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O trabalho dos assistentes sociais no âmbito hospitalar: as particularidades da sua inserção no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), em Natal/RN/

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

MÔNICA MATIAS RAFAEL DO NASCIMENTO

O TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ÂMBITO HOSPITALAR: AS PARTICULARIDADES DA SUA INSERÇÃO NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

ONOFRE LOPES (HUOL), EM NATAL/RN.

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O TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ÂMBITO HOSPITALAR: AS PARTICULARIDADES DA SUA INSERÇÃO NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

ONOFRE LOPES (HUOL), EM NATAL/RN.

Orientadora: Profa. Dra. Rita de Lourdes de Lima

NATAL/RN 2011

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Nascimento, Mônica Matias Rafael do.

O trabalho dos assistentes sociais no âmbito hospitalar: as particularidades da sua inserção no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), em Natal/RN / Mônica Matias Rafael do Nascimento. - Natal, RN, 2011.

195 f.

Orientadora: Drª. Rita de Lourdes de Lima.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Serviço Social.

1. Serviço Social - Dissertação. 2. Trabalho – Assistentes sociais – Dissertação. 3. Saúde - Dissertação. 4. Reforma sanitária. 5. Projeto – Ético-Político profissional – Dissertação. I. Lima, Rita de Lourdes de. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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MÔNICA MATIAS RAFAEL DO NASCIMENTO

O TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ÂMBITO HOSPITALAR: AS PARTICULARIDADES DA SUA INSERÇÃO NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

ONOFRE LOPES (HUOL), EM NATAL/RN.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

BANCA EXAMINADORA

Dra. Maria Dalva Horácio da Costa Examinadora - UFRN

Dra. Moema Amélia Serpa Lopes de Souza Examinadora - UEPB

Dra. Rita de Lourdes de Lima Orientadora - UFRN

Dra. Denise Câmara de Carvalho Suplente - UFRN

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Aos meus pais, Rafael e Isaura (in memorian), que, durante esta caminhada, partiram para uma viagem inesquecível.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de todas as coisas.

Aos meus filhos, Thiago e Thalita, pela compreensão do tempo ausente do cotidiano de suas vidas.

Ao meu companheiro José Antônio Rafael, pela prova de carinho demonstrada neste percurso, buscando, à sua maneira, incentivar-me e encorajar-me nas dificuldades vivenciadas durante este caminho.

Ao meu irmão Marcelo, minha cunhada Flávia, meus sobrinhos Vinícius e Ives, pela família linda.

A minha amiga Nelma, pela prova de carinho e afeto demonstrados nos momentos mais difíceis da minha vida.

Aos amigos e anjos Andréa, Aurita, Celma, Fernanda, George, Gisélia, Isabel, João Batista, Maria da Guia e Tia Lúcia; não há palavras que possam traduzir o conforto e carinho recebidos. Obrigada por tudo.

A toda equipe do Setor de Internamento do HUOL, em especial, a Augusta e a Venina, que demonstraram garra e solidariedade para me fortalecer neste processo de amadurecimento teórico-metodológico.

A toda equipe que compõe a diretoria do HUOL: ao diretor geral, Ricardo Lagreca, a diretora administrativa, Francisca Zilmar, a diretora de enfermagem,

Neuma Oliveira, a diretora de farmácia, Mabel Mendes, ao diretor médico, Gilmar

Amorim, ao diretor de ensino e pesquisa, Irami Araújo Filho, ao diretor de engenharia clínica, Davidson Rogério, ao vice-diretor José Euber e ao diretor de recursos humanos, João Alves e toda a equipe administrativa.

Aos meus amigos do Departamento de Atenção ao Educando (DAE) SME/Natal, pelo carinho.

À orientadora Rita de Lourdes, pelo compartilhar cuidadoso e dedicado na produção deste estudo e, principalmente, pela simplicidade e dedicação, que tornaram possíveis a concretude deste trabalho.

Aos membros da banca:

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À Profª Moema Amélia Serpa, por ter aceito o convite para participar deste momento tão importante em minha vida acadêmica.

À Profª Denise Câmara, pelas contribuições dadas por ocasião da qualificação do projeto de pesquisa, bem como pelas orientações fornecidas durante todo o processo de construção deste estudo.

Aos professores do mestrado, pela dedicação, promoção de debates e momentos tão valorosos ao nosso crescimento profissional e acadêmico.

A turma de 2009 do Mestrado em Serviço Social da UFRN, pela possibilidade de partilhar com companheiros que de fato vivenciam a produção do conhecimento, corajosos, destemidos diante dos desafios vividos neste processo.

A todas as colegas assistentes sociais do HUOL que, carinhosamente, participaram deste estudo e tornaram possível este momento.

Aos companheiros que compõem as divisões de Fisioterapia, Nutrição, Serviço Social, Psicologia e Arquivo de Documentação e Estatística, pelo apoio dado na consecução deste trabalho.

A Saudade, da SMS/Natal, e a Waldemar, da SESAP/RN, pelas contribuições pertinentes ao desenho da saúde pública do Rio Grande do Norte.

A Sanara Cely, Shirley Carvalho e Antônio Melo, pela competência e revisão deste trabalho em seus aspectos normativos.

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RESUMO

Esta pesquisa buscou analisar o trabalho dos assistentes sociais, no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), tendo como recorte analítico o processo de contratualização do HUOL com o Sistema Único de Saúde (SUS), que se configurou, a partir de 2004. Assim, este estudo procurou apreender os limites e possibilidades do trabalho do assistente social no HUOL, analisando como as determinações deste tempo de reforma do Estado, reestruturação e tensão entre ampliação/redução dos direitos sociais e trabalhistas, rebatem no exercício profissional dos assistentes sociais inseridos no processo coletivo de trabalho em saúde. A partir de um referencial teórico-metodológico materialista histórico e dialético, realizamos pesquisa bibliográfica, na qual desenvolvemos leituras e fichamentos de textos, artigos, livros, que enfocassem as categorias centrais do estudo, quais sejam: Trabalho, Serviço Social, Saúde, Reforma Sanitária, Projeto ético-político profissional. Operacionalizamos, também, uma pesquisa documental, acerca da Política de Saúde Pública, SUS e de Educação, bem como pesquisa de campo, na qual realizamos entrevistas com 11 assistentes sociais, lotadas no quadro de pessoal do HUOL. Concluímos que as assistentes sociais não participaram do processo de discussão da contratualização do HUOL, com a Secretaria Municipal de Saúde de Natal, RN, gestor pleno de saúde e que a redefinição do acesso dos usuários, via regulação de referência – contra referência aos serviços disponibilizados pelo hospital trouxe como principais demandas ao Serviço Social as orientações a respeito da funcionalidade do SUS, bem como a intervenção do assistente social na luta pela garantia deste acesso. Porém, os dados mostram que a ampliação das demandas que requerem a intervenção do assistente social do HUOL está comprometida em virtude da redução desses profissionais, fato que se agravou nos últimos dezesseis anos. Tais condições inflexionam as possibilidades de materialização do projeto ético-político profissional, mesmo que estas profissionais se preocupem e busquem o aprimoramento intelectual, a qualidade do serviço prestado e a garantia dos direitos sociais dos usuários.

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ABSTRACT

This study aimed to analyze the work of social workers at the Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), with the analytical approach the contracting process with the HUOL with the National Health System (SUS), which is set from 2004. Thus, this study sought in times of state reform, restructuring and tension between enlargement / reduction of social and labor rights, understanding the limits and possibilities of social work in HUOL, analyzing how these determinations bounce in the practice of social workers included in the collective process of health work. From a theoretical and methodological historical and dialectical materialism, we conducted literature search, in which developed book report and readings of texts, articles, books that focus on the central categories of the study, namely: Work, Social Work, Health, Health Reform , Project ethical and professional politician. Operationalized also a documentary research, on the Brazilian Public Health Policy, (SUS) and of the Education, as well as research field in which we conducted interviews with 11 social workers, employees packed the HUOL. We conclude that social workers did not participate in the discussion process of contracting the HUOL with the Municipal Health Secretariat of Natal, RN, manager of health and full resetting of user access, via reference setting - counter-referral services provided by the hospital brought the main demands on Social Work guidance regarding the functionality of SUS, and the social intervention in the struggle to guarantee such access. However, the data show that the expansion of demands that require the intervention of the social worker at HUOL is not associated with quantitative growth of these professionals need. Such conditions inflect the possibilities of materialization of the professional ethical-political project, even though that these professionals worry and seek the intellectual improvement, quality of service and to guarantee the social rights of users in the professional practice everyday.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Possibilidades e limites da Reforma Sanitária... 89

Quadro 2: Evolução da implantação das equipes da Estratégia Saúde da família e Saúde Bucal no Rio Grande do Norte... 97

Quadro 3: Rede própria de Serviços Municipais de Saúde... 99

Quadro 4: Unidades da Estratégia Saúde da família por Distrito Sanitário... 100

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Demonstrativo da produtividade ambulatorial do HUOL em

2010... 107

Tabela 2: Demonstrativo da produtividade ambulatorial do HUOL no período de janeiro a abril 2011... 107

Tabela 3: Demonstrativo da produtividade de internamento do HUOL em 2010... 107

Tabela 4: Demonstrativo da produtividade de internamento do HUOL no período de janeiro a abril 2011... 108

Tabela 5: Faixa etária das assistentes sociais do HUOL... 132

Tabela 6: Estado civil das assistentes sociais do HUOL... 133

Tabela 7: Vínculo Empregatício das assistentes sociais do HUOL... 133

Tabela 8: Carga horária das assistentes sociais do HUOL... 133

Tabela 9: Renda/remuneração média do profissional assistente social do HUOL... 134

Tabela 10: Renda familiar das assistentes sociais do HUOL... 134

Tabela 11: Ano da conclusão da graduação das assistentes sociais do HUOL... 136 136 Tabela 12: Titulação das assistentes sociais do HUOL... 136

Tabela 13: Participação em atividades de capacitação / qualificação das assistentes sociais do HUOL... 137

Tabela 14: Frequência em atividades de capacitação / qualificação das assistentes sociais do HUOL... 138

Tabela 15: Ano de Admissão no Hospital Universitário Onofre Lopes/UFRN das assistentes sociais do HUOL... 139

Tabela 16: Tempo de Trabalho das assistentes sociais do HUOL... 140

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LISTA DE SIGLAS

ABESS Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social

ABPESS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social ABRAHUE Associação Brasileira de Hospitais Universitários e do Ensino ABRASCO Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

AIS Ações Integradas de Saúde

APH Adicionais de Plantão Hospitalar

BA Bahia

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CAPs Caixas de Aposentadorias e Pensões

CAPs Centro de Atenção Psicossocial

CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CDI Centro de Diagnóstico por Imagem

CEBES Centro Brasileiro de Estudos da Saúde

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CFS Contribuição sobre a Folha de Salários

CFT Comissão de Finanças e Tributação

CHS Complexo Hospitalar e de Saúde

CIENTEC Ciência, Tecnologia e Cultura

CIPLAN Comissão Interministerial de Planejamento

CNE Conselho Nacional de Educação

CONASP Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária COSEMS Conselho Municipal de Secretários de Saúde

CONSUNI Conselho Universitário

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

DATAPREV Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social

DDRH Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos

DESSO Departamento de Serviço Social

DF Distrito Federal

DMP Departamento de Medicina Preventiva

DNERu Departamento Nacional de Endemias Rurais

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DOU Diário Oficial da União

DRU Desvinculação das Receitas da União

DSS Divisão de Serviço Social

EBSERH Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S. A. ENESSO Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social

ESF Estratégia Saúde da Família

FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

FAS Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social

FBH Federação Brasileira de Hospitais

FUNRURAL Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural FUNPEC Fundação Norte Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura HOSPED Hospital de Pediatria

HUAB Hospital Universitário “Ana Bezerra” HUEs Hospitais Universitários de Ensino HUOL Hospital Universitário Onofre Lopes IAPs Institutos de Aposentadoria e Pensões IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEL Instituto Evaldo Lodi

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social INPS Instituto Nacional da Previdência Social

LBA Legião Brasileira de Assistência

LOS Lei Orgânica da Saúde

MDB Movimento Democrático Brasileiro

MEC Ministério da Educação e Cultura

MEJC Maternidade Escola “Januário Cicco”

MESP Ministério da Educação e Saúde Pública

MG Minas Gerais

MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social MRSB Movimento da Reforma Sanitária Brasileira

MS Ministério da Saúde

MTIC Ministério do Trabalho indústria e Comércio

NESC Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva

NOAS Norma Operacional da Assistência à Saúde

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OMS Organização Mundial da Saúde

OPAS Organização Pan-americana de Saúde

PACHA Programa de Assistência e Controle da Hipertensão Arterial

PAIS Programa de Ações Integradas de Saúde

PCCTAE Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação

PE Pernambuco

PECD Programa de Educação e Controle da Diabetes

PIASS Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento no Nordeste

PIB Produto Interno Bruto

PL Projeto de Lei

PLC Projeto de Lei da Câmara

PNH Política Nacional de Humanização

PNUD Programa Nacional das Nações Unidas

PPA Plano de Pronta Ação

PSF Programa de Saúde da Família

PT Partido dos Trabalhadores

PREVSAÚDE Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde PRORURAL Programa de Assistência ao Trabalhador Rural REHUF Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais

RN Rio Grande do Norte

RO Roraima

SADT Serviços de Apoio Diagnóstico e Terapêutico SAME Serviço de Arquivo Médico e Estatística

SAMU Serviço de Atendimento Móvel às Urgências

SAS Secretaria de Assistência a Saúde

SCODE Serviço de Cirurgia da Obesidade e Doenças Relacionadas

SESAP Secretaria Estadual de Saúde Pública

SM Salário Mínimo

SINPAS Sistema Nacional da Previdência Social

Sintest Sindicato Estadual dos Trabalhadores em Educação do Ensino Superior

(15)

SMS Secretaria Municipal de Saúde

SS Serviço Social

SSAP Secretaria de Estado da Saúde Pública

SUDS Sistema Único Descentralizado de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCG Termo de Compromisso de Gestão

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

URSAP Unidade Regional de Saúde Pública

UTAD Transplante Renal, Unidade de Tratamento do Alcoolismo e outras Dependências

(16)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 16

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE CAPITALISMO E REESTRUTURAÇÃO

PRODUTIVA... 31

2.1 A LÓGICA CAPITALISTA E SEU PROCESSO DE ACUMULAÇÃO... 31

2.2 O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO CAPITAL... 37

2.3 AS IMPLICAÇÕES DA CRISE DO CAPITAL: O NEOLIBERALISMO E AS POLÍTICAS SOCIAIS NO MUNDO... 48 2.3.1 O neoliberalismo e as políticas sociais no Brasil... 52

3 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) NO CONTEXTO NEOLIBERAL

BRASILEIRO... 63 3.1 UMA SÍNTESE DO PERCURSO HISTÓRICO DA SAÚDE NA CONSTRUÇÃO DO ESTADO NACIONAL NO BRASIL... 63 3.2 O MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)... 75 3.3 O SUS E A HEGEMONIA DO PROJETO NEOLIBERAL: ELEMENTOS

PARA O DEBATE... 84 3.4 CONTEXTUALIZANDO O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE, NA CIDADE DO

NATAL/RN... 91 3.5 CARACTERIZANDO O CENÁRIO DA PESQUISA: HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES... 103

4 O SERVIÇO SOCIAL NO HUOL, DEMANDAS, LIMITES E

COMPETÊNCIAS... 111

4.1 EM TEMPOS DE CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: UMA ANÁLISE DO

EXERCÍCIO PROFISSIONAL DOS (AS) ASSISTENTES SOCIAIS NO NO CONTEXTO BRASILEIRO... 111

4.1.1 O Serviço Social no Hospital Universitário Onofre Lopes: algumas

considerações... 126

4.2 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO HUOL: REFLETINDO SUAS

(17)

4.2.1 Demandas e respostas do Serviço Social... 154

4.2.2 Os limites e possibilidades do Serviço Social no contexto do HUOL... 166

5 CONCLUSÃO... 174

REFERÊNCIAS... 181

ANEXOS... 190

ANEXO 1 – PARECER DO CEP DO HUOL... 191

APÊNDICES... 192

APÊNDICE 1 – TCLE... 193

(18)

1 INTRODUÇÃO

Este estudo apresenta uma análise das demandas que chegam ao Serviço Social do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL)1, bem como das respostas dadas pelos profissionais no cotidiano do seu fazer profissional, tendo como recorte histórico o ano de 2004, que marca a contratualização dessa instituição hospitalar de ensino com o Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade do Natal, Rio Grande do Norte.

O HUOL integra o Complexo Hospitalar e de Saúde (CHS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) do qual também fazem parte a Maternidade Escola “Januário Cicco” (MEJC), o Hospital de Pediatria Professor Heriberto Ferreira Bezerra (HOSPED), localizados em Natal/RN e o Hospital Universitário “Ana Bezerra” (HUAB), localizado no município de Santa Cruz/RN.

Propomo-nos a analisar o fazer profissional dos assistentes sociais no HUOL, compreendendo que este estudo exigiu uma aproximação multifacetada com as variadas determinações que envolvem o cotidiano destes profissionais.

Consideramos o trabalho2 dos assistentes sociais o processo de reflexão-ação desses profissionais, diante dos limites e das possibilidades concretas que vicejam nos espaços institucionais de saúde na sua relação com os usuários, principalmente com os segmentos populares.

Neste percurso, compreendemos que é importante resgatarmos a historicidade de nossa formação acadêmica, que se iniciou no 1º semestre de 1985, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Escola de Serviço Social, na Praia Vermelha; e que naquela época vivíamos um contexto histórico brasileiro de luta pela liberdade de expressão e pelos direitos sociais.

Tal movimento de contestação e rebeldia vicejava na academia, nas ruas, na luta dos movimentos sociais e demais espaços societários, que após um longo período de ditadura militar, 1964 – 1985, marcavam presença na sociedade em prol da conquista de direitos sociais universais de cidadania, que foram violentamente

1 O HUOL localiza-se na Avenida Nilo Peçanha, 620, Petrópolis, Natal, RN.

2 A categoria trabalho utilizada neste estudo exprime a natureza da ação profissional dos assistentes

(19)

negados à classe trabalhadora e demais organizações da sociedade civil. E, por isso, a organização dos movimentos sociais buscava junto ao Estado o resgate do seu papel de mediador, na consecução das políticas sociais, na perspectiva de direito social.

Assim, rememorar o Serviço Social nos anos 80 e 90 do século XX requer também fazer uma sintética retrospectiva da conjuntura sócio-política deste momento histórico, que para a sociedade brasileira tem um significado sócio-político muito importante. Neste período, entre outros acontecimentos, destacou-se a ascensão dos movimentos sociais que, após anos de clandestinidade e repressão, ganharam, através de lutas, espaços nas ruas e no cenário político. A aprovação da Constituição de 1988 é fruto desta conjuntura e esta efervescência político-social da sociedade brasileira se reflete na reorientação do projeto político do Serviço Social, pois:

[...] É no quadro dessas profundas modificações porque passou a sociedade brasileira, que se explica o florescimento de um processo de lutas democráticas, cuja visibilidade no cenário político só se dá no último quartel da década de 70. Tal processo condiciona, fundamentalmente, o horizonte de preocupações emergentes no âmbito do Serviço Social brasileiro, exigindo novas respostas profissionais. (IAMAMOTO, 2008b, p.223).

As transformações ocorridas na sociedade brasileira, a partir dos anos 1980, representaram a conquista da organização política de diversos segmentos da sociedade que, através de um movimento de resistência e rebeldia, conseguiram recolocar na pauta da agenda do Estado direitos duramente sufocados nos anos de ditadura e autoritarismo das décadas de 1960 e 1970.

As mudanças vivenciadas na sociedade brasileira, a partir dos anos 1980, repercutiram nas discussões e no debate que vicejaram na categoria profissional dos assistentes sociais e culminaram com a ruptura de caráter teórico e prático-político com a herança conservadora, que pressupunha uma perspectiva de análise societária com o viés determinista e a-histórico, o qual contribuía para ocultar e ou mistificar as contradições que perpassam a sociedade capitalista.

(20)

Nesse período, a categoria conseguiu dar importantes passos no sentido de ultrapassar uma visão doméstica, familiar e consensual das relações profissionais. Destarte, as polêmicas teóricas e políticas foram estimuladas, contribuindo para o desenvolvimento de uma visão essencialmente crítica nesta órbita profissional: crítica na explicação da sociedade e do exercício profissional nela inscrito; e crítica quanto ao ideário profissional, isto é, quanto ao modo de pensar construído em sua trajetória histórica. Esse esforço de re-leitura teórica e metodológica se desdobrou em uma crítica marxista dos próprios “marxismos” presentes no Serviço Social, a partir de suas incorporações pelo movimento de reconceituação. (IAMAMOTO, 2008b, p.235).

Nesse sentido, observa-se que a discussão teórico-metodológica que norteia o repensar do Serviço Social nas duas últimas décadas tem demonstrado significativas contribuições e reflete o amadurecimento da categoria profissional.

A respeito dessa assertiva, sobre o debate relacionado aos fundamentos do Serviço Social e seus eixos temáticos, destacamos que:

[...] o resgate da historicidade da profissão, a crítica teórico-metodológica tanto do conservadorismo quanto da vulgarização marxista e a ênfase na política social pública, no campo das relações entre o Estado e a sociedade civil. (IAMAMOTO, 2008b, p.236)

Pensar o Serviço Social propositivo frente à questão social no capitalismo contemporâneo requer muito mais do que posições heróicas ou românticas; suscita neste profissional inscrito na divisão sócio-técnica do trabalho, condições teóricas e competências não tecnicistas, para poder contribuir efetivamente a favor de um projeto societário que refute a naturalização da desigualdade social.

Neste sentido, é importante resgatarmos as particularidades vivenciadas na categoria profissional que, de acordo com Iamamoto (2008b) se traduziram em alterações nos campos do ensino, pesquisa e espaços organizacionais do Serviço Social.

O Serviço Social, ao afirmar o compromisso com os direitos sociais das classes subalternizadas, reafirma uma postura hegemônica no seio da profissão, na luta contra o capital. Este processo suscitou nos assistentes sociais a necessidade de refletir sobre o seu fazer profissional e suas competências.

(21)

Social (1993) e na proposta das Diretrizes Curriculares para a Formação Profissional em Serviço Social (CRESS, 2010).

Desta forma, o Código de Ética Profissional, a lei que regulamenta a profissão do Assistente Social e os demais dispositivos legais que dispõem sobre a política de saúde e demais políticas sociais são instrumentos jurídicos e metodológicos que contribuem no exercício profissional, face ao momento contemporâneo de redefinição das políticas públicas e de acirramento da questão social.

Em outros termos, todo este percurso do projeto profissional do Serviço Social se consubstancia em respostas, cujo exercício profissional vem tecendo limites e possibilidades nas mediações sociais que permeiam o campo do trabalho do assistente social, nas mudanças decorrentes do padrão de acumulação do capitalismo contemporâneo, cujas medidas de ajustes fiscais, mundialização do capital, precarização do trabalho, entre outros temas tem recrudescido as expressões da questão social.

Desta forma, a opção pela análise do fazer profissional do assistente social no HUOL não foi aleatória; ela expressa nosso envolvimento com este espaço de atuação profissional, que remonta aos tempos da graduação, no período de conclusão do estágio curricular em 1989. Naquela época, as transformações que perpassavam as instituições de saúde despertaram nossa atenção, o que resultou em nosso interesse em estudar a política pública de saúde vigente, o Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS)3 e suas repercussões no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Algum tempo depois, já em 1995, no VII Curso de Especialização em Serviço Social, promovido pelo Departamento de Serviço Social (DESSO) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cuja área temática era Política Social, nosso projeto de pesquisa retomou as indagações que circundam a temática da política de saúde brasileira, o Sistema Único de Saúde4 (SUS). Naquele período,

3 O Sistema Único Descentralizado de Saúde, SUDS, foi criado em 1987 e objetivava garantir para o

sistema de saúde os princípios de universalização, equidade, descentralização, regionalização, hierarquização e participação comunitária. Além disso, “este sistema tinha a pretensão de garantir a viabilidade de direcionar os recursos federais para os municípios, sem que estivesse explicitada uma política de municipalização.” (ESCOREL et al, 2005, p.79).

4 O Sistema Único de Saúde (SUS) é fruto de um movimento histórico brasileiro de setores

(22)

tomamos como objeto de estudo: “A universalização do acesso aos serviços de saúde”, analisando especificamente o caso do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL/UFRN).

Nesse percurso, este tema nos instiga e ao mesmo tempo nos apaixona. A nossa inserção há 16 anos como assistente social no HUOL revela nossa motivação em buscarmos, através dessas reflexões, consubstanciar e fortalecer o nosso esforço de fundamentar nossa experiência prático-interventiva coadunada a uma análise mais crítica de nossa postura profissional frente às determinações da questão social5.

No modelo de saúde inspirado na prática médica hegemônica, todo o trabalho nos serviços de saúde é centrado na figura do médico, mas com as mudanças suscitadas pelo Movimento Sanitário6, que proporcionou inúmeras transformações no cenário político da saúde, aos poucos esse contexto provocou significativas alterações nos processos de trabalho, sendo essencial à inserção de outros profissionais no trabalho coletivo em saúde e assim constituindo as equipes multiprofissionais. O trabalho individualizado nas instituições de saúde passa a ceder espaço a novos processos organizacionais, consubstanciados em processos de trabalho coletivo, o que configurou o fortalecimento da presença do assistente social nas equipes de saúde.

A participação significativa do assistente social7 nas instituições de saúde pode ser associada, entre outros determinantes, à ruptura do conceito dicotômico de saúde/doença, pois um dos frutos da 8ª Conferência Nacional de Saúde8 foi a

saúde de cunho universalista contextualizados em modelos de proteção social welfarianos”. (UGÁ;

MARQUES, 2005, p.193).

5 Utilizamos como referência neste trabalho, o conceito de questão social (IAMAMOTO, 2005) que,

em síntese, são as expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura. Aprofundaremos essa discussão adiante.

6 O Movimento Sanitário, desde os anos de 1970, foi construindo propostas de saúde comprometidas

com o fortalecimento do setor público, em detrimento de uma prática privatizante da saúde; as práticas preconizadas pelos defensores destas proposições compartilhavam a ampliação do conceito de saúde, a partir da análise dos determinantes sociais. (BRAVO; MATOS, 2009)

7 Queremos destacar que a presença de outros profissionais, tais como o assistente social, já existia

nas instituições de saúde, no entanto, com o advento da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, esta inserção foi fortalecida. Posteriormente, em 1997, o Conselho Nacional de Saúde aprovou a Resolução nº 218, de 06 de março de 1997, na qual reconhecia entre outras categorias profissionais, o assistente social como profissional de saúde de nível superior.

8 A 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, representou um marco histórico do movimento

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concepção ampliada da relação saúde/doença, como decorrente das condições de vida e trabalho, bem como a defesa de uma política pública de saúde que garanta acesso igualitário a todos os serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde.

Reafirmando a importância do assistente social nos espaços institucionais de saúde, o conjunto CFESS/CRESS (Conselho Federal de Serviço Social e Conselho Regional de Serviço Social), em nota publicada em agosto de 2010, sobre o posicionamento das entidades empresariais contrárias ao Projeto de Lei da Câmara 152/20089, informou que, segundo dados registrados nos Conselhos Regionais, dos 78% profissionais que atuam na esfera pública, há uma concentração significativa destes nas áreas de saúde e assistência social. Esses dados são bastante atuais e denotam o peso dos assistentes sociais e sua significativa inserção nas áreas de seguridade social, destacando-se a assistência social e a saúde.

Neste sentido, ao reconhecer o papel do assistente social nas instituições de saúde, realizamos este estudo buscando analisar as demandas que suscitam a intervenção deste profissional no HUOL, não restringindo o mesmo à visão que estes possuem de sua prática, mas delineando como esta realidade é de fato materializada.

O Projeto Ético-Político do Serviço Social está comprometido com os ideais dos movimentos populares que, na década de 1980, tiveram avanços em diferentes segmentos no cenário sócio-político no Brasil, no qual destacamos à saúde pública, corporificada com a política do SUS. Ainda que, historicamente observou-se que o projeto de saúde que vem se consolidando enquanto proposta hegemônica foi o defendido pela ideologia neoliberal, não podemos desconsiderar a historicidade na consecução desta política. Assim, construir o SUS sob o viés preconizado pelo Movimento da Reforma Sanitária exige um repensar crítico do modelo social vigente. Desta forma, os princípios norteadores do SUS, universalidade, equidade, integralidade, descentralização e participação da população nos processos decisórios da política de saúde estão sintonizados aos preceitos do Projeto Ético-Político do Serviço Social e que para sua materialização no contexto sócio histórico

9 O Projeto de Lei da Câmara (PLC) 152/2008, aprovado pelo Senado Federal em 03 de agosto de

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brasileiro exige o envolvimento da sociedade na luta pela conquista desses direitos sociais.

Neste sentido, faz-se importante situar as contribuições de Mèszaros (2007) sobre a crise estrutural do capital, pois nos possibilita construir elementos analíticos da situação vivenciada pela humanidade, em tempos de hegemonia do capitalismo, e estabelecermos as inter-relações deste momento histórico e suas repercussões nos diferentes espaços institucionais e sociais.

Apesar de todo parâmetro jurídico-legal que garante aos cidadãos brasileiros o direito à saúde como dever e responsabilidade do Estado, respaldado pela Constituição Federal de 1988, concretamente, o acesso desses sujeitos a este direito vem se constituindo em uma demanda crescente para os assistentes sociais, o que cotidianamente se expressam nas ações emergenciais desenvolvidas nos contexto institucional.

Dessa forma, a escolha do referencial marxista para análise do real representa nossa concordância que, para nos aproximarmos da totalidade da realidade, é necessário muito mais que uma análise superficial; requer do pesquisador uma postura analítica e reflexiva. Significa construir e reelaborar categorias, não buscando a resolução de problemas ou a proposição de verdades, mas assumindo que o real é complexo, heterogêneo e não se revela imediatamente, exigindo esforço teórico e metodológico para reconstruir, idealmente, o efetivo movimento do real em suas múltiplas determinações e contradições. É isto que este estudo propôs-se a realizar, a partir do recorte analítico do trabalho dos assistentes sociais no HUOL.

Assim, faz-se imprescindível rememorarmos algumas questões que nortearam este estudo: Como é o trabalho dos assistentes sociais no HUOL? Este trabalho tem contribuído para fortalecer a luta dos usuários no cenário local, no que concerne à política pública de saúde? Quais as atribuições dos assistentes sociais no HUOL? Como os assistentes sociais organizam seu fazer profissional nesta instituição de saúde tendo como referência teórico-metodológica o projeto ético-político do Serviço Social? Há uma discussão do papel do assistente social com os demais trabalhadores no processo coletivo deste trabalho? Quais os limites e possibilidades do trabalho desses profissionais?

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maior reflexão no campo da saúde, possibilitando discussões e o enriquecimento teórico e metodológico acerca da instrumentalidade, perfil e competências do assistente social, enquanto profissional que se insere em processos coletivos de trabalho no campo da saúde.

Dentre os objetivos que direcionaram nossa pesquisa destacamos: 1) Apreender e discutir os limites e possibilidades de atuação do assistente social no HUOL, em tempos de reforma do Estado, reestruturação e tensão entre ampliação/redução dos direitos sociais e trabalhistas; 2) Situar a política de saúde na cidade do Natal, a partir dos anos 2000, e seus rebatimentos no processo de trabalho dos Assistentes Sociais no HUOL; 3) Identificar as demandas que se colocam para os Assistentes Sociais do HUOL, após o processo de contratualização em 2004; 4) Discutir o espaço atribuído ao Serviço Social nas equipes de saúde do HUOL; 5) Refletir e analisar o fazer profissional dos assistentes sociais no HUOL.

No processo de desenvolvimento deste estudo, optamos por realizar a observação sistemática e entrevistas semi-estruturadas com as 11 assistentes sociais lotadas no HUOL. Deste total, 09 estão vinculadas diretamente a Divisão de Serviço Social e 02 desenvolvem suas ações em outras áreas de assessoria e gerenciamento, sendo uma na Diretoria de Recursos Humanos e a outra na Divisão de Arquivo de Documentação e Estatística, mais conhecido por SAME, Serviço de Arquivo Médico e Estatística. A pesquisa de campo foi realizada no período compreendido entre dezembro 2010 e março de 2011 e foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Onofre Lopes/UFRN, em setembro de 2010, sendo aprovado em seus aspectos éticos e metodológicos, incluindo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as diretrizes da Resolução 196/96 e complementares do Conselho Nacional de Saúde.

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foram posteriormente transcritas e seu conteúdo foi utilizado especificamente neste estudo.

A análise dos dados evidenciados neste estudo teve como referência os pressupostos teórico-metodológicos de análise de conteúdo, a partir da concepção de linguagem como expressão crítica e dinâmica.

Sendo assim, neste estudo a linguagem foi concebida “como construção real de toda sociedade e como expressão da existência humana que, em diferentes momentos históricos, elabora e desenvolve representações sociais” (FRANCO, 2005, p.14).

Realizamos também pesquisa documental e bibliográfica. No tocante à pesquisa bibliográfica, nos reportarmos às contribuições de Mészaros (2007, 2009), Antunes (2009, 2010), Behring (1998), Boschetti (2010), Behring e Boschetti (2006), Costa (1998, 2009), Mendes (1995), Iamamoto (1988, 2002, 2005, 2008, 2009), Vasconcelos (2007), Campos (1997), Bravo (2004), Mota e Amaral (1998), Netto (1989, 1991, 1996, 2007, 2008, 2009), Mészaros (2007, 2009), Behring (1998, 2003), Marx (1983, 1984), entre outros, a fim de compreender as dimensões e historicidade das particularidades do modo de produção capitalista e, em particular, as implicações da crise estrutural do Capital no fazer cotidiano do Serviço Social no HUOL.

Utilizamos também como recurso documental as legislações pertinentes à política pública de saúde brasileira, o Sistema Único de Saúde, principalmente as Leis nº 8.142, de 28/12/1990 e nº 8.080, de 19/09/1990.

Para a análise do processo do trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais, utilizamos como referencial as contribuições de Netto (1991, 2007) Iamamoto (2005, 2008b), Vasconcelos (2007), Bravo (2004), entre outros. As contribuições de Bezerra (2001), Soares (2008) e outros trabalhos referentes à análise no cenário local sobre a temática da saúde e o trabalho do assistente social neste espaço também subsidiaram este estudo.

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as questões relacionadas ao processo de contratualização do HUOL com o SUS, em 2004.

O Sistema Único de Saúde, política de saúde pública brasileira, apesar das dificuldades vivenciadas na contemporaneidade, é fruto da organização política do movimento sanitário que em determinado momento histórico (meados da década de 1970 e anos 1980) conseguiu, através de sua resistência social e política, construir a tessitura para as bases de uma política social que preconizava a saúde como um direito universal.

Nesse sentido, destacou-se o significado político da 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, fórum onde foram lançados os princípios da Reforma Sanitária apontando para a construção de um novo sistema de saúde que preconizava a ampliação do conceito de saúde e sua correspondente ação institucional.

Assim, com a promulgação da 8ª Constituição Federal do Brasil reafirma-se a importância da promoção da saúde como direito fundamental de cidadania,

[...] a chamada ‘Constituição Cidadã’ foi um marco fundamental na redefinição das prioridades da política do Estado na área da saúde pública. Em seu artigo 196, a saúde é descrita como um direito de todos e dever do Estado, ”garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doenças e outros agravos e ao acesso universal às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”. (ESCOREL et al, 2005, p. 80).

Assim, se o Serviço Social é aqui compreendido como uma especialização do trabalho, uma profissão particular inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo da sociedade, não está incólume às transformações vivenciadas na sociedade produtiva e nas relações de trabalho. Esta perspectiva teórica e análise da profissão representam a compreensão de um posicionamento profissional que vislumbra a implicação que as mudanças estruturais na divisão do trabalho na sociedade e em sua divisão técnica trazem para a demanda profissional do assistente social.

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As metamorfoses vivenciadas no capitalismo contemporâneo passam a redefinir o papel do Estado no enfrentamento da questão social, que passa a ser trabalhada pela prática de consenso, refutando exclusivamente as práticas coercitivas, ao mesmo tempo em que passam a diminuir os recursos destinados às políticas sociais.

Assim, o trabalho do assistente social é permeado pelas múltiplas expressões da questão social que perpassam o seu cotidiano profissional, sendo seu objeto de trabalho, pois as implicações da profunda desigualdade da apropriação da riqueza na sociedade capitalista afetam diretamente as relações sociais. Porém, ao mesmo tempo em que se aprofunda o distanciamento dos homens da apropriação do fruto trabalho, gera-se nestes homens um sentimento de rebeldia e resistência, fato que refuta o pensamento fatalista, cujo princípio concebe o domínio do imperialismo capitalista como imutável e sem outra alternativa para a vida social.

A análise do processo de trabalho do assistente social nas instituições públicas de saúde e particularmente no Hospital Universitário Onofre Lopes, possibilita refletir sobre como estas profissionais estão inseridas neste cenário, no qual as novas bases de produção da questão social provocam a exclusão dos trabalhadores do mundo do trabalho, agravando suas condições de vida e de existência e ao mesmo tempo provocam-lhes formas de resistência e estratégias para inclusão nos serviços que lhe são negados.

As transformações no mundo do trabalho advindas da crise estrutural do capitalismo contemporâneo repercutem na vida social, com as expressões mais selvagens do agravamento da questão social. Por isso, novas demandas são suscitadas aos assistentes sociais, passando a requerer novas competências profissionais, indispensáveis ao deciframento da realidade posta. E é neste cenário que a ação profissional busca construir propostas que reafirmem o compromisso da categoria pela defesa dos direitos humanos contra o arbítrio e o autoritarismo.

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A respeito do método analítico do real na abordagem marxista, Ianni (1986, p.1) afirma que “explicar a realidade é não só descobrir os nexos que constituem a realidade, mas ajudar essa realidade a se constituir”.

O método marxista de análise da realidade nos possibilita romper a análise dicotômica da relação teoria-prática, pois como concebe o conhecimento como dinâmico e histórico, este é reconstruído e reconfigurado, a partir da historicidade do real, que não se resume a uma análise superficial do real, pois como nos afirma Minayo (2004, p.68) “toda vida humana é social e está sujeita à mudança, à transformação, é perecível e por isso toda construção social é histórica”.

Nesse sentido, o processo de pesquisa desenvolvido neste estudo se propôs a estabelecer com o objeto as conexões imprescindíveis para apreender o que não está visível e é nesse diálogo constante com a realidade que buscamos consubstanciar o corpo deste trabalho.

Sob a abordagem de análise marxista na área da saúde, em particular no binômio saúde/doença, este perde o caráter imediatista e a-histórico hegemônico nesta área e passa a considerar sua relação com o processo estruturado na base material de produção.

Com relação à metodologia marxista de análise do real, no processo investigativo na área da saúde, Minayo (2004, p.85) afirma que:

O quadro teórico de aproximação da totalidade dos processos de saúde/doença, na abordagem marxista qualitativa parte das representações sociais em relação dialética com a base material que as informa. Esse ponto de apoio em direção à compreensão das estruturas se fundamenta na importância do pensamento para a ação e no caráter contraditório, dinâmico e potencialmente transformador do campo ideológico.

Assim, no processo de escolha do objeto de estudo, inicialmente, achávamos que não seria significante voltarmos nosso olhar para o trabalho do Serviço Social no HUOL, visto que há 16 anos fazemos parte desta equipe e, por isso, considerávamos já ter uma análise a priori do real, no que concerne às particularidades do trabalho do assistente social nesta instituição.

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não seria necessário questioná-la, decifrá-la; ela por si só se bastaria, “Hegel já observava que o que parece familiar é desconhecido, sempre vale a pena começar pelo aparentemente óbvio” (NETTO, 1989, p.90).

Assim, ao nos debruçarmos nesta análise, fizemos um diálogo recolocando as questões que perpassam o cotidiano do trabalho dos assistentes sociais no HUOL, abordando nosso objeto de estudo em uma perspectiva de totalidade, fazendo uma reflexão contemporânea da reestruturação produtiva da sociedade capitalista e seus reflexos no cenário mundial e na sociedade brasileira, expressando como historicamente no Brasil, e, particularmente, os assistentes sociais do HUOL vêm construindo seu trabalho a partir das diretrizes do Projeto Ético-Político do Serviço Social face às metamorfoses no mundo do trabalho. Neste percurso, organizamos este trabalho em cinco seções, onde apresentamos como esta análise foi se delineando.

Na primeira seção, apresentamos a introdução cujo objetivo foi situar as motivações que teceram este estudo, bem como expor o caminho teórico-metodológico que fundamentou o eixo analítico desta investigação, assim como explicitamos como este trabalho foi organizado, a fim de contemplar a temática.

Na segunda seção, realizamos algumas considerações sobre o capitalismo, discutindo como a lógica capitalista e a crise contemporânea do capital incide na orientação e consecução das políticas sociais no cenário mundial e na sociedade brasileira. Diante da complexidade do tema, organizamos essa reflexão em três tópicos, com o propósito de levantar elementos que nos possibilitem consubstanciar a historicidade do real e assim contrapor à naturalização do ordenamento capitalista. Na terceira seção, problematizamos a temática da saúde no contexto histórico brasileiro, realizando o paralelo dos pressupostos que fundamentaram a tessitura da política pública de saúde materializada no Sistema Único de Saúde, com os avanços e retrocessos no contexto sócio-político brasileiro. Neste sentido, propomos a discussão e análise da realidade da saúde pública do estado do Rio Grande do Norte, em particular da cidade do Natal, situando a inserção do Hospital Universitário Onofre Lopes neste contexto.

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população norte-rio-grandense, na luta pelo acesso aos serviços especializados de saúde, a partir das mudanças na regulação do sistema de saúde pública do RN, concretizadas a partir de 2004.

A análise das falas mostrou-nos que apesar do reconhecimento da gestão e dos demais profissionais da importância do trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais no HUOL, tanto nas atividades do ambulatório, quanto das enfermarias, o número de assistentes sociais foi significativamente reduzido nos últimos 16 anos, o que vem afetando à qualidade da assistência prestada.

Tal fato ficou evidenciado nas entrevistas, causando um desconforto na equipe que diante das demandas suscitadas aos assistentes sociais, necessita estabelecer critérios de prioridade para o atendimento, o que se traduz em exclusão ou triagem das necessidades apresentadas pelos usuários.

As falas também assinalam que o novo mecanismo de acesso aos serviços de saúde disponibilizados pelo HUOL aos usuários do SUS se corporificou em uma nova fila, agora virtual, organizada pela Secretaria Municipal de Saúde (Natal/RN) via sistema de regulação de referência e contra-referência, administrado pelos distritos sanitários de saúde. Os assistentes sociais assinalaram que a morosidade no agendamento, se traduz para a população no descrédito dessa forma organizacional de acesso.

Na verdade, nem o assistente social nem a população participaram da discussão do processo de contratualização e as implicações da não-resolutividade desta nova forma de acesso dos usuários aos serviços de saúde disponibilizados pelo HUOL, o que vem se configurando na principal demanda colocada cotidianamente aos assistentes sociais do HUOL, visto que, como expresso nas entrevistas, os usuários identificam o assistente social como parceiro na luta pela garantia de seus direitos.

(32)

Deste modo, as falas dos profissionais mostraram-nos que houve avanços no reconhecimento do trabalho dos assistentes sociais no HUOL, que os assistentes sociais buscam respaldar seu trabalho na defesa do Projeto Ético-Político do Serviço Social, tentando assegurar o direito da população a um serviço de saúde de qualidade e no qual possa ser sujeito ativo, e que houve melhoras nas próprias condições de trabalho. Contudo, as falas assinalam também limites no acesso da população aos serviços (a partir da fila virtual e do tempo de espera), bem como nas condições de trabalho que ainda precisam avançar.

(33)

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE CAPITALISMO E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA

2.1 A LÓGICA CAPITALISTA E SEU PROCESSO DE ACUMULAÇÃO

É mister compreender a lógica capitalista, a fim de que possamos construir uma leitura crítica do atual contexto da sociedade capitalista contemporânea. Nettoe Braz (2008) trazem contribuições que nos possibilitam historicizar o contexto sócio-econômico que precedeu a formação da sociedade burguesa, ou seja, as bases históricas que deram alicerce ao modo de produção capitalista, o sistema de produção feudal.

Por volta do século XIV, o feudalismo começou a dar sinais de seu esgotamento sócio-econômico. A consolidação da decadência do sistema feudal ocorreu no final do século XVIII e teve como fatores determinantes o florescimento do comércio, materializados na consolidação da economia de base mercantil (NETTO; BRAZ, 2008).

Neste ínterim do século XIV até o século XVIII, destacamos entre os principais propulsores da decadência do sistema feudal: os limites técnicos que inviabilizaram o processo de produção do cultivo e da pecuária, a redução da produção da prata, o que implicou na diminuição da circulação do dinheiro e a peste negra, que vitimou a Europa, reduzindo - a um quarto de sua população.

Diante deste quadro:

As lutas entre as classes fundamentais do modo de produção feudal, senhores e servos (proprietários fundiários e camponeses), agudizam-se dramaticamente a partir de então, já que os primeiros, para compensar a redução do excedente econômico de que se apropriavam, trataram de acentuar a exploração dos produtores diretos; e também entre os senhores instalaram-se conflitos que derivaram em verdadeiro banditismo, configurando um cenário de confrontos sociais que invadirá o século XVI (NETTO; BRAZ, 2008, p.71).

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tocante à política, a centralização do poder consubstanciou as bases da formação do Estado Absolutista10.

No decorrer deste processo histórico:

Os comerciantes/mercadores, no interior da sociedade feudal, foram se tornando protagonistas econômicos importantes. Seus interesses chocavam-se com os da nobreza feudal, mas, nos primeiros momentos de constituição do Estado absolutista, como vimos, essa contradição subordinou-se àquela que antagonizava nobres e servos. Uma vez derrotados os servos, a contradição entre os grandes grupos mercantis (dos quais emergia a nova classe burguesa) e a nobreza ganhou o primeiro plano da vida social. O Estado absolutista, que no entretempo, servira também aos interesses da burguesia nascente, agora transforma-se - como expressão maior das relações sociais próprias à feudalidade – em obstáculo para o desenvolvimento burguês. E a burguesia tratou de removê-lo, num processo que culminou em 1789. (NETTO; BRAZ, 2008, p.74).

Segundo Nettoe Braz (2008), a consolidação do estado burguês no final do século XVIII foi fruto de uma luta, tanto no campo político, como no plano das ideias, foram estas bases que fortaleceram a revolução burguesa e culminou na adesão do povo aos seus ideais.

Assim, o Estado burguês ao introduzir o modo de produção capitalista na vida cotidiana da sociedade, cria necessidades que aparentemente são naturais, mas uma leitura mais crítica dessa realidade desmistifica essa naturalização de uma categoria essencial à lógica capitalista, a mercadoria11.

Ao analisar o modo de produção mercantil capitalista observa-se que, apesar das similaridades com o modo de produção mercantil simples, - a saber: a divisão social do trabalho e a propriedade privada dos meios de produção, - na apropriação dos meios de produção, o produtor não se insere literalmente no processo produtivo enquanto trabalhador, ele compra a matéria-prima, a força de trabalho e, sendo ele o detentor dos meios de produção, produz mercadorias, utilizando o trabalho alheio.

Na compreensão da lógica capitalista e seu processo de acumulação, destaca-se a contribuição do legado marxista ao consubstanciar a teoria crítica como elemento analítico em contraposição à posição liberal, ideologia defensora do Estado Burguês.

10 Para Netto e Braz (2008, p.72) o Estado Absolutista representou a resposta dos senhores feudais

às lutas dos servos, ao mesmo tempo em que reduziu o poder dos nobres ao concentrar o poder nas mãos do rei e estas bases foram constituindo o Estado Moderno.

11 Por mercadoria compreende-se a unidade que sintetiza valor de uso e valor de troca (NETTO;

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Em relação à importância dos elementos teóricos tecidos por Marx destaca-se a crítica ao liberalismo. Neste destaca-sentido, a proposta da teoria crítica

Criou o terreno para um movimento político que tateando buscava sua própria voz e orientação estratégica independente. O liberalismo tinha que ser atacado porque representava o principal obstáculo á emancipação do movimento da classe trabalhadora da tutela política/intelectual da burguesia esclarecida. (MÉSZÁROS, 2009, p.524).

Nessa relação capital/trabalho há um divisor de águas essencial para a compreensão e desmistificação da lógica de exploração que perpassa o modo de produção capitalista:

A produção mercantil capitalista se peculiariza, pois, porque põe em cena dois sujeitos historicamente determinados: o capitalista (ou burguês), que dispõe de dinheiro e meios de produção (que, então, tomam a forma de

capital), e aquele que pode tornar-se o produtor direto porque está livre para

vender, como mercadoria, a sua força de trabalho – o proletário (ou operário). As classes fundamentais do modo de produção capitalista, assim,

determinam-se pela propriedade ou não dos meios de produção; os capitalistas (a classe capitalista, a burguesia) detêm essa propriedade, enquanto o proletariado (o operariado, a classe constituída pelos produtores diretos) dispõe apenas de sua capacidade de trabalho e, logo, está simultaneamente livre para/ compelido a vendê-la como se vende qualquer mercadoria; no modo de produção capitalista, o capitalista é o representante do capital e o proletário o do trabalho. (NETTO; BRAZ, 2008, p.84).

Na sociedade capitalista o trabalho humano é predominantemente assalariado, ainda que, seja o trabalho a fonte de produção de riqueza, quando este coisifica-se em mercadoria, a mercadorização passa a reger as relações sociais, naturalizando essas relações.

Neste sentido, a análise marxiana da inversão/fetichização propiciada pela mercadoria na sociabilidade capitalista, enfatiza que “uma determinada relação social entre os próprios homens [...] assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas” (MARX, 1983, p.71).

Netto e Braz (2008) destacam que a força motriz do modo de produção capitalista é o lucro e este é produzido através da tríade: Dinheiro (D), que possibilita comprar matéria–prima, equipamentos e trabalho humano - fontes geradoras de Mercadoria (M) - o que resulta em mais Dinheiro (D), que é o resultado ampliado do investimento feito.

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O Capital, o quanto é perverso a sociabilidade humana materializada na sociabilidade capitalista. Este sistema naturaliza e torna necessária o consumo da mercadoria, possuidora de valor de uso e de troca, fruto do trabalho abstrato12 processo vital à reprodução do sistema capitalista e a:

[...] redução de salários e longas horas de trabalho, essa é a essência do procedimento racional e saudável que deve elevar o trabalhador á dignidade de um consumidor racional para criar um mercado para a massa de objetos que a cultura e o progresso das invenções lhe tornam acessíveis. (MARX,1984 apudMÉSZÁROS, 2009, p.536).

Netto e Braz (2008, p.107) afirmam que Marx ao elaborar a teoria crítica aos pressupostos teórico-metodológicos que norteiam a sociedade capitalista explicita que, “no caso do trabalhador assalariado, o excedente lhe é extraído sem o recurso à violência extra-econômica; o contrato de trabalho implica que o produto do trabalho do trabalhador pertença ao capitalista”.

O trabalho pago ao trabalhador pelo capitalista através do salário é denominado trabalho necessário, cujo valor cobre a reprodução do trabalhador. O trabalho excedente não é pago ao trabalhador, e é esta relação que produz a mais-valia, fonte da riqueza produzida pela exploração do trabalho assalariado.

As contribuições de Mészáros (2007) e Netto e Braz (2008) sobre o modo de produção capitalista nos levam a identificar que, conforme o contexto, o processo histórico-político da reprodução do Capital assume uma especificidade singular, tendo como meta assumir integralmente o controle do processo de trabalho, a fim de extrair o máximo de excedente do trabalhador.

Neste sentido, de acordo com a historicidade, a exploração do trabalho excedente no capitalismo pode ampliar a jornada de trabalho, alterar o seu ritmo e agregar ao processo produtivo inovações tecnológico-científicas na produção da mais–valia.

O processo de acumulação do capital provoca impacto em todas as dimensões do capital, em particular, na classe trabalhadora, cujo desemprego estrutural é parte constitutiva do sistema capitalista. De acordo com o processo

12 Segundo Netto e Braz (2008) a categoria trabalho na análise marxiana pode assumir a dimensão

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histórico, a classe trabalhadora pode vivenciar processos de pauperização absoluta ou relativa13.

Nesse sentido, os trabalhadores se articulam para lutar por melhores condições de vida e trabalho. Assim, a organização dos trabalhadores assume contextos diferenciados no processo histórico do modo de produção capitalista e, neste sentido, o confronto capital-trabalho

[...] só pode levar a resultados contraditórios para ambos os lados desse confronto inconciliável. O trabalho obtém concessões ao preço de ser forçado a constantemente reduzir o volume de trabalho necessário requerido para assegurar a continuidade do processo de reprodução capitalista. Todavia, não conquista o poder de tornar aceitável a legitimidade (e a necessidade) de organizar a produção de acordo com o princípio do tempo disponível a longo prazo, única salvaguarda viável contra a sujeição à extrema penúria e á indignidade do desemprego em massa. E o capital, por outro lado, obtém êxito em transformar os ganhos do trabalho em sua própria auto-expansão lucrativa e dinâmica ao elevar incansavelmente a produtividade do trabalho; entretanto, não encontra solução adequada para as crescentes complicações perigosas implicações do desemprego crônico e da superprodução concomitante, que prenunciam seu colapso final como modo socialmente viável de reprodução produtiva. (MÉSZÁROS, 2009, p.667).

É nesta lógica contraditória entre capital/trabalho que se move o processo de acumulação capitalista, pois ao mesmo tempo em que as bases de produção capitalistas diminuem a necessidade do trabalho humano em determinados ramos da produção, a redução de consumidores interfere na lógica de produção e circulação das mercadorias, o que refuta a tese que existe capital sem trabalho e que o capitalismo prescinde da relação capital/trabalho.

A pedra basilar na qual se fundamenta a lógica do capital é orientada pela expansão e movida pela acumulação. Meszáros (2009) destaca que isto ao mesmo tempo em que imprime um dinamismo inimaginável, também expõe uma deficiência fatídica, pois historicamente se apresentou com singularidades jamais vistas, no que concerne a extração e acumulação de trabalho excedente, pois, qualquer dificuldade neste processo de expansão e acumulação resulta em graves consequências ao sistema capitalista.

13 Em síntese, a pauperização absoluta refere-se à degradação geral das condições de vida e de

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Netto e Braz (2008, p.157) afirmam que a crise é inerente ao modo de produção capitalista. Neste percurso histórico de 1825 até o período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, há registros de uma sucessão de crises econômicas, entrecortadas por fases de prosperidade econômica. Em síntese, segundo os referidos autores “não existiu, não existe e não existirá capitalismo sem crise.”

Esta assertiva conforme as considerações de Netto e Braz (2008) não se traduzem em naturalização da crise, como se esta fosse pertinente a qualquer organização sócio-econômica, outra organização econômica contraditória aos princípios da organização capitalista, pode perfeitamente criar condições em outras bases organizativas de sociabilidade para superar e ou dirimir as causas das crises.

No entanto, Netto e Braz (2008) destacam que diferentemente das sociedades pré-capitalistas que podem sofrer crises em decorrência de calamidades da natureza e/ou de outra ordem, estas afetam diretamente aos bens necessários à vida social, ou seja, se refletem na insuficiência de valores de uso.

Em contrapartida, as crises da sociedade capitalista têm como fator determinante a busca incessante de lucros que desemboca em uma crise de superprodução, gerando redução de produção que tem reflexo imediato na diminuição da força de trabalho, impulsionando o desemprego.

Complementando essa argumentação Mota (2009, p.53) explicita que a crise na lógica capitalista expressa um entrave no ciclo da produção, circulação e consumo, pois à medida que “são produzidas mais mercadorias do que a população pode comprar, o processo de acumulação é afetado, uma vez que estoques de mais-valia não asseguram o fim capitalista”.

Ainda segundo Netto e Braz (2008), a crise traz conseqüências a toda sociabilidade capitalista, mesmo que os efeitos desta para os capitalistas não se comparem aos produzidos na vida dos trabalhadores.

(39)

Assim, o referido autor desmascara a lógica do sistema do capital que elege como sistemas de primeira ordem, os sistemas produzidos pela dominação e subordinação, que nada mais são do que sistemas de segunda ordem14.

Neste sentido, Meszáros (2007, p.40) ressalta que:

O problema sério e em princípio insuperável para o sistema do capital é que ele sobrepõe às inevitáveis mediações de primeira ordem entre a humanidade e a natureza um conjunto de mediações alienantes de segunda ordem, criando por meio disso, um círculo vicioso “eternizado”- e conceitualizado dessa maneira mesmo pelos maiores pensadores da burguesia- do qual não pode haver escapatória, uma vez que se compartilhe da perspectiva do capital.

Desta forma, Meszáros (2007), com base nas contribuições de Marx torna claro que na ideologia do sistema do capital os seres humanos se reduzem à condição reificada e os economistas políticos que apóiam essa lógica, buscam explicações abstratas para tornar inteligível a abstrata relação dos indivíduos com a divisão e fragmentação capitalista do trabalho.

2.2 O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA DO CAPITAL

O sistema capitalista na década de 1970, tanto no contexto internacional, quanto na realidade brasileira, apresentou sinais de esgotamento do modo de regulação do processo de acumulação (DRUCK, 1999).

As evidências da crise capitalista, a partir da década de 1970, se refletem na desaceleração do crescimento econômico e no decréscimo da economia dos países centrais. Consequentemente o impacto dessa crise no sistema de produção e reprodução capitalista também se reflete nos países periféricos, tornando mundial a crise do capital que se torna evidente, quando:

A hegemonia americana começa a ser posta em xeque. Perda de competitividade nas exportações, déficits fiscais e resultados críticos no

balanço de pagamentos (que provocarão a crise do dólar) são condições que se agravam com a elevação das taxas de juros americanas e com o choque do petróleo, em 1979. Nesse quadro, novas políticas de ajuste de conteúdo claramente liberal são estabelecidas, principalmente pelos Estados Unidos e pelo Fundo Monetário Internacional. (DRUCK, 1999, p.62).

14 Meszáros (2007) denomina de mediações de primeira ordem a relação entre a humanidade e a

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Tabela 2: Demonstrativo da produtividade ambulatorial do HUOL no período de janeiro a abril 2011
Tabela 4: Demonstrativo da produtividade de internamento do HUOL no período de janeiro a abril
Tabela 5: Faixa etária das assistentes sociais do HUOL
Tabela 6: Estado civil das assistentes sociais do HUOL ESTADO CIVIL  N°  %  Solteiras   2  18,2  Casadas   7  63,6  União estável   2  18,2  TOTAL  11  100,0
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