DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
ROSE MARRIE DE ARAUJO BARROS
O TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS
NOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS ONOFRE LOPES (HUOL) E HOSPITAL ANA BEZERRA (HUAB) DA UFRN: os desafios da formação permanente
NATAL/RN
O TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS
NOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS ONOFRE LOPES (HUOL) E HOSPITAL ANA BEZERRA (HUAB) DA UFRN: os desafios da formação permanente
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN, como requisito à obtenção, de título de mestre em Serviço Social.
Orientadora: Profª Drª Denise Câmara de Carvalho
NATAL/RN
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Barros, Rose Marrie de Araújo. O trabalho dos assistentes sociais
nos hospitais universitários Onofre Lopes (HUOL) e Hospital Ana Bezerra (HUAB) da UFRN: os desafios da formação permanente / Rose Marrie de Araújo Barros. - Natal, RN, 2013.
143 f.: il.
Orientadora: Profa. Dra. Denise Câmara de Carvalho.
Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Serviço Social.
1. Serviço Social - Dissertação. 2. Formação profissional - Dissertação. 3. Assistente social - Dissertação. 4. Ambiente hospitalar - Dissertação. 5. Educação continuada - Dissertação. I. Carvalho, Denise Câmara de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
“A vida só é possível reinventada”
Cecília Meireles
“Conhecer é alcançar o idêntico, imutável. Nossos sentidos nos oferecem a imagem de um mundo em incessante mudança, num fluxo perpétuo, onde nada permanece idêntico a si mesmo: o dia vira noite, o inverno vira primavera, o doce se torna amargo, o pequeno vira grande, o grande diminui, o doce amarga, o quente esfria, o frio se aquece, o líquido vira vapor ou vira sólido.”
Marilena Chauí
“A doença é o lado sombrio da vida, uma espécie de cidadania mais onerosa. Todas as pessoas vivas têm dupla cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da doença. Embora todos prefiram usar somente o bom passaporte, mais cedo ou mais tarde cada um de nós será obrigado, pelo menos por um curto período, a identificar-se como cidadão do outro país”.
Dedico este trabalho aos usuários dos Hospitais Universitários
HUOL e HUAB da UFRN, pelos seus enfrentamentos e
Este é um projeto coletivo, tecido cotidianamente por conhecimentos
adquiridos em discussões, debates transcorridos em sala de aula, seminários,
congressos, em que as exigências e disciplina desse processo, nos fez abdicar de
vários momentos de nossa vida pessoal, e direta ou indiretamente perpassado por
uma cadeia de sentimentos de certezas, incertezas, afirmações, negações,
irritabilidades e aceitação inerente à formação de pesquisador.
Agradeço ao meu pai Edson Cabral (In memoriam), por seu grandioso e
valoroso ensinamento dos valores essenciais da vida.
Agradeço a minha mãe Terezinha Araújo Barros e ao meu filho Órion Araújo
B. de Paiva, referenciais de apoio incondicional na minha vida.
Agradeço aos meus familiares, irmãos, sobrinhos no apoio afetivo, em
especial a João Neto, e a Patrícia Viana por suas participações na elaboração do
processo deste trabalho.
Ao amigo Jonathas Silveira pelo apoio ao processo de elaboração deste
trabalho.
Agradeço a Profª Silvana Mara coordenadora e todos os professores
integrantes do Mestrado em Serviço Social da UFRN, por nos ter proporcionado na
dinâmica desta formação uma riqueza de conhecimentos inestimáveis, seja em
momentos das aulas, eventos e seminários com autores da nossa área.
Agradeço em especial à professora Denise Câmara de Carvalho, por sua
valiosa contribuição no momento do Seminário de Dissertação. E principalmente
como orientadora desse projeto, por seu acolhimento caloroso e atencioso me
proporcionado em seu convívio, os ensinamentos de iniciação a dimensão da
pesquisa.
Agradeço em especial à professora Dalva Horácio, referencial para nossa
categoria na área de saúde, por ter me acolhido, e incentivado em minhas primeiras
iniciativas de construção do meu objeto de estudo, como também nos vários
momentos do período dessa formação e principalmente no Exame de Qualificação,
ter aceito participar da Banca de Defesa desta Dissertação.
Agradeço a Profª Moema Serpa a sua participação nesta Banca de
Dissertação.
As amigas da minha turma, especialmente a Lúcia, por suas valorosas
contribuições nos debates e na construção desse projeto de pesquisa, do qual em
nosso convívio nos tornamos cúmplices de apoio afetivo aos momentos
difíceis,quando as exigências trazidas pelos desafios do processo dessa formação
nos causavam instabilidade e fragilidades emocionais, superadas a cada momento
pelo entendimento que a ultrapassagem de cada etapa nos proporcionava maior
crescimento intelectual e maturidade pessoal e profissional.
As colegas do HUAB e HUOL por sua valiosa e rica contribuição nesta
pesquisa, sendo o seu resultado as reflexões das particularidades da formação
permanente do assistente social, possibilitando aproximações de como se
transfigura esta formação no cotidiano profissional desses espaços
sócio-ocupacionais.
As amigas de profissão e demais profissões de saúde: Coordenadoria de
Perícias Médica–Junta Médica do Estado, Hospital Giselda Trigueiro, Hospital
Universitário Ana Bezerra e Hospital Universitário Onofre Lopes das quais são
referências na minha trajetória profissional.
As equipes da Secretaria da pós- graduação de Serviço Social, da Divisão
de Desenvolvimento de Pessoas- DDP-PROGESP, Recursos Humanos do HUOL e
Este trabalho discute o processo de formação permanente dos assistentes
sociais no ambiente dos Hospitais Universitários (HU’s). Estes hospitais constituem
espaço de formação tendo em vista uma atuação profissional crítica e propositiva.
Enquanto espaços de formação e produção de conhecimentos e de prestação de
serviços essenciais à população, estas unidades hospitalares exigem de todos os
profissionais integrantes da equipe de saúde uma formação permanente.
Compreendendo que a formação contínua deve ser prioridade e concebida como a
busca constante de atualização a partir da interação das áreas de ensino, pesquisa
e extensão. Estas dimensões são propiciadoras de aproximações e domínio de
conhecimentos teórico-metodológico, conferindo especial importância ao
conhecimento sobre a realidade social, condição sine qua non ao trabalho do
profissional de Serviço Social. A pesquisa teve como objetivo central apreender
como se dá a formação permanente do assistente social e a sua relação com
iniciativas de articulação entre o ensino, pesquisa e extensão, como elementos
significativos ao exercício profissional dos assistentes sociais no Hospital
Universitário Ana Bezerra e do Hospital Universitário Onofre Lopes/UFRN. A
investigação foi realizada através de pesquisa bibliográfica, documental e de campo
com entrevista semi estruturada incluindo o grupo de 09 (nove) assistentes sociais
dos hospitais universitários Ana Bezerra e Onofre Lopes da UFRN, tomando como
referência a abordagem quanti-qualitativa, buscando analisar as mediações que se
interpõem entre os sujeitos e o contexto social. Os resultados indicam que os
assistentes sociais nesses hospitais universitários têm a sua inserção além da
assistência prestada ao paciente, em atuação nas áreas de ensino através de
preceptoria ao discente de graduação e aos residentes de serviço social, em
projetos de extensão e com reduzida inserção na área de pesquisa. Observamos
que há um reconhecimento da importância de uma formação permanente, indicando
que a qualificação do assistente social é imprescindível na transformação da sua
pratica para acompanhar, explicar criticamente as particularidades da saúde pública,
em suas expressões cotidianas de desigualdades de acessos que enfrentam e
resistem os seus usuários.
Palavras-chave: Formação Permanente. Trabalho Coletivo em Saúde.
This paper discusses the process of training social workers in the
environment of University Hospitals- UH’s. These hospitals provide space for
professional education aiming to achieve a critical and purposeful professional
performance. As environments for training, producing knowledge and providing
essential services to the public, these hospitals require all members of the healthcare
team to have a continued education. Understanding that training has to be a priority
and conceived as constant pursuit for update through the interaction of Teaching,
Researching and EPO ( Education and Public Outreach). These dimensions provide
approximations and domain of theoretical and methodological, giving special
importance to understanding the social reality, a sine qua non condition to the work
of the Social Service professional. The main goal of the research was to comprehend
how the continuous professional education of the social worker occurs and it’s
relation with the articulations involving Teaching, Researching and EPO, as
significant elements for the job of the social workers in the Hospital Universitário Ana
Bezerra and Hospital Universitário Onofre Lopes/UFRN. The research was
conducted through a literature review, documentary and field inquiries with
semi-structured interviews including the group of 09 (nine) social workers from the
aforementioned hospitals, taking as a reference the quantitative and qualitative
approach to analyze mediations that stand between the subject and the social
context. The results indicate that social workers in these university hospitals have
their insertion beyond the care provided to patients in performance in the areas of
education through preceptorship to undergraduate students and social work
residents in and extension projects with low insertion in area of research. We note
that there is a recognition of the importance of a continuous education, indicating that
the qualification of social worker is essential in transforming their daily professional
practice to better monitor, critically explain the peculiarities of public health in its
everyday showing of how unequally access is provided to the users of the public
health system.
Keywords: Continued Education. Collective Work in the Health Business. Teaching,
Figura 1 - Organograma da Secretaria Geral de Trabalho e Educação em Saúde
(SGTES ... 82
Figura 2 - Organograma de Recursos Humanos da Secretaria Estadual de Saúde do
RN ... 82
Figura 3 - Organograma do RH da Secretaria Municipal de Saúde de Natal/RN ... 83
Quadro 1 - Programa de Capacitação e Aperfeiçoamento da UFRN. Atividades de
Tabela 1 - Distribuição dos entrevistados segundo a Faixa Etária ... 68
Tabela 2 - Distribuição dos entrevistados segundo o Tempo de Serviço ... 69
Tabela 3 - Distribuição dos entrevistados segundo o Ano de Formação ... 72
Tabela 4 - Distribuição dos Autores Estudados ... 73
Tabela 5 - Distribuição dos autores de referência ao exercício profissional.. ... 74
Tabela 6 - Distribuição dos cursos de formação permanente, capacitações, aperfeiçoamentos, seminários, oficinas, cursos de curta duração hospitais HUOL – HUAB/UFRN ... 86
Tabela 7 - Distribuição dos cursos de qualificação em Pós-graduação modalidades de inserção hospitais HUOL – HUAB/UFRN ... 87
Tabela 8 - Distribuição de supervisão de estágio em serviço social realizados no HUOL-HUAB/UFRN ... 88
Tabela 9 - Distribuição da relação das atividades de ensino e de supervisão - assistentes sociais no HUOL-HUAB/UFRN ... 89
Tabela 10 - Distribuição dos projetos de extensão – inserção de assistentes sociais hospitais HUOL – HUAB/UFRN ... 90
Tabela 11 - Distribuição de projetos de pesquisa- inserção de assistentes sociais hospitais HUOL – HUAB/UFRN ... 91
Gráfico 1 - Distribuição dos entrevistados segundo a Faixa Etária ... 69
Gráfico 2 - Distribuição dos entrevistados segundo o Tempo de Serviço ... 70
Gráfico 3 - Distribuição dos entrevistados segundo o Ano de Formação ... 72
ABESS Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social
ABRAHUE Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino
ANDES Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior
ANDIFES Associação Nacional de Dirigentes das Instituições de Ensino Superior
APF Administração Pública Federal
APH Adicional de Plantão Hospitalar
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
CCEP Coordenadoria de Capacitação e Educação Profissional
CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
CEP Conselho de Ética na Pesquisa
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CGR’s Colegiados de Gestão Regional
CIES Comissões Permanentes de Integração Ensino-Serviço
CIS Comissão Interna de Supervisão
CIT Comissão Intergestores Tripartiti
CNRHS Conferência Nacional de Recursos Humanos na Saúde
CNS Conselho Nacional de Saúde
CNSC Comissão Nacional de Supervisão de Carreira
CONSAD Conselho de Administração
CONSEPE Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão
CONSUNI Conselho Universitário
CPMF Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de
Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira
CRESS Conselho Regional de Serviço Social
CRUTAC Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária
DDP Diretoria de Desenvolvimento de Pessoas
DDRH Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos
DEGES Departamento de Gestão da Educação na Saúde
DSS Divisão de Serviço Social
ESS Escola de Serviço Social
FACISA Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi
FIDEPS Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e da Pesquisa
FIES Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior
FMI Fundo Monetário Internacional
FNEPAS Fórum Nacional de Educação das Profissões da Área da Saúde
Fundef Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério
GDH Sistema de Gestão do Desempenho Humano
HOSPED Hospital de Pediatria
HU’s Hospitais Universitários
HUAB Hospital Universitário Ana Bezerra
HUE’s Hospitais Universitários de Ensino
HUOL Hospital Onofre Lopes
IES Instituições de Ensino Superior
IFE Instituição Federal de Ensino
IFES Instituições de Ensino Federais
IFES Instituições de Ensino Federais
INOCOOP Instituto de Orientação às Cooperativas Habiltacionais
LOS Lei Orgânica da Saúde
MEC Ministério de Educação e Cultura
MEJC Maternidade Januário Cicco
MS Ministério da Saúde
NOAS Norma Operacional de Asssitência à Saúde
NOB/RH Norma Operacional Básica de Recursos Humanos
NOBs Norma Operacionais Básicas
PACHA Programa de Assistência e Controle da Hipertensão Arterial
PACS Programa de Agente Comunitários de Saúde
PCA Plano de Capacitação e Aperfeiçoamento
PCCTAE Plano de carreira dos cargos Técnico-Administrativos em Educação
PDE Programa de Desenvolvimento da Educação
PICDT Programa Institucional de Capacitação Docente e Técnica
PLC Projeto de Lei Complementar
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PNEPS Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
PNH Política Nacional de Humanização
PQEP Programa de Qualificação de Educação Profissional
PQI Plano de Qualificação Institucional
PRH Pro - Reitoria de Recursos Humanos
PROGESP Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas
PSF Programa de Saúde da Família
REHUF Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais
REUNI Programa de Reestruturação das Universidades Federais
RH Recursos Humanos
RJU Regime Jurídico Único
RN Rio Grande do Norte
SCORE Serviço de Cirurgia da Obesidade e Doenças Relacionadas
SESAP Secretaria estadual de saúde Pública
SGTES Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
SINDIPETRO Sindicato dos Petroleiros
SIPEC Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal
SRH Secretaria de Recursos Humanos
SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde Pública
SUS Sistema Único de Saúde
TCU Tribunal de Contas da União
UCMG Universidade católica de Minas Gerais
UERJ Universidade do Estadual do Rio de Janeiro
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UNE União Nacional dos Estudantes
USP Universidade de são Paulo
1 INTRODUÇÃO ... 18
2 A CONFORMAÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PERMANENTE DE SAÚDE NO CONTEXTO DA REFORMA SANITÁRIA E DO SUS: DESAFIOS AOS HU´S E A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ... 29
2.1 OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS NO CONTEXTO DA REFORMA SANITÁRIA - SUS: O DEBATE SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ... 29
2.1.1 Política de formação e desenvolvimento de pessoal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte ... 43
2.1.2 A inserção do trabalho do assistente social na área da saúde pública no Rio Grande do Norte ... 47
2.1.3 As particularidades da formação permanente do assistente social, no âmbito do Hospital Universitário Onofre Lopes e do Hospital Universitário Ana Bezerra da UFRN ... 56
3 AS CONCEPÇÕES DOS ASSISTENTES SOCIAIS SOBRE A FORMAÇÃO PERMANENTE E O EXERCÍCIO PROFISSIONAL... ... 67
3.1 AS PRIMEIRAS INDAGAÇÕES COM OS SUJEITOS: PERFIL E FORMAÇÃO PROFISSIONAL ... 67
3.2 O ENTENDIMENTO DO ASSISTENTE SOCIAL: AS CONFIGURAÇÕES DA POLÍTICA DE SAÚDE PÚBLICA E AS DIMENSÕES DA INDISSOCIABILIDADE DO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NOS HU’S - HUAB E UOL/UFRN ... 76
3.3 A PARTICIPAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SERVIÇO SOCIAL EM PROGRAMAS DE FORMAÇÃO PERMANENTE ... 81
3.3.1 A formação permanente dos assistentes sociais: importância e desafios ao exercício profissional na contemporaneidade ... 93
4 CONSIDERAÇÕES APROXIMATIVAS ...101
REFERÊNCIAS ...107
APÊNDICES ...116
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DA PESQUISA ...117
APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA ...119
ANEXOS ...135
ANEXO 1 – PARECER DO CEP ...136
ANEXO 2 - RESOLUÇÃO Nº 009/2012-CONSAD, de 12 de Abril de 2012 ...137
1 INTRODUÇÃO
Na conjuntura atual o conhecimento tem se tornado condição “sine qua non”
frente aos desafios e limites que envolvem a prática do Serviço Social no campo das
políticas sociais, especificamente a saúde pública. Este fato tem exigido dos
profissionais a consciência da necessidade de permanente formação profissional.
Este trabalho discute as particularidades do processo de formação permanente do
assistente social, e suas interfaces nos espaços sócio-ocupacionais dos Hospitais
Universitários Ana Bezerra e Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN).
O interesse em desenvolver este estudo partiu da nossa inserção como
assistente social nos hospitais de ensino da UFRN, inicialmente no Hospital Ana
Bezerra (HUAB) em 2005, e posteriormente, no Hospital Onofre Lopes (HUOL) em
2011, ocasião em que, a pedido, fui remanejada por meio de processo de permuta
entre a equipe do Serviço Social deste hospital e do HUAB.
O ambiente dos Hospitais Universitários (HU’s) constituem-se espaços de
ensino, da pesquisa, da extensão e da assistência. Em sendo espaços de formação,
produção de conhecimento e prestadores de serviços essenciais à população,
pressupõe-se que todos os profissionais integrantes da equipe de saúde participem
do processo de formação permanente, na perspectiva de renovações de seus
conhecimentos teórico-metodológicos e técnico-operativos.
Nestes hospitais uma das atribuições do assistente social é a preceptoria de
campo do ensino nas áreas de graduação, em acompanhamento ao discente em
seu estágio curricular e na pós-graduação ao profissional inserido em residência
multiprofissional de Saúde.
Estas dimensões remetem ao assistente social a sua conexão às atuais
competências definidas no projeto ético-político da profissão e, indubitavelmente, a
uma formação permanente. Sobre este ponto, Iamamoto (2001, p.145) enfatiza que
“A afirmação de um perfil profissional propositivo requer um profissional de novo
tipo, comprometido com sua atualização permanente, capaz de sintonizar-se com o
ritmo de mudanças que presidem o cenário social contemporâneo [...].”
Integrantes das equipes de saúde nos HU’s, os assistentes sociais não
Único de Saúde (SUS), que nos seus princípios destaca a importância da formação
profissional.
A formação profissional é estabelecida na Constituição Federal Brasileira de
1988, em sua Seção II da Saúde. “Art. 200. Ao sistema único de saúde compete,
além de outras atribuições, nos termos da lei: III – ordenar a formação de recursos
humanos na área de saúde.” (BRASIL, 1988).
A ordenação e organização da formação de recursos humanos na área de
saúde do SUS é implantada a partir da Lei Orgânica da Saúde (Leis Federais nº
8.080/90 e 8.142/90) e sua estruturação será definida a partir de preceitos legais ao
longo de toda a implantação do sistema.
Entre os diversos dispositivos legais, as Conferências de Saúde enquanto
instâncias deliberativas da política de saúde pública irão definir a política de recursos
humanos, em destaque para as Conferências 8ª, 9ª, 10ª, 12ª. A deliberação na 10ª
Conferência, da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB/RH)
SUS/2003, programa a operacionalização, regulação e ordenação da força de
trabalho no SUS.
Em 1986 ano de realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde, marco
histórico da saúde pública em nosso país, foi definido em suas formulações
temáticas, a Reformulação do Sistema Nacional de Saúde, incluindo entre os seus
princípios a política de recursos humanos. Neste mesmo ano ocorre a I Conferência
Nacional de Recursos Humanos em Saúde, com deliberações para política de
gestão de trabalho e de formação e desenvolvimento dos trabalhadores de saúde.
Em 1996, é realizada a II Conferência Nacional de Recursos Humanos na
Saúde, que apresenta entre suas propostas “II. Articulação e integração entre os
setores da saúde e da Educação como princípios nucleadores das políticas de
recursos humanos para a saúde”. (BRASIL, 2005a, p.2).
Como debileração da 12ª Conferência Nacional de Saúde, é realizada em
2003, a III Conferência Nacional de Gestão de Trabalho e da Educação na Saúde,
que define as diretrizes para a política nacional de recursos humanos e aprova os
Princípios e Diretrizes para a Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde.
Na particularidade da formação de profissionais de saúde a Norma
Operacional Básica (NOB/RH) SUS/2003, em sua seção quatro define os Princípios
e Diretrizes da Política de Desenvolvimento do Trabalhador do SUS, e as
É fundamental destacarmos que em seus itens está definida a garantia da
formação dos trabalhadores do SUS, em todos os níveis de escolaridade. Cita a
necessidade de uma educação continuada, avaliações dos currículos da área de
saúde, a participação das instituições de ensino buscando articulação do
ensino-serviço, na perspectiva de avaliação e mudança de currículos dos cursos da área da
saúde.
Esta Norma Operacional de Recursos Humanos define que é necessário:
regular, manter, reestruturar e ampliar as residências já em execução na área de
saúde, e de criar novos programas de residências multiprofissionais, articuladas às
necessidades do SUS.
O SUS em sua estruturação organizativa nestes 22 anos de construção tem
definido mecanismos para viabilizar os seus princípios, sendo as Normas
Operacionais Básicas (NOB’s), instrumentos legais na operacionalização das
diretrizes do sistema.
Desde o início de sua legalidade, foram instituídas no SUS as Normas
Operacionais Básicas, que segundo Costa (2010, p.99), as NOB’s 91, 93, instituiram
a habilitação da municipalização, mas com equívocos de reduzirem os municípios a
meros prestadores. A NOB 96 definiu ações focais tais como o Programa de Saúde
da Família (PSF) e Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS),
desarticulando as ações, criando a divisão do SUS entre a atenção básica e a rede
hospitalar.
As Normas de Operacionalização (NOAS) 2001, 2002, instituiram o processo
de regionalização do sistema. A partir de 2006 com o Pacto pela Saúde em vez de
normatização, privilegia-se a pactuação de compromisso este com destaque ao
aperfeiçoamento da gestão.
Dentre os mecanismos já instituídos para organização da área da formação
do SUS, citamos a importância da criação no ano de 2003 da Secretaria de Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), que tem em seu orgonograma, o
Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES), responsável pela
coordenação e implementação nacional da política de formação de pessoal da
saúde no nível superior e técnico-profissioanal.
Na perspectiva da estruturação de uma política que atendesse aos requisitos
dos princípios norteadores do sistema de saúde, foi instituída pelo Ministério da
Nacional de Educação Permanente, que foi alterada pela Portaria GM/MS nº 1996,
de 20 de agosto de 2007, pactuada pela Comissão Intergestores Tripartiti (CIT),
aprovada no Conselho Nacional de Saúde (CNS) e traça as diretrizes da Política
Nacional de Educação Permanente em Saúde. (BRASIL, 2007).
Esta política estabelece a criação dos Colegiados de Gestão Regional, com
papel de instâncias de pactuação permanente e cogestão cooperativa, e cria
também as Comissões Permanentes de Integração Ensino-Serviço (CIES),
instâncias intersetoriais e interinstitucionais que participam da formulação, condução
e desenvolvimento desta política. Define que “a educação permanente é
aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano
das organizações e ao trabalho”. (BRASIL, 2007.)
Um dos aspectos relevantes introduzido pelo Pacto pela Saúde é o destaque
dado a Educação Permanente, criando através de Portaria MS n.198 os Pólos de
Educação Permanente em Saúde, instâncias de articulações entre gestores,
instituições de ensino, serviços e controle social. (BRASIL, 2007).
Neste estudo os autores apontam como fundamental ao fortalecimento da
Política Nacional de Educação Permanente a implementação, a estruturação dos
Colegiados de Gestão Regional (CGR’s) e das Comissões Permanentes de
Integração Ensino-Serviço (CIES), envolvendo a descentralização da política de
saúde com ações de fortalecimento dessa política via qualificação dos trabalhadores
da saúde. (BRASIL, 2007, p.9).
É importante ressaltar que a formação profissional dos servidores públicos é
regulada legalmente na Constituição Federal, e em seus contratos de trabalho
através da legislação do Regime Jurídico Único (RJU).
No que se referem aos servidores Técnico-Administrativos em Educação
vinculados às Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) foram instituídos a
partir do ano de 2004, a nova estruturação e organização de cargos e carreiras por
meio de negociações do movimento dos servidores federais com o governo.
Assim, no ano de 2005 através de ampla negociação de representações das
categorias dos servidores federais e o Governo é instituída a Lei 11.091/2005, que
dispõe sobre Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação
(PCCTAE), mesmo não sendo instituído na íntegra o plano proposto pelas
capacitação profissional passam a ter destaque para o desenvolvimento na carreira
funcional.
Em referência a área da educação formal e a capacitação continuada são
criadas por decreto1: o Incentivo à Qualificação e Enquadramento por nível de
Capacitação–Decreto 5824/2006, as Diretrizes do Plano de Desenvolvimento dos
Integrantes do PCCTAE – Decreto 5825/2006, e a Instituição da Política e as
Diretrizes para o Desenvolvimento do Pessoal da Administração Pública
Federal-Decreto 5707/2006, que traz como instrumentos o Plano de Capacitação Anual, o
Relatório de Execução do Plano Anual de Capacitação e o Sistema de Gestão por
Competência, como também o Programa de Qualificação de Educação Profissional
(PQEP), por Resolução 16, do Conselho de Administração (CONSAD), de 17 de
agosto de 2006.
Outro instrumento de capacitação já instituído nas IFES no processo de
formação dos docentes e técnico-administrativos foi o Programa Institucional de
Capacitação Docente e Técnica (PICDT), substituído por orientação dos organismos
internacionais, entre os quais o Banco Mundial, na reforma educacional dos
governos Fernando Henrique Cardoso, pelo Plano de Qualificação Institucional (PQI)
no ano 2001 vinculado a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).
1
Esta nova determinação, com discurso moralizante de rever alguns
problemas do PICDT, tais como a predominância da decisão individual, baixo
retorno dos investimentos, reformulou este programa criando o Programa de
Qualificação Institucional (PQI) com critérios de produtividade.
O PQI, conforme a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), “que substituirá o PICDT, busca promover o desenvolvimento
institucional das públicas através da formação de docentes e excepcionalmente de
técnicos, preferencialmente no nível de doutorado, no contexto de projetos,
consubstanciados em ações de cooperação externa”. (CAPES, 2002, p.1)
Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), através da
Pró-Reitoria de Pós-Graduação, é instituído a partir da Resolução nº 72/2004 do
Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CONSEPE), o Programa de Qualificação
Institucional (PQI) da UFRN visava à formação pós-graduada de seus recursos
humanos docentes e técnicos administrativos do seu quadro permanente, tendo
como objetivo geral:
a) Apoiar os programas de Pós-Graduação “stricto sensu” que admitirem
para qualificação docentes e técnicos administrativos, possibilitando desta forma a
formação de mestres e doutores na própria Instituição;
b) Apoio à política de capacitação docente e técnica da UFRN;
c) Apresentar contra partida no financiamento dos programas que aderirem
ao PQI-UFRN,como forma de incentivo.2 (UFRN, 2004).
Quanto aos critérios de acessibilidade aos beneficiários do Programa, para
os docentes e Técnicos Administrativos em Educação da UFRN, há limitações em
seus critérios ao determinar:
Não afastar integralmente das atividades acadêmicas; Docentes ou Técnicos aposentados ou afastados por qualquer motivo não poderá integrar o PQI/UFRN; Deverá observar a duração do curso, definido no regimento Interno do programa e Resolução nº 72/2004-CONSEPE. (UFRN, 2004).
No ano de 2009, o Departamento de Serviço Social da UFRN faz adesão ao
PQI, com a inclusão de vagas aos Técnicos Administrativos no Mestrado em Serviço
Social, realizando a primeira seleção no ano de 2010.
2
Ressaltamos que este espaço acadêmico é importante na formação
permanente do assistente social, no entanto temos que atentar para qual direção
social e quais as condições este programa de incentivo tem proposto as suas
diretrizes da formação profissional.
Nosso estudo analisa a formação permanente do assistente social em
sentido ampliado, compreendendo desde o lócus do ambiente dos Hospitais
Universitários da UFRN, enquanto espaço de conexões de saberes3 de
conhecimentos construídos na atuação profissional nas áreas de ensino, pesquisa e
extensão, até as perspectivas e reais possibilidades de acesso a educação formal
em nível de pós-graduação lato-sensu e stricto sensu.
Sendo assim, o estágio curricular aproximadamente desde os anos de 1960,
e a inserção do Serviço Social no ano de 2011 na Residência Multiprofissional em
Saúde, são espaços concretos de articulação entre centros de formação e os
campos de intervenção. Entendemos que estas experiências são propiciadoras de
inovações e de articulações de seus conhecimentos teórico-metodológicos,
ético-políticos e técnico-operativos, prerrogativas estas essenciais ao conhecimento crítico
das determinações dos processos sociais que cercam as múltiplas expressões da
questão social da saúde pública.
Nesta investigação, um dos primeiros momentos foi à aproximação e revisão
da pesquisa bibliográfica, com ampliação do referencial teórico do tema, condição
sine qua non na apreensão da complexidade do objeto pesquisado, como reporta Netto (2001) “o sujeito, para recepcionar o objeto, tem que ser um sujeito ativo do
ponto de vista do conhecimento”, no entendimento que a imediaticidade dos fatos
não apresenta a sua expressão de verdade, sendo esta a razão da necessidade da
ciência.
O processo de elaboração do conhecimento exige a definição do caminho
que devemos trilhar na busca do desvelamento dos processos, que ocorrem na vida
e no trabalho dos assistentes sociais. Para tal percurso metodológico, nos
reportaremos a Netto com o intuito de fundamentar os princípios que serão adotados
nesta pesquisa.
3
A teoria é para Marx, a reprodução ideal do movimento do real do objeto do sujeito que pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do objeto que pesquisa. E esta reprodução que constitui propriamente o conhecimento teórico será tanto mais correta e verdadeira quanto mais fiel o sujeito for ao objeto. (NETTO, 2009, p. 663).
A partir desta reflexão, podemos dizer que o conhecimento teórico é
construído a partir da apreensão de toda a dinâmica e estrutura de como se
processa as particularidades do trabalho destes profissionais, em que condições
objetivas a imediaticidade de suas práticas são determinadas, e somente a
investigação por um sujeito ativo, que detenha conhecimentos, que possa criticá-los,
revisitá-los, pode trazer a elucidação e o conhecimento de sua existência real e
efetiva.
Neste entendimento nos reportamos a uma abordagem teórica
metodológica, que possibilitou apreender em sua totalidade o objeto de estudo e as
determinações sócio-históricas e estruturais que o cercam, tomando como referência
os estudos de Ianni (1986), Lukács (1972), Marx (1978, 1982, 1983, 1988),
Mészaros (2008), Netto (2008). Na análise da política econômica neoliberal e seus
rebatimentos nas políticas públicas e sociais, nos direcionamos por Anderson
(1995), Bering e Boschetti (2009), Oliveira (1988). Na temática da política de saúde
pública, especificamente em respeito à Reforma Sanitária, SUS, Hospitais
Universitários de Ensino, nos reportar aos estudos de Bravo (1996), Teixeira (2006),
Mota (2009), Nogueira (2009). No Serviço Social e no objeto de pesquisa, nos
fundamentamos em Baptista (1999), Costa (1998, 2009, 2010), Guerra (1995),
Iamamoto (2001, 2007, 2010) Martinelli (1994, 1999), Netto (1996), Nicolau (2005),
Vasconcelos (2002), Pontes (2009), Bardin (2004), entre outros autores que
trabalham as distintas temáticas.
O processo investigativo teve como base os pressupostos e técnicas da
pesquisa quantitativa e qualitativa, entendendo que estas não são excludentes e na
perspectiva que o conhecimento não é o da regularização dos dados, mas sim da
análise das mediações que se interpõem entre os sujeitos e o contexto social mais
amplo. A realidade é uma construção social da qual o investigador participa.
(BAPTISTA, 1999).
A pesquisa teve como objetivo geral apreender como se dá a formação
permanente do assistente social e a sua relação com iniciativas de inserção em
sensu, na área de eventos tais como congressos e seminários, articulação entre o ensino, pesquisa e extensão, determinantes para a competência profissional
pautada no atual projeto ético-político da profissão. Para tanto, consideramos
necessário identificar o número de profissionais que de alguma forma tem se
inserido em programas de educação permanente; mapear as modalidades de
inserção em cursos de Especialização, Mestrado, Doutorado; participação em
eventos locais, nacionais e internacionais; pesquisa e extensão, com a análise dos
limites e as contribuições que esta formação permanente traz ao exercício
profissional.
Essa realidade nos levou a indagações, que se constituiram motivações para
essa investigação, dentre as quais, destacamos:
1) Os Assistentes Sociais do HUAB e do HUOL da UFRN têm interesse de
atualização profissional?
2) Os Assistentes Sociais têm reivindicado e/ou tomado iniciativas para
obterem formação permanente?
3) Qual a relação entre a necessidade de formação permanente e as
possibilidades de atuação do assistente social?
4) Qual o entendimento e importância dada à atualização profissional como
fator fundamental às modificações e as exigências da
contemporaneidade?
A partir de tais questionamentos formulamos uma questão mais central, que
se constitui objeto desse estudo, que é a apreensão do significado atribuído pelos
assistentes sociais, bem como as iniciativas tomadas em relação à questão da
formação permanente, enquanto elemento prioritário a sua competência profissional
no contexto dos Hospitais Universitários da UFRN, enquanto unidades de ensino,
pesquisa e extensão.
Os sujeitos da pesquisa foram todos os assistentes sociais com vínculo com
a UFRN que atuam na área da assistência direta aos pacientes. Sendo 03 (três) do
Hospital Universitário Ana Bezerra, localizado no município de Santa Cruz/RN e 08
(oito) no Hospital Universitário Onofre Lopes, localizado em Natal/RN, lotado nos
referidos hospitais, há pelo menos 02 (dois) anos, vinculados a UFRN.
Ressaltamos que houve uma boa adesão das entrevistadas à pesquisa,
apenas (02) duas assistentes sociais do HUOL, não participaram deste estudo
Como procedimentos metodológicos inicialmente foram utilizados a pesquisa
bibliográfica para o estudo das categorias de análise, a pesquisa documental através
da análise de currículum vitae, modelo Lattes, as fichas funcionais dos setores de
Gerência de Pessoas das unidades hospitalares e da Diretoria de Desenvolvimento
de Pessoas (DDP/PROGESP) da UFRN e pesquisa de campo.
A partir da análise dos dados secundários elaboramos um roteiro de
entrevista semiestruturada, incluindo questões abertas e fechadas. Enquantocritério
de sigilo se utilizou para identificar cada sujeito, codinomes como preservação a
suas identidades.
O percurso do tratamento dos dados se realizou em várias fases.
Inicialmente foram feitas as anotações recolhidas das fichas funcionais dos sujeitos
da pesquisa, nos Banco de Dados da Diretoria de Desenvolvimento de Pessoas da
UFRN, fichas funcionais dos setores de Gerência de Pessoas das unidades
hospitalares, a partir das quais categorizamos os principais pontos chaves do roteiro,
buscando alcançar os objetivos da pesquisa, com a organização e descrição das
entrevistas, e prosseguimos nas fases da análise e interpretação dos dados.
Entre as diversas técnicas de pesquisa social, adotamos a análise de
conteúdo segundo Bardin (2004), como orientação teórico-metodológica para análise
e problematização dos conteúdos obtidos nas entrevistas semiestruturadas,
realizadas com os assistentes sociais, que atuam na assistência aos pacientes
internos nestas unidades hospitalares, sujeitos integrantes dessa pesquisa.
A estrutura desta dissertação para a exposição dos resultados da pesquisa
contempla quatro seções. A introdução enquanto primeira seção. Na segunda seção
abordamos a problematização das Políticas de Saúde e da Educação Permanente
de Saúde, no contexto da política neoliberal, de riscos de privatizações da saúde
pública, resgatando a importância da luta em prol da reforma sanitária ao
fortalecimento do Sistema Único de Saúde. Entendendo que é através de lutas
sociais que o SUS irá se constituir enquanto sistema de saúde, incluindo análise da
inserção e a reestruturação dos Hospitais Universitários, enquanto espaços de
formação da força de trabalho do SUS. Na terceira seção no processo de
aproximação do objeto de pesquisa expomos os resultados da pesquisa tendo como
referência a análise de documentos e das falas dos profissionais, momento de
extrema riqueza por proporcionar o entendimento que têm os sujeitos das
os limites, e possibilidades da formação permanente do assistente social. Em
seguida enquanto quarta seção se apresenta as considerações aproximativas.
Na análise dos conteúdos das falas das entrevistadas, observou-se como
consensual o reconhecimento de todas da viabilidade do SUS e os Hospitais
Universitários enquanto espaços de inserção dos assistentes sociais nas dimensões
de ensino, pesquisa e extensão.
A relevância dessa temática para o Serviço Social consiste na contribuição
que trará ao entendimento da importância da formação permanente no âmbito dos
Hospitais Universitários. Além disso, o estudo ao investigar as particularidades do
exercício profissional, possibilitará a análise de um dos problemas cruciais vividos
pelos profissionais do Serviço Social, expostos a uma intervenção refém do ativismo
e do imediatismo, gestadas por determinações sociais limitadoras de uma atuação
profissional na perspectiva do Projeto Ético-Político Profissional e do Projeto
Sanitário Brasileiro.
Assim sendo, partimos do pressuposto de que um dos desafios ao
profissional do Serviço Social consiste em buscar o entendimento crítico acerca dos
limites profissionais, que têm sido impostos à estruturação e à organização de seu
2. A CONFORMAÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO PERMANENTE DE SAÚDE NO CONTEXTO DA REFORMA SANITÁRIA E DO SUS: DESAFIOS AOS HU’S E A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL
2.1 OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS NO CONTEXTO DA REFORMA
SANITÁRIA-SUS: O DEBATE SOBRE A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
A crise do modelo econômico capitalista a partir da década de 1970, provoca
grave recessão mundial, emergindo mudanças estruturais em todos os níveis da
sociabilidade,redefinindo a função reguladora do Estado, minimizando a sua função
legitimadora nas políticas publicas e sociais, com um considerável corte aos direitos
sociais.
No Brasil esta década é permeada com a crise do modelo econômico dos
governos militares, responsáveis pelo começo do processo de dilapidação do Estado
brasileiro, em que a sociedade civil brasileira demonstrou uma enorme capacidade
de reação através da sua organização e mobilização social, dando início ao
processo de redemocratização do país.
Como já descrito por estudiosos, os movimentos sociais na década de 1980,
alcançaram patamares inéditos em nosso país, com restabelecimento das garantias
individuais e direitos políticos, após o período ditatorial. (BRAVO, 1996).
Bravo (1996) destaca que a redemocratização do país, ocorreu a partir de
uma grande mobilização da sociedade brasileira e das forças progressistas na
exigência de mudanças na Constituição Brasileira, dando início ao Processo
Constituinte através da convocação da Assembleia Constituinte, apresentando um
diferencial das anteriores, por criar espaços de participação da sociedade civil, o que
ocorreu no final da década de 1980.
A área da saúde pública foi marcada pelo Movimento Sanitário Brasileiro que
tem a sua origem nos meados dos anos 1970, com representação de setores
organizados da sociedade civil, os intelectuais, os profissionais de saúde, entre os
quais uma grande parcela de médicos dos departamentos de medicina preventiva4,
4
representantes sindicais, e os movimentos populares, período em que insatisfeitos e
criticando os modelos das políticas sociais vigentes, entre as quais a Política
Nacional de Saúde, desencaderam lutas organizativas, em prol da construção do
novo sistema, que em seus princípios e concepção pudessem conter e trazer a
universalização como princípio norteador ao direito a saúde pública.
Ao analisar a luta pela Reforma Sanitária,5 Teixeira (2006, p. 210), define
três aspectos determinantes:
A politização da questão da saúde visando aprofundar e difundir uma nova consciência sanitária; a alteração da norma legal necessária a criação do sistema único de saúde, a mudança do arcabouço e das práticas institucionais sob a orientação dos princípios democráticos.
Na construção dos preceitos legais para área da saúde pública, a 8ª
Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada em março de 1986, sintetizou as
principais propostas e embates vividos pelo movimento da reforma sanitária
brasileira e de seus opositores, os grupos empresariais, representados pelos líderes
da Federação Brasileira dos Hospitais e da Associação da Indústria Farmacêutica
(multinacional). Após o processo de disputa destes setores, e pressão popular, o
texto aprovado tem as diretrizes do movimento sanitário e da Reforma Sanitária, não
acatando as definições dos setores privados da saúde.
Na transitoriedade deste processo, eventos significativos foram realizados, dando base a novas proposições do movimento sanitário. O fato determinante neste
período foi à realização, da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em março de 1986,
em Brasília.
As definições elaboradas e propostas no relatório final desta Conferência,
modificam o conceito de saúde que até então predominava com a tradição curativa,
passando à concepção ampliada de saúde destacando os condicionantes e
determinantes sociais da saúde.
As diretrizes da Política de Saúde visavam o fortalecimento do setor público,
dando início à universalização do atendimento em detrimento do setor privado, a
descentralização política e administrativa, que culminaria com a criação em 1987 do
5
Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde Pública (SUDS), considerada a
reforma de maior impacto na área administrativa, por descentralizar poder e recursos
financeiros.
Em 1988, com o maior avanço nas reformulações administrativas, é criado e
instituído por Lei nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990, o Sistema Único de Saúde
(SUS), com princípios de universalização, integralidade, equidade, em uma rede
hierarquizada, regionalizada e descentralizada, com a participação da comunidade.
As mudanças introduzidas na atenção de saúde pelo SUS, segundo
Nogueira (2009) ao ampliar o conceito de saúde aos determinantes sociais,
redefinem a análise sobre o processo saúde-doença, ultrapassando os esquemas
tradicionais de prevenção e cura para o de promoção da saúde, incluindo-a como
um dos pilares estruturantes dos sistemas públicos de bem estar construídos no
século XX.
O Movimento Sanitário Brasileiro desde a sua origem até os dias atuais da
década de 2000, segundo Teixeira (2006) tem a sua identidade com projetos
societários6 que apontam para mudanças nas condições de vida da população
brasileira, em busca de fortalecer o sistema universal de saúde. No entanto, ao
privilegiar o aparelho de Estado como palco de luta, este movimento se afasta no
cotidiano da questão sanitária, ou seja, relega a um segundo plano as próprias
condições de saúde.
A burocratização da reforma sanitária, afasta a população da cena política, despolitizando o processo. A concretização da reforma tem dois elementos de tensão: o reformador, imprescindível para transformar as instituições e processos, e o revolucionário, que é a questão sanitária, só superada com a mudança efetiva nas práticas de saúde da população. (FLEURY, 1989 apud BRAVO, 2009, p.99).
As medidas implantadas na área da saúde pública têm sido deslocadas de
políticas e medidas capazes de impactar positivamente nas condições de vida da
população, além de ocorrer mudanças nos espaços institucionais das forças
progressistas empenhados com a Reforma Sanitária.
Ao final dos anos 1980 e por toda década de 1990, foram interpostos
diversos limites estruturais da contra-reforma do Estado, definidas pelos planos de
6
ajustes estruturais intrínsecos à comercialização do capital, cujo processo tem como
uma de suas finalidades redirecionarem o seu papel de provedor de políticas sociais
às determinações do mercado.
Neste contexto de avanço da hegemonia neoliberal e de retrocesso social, a
política de saúde defendida pelo projeto da reforma sanitária tem enfrentado
desafios na manutenção dos princípios do SUS, diante do avanço dos ajustes do
projeto privatista hegemônico da saúde vinculado ao mercado. Sob este prisma
Bravo (2009, p. 100-101) nos mostra que:
Algumas questões comprometeram a possibilidade de avanço do SUS como política social, cabendo destacar: o desrespeito ao princípio da equidade na alocação dos recursos públicos pela não unificação dos orçamentos federal, estaduais e municipais; afastamento do princípio da integralidade, ou seja, indissolubilidade entre prevenção e atenção curativa, havendo prioridade para assistência médico-hospitalar em detrimento das ações de promoção e proteção a saúde. A proposta de Reforma do estado para o setor saúde, ou contra-reforma, era dividir o SUS em dois – o hospital e o básico.
É no âmbito da crise, que os HU’s passam a se integrar ao novo sistema de
saúde buscando efetivar o que determina a Lei n. 8080 de 19 de setembro de 1990,
que traz em seu Art. 45 as seguintes definições:
Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados.
Em nosso país existem 148 hospitais de ensino vinculados ao SUS, sendo
46 (quarenta e seis) destas instituições da rede MEC, vinculados às Instituições
Federais de Ensino Superior (IFES), integrando a parte da estrutura administrativa
das Universidades, sem personalidade jurídica própria, sendo exceção o Hospital
das Clínicas de Porto Alegre.
O estado do Rio Grande do Norte dispõe de uma rede de HU’s com
prestação de serviços o nível de média complexidade desenvolvido respectivamente
pela Maternidade Januário Cicco (MEJC), Hospital de Pediatria (HOSPED), o
Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB) e de média e alta complexidade pelo
Em acordo com a política de saúde pública em nosso país, insere-se o
HUOL e o HUAB, enquanto integrantes da rede de hospitais universitários existentes
em nosso país, vinculados aos Ministérios da Educação e da Saúde, com definições
específicas a partir de seu nível de complexidade e de funções com atividades na
área de ensino, pesquisa e extensão e assistência a saúde pública, como ação
articuladora das referidas áreas.
O HUOL e o HUAB integram o complexo de saúde da UFRN, desenvolvem
ações no campo de ensino, da pesquisa, da extensão e da assistência. Funções que
os caracterizam para além de prestadores de serviços de saúde pública e os
qualificam como centros de formação de educação permanente e continuada para
profissionais de saúde, bem como de desenvolvimento de ciência e tecnologia para
área de saúde.
A partir da implementação do SUS, os hospitais universitários vêm passando
por uma reestruturação organizacional, não somente no que se refere ao seu
financiamento, mas também em novas definições do modelo de gestão,
consubstanciado aos princípios do SUS.
Convivem com uma imbricada e às vezes conflitante relação e vinculação
com os Ministérios da Educação e da Saúde. De acordo com Araújo e Bezerra
(2005), dentre as mudanças vivenciadas nos hospitais universitários da UFRN,
destaca-se a criação do Complexo de Atenção à Saúde da UFRN pela Resolução nº
004/2000, do Conselho Universitário (CONSUNI), de 28 de abril de 2000. No
entanto, esta coordenação da área de saúde dos hospitais universitários da UFRN,
foi extinta conforme consta no Regimento da UFRN de 2011 em seu “Art. 282. Fica
extinto o Complexo Hospitalar e de Saúde”.
O Complexo de Atenção a Saúde teve como um dos seus objetivos realizar
o acompanhamento deste processo de reestruturação dos serviços de saúde,
especialmente na regulação da prestação da assistência em nível de média e alta
complexidade,7 cujo eixo central é o seu caráter de formador para vários cursos do
campo de saúde, o que pode possibilitar articulações nas áreas de ensino, pesquisa,
extensão, assistência, na construção da efetivação da qualidade da assistência
prestada à população. 7
O Hospital Onofre Lopes, tem esta designação desde 1984, mas a sua
criação data de 1885, como Hospital da Caridade, que o caracteriza como o primeiro
hospital público instituído no estado do Rio Grande do Norte. Em sua trajetória
passa por várias mudanças e designações tais como: em 1935, como Hospital
Miguel Couto, vinculado ao governo do Estado e em 1960 passa a ser denominado
Hospital das Clínicas, assumindo o papel de Hospital Escola, vinculado ao Ministério
da Educação do governo federal, integrante da UFRN, definindo além da assistência
as áreas de ensino, pesquisa e extensão, sendo campo de formação para discentes
de medicina e demais profissões de saúde.
Em 1984, por reconhecimento ao Dr. Onofre Lopes, primeiro reitor da UFRN
no período de 1961 a 1973, médico, professor de medicina e um dos idealizadores
da vinculação do hospital a diversos campos de ensino, a instituição passa a ser
denominada em 1984, de “Hospital Universitário Onofre Lopes, por Resolução de n⁰
68/68 do Conselho Superior da UFRN.”
O Hospital Universitário Ana Bezerra teve a sua fundação em 1952, como
uma Associação de Proteção à Maternidade e a Infância de Santa Cruz, e em 1966
ocorreram mudanças em sua organização, assumindo além da prestação à
assistência a saúde, o campo de estágio em diversas áreas de ensino da UFRN,
através da implantação do programa de extensão universitária – Centro Rural
Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC). Este programa foi
criado na Administração do Reitor, profº Dr. Onofre Lopes, nos anos de 1960 quando
foi instituído estágio nos cursos de medicina, farmácia, odontologia, serviço social,
pedagogia entre outros.
Estes hospitais congregam dentre outras atividades, o ensino, a pesquisa e
a extensão, abrangendo desde a formação em graduação à pós-graduação. No que
se refere à pós-graduação são desenvolvidos programas de especialização,
residência médica,residência multiprofissional em saúde, mestrado e doutorado. O
programa de Residência Multiprofissional em Saúde tem a sua instituição a nível
nacional, através da Lei de n⁰ 11.129, de 30 de junho de 2005. No ano de 2010 foi o
programa foi implantado nos hospitais da UFRN nas áreas de Enfermagem,
Fisioterapia, Farmácia, Nutrição, Psicologia, e em 2011 o Serviço Social passa a
integrar as demais profissões.
Constituem-se também campo de estágio curricular para os diversos
farmácia, fisioterapia, medicina, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social,
dentre outros, atendendo aos preceitos da formação acadêmica, ao
desenvolvimento da qualificação profissional.
Na perspectiva de situar as inserções dos profissionais do Serviço Social na
equipe de saúde dos hospitais universitários serão enfocadas alguns elementos das
mudanças ocorridas na política de saúde, em específico com a implantação do SUS,
este regido pela Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, vislumbrou avanços de
direitos constitucionais na esfera social, com as definições da universalidade do
acesso, a integralidade e à equidade.
Os limites impostos a partir da década de 1990 em nosso país pela
contra-reforma8 da saúde sob a égide neoliberal, ao redefinir as funções do Estado, com a
ampliação de sua presença no setor produtivo e retração de sua participação no
setor público, como cita Bravo (2009) trouxe drásticas reduções dos direitos sociais
e trabalhistas, como a precarização do trabalho, desemprego estrutural, desmonte
da previdência pública, sucateamento da educação e da saúde.
A partir da hegemonia neoliberal9 as conquistas dos movimentos sociais da
saúde, consubstanciadas no Projeto da Reforma Sanitária, sofrem retrocesso e a
desconstrução dos avanços preconizados na legislação do SUS com a supremacia
do projeto privatista de saúde, o qual subordina a política de saúde aos interesses
do mercado, provocando alterações e o distanciamento entre a legalidade e a
efetividade.
8
Contra-reforma -“Mudanças constitucionais com o rótulo pirata de “reformas” têm sido um sistemático desmonte da estrutura estatal, com o objetivo mais grave e profundo de atingir e fazer retroceder os direitos sociais – mas nessa esteira, nem os direitos civis e políticos estarão a salvo – cuja construção foi produto da história de trabalhadores lutando contra a total mercantilização; vale dizer, impondo limites à exploração. Este é o caráter mais profundo dessas “reformas”. (OLIVEIRA, 2003, p.16).
9
Com a determinação dos organismos internacionais, em específico no Brasil,
o Banco Mundial, tem como proposta para saúde a divisão do SUS em dois – a
assistência hospitalar e a básica, fortalecendo a assistência médico-hospitalar e
restringindo as ações de promoção e proteção da saúde. O Estado teria a função de
garantir o atendimento às populações vulneráveis e o mercado de atender aos que
tem acesso a medicina privada.
Nestas últimas décadas, os 46 (quarenta e seis) Hospitais Universitários
vinculados às IFES têm uma transitoriedade que perpassa a política de educação àa
inclusão da política de saúde, tendo como papel a incorporação de novas
tecnologias, a formação de profissionais de saúde, com a responsabilidade de
interferir na melhoria das condições de saúde da população, indo além do
cumprimento da sua função de prestadores de serviços.
As medidas do Banco Mundial irão repercutir em todos os níveis de saúde
pública no país, em relação aos HU’s quando foram instituídas várias modificações
estruturais através de Portarias Interministeriais: de nº 1.000 de 15 de abril de 2004
que unifica todos os hospitais de ensino das universidades, às escolas privadas de
medicina: a Portaria de nº 4 de 29 de abril de 2008, que iguala os hospitais
universitários a qualquer hospital que exerça a função de ensino, com definições de
“novos modelos” de gestão. (CISLAGHI, 2011, p.57)
Entretanto, em decorrência das determinações estruturais das políticas de
saúde na década de 1990, têm ocorrido obstruções e hiatos entre os preceitos legais
e as condições objetivas de sua operacionalização. O que resultou segundo
Machado e Kucuchenbecker (2007) em uma política limitadora, desviando o
orçamento das áreas de ensino e pesquisa para área de infraestrutura da prestação
de serviço, e consequentemente reproduzindo a lógica dos HU’s como prestadores
de serviços distanciando-os do seu objetivo de parceria e fortalecimento do SUS.
Estes autores também analisam dentre as iniciativas tomadas as que
tiveram mais destaque no fortalecimento dos HU’s ao SUS, que foram à certificação
e a contratualização prevista no art. 37, parágrafo 8º da Constituição Federal, que
trazem o compromisso a partir de metas de desempenho entre os gestores dos
Hospitais e do SUS, dando autonomia gerencial, orçamentária e financeira e com
perspectiva de desenvolver melhorias nas práticas de gestão e de melhorar a
referência e contra-referência entre os níveis de complexidade.
De responsabilidade dos gestores dos sistemas locais de saúde, a contratualização10 pressuporia razoável grau de desenvolvimento das práticas de gestão e também a existência de mecanismos organizados de referência e contra-referência entre os níveis de complexidade. Tais condições ainda não foram razoavelmente equacionadas no SUS.
Em 27 de janeiro de 2010, é instituído por Decreto nº 7.082, o Programa de
Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF),11 trazendo em seu
bojo a lógica de contratos de gestão e estabelecendo a obrigatoriedade de um
estudo diagnóstico situacional que pudesse apontar as saídas das dificuldades
estruturais que enfrentam estas instituições sejam no plano de financiamento, da
infraestrutura física, do parque tecnológico e de seus recursos humanos,
compartilhado pelos gestores, com apoio dos ministérios da Educação, Saúde e do
Planejamento.
A partir deste estudo, os 04 (quatros) hospitais universitários da UFRN, têm
como proposta a melhoria nas áreas de financiamento, recursos de infraestrutura
física, parque tecnológico, e de seus recursos humanos.
Em geral, a proposta de Reestruturação dos Hospitais Universitários
Federais (REHUF) aponta como principais problemas para intervenção e alteração
10
“O papel de norteador das necessidades locais de formação de recursos humanos atribuídos aos gestores locais do SUS através do processo de contratualização necessitam levar em conta eventuais conflitos de competência decorrentes da articulação com as demais instâncias formadoras de profissionais de saúde. A contratualização deve ainda pressupor o aperfeiçoamento dos mecanismos existentes de controle e avaliação. O monitoramento das metas pactuadas pelos contratos firmados entre os HU´s e os gestores do SUS, cabe à Comissão Permanente de Acompanhamento de Contratos. De forma mais ampla, questões como transparência, controle social e compromisso com resultados (accountability) ainda estão por ser melhor compreendidas e exercidas na conformação das políticas públicas. Uma vez mais, a singularidade dos HU’s, especialmente no que se refere a sua identidade acadêmica, implica conotação mais complexa a essa matéria”. (MACHADO; KUCUCHENBECKER, 2007, grifo nosso).
11