• Nenhum resultado encontrado

Turismo social e terceira idade:desafios emergentes

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Turismo social e terceira idade:desafios emergentes"

Copied!
158
0
0

Texto

(1)

DEPARTAMENTO DE ENSINO

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

TURISMO SOCIAL E TERCEIRA IDADE: DESAFIOS EMERGENTES

o' .

. ,

DISSERT AÇÃO APRESENTADA Á ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

JACOB EDUARDO ROZENBERG

(2)
(3)
(4)

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Fernando G. Tenório, pela orientação sempre segura e pelo exemplo de tenacidade.

À Professora Valéria de Souza sempre gentil e atenciosa, pelo apoio e es-tímulo recebidos.

Ao Professor Sérgio B. Dantas, o meu reconhecimento pela receptividade e pela ajuda oferecida.

(5)

SUMÁRIO

Este estudo tem por objetivo realçar e discutir dois temas de relevância atual: o turismo social e a terceira idade. O turismo social consiste em um esforço conjunto da Sociedade e do Estado em promover a universalização e a humaniza-ção da prática turística incorporando nesta atividade grupos socialmente e/ou economicamente desfavorecidos tais como os trabalhadores, os deficientes, os jovens e os idosos. Estes últimos, face ao processo de envelhecimento da popula-ção mundial ora em curso, têm assim justificada a necessidade de inclusão de suas demandas, entre as quais o direito ao lazer, no rol das políticas sociais for-mulado quer no âmbito estatal, quer no conjunto de ações que venha a ser adota-do a nível da sociedade civil organizada.

A questão da terceira idade é analisada a partir de uma pesquisa histórica que descreve a evolução do tratamento dispensado aos idosos pelas diversas soci-edades, ao longo do tempo. Esta trajetória investigativa culmina com a explana-ção da situaexplana-ção atual do velho no mundo e mais especificamente no Brasil.

O turismo social é abordado através da formulação de conceitos, da sua confrontação com os valores que norteiam o chamado turismo tradicional e da apresentação de experiências já postas em prática. É destacado o papel precípuo do Bureau Intemational du Tourisme Social - BITS na divulgação e no fomento desta atividade pelo mundo.

(6)

SUMMARY

This work aims at emphasizing and discussing two present and relevant to-pics: social tourism and the third age.

Social tourism consists of a mutual effort between the Society and the State in promoting the universalization as well as humanization of the tourism practice. This activity seeks to incorporate groups that are sociaIly and/or economically unlàvoured such as workers, disabled, young and elderly people.

The current fast increase number of old people in the world justifies the great need to include their demands, such as the right to leisure, in the list of so-cial politics elaborated both in the State scope and in the compound of actions that may be assumed by the organized civil society.

The problem of the third age is analized from a historical research which describes the evolution of the treatment bestowed to old people by several socie-ties for a long time in the past. This investigation reaches its peak with the expla-nation of the present situation of elderly people in the world, particularly in Brazil.

Social tourism is tackled through the formulation of concepts, through its confrontation with the values that has direct the so-called traditional tourism, and through the presentation of experiences already practised. It is stressed the impor-tant role of the Bureau Intemational du Tourisme Social - BITS in the divulging and development of this activity alI over the world.

(7)

SOMMAlRE

Le but de cette étude est discuter et mettre en relief deux themes actuelle-ment remarquables: le tourisme social et le troisieme âge.

Le tourisme social consiste dans l'effort conjoint de la société et de l'État pour encourager l'universalisation et l'humanisation de la pratique touristique par l'incorporation de groupes dont la situation est moins favorable: ouvriers, détici-ents, jeunes et personnes âgées.

Considérant le proces de vieillissement de la population mondiale, ce seg-ment de la société a le droit d'inclure le loisir au nombre de ses demandes dans la formulation des politiques sociales de l'État bien comme de faire part des actions adoptées par la société civile organisée.

Le probleme du troisieme âge est ensuite analysé à la lumiere d'une recher-che historique qui décrit l'evolution du tmitement voué aux plus vieux parmi les différentes cultures au long du temps. Cette investigation tinit avec une descripti-on de la situatidescripti-on actuelle des persdescripti-onnes âgées dans le mdescripti-onde et surtout au Brésil.

On aborde les diverses conceptions du tourisme social et l'on fait la compa-ration avec le tourisme traditionnel. On rehausse le rôle du Bureau International du Tourisme Social - BITS dans le développement et la divulgation de cette ac-tivité dans le monde.

(8)

ÍNDICE

LISTA DE TABELAS E ANEXOS ... ix

APRESENTAÇÃO ...•... 10

INTRODUÇÃO ... 12

I - A TERCEIRA IDADE ... 15

1.1 -CONCEITUAÇÃO ... 15

1.2 -O HOMEM E A VELHICE ... 15

1.3 -HISTÓRICO SOBRE A VELHICE ... 21

1.4 - A EVOLUÇÃO DA VELHICE NO MUNDO ... 34

1.5 -ENVELHECIMENTO NO BRASIL ... 40

11 - O TURISMO ... 47

11. I - O TURISMO: HOJE E AMANHÃ ... 47

II.2 -CAMINHOS E DESCAMINHOS DO TURISMO ... 50

11.3 -O TURISMO E A PARTICIPAÇÃO ESTATAL.. ... 54

III - O TURISMO SOCIAL ... 58

IIl.l -INTRODUÇÃO ... 58

lII.2 -OS CONCEITOS DE TURISMO SOCIAL. ... 61

lII.3 -HISTÓRICO DO TURISMO SOCIAL ... 66

111.3. I -O BITS ... 70

llI.4 -TURISMO SOCIAL: DA TEORIA A PRÁTICA ... 74

111.5 -TURISMO SOCIAL RURAL. ... 84

1I1.6 -POLíTICA SOCIAL DE TURISMO ... 91

IV - TURISMO SOCIAL NO BRASIL ... 99

V - TURISMO SOCIAL E TERCEIRA IDADE ... 109

V.l - A IMPORTÂNCIA DO LAZER E DO TURISMO PARA A TERCEIRA IDADE ... 109

V.2 -O TURISMO SOCIAL PARA A TERCEIRA IDADE: SUA PRÁTICA ... 117

V.3 -TURISMO SOCIAL PARA A TERCEIRA IDADE NO BRASIL.. ... 119

VI- CONCLUSÕES ... 144

VII - ANEXOS ... : ... 147

(9)

LISTA DE TABELAS E ANEXOS

TABELAS

TABELA 1: BRASIL: EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER 1900-2025 ... 37

TABELA 2 - ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO MUNDIAL ACIMA DE 65 ANOS ... 39

TABELA 3: CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO DE 60 ANOS DE IDADE OU MAIS NAS PRINCIPAIS REGIOES DO MUNDO, 1980-2025 ... 39

TABELA 4 - DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA - BRASIL ... 41

TABELA 5: RAZÃO DE SEXOS, SEGUNDO GRUPO DE IDADE - 1960-1991 ... 42

TABELA 6: DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO DE 60 ANOS E MAIS DE IDADE, POR GRANDES REGIOES - 1960-1991 ... 44

TABELA7:BRASIL-PARTICIPAÇÃONAATIVIDADE ECONÔMICA, POR GRUPO DE IDADE(%)-1970-1985 ... 45

TABELA 8: TURISMO NO MUNDO ... 49

TABELA 9: TURISMO CLÁSSICO X TURISMO SOCIAL.. ... 61

TABELA 10: DISTRIBUIÇÃO DOS CLUBES POR ANO DE CRIAÇÃO ... 135

TABELA 11: NÚMERO DE SÓCIOS NOS CLUBES ... 136

TABELA 12: DISTRIBUiÇÃO DOS SÓCIOS POR SEXO ... 137

TABELA 13: DISTRIBUIÇÃO DOS SÓCIOS POR IDADE ... 138

TABELA 14: NíVEL DE INSTRUÇÃO DOS SÓCIOS ... 139

TABELA 15: DISTRIBUIÇÃO DOS CLUBES POR DESTINO DAS VIAGENS ... 140

TABELA 16: FORMA DE DIVULGAÇÃO DAS ATiVIDADES ... 141

ANEXOS

Anexo I: CARTA DE VIENA (1972) ... 147

Anexo 11: DECLARAÇÃO DE OSAKA (1994) ... 150

(10)

APRESENTAÇÃO

o

turismo, incluído hoje entre as atividades econômicas que mais crescem em todo mundo, apresenta contraditoriamente a característica de abarcar uma parcela ainda relativamente pequena da população mundial. Sua estrutura e seu aparato de divulgação destinam-se a atingir estratos populacionais aptos a des-pender uma parcela de sua renda em algo que ultrapasse a mera satisfação de suas necessidades elementares. Esta limitação no grau de abrangência do turismo tem como consequência o sub aproveitamento dos benefícios que esta atividade pode oferecer tanto ao indivíduo quanto à sociedade como um todo.

As tentativas de incorporação às correntes turísticas de grupos que normal-mente não estariam em condições delas participarem tiveram início ainda nas primeiras décadas deste século, crescendo em importância a partir do fim da Se-gunda Guerra Mundial. Os alvos desses esforços concentraram-se na juventude e nas camadas de baixa renda passando a englobar, posteriormente, a terceira ida-de. A este turismo cujo objetivo é atender a segmentos sociais específicos, atra-vés de ações efetuadas, em conjunto ou em separado, pelo setores público e pri-vado, dá-se o nome de turismo social.

O turismo social apresenta-se desigualmente distribuído pelos continentes. Nos países desenvolvidos, as conquistas sociais deste século trouxeram uma mai-or valmai-orização do ser humano, explicando assim o avanço de fmai-ormas sociais de turismo nestes locais. Por outro lado, nos países subdesenvolvidos, face a ques-tões muito mais dramáticas e emergenciais a serem enfrentadas, o turismo social esteve sempre numa posição secundária, sendo considerado de menor importân-cia e até mesmo supérfluo.

(11)

uma revisão nas expectativas de crescimento populacional e de distribuição dos indivíduos pelas diversas faixas etárias. Mais do que isso, a velhice deixou de ser uma questão familiar ou de filantropia, passando a ostentar o status de questão social, que deve ser pensada e trabalhada de modo a gerar um política social que vá ao encontro das demandas e das necessidades da terceira idade. Entre os pro-blemas enfrentados por esse grupo etário encontra-se o do aproveitamento do tempo livre que, nesta fase da vida, tende a ser cada vez maior. Neste sentido, as atividades de lazer em geral e o turismo em particular podem se constituir numa maneira saudável e enriquecedora de utilização do tempo ocioso.

(12)

INTRODUÇÃO

o

turismo e a terceira idade são dois temas que apresentam em comum o fato de estarem crescendo em importância nos últimos anos, recebendo uma aten-ção cada vez maior por parte de estudiosos, empresários, administradores públi-cos e da sociedade em geral.

O turismo consiste numa atividade econômica em franco processo de des-envolvimento a nível mundial e que apresenta uma grande capacidade de gerar empregos e divisas de forma direta e indireta, representando um dos principais meios de lazer e de promoção do intercâmbio cultural entre os povos. As estatís-ticas conferem ao turismo uma posição de destaque entre as atividades econômi-cas, apontando essa tendência de crescimento e de valorização em escala mun-dial. Segundo a Organização Mundial de Turismo, mais de 500 milhões de mo-vimentos de viagens internacionais foram realizados em 1993, correspondendo a uma receita de US$ 304 bilhões, 1,4% superior a 1992. A formação de expectati-vas favoráveis para o setor turístico num futuro não muito distante está baseada também em outros dados: o ritmo de crescimento da atividade turística encontra-se num patamar 23% acima da expansão da economia mundial e há previsão de criação de 114 milhões de empregos em todo o mundo até o ano 2005 (Trigueiros Júnior, 1994).

(13)

indiví-duos e permite tomá-los aptos a perceber a sua inserção na sociedade num con-texto mais amplo. Assim, o turismo se constitui num meio eficaz de promoção social.

Um tema distinto, mas não menos importante refere-se à questão da velhice ou da terceira idade. O perfil demográfico mundial aponta para transformações, em maior ou menor grau, nas pirâmides etárias tanto dos países desenvolvidos quanto dos subdesenvolvidos. No século XX, o desenvolvimento tecnológico e científico alcançado acarretou uma redução das taxas de natalidade e de mortali-dade, resultando num envelhecimento da população mundial e numa ampliação da expectativa de vida. O aumento, a passos largos, do segmento etário constituí-do de indivíduos com idade superior a 60 anos implica na necessidade de refletir e de discutir como lidar com as especificidades deste grupo populacional que cor-responde hoje a 7% do total da população brasileira e que deve alcançar 10% no ano 2000 e 16% no ano 2025 (Ryff, 1993).

A precocidade com a qual os indivíduos deixam o mercado de trabalho, substituídos por mão-de-obra mais jovem e teoricamente mais produtiva, aliada a ':lma elevação significativa da perspectiva de vida verificada nas últimas décadas faz com que uma parcela cada vez maior de pessoas procure meios e caminhos para o preenchimento do seu tempo ocioso.

Neste ponto é possível perceber a interconexão entre os tópicos turismo e terceira idade. O turismo é hoje uma das mais importantes formas de lazer exis-tentes e encontra nos estratos etários superiores um segmento ainda pouco bene-ficiado, sobretudo em se tratando do Brasil.

(14)

o

turismo social procura portanto, em todas as iniciativas, tanto de âmbito estatal quanto privado, viabilizar o usufruto do turismo por estes grupos específi-cos. Atualmente, ele pode ser encontrado, em diferentes níveis de organização e abrangência, em países com níveis variados de desenvolvimento.

No Brasil, as iniciativas de turismo social existem mas ainda são em nú-mero reduzido se comparado ao universo populacional que dele poderia se bene-ficiar. Algumas formulações esparsas de turismo social foram tentadas princi-palmente a nível estadual e municipal. A incorporação do turismo social à Políti-ca Nacional de Turismo deu-se pelo Decreto 448/92 e pela sua inclusão no Plano Nacional de Turismo - PLANTUR, de julho de 1992, através do Subprograma Turismo Social. Na prática, o Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRA TUR já vem desenvolvendo programas de turismo social tais como o de Albergue da Ju-ventude e o Clube da Maior Idade. Abrir-se-á, neste trabalho, um espaço para análise mais pormenorizada do Projeto Clube da Maior Idade, uma iniciativa em nível nacional que alia setores público e privado, na busca de um maior envolvi-mento dos indivíduos acima dos 50 anos na prática do turismo.

(15)

I -

A TERCEIRA IDADE

1.1 - Conceituação

Uma questão que suscita debates e gera polêmicas entre os estudiosos refe-re-se à própria definição do que seja a velhice e de quando ela se inicia. Os ter-mos "velho", "antigo" ou "idoso" estão longe de apresentar um caráter absoluto, pois sua compreensão depende do objeto investigado e do contexto no qual o mesmo está inserido. Assim, pela ótica da Arqueologia, é considerado antigo um fóssil de milhões de anos, enquanto que um achado com poucos milhares de anos de idade é extremamente jovem. Mais reveladoras ainda são as fantásticas gran-dezas com que lida a Astronomia. A Terra, com seus bilhões de anos de existên-cia, pode ser considerada jovem se comparada a outros corpos celestes surgidos anteriormente. Já a História conta o tempo por intermédio de Idades socialmente definidas, cada uma composta por um número significativo de séculos. Um fato histórico ocorrido nas últimas décadas é considerado recente sob o ponto de vista da historiografia, que necessita de mais algumas décadas para que as repercus-sões e os impactos daquele evento possam ser inteiramente compreendidos. Os exemplos acima ilustram a relatividade do fator tempo e a subjetividade daquilo que deve ser considerado novo ou velho.

1.2 - O homem e a velhice

(16)

equivoca-da, de que o estudo do envelhecimento humano seja uma matéria de menor im-portância e de que quase nada há de novo para ser acrescentado.

No entanto, ao contrário do que poderia ser concluído desta primeira refle-xão, o processo de envelhecimento e a velhice propriamente dita não se proces-sam de maneira homogênea, quando examinados momentos históricos diversos, regiões geográficas variadas ou até mesmo quando comparadas pessoas vivendo na mesma combinação tempo - espaço. Esta diversidade que acompanha o desen-volvimento humano nas diferentes etapas da vida vem se constituindo em foco de análises provenientes de diversas áreas do conhecimento. A Medicina, a Psico-logia, a SocioPsico-logia, a AntropoPsico-logia, a História e uma série de outros ramos do saber têm se debruçado com interesse cada vez maior sobre esta problemática, cada um buscando contribuir do seu modo para a sua compreensão. Os vários ângulos pelos quais a temática da velhice pode ser abordada revelam o seu caráter multidimensional, motivo que explica o surgimento da Gerontologia a partir da década de 50. Segundo Salgado (1982, p. 23), "Gerontologia significa, pois, o estudo dos processos de envelhecimento, com base nos conhecimentos oriundos das ciências biológicas, psicocomportamentais e sociais".

(17)

A) Envelhecimento cronológico

A partir do momento do nascimento, os seres vivos, sem exceção, passam por transformações internas e externas que redundam inexoravelmente na morte. É um processo que pode ser medido e acompanhado por uma escala de tempo qualquer, desde que esta seja aceita socialmente.

Cronologicamente, verifica-se variações na contagem do ciclo de vida pelas diversas civilizações face ao tipo de calendário utilizado ou em função de dife-renças na determinação do momento que marca o início e o final do ciclo da vida. Hoje em dia, o calendário mais difundido no mundo é o gregoriano, em vigor desde 1582, e que faz coincidir o ano civil com o ano solar, isto é, o período que decorre até que a Terra dê uma volta completa em tomo do Sol. Nada impede que, no futuro, outro referencial seja admitido para acompanhar a marcha do tempo.

(18)

B) Envelhecimento biológico

o

envelhecimento biológico corresponde ao desgaste natural por que passa o organismo humano no decorrer do tempo. Entende-se natural no sentido em que atinge a todos sem distinções. Uma gama de teorias tenta explicar o processo de envelhecimento (Rowe, 1992, p. 22-23):

a) Teoria do erro na síntese de proteínas: aponta que a deterioração das funções celulares na velhice é resultante da acumulação de erros na síntese pro-têica;

b) Teoria do Cross-Linkage: sugere que proteínas alteradas vão se acumu-lando com o avançar da idade, sendo importantes para explicar a perda de algu-mas funções celulares e orgânicas;

c) Alterações na evolução das proteínas: de acordo com esta teoria, a taxa de biosíntese de proteínas é modificada com a idade. Assim, muitas proteínas são produzidas mais lentamente em células envelhecidas do que nas jovens;

d) Teoria da deterioração do DNA: detem-se no fato de que ao longo da vida, o DNA é constantemente danificado e que os mecanismos existentes para proceder às correções vão se deteriorando com a idade, face ao declínio da fun-ção celular;

e) Teoria dos radicais livres: entende que com o avançar da idade ocorre uma acumulação de radicais livres no organismo humano. Estes são átomos ou moléculas que podem causar destruição aleatória em proteínas, enzimas, macro-moléculas e no DNA.

f) Teoria do sistema orgânico: Vê no declínio de certos órgãos ou sistemas orgânicos e na sua consequente perda de funções a causa que favorece a um pro-cesso sistêmico de envelhecimento.

(19)

que é percebido e vivenciado de forma distinta por cada pessoa. O envelhecimen-to depende de faenvelhecimen-tores os mais diversos. A herança genética de cada um pode ex-plicar, em parte, o fato de indivíduos viverem mais ou menos anos. Por outro lado, as condições de vida enfrentadas nas demais etapas da vida ajudam a expli-car um desgaste maior ou menor de cada organismo. Aliado a esses fatores de aceleração ou retardamento do envelhecimento, sua dinâmica pode ser explicada também pela teoria da homeostase. Segundo esta visão, o organismo humano es-taria composto de mecanismos que atuariam no sentido de regular e equilibrar o nosso meio interno (Salgado, op. cit., p. 32). Com o avançar da idade, estes ree-quilibradores fisiológicos vão perdendo a sua eficiência, tornando o idoso mais suscetível a disfunções orgânicas e a um mau funcionamento de um órgão ou conjunto de órgãos.

C) Envelhecimento Social

Estamos acostumados a perceber o idoso enquanto uma categoria homogê-nea cujas características fundamentais são dadas pelas variações de ordem fisio-lógica que se processam com o passar do tempo e se aceleram a partir de deter-minado momento da vida adulta. No entanto, essa homogeneização simplificado-ra resulta num entendimento incompleto de toda a complexidade que envolve a questão do idoso.

(20)

compreen-são do modo através do qual processos físicos semelhantes compreen-são sentidos, vivenci-ados e, por esta via, transformvivenci-ados, por pessoas de culturas diferentes" (Guedes,

1994, p. 7).

A definição sobre o que é velhice e quem é velho emerge do interior da so-ciedade, e necessita de ser aceita pela maioria. Aqueles que se rebelam contra a percepção da maioria tendem a cair em dois extremos: ou são admirados por se-rem a exceção que confirma a regra ou s&o marginalizados por querer reverter a corrente dominante.

o

envelhecimento tem um marco que não pode ser desconsiderado: a apo-sentadoria. O desligamento do mercado de trabalho por intermédio da aposenta-doria é responsável por um momento de perda para o indivíduo e precisa ser bem trabalhado para ser superado. Neste momento de sua vida, o homem afasta-se de uma rotina de décadas em que possuía um cargo definido, um campo de atuação, uma identidade organizacional, além de um grupo social cujo convívio ocupava às vezes mais tempo do que o destinado à família. A ruptura com esses elos cria sentimentos de perda de prestígio, de status e das estruturas de sociabilidade que surgem associadas à perda do papel parental principal.

Segundo Magalhães (1987), o homem, até a meia-idade, é o maior respon-sável pela proteção e sustentação da família. No desempenho deste papel, ele se torna o consumidor principal e aquele que garante o consumo dos demais mem-bros da família. Ao se retirar do mercado de trabalho, esse mesmo indivíduo pas-sa por uma realocação no interior da família. Ao mesmo tempo que deixa de ser o seu mais importante sustentáculo, reduz seu papel como produtor e consumidor e, simultaneamente a esses acontecimentos, passa a assumir a condição de avô, per-dendo o papel de provedor principal.

(21)

humana. No entanto, este tempo maior de vida é constantemente mal aproveitado pelo idoso, face a um modelo social que atua incisivamente na defesa do novo e na marginalização do velho. O desafio que se coloca é fazer com que a morte so-cial só ocorra quando da morte biológica, propiciando ao ser humano um período maior de realizações e de gozo da vida.

1.3 - Histórico sobre a velhice

Simone de Beauvoir (1990), em seu livro A velhice, realiza um esforço ex-traordinário no sentido de descrever a visão que as diversas sociedades, em dife-rentes momentos históricos, tinham da velhice.

Nas sociedades primitivas, os idosos eram considerados, de uma forma ge-ral, um fardo para o restante da comunidade. Isto porque, estas sociedades se ca-racterizavam pela pobreza e por uma vida nômade ou semi-nômade que implica-va em deslocamentos contínuos na busca de alimentos e de novos locais para abrigo. Neste sentido, os poucos indivíduos que conseguiam superar todas as vi-cissitudes que eram inerentes a este tipo de vida e chegavam a uma idade um pouco mais avançada para os padrões da época, eram vistos apenas como uma boca a mais a ser alimentada, sem que se pudesse esperar qualquer tipo de con-trapartida de sua parte. Os poucos velhos que eram respeitados eram os denomi-nados xamãs, espécies de mágicos cujos poderes seriam capazes de dominar as forças da natureza. Normalmente, o fim esperado para os idosos destas socieda-des era a morte. Contudo, mesmo a este nível de primitivismo, observavam-se diferenças importantes entre os tratamentos aplicados pelos mais jovens aos mais velhos.

(22)

espacanvam-nos e os forçavam a trabalhar duro". Por fim, os deixavam morrer de frio e de fome (Beauvoir, op. cit., p. 59). Destino da mesma forma dramático es-tava reservado aos idosos ainos, povo do Japão, e que eram completamente igno-rados pelos demais integrantes da comunidade, passando a viver num nível de degradação que os aproximava da condição de animais inferiores. A vida de pe-núria dos sirionos das florestas bolivianas fazia com que um indivíduo que alcan-çasse os 40 anos estivesse já fraco e velho. A escassez de alimentos resultava no abandono dos decrépitos, considerados um obstáculo às expedições de caça e pesca. Finalmente, uma sociedade interessante a ser examinada é a dos tongas,

povo da costa leste da África do Sul. Observava-se uma carência de afetividade entre as várias gerações. Adultos e crianças zombavam e maltratavam os idosos, sendo estes abandonados quando a aldeia se deslocava.

Subindo um pouco na escala, encontram-se sociedades que acreditavam na necessidade da morte de seus velhos, muito embora este ato fosse cercado de um cerimonial socialmente consentido. Os koriaks e os chuckchees do litoral, ambos povos da Sibéria, realizavam cerimônias e festas em homenagem ao ancião que culminavam com o seu assassinato. Os esquimós, até bem pouco tempo, tranca-vam seus idosos em iglus ou deliberadamente os esqueciam nas banquisas quan-do saíam para pescar.

(23)

apa-recimento de incapacidades oriundas da decrepitude era encarada como a perda de poderes mágicos atribuídos aos mais velhos. Deste momento em diante e de um modo geral, o idoso passava a ser negligenciado e até mesmo abandonado. A saída, em muitos casos, consistia na morte do pai pelo próprio filho após uma solenidade.

Uma quarta classificação congrega alguns exemplos de povos que mesmo em meio à miséria em que viviam, não apresentavam o costume de se desfazer de seu velhos. Os chukchees do interior respeitavam seus idosos, mesmo os já senis, tendo neles seus líderes comunitários. Eram também os possuidores de rebanhos ou terras, o que lhes remetia o papel de mediador quando da distribuição destes bens entre filhos e genros. Verdadeiro exemplo de convivência intergeracional harmônica podia ser encontrada entre os yahgans, provenientes da Terra do Fogo. Apesar do estilo nômade de vida, da ignorância quanto a processos de armaze-namento e do desconhecimento de instrumentos tais como anzóis, machados e utensílios de cozinha, constituíam um povo que valorizava seus membros idosos e a experiência neles depositada. Semelhante comportamento era observado entre os habitantes das ilhas Aleútas: consideravam uma desonra o abandono dos ve-lhos.

(24)

por temerem os poderes mágicos de seus anciãos, tratam-nos com o máximo de respeito e cordialidade. Os cantores, sobretudo os idosos são extremamente con-siderados, uma vez que a música é, simultaneamente um receptáculo das tradi-ções e um meio de expressão das magias. Encontram-se no mais alto grau da es-cala social, sendo os membros mais ricos da comunidade. Entre os jivaros, habi-tantes dos Andes, os velhos exercem múltiplas funções: dão nomes às crianças, interpretam sonhos, dirigem as cerimônias religiosas e são líderes nas guerras. Este povo acredita que mesmo senis, os velhos são dotados de um poder sobrena-tural. Para os miaos, da China e da Tailândia, memória é sinônimo de prestígio e por isso, os mais velhos são respeitados e atuam como conselheiros da comuni-dade. Embora não tenham o poder político de direito (reservado aos jovens), na prática, suas deliberações normalmente prevalecem.

À título de síntese, é possível concluir, em primeiro lugar, que as sociedades primitivas sedentárias tenderam a tratar melhor seus idosos do que as nômades. Porém, acima desta característica, mesmo sedentária ou nômade, era a carência ou a abundância de recursos que normalmente determinava o destino dos velhos. Havendo alimentação farta, os idosos eram preservados e passavam a ser consi-derados depositários da sabedoria e da experiência. Eram respeitados e temidos pelo poderes mágicos que lhes eram atribuídos. Nas sociedades mais avançadas, onde a magia perdia terreno e a escrita já era conhecida, decresce a influência dos mais velhos. Ao mesmo tempo em que deixam de infundir medo, vêem a tradição oral ser suplantada pela escrita.

(25)

Na civilização chinesa, aos velhos eram dedicados elevada obediência e respeito. A longevidade era considerada uma virtude e, segundo o neotaoísmo chinês, era o objetivo supremo do homem. "A velhice era, portanto, a vida sob sua forma suprema" (Beauvoir, op. cit., p. 112-114). Na China atual, apesar das profundas transformação por que tem passado o país, a posição dos anciãos é ga-rantida: "No seio da família, os mais velhos mantêm sua posição respeitável; numa reunião familiar, busca-se conselho, com deferência, até mesmo de um avô senil, embora sua opinião possa não ser acolhida" (Nações do mundo, 1987, p.

19).

Igualmente conhecida é a deferência com que a tradição judaica trata seus idosos. A começar pelo Decálogo, expressão máxima do judaísmo, onde está es-crito: "honrarás a teu pai e a tua mãe para que se prolonguem teus dias sobre a terra que o Eterno, teu Deus, te dá" (Êxodo, capítulo XX, versículo 12). Da mes-ma formes-ma, observa-se, em vários episódios bíblicos, a presença de idosos prota-gonizando papéis fundamentais na história deste povo. Exemplo significativo encontra-se na figura de Moisés que aos 80 anos liderou seu povo na libertação do jugo egípcio e na jornada até a Terra Prometida (Êxodo, capítulo VII, versícu-lo 7). Os anciãos, enquanto conjunto, também desempenharam funções centrais no cotidiano da vida judaica ao longo do tempo. Um Conselho de Anciãos for-mado por setenta e um membros, o Sinédrio, foi uma das mais sólidas institui-ções do povo judeu. Mesmo após a sua abolição em consequência da derrota pe-rante os romanos, em 70 d.c., os idosos, na diáspora, sempre ocuparam uma posi-ção de respeito, sendo seus conselhos quase sempre acatados pelos mais novos.

(26)

calor proveniente do interior do corpo e que portanto, a velhice estaria relaciona-da a algum tipo de resfriamento.

Platão (429 - 347 a.C) e Aristóteles, mestre e discípulo discordavam diame-tralmente na questão da velhice. O primeiro defendia a gerontocracia ao afirmar que os homens só estariam realmente capazes para governar a partir dos 50 anos. Acreditava numa concepção espiritualista na qual haveria a primazia da alma so-bre o corpo. O envelhecimento, ao trazer determinadas limitações ao corpo, ge-raria como consequência uma maior liberdade para a alma, considerada imortal. Para Aristóteles, o homem seria a união do corpo e da alma. Consequentemente, haveria um progresso humano contínuo até os 50 anos, quando então, ao entrar em declínio o corpo, o homem por inteiro entraria neste processo. Beauvoir (op. cit., p. 137) conclui que o acúmulo de experiência, qualidade normalmente tão exaltada nos velhos, foi desprezada por Aristóteles que diz: "um velho é um ho-mem que passou toda uma longa vida a se enganar, e isto não lhe poderia conferir superioridade sobre os mais jovens, que não acumularam tantos erros quanto ele". Coerente com seu ponto de vista, Aristóteles retira o poder dos idosos por consi-derá-los homens enfraquecidos.

Na realidade, a civilização grega, em seus primórdios, associava a velhice à sabedoria, muito embora a falta de instituições estáveis que preservassem as pro-priedades individuais fizesse com que a força dos mais jovens sobrepujasse a ex-periência dos mais velhos (Beauvoir, op. cit., p. 122). A partir do século VII a.C, verificou-se o surgimento de uma plutocracia, na qual os gerontes passaram a deter o poder através de um Conselho, a Gerúsia, que para manter o status quo, negava a participação aos mais jovens.

(27)

Este predomínio dos anciãos, enquanto componentes de uma classe social detentora do poder, contrastava com a imagem com que filósofos e artistas gregos pintavam o envelhecimento e a própria velhice. As objeções à velhice eram de dois tipos: as que limitavam-se a condenar e a rejeitar as transformações operadas pelo tempo sobre os indivíduos e aquelas que atacavam a velhice com o intuito de atingir e opor-se à classe dos proprietários, majoritariamente composta por ho-mens idosos. Muitos consideravam a velhice pior do que a morte, não desejando sequer alcançá-la: "quando a juventude desaparece, mais vale morrer que viver. Pois muitos infortúnios apoderam-se da alma humana: destruição do lar, miséria, morte dos filhos, deficiências, não há ninguém a quem Zeus não envie infortúnios em abundância" e "pudesse eu, sem doença e sem tristeza, encontrar aos 60 anos a Parca e a morte" (Beauvoir, op. cit., p. 124). Plutarco (50 - 125) compara a ve-lhice a um triste outono (Beauvoir, op. cit., p. 138). Autores teatrais como Aristó-fanes (445 - 386 a.C) e Menandro (342 - 292 a.C) ridicularizaram os velhos no teatro cômico, colocando-os na posição de objetos e não de sujeitos (Beauvoir, op. cit., p. 187).

Na história de Roma, o poder dos velhos também variou ao longo do tempo. Durante o período da República, os anciãos dominaram o Senado, cuja amplitude de poderes era enorme. No interior das famílias, os idosos se impunham através

do paterfamilias que lhe propiciavam poderes absolutos sobre elas. Com o fim da

(28)

"Exatamente como as maçãs, que, quando verdes, di-ficilmente se desprendem da haste, mas depois de maduras e doces caem por si mesmas, assim a morte, para os jovens, chega como resultado de uma violência ao passo que para os velhos é apenas a consequência do amadurecimento. Para mim, na verdade, a idéia desse 'amadurecimento' para a morte é tão agradável que, quanto mais dela me aproximo, mas me sinto como alguém que, após longa viagem, avista finalmente a terra e está prestes a ancorar em seu porto na-tal" (Hadas, 1969, p. 110)

Nesta mesma linha de raciocínio colocou-se Sêneca (5 a.C. - 65) que ao reivindicar a revalorização do Senado, recuperou a idéia da separação entre corpo e alma de Platão e teceu elogios à velhice na Epístola 12:

"acolhamos bem a velhice, amemo-la; ela é abundante em doçuras, se dela soubermos tirar partido. Só os frutos passados têm todo o seu sabor. É uma época delicada, aquela na qual deslizamos no declive dos anos, num movimento que ainda não tem nada de brutaL.Se quisermos, o próprio fato de não sentir a necessidade vem substituir o prazer" (Beauvoir, op. cit., p. 149).

Os poetas romanos, embora mais sinceros, nem por isso foram mais piedo-sos para com seus velhos. Horácio (65 - 8 a.C), Ovídio (43 a.C - 18 d.C), Plauto (254 - 184 a.C) e sobretudo Juvenal (60 - 140) retrataram um quadro sinistro da velhice, descrevendo a deterioração biológica inerente a esta etapa da vida. Em particular, enfocaram a degradação fisica que acomete as mulheres velhas. Tal como os gregos, os autores romanos de comédias e sátiras aproveitaram esta arte para levantar críticas ao fato, por eles considerado incoerente, dos detentores dos poderes econômico e político serem pessoas fracas e alquebradas pelo correr dos anos.

(29)

sécu-lo II d.C, a definiu como sendo um estágio intermediário entre a saúde e a doen-ça. Suas conclusões sobre a anatomia humana foram seguidas até a Renascença, enquanto que as medidas de higiene por ele prescritas perduraram até o século

XIX.

Os primeiros séculos da Era Cristã ficaram conhecidos pelas invasões bár-baras e pela consolidação do cristianismo. Os bárbaros eram, na verdade, um conjunto de povos cuja população idosa era pouco numerosa e desprezada. À títu-lo de ilustração, é possível observar a disparidade dos vatítu-lores que, segundo o di-reito burgúndio, deveriam ser pagos à guisa de compensação em caso de assassi-nato de um homem livre: "300 soldos de ouro, para um homem entre 20 e 50 anos; 200, entre 50 e 65; 150, acima de 65 anos" (Beauvoir, op. cit., p.155). Se-melhante desigualdade era também encontrada no direito visigótico.

Pari passu ao avanço dos bárbaros, o cristianismo foi ganhando novos e

numerosos adeptos. Entretanto no que tange à visão da Igreja sobre a velhice, poucas mudanças ocorreram. A assimilação de valores da cultura clássica pelo cristianismo a partir do século III resultou na perpetuação do mesmo entendimen-to disentendimen-torcido e pessimista da questão dos idosos. A única, porém importante ino-vação promovida pela Igreja neste período e que possivelmente beneficiou os mais velhos foi a construção, a partir do século IV, de asilos e de hospitais.

(30)

No campo da medicina, os avanços ao longo da Idade Média foram míni-mos, uma vez que as teorias encontravam-se impregnadas de uma elevada carga de religiosidade. Somente a partir do final do século XV, com o surgimento do Renascimento teve início um processo gradual de superação da estagnação cien-tífica que caracterizou os mil anos precedentes. Os progressos na anatomia leva-dos adiante por Leonardo da Vinci (1452 - 1519) e por Vesálio (1514 - 1564) contribuíram para um melhor entendimento das características do ser humano em geral e dos idosos em particular. Todavia, maiores avanços foram postergados face à permanência de crenças metafisicas arraigadas nas demais ciências.

(31)

As duras condições de vida do século XVII eram as responsáveis por eleva-das taxas de natalidade e mortalidade. Na França, metade eleva-das crianças morria com menos de um ano e a média de vida era em tomo de 20 a 25 anos. Os pró-prios integrantes das classes dominantes, reis, nobres e burgueses morriam entre 48 e 56 anos. A assistência aos idosos mais pobres dependia basicamente da boa vontade familiar e, em menor grau, da Igreja. Já entre a burguesia, os idosos eram valorizados.

Apesar da persistência de autores tais como o espanhol Quevedo (1580 -1645) e os francêses Saint-Amant (1594 - 1661), Mathurin Régnier e o próprio Moliere (1622 - 1673) em traçar velhas grotescas e velhos ranzinzas e avarentos, a literatura setecentista reservou ao ancião maior consideração do que nos séculos anteriores.

A qualidade de vida vivenciada no século XVIII foi substancialmente in-crementada se comparada com o século precedente. A melhoria nas condições de higiene, o avanço nas técnicas, o desenvolvimento industrial, financeiro e co-mercial e o relaxamento dos costumes beneficiaram a vida das pessoas em geral e dos idosos em particular. Bom frisar que esses progressos tiveram pouca reper-cussão entre as classes menos abastadas. Nas classes superiores, "o homem idoso adquire mesmo uma importância particular, porque simboliza a unidade e a per-manência da família: esta última, através da transmissão das riquezas, permite a acumulação dos bens materiais - é, ao mesmo tempo que o reino onde desabrocha o individualismo burguês, a base do capitalismo" (Beauvoir, op. cit., p. 224).

(32)

No que se refere às descobertas médicas sobre o envelhecimento, o século XVIII testemunha o surgimento de diversas obras sobre o tema, apoiadas sobre-tudo nos avanços da anatomia e nas experiências de autópsias.

O século XIX ratifica e acelera o processo de desenvolvimento iniciado no século anterior. E os seus efeitos não tardaram a se fazer presentes. A população européia cresce a uma velocidade jamais vista no passado. Neste contexto, a ur-banização acelerada e o progresso científico favorecem o aumento do número de idosos. Contraditoriamente, o século XIX se mostrou cruel com boa parte da po-pulação. A Revolução Industrial resultou num avanço econômico ímpar na histó-ria porém, às custas do sobre-esforço dos trabalhadores. Aqueles que resistiam até a velhice, eram fadados à miséria e ao desamparo. Paradoxalmente, o mesmo capitalismo voraz encontrou em muitos idosos e em suas fortunas acumuladas o estímulo necessário para o seu florescimento. Nesta época, multiplicaram-se as empresas familiares capitaneadas por patriarcas respeitados. Com o início do chamado capitalismo monopolista, na segunda metade do século, o velho vai per-dendo espaço e prestígio para os mais jovens, mais propensos a ousar e a aplicar técnicas mais modernas. Corresponde, esta fase, à substituição do capitalismo familiar pelas sociedades anônimas.

Independentemente de sua classe social, a verdade é que a terceira idade passou a despertar um interesse cada vez mais intenso tanto nas artes quanto nas ciências. "Em seu conjunto, a literatura do século XIX encarou a velhice de ma-neira muito mais realista. Ela descreve velhos que pertencem às classes superio-res: nobres, grandes burgueses, proprietários de terras, industriais; interessa-se também pelos das classes exploradas" (Beauvoir, op. cit., p. 234). Victor Hugo (1802 - 1885) foi, sem dúvida, o grande apologista da velhice na literatura daque-le século. Considerava a velhice o coroamento da vida, concedendo, em suas obras, um lugar de honra para os idosos.

(33)

foi lançado o primeiro tratado sistemático sobre as doenças da velhice. Em mea-dos do século, a geriatria, embora sem este nome, surgiu favorecida pela criação de inúmeros asilos que serviram de excelente campo de observação e de experi-mentação. Verficou-se também, uma modificação no foco da ciência médica, que deixou de ser apenas preventiva e passou a abarcar a terapêutica.

No século XX, a urbanização e a industrialização propagaram-se além dos limites da Europa ocidental e dos Estados Unidos. Em diferentes graus, estes dois processos foram os responsáveis pela desintegração da tradicional célula familiar, bem ou mal, a base de sustentação da velhice ao longo dos séculos. A ampliação do espaço para discussão da questão da terceira idade, do recinto familiar para o âmbito da sociedade maior, é portanto, a principal novidade que caracteriza esse último século.

No campo das ciências, o crescimento da população idosa rendeu diversos frutos. O termo geriatria foi criado por Masche, passando a designar a especiali-dade médica voltada para o tratamento das enfermiespeciali-dades dos velhos (Gomes,

1994, p. 2). Paralelamente à geriatria, desenvolveu-se a gerontologia, ciência in-teressada não apenas nas patologias da velhice, mas em todos os aspectos que configuram o processo do envelhecimento. Na Alemanha, em 1938, foi editado o primeiro periódico especializado no tema da terceira idade. No ano seguinte, foi

fundado, na Inglaterra, um clube internacional de pesquisas sobre a velhice. Após a Segunda Guerra, a gerontologia progrediu em ritmo acelerado. Novas publica-ções surgiram na área, assim como multiplicaram-se os congressos e as socieda-des de estudo (Beauvoir, op. cit., p. 30-32).

(34)

boom populacional. Hoje, as estatísticas revelam uma tendência de

envelhecimen-to da população mundial, salvo em alguns países subdesenvolvidos.

O Brasil também vem registrando nas últimas décadas uma tendência ao envelhecimento de sua população. Todavia, como será abordado mais adiante, este processo vem se dando por intermédio de uma trajetória distinta da verifica-da entre os países mais adiantados. A rapidez com que a população idosa brasilei-ra vem crescendo e o despreparo tanto do Estado quanto da própria sociedade em lidar com a questão justifica e recomenda o aprofundamento das discussões sobre o tema, bem como impõe, o quanto antes, a incorporação dos anseios e das de-mandas dos idosos pelas políticas de governo e pelas ações desenvolvidas no âmbito da sociedade civil organizada.

1.4 - A evolução da velhice no mundo

O crescimento da população idosa a nível mundial é, sem dúvida, uma das características demográficas mais marcantes do século XX. Seus reflexos podem ser sentidos no aumento da atenção dispensada pelo setor público a este segmento etário, além do gradual espaço que a questão da terceira idade vem conquistando nos meios de comunicação, e no próprio cotidiano da vida social, sobretudo nos países desenvolvidos.

(35)

previsões de quarenta anos atrás não se confirmaram. Ao invés de rejuvenescer, a população mundial tem envelhecido.

Os principais indicadores que explicam as variações na estrutura etária são a taxa de natalidade, a taxa de mortalidade e a expectativa de vida ao nascer. A existência, hoje, de um grupo cada vez maior de indivíduos com mais de 60 anos é reflexo das melhorias nas condições de vida, da aceleração do processo de ur-banização e dos avanços científicos verificados já nas primeiras décadas deste século e que foram se difundindo com o passar do tempo. E, como ressaltou Ve-ras (1994, p. 27), "as grandes coortes de nascimento de 1945-1960, o boom de nascimentos ocorrido no após-guerra na maioria dos países desenvolvidos, cria-rão, sob condições de sobrevivência favoráveis, uma grande expansão no número de pessoas idosas no começo do próximo século". Como fica claro a partir das constatações acima, o velho do futuro é a criança e o jovem de hoje. Portanto, uma política social que tenha o idoso como beneficiário pode e deve ser planeja-da com bastante antecedência, tendo como base os índices de mensuração demo-gráfica supracitados. Por exemplo, a queda na taxa de fecundidade no presente, se mantidas condições satisfatórias de vida, certamente conduzirão a um crescimen-to em termos relativos e absolucrescimen-tos da população da terceira idade no futuro.

(36)

impor-tantes parcelas da população, dando lugar a males que incidem especialmente sobre os mais velhos.

As grandes disparidades de perfis etários encontrados no mundo espelham posições variadas ocupadas pelos países dentro de um continuum cujos dois pólos

são, respectivamente, alta natalidade/alta mortalidade e baixa natalidade/baixa mortalidade. Este continuum é representado, na teoria da transição

epidemiológi-ca, pelas quatro fases seguintes:

I) Idade da pestilência e da fome: caracterizada por elevada mortalidade e baixa expectativa de vida ao nascer, situada entre os 20 e os 40 anos;

2) Idade da pandemia retrocedente: reflete um quadro onde a taxa de mortalidade encontra-se em declínio em virtude da diminuição ou do desapare-c;imento de picos endêmicos. A expectativa de vida ao nascer atinge os 50 anos e a população cresce numa curva exponencial;

3) Idade da doença degenerativa e de doenças criadas pelo homem: re-fere-se a uma situação em que a mortalidade estabiliza-se em um patamar abaixo daquele registrado na fase anterior, com uma expectativa de vida em torno dos 70 anos;

4) Idade da doença degenerativa adiada: fase com características simila-res à anterior, mas que comporta uma tendência à concentração de mortes em idades cada vez mais avançadas.

(37)

Já a estrutura etária brasileira possibilita a sua inclusão na terceira fase da transição epidemiológica. O crescimento na expectativa de vida ao nascer, que hoje aproxima-se dos 70 anos (Tabela 1), confere ao país uma população crescen-te de jovens idosos, ou seja, indivíduos na faixa dos 60 aos 69 anos.

Tabela 1: Brasil: Expectativa de vida ao nascer 1900-2025 (Fonte: ONU)

Anos 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 2000 2020 Expectativa 33,7 34,1 34,5 36,5 38,5 43,2 55,9 57,1 63,5 68,6 72,1 ao nascer

É inegável o processo de envelhecimento da população a nível mundial. A população acima de 65 anos era, em 1990, de 328 milhões de pessoas. Esse valor correspondia a 6,2% da população total. Em termos da distribuição por sexo, constatava-se uma predominância do sexo feminino em relação ao masculino da ordem de 57,3%, contra 42,7%.

Com relação à distribuição da população mundial entre países desenvolvi-dos e subdesenvolvidesenvolvi-dos, os dadesenvolvi-dos estatísticos revelam uma tendência surpreen-dente e preocupante. É do conhecimento geral que a população jovem encontra-se, em sua maior parte, concentrada nos países subdesenvolvidos. Enquanto na África e na Ásia, respectivamente 45% e 33% da população tem menos de 15 anos de idade, na Europa e América do Norte o percentual é bem inferior, situan-do-se próximo aos 20%. As taxas de fecundidade apresentadas pelas várias regi-ões do mundo permitem aferir que, enquanto certas regiregi-ões mais desenvolvidas dispõem de taxas de fertilidade em nível de mera reposição populacional, as áreas mais atrasadas do planeta alcançarão este patamar apenas em 2060/2070. Se não bastasse a pressão vinda da base da pirâmide demográfica, é possível verificar também modificações no seu topo, ou seja, no grupo acima dos 65 anos. Em 1990, mais de 50% dos indivíduos desta faixa etária viviam nos chamados países do Terceiro Mundo (Tabelas 2 e 3). Prevê-se que, até 2025, quase 75% da popu-lação idosa mundial estará habitando países subdesenvolvidos (Veras, op. cit., p.

(38)

31). Também chama a atenção a velocidade com que a população idosa cresce nas regiões menos desenvolvidas. Nestas regiões, projeta-se um aumento da po-pulação acima de 60 anos da ordem de 122,7%, entre os anos 2000 e 2025. A África se apresenta como a recordista em crescimento com uma elevação de 133,3%. Para o mesmo período, os idosos das áreas desenvolvidas crescerão ape-nas 40,6%, sendo da Europa a menor taxa, estimada em 28,4% (Veras, op. cit., p. 33).

Embora bem menor em termos absolutos, a população acima de 65 anos em áreas desenvolvidas tem um peso relativo substancialmente maior comparado às regiões menos desenvolvidas. É o caso, por exemplo, da Europa e América do Norte, onde respectivamente 13% e 12% da totalidade de sua população integram este estrato etário. A América do Sul surge com 4%, enquanto que a África apa-rece na última posição com apenas 3% de sua população com mais de 65 anos.

(39)

Tabela 2 - Estimativa da população mundial acima de 65 anos: (Fonte: DEMOGRAPHIC YEARBOOK 1991, UNITED NATIONS, 1992)

(Em milhões)

AMBOS OS SEXOS HOMENS MULHERES

REGIOES TOTAL 65+ TOTAL 65+ TOTAL 65+

MUNDO 5.292 328 2.664 139 2.628 188

AFRICA 642 19 319 9 323 11

AMERICA 448 21 224 10 225 12

LATINA

AMERICA 276 34 135 14 141 20

DO NORTE

ASIA 3.113 156 1.593 72 1.520 83

EUROPA 498 67 243 26 255 41

OCEANIA 26,5 2,4 10,1 1 13,2 1,4

EX- URSS 289 28 137 8 152 20

Tabela 3: crescimento da população de 60 anos de idade ou mais nas principais regiões do mundo, 1980-2025 (Fonte: ONU, Diesa Periodical on Ageing, 1985)

POPULAÇAO IDOSA (em milhões) POPULAÇAO TOTAL (%)

REGIOES 1980 2000 2025 1980 2000

MUNDO 371 595 1135 8,3 9,7

REGIOES 173 234 329 15,2 18,3

DESENVOL VIDAS

REGIOES MENOS 198 362 806 6,0 7,5

DESENVOL VIDAS

AFRICA 23 42 98 4,9 4,8

AMERICA 23 42 96 6,4 7,6

LATINA

AMERICADO 39 47 82 15,4 15,7

NORTE

ASIA ORIENTAL 92 162 323 7,8 11,0

ASIA 74 142 321 5,3 6,8

MERIDIONAL

EUROPA 82 102 131 16,9 19,8

OCEANIA 3 4 7 11,5 12,6

Obs: Regiões mais desenvolvidas: América do Norte, Japão, Europa, Austrália,

Nova Zelândia e CEI.

Regiões menos desenvolvidas: África, América Latina, China, Ásia Meridional,

(40)

1.5 - Envelhecimento no Brasil

o

Brasil pode ser considerado um dos países que mais claramente vivenci-am o processo de envelhecimento de sua população. Em termos mundiais, a po-pulação brasileira acima de 60 anos, que em 1950 era a 16a maior do mundo, já ocupava o 10° lugar em 1990, deverá alcançar o 6° posto até 2025. Este salto está calcado em estimativas que apontam para um crescimento da população idosa brasileira, entre 2000 e 2025, a uma taxa média de 6,6% ao ano (SEADE, 1991).

Contudo, se comparada aos países desenvolvidos, a população idosa brasi-leira ainda constitui uma proporção pequena no conjunto da sociedade. Enquanto nos países desenvolvidos, nos anos 80, esta proporção superava os 15%, e chega-va aos 20% na Suécia, Inglaterra e Dinamarca, no Brasil, o patamar dos 7% foi ultrapassado somente nos anos 90 (SEADE, 1990, p. 20).

As grandes alterações na estrutura etária da população brasileira só tiveram início nos anos 40. Até aquele momento, a população com 60 anos ou mais per-manecia em tomo dos 4% do total. Na década de 40, verificou-se uma queda acentuada na taxa de mortalidade em decorrência do surgimento de técnicas mé-dicas e sanitárias que possibilitaram um maior controle sobre as doenças infecci-osas e um aumento da expectativa de vida ao nascer. A intensidade deste proces-so, num curto espaço de tempo, distingue o Brasil dos países desenvolvidos, que perceberam um gradual decréscimo em suas taxas de mortalidade desde meados do século XIX.

(41)

59 anos ampliará seu percentual até o ano 2000. Por outro lado, a população com mais de 60 anos é a que apresenta taxas de crescimento mais elevadas. Sua ainda pequena participação no total da população brasileira é explicada pela presença de um expressivo contingente de adultos, resultado da expansão demográfica das últimas cinco décadas.

Será especialmente após a virada do século que as consequências das redu-ções nas taxas de mortalidade e fecundidade far-se-ão sentir. Uma nova disposi-ção dos pesos das várias coortes etárias determinará um novo formato para a pi-râmide demográfica brasileira que, tal como nos países desenvolvidos, parecerá cada vez mais com um retângulo. Neste novo rearranjo, a população acima de 60 anos terá sua participação aumentada, o que faz prever que lIalcance o percentual de 15,1% da população brasileira no ano 2025, com 34 milhões de pessoasll

(SEADE, op. cit, 1990) (Tabela 4).

Tabela 4 - Distribuição etária - Brasil- (Fonte: IBGE; Neupert 1987)

DISTRIBUIÇAO ETARIA (%)

ANOS O a 14 anos 15 a 59 anos 60 anos e mais

1900 44,4 52,3 3,3

1920 42,8 53,2 4,0

1940 42,5 53,4 4,1

1950 41,9 53,9 4,2

1960 42,7 52,6 4,7

1970 42,1 52,8 5,1

1980 38,2 55,7 6,1

1990 33,8 59,1 7,1

2000 29,5 62,2 8,3

2010 26,3 63,7 10,0

(42)

a) Distribuição da população idosa por sexo

A distribuição da população idosa por sexo, no Brasil, segue o mesmo pa-drão dos países desenvolvidos. A população idosa feminina é superior à masculi-na. Em média, as mulheres vivem 5 anos a mais que os homens, com tendência a aumentar (Veras, op. cit., p. 42). A população idosa feminina estimada para 1994 era de 6,2 milhões contra 5,8 milhões de homens idosos, o que significava um diferencial de 8,5% a mais de mulheres (Demographic Yearbook, 1992). Consta-ta-se que, conforme são galgados degraus na pirâmide etária, o excedente do sexo feminino é crescente e tem aumentado a cada década (Tabela 5).

Tabela 5: Razão de sexos, segundo grupo de idade 19601991 (Fonte: IBGE -Anuário Estatístico do Brasil - 1993)

1960 1970 1980 1991

60 anos e mais 98,84 94,87 89,77 84,95

60 a 69 anos 105,31 100,56 94,19 89,11

70 anos e mais 87,45 85,60 82,96 79,08

Obs: Razão de sexos é a relação entre a população masculina e a feminina por 100 e representa o número de homens para cada 100 mulheres.

b) Distribuição regional da população idosa

o

Brasil tem sua população idosa irregularmente distribuída pelas suas di-versas regiões. Somente o Sudeste abrigava, em 1991, 46,4% de toda a terceira idade brasileira, seguido pela ordem, de Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Norte com respectivamente 28,8%, 15,8%, 4,5% e 4,3% de toda a população idosa (Tabela 6).

(43)

crescimento populacional de todos os seus estratos etários. Este processo deu-se em associação com fortes correntes migratórias, transformando-nas em importan-te pólos receptores de populações. O elevado crescimento vegetativo já não mais persiste, assim como as migrações destinam-se agora a outras áreas do país. A redução da natalidade e da mortalidade bem como a elevação da expectativa de vida justificam este alto índice de idosos nestas regiões. Corroborando a idéia da correlação entre melhores condições de vida nas cidade e velhice, é no Sudeste que viviam, em 1990, 55,6% da população urbana acima de 60 anos do país.

O Nordeste apresenta trajetória distinta. De potência econômica no Brasil Colonial entrou em contínua decadência, sendo exceções algumas poucas áreas do litoral e algumas capitais. Ao contrário do Sudeste, sua população sofreu um esvaziamento em função de ser a principal área repulsora de populações, princi-palmente de adolescentes e adultos jovens que migraram em busca de emprego e do sonho de riqueza. A elevada população relativa de idosos é portanto decorren-te "das péssimas condições de vida de sua população produtiva, que migra em grande proporção para outros estados em busca de trabalho. Assim, o crescimento proporcional da população idosa está ligado ao processo de migração, aliado às ainda altas taxas de mortalidade da população infantil e à drástica redução da fe-cundidade por causa de programas de esterilização em massa nas regiões caren-tes" (Veras, op. cit., p. 31).

O Norte e o Centro-Oeste percorrem caminhos paralelos. Foram coloniza-das mais recentemente por intermédio sobretudo de jovens, mais aptos a suportar condições de vida mais adversas que caracterizam áreas recém-ocupadas. Assim, suas populações idosas são as menores do país. Somadas, não chegavam, em 1990, a um milhão de indivíduos. Somente a população com mais de 70 anos do Sudeste era mais de sete vezes superior ao total de idosos da região Norte. Cabe ressaltar, no entanto, que é crescente a participação dos idosos do Centro-Oeste e do Norte no total de idosos brasileiros. De 5,7% em 1960, saltou para 9,7% em

(44)

Tabela 6: Distribuição da população de 60 anos e mais de idade, por Grandes Re-giões - 1960-1991 - (Fonte: IBGE)

1960 1970 1980 1991

NORTE 2,9 2,9 3,4 4,4

NORDESTE 33,6 30,2 30,4 28,8

SUDESTE 45,5 47,0 46,1 46,4

SUL 15,2 16,3 15,7 15,9

C.OESTE 2,8 3,6 4,3 4,5

c) Quadro econômico dos idosos

É fato que, para grande parte dos indivíduos, a entrada na terceira idade re-presenta um rebaixamento no padrão de vida. Esta situação tem se agravado nas últimas décadas em função de um processo que privilegia os jovens e discrimina os idosos em termos de capacidade produtiva.

(45)

Tabela 7: Brasil - Participação na atividade econômica, por grupo de idade (%) -1970-1985 (Fonte: Anuário Estadistico de America Latina y el Caribe, 1995)

60 a 64 anos 65 anos e mais

Anos Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

1970 39,8 70,9 10,5 25,0 47,1 5,5

1980 39,9 65,3 13,7 19, I 34,7 5,1

1985 38,4 63,9 14,0 17,7 31,9 4,9

Considerações finais

O grande desafio que se coloca perante o Estado e a sociedade é o de fazer frente, simultaneamente, a um quadro de população idosa crescente e de popula-ção jovem ainda elevada. Os recursos para programas sociais são escassos e são disputados por estes dois grupos economicamente não produtivos. O palco para as discussões sobre a repartição destes recursos deve ser a própria sociedade, fa-zendo com que seus anseios repercutam sobre os formuladores de políticas públi-cas. Não se preconiza, aqui, promover um confronto entre estratos etários, o que, no longo prazo, resultaria na própria extinção da sociedade. Recomenda-se sim, um maior equilíbrio na valorização de todos os segmentos etários que integram a sociedade. A denominação, por muito tempo, de "país do futuro" fez com que no Brasil as crianças fossem vistas como o bem mais precioso, recebendo a atenção da mídia, do poder público e de organizações não-governamentais sem uma equi-valência junto à população idosa, condenada à exclusão e ao esquecimento.

(46)
(47)

II - O TURISMO

11.1 - O turismo: hoje e amanhã

o

turismo é hoje uma das atividades econômicas que mais crescem em todo mundo. Sua capacidade já comprovada de geração de renda, empregos e divisas tem atraído cada vez mais a atenção de governos e empresários. O ritmo do des-envolvimento da atividade turística nas últimas décadas é galopante. Contudo, nada comparável ao crescimento esperado já para as primeiras décadas do século XXI. Hoje, a indústria do turismo emprega 212 milhões de pessoas ao redor do mundo, em um negócio que rende US$ 3,4 trilhões ao ano. Estas cifras, por si só admiráveis, serão substancialmente ampliadas em dez anos, quando 338 milhões de indivíduos estarão atuando neste setor da economia, produzindo receitas da ordem de US$ 7,2 trilhões ao ano. O aumento previsto, de 339,6 milhões de pas-sageiros em vôos internacionais em 1994 para 440 milhões em 1998, serve tam-bém para corroborar o que foi dito sobre a velocidade e a amplitude com que o turismo vem se estendendo em escala mundial (Taber, 1995, p. 41).

(48)

pe-ríodo. Por fim, a situação após o fim da Segunda Guerra Mundial também pouco favoreceu o turismo. A Guerra Fria, materializada na repartição do mundo nos blocos capitalista e comunista, fez com que diversas áreas ficassem por décadas proibidas de serem visitadas e seus patrimônios naturais e humanos apreciados. As restrições ao livre trânsito dos turistas fez com que somente nos últimos anos, como resultado do esfacelamento da URSS e do fim da divisão dicotômica do globo, os indivíduos pudessem ter acesso a quase todas as áreas do planeta, atra-vés de um processo de abertura que vem atingindo até mesmo os maiores defen-sores do isolamento geo-político que agora se abrem para o mercado.

O futuro do turismo no mundo aponta especialmente para a Ásia e a expli-cação para esta tendência está centrada em dois fatores: em primeiro lugar, a eco-nomia asiática é, entre as de todos os continentes, a que vem experimentando um crescimento mais acentuado, ou seja, de 6% a 9% ao ano contra a média de 3% a 4% no restante do planeta. O resultado, será a existência, pelo ano 2000, de uma classe média asiática da ordem de 500 milhões de pessoas com elevado poder de compra e, o que é mais importante, dispostos a consumir. Em segundo lugar, ve-rifica-se a abolição, na maior parte dos países da região, das barreiras políticas que limitavam ou até mesmo impediam o turismo.

De acordo com o World TraveI & Tourism Council, o Oriente Médio deve-rá ser a sub-região que testemunhadeve-rá o mais elevado crescimento do turismo não só no continente asiático, mas também em termos mundiais: 235% entre 1995 e 2005. Obviamente, este crescimento estará condicionado ao avanço do processo de paz na região (Tabela 8) (Pandya, 1995, p. 42).

(49)

não alcança os 4%, aproximadamente o mesmo valor obtido pela sul da Ásia, incluíndo a China.

Tabela 8: Turismo no Mundo - (Fonte: World Travei & Tourism Council)

Regiões Crescimento (1995-2005) Receita em 1995 (US$ bi)

América do Norte 30% 956

Caribe 36% 28

América Latina 60% 125

União Européia 37% 1008

Europa Ocidental (restante) 45% 138

Europa Central e Oriental 106% 205

África 75% 58

Oriente Médio 235% 58

Sul da Ásia! China 141% 127

Austrália, Japão e N. Zelân. 33% 143

Pacífico (restante) 194% 534

Diversas outras características do turismo no próximo século já podem ser identificadas através de transformações que são observadas na atualidade (Taber, op. cit., p. 42):

a) A propagação de direitos trabalhistas para regiões onde, até há pouco, eles eram desconhecidos. É o caso, por exemplo, da China que introduziu, so-mente em 1995, a semana de trabalho de cinco dias. O efeito esperado da criação de um tempo maior de lazer deverá refletir na disseminação do hábito de viajar;

(50)

fins do século XIX, quando a união de empresas resultou na formação de podero-sos oligopólios que passaram a controlar a maior parte do mercado. Restará às milhares de pequenas agências ofertar serviços especializados para públicos com interesses específicos ou ocupar os buracos-negros deixados pelas potências do setor;

c) A força propulsora da expansão do turismo será a classe média, o que indica a necessidade de satisfazer a esta demanda através da ampliação do núme-ro de hotéis três estrelas e de restaurantes de estilo familiar;

d) A atividade turística será largamente beneficiada pelos avanços da infor-mática. Por exemplo, todos os procedimentos pré-viagem (informações sobre preços, reservas de passagens e hospedagens etc) poderão ser feitos via Internet, com maior rapidez e comodidade. Da mesma forma, a realidade virtual será mais um dos instrumentos disponíveis para o planejamento das viagens;

e) O desenvolvimento dos meios de transporte aguardado para as próximas décadas promoverá uma revolução nas viagens. Aviões supersônicos vencerão distâncias em tempos recordes, oferecendo conforto e transportando mais passa-geiros do que na atualidade. As viagens terrestres, sobretudo as realizadas de trem, também desempenharão um importante papel. Os países da União Euro-péia, por exemplo, estarão, em 2020, interligados por um sistema ferroviário de alta velocidade, cobrindo distâncias a uma velocidade que superará os 500 kmJh. Os trens deixarão os trilhos comuns e passarão a mover-se por intermédio de um supercondutor magnético que trará mais conforto às viagens.

11.2 - Caminhos e descaminhos do turismo

Imagem

Tabela  2  - Estimativa  da  população  mundial  acima  de  65  anos:  (Fonte:  DEMOGRAPHIC YEARBOOK 1991, UNITED NATIONS, 1992)
Tabela 4 - Distribuição etária - Brasil- (Fonte: IBGE; Neupert 1987)  DISTRIBUIÇAO ETARIA (%)
Tabela  5:  Razão  de  sexos,  segundo  grupo  de  idade  - 1960-1991  (Fonte:  IBGE  - -Anuário Estatístico do Brasil - 1993)
Tabela 6:  Distribuição da população de 60  anos  e mais  de idade, por Grandes Re- Re-giões - 1960-1991 - (Fonte: IBGE)
+7

Referências

Documentos relacionados

Corograpliiu, Col de Estados de Geografia Humana e Regional; Instituto de A lta C ultura; Centro da Estudos Geográficos da Faculdade de Letras de Lisboa.. RODRIGUES,

  O Parque Estadual Intervales foi escolhido por estar numa região próxima a cidade de São Paulo, a qual poderíamos ir em um final de semana para o levantamento de

O score de Framingham que estima o risco absoluto de um indivíduo desenvolver em dez anos DAC primária, clinicamente manifesta, utiliza variáveis clínicas e laboratoriais

E eu lembro-me que a família dele passava muitas dificuldades, o pai ora estava empregado ora desempregado, e além disso sofria do coração, havia dias que quase nem se podia mexer..

QUANDO TIVER BANHEIRA LIGADA À CAIXA SIFONADA É CONVENIENTE ADOTAR A SAÍDA DA CAIXA SIFONADA COM DIÂMTRO DE 75 mm, PARA EVITAR O TRANSBORDAMENTO DA ESPUMA FORMADA DENTRO DA

A solução, inicialmente vermelha tornou-se gradativamente marrom, e o sólido marrom escuro obtido foi filtrado, lavado várias vezes com etanol, éter etílico anidro e

É primeiramente no plano clínico que a noção de inconscien- te começa a se impor, antes que as dificuldades conceituais envolvi- das na sua formulação comecem a ser

Frondes fasciculadas, não adpressas ao substrato, levemente dimórficas; as estéreis com 16-27 cm de comprimento e 9,0-12 cm de largura; pecíolo com 6,0-10,0 cm de