N(k, d)
N(k,d) X
j=1
ondeσd ´e a ´area de superf´ıcie de Sd. Logo, a representa¸c˜ao deK toma a forma
K(x, y) = σd
∞ X
k=0 ak
N(k, d)
N(k,d) X
j=1
Ykj(x)Ykj(y), x, y ∈Sd.
Em outras palavras, definindo I :={(k, l) :k ∈Z+, l = 1,2, . . . , N(k, d)}, temos que
K(x, y) = X (k,l)∈I
φkl(x)φkl(y), x, y ∈Sd,
onde
φkl(x) :=σ1d/2
ak
N(k, d) 1/2
Ykl(x), x∈Sd, (k, l)∈ I.
Um resultado cl´assico da an´alise na esfera garante que{φkl : (k, l)∈ I}´e fundamental
em C(Sd), enquanto que a fundamentalidade se perde quando qualquer par (k, l) ´e
omitido na indexa¸c˜ao do conjunto. Assim, lembrando o Teorema 3.1.1, deduzimos que K ´e universal se, e somente se, cada coeficiente ak ´e positivo.
Observamos que existe uma vers˜ao similar do teorema acima para n´ucleos PD sobre a esfera unit´aria deCq. N˜ao incluiremos os detalhes aqui, preferindo analisar casos que n˜ao tem tanta semelhan¸ca com o anterior.
3.4
N´
ucleos invariantes por transla¸
c˜
ao sobre
R
dNesta se¸c˜ao consideraremos n´ucleos K :Rd×Rd→C da forma
K(x, y) =κ(x−y), x, y ∈Rd, (3.2)
ondeκ :Rd →C´e uma fun¸c˜ao cont´ınua conveniente. N´ucleos deste tipo n˜ao se alteram quando ambas as vari´aveis x ey s˜ao transladadas por um mesmo vetor de Rd.
O seguinte resultado cl´assico de Bochner ([6]) descreve com exatid˜ao quais fun¸c˜oes κ produzem um n´ucleo K PD sobre Rd via (3.2).
Proposi¸c˜ao 3.4.1. A aplica¸c˜ao K definida em (3.2) ´e um n´ucleo PD e cont´ınuo se, e somente se, existe uma ´unica medida de Borel finita e n˜ao negativa µ sobre Rd tal que
κ(x) = Z
Rd
ei(x·y)dµ(y), x∈Rd.
Se um n´ucleo K como em (3.2) ´e PD sobre Rd, escreveremos K =Kµ para indicar
qual ´e a medidaµda proposi¸c˜ao que est´a atrelada `a representa¸c˜ao da fun¸c˜aoκ corres-pondente. O objetivo principal nesta se¸c˜ao ´e ent˜ao descrever a universalidade de Kµ
No primeiro resultado descreveremos a fun¸c˜ao layout para K. Lembramos que o suporte supp (µ) de uma medida de Borel µ ´e o conjunto de todos os pontos x de Rd
para os quais qualquer bola aberta de Rd centrada em x tem medida positiva. Em outras palavras,
supp (µ) =Rd\ ∪{O :O ´e aberto emRd eµ(O) = 0}. (3.3)
O suporte de µ´e um subconjunto fechado deRd e µ(Rd\supp (µ)) = 0. Este conceito
e as propriedades listadas acima s˜ao discutidos em [13, p.122] e tamb´em em [8, p.88].
Proposi¸c˜ao 3.4.2. Seja µ uma medida de Borel finita e n˜ao negativa sobre Rd. Se
W ´e o espa¸co de Hilbert L2(supp(µ), µ) usual, ent˜ao uma fun¸c˜ao layout para K
µ ´e
Φ :Rd→ W dada por
Φ(x)(y) := ei(x·y), x∈Rd, y∈supp(µ).
Demonstra¸c˜ao: Escrevamosh·,·iW para indicar o produto interno deW definido por
hf, giW :=
Z
supp(µ)
f(x)g(x)dµ(x), f, g∈ W.
Como µ(Rd\supp (µ)) = 0,
hΦ(x),Φ(y)iW =
Z
supp(µ)
ei[(x−y)·w]dµ(w)
= Z
supp(µ)
ei[(x−y)·w]dµ(w) + Z
Rd\supp(µ)
ei[(x−y)·w]dµ(w), x, y ∈Rd.
Logo,
hΦ(x),Φ(y)iW =
Z
Rd
ei[(x−y)·w]dµ(w) =κ(x−y) =Kµ(x, y), x, y ∈Rd,
como quer´ıamos.
Antes de prosseguir, notemos que a imagem de Φ cont´em t˜ao somente fun¸c˜oes cont´ınuas.
Lema 3.4.3. Sejamµuma medida de Borel finita e n˜ao negativa sobreRdeΦa fun¸c˜ao layout para Kµ definida na proposi¸c˜ao anterior. Se X ´e um subconjunto compacto e
n˜ao vazio de Rd, ent˜ao kerjX coincide com a imagem inversa por ι do anulador do
conjunto
exp(µ) := {Φ(x)∈C(X) :x∈supp(µ)}