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Topofilia, Turismo e a Releitura do Lugar: uma abordagem sociocultural do patrimônio histórico, arquitetônico e urbanístico de Diamantina/MG

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Rahyan de Carvalho Alves

T

opofilia, Turismo e a Releitura do Lugar

”:

Uma abordagem sociocultural do Patrimônio Histórico,

Arquitetônico e Urbanístico de Diamantina/MG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Organização do Espaço.

Orientador: Prof. Dr. José Antônio Souza de Deus.

Co-orientadora: Prof. Dra. Marly Nogueira.

Belo Horizonte

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RAHYAN DE CARVALHO ALVES

“Topofilia, Turismo e a Releitura do Lugar”: Uma abordagem sociocultural do Patrimônio Histórico, Arquitetônico e Urbanístico de Diamantina/MG

Dissertação defendida e aprovada em 16 de Abril de 2014, pela banca examinadora

constituída pelos professores:

_______________________________________________________ José Antonio Souza de Deus (Orientador)

Doutor em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais

______________________________________________________ Marly Nogueira (Co-orientadora)

Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais

______________________________________________________ Maria Geralda de Almeida (Examinadora - Externo)

Pós-Doutorado pela Universitad de Barcelona

Professora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Goiás

______________________________________________________ Weber Soares (Examinador - Interno)

Doutor em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que me ofertou o dom da vida, possibilitando viver, a cada dia, emoções diferentes e, principalmente, sou grato pela oportunidade de fazer de cada manhã uma nova chance de conhecer pessoas e lugares diferentes (como Diamantina/MG), construindo, assim, minha história.

Imensamente serei grato à minha família, em especial aos meus pais, Maria Madalena de Carvalho Alves e Juracy Antônio Alves, pelos esforços realizados para que este sonho fosse realizado. Obrigado por doarem suas vidas em prol dos meus objetivos.

A minha gratidão a Renata Aparecida Alves, irmã e companheira que me apoiou nas horas de aflição, que sempre esteve presente nos momentos mais especiais da minha vida.

Agradeço a meu orientador, professor José Antônio Souza de Deus, que incondicionalmente se fez participativo e essencial neste trabalho; o ser humano que me fez perceber o universo da pesquisa com mais sensibilidade, ultrapassando, felizmente, as formalidades da academia e se tornando um verdadeiro amigo. A minha co-orientadora, a professora Marly Nogueira, agradeço pelas trocas de experiências, seriedade, apoio, carinho e dedicação nesta jornada.

Meus agradecimentos aos professores Maria das Graças Campolina Cunha, Maria Geralda de Almeida e Weber Soares, por participarem e contribuírem, significativamente, nas discussões desta pesquisa, além dos encontros e conversas que me proporcionaram novos horizontes nas escritas do trabalho. Destaco, ainda, o meu respeito ao programa de pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais que me acolheu e possibilitou um amadurecimento científico, entre as diversas discussões construídas nas disciplinas cursadas e nos “workshops” apresentados. Além de se tornar uma espaço de diálogos com amigos especiais que, aí, cativei.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior agradeço pela bolsa concedida, a qual colaborou para a realização deste produto. Além de propiciar participações em inúmeros eventos científicos, socializando reflexões sobre esta pesquisa, colaborando para o meu desenvolvimento a amadurecimento profissional.

Agradeço as minhas tias Leonice Braga dos Santos e Marcilene Melo pelas palavras de apoio, representando toda a minha família. À professora-amiga Gildette Soares Fonseca, pelas colaborações nas discussão sobre os temas que abordei na dissertação, e aos colegas do laboratório de Cartografia e Geoprocessamento da UNIMONTES e da UFMG.

Aos turistas, autoridades e comerciantes de Diamantina/MG, o meu respeito e agradecimento pela atenção depositada. E em especial aos moradores desta cidade, agradeço pela disposição em ajudar na elaboração desta pesquisa, uma vez que doaram o seu tempo, e cafés, evocando lembranças e percepções em prol de uma nova forma de percebermos a riqueza deste lugar e dos seus patrimônios.

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IALÉTICA DOS TEMPOS-ESPAÇOS

IVERSOS UNIVERSOS

“Não existe ser concreto que desconheça o fundir e o cindir.

Não existem objetos que não se teçam ao fluir e refluir de incontáveis criações, (des)fusões e (re)ações.

A existência se assenta em pares e convivências de diferentes tempos, cessões,

coexistências, “n” simultaneidade, plenos esfacelamentos, cissiparidades, distanciamentos embalados aos ritmos das vidas, suas inúmeras seivas, ligas, infinitas sagas,

embates, vagas comungadas, separadas,

achadas,

perdidas de tempos e

espaços diferentemente vividos...

Os espaços

humanos e suas temporalidades acolhem diferentes verdades pensadas, materializadas ou sonhadas a respeito dos leitos,

esferas e planos,

das forças vivas e coisas fixas de outras eras e anos que conferem medidas de repente (des-re)construídas nas faces e torrentes das vidas.

Os humanos cenários se (re)compõem, entretanto, de outros tantos entalhes, de embates e fluxos que dispõem os seus frutos e o eterno fluir ou, deveras, o entrar ou

fugir de diferentes fissuras, esperas, fervuras, técnicas, culturas em desiguais velocidades e normas que plasmam, dão outras capacidades, acuidades e formas aos espaços-temporalidades.

Sendo eternos vir a ser,

os homens e seus espaços-tempos se assentam, persistem,

ou se desfazem um pouco de tudo o que acalentam. Em seus recônditos desejos existem:

intenções, teleologias, aforismos e

lampejos que fixam esteios, estruturas,

fundamentos envolventes de ações e pensamentos portadores de novos meios, novos eventos,

novos rebentos...

O homem é aquilo que é e também é vir a ser, sendo, a um só tempo, si mesmo e Outro. Entretanto, ambos se encontram,

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passos..., experiências...,

que carregam um aberto (des)fazer, um plasmar, embora incerto de outras fontes, outros saberes,

outros viveres e prazeres.

É um ser denso e disperso, um ser uno e diverso, permanência e mudança,

um eterno buscador

(amiúde mesmo sem saber ou querer) de dores e esperanças em si mesmo e no Outro,

portador de identidades, paisagens,

sonhador de alteridades em suas formas nadas puras de portar em si agruras hibridadas de doçuras.

É eterno, também - convém entrever - seu inarredável querer ver (e sempre rever) seus modos de ser.

(Re)buscando a história,

os homens (re)descobrem verdades e encobrimentos de memórias de pessoas e entidades.

O homem vive de perscrutar suas fabulosas criações, nas coisas (i)materializadas,

como tempos, lutas, cidades.

Ser homem é resgatar outros lugares e invenções de todas as coisas legadas. Repensando as múltiplas formas,

os múltiplos viveres alimentados, os homens tecem,

rabiscam e (re)constroem seus polissêmicos espaços-tempos, forjando olhares atentos às prenhes multiplicidades que compõem os aspectos diversos de processos, mundos -verdades.

Refletindo seus tempos e espaços,

os povos refazem seus laços com homens e também com a natureza. Forjam modelos e espelhos de ideias,

vivências, estéticas, belezas.

Assim, juntam e... ...separam grupos, sociedades se saciam e lutam,

vivendo os homens tão juntos,

mas também tão dispersos em comunhões que portam disputas de seus diversos universos”.

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RESUMO

As paisagens remetem à essência da existência e vivência espacial de uma comunidade, sendo percebidas com intensidade e nitidez no(s) patrimônio(s) histórico(s) formadores dos alicerces culturais e sociopolíticos vivos. Nesse contexto representativo de elos culturais, muitos municípios no Brasil, como Diamantina/MG, apresentam-se como centros detentores de materiais-elementos tombados, vinculados aos conjuntos patrimoniais arquitetônicos (urbanos ou rurais), apresentando ambiente propício aos laços de topofilia, importantes para a perpetuação da vida coletiva e da estabilidade psicossocial do sujeito. Contemporaneamente muitos elementos tombados são considerados produtos mercantilizados, uma vez que o poder público municipal e os agentes capitalistas os veem como potencial de lucratividade, principalmente através da atuação do turismo cultural que pode interferir, com sua dinâmica, nos sentidos de uma vida expressa nas paisagens e nas manifestações culturais, mas por outro lado esta atividade pode, também, oportunizar experiências sociais e econômicas positivas no lugar. Desta forma este trabalho tem como objetivo compreender quais os impactos positivos e negativos que a atividade do turismo cultural gera, através da exposição do patrimônio histórico arquitetônico e urbanístico de Diamantina/MG, afetando os moradores, interferindo e eventualmente criando conflitos com seus laços de afetividade e pertencimento ao lugar. Utilizou-se como metodologia: pesquisas bibliográficas, etnometodologias com suporte em registros iconográficos, além da organização e sistematização dos dados para a elaboração de mapas e gráficos. Percebeu-se, no desenvolver deste trabalho, que para o diamantinense o significado da representação das paisagens proporciona uma relação de pertencimento, afetividade e resgate memorial que fortalece os inter-relacionamentos do morador para com o seu lugar e com o próximo. Logo a interferência do turista representa, ali, a busca da experenciação através dos contatos sociais, provocando nuances de tensões sociais, mas, também, possibilitando uma similaridade entre os turistas com os moradores locais, uma vez que esta atividade é exercida, e percebida, para além do objetivo da sobrevivência de um mercado que se desenvolve através do consumo do turista neste recorte territorial, conseguindo, aliás, o “outsider” agregar conhecimento sobre aspectos histórico-geográficos do lugar, reconhecendo a importância do morador local e possibilitando a criação de laços de amizades. A interferência da dinâmica do turismo cultural em Diamantina/MG, então, não consegue materializar no morador uma sentido que remete à topofobia; além disso o poder público municipal percebe a importância do patrimônio para projetar o turismo na cidade, conseguindo promover uma dinâmica econômica e, de certa forma, proporcionando entroncamentos socioculturais entre o “outsider” e o “insider”.

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ABSTRACT

Landscapes allude to the existence and experience essence of a community space, being perceived with intensity and clearness in historical heritages, creators of live cultural and socio-political foundations. In this representative context of cultural links, many municipalities in Brazil, like Diamantina, Minas Gerais, present themselves as centers of material-holders elements under government trust, linked to architectural heritage sets (urban or rural), showing environments which lead to topophilia ties, important in perpetuating the collective life and psychosocial stability of the subject. Contemporaneously many elements under government trust are considered co-modified products, since the municipal public power and capitalist agents see them as potential for profitability. The performance of cultural tourism can interfere with its dynamic, in the sense of a life expressed in landscapes and cultural manifestations. This work aims to understand the positive and negative impacts that the activity of cultural tourism generates, through exposure of the architectural and urban heritage of Diamantina, Minas Gerais, affecting residents, interfering and eventually creating conflicts with their bonds of affection and sense of belonging to the place. As methodology it was used: bibliographical research, etnomethodologies supported in iconographic records, in addition to the Organization and systematization of data for preparing maps and graphs. While developing this work it could be noticed that for the diamantinense the representation of landscapes meaning offers a relationship of belonging, affectivity and memory deliverance that strengthens the relationships between resident and his place and his close ones. Soon the interference of tourist represents, there, the pursuit of experience through social contacts, provoking nuances of social tensions, but also enabling a similarity among tourists with local residents, since this activity is exerted, and perceived, beyond the goal of a market survival which develops through the consumption of tourists in this territorial clipping, achieving the outsider aggregate knowledge about historical aspects of this geographical place, acknowledging the importance of local residents and enabling the creation of friendship bonds. The interference of the cultural tourism dynamics in Diamantina, Minas Gerais, can't materialize in the resident a sense that refers to topophobia; besides the municipal public power realizes the importance of heritage to design the tourism in the city, managing to promote economic dynamics and, to some extent, providing socio-cultural junctions between the outsider and insider.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

aC Antes de Cristo

APA Áreas de Preservação Ambiental APP Áreas de Preservação Permanente

BHu Bacharel em Humanidades

BI Bens Imóveis

BM Bens Móveis

BR Rodovias Brasileiras

CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna

CP Conjuntos Paisagísticos

DRPHAN Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

FGV Fundação Getúlio Vargas

FJP Fundação João Pinheiro

FNPM Fundação Nacional Pró-Memória GPS Sistema de Posicionamento Global

IBGE Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística

IEPHA Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

ICOMOS Conselho Internacional de Monumentos e Sítios IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal INRC Inventário Nacional de Referências Culturais

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional JK Juscelino Kubitschek de Oliveira

m Metro

mm Milímetro

MEC Ministério da Educação e Cultura MES Ministério da Educação e Saúde

NH Núcleos Históricos

OMT Organização Mundial do Turismo

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SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Nacional SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UFVJM Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNIMONTES Universidade Estadual de Montes Claros

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 01 Homem e lugar. Sentido, percepção e experiência: Topofilia... 63 FIGURA 02

A vida em experimentação. Lugar e paisagem... 64

MAPA 01 Países com maior número de bens inscritos na Lista do Patrimônio

Mundial... 96 FIGURA 03 Planta da demarcação Diamantina, século XVIII... 156

FIGURA 04 A formação urbana do Tijuco em sua área quadrangular...

158

FIGURA 05 Ligação dos arraiais e a formatação urbana do Tijuco...

160

FIGURA 06 Formatação da área urbana do Tijuco através dos encontros dos Arraiais... 161 FIGURA 07 Planta do Arraial do Tijuco no século XVIII...

162

FIGURA 08 Planta do Arraial do Tijuco em 1784...

164

FIGURA 09 Exemplos de estabelecimentos comerciais comuns no Tijuco, início do séc. XIX (Diamantina/MG)...

170

FIGURA 10 Rua da Quitanda em primeiro postal colorido, meados do séc. XIX (Diamantina/MG)...

172

FIGURA 11 Residências e calçamento da rua Direita, meados do séc. XIX

(Diamantina/MG)... 174

FIGURA 12 Rua das Mercês destacando as escadarias, meados do séc. XIX

(Diamantina/MG)... 174

FIGURA 13 Colégio Nossa Senhora das Dores e Orfanato, meados de 1880 (Diamantina/MG)...

175

FIGURA 14 Prédio do quartel inaugurado em 1914 (Diamantina/MG)... 177

FIGURA 15 Antiga Igreja Santo Antônio de Sé, meados de 1900

(Diamantina/MG)... 178

FIGURA 16 Catedral Santo Antônio sendo construída em 1930 (Diamantina/MG)... 178

FIGURA 17 Antigo grupo escolar e atual prefeitura, meados de 1920 (Diamantina/MG)... 179

FIGURA 18 Chafariz do centro em meados de 1940 (Diamantina/MG)... 179

FIGURA 19 Centro de Diamantina que destaca o Fórum, a atual praça J. K. e a

Catedral Metropolitana, meados de 1900 (Diamantina/MG)... 180

FIGURA 20 Igreja São Francisco de Assis ao lado do Fórum, da Praça J. K. e próxima ao Mercado dos Tropeiros, meados de 1930

(Diamantina/MG)... 181

FIGURA 21 Tropeiros no interior do Pouso, em meados de 1930 [fotografia de Eric Hess] (Diamantina/MG)...

182

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FIGURA 22 Pouso em meados de 1890 - 1930 [fotografia de Eric Hess] (Diamantina/MG)... 182

FIGURA 23 Gelosia da varanda da Casa de Chica, em 1940 [fotografia de Eric Hess] (Diamantina/MG)...

184

FIGURA 24 Rótulas na casa de Chica e muro de adobe, em 1940 [fotografia de Eric Hess] (Diamantina/MG)...

184

FIGURA 25 Casa do Maxarabiê e as treliças de origem mourisca, meados de 1950 [fotografia de Eric Hess] (Diamantina/MG)...

185

FIGURA 26 Casas na rua da Grupiara e Igreja N. Sra. das Mercês ao fundo, meados de 1950 [fotografia de Noel Saldanha Marinho] (Diamantina/MG)...

186

FIGURA 27 Igreja N. Sra. do Amparo, meados de 1900 (Diamantina/MG)...

187

FIGURA 28 Conjunto urbano em torno da Igreja de N. Sra. do Amparo, meados de 1940 [fotografia de Eric Hess] (Diamantina/MG)...

187

FIGURA 29 Igreja de N. Sra. do Rosário, meados de 1940 [fotografia de Eric Hess] (Diamantina/MG)...

188

FIGURA 30 Fachada da Igreja N. Sra. do Carmo, meados de 1970 [fotografia de Renato Morgado] (Diamantina/MG) ...

189

FIGURA 31 Panorama da cidade de Diamantina, meados de 1930 [fotografia de Noel Saldanha Marinho] (Diamantina/MG)...

190

FIGURA 32 Construções próximas do Centro, como o Hotel Tijuco ao fundo, meados de 1950 [fotografia de Noel Saldanha Marinho] (Diamantina/MG)...

191 MAPA 02 Localização do município de Diamantina em Minas Gerais...

194

QUADRO 01 Bens inscritos no livro do tombo do IPHAN...

197

FIGURA 33 Entrada da cidade (Diamantina/MG)...

198

FIGURA 34 Caminho dos escravos e a Estrada Real (Diamantina/MG)...

201 FIGURA 35 Caminho dos escravos (Diamantina/MG)...

201 FIGURA 36 Gruta do Salitre (Diamantina/MG)...

202

FIGURA 37 Vista panorâmica de Diamantina (Diamantina/MG)...

203

FIGURA 38 Cruzeiro de Diamantina em 2013 (Diamantina/MG)...

203

FIGURA 39 Rua Beco do Mota com vista para a Catedral Metropolitana (Diamantina/MG)...

205

FIGURA 40 Grande Hotel, Rua da Quitanda (Diamantina/MG)...

207 FIGURA 41 Músicos na Rua Beco do Tecla (Diamantina/MG)...

207

FIGURA 42 Produção artesanal com a flor da planta Sempre-viva (Diamantina/MG)... 210 FIGURA 43 Planta Sempre-viva (Diamantina/MG)...

210

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QUADRO 02 Trabalhos de campo realizados em Diamantina/MG... 215

MAPA 03 A cidade de Diamantina/MG e as Áreas dos seus Patrimônios... 223 FIGURA 44 Estátua representando J. K. (Diamantina/MG). ... 226 FIGURA 45 Sacada da residência do Senhor Zuzu (Diamantina/MG)... 228 FIGURA 46 Fachada da residência do Senhor Zuzu (Diamantina/MG)... 228 FIGURA 47 Pintura que faz alusão a Chica da Silva (Diamantina/MG)... 234 FIGURA 48 Fachada da residência da ex-escrava (Diamantina/MG)... 234 FIGURA 49 Quadro na residência de J. K., representando o ex-presidente (Diamantina/MG)... 236 FIGURA 50 Cozinha da residência de J. K., destacando o fogão de lenha e utensílios (Diamantina/MG)... 236 FIGURA 51 Construção da Catedral (Diamantina/MG)... 242

FIGURA 52 Antiga praça do Centro (Diamantina/MG)... 242

FIGURA 53 Largo Dom João (Diamantina/MG)... 245

FIGURA 54 Largo Dom João (Diamantina/MG)... 245

FIGURA 55 Bilheteria da antiga estação ferroviária (Diamantina/MG)... 251

FIGURA 56 Lateral da antiga estação ferroviária com o símbolo da Central do Brasil (Diamantina/MG)... 251

FIGURA 57 Vista do rio Grande (Diamantina/MG)... 253

FIGURA 58 Vista da Catedral Metropolitana Santo Antônio (Diamantina/MG)... 256

FIGURA 59 Imagem da Catedral na lataria de um ônibus municipal (Diamantina/MG)... 256

FIGURA 60 Loja de artesanato (Diamantina/MG)... 268

FIGURA 61 Mercado municipal no sábado de manhã (Diamantina/MG)... 268

FIGURA 62 Representação da musicalidade e do catolicismo em uma das lojas de artesanato na Baiúca (Diamantina/MG)... 283

FIGURA 63 Fiéis (moradores locais e turistas) em procissão na Semana Santa (Diamantina/MG)... 283

FIGURA 64 Placa na porta da residência da Chica da Silva (Diamantina/MG)... 288

FIGURA 65 Turistas na Baiúca (Diamantina/MG)... 288

FIGURA 66 Dona Maria do Pastel (Diamantina/MG)... 291

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LISTA DE GRÁFICOS

HISTOGRAMA 01

O que te chama mais atenção, positivamente, em Diamantina/MG? (Centro e Rio Grande -

Diamantina/MG)... 262

DIAGRAMA 01

Ao olhar para os patrimônios culturais da cidade, estes remetem a lembranças? (Centro e Rio Grande - Diamantina/MG)...

263

DIAGRAMA 02

Você se orgulha por ter essas paisagens como Patrimônio

Cultural? (Centro e Rio Grande -

Diamantina/MG)... 265 DIAGRAMA 03

Você se sente incomodado com a presença dos turistas, advinda do turismo cultural? (Centro e Rio Grande - Diamantina/MG)... 267 HISTOGRAMA 02

Você acha que o poder público municipal potencializa os patrimônios históricos de Diamantina/MG para promover a cultura ou para viabilizar a questão comercial? (Centro e Rio Grande - Diamantina/MG)...

272 DIAGRAMA 04

Você acha que Diamantina/MG sendo uma cidade tombada como patrimônio histórico favorece o comércio? (Centro e Rio Grande - Diamantina/MG)...

275 HISTOGRAMA 03

Em sua opinião, enquanto comerciante, qual sentimento prevalece sobre o patrimônio histórico arquitetônico e urbanístico de Diamantina/MG? Este está preferencialmente vinculado à cultura ou à questão comercial? (Centro e Rio Grande - Diamantina/MG)...

277

HISTOGRAMA 04 Como você ficou conhecendo Diamantina? (Centro - Diamantina/MG)... 280

DIAGRAMA 05 Você sente que a sua presença, como turista, incomoda o morador local? (Centro - Diamantina/MG)...

284 HISTOGRAMA 05

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 16

1.0 PAISAGEM E LUGAR: O HOMEM NA SOCIEDADE EM UM ESPAÇO

VIVIDO! ... 27 1.1 Paisagem: uma categoria geográfica em contínua (des)construção... 30

1.2 Uma forma de expressão, uma ligação social, uma exclamação: eis a importância

da paisagem!... 43 1.3 Lugar e topofília - paisagem e identificação: do concreto ao jogo do sentir (...)... 53 1.4 Paisagem e lugar: da memória à continuação da vida... 65

2.0 PATRIMÔNIO HISTÓRICO ARQUITETÔNICO E URBANÍSTICO:

VALORIZAÇAO DA PAISAGEM-MEMÓRIA? ... 74

2.1 Memória, amor e política: um olhar sobre o patrimônio em seus enredos

derivados da Geograficidade humana... 78

2.2 A construção do Patrimônio Histórico Cultural no Brasil: em busca de uma

identidade nacional... 100

2.3 Patrimônio, turismo e sociedade: para além do reconhecimento histórico cultural.

114

3.0 TURISMO E PATRIMÔNIO: ENTRE O MUNDO VIVIDO E O

“CENÁRIO” MERCANTILIZADO... 120 3.1 Turismo e turistas: mais que um ato de viajar ...

123

3.2 O Patrimônio Histórico como “produto” do turismo cultural... 134 3.3 Turismo, patrimônio e comunidade: uma relação social em construção... 140

4.0 DIAMANTINA DAS MINAS: DE ARRAIAL “DOS SERTÕES” PARA

CENTRO DE REFERÊNCIA MUNDIAL... 149

4.1 Diamantina/MG: um olhar sobre a formação do Distrito Diamantino ... 151 4.2 Ruas, becos, praças, igrejas (...), algumas paisagens de Diamantina/MG... 166 4.3 Diamantina/MG e turismo: arquitetura, musicalidade e arte...

5.0 OS PATRIMÔNIOS DE DIAMANTINA/MG E SUAS NUANCES NA FORMATAÇÃO DA IDENTIDADE LOCAL...

5.1 Ensaios etnogeográficos - a memória como resgate da vida: algumas observações...

5.2 Da memória à vida vivida: ensaios etnogeográficos com alguns diamantinenses...

5.3 Patrimônio, turismo e sociedade diamantinense: a voz e o olhar do sujeito...

193

213

216 225

258

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 294

REFERÊNCIAS... 298

(18)
(19)

uando se faz a opção pelo ingresso num programa de pós-graduação, “stricto sensu”, a dúvida e a ansiedade inerentes ao processo de se iniciar e se desenvolver uma dissertação são inevitáveis. Uma vez que emerge daí uma preocupação com os caminhos metodológicos e com a escolha das abordagens teórico-conceituais que mais aproximarão o pesquisador da trajetória mais adequada e pertinente de ver e interpretar o espaço a ser pesquisado, emergindo, nesse contexto, aflições e reflexões para quem envereda nessa senda acadêmica.

Ressalta-se que o ponto de partida de um trabalho de mestrado concretiza-se antes mesmo do ingresso do aluno em um programa de pós-graduação. O objeto, a área de estudo, o interesse em selecionar alguns objetivos, são frutos de sua vivência com o universo a ser analisado no trabalho, tudo isso acoplado a discussões de uma temática que também não é

selecionada aleatoriamente.

Destaco essa experiência relacionada com o processo de se iniciar uma pesquisa de

mestrado, pois ao desenvolver a introdução desta dissertação me flagro num processo de caminhada gradativa e evolutiva na construção do conhecimento, dado que a escolha de conhecer mais a história, a sociedade e as paisagens de Diamantina/MG não constituiu, pra mim, uma opção banal. A adoção dessa opção se deve aos contatos prévios que mantive com professores do curso de graduação em Geografia / Licenciatura Plena que concluí em 2011 na Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Campus Pirapora - no norte das Minas Gerais.

O universo de leituras projetadas pelos professores, em especial através da dinâmica de classe adotada na disciplina Geografia Cultural, dessa instituição de ensino, despertou o meu interesse sobre o ser humano, a relevância das paisagens e dos lugares como processos e conteúdos sociais importantes na vida do homem. Também as minhas participações em grupos de pesquisas, iniciação científica e programas institucionais de extensão universitária me direcionaram nesse sentido.

Ademais, vivenciei, por diversas vezes, experiências com a sociedade diamantinense e me envolvi com o cotidiano desse lugar que consegue fundir sofisticação e simplicidade nas histórias contempladas, expressas e vividas em suas paisagens, além das formas de

apresentações dos eventos culturais que destacam um pequeno universo da maneira de ser, fazer e viver dos moradores locais.

(20)

profundidade este lugar-mundo particular. Lugar que se apresenta como um celeiro turístico profícuo, decorrente, principalmente, da beleza e da atraente história destacada na arquitetura desta cidade. Arquitetura marcada pela diversidade de estilos influenciados pelos povos/culturas: árabe, africana, indígena, portuguesa, que ali se estabeleceram.

Lugar onde, as casas, mercados e igrejas do centro histórico remetem ao período colonial, desenhando-se com a forte presença da arte barroca, num estilo que é, ao mesmo tempo, simples e elegante, e que consegue ainda promover uma convergência e sintonia entre a arquitetura das épocas colonial com a moderna. Esta última destacada pela presença de belas obras de Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho (1907-2012) localizadas em alguns pontos (escolas, praças, hotéis e hospitais) da cidade.

Aliam-se a isto, a alegria e cumplicidade dos moradores locais com as formas de construírem (i)materialmente a cidade, seja pelas paisagens (especialmente a arquitetura), seja pela cultura expressa no artesanato, nas danças, nas músicas, nas festas ou na linguagem regional, construindo uma identidade própria e singular em meio a formatação do lugar, que

progressivamente passa a ser um atrativo turístico, potencializado pelo poder público e agentes comerciais.

Fazendo-me perceber novas formas de interação e existência social no seu espaço de vivência (do diamantinense), que procurei interpretar/reinterpretar, através de dois aspectos centrais de análises: (i) a relação de convívio do morador com suas paisagens e o lugar e (ii) a dinamicidade do turismo cultural e seus desdobramentos na cidade. Para se compreender a construção deste trabalho, e reforçando os motivos que me levaram a construí-lo, apresentamos a seguir a discussão do tema e justificativa de sua escolha como foco de investigação proposta.

Tema e justificativa

O tema que se delineia neste trabalho envolve a importância da paisagem como categoria conceitual da Geografia, entendendo-a como um referencial (i)material e natural de observação que pode ser visualizado como um componente social que promove a

interpretação do homem no lugar habitado e, também, vivido. Constituindo uma possível e eficaz categoria de análise histórico-cultural e político-identitária.

(21)

políticas, frutos da maneira de o homem se conduzir e se construir num mundo repleto de ideologias.

Ressalte-se, ainda, que a ação do homem modifica a paisagem e confere a ela uma característica de intervenção social de natureza política, desenhando marcas de vida em uma sociedade dotada de conjuntos a serem entendidos como arsenais culturais, particularmente visíveis nos conjuntos arquitetônicos e urbanísticos (MENDONÇA & VENTURI, 1998).

As paisagens podem ser representadas então, como retratos vivos dos modos de vida de uma comunidade, concretizado(s) no(s) patrimônio(s) histórico(s) que, por sua vez, constituem bases culturais de cunho histórico-geográfico, e que reúnem, ao longo do tempo, as representações de uma sociedade construída de maneira coletiva e, por outro lado, pela maneira particular do homem se conduzir e sentir no espaço (HOLZER, 1999).

Nesse contexto de representatividade histórico-arquitetônica e urbanística em que o município de Diamantina, localizado no estado de Minas Gerais, se destaca, pois apresenta, especialmente no centro urbano, um conjunto patrimonial arquitetônico que constitui

elemento essencial na construção das relações do homem-homem e homem-ambiente, fornecendo, essencialmente, subsídios subjetivos para o estabelecimento de laços topofílicos.

Compõe um alicerce no que tange à identidade do ser, à internalização da memória social e à busca pelo equilíbrio psicossocial, constituindo, nesse sentido, uma forma de organização político-cultural singular (TUAN, 1983).

O município de Diamantina teve, em sua sede, o seu conjunto arquitetônico e urbanístico tombado em 1938, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional - IPHAN -, como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, figurando entre os bens culturais de relevante expressão situados no território brasileiro. Corresponde a uma das pioneiras cidades do país a ser tombada, tendo recebido, ainda, em dezembro de 1999, o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, a ela conferido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO.

Título recebido pelo valor universal aí diagnosticado pelas obras arquitetônicas ali localizadas, imbricadas com arranjos que representam cenários da nossa história política. Trata-se de uma cidade que, como se sabe, destacou-se como palco de uma das atividades econômicas mais importantes para o país, advindo da extração do ouro e do diamante; além de retratar um espaço social urbano pioneiro, constituindo, assim, as suas formas arquitetônicas como pontos e referências históricas de grande valor (SILVA, 2003).

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compartilhada. Mas, na contemporaneidade, o patrimônio se vincula também - é relevante assinalar - a interesses capitalizados que utilizam os bens tombados como atrativo turístico com potencial de lucro, transmutando, assim, esse patrimônio em objeto de utilização e mediação de vários agentes sociais em busca de rentabilidade econômica (GONÇALVES, 2005).

A gestão de um patrimônio cultural, tal como o conjunto arquitetônico e urbanístico do centro histórico colonial da sede de Diamantina, associa-se a estratégias de planejamento urbano, que se desenvolve em um processo simultâneo (e ambivalente) que varia e oscila entre dois polos: (i) preservação e (ii) mercantilização. Esta última tendência se materializa na busca de preservação de um atrativo conduzida sob a lógica de mercado, marcada, principalmente, pela atenção das redes hoteleira e gastronômica, dinamizadas pelo turismo cultural (CARLOS, 2001).

Observa-se que, este conjunto patrimonial arquitetônico e urbanístico é, muitas vezes, apropriado potencialmente, assim, com base em interesses políticos e econômicos, ao invés de

sê-lo na óptica do que deveria se perceber como seu objetivo primordial que é a de preservação de uma história para a construção de uma sociedade. Projeta-se, nesse contexto,

uma dupla função do patrimônio, (i) primeiramente pela sua relevância enquanto paisagens que remetem à essência memorial que identificam o homem no espaço vivido e (ii) pela “espetacularização” desta paisagem, assumindo uma dimensão comercial.

Nesse intento, o patrimônio histórico, como elemento representativo, deveria ser gerido com muita atenção, uma vez que remete a um amplo espectro de benefícios históricos, culturais, econômicos, desde que sua preservação seja priorizada. Busca garantir, dessa forma, qualidade de vida aos cidadãos detentores naturais dos elementos tombados, conjugando-se à oferta desse retrato humanitário para toda sociedade, incluindo-se, aí, visitantes e citadinos locais (CALDEIRA, 2009).

Até porque a atividade do turismo cultural, em cidades detentoras de elementos patrimoniais tombados se, por um lado, garante a sobrevivência econômica de muitos moradores pela dinâmica econômica que é por ela gerada; pode, por outro lado, proporcionar uma interferência inapropriada dos “outsiders” na vida dos “insiders”, a ponto de gestarem tensões no tecido social que podem, até, numa situação-limite, modificar o sentido de pertencimento ao lugar para o morador local.

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inclusive este processo envolve uma experiência de espacialidade entre o vivido e o cotidiano, no presente, propiciando, ademais, pela democratização do turismo a disposição de “todos”.

Mas, como já sinalizou aqui, esta valorização de determinados elementos da paisagem, pela sociedade, muitas vezes é pautada num modelo de paisagem cultural com vínculo exageradamente relacionada à sua condição de mercadoria. E assim, através da conservação de um legado histórico podemos perceber, paralelamente, a emergência e consolidação de um capitalismo cultural e a, conseguinte, mercantilização num contexto territorial multifacetado que compõe uma rede multiescalar de interesses e geossímbolos de diferentes dimensões sociais (HAESBAERT, 2007).

É nesse contexto de intenções e ações entre o uso e a relevância da paisagem que, de acordo com Caldeira (2009), é possível se buscar uma visão globalizante da cidade, do homem e dos seus interesses. Isso porque a paisagem arquitetônica é o valor do possível na organização do habitar, sendo um elemento instigante para estudos que se proponham caracterizar os interesses embutidos em patrimônios culturais, e seus reflexos em uma

dimensão simbólico-identitária e comercial.

Neste trabalho, a discussão de paisagem está intimamente atrelada à dimensão da

cidade, espaço por excelência de percepção das mudanças de ações sociopolíticas e econômico-culturais em diversas formas. E vale assinalar que a arquitetura apresenta como o mundo urbano é revelado em sua especificidade intríseca, por meio da sua impressão numa paisagem que pode remeter inclusive a um quadro de denúncias sociais.

Postula-se, aqui, a grande importância do laço de topofília que associa significado assumido pelos tombos realizados pelo IPHAN e a UNESCO, principalmente da área central, para os moradores locais da cidade de Diamantina. Neste ponto se configura o principal recorte territorial desta investigação que remete a singularidade deste centro urbano. Nesse contexto, se percebe, com muita clareza, o homem associado à construção da paisagem e à carga de sentimento indissociavelmente vinculada a ela.

Então, o estudo da paisagem - patrimônio, colocado em pauta aqui - parte dos pressupostos da compreensão e investigação da “[...] política de preservação de áreas urbanas envolvendo, ao mesmo tempo, aspectos relativos à construção da identidade nacional e da memória coletiva, e aspectos relativos ao planejamento urbano e à qualidade de vida nas cidades [...]” (MESENTIER, 2004, p.73).

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municipalidade detém considerável conjunto de tombos. É nesse sentido que este trabalho emerge como importante e estratégico, pois compreender os motivos, concepções e causas deste embate entre as dimensões cultural e comercial, materializado seja na apropriação, ou vivência do conjunto arquitetônico, é sentir-se responsável pela perpetuação da história de um país, descortinada nas telas da vida que são as paisagens.

A partir desses marcos e referenciais que, a seguir, serão apresentados os objetivos do trabalho, os “andaimes” da pesquisa:

Objetivos

Objetivo Geral

 Compreender quais os impactos que a atividade do turismo cultural gera, através da

exposição do patrimônio histórico arquitetônico e urbanístico de Diamantina/MG, afetando os moradores, interferindo e eventualmente criando conflitos com seus laços de afetividade e pertencimento ao lugar.

Objetivos Específicos

 Investigar a relevância do patrimônio histórico arquitetônico e urbanístico de

Diamantina/MG para a construção da identidade cultural local dos diamantinenses em termos das relações topofílicas e topofóbicas aí estabelecidas;

 Analisar, pela percepção dos moradores e do poder público, se o desenvolvimento da

atividade do turismo cultural em Diamantina/MG provoca contradições e tensões no tecido social;

 Identificar junto aos comerciantes, moradores e poder público qual a importância do

patrimônio diamantinense como atrativo turístico para a geração de renda (em seus diferentes segmentos), e avaliar como os turistas percebem a dinâmica da cultural na cidade, e sua interferência na dinâmica local.

Metodologia

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bibliográfico sobre as categorias conceituais: paisagem e lugar; sobre os temas; memória, patrimônio histórico arquitetônico e urbanístico e as problematizações sobre a cultura como elemento comercial atrelado aos interesses do turismo cultural. Posteriormente efetivou-se a (ii) pesquisa documental e bibliográfica de dados históricos, geográficos, econômicos,

populacionais e sociais da área de estudo em órgãos públicos das esferas municipal, estadual e federal.

Em seguida foram realizados (iii) trabalhos de campo em Diamantina/MG, priorizando-se, aí, a aplicação de questionários quanti-qualitativos e não-diretivos aos moradores, autoridades, comerciantes locais, turistas, além dos ensaios etnogeográficos e uso do resgate da iconografia dos moradores. Por último, (iv) organização e compilação dos dados para a elaboração de mapas e gráficos.

Vale ressaltar que a escolha bibliográfica é extremamente pessoal, incluindo autores de diferentes formações acadêmicas (como: geógrafos, historiadores, antropólogos, psicólogos, arquitetos, filósofos, jornalistas, geólogos, dentre outros) e englobando, portanto, diversas

áreas de atuação, linhas de pesquisas e interfaces de diferentes escolas que não anulam o diálogo construtivo mas, pelo contrário, reafirmam a importância de cada experiência

científica para a produção do pensamento.

Tais fontes bibliográficas agregam abordagens que discutem as sensações e percepções, dimensões da realidade importantes pelo direcionamento dado ao trabalho, vinculado às perspectivas da Geografia Cultural.

Abordagens e perspectivas

Quando se definiu o trabalho com o título proposto buscou-se realizar um exercício de pesquisa no qual o geógrafo se preocupe com uma análise e abordagem mais humana, explicitando os sentimentos dos homens, suas realizações e julgamentos. Buscou-se propiciar uma interrogação do homem sobre o seu “[...] corpo, seu espírito, sua percepção de mundo e seu movimento imaginário [...]” (ALMEIDA, p.41, 1993). Buscando-se, ainda, olhar para dentro da sua experiência, para identificar o sentido que ele dá à sua vida (CLAVAL, 2001).

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Como representação social de estarmos no mundo, as paisagens desenham as maneiras pelas quais conduzimos a nossa vida, projetada, arquitetada e modificada, a cada momento, e realiza-se, aí, a construção de uma memória social que é sentida e resgatada cognitivamente por grafias, “[...] centradas em valores que podem ser reinterpretados a partir das dimensões materiais e corporais da existência humana” (GONÇALVES, 2002, p.110).

Vale ressaltar que estas paisagens são percebidas no(s) patrimônio(s) histórico(s) arquitetônico(s) e cultural(is) tombado(s), com o objetivo de se preservar a identidade cultural necessária para a estabilidade do homem no seu espaço, uma vez que se percebe neste uma ligação afetiva, sensitiva e de pertença, num sentimento de topofília (TUAN, 1980). Destaca-se ainda que são poucos os lugares, como Minas Gerais, que conDestaca-seguem despertar nas pessoas tal sentimento de afinidade, simpatia e admiração pelas suas paisagens (AMORIM FILHO, 1999).

Em função da representação social, econômica e cultural desempenhada por sua história, é que, consequentemente, as paisagens de Minas Gerais possuem o maior percentual

de bens tombados no Brasil (AMORIM FILHO, 1999). Mas, essas paisagens não são apenas construídas, elas são percebidas através da representação de diversas versões suas,

decodificadas pelo olhar de cada homem e mulher que vive naquele lugar, como uma pintura ou poesia que se compõe de forma única e que marca etapas de uma vida (McDOWELL, 1996).

Sugestivamente o passado com suas referências marcadas no patrimônio, volta na virada do milênio “[...] a ser valorizado. Começa-se a se sentir, neste contexto, a necessidade de se entender o passado como um referencial para a construção do futuro e como um processo contínuo de fruição” (SIMÃO, 2001, p.15). Esse passado é um retrato das complexas relações sociais que construímos, sendo que voltar a ele é uma experiência que pode promover uma recarga emocional, dando-nos forças para seguirmos em frente.

A paisagem, então, é abordada e valorizada no trabalho a partir do enfoque humanista, pois entendemos que as verdadeiras paisagens são aquelas alcançadas como as interiores das nossas emoções (GUIMARÃES, 2002). Dessa maneira, investigamos o campo da experiência humana mergulhando numa das tarefas mais antigas do pensamento ocidental, em que os sentidos, as sensações, percepções e os usos cognitivos, inseparáveis do corpo e da relação entre o Eu e o Mundo, são muito relevantes para a construção histórico-memorial do indivíduo em sociedade (MARANDOLA JÚNIOR, 2005).

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Tuan, Merleau-Ponty e Anne Buttimer, autores que assumindo uma visão “holística” do homem-natureza, destacam o “lebenswelt” (mundo vivido) na experiência humana. A importância da fenomenologia imbrica-se com a pesquisa sobre os problemas do Conhecimento e do Pensamento, examinando o fenômeno como ele é. Trata-se de um método sempre inacabado que se pratica através da experiência e da percepção, pois toma como ponto de partida o comportamento humano. Além disso, cabe destacar que a fenomenologia está sempre atenta aos movimentos, aos olhares, a entonações da voz do Outro, à performance de quem fala e o que isso é representado para o pesquisador.

Utilizamos também o existencialismo na busca da valorização das condutas de vida, realizando uma reflexão entre o ser e a existência, aqui entendidos no contexto da permanente construção do homem no lugar; sendo representada a sua existência pela paisagem, num universo subjetivo e intersubjetivo, pois o pensamento objetivo, e exclusivamente racional, ignora, muitas vezes, o sujeito da percepção.

Percepção esta entendida, aqui, como a linguagem do mundo exterior e interior do

homem, despertada a partir da sua experiência de mundo e de como ele percebe o mundo em si mesmo (MERLEAU-PONTY, 1971). Percepção construída, experimentada e “[...] ligada aos processos da cognição, afetividade e memória” (GUIMARÃES, 2002, p.130), que promove sensações acompanhadas de diversos significados.

Entendemos, através das abordagens de Tuan1 (1983), que a experiência humana pode ser, portanto, representada pela construção da paisagem, aliada aos usos sensoriais do corpo em relação ao mundo e que desenvolvem suas noções espaciais. Construções essas que são ampliadas pela experiência de vida diretamente ligada à intensidade e densidade das relações pessoais e coletivas (MARANDOLA JÚNIOR, 2005).

Nossa pesquisa vai também de encontro com as abordagens de Piaget (1975; 1996), quando este pesquisador afirma que todos os níveis de desenvolvimento cognitivo e campo sensorial, são utilizados para exercer influência, direta ou indireta, sobre a percepção do homem, enriquecendo e orientando a sua experiência. A pesquisa se posiciona, assim, em

1 Este trabalho é direcionado pelos estudos e discussões do professor e pesquisador (clássico) Yi-Fu Tuan, atualmente considerado o “pequeno-príncipe” da Geografia, uma vez que suas abordagens procuram “[...] domesticar uma geração de colegas entusiasmados pelo positivismo lógico e a análise espacial quantitativa” (BUTTIMER, 2012, p.135). Destaca a importância da subjetividade nos estudos nas Ciências sociais, este

pensador persiste na reflexão crítica sobre os lugares, tratando de temas “inovadores”, como: religião, moral,

imaginário, natureza, cultura, ética, amor e o receio pelos lugares, apoiado em uma escrita poética derivada dos fatos e acontecimentos cotidianos. Os seus trabalhos são de grande importância para a Geografia, afirmação esta

que se comprova pelo prêmio Internacional de Geografia “Vautrin-Lud”, considerado o “premio Nobel de

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termos do seu direcionamento, organização e construção, entre o construtivismo piagetiano e as influências fenomenológicas de Tuan.

Organização dos textos

A dissertação está organizada em cinco (05) capítulos, sendo a introdução, seguida pelo capítulo um (01) que aborda as categorias conceituais: paisagem e lugar, posicionando-as em termos da sua relevância na e para a construção da experiência do homem no mundo. O capítulo subsequente (02) enfoca a constituição do patrimônio histórico, a evolução da discussão sobre esta relevante dimensão cultural brasileira e a sua importância para a construção da identidade do homem no seu espaço-lugar. O capítulo (03) aborda a atividade do turismo, caracterizando os elementos patrimoniais como bens potencializados pelo turismo cultural, destacando, ainda, os seus efeitos sociais.

O penúltimo (04) capítulo traz uma retrospectiva geohistórica da cidade de

Diamantina/MG, apresentando suas características físico/geográficas e destacando a presença da atividade do turismo. Na sequência, o último capítulo (05) traz a discussão empírica,

promovendo o levantamento dos dados obtidos em campo, incluindo-se, aí, contatos com os moradores, turistas e instâncias de poder locais, realizando reflexões acerca das leituras/interpretações dos dados tabulados, bem como apresentando discussões permeadas pela elaboração de gráficos. E, por fim, são apresentadas, naturalmente, as considerações finais.

Dessa forma, a pesquisa é apresentada como elemento de compartilhamento que objetiva dividir olhares. Buscou-se a elaboração de uma escrita que contemplasse a construção de um narrador-personagem, valorizando o diálogo entre o autor e o leitor, pois uma pesquisa de mestrado não consiste apenas em dissertar, descrever uma temática mas, envolve, sobretudo, explicitar e lançar pontos de vistas, análises, percepções do autor, uma vez que nenhuma postura acadêmica, científica, é neutra, mas, sim, marcada pelo olhar de quem pesquisa, do interesse daquele que tenta ver e sentir o seu objeto de estudo além das escritas.

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iante das indagações que se fizeram presentes ao longo da construção deste trabalho, fundidas nas reflexões sobre a paisagem e voltadas para a análise da relação paisagem-lugar2 e o mundo vivido3 do sujeito, confronta-se o desafio de iniciar a discussão sobre a trilogia que permeia esta dissertação, embasada nos (des)encontros entre o patrimônio histórico arquitetônico, o mercado comercial e a cultura (i)material.

De imediato, direciona-se a refletir sobre o homem no mundo e no seu espaço de vivência para a construção do substrato social. Assim, começa-se a abordar a categoria conceitual geográfica Paisagem e suas transformações interpretativas que, na contemporaneidade, se fazem “vivas” na relação subjetiva do sujeito e seus laços emocionais. Essas transformações fortificam, em certa medida, a construção da sociedade, edificando e refazendo, dessa forma, os capítulos de sua história, e estando grifadas as marcas de seus feitos nas paisagens. Isso porque as paisagens retratam, significativamente, a relação homem-mundo, construindo um cosmo de características de um lugar que representa, ao passar do tempo, a vida.

É importante assinalar que, dessa forma, começa-se a debruçar na dissertação, com foco na paisagem na vertente da Geografia Cultural. Não se tem aqui o objetivo de traçar um

paralelo teórico de sua aplicação científica nos estudos da Geografia de forma a realizar um resgate do processo histórico desta categoria conceitual. Busca-se perceber a evolução da Ciência do espaço ao compreender, mesmo com discussões que perduram até os dias atuais, que a paisagem é o retrato mutável de uma sociedade. Ela é uma representação tridimensional, pois representa a experiência humana, a densidade dos contatos experienciados e a intensidade dos fatos que ocorrem no espaço. Além disso, é uma expressão da vida, que é híbrida, e que comprova com cientificidade, a Geografia construída, observada, imaginada, sentida e vivida nas esferas material e, principalmente, imaterial.

No percurso deste capítulo destaca-se também a categoria conceitual geográfica Lugar, e sua relação construída com o homem, em seu enredo psicossocial e afetivo-emocional. Pois,

2 O termo paisagem-lugar, utilizado no decorrer do trabalho, envolve a compreensão de que o homem constrói a sua vida com a experiência sentida em sua forma de existência em contato com o Outro, constituindo, aí, gradativamente, a sua personalidade que se afirma na apresentação de sua história nos desenhos expressos nas paisagens, ou seja, esta é a marca da experiência do homem no lugar e o lugar representa o ambiente dele no mundo. Considera-se, assim, impossível dissociarmos tais categorias geográficas para destacar as ações, modelagens e expressões humanas na Terra. Sendo elas mais que uma conjunção de duas categorias conceituais; tornando-se a base da discussão da existência do ser em seus fenômenos sociopolíticos e culturais.

3

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o sentir-se presente no espaço pelo lugar, através, principalmente, da sensibilidade emocional e sensitiva que se relaciona diretamente com os sujeitos e a sua experiência, reafirma a memória do ser na paisagem como retrato de uma vida. Sendo que este é o intuito da adoção desta abordagem com a reflexão da categoria conceitual supracitada.

Ao lerem este trabalho, muitas pessoas devem se perguntar: “Porque o autor não iniciou as suas reflexões sobre a categoria conceitual geográfica: Lugar e, posteriormente, a contrapôs à análise da categoria: Paisagem, pelo contexto da pesquisa que se remete aos laços de topofília?”.

A resposta4 se condiciona ao universo de interesses e afinidades científicas que impulsionaram esta pesquisa: o olhar da paisagem e como olhar e sentir a paisagem. Foi este o aspecto que fomentou as inquietudes dos diversos significados sociais sobre as quais podemos refletir na perspectiva de uma análise crítica do Patrimônio Histórico Arquitetônico e Urbanístico do município de Diamantina/MG. Assim, sinto, percebo, analiso e descrevo a paisagem como a construção do ser humano em suas múltiplas esferas político-sociais,

reforçando a ideia de pertencimento a qual possibilita o contexto da vivência do lugar. Procuro enfatizar, ainda, a relevância da paisagem e, ao mesmo tempo, evito uma

metodologia que atrele a construção sistemática das categorias conceituais geográficas em uma suposta escala e recortes definidos.

Teve-se aqui, como intuito maior, ressaltar a importância da paisagem para o ser humano como arcabouço da memória com respingos de encontros, de sentidos e emoções, com características individuais e coletivas, tornando o lugar único e, sendo assim, muitas vezes, claramente memorável.

É importante, nesse sentido, colocar a paisagem e o lugar em uma situação possível de diversos olhares e contextos, entre estes, podem-se pontuar: as armações de conotações políticas, sociais, econômicas, com foco na relação sensitivamente subjetiva e sócio-emocional derivada das ações e percepções humanas, à medida que se percebe, nos ecos dos sentimentos do sujeito, a oportunidade de se conhecer na diferença do Outro.

Tudo isso mostra que entender a multiplicidade das paisagens em seus lugares, observando, ademais, a complexidade do espaço-lugar sobre o olhar do diferente é importante. Sendo essencial essa compreensão para que, assim, a discussão relacionada sobre

4

Convergindo com as ideias de Laura Ludovico de Melo (2009), entendo e desenvolvo este trabalho realizando as reflexões sobre o homem e paisagem, e que esta, antes de ser palco de inúmeras dinâmicas sociais, me remete

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o Patrimônio Histórico Arquitetônico e Urbanístico de Diamantina evidencie-se como um “elemento” de real importância para a difusão cultural e socioeconômica da área em questão. Busca-se, na pesquisa, localizar a essência destes cenário-vividos da paisagem que afetam a cadeia de pertencimento e afetividade do homem no seu lugar, reforçando, aí, os olhares do sujeito sobre a paisagem.

O objetivo neste capítulo é, de fato, o de apresentar a exclamação social que se exibe nos traçados de uma paisagem, em especial a urbana, narrando, cantando, bordando, entre os gradientes das ações do homem no espaço, diante da “dicotomia” do tempo e da construção de suas relações afetivo-sociais, para que se possa compreender o quão é importante a paisagem para a sociedade, e daí a continuidade de uma vida.

Dessa forma é apresentada, a seguir, uma discussão sobre a paisagem e sua construção enquanto análise, e os avanços da Ciência do Espaço em sua utilização interpretativa, derivados dos progressos da pesquisa, dos métodos geográficos e da sensibilidade do pesquisador.

1.1 Paisagem: uma categoria geográfica em contínua (des)construção.

Conceituar a categoria geográfica Paisagem é um risco, pois este é um dos conceitos mais ambivalentes no conhecimento geográfico, uma vez que a pluralidade de abordagens a respeito dela é imensa. Essa categoria é aplicada à pintura, à história da arte, aos estudos do cinema, à literatura, ao turismo, dentre outros, provocando um turbilhão de dilemas e discussões de seus polêmicos temas. Chegando, dessa forma, a ser compreendida desde um elemento natural, ou eventualmente, atribuindo-se um significado simbólico por decodificar olhares, percepções, ações e movimentos em forma de uma metáfora.

Paisagem é um conceito que passou e passa por diversas reflexões, pois é um retrato natural e, ao mesmo tempo, humanizado de tudo aquilo que se sente, faz e se percebe no espaço (VIEIRA, 2006). Devido a isso, oferece-nos a oportunidade de debater concepções modernas a respeito desta categoria, analisando-a no contexto de suas relações de interesses sociais e ecológicos.

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A ideia de paisagem esteve presente, também, na pré-história, com as grafias e figuras (rupestres) destacadas em rochas, grutas e cavernas, bem como no pensamento do ser, pela imagem da modelação dos recursos naturais. A partir do (re)desenhar de um meandro, em um sistema hídrico, até as formas cênicas das frondosas árvores das florestas, uma vez que a paisagem esteve associada à essência da Natureza, haja vista que a sobrevivência humana dependia da experiência de conhecer o lugar (ambiente) e de realizar ações suficientes para a alimentação, moradia e continuidade da vida (MAXIMIANO, 2004).

Essa relação descritiva no Salmo 48 e no universo da pré-história, no que tange à paisagem, gradativamente, passou por modificações pela estruturação tecnológica que o homem ia empregando no campo, tornando a paisagem também uma transformação humana sobre a natureza e não apenas um quadro cênico. Essas transformações tornaram relevante para propiciar aquisições de pesquisas que, teoricamente, os objetivos remetem à sanar as diversas inquietudes e necessidades do homem (SILVA, 1997).

Essa categoria conceitual geográfica tem um forte vínculo com relações de

investigação do espaço, levando a Geografia a ser chamada da Ciência da paisagem. Por apresentar vários sentidos e interpretações, vale ressaltar que no século XV, no Renascimento5

Cultural, época efervescente da arte, cultura, religião e economia, a Paisagem era analisada como representação espacial visível, rompendo com a crença teológica da divindade da paisagem que até então (em meados do século XIV), dominava a compreensão a respeito dela (SUBIRATS, 1986; SCHIER, 2003).

A paisagem, como forma “intocável”, começa vagarosamente a ser entendida como elemento de apropriação e mutação na sociedade e, a partir daí, Mendonça & Venturi (1998, p.65) destacam que:

[...] as premissas históricas do conceito de paisagem, para a geografia, surgem por volta do século XV no renascimento, momento em que o homem, ao mesmo tempo em que começa a distanciar-se da natureza, adquire técnica suficiente para vê-la como algo passível de ser apropriado e transformado.

No Renascimento a paisagem, paulatinamente, passa por um processo de transição entre sua compreensão como objeto natural e se apresenta como um elemento espacial no

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contexto cultural. Primeiramente no mundo das artes e, posteriormente, entre os enfoques científicos de cunho acadêmico.

Com as discussões adquiridas sobre a paisagem no Renascimento, esta ocupa de vez o seu lugar, principalmente através dos aportes de geógrafos alemães de destaque, a exemplo de Alexander Von Humboldt (1769-1859); positivista que compreendeu, neste momento, a paisagem como um conjunto de relações naturais. Esse geógrafo publicou em 1844 a obra Cosmos, cujo objetivo era comunicar a necessidade prática da pesquisa científica e descrever

os conhecimentos dos fenômenos terrestres e celestes de forma enciclopédica.

Já Friederich Ratzel (1844-1904) publicou em 1882 a obra Antropogeografia, na qual destacou a cultura num contexto político e os ensaios etnogeográficos (descreve e mapeia os modos de vida dos homens e suas repartições), definiu o objeto geográfico como o estudo da influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade nas esferas fisiológica e psicológica. Essas obras adquiriram grande destaque para os pesquisadores e a Ciência em seus campos de interpretação (ROSENDAHL & CORRÊA, 2001; SCHIER, 2003; CLAVAL,

2007).

Esses pesquisadores destacados acima incluíram nas discussões geográficas o conceito

de paisagem por meio de métodos de análise e averiguação num formato enciclopédico, descritivo, com entendimento e compreensão holística para as formas que se apresentavam na superfície da terra. Destacaram que o estudo da cultura se baseava na análise do uso dos artefatos utilizados pelo homem para dominar o espaço na terra e os resultados das modelações (CLAVAL, 2007).

O geógrafo, naturalista, pesquisador e considerado o pai da Geografia, Von Humbold, utilizou o termo “paisagem natural” para retratar as áreas da natureza em sua essência geomorfológica, caracterizadas pelas áreas homogêneas dos campos e, realizando uma fisionomia própria. Conferiu esta compreensão por meio de suas viagens, e trabalhos de campo, realizados no final do século XVIII, nos quais a categoria geográfica paisagem se constituiu. E no século XIX, o termo alemão “Landschaften” (paisagens), de origem “Land Schaffen”“criar a terra, produzir a terra”, se destacou (HOLZER, 1998; SCHIER, 2003).

Mas, apesar da conotação fortemente naturalista que Humboldt adotava, ele era um contemplador apaixonado das paisagens, alcançando um romantismo literário no trato da relação do homem com a natureza e, apresentando, portanto, um lado humanístico que poucos estudiosos destacam (FREITAS, 2007).

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interessado na relação de aspectos concretos, importantes para o domínio e reorganização do espaço no país, uma vez que não existia ali a unidade de um Estado (MELO, 2001).

Ressalta-se que, para a época, a relação natural da paisagem era representada por uma carga quanti-descritiva, na qual destacava, também, o ambiente como modelador das ações do homem. Influenciando assim as suas reações, sintetiza o homem como mero produto do meio, o que nos remete a perceber o determinismo geográfico como painel de estudo, principalmente em Ratzel.

Diante dos embates e discussões em torno dos enfoques dos estudos da paisagem, surge, por sua vez, na França, no século XIX, uma nova conotação para esta categoria, principalmente, com os estudos do geógrafo Paul Vidal de La Blache (1845-1918) que assumiu a paisagem, relacionando-a à região para estudar a inter-relação dos elementos naturais e humanos em uma unidade de análise (CLAVAL, 2007).

Nas pesquisas deste geógrafo, utilizava-se o princípio de conexão, no qual todos os fenômenos geográficos se inter-relacionavam, não necessariamente estabelecendo sequências,

mas coexistindo numa complexidade de relações. Foi importante esta análise para associarmos o princípio da diferenciação, base da noção vidaliana de região e, a partir daí, a

paisagem tornou-se importante aos estudos regionais. Nesse contexto, podemos declarar que esse pesquisador foi um dos responsáveis por instituir a Geografia como a Ciência da paisagem (FREITAS, 2007).

A “Paysage” (paisagem) passa a ser concebida, também, como um elemento de estudo de enfoque social (humanista), atentando para as modelagens que o homem realiza no meio, com a prática de estudos de sociedades tradicionais, principalmente agrícolas e com vínculos temporais nos passados. Além disso, analisam-se as ações do sujeito ao lugar, seu modo - gênero - de vida, e inauguram o conhecido “possibilíssimo” francês.

Diferentemente do enfoque alemão, os franceses destacavam que o homem é capaz de modificar o espaço, sobressaindo-se os fatores e efeitos dos seus atos na paisagem pela “força do hábito” - o que corresponde a colocar em pauta o estudo da Geografia como uma reflexão sobre o ambiente e os estabelecimentos humanos (CLAVAL, 2007; FREITAS, 2007).

Os estudos6 das paisagens pelos franceses, sobretudo daquelas que o homem já modificara, não retratam de fato as relações socioculturais construídas pela sociedade, mas

6

Imagem

FIGURA 01: Homem e lugar. Sentido, percepção e experiência: topofilia
FIGURA 02: A vida em experimentação: lugar e paisagem.
FIGURA 03: Planta da demarcação Diamantina, século XVIII.
FIGURA 04: A formação urbana do Tijuco em sua área quadrangular.
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Referências

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