• Nenhum resultado encontrado

Sexualidades politizadas: ativismo nas áreas da AIDS e da orientação sexual em Portugal.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Sexualidades politizadas: ativismo nas áreas da AIDS e da orientação sexual em Portugal."

Copied!
17
0
0

Texto

(1)

Sexualidades politizadas: ativismo nas áreas

da AIDS e da orientação sexual em Portugal

Politicized sexualities: AIDS activism

and sexual orientation in Portugal

1 Cen tro de Estu dos Sociais, Un iversid ad e d e Coim bra. Ap artad o 3087, Coim bra 3001-401, Portu gal. cristin a@son ata.fe.u c.p t

An a Cristin a San tos 1

Abstract Th is article an alyz es h ow both th e Portu gu ese state an d civil society h ave ad d ressed th e AIDS issu e, focu sin g on p articip ation by th e lesbian , gay, bisexu al, an d tran ssexu al com m u -n ity (LGBT ) i-n th e stru ggle agai-n st AIDS. Th e article begi-n s by d escribi-n g th e situ atio-n of LGBT in d iv id u als in Port u gal d u rin g t h e 1990s, w h en t h e Port u gu ese LGBT m ovem en t em erged an d grew, an d th en ch aracteriz es th e evolu tion of HIV/AIDS in Portu gal, an alyz in g th e relation sh ip betw een civil society an d sexu ality in gen eral an d th e situ ation of th e ep id em ic in th e cou n try in p articu lar, con sid erin g k ey facts, n on govern m en tal organ iz ation s, an d state in itiatives. Sp ecial atten tion is given to th e role p layed by LGBT organ iz ation s in th e stru ggle again st HIV. Fin ally, th e article reflects on th e fu tu re of th e stru ggle again st both AIDS an d d iscrim in ation in th e 21st cen tu ry, con sid erin g recen t even ts in th e cou n try an d th e gu id elin es recom m en d ed by in tern a-tion al p olicies.

Key words Acq u ired Im m u n od eficen cy Syn d rom e; Hom osex u a lit y; Sex u a l Orien t a t ion ; Dis-crim in ation

Resumo O p resen te artigo an alisa a form a com o o Estad o p ortu gu ês e a socied ad e civil têm tra-t a d o a q u estra-t ã o d a AIDS, en fa tra-t iz a n d o o en v olv im en tra-t o d a com u n id a d e lésb ica , ga y, b issex u a l e t ra n sex u a l (LGBT ) n o com ba t e a o v íru s. Com eça m os p ela d escriçã o d a sit u a çã o d os m em bros d essa com u n id ad e em Portu gal ao lon go d a d écad a d e 90, p eríod o d a em ergên cia e con solid ação d o m ovim en to LGBT p ortu gu ês. Nu m segu n d o m om en to, caracteriz am os a evolu ção d o com p le-xo HIV/AIDS n o citad o p aís, an alisan d o a relação en tre a socied ad e civil e as qu estões relacion a-d as com a sexu alia-d aa-d e em geral, p or u m laa-d o, e a situ ação a-d a ep ia-d em ia, p or ou tro, con sia-d eran a-d o fatos, in iciativas estatais e associações existen tes. Nu m terceiro m om en to, con sagram os esp ecial aten ção ao p ap el d esem p en h ad o p elas associações LGBT n a lu ta con tra o HIV/AIDS. Fin alm en te, refletim os acerca d o fu tu ro d a lu ta con tra a ep id em ia e a d iscrim in ação n o sécu lo XXI, ten d o em con ta os d esen volvim en tos verificad os n o País e as lin h as orien tad oras d a p olítica d e com bate à AIDS ad otad as p or organ ism os in tern acion ais.

(2)

Introdução

Historicam en te, a sexu alid ad e tem sid o con d i-cion ad a p or p ad rões m orais m ais ou m en os ar-b itrários, su p ortad os q u er p or d eterm in ações d e caráter religioso, q u er p or argu m en tos m é-d icos. De fato, se a religião p oé-d e ser con sié-d era-d a u m elem en to in con torn ável n a regu lação era-d a sexu alid ad e h u m an a – p ap el q u e, n o caso p or-tu gu ês, a tin giu o seu a u ge co m a in stior-tu içã o d os Trib u n ais d a San ta In q u isição, em 1536 ( J. J. A. Dia s, co m u n ica çã o p esso a l; L. Mo tt, co -m u n ica çã o p essoa l) –, a -m ed icin a n ã o esteve, d e fo rm a a lgu m a , a u sen te d esse m esm o p ro -cesso d e legitim ação ou rejeição sexu al, ain d a qu e a su a in flu ên cia seja m ais recen te d o qu e a religiosa.

Na verd ad e, em esp ecial com a em ergên cia do vitorian ism o britân ico n o sécu lo XIX, os d es-tin os da sexu alidade tom aram ou tro ru m o, u m a vez q u e, tal com o assin alou Fou cau lt (1994), a p esad a rep ressão sexu al acab ou p or colocar o sexo n o cen tro d e u m a a ten çã o p ú b lica e p rivad a sem p reced en tes. Essa sú b ita efervescên -cia d a sexu alid ad e trad u ziu -se p or u m a classi-fica çã o m éd ica d eta lh a d a d e tod os os d esvios con h ecid os, en tre os q u ais se con tavam a h is-teria , a n in fo m a n ia , a h o m o ssexu a lid a d e, a p rostitu ição e a m astu rbação. Com o su rgim en -to d a Sexologia, as d iversas orien tações, as p re-ferên cias e os d esvios sexu ais, q u e, en tretan to, foram sen do con hecidos, eram atribuídos a ten -d ên cias -d o foro ín tim o q u e p o-d eriam ser aju s-tad as se su jeitas a u m a terap ia m éd ica ad equ a-d a. Foi n essa altu ra, n om eaa-d am en te em 1869, q u e o term o h o m o ssexu a l fo i cu n h a d o p ela m éd ica h ú n gara Karoly Maria Ben kert.

No sécu lo XX, as in vestigações con d u zid as p o r Alfred Kin sey n a d éca d a d e 30 – d a s q u a is resu lto u a p u b lica çã o d o s co n h ecid o s Sex u al Behaviou r in the Hu m an Male, em 1948, e Sexu al Beh aviou r in th e Hu m an Fem ale, em 1953 –; os estu d os d e Masters & Joh n son – aos qu ais se re-con h ece a m aior re-con trib u ição d a Sexologia em p rol d a sexu alid ad e d a m u lh er (Hawkes, 1996) – e as teorias d esen volvid as p or Freu d – qu e, ao relacion ar fatores p sicológicos, p sicossexu ais e sociais, afastam p ela p rim eira vez o m on op ólio exp lica tivo q u e a n a tu reza d etivera a té en tã o, p a ra a p roxim a r o sexo d o so cia l – co n stitu em m arcos in con torn áveis n a relação en tre m ed i-cin a e sexu alid ad e.

Com o d esen volvim en to d a ciên cia m éd ica e d a Sexologia, em p articu lar, p od em os afirm ar q u e a ciên cia o cu p o u , d e fo rm a p ro gressiva e segu ra, o lu gar d a religião n o qu e se refere à d e-term in ação d a n orm alid ad e e d o d esvio, com a co rresp o n d en te su b stitu içã o d o velh o “p eca

-d o” p ela en tã o em ergen te “p a to lo gia” (Sega l, 1997). Nas p alavras d e Fou cau lt, “talvez a in ter-ven ção d a igreja n a sex u alid ad e con ju gal e a su a recu sa d as ‘frau d es’ à p rocriação ten h am perdido, de h á du zen tos an os para cá, m u ita da su a in sistên cia. Mas a m edicin a, essa en trou em força n os p razeres d o casal: in ven tou tod a u m a p atologia orgân ica, (...) classificou cu id ad osa-m en te tod as as forosa-m as d e p razeres an exos, (...) cham ou a si a su a gestão” (Foucault, 1994:44-45). Retom an d o a n ossa afirm ação in icial, tan to a religiã o q u a n to a m ed icin a têm em co m u m u m p a ssa d o q u e visa co n h ecer p a ra m elh o r con trolar, fato p articu larm en te visível em m atéria de sexu alidade. Se con siderarm os o exem -p lo d a exten sa en u n cia çã o d o s -p eca d o s n o s Man u ais d os Con fessores e as classificações d e d oen ças u tilizad as ain d a h oje, verificam os qu e, em a m b o s o s ca so s, a h o m o ssexu a lid a d e tem sid o ob jeto d e con stan tes e em p en h ad as ten ttivas de con trole, con ten ção e p osterior n orm aliza çã o com p orta m en ta l. Na verd a d e, a o con -torn ar o m od elo d o sexo rep rod u tivo – e, com o tal, socialm en te legitim ad o –, os h om ossexu ais fo ra m , d u ra n te sécu lo s, p ersegu id o s e a cu sa -d o s -d e im o ra li-d a -d e, -d ep ra va çã o e co rru p çã o, estigm a q u e p reva lece a té o p resen te, a in d a q u e so b fo rm a s d e d iscrim in a çã o p o r ven tu ra m ais su tis. Assim se ju stifica q u e os p rim eiros casos n otificados de con tam in ação com o Víru s d e Im u n o d eficiên cia Hu m a n a (HIV) e d e Sín -d rom e -d e Im u n o-d eficiên cia A-d q u iri-d a (AIDS), d oen ça tran sm itid a tam b ém p or via sexu al, te-n h am sido rap idam ete-n te associados aos h om os-sexu a is, d esd e sem p re co n o ta d o s co m u m a certa p erm issivid ad e sexu al.

É n essa en cru zilh ad a h istórica, en tre a relgiã o e a m ed icin a , q u e se co n stro em o s ca m in h o s d a sexu a lid a d e co in tem p o râ in ea , regu la -d os p ela ação (tam b ém p or om issão) -d as p olí-ticas p ú blicas. A esse resp eito, o com p lexo HIV/ AIDS co n stitu i u m exem p lo in co n to rn á vel d e articu lação en tre, p or u m lad o, a avaliação m o-ral d a Igreja Católica sob re u m a d oen ça fortem en te a sso cia d a a co fortem p o rta fortem en to s d esvia n -tes – e n ote-se, n esse caso, qu e a ação d a Igreja Católica p ortu gu esa em relação à h om ossexu a-lid a d e tem u m a lo n ga tra d içã o q u e, em b o ra aten u ad a com o d ecorrer d os tem p os, n ão d ei-xa d e m a rca r o s ritm o s d a s p o lítica s p ú b lica s em m atéria d e sexu alid ad e – e, p or ou tro lad o, a legitim ação cien tífica d a m ed icin a sob re u m a ep id em ia d e efeito s d eva sta d o res q u e p o d e, con tu d o, ser p reven id a.

(3)

i-ca , gay, b issexu a l e tra n sexu a l (LGBT) p o rtu -gu esa n o p ro cesso d e co m b a te a o víru s. Pa ra esse efeito, com eçse p ela d escrição d a situ a-çã o d o s m em b ro s d essa co m u n id a d e em Po r-tu gal ao lon go d a d écad a d e 90, en fatizan d o-se a em ergên cia e co n so lid a çã o d o m ovim en to LGBT p ortu gu ês. Nu m segu n d o m om en to, ca-racteriza-se a evolu ção d o com p lexo HIV/ AIDS em Po rtu ga l, a n a lisa n d o -se a rela çã o en tre a socied ad e civil e as qu estões relacion ad as com a sexu alid ad e em geral e in ven tarian d o-se a si-tu ação d a ep id em ia n o País, com b ase em esta-tísticas oficiais, associações existen tes, in iciati-vas p ú b licas e atitu d es d o Estad o, a fim d e co-n h ecerm os o p assad o d a lu ta p ela p reveco-n ção e tratam en to. Nu m terceiro m om en to, con sagra-se esp ecia l a ten çã o a o p a p el d esagra-sem p en h a d o p ela s a sso cia çõ es LGBT n a lu ta co n tra o HIV/ AIDS. Fin alm en te, refletese acerca da lu ta con -tra a ep id em ia e a d iscrim in ação n o sécu lo XXI, ten d o em con ta os d esen volvim en tos verifica-d os n o País e as lin h as orien taverifica-d oras verifica-d a p olítica d e co m b a te à AIDS a d o ta d a s p o r o rga n ism o s in tern acion ais com o a Organ ização d as Nações Un id as (ONU) ou a Un ião Eu rop éia (UE).

Breve história do movimento

LGBT português

Não é n ossa in ten ção en red ar o leitor n aq u ilo qu e p od eria b em ser u m a h istória exau stiva d a a firm a çã o d e u m m ovim en to n ã o h etero sse-xu al em Portu gal. No en tan to, p ara refletir so-b re a fo rm a co m o a s q u estõ es em to rn o d o co m p lexo H IV/ AIDS têm sid o a b o rd a d a s em Portu gal, torn a-se n ecessário con h ecer, d esd e o com eço, o p ercu rso d o ativism o LGBT, p recisa m en te p o r este co n stitu ir o m ovim en to so cial m ais en volvid o n a lu ta con tra a AIDS. Sen -d o este o n osso p rop ósito, im p orta su m ariar os p rin cip a is a co n tecim en to s q u e m a rca ra m a em ergên cia d esse m ovim en to, sem , en treta n to, d etalh ar etap as m en os d eterm in an tes, em -b o ra igu a lm en te in teressa n tes p a ra q u em se in teressa p elo estu d o d as sexu alid ad es. Por is-so, com eçam os esta in cu rsão n o p eríod o im e-d iatam en te p osterior à tran sição e-d em ocrática. Ap ós a revolu ção d e ab ril d e 1974, qu e m ar-ca o in ício d a d em ocracia em Portu gal, o clim a d e ab ertu ra id eológica p arecia p erm itir a acei-tação d aqu eles qu e o regim e d itatorial silen cia-ra p or qu ase m eio sécu lo. Nesse p eríod o, em er-gira m a lgu m a s m a n ifesta ções d e m ob iliza çã o LGBT n o País. Em 1974, d u ran te a p rim eira co-m eco-m oração d o Dia d o Trab alh ad or, n a cid ad e d o Porto, ap arece u m cartaz on d e se p od ia ler “Liberd ad e p ara os Hom ossex u ais”. A 13 d e

m aio d esse m esm o an o, o Diário de Lisboap u -b lica va o Ma n ifesto d o Movim en to d e Açã o Hom ossexu a l Revolu cion á ria (MAHR), in titu -lad o Liberd ad e p ara as Min orias Sexu ais. Esse m an ifesto caracterizavase p or u m a con sciên -cia p olítica id en tificad a com a esq u erd a revo-lu cion ária e ap elava p ara a revo-lu ta con ju n ta d e to-d os os cito-d ato-d ãos con tra a rep ressão sexu al, exi-gin d o sim u lta n ea m en te a im p lem en ta çã o d e u m a d iscip lin a d e Ed u ca çã o Sexu a l em to d a s as escolas e alterações ju ríd icas n o sen tid o d a descrim in alização da p rática h om ossexu al qu e, com b ase n u m a lei d e 1912, equ ivalia ao crim e d e vad iagem , sen d o p u n ível com p en a d e p ri-são (Bastos, 1997).

Seis a n o s d ep o is, a 25 d e o u tu b ro d e 1980, n asceu o Coletivo d e Hom ossexu ais Revolu cio-n ários (CHOR). Nessa p rim eira reu cio-n ião, à q u al com p areceram cerca d e d u zen tas p essoas, foi d ecid id o elab orar u m jorn al, con stru ir u m cen -tro d e con vívio e ter in iciativas con ju n tas com ou tros m ovim en tos sociais, com o o Movim en to d e Defesa d o s Reclu so s. Ap esa r d a su a im -p ortân cia com o -p rim eiro m otor d e d in am iza-çã o co letiva d o s LGBT p o rtu gu eses, o CH OR acab ou p or d esap arecer d ois an os d ep ois. Du -ran te a d écad a d e 80, registram -se ain d a ou tros a co n tecim en to s q u e a feta ra m d ireta m en te o m eio “lesb igay” p ortu gu ês. Em 1982, teve lu gar n o Cen tro Na cio n a l d e Cu ltu ra , em Lisb o a , o ciclo d e d eb ates “Ser (Hom o)sexu al”, con sid e-ra d o co m o o p rim eiro ge-ra n d e d eb a te p ú b lico so b re o tem a . Du ra n te o 1oe o 2o Co n gresso Na cio n a l d e Sexo lo gia , rea liza d o s resp ectiva -m en te e-m Lisb oa (1984) e e-m Coi-m b ra (1987), o tem a d a h o m o ssexu a lid a d e co n stitu iu u m d os p ain éis d e d iscu ssão. Exceção feita a esses even tos, a década de 80 acabou p or ficar aqu ém d as exp ectativas d e m u itos, em face d o q u e ti-n h a sid o iti-n icia d o lo go a p ó s 1974 e d o q u e vi-n h a sevi-n d o u m a rea lid a d e em p a íses co m o o s Estad os Un id os, a Fran ça ou o Rein o Un id o.

Os an os 90, con tu d o, recu p eraram o ativism o ap aren teativism en te p erd id o, d ad o q u e a extin çã o d o s m ovim en to s a n terio res fo i co n tra b a -lan çad a p elo ap arecim en to d e n ovos gru p os e a sso cia çõ es LGBT. Segu e-se u m a b reve a p re-sen tação d os m esm os, b em com o d o trab alh o efetu ad o n a ú ltim a d écad a.

O ativismo LGBT português: 1990-2000

(4)

– Pu blicação Lésbica d e Portu gal, q u e agregou u m gru p o d e m u lh eres in teressad as em d eb ter q u estões relacion ad as com a h om ossexu a-lid ad e e em en cu rtar as d istân cias en tre a cap i-tal e o resto d o p aís. Em 1993, a Organ ad eu lu -ga r à Lilás, u m a revista trien a l d e d ivu lga çã o, in form a çã o e d efesa d os d ireitos d a s lésb ica s, q u e têm vin d o p rogressivam en te a assu m ir-se com o u m gru p o com características associati-vistas, p rom oven d o a realização d e en con tros, sessões d e p oesia, d iscu ssões literárias e cin em atográficas e a reflexão con ju n ta, n u em a ten tativa d e com b ater o p recon ceito e o isolam en -to d as m u lh eres lésb icas p ortu gu esas.

O Gru p o d e Tra b a lh o Ho m o ssexu a l (GTH ) con stitu iu -se n o seio d o Partid o Socialista Re-volu cion ário, em 1991, com o objetivo de “con s

-cien cializ ar a socied ad e p ortu gu esa p ara a re-pressão e discrim in ação exercida pela m oral se-xu al dom in an te” (GTH, 1991). Atu alm en te p re-sid id o p or Sérgio Vitorin o, o GTH tem orga n i-zad o algu m as ações d e ru a, em p rotesto con tra atitu d es d e h om ofob ia, tal com o foi o caso d as m a n ifesta çõ es, em 1996, co n tra a s d efin içõ es d e h om ossexu alism o e lesb ian ism o forn ecid as p elo Dicion ário de Lín gu a Portu gu esad a Porto Ed itora (1986) ou , m ais recen tem en te, con tra a in clu sã o d a h o m o ssexu a lid a d e n a Cla ssifica -ção Nacion al de Deficiên cias p u blicada n o Diá

-rio d a Rep ú blica (Po rtu ga l, 1999a ). Pa ra a lém d essas ativid ad es d e d en ú n cia, o GTH está d i-retam en te en volvid o n a lu ta p or alterações n o n ível d a Con stitu ição e d o Cód igo Civil e Pen al p ortu gu ês.

Em 1995, a d elegação p ortu gu esa d a In ter

-n atio-n al Lesbia-n a-n d Gay Associatio-n (ILGA-Po rtu ga l) in icio u a s su a s a tivid a d es, o b ten d o recon h ecim en to oficial em ab ril d e 1996, qu an -d o Jo ã o So a res, en tã o Presi-d en te -d a Câ m a ra Mu n icip al d e Lisb oa, in au gu rou a sed e d o n ovo Cen tro Com u n itário Gaye Lésb ico, n u m esp a-ço igu alm en te con ced id o p elo Mu n icíp io. A IL-GA-Po rtu ga l, p resid id a a tu a lm en te p o r Jo sé Man uel Fern an des, é a m aior organ ização LGBT p o rtu gu esa , q u er em n ú m ero d e só cio s (esti-m a d o s en tre q u in h en to s e seiscen to s), q u er p elas in iciativas q u e tem d esen volvid o. Desd e 1997, é realizad o an u alm en te o “Arraial d o Or-gu lh o Gay”, em m em ó ria d o 29 d e ju n h o d e 1969, m u n d ialm en te recon h ecid o com o o p ri-m eiro d ia d e celeb ração d o orgu lh o LGBT. Pa-ra lela m en te a o ArPa-ra ia l, d esd e 1997, a ILGA a co lh e ta m b ém a o rga n iza çã o, to d o s o s a n o s, d o Festival d e Cin em a Gaye Lésb ico. Am b as as in iciativas con tam com o p atrocín io d a Câm a-ra Mu n icip al d e Lisb oa. Naqu ele m esm o an o, a associação d eu in ício à M arch a em Mem ória e Solidariedade para com as Vítim as do HIV/AIDS,

a tivid a d es q u e d eco rrem in va ria velm en te n a cid a d e d e Lisb o a (ver a d ia n te). A ILGA é res-p o n sá vel res-p o r d iverso s fo lh eto s in fo rm a tivo s q u e d ão u m esp ecial relevo a q u estões relacion ad as com a AIDS e com o erelacion qu ad ram erelacion to ju -ríd ico d a h o m o ssexu a lid a d e em Po rtu ga l. O cen tro co m u n itá rio d a ILGA co n ta a in d a co m u m cen tro d e d ocu m en tação, u m b ar e u m serviço sem an al d e aten d im en to p sicológico e ju -ríd ico, ad ap tan d o o seu esp aço sem p re qu e n e-cessá rio p a ra a co lh er p eça s d e tea tro, exp o si-ções, festas e sessões d e p oesia.

A 28 d e jan eiro d e 1996, n asceu o Clu b e Sa-fo. Ain d a sem sed e física , o clu b e con ta a tu a l-m en te co l-m u l-m a cen ten a d e só cia s e sil-m p a tiza n tes, resp o n sá veis p ela rea litiza çã o d e d eb a -tes, en co n tro s e a tivid a d es d esp o rtiva s e p ela organ ização an u al d o ú n ico acam p am en to sáfico d o p a ís. Co m u m a p erio d icid a d e ten d en cialm en te b im estral, o Safo ed ita, d esd e setem -b ro d e 1997, o -b o letim Zon a Livre, u m esp aço d e in form ação e d ivu lgação d e caráter lésb ico, q u e tem vin d o a cre sce r n o se u p o t e n cia l d e com b ate à d iscrim in ação.

Em setem b ro d e 1996, foi criad a p elas m ãos d o seu ed itor e red ator p rin cip al, Isid ro Sou sa, a revista trim estral Korpu s. Con stitu in d o a ú n i-ca p u b lii-cação p eriód ii-ca gayp ortu gu esa, a Kor

-pu sap resen ta u m a cobertu ra dos even tos LGBT n acion ais, en trevistas com as p rin cip ais figu ras d o m ovim en to h om ossexu al p ortu gu ês, artigos d e op in ião e d ivu lgação d e ativid ad es e d iver-sas in form ações d e con teú d o afim . A revista é ven d id a d e n orte a su l d o País.

A Op u s Gaysu rgiu em 1997, resu lta n d o d a vo n ta d e exp ressa d e An tó n io Serzed elo, seu atu al p resid en te, em fazer trab alh o n a área d os d ireitos h u m an os d os h om ossexu ais. Com se-d e física em Lisb oa se-d esse-d e setem b ro se-d e 1998, a Op u s p ossu i ain d a d elegações, m ais ou m en os in fo rm a is, n o Po rto e em Co im b ra . Den tre a s ativid ad es realizad as p or essa associação, d es-taca-se a p rim eira com em oração d o Dia d o Or-gu lh o Gay, realizad a n a cid ad e d o Porto a 19 d e ju n h o d e 1999, n a d iscoteca Gen te Gira. En tre ou tra s a tivid a d es, em 2001 a Op u s Gayp rep a -ro u , em co la b o ra çã o co m a revista Korp u s, a p u b lica çã o d a 1aAn tologia d e Literatu ra

Ho-m oerótica Portu gu esa, reu n in d o textos em p ro-sa o u p o esia d e a u to res p o rtu gu eses. Esro-sa o r-gan ização d isp on ib iliza vários serviços p ara a com u n id ad e LGBT, en tre os q u ais se d estacam o dog & cat sitter, o serviço d e lim p ezas d om és-ticas, a im obiliária, o aten dim en to ju rídico, m éd ico e p sicológico, as con su ltas éd e tarô e o clu -b e d e filatelia.

(5)

e-res (GM), com u m con ju n to d e reivin d icações e u m m a n ifesto p ró p rio s. Resp o n sá vel, d esd e ja n eiro d e 1999, p elo b o letim Lesbian a, o GM tem vin d o a m a rca r p o siçã o n o m eio lésb ico através d e d eb ates, alm oços, p asseios e ou tras ativid ad es lú d icas. Em 1999, organ izou u m ci-clo d e film es lésb icos, exib id os aos sáb ad os n a sed e d a ILGA-Portu gal, q u e con taram com u m p ú b lico regu lar qu ase exclu sivam en te com p os-to p or m u lh eres. O GM tem tid o u m a p articip a-ção regu lar n a selea-ção e legen d agem d os film es p ara m u lh eres qu e são exib id os d u ran te o Fes-tival d e Cin em a Gaye Lésb ico.

Fin alm en te, em 2000, d u as ou tras associa-ções LGBT foram criad as. Em m aio, n a cid ad e do Porto, n asceu o NÓS, com o in tuito de ser u m m ovim en to u n iversitário p ara a lib ertação se-xu al. Essa associação organ izou a m aior p arte d a s a tivid a d es d esen vo lvid a s n o â m b ito d a 1a

Sem an a d e Orgu lh o LGBT n aq u ela cid ad e (em 2001), n o m ea d a m en te d eb a tes, exib içõ es d e film es, sessõ es d e p o esia e ca m p a n h a s d e in -form ação. Em setem b ro, Sim ão Mateu s fu n d ou o Gru p o Oeste Gay, com o p rin cip al ob jetivo d e in clu ir n a co m u n id a d e LGBT p esso a s q u e vi-vem n a p a rte Oeste d o Pa ís, d in a m iza n d o d e-b ates e d esen volven d o esp aços d e con vívio.

Desd e o seu in ício, o m om en to d e m aior vi-sib ilid a d e p ú b lica n a h istó ria d o m ovim en to LGBT p ortu gu ês acon teceu em 2000. Foi este o a n o em q u e Jo sé Ma n u el Fern a n d es fo i eleito p resid en te d a ILGA-Portu gal, e com ele a estra-tégia d o p róp rio m ovim en to p arece ter evolu í-d o n o sen tií-d o í-d e u m a organ ização m ais visível e estru tu rad a, u m m ovim en to con ju n to d e to-d as as associações h om ossexu ais p ortu gu esas, visa n d o a u m a rea l tra n sfo rm a çã o p o lítica n o p ro cesso d e lu ta co n tra a d iscrim in a çã o co m b ase n a orien tação sexu al. Se n ão, vejam os. Em 2000, fo i p u b lica d o em Po rtu ga l o M an u al d e Sexu alid ad e Lésbica, u m a ob ra q u e visa ao es-clarecim en to d e u m a área trad icion alm en te re-m etid a à ign orân cia ou à rejeição, trad u zid a e ed itad a p or An a Pin h eiro, resp on sável p ela ed ito ra Za ya s, ta m b ém cria d a em 2000. Fo i ta m -b ém n esse an o q u e, p ela p rim eira vez em Por-tu gal, realizou -se a March a de Orgu lh o Hom os-sex u al, p ela s ru a s d e Lisb o a , d u ra n te o d ia , e com a ad esão d e cerca d e q u in h en tas p essoas, a m a io r p a rte d a s q u a is d esfilo u sem u tiliza r m á sca ra s. Ten d o in ício n o Ja rd im d o Prín cip e Real, u m a região con otadam en te h om ossexu al, on d e ab u n d am os b ares e as d iscotecas LGBT, a m a rch a p erco rreu a rtéria s vita is d a cid a d e, term in an d o n a Praça d o Mu n icíp io, esp aço reser va d o p a ra o Arra ia l, q u e se p ro lo n go u d u -ran te tod a a n oite. A m arch a con tou com a p ar-ticip ação d e ou tras organ izações sociais e p

olí-tica s, co m o o SOS-Ra cism o e o Blo co d e Es-q u erd a . Du ra n te to d o o p ercu rso, fo ra m visí-veis m u ita s b a n d eira s d o a rco -íris, em b lem a s d e triân gu los p retos e rosa, laços verm elh os as-sin alan do o en volvim en to da lu ta con tra a AIDS e ca rta zes co m p a la vra s d e o rd em p ro fu n d a -m en te p o litiza d o s e a d eq u a d o s a o -m o -m en to q u e se vivia n o Pa ís. Nessa o ca siã o, reivin d i-cou -se a legalização d as u n iões d e fato h om os-sexu ais – o q u e veio a acon tecer a 15 d e m arço d e 2001, co m a a p rova çã o p ela Assem b léia d a Rep ú b lica d a Lei 7/ 2001 (Po rtu ga l, 2001), q u e a trib u i d ireito s e b en efício s fisca is a o s ca sa is LGBT qu e vivam ju n tos h á m ais d e d ois an os –; o fim d a d iscrim in ação legislativa; a eq u ip ara-ção d os d ireitos sexu ais aos d ireitos h u m an os e o d ireito d e se esco lh er livrem en te a q u em se am a. Essa m arch a teve u m a cob ertu ra sem p re-ce d e n te s p e lo s m e io s d e co m u n ica çã o so cia l d e Portu gal. Por fim , o Arraial 2000 con stitu i o cu lm in ar d essa celeb ração d e orgu lh o m assiva: n a p rim eira vez em q u e o Arraial foi organ iza-d o con ju n tam en te p elas p rin cip ais associações LGBT, a s b a rra q u in h a s d a s d ive rsa s a sso cia -ções, b ares e d iscotecas lad earam p or com p le-to a Praça d o Mu n icíp io, acolh en d o a m aior d e tod as as aflu ên cias d e p essoas n u m even to d o gên ero.

Zygm u n t Ba u m a n (1999:19) fo i q u em a fir-m ou qu e “toda a h istória do sexo é a h istória da m an ip u lação cu ltu ral d o sexo”. Po r isso, a exp osição d os fatos m ais m arcan tes n a con stru -çã o d o m ovim en to LGBT p o rtu gu ês fo rn ece u m en qu ad ram en to ú til à com p reen são d o qu e será tratad o n as p róxim as seções. Cen tran d o o n o sso o lh a r so b re a h istó ria m a is recen te d o Pa ís, d eb ru ça r-n o s-em o s, p o is, so b re o p a p el d esem p en h a d o q u er p elo Esta d o p o rtu gu ês, q u er p ela so cied a d e civil – en fa tiza n d o p a rticu larm en te as associações LGBT –, n a con stru -ção d e p olíticas e atitu d es coletivas em face d a AIDS n o Portu gal con tem p orân eo.

A AIDS em Portugal:

atitudes, fatos, iniciativas

(6)

segu n d a, efetu am os u m a d escrição n u m érica e cron ológica d a realid ad e d a AIDS n o País, com b ase em in form ações estatísticas; p or fim , p ro-ced em o s a u m a reflexã o q u a lita tiva so b re a s in iciativas n o âm b ito d o com b ate e p reven ção d o HIV/ AIDS, d esen volvid as tan to p elos orga-n ism o s esta ta is, q u a orga-n to p ela so cied a d e civil. Para essa an álise, recorrem os à literatu ra in ter-n a d a s a sso cia çõ es, a o s d ep o im eter-n to s e eter-n trevistas com os seu s líd eres e às in form ações ob -tid as através d e u m ob servatório d a im p ren sa escrita p ortu gu esa, realizad o en tre 1994 e 2001.

O sexo dos portugueses

A virad a d em ocrática d e Portu gal em 1974 tra-d u ziu -se p o r u m a p ro gressiva a ltera çã o tra-d e cren ças e com p ortam en tos d os cid ad ãos, cu jo im p acto se fez sen tir tam b ém n a esfera d a se-xu alid ad e. Um a d as ten d ên cias verificad as foi a crescen te secu larização d o casam en to: se, em 1970, a p orcen tagem d e casam en tos católicos em Po rtu ga l era d e 86,6%, esse va lo r d esceu p ara 74,7% n o esp aço d e d ez an os (Reis, 1984). Pa ra lela m en te, h o u ve u m crescim en to a cen tu ad o d o n ú m ero d e d ivórcios: d esd e o au m en -to im ed ia ta m en te p o sterio r a o Decre-to -Lei 261/ 75 – q u e p a sso u a p erm itir o d ivó rcio a qu em tivesse con traíd o m atrim ôn io p ela Igreja Católica –, a taxa d e crescim en to d os d ivórcios m an tém -se elevada – en tre 1995 e 1996, o n úm e-ro d e d ivórcios au m en tou 9% (Vicen te, 1998).

Nos an os 90, p ara além d e se con firm arem as ten d ên cias an teriores, assistese à in trod u -çã o d a sexu a lid a d e n a esfera p ú b lica . Um d o s m o m en to s em q u e a sexu a lid a d e fo i m a is d e-b a tid a p u e-b lica m en te foi em 1998, a p rop ósito d a lei sob re a d esp en alização d o ab orto, ap ro-va d a n a Assem b léia d a Rep ú b lica a 5 d e feve-reiro d a q u ele a n o. A lei a ca b o u p o r ser p o ste-riorm en te su jeita a referen d o n acion al a 28 d e ju n h o, su scitan d o u m a gran d e m ovim en tação social em torn o d as d iferen tes p osições, qu e se a la stro u à s ru a s e a o s m eio s d e co m u n ica çã o social n acion ais. O resu ltad o d o escru tín io aca-b o u p o r fru stra r a d ecisã o p a rla m en ta r, p o r u m a d iferen ça d e 1,82% en tre o s p o rtu gu eses que votaram a favor da desp en alização (49,09%) e os qu e a recu saram (50,91%).

O p ap el cen tral qu e o sexo p assou a d esem -p en h a r é evid en cia d o -p o r d iferen tes estu d o s feitos sob re a socied ad e p ortu gu esa d u ran te a década de 90. Um a son dagem realizada em 1995 a 268 resid en tes n as áreas u rb an as d e Lisb oa e d o Porto revelou u m a p ercen tagem d e cerca d e 71% p ara qu em o sexo é m u ito ou m esm o m u i-tíssim o im p ortan te (Ru ela, 1995). Tal cen trali-d atrali-d e é tam b ém evitrali-d en te n o su cesso trali-d a Sexu a

-lid ad e em Lin h a, lin h a telefôn ica gratu ita lan -çad a em ju n h o d e 1998, n u m a p arceria en tre o In stitu to Po rtu gu ês d a Ju ven tu d e e a Asso cia -ção p ara o Plan ejam en to d a Fam ília, e q u e em m en o s d e u m a n o d e fu n cio n a m en to já h a via receb id o cerca d e 55 m il ch a m a d a s (Pú b lico, 1999).

Ou tro d o m ín io estu d a d o en vo lve a s rela -çõ es extra m a trim o n ia is. Assim , segu n d o u m in qu érito realizad o en tre estu d an tes d e escolas secu n d árias, gran d e p arte d os in qu irid os refere qu e o casam en to n ão é u m a p riorid ad e, e cerca d e 92% a p rova m a s rela çõ es sexu a is a n tes d o casam en to (Paixão, 1995).

A atitu d e d os p ortu gu eses em face d a m u l-tip licid a d e d e sexu a lid a d es e d e fo rm a s d e a s viver é, n o en tan to, m en os lib eral qu e o qu ad ro a té a q u i tra ça d o p o d eria fa zer su p o r. Prá tica s co m o a h o m o ssexu a lid a d e e a b issexu a lid a d e co n tin u a m a revela r-se á rea s p ro b lem á tica s p ara a m aioria d a p op u lação p ortu gu esa, u tili-za d a s m u ita s vezes co m o fo rm a d e a gressã o verbal ou de in feriorização do ou tro, com o b em o d em o n stro u Alm eid a (1995). Ta l a titu d e é ta m b ém evid en te n o in q u érito rea liza d o p o r Pais, em q u e cerca d e m etad e d os resp on d en -tes (48,5%) d eclara q u e a sexu alid ad e só d eve-ria ser p erm itid a en tre h om en s e m u lh eres, em com p aração a u m a p ercen tagem d e 14,3% qu e ad voga d everem ser p erm itid os tod os os tip os d e relacion am en tos sexu ais (Pais, 1998). Qu an -d o qu estion a-d os -d iretam en te sob re a aceitação d as relações sexu ais en tre d ois h om en s e en tre d u as m u lh eres, a n ão-aceitação ascen d e a cerca d e 80%, sen d o, n o en ta n to, im p o rta n te sa -lien ta r o m esm o gra u d e rep ú d io a o h o m em casad o q u e m an tém relações sexu a is com ou -tras m u lh eres (Pais, 1998).

(7)

cren tes, a ú n ica n ecessid a d e a p o n ta d a p a ra a p rá tica sexu a l é a existên cia d e a m o r en tre o s seu s p ra tica n tes (Pa is, 1998). Em fa ce d esse m a ior con serva d orism o religioso, n ã o é, p ois, d e estran h ar u m a m aior in tran sigên cia n o q u e se refere à h o m o ssexu a lid a d e. Co n fo rm e Pa is (1998) d em on stra, é en tre os cren tes qu e se ve-rifica u m a m en or aceitação tan to d a h om osse-xu a lid a d e m a scu lin a , q u a n to d a fem in in a : se en tre os n ão cren tes a taxa d e aceitação d e re-lações sexu ais en tre h om en s e en tre m u lh eres se situ a n os 22,6% e 24,1% resp ectivam en te, essa p ercen tagem d esce p ara os cerca d e 17% en -tre os católicos n ão p ratican tes e p ara os 5,5% en tre o s ca tó lico s p ra tica n tes e o s cren tes d e ou tras religiões (Pais, 1998).

Esse en qu ad ram en to geral d as atitu d es d os p ortu gu eses relativam en te à sexu alid ad e serve d e in trod u ção p ara a form a com o o com p lexo HIV/ AIDS é exp erim en tad o em Portu gal. Disso p rocu rarem os d ar con ta n a p róxim a seção.

Os números da AIDS em Portugal

Desd e o p rim eiro d iagn óstico d e AIDS em Por-tu ga l, em a b ril d e 1983, a té o fin a l d o a n o d e 2000, foram d iagn osticad as 7.755 p essoas com AIDS n o Pa ís. Em ju n h o d e 2001, o s n ú m ero s oficiais ap on tavam p ara a existên cia d e 17.858 in fecçõ es co m o H IV e 8.232 d o en tes d e AIDS (CVEDT, 2001). Co n tu d o, u m a vez q u e a AIDS n ã o é u m a d o en ça d e d ecla ra çã o o b riga tó ria em Portu gal, esses são ap en as os n ú m eros d e-corren tes d os casos n otificad os, o q u e im p lica n ecessa ria m en te u m a su b a va lia çã o d a situ a -çã o rea l d a ep id em ia n o Pa ís. Na verd a d e, em ju n h o d e 2001, Fern an d o Ven tu ra, resp on sável p ela Com issão Nacion al d e Lu ta con tra a AIDS (CNLCS), d ecla ro u a cred ita r n a existên cia d e vin te a trin ta m il cid a d ã o s p o rtu gu eses q u e d escon h ecem serem p ortad ores d o HIV (Cam -p os, 2001). No m esm o sen tid o, a-p on ta u m rela-tório recen te d a UNAIDS ( Join t Un ited Nation s Program m e on HIV/ AIDS), segu n d o o qu al, em Po rtu ga l, p o d em existir cerca d e 36 m il cid a -d ãos in fecta-d os com o víru s (Pú b lico, 2001a).

Den tre o s ca so s n o tifica d o s, o s h o m en s a p resen ta m u m a cla ra p rep o n d erâ n cia , refle-tin d o 84% d o total d e casos registrad os. A an á-lise p or gru p os etários revela q u e a m aior in ci-d ên cia ci-d a ci-d o en ça se situ a en tre o s 25 e o s 29 an os (22%) e os 30 e 34 an os (21%).

Dos 7.455 casos d e AIDS registrad os até fin a l d e 2000, 56% d o s ifin d ivíd u o s d ia gfin o stica -d os já faleceram . Em 1999, a evolu ção -d ecres-cen te d a m o rta lid a d e p rovo ca d a p elo H IV/ AIDS so freu u m revés co n sid erá vel, u m a vez q u e, ao con trário d a d im in u ição d e q u ase 20%

n a m o rta lid a d e verifica d a en tre 1996 e 1998, h o u ve u m a u m en to d e 10% em 1999. En tre 1988 e 1996, registrou se u m au m en to crescen -te d a m o rta lid a d e p rovo ca d a p elo H IV/ AIDS, co m o s n ú m ero s a su b irem d e 62 p a ra 1.111 m o rtes. Em 1981, 81% d o s ó b ito s registra d o s ocorreram en tre in d ivíd u os d o sexo m ascu lin o. Os in d ivíd u os en tre os 30 e os 34 an os foram os m a is a feta d o s (23%), segu in d o -se o s gru p o s etá rio s d e 25 a 29 a n o s (20%). Pa ra o a n o d e 1999, n a região d e Lisb oa e Vale d o Tejo foi on -d e se registrou o m aior n ú m ero -d e ób itos rela-cion ad os com a AIDS p or 100 m il h ab itan tes. O valor d o rácio n essa região foi d e 20,4, segu in -d o-se o Algarve (6,6) e o Norte (6,2). As regiões d o s Aço res, Ma d eira , Cen tro e Alen tejo fo ra m as m en os atin gid as.

Qu a n d o co m p a ra d o co m o s resta n tes p a í-ses-m em b ros d a UE, con statse u m acen tu a-d o a u m en to n o n ú m ero a-d e ca so s a-d e AIDS em Portu gal. Em 1995, o País ocu p ava o q u arto lu -ga r en tre os p a íses m a is a feta d os p ela d oen ça (Pú b lico, 1995a ). Ho je, d e a co rd o co m o Rela -tó rio d e Desen vo lvim en to Hu m a n o d e 2001, Portu gal é o p aís com m aior taxa d e in cid ên cia d e casos d e AIDS d a UE – 88,3 casos p or m ilh ão d e h ab itan tes ou 0,74 d a p op u lação p ortu gu e-sa en tre os 15 e os 49 an os –, segu id o d e Esp a-n h a (0,58), Fra a-n ça (0,44), Itá lia (0,35), Grécia (0,16) e Rein o Un id o (0,11) (PNUD, 2001). Em 1999, a taxa d e in cid ên cia n a UE era d e 24,8 ca-sos p or m ilh ão d e h ab itan tes, segu n d o n ú m e-ros d ivu lgad os p elo Cen tro Eu rop eu p ara a Vi-gilân cia Ep id em iológica d a AIDS, em cu jos d a-d os assen tam as tab elas a-d o In stitu to Nacion al d e Estatística.

(8)

d o en ça en tre a p o p u la çã o h etero ssexu a l a u -m en ta -m – d e 24,5%, e-m 1997, p a ssa ra -m p a ra 33,2%, em 2000 –, o s m esm o s va lo res p a ra a p o p u la çã o h o m o e b issexu a l d ecrescem – d e 10,2%, em 1997, p a ra 7,0%, em 2000. Cu m p re an alisar qu e fatores terão con trib u íd o p ara u m tã o evid en te d ecréscim o d a in cid ên cia d e ca sos d iagn osticad os d e HIV/ AIDS en tre a p op u -la çã o LGBT p o rtu gu esa n o p erío d o d e a p en a s cin co a n o s, so b retu d o q u a n d o a m éd ia eu ro -p éia d e ca so s d e AIDS em 1997 revela va u m a m aior in cid ên cia d a d oen ça n a p op u lação h o-m ossexu al (28%) do qu e n a h eterossexu al (19%) (Pú b lico, 1997a).

Nã o o b sta n te o fa to d e o s h o m o ssexu a is co n stitu írem u m a p o p u la çã o m en o s a feta d a p ela AIDS d o q u e os h eterossexu ais, o estigm a social associad o à d oen ça con tin u a a p au tar-se p or u m d iscu rso sob re im oralid ad e, p rom iscu i-d ai-d e e castigo, freq ü en tem en te form u lai-d o em jeito d e ataqu e à com u n id ad e LGBT. Por exem -p lo, os resu ltad os d e u m in qu érito efetu ad o -p e-lo In stitu to d e Psicoe-logia Ap licad a em 2001 so-b re u m a am ostra d e m il estu d an tes p ortu gu e-ses com id ad es com p reen d id as en tre os 16 e os 23 an os revelam qu e a AIDS ain d a é vista com o u m a d oen ça qu e afeta sob retu d o toxicod ep en -d en tes, p ro stitu ta s e h o m o ssexu a is (Pú b lico, 2001b ). Já em 1993, u m estu d o rea liza d o p o r Lu cas sob re con h ecim en tos, cren ças e atitu d es d os p ortu gu eses em face d a AIDS revelava qu e, rela tiva m en te a o s gru p o s co n sid era d o s m a is vu ln eráveis, 60% d os in qu irid os resp on d ia “h o-m o ssexu a is” (Lu ca s, 1993). Essa a sso cia çã o, p o rven tu ra a p ressa d a en tre AIDS e gru p o s d e risco, é u m d os fatores resp on sáveis p ela b aixa p ercen ta gem d e testes d e AIDS efetu a d o s p o r cid ad ãos p ortu gu eses. In form ações d isp on ib ilizad as p elo Ob servatório d os Com p ortam en -to s e Atitu d es em Rela çã o a o H IV/ AIDS in d i-ca m q u e, em 1998, p o r exem p lo, m a is d e 70% d o s estu d a n tes d o en sin o su p erio r n u n ca tin h a m feito o teste (Pú b lico, 2000). Isso tortin a -se esp ecia lm en te p reo cu p a n te q u a n d o, d e a co rd o co m d a d o s d a Co m issã o Na cio n a l d e Lu ta co n tra a AIDS d ivu lga d o s em 1999, 50% d o s so ro p o sitivo s p o rtu gu eses fo ra m in fecta -d os an tes -d os 25 an os (Pú b lico, 2000).

As a titu d es p era n te a so ro p o sitivid a d e es-tã o a in d a m u ito m a rca d a s p elo d esco n h eci-m en to e ign o râ n cia eeci-m to rn o d o s sin to eci-m a s, tran sm issão e tratam en to, p or u m lad o, e p ela d iscrim in ação com b ase n a orien tação sexu al, p o r o u tro. Pa ra co m b a ter a m b a s a s verten tes, foram criad os n o País d iversos organ ism os, es-ta es-ta is e p riva d o s, q u e visa m a co b rir á rea s d e in ter ven çã o liga d a s so b retu d o à p reven çã o e ao tratam en to. Tais in iciativas verificam -se com

esp ecia l a cu id a d e a p a rtir d a d éca d a d e 90 e d en o ta m u m esfo rço d e d escen tra liza çã o co m o form a d e b en eficiar tam b ém o in terior ru -ral do p aís. É sobre essas in iciativas, grup os e as-sociações qu e n os d eb ru çarem os em segu id a.

O passado da luta contra a epidemia

Acom p an h an d o, em b ora com algu m atraso, as ten d ên cias verificad as n ou tros p aíses ocid en -ta is o n d e o co m b a te tra va d o co n tra a AIDS é p riorid ad e govern am en tal, Portu gal tem vin d o a d esen volver ativid ad es n esse âm b ito d esd e a d écad a d e 80. Um exem p lo é a criação, p or d es-p a ch o m in isteria l d a ta d o d e 20 d e ju n h o d e 1985, d o Gru p o d e Trab alh o sob re AIDS, a fu n -cion ar n o âm b ito d o Cen tro d e Vigilân cia Ep i-d em io ló gica i-d a s Do en ça s Tra n sm issíveis i-d o In stitu to Nacion al d e Saú d e Dr. Ricard o Jorge.

(9)

A CNLCS é ta m b ém resp o n sá vel p ela p ro -m oção d e su cessivas ca-m p an h as p u b licitárias visan d o à p reven ção d o HIV/ AIDS. Irem os d es-tacar três dessas cam p an h as. En tre 1991 e 1993, foram criad as cam p an h as d e solid aried ad e p ara com as vítim as d o HIV/ AIDS d irigid as ao p ú -b lico em geral, com o p rin cip al o-b jetivo d e evi-tar a exclusão social e a discrim in ação. Em 1997, a CNLCS la n çou a ca m p a n h a Crian ças a Viver n u m Mu n do com AIDS, p arte d e u m a ação con -ju n ta p rop osta p ela ONU d irigid a à p op u lação m ais jovem (até os 18 an os). No âm b ito d a Ex-p osição Un iversal con h ecida com o Expo 98, em Lisb oa, foi p rom ovid a a cam p an h a Classifica

-d os, a ssim d esign a d a p o r ter sid o exp o sta n a s p á gin a s d o s jo rn a is reser va d a s a o s a n ú n cio s classificad os e q u e se d estin ava a in cen tivar o u so d e p reservativos p or p arte d os clien tes d e p rostitu tas. Nesse m esm o an o d e 1998, foi fes-tejad o p ela p rim eira vez n o País o Dia Mu n d ial de Lu ta con tra a AIDS, a 1ode dezem bro, com o objetivo de p rom over a p reven ção e con scien ti-zação sob re a ep id em ia. Esse d ia foi assin alad o com u m m ega con certo n o Pavilh ão Mu ltiu sos, co m o q u a l se p reten d eu a lerta r a s ca m a d a s m ais joven s p ara os p rob lem as qu e a AIDS traz. Para além d as ativid ad es d esen volvid as p e-la CNLCS, in iciativas p or p arte d e ou tras en ti-d ati-d es p ú b licas tiveram tam b ém lu gar. Assim , a 25 d e m aio d e 1991, o Su p rem o Trib u n al d e Ju s-tiça em itiu u m a ssen to rela tivo a o s a testa d o s m éd icos com im p licações d iretas p ara os p or-tad ores d e HIV. A p artir d esse assen to, d eixa d e ser ob rigatória a in d icação d o m otivo con creto q u e im p o ssib ilita o co m p a recim en to d e p essoa s p era n te a ju stiça , sen d o a p en a s n ecessá -rio in d icar qu e a falta se ju stifica p or m otivo d e d oen ça.

A 21 d e d ezem b ro d e 1993, p or in iciativa d o Min istério d o Em p rego e d a Segu ran ça Social, o Con selh o d e Min istros ap rovou o Decreto-Lei 412/ 93 (Po rtu ga l, 1993) q u e, en tre o u tro s a s-su n tos, d eterm in ou q u e 25% d os res-su ltad os lí-q u id os d a exp loração d e u m jogo d en om in ad o

Jok erp or p a rte d a Sa n ta Ca sa d a Misericórd ia d e Lisb o a seja m a trib u íd o s a p ro jeto s e a çõ es in tegrad os n a lu ta con tra a AIDS. O m esm o d o-cu m en to p reviu a in d a q u e 25% d o m o n ta n te d o s p rêm io s ca d u ca d o s reverta m a fa vo r d e tais p rojetos e ações.

A com p articip ação d o Estad o p ortu gu ês re-lativam en te aos en cargos com o tratam en to d a AIDS so freu u m a a ltera çã o p o sitiva em 1996, m om en to em qu e foi d ecid id o forn ecer gratu i-ta m en te o s m ed ica m en to s a n ti-retrovira is a d o en tes in fecta d o s. Ta l d ecisã o im p lica q u e o Estad o p ortu gu ês gaste p or an o u m a m éd ia d e d ois m ilh ões d e escu d os (cerca d e 8.800 d

ólares) co m ca d a d o en te. No en ta n to, essa co m -p artici-p ação n ão ab ran ge, -p or exem -p lo, os m e-d ica m en to s q u e se e-d estin a m a co m b a ter o s efeitos secu n d ários d os an ti-retrovirais n em as d esign a d a s d o en ça s o p o rtu n ista s, co n tra ria -m en te ao qu e su ced e n ou tros p aíses eu rop eu s. Esta com p articip ação seletiva p or p arte d o Es-tad o está n a b ase d e reivin d icações feitas p elas a sso cia çõ es liga d a s à lu ta co n tra a AIDS p a ra qu e essa d oen ça p asse a ser con sid erad a d oen -ça crôn ica (ver ad ian te).

A 14 d e jan eiro d e 1998, foi in au gu rad o, em Lisb oa, o Cen tro d e Rastreio An ôn im o, estatal, con stitu in d o o p rim eiro cen tro d e d esp istagem d o HIV/ AIDS con fid en cial e gratu ito. Oito m e-ses d ep o is, a 16 d e setem b ro, in a u gu ro u -se o segu n d o cen tro, d esta feita p rivad o, p erten cen te à Fu n d a çã o d e No ssa Sen h o ra d o Bo m Su -cesso. Im p o rta referir q u e o s p rim eiro s testes d e AIDS p rop orcion ad os d e form a con fid en cial e gratu ita d atam d e 1993 e eram realizad os n o Cen tro La u ra Ayres, em Co im b ra . To d a s essa s in iciativas são fin an ciad as p ela Com issão Na-cion al d e Lu ta con tra a AIDS. Atu alm en te exis-te u m q u arto cen tro d e rastreio a fu n cion ar n a cid ad e d e Faro, n o Su l d o País.

A 16 d e ju lh o d e 1998, p or su gestão d o Mi-n istério d o Tra b a lh o e d a So lid a ried a d e, fo i ap rovado o Decreto-Lei 216/ 98 (Portugal, 1998), estab elecen d o con d ições d e acesso a p en sões p o r in va lid ez p o r p a rte d e p esso a s in fecta d a s co m o H IV, co n d içõ es m a is fa vo rá veis d o q u e a s p erm itid a s p elo regim e gera l d e segu ra n ça social. Tais con d ições con sistem , p or exem p lo, n u m a fo rm a d e cá lcu lo d a rem u n era çã o m a is va n ta jo sa o u n a b o n ifica çã o d a ta xa a n u a l d e form ação d as p en sões.

Existem in ú m era s en tid a d es p ú b lica s q u e lu tam con tra o alastram en to d a ep id em ia en tre a p op u lação toxicod ep en d en te. Tal é o caso d o In stitu to Portu gu ês da Droga e da Toxicodep en -d ên cia (IPDT), cria -d o p elo Decreto -Lei 31/ 99 (Portu gal, 1999b ) d e 5 d e m aio, ou d o Con selh o Na cio n a l d a Dro ga e d a Toxico d ep en d ên cia , cr ia d o p o r in icia t iva d a Pre sid ê n cia d o Co n -se lh o d e Min istro s, p o r m eio d o Decreto -Lei 89/ 2000 (Portu gal, 2000), d e 18 d e m aio.

(10)

Em ju lh o d e 2001, S. C. Bava d ava a con h e-cer o s resu lta d o s d e u m estu d o efetu a d o em cin co p a íses d ito s in d u stria liza d o s – Esta d o s Un id os d a Am érica, Fran ça, In glaterra, Alem a-n h a e Au strália – sob re o p restígio d as orgaa-n i-zações n ão govern am en tais (ONG) n a op in ião p ú b lica d a q u eles p a íses. Verifico u -se q u e “as p essoas têm o d obro d e con fian ça n as ON Gs d o qu e n os govern os, n as em p resas e n a m íd ia”, o q u e co n d u z a u m en o rm e p o d er d e m o b iliza -ção p or p arte dessas associações (Bava, 2001:1). En tre o s m o tivo s p a ra tã o eleva d a co n fia n ça , en con travase o fato de as associações represen tarem os valores em qu e acred itam , terem cau -sas claras e difu n direm as su as m en sagen s diretam en te p ara o p ú blico (Bava, 2001). As con clu -sões d e tal estu d o d em on stram o p oten cial qu e a so cie d a d e civil o rga n iza d a p o d e d e se n vo l-ver em term os d e cap acid ad e d e in flu en ciar ou m esm o d eterm in ar d ecisões e p olíticas sociais. Existem , em Po rtu ga l, d iversa s o rga n iza -ções a trab alh ar n a área d o HIV/ AIDS. A Ab ra-ço con stitu i o caso d e m aior su cesso, sen d o reco n h ecid a so cia lm en te p elo tra b a lh o d esen -volvid o e, sob retu d o, p ela visib ilid ad e qu e tem p rocu rad o d ar a essa qu estão. Criad a em ju n h o d e 1992, a organ ização resu ltou d o trab alh o d e-sen vo lvid o p o r u m gru p o d e vo lu n tá rio s q u e, d esd e 1991, p resta va a p o io m a teria l e p sico s-socia l a os in tern a d os n a Un id a d e d e Doen ça s In fecciosas e Parasitárias d o Hosp ital Egas Mon iz, em Lisb oa. Atu alm eMon te, p ara além d o ceMon -tro d e trab alh o em Lisb oa, a Ab raço d isp õe d e d elegações n as cid ad es d o Porto (d esd e 1994) e d o Fu n ch al (d esd e 1995). Com cerca d e 460 só-cios e 650 volu n tários, a associação tem com o p rin cip ais ob jetivos a p reven ção e in form ação, o ap oio p essoal e h osp italar às vítim as d a AIDS, a form ação d e p rofission ais e volu n tários liga-d o s a o tra ta m en to e a liga-d efesa liga-d o s liga-d ireito s liga-d o s in fectad os com HIV/ AIDS con tra qu alqu er for-m a d e d iscrifor-m in ação. Nas p alavras d a su a p re-sid en te, Ma rga rid a Ma rtin s, essa a sso cia çã o “n ão trabalh a com base n a carid ad e, trabalh a n a base da política” (Pú b lico, 1997:19). Essa in -ten çã o d e tra n sfo rm a r q u a lita tiva m en te o s m od os d e ab ord agem d o com p lexo HIV/ AIDS n o Pa ís m o tivo u a Ab ra ço a rea liza r, em n ível n a cion a l, cerca d e 150 ca m p a n h a s d e p reven -ção, q u aren ta exp osições tem áticas e n oven ta sessõ es d e p reven çã o em ju n ta s d e fregu esia , câm aras m u n icip ais, escolas e estab elecim en -tos p rision ais, d esd e 1992. Ao lon go d esse p e-ríod o, calcu la-se q u e a Ab raço ten h a d istrib u íd o m a is íd e q u in h en to s m il p reserva tivo s gra -tu itam en te.

Estim a-se q u e, em Portu gal, existam cerca de qu aren ta organ izações dedicadas à lu ta con

tra a AIDS. Algu m a s d esta s sã o a Liga Po rtu -gu esa con tra a AIDS, con stitu íd a em 1990 e res-p o n sá vel res-p ela lin h a telefô n ica gra tu ita SOS-AIDS; a fu n d a çã o p o rtu gu esa A Co m u n id a d e co n tra a AIDS, cria d a em 1993 e co m d elega -çõ es n o territó rio co n tin en ta l e ilh a s; a Alter-n a tiva Po sitiva , fu Alter-n d a d a ta m b ém em 1993 e resp on sável p ela organ ização d o cen tro d e d o-cu m en tação Jú lio Silveira, o-cu jo esp ólio é con si-d era si-d o o m a io r si-d a Pen ín su la Ib érica , e a Bri-lh ar – Associação Portu gu esa d e Sorop ositivos, form ad a em 1998, cu jo cen tro d e aten d im en to fu n cion a n a cid ad e d e Braga, n o Norte d o País. Po r se tra ta r d e u m a á rea em q u e to d o s o s esforços d evem ser rap id am en te articu lad os a fim d e im p ed ir m ais in fecções e, con seqü en te-m en te, u te-m au te-m en to d a te-m ortalid ad e p or AIDS, m u itas d as in iciativas n essa área têm sid o d e-sen volvid as graças ao trab alh o coletivo d o Es-tad o com as d iversas associações. É d essa arti-cu lação qu e trata a p arte fin al d esta seção.

(11)

resto, já n o Pla n o Na cio n a l d e Lu ta co n tra a AIDS d e 1993, a CNLCS form u lava essa von ta-d e, afirm an ta-d o ser su a p riorita-d ata-d e “p rivilegiar o desem pen h o das ON Gs n o âm bito das activida-d es con cretas a activida-d esen volver n o cam p o activida-d e lu ta con tra a AIDS” (CNLCS, 1993).

Com o vim os, a s a ssocia ções liga d a s a essa tem á tica têm sid o ca d a vez m a is in clu íd a s n a elab oração d e estratégias e p olíticas d e p reven -çã o d o HIV/ AIDS. Ta l p a rece ser u m a lin h a d e ação d eterm in an te, u m a vez qu e se trata d e or-gan izações com p essoal esp ecializad o e ativis-ta, d esd e h á m u ito em con tato com a realid ad e q u o tid ia n a d o s in fecta d o s e d o en tes d e AIDS. Daí q u e n os p areça van tajoso o ap roveitam en -to d esse k n ow -h owad qu irid o n o terren o d esd e os p rim eiros casos d e AIDS em Portu gal. Con -tu d o, ao es-tu d arm os o fu n cion am en to d as or-ga n iza çõ es n ã o govern a m en ta is n o Pa ís, n ã o p o d em o s d eixa r d e co n co rd a r co m Alexa n d ra Lop es (com u n icação p essoal) qu an d o id en tifi-ca u m con ju n to d e tifi-característitifi-cas d essas orga-n iza çõ es q u e p o d em co orga-n stitu ir o b stá cu lo s a o co m b a te co n tra a AIDS, n o m ea d a m en te a ex-cessiva d ep en d ên cia d o fin a n cia m en to e d a agen d a estatal, a len tid ão b u rocrática e a lógi-ca assisten cialista qu e visa à m era su b stitu ição d as tarefas ou trora atrib u íd as ao Estad o. Lon ge d e q u erer d esva lo riza r o p a p el fu lcra l d esem -p en h a d o -p ela s a sso cia çõ es -p o rtu gu esa s n o com b ate à AIDS, a en u m eração d essas caracte-rística s ju stifica -se p elo fa to d e a cred ita rm o s q u e a p en a s p a rtin d o d a a u to co n scien tiza çã o d o s p ro b lem a s q u e a s a feta m , a s a sso cia çõ es p od erão estu d ar form as m ais eficazes d e os u l-trap assar.

Pa ra a lém d e fo m en ta r a ca p a cid a d e d e p articip ação d os cid ad ãos, a in clu são d a socie-d a socie-d e civil em q u estõ es rela cio n a socie-d a s co m a AIDS im p lica u m a ou tra con seqü ên cia p articu -larm en te p ertin en te: o fato d e in trod u zir a es-fera p rivad a d a sexu alid ad e n o d om ín io d o d e-b a te p ú e-b lico. Esse efeito é p a rcia lm en te rep o n sá vel rep ela crescen te d ifu sã o d e q u e o s a s-su n tos LGBT têm se b en eficiad o d esd e os an os 90, u m a vez qu e im p licou u m a d esm istificação do sexo e de tu do o qu e está associado a ele. Por exem p lo, q u an d o se torn a socialm en te aceitá-vel – e a té m esm o d esejá aceitá-vel – fa zer p reven çã o em m eio escolar d e u m a d oen ça tran sm issível ta m b ém p o r via sexu a l, p a ssa a ser p erm itid o verb a liza r a to s o u tro ra co n fin a d o s à s q u a tro p ared es d a d om esticid ad e. Ab re-se, d essa for-m a , o ca for-m in h o p a ra a visib ilid a d e d e sexu a li-d a li-d es a ltern a tiva s à n o rm a h etero ssexu a l, já q u e a realid ad e é p ród iga em exem p los d e ati-tu d es e co m p o rta m en to s h etero gên eo s em m atéria d e sexu alid ad e. Um a vez m ais se ju

sti-fica a relação p róxim a existen te en tre as asso-ciações LGBT e a lu ta con tra a AIDS. Falarem os d isso n a p róxim a seção.

O combate LGBT contra

a AIDS em Portugal

Era u m a vez dois prín cipes. Eram joven s, diver-tidos, bon itos... Viveram m u itos an os sem se co-n h ecerem , m as u m dia decidiram sair do caste-lo solitário d e cad a u m e en con trarem -se em terren o n eu tro. [… ] Depois de u m m ês de m u ita alegria, tan ta qu an ta se podia sen tir, eles foram jan tar n ovam en te ao rein o à beira m ar on d e se viram p ela p rim eira vez . Dep ois d e u m a refei-ção d ign a d e rei foram p assear à p raia, e foi aí qu e u m d os p rín cip es revelou ao seu am ad o al-go qu e poderia m u dar o relacion am en to de pai-x ão e am or tão in ten sos qu e se sen tiam até aí: ‘eu sou soropositivo’. O ou tro prín cipe olh ou n os seu s olh os e beijou -o, e disse qu e o am ava.

Qu an d o se ou ve falar em AIDS tod os têm m ed o. Têm m ed o d e olh ar, d e tocar, d e beijar e de am ar. Passou m u ito tem po desde qu e con h eci o m eu p rín cip e, e am o-o cad a vez m ais. Tive m edo de m orrer, m as acim a de tu do de o perder. N ão ten h am m ed o e ap roveitem a vid a. A AIDS é m ais u m degrau , qu e pode ser baixin h o ou al-to com o u m m u ro” (WJ, 2000).

Qu a n d o u m cid a d ã o p o rtu gu ês d esco n fia d e q u e even tu a lm en te p o d e esta r co n ta gia d o com HIV, o p rim eiro p asso é d irigir-se ao m éd i-co d e fam ília. Dep ois d e u m a avaliação d o qu ad ro clín ico ad o p a cien te, o m éad ico p o ad e a co n -selh a r a n á lises a o s a n tico rp o s d o H IV, d esd e q u e o p acien te o con sin ta livrem en te. No caso d e os resu ltad os serem p ositivos, o d oen te d e-ve ser en cam in h ad o p ara u m h osp ital cap aci-tad o p ara o acom p an h am en to e tratam en to d e p esso a s in fecta d a s co m o víru s. Atu a lm en te, em Portu gal tod os os h osp itais d istritais e cen -tra is d isp õ em d e p esso a l esp ecia liza d o n essa á rea e d e m ed ica m en tos a n ti-retrovira is e d e-m ais equ ip ae-m en tos n ecessários à realização d e exam es com p lem en tares.

(12)

equ ivalen te con cep tu al d e d ep ravação ou im o-ra lid a d e, fa to q u e co n d u ziu à p rim eio-ra d esig-n ação lato sen sud a d oen ça com o cân cer gaye à co n seq ü en te d iscrim in a çã o d e q u e sã o a lvo as vítim as d a AIDS, in d ep en d en tem en te d a su a orien tação sexu al.

O m ais an tigo caso d e AIDS p ortu gu ês ain -d a vivo é Jo sé Ma n u el Osó rio, -d o en te h á 17 an os. Osório, h om ossexu al assu m id o, tem sid o u m d o s ro sto s m a is m ed iá tico s d a AIDS em Portu gal. Nu m a en trevista con ced id a ao jorn al Pú b lico, a 5 d e ju n h o d e 2001 (Pú b lico, 2001c), Osório lem b rou q u e, ain d a n a d écad a d e 80, a AIDS era con sid erad a u m a d oen ça d e h om os-sexu ais. Volvid as q u ase d u as d écad as d esd e as p rim eiras in fecções con h ecid as n o País, a AIDS ain d a con tin u a fortem en te associad a à h om os-sexu alid ad e, u m a vez q u e n ão é fácil d esen rai-za r cren ça s fu n d a d a s sim p lesm en te n a m o ra l in d ivid u a l. Co m u m a tra d içã o m u ito p o u co ap rofu n d ad a d e ed u cação sexu al, a socied ad e p ortu gu esa tem ain d a u m lon go trajeto a p er-correr p ara u m con h ecim en to in form ad o seja so b re a sexu a lid a d e em gera l – em q u e se in -clu em as orien tações n ão h eterossexu ais –, se-ja sob re essa ep id em ia.

À sem elh an ça d o qu e su ced eu n ou tros p aí-ses o cid en ta is, a s a sso cia çõ es liga d a s à AIDS, p rom oven d o u m d iscu rso p a u ta d o p elo a p elo ao en volvim en to, à p articip ação e à resp on sa-b ilização in d ivid u ais, con stitu íram u m esp aço p rivilegiad o p ara a em ergên cia p ú b lica d o m o-vim en to LGBT p ortu gu ês. Nu m a en trevista rea-liza d a em 1998, o a n tro p ó lo go M. V. Alm eid a resu m ia a ssim a rela çã o en tre o rien ta çã o se-xu al e AIDS em Portu gal: “O m ovim en to gayem Portu gal su rge com o resu ltad o d o m ovim en to de lu ta con tra a AIDS. (… ) Agora, de fato, o m o-vim en to gaya sério com eça com a ILGA e a ILGA sai d a Abraço e d o m ovim en to d e lu ta con tra a AIDS. Portan to, era u m a esp écie d e associação d as p essoas qu e, d en tro d o m ovim en to d e lu ta con tra a AIDS, recon h ecem a esp ecificid ad e d a qu estão h om ossexu al. E, a partir daí, en tram n a qu estão h om ossexu al já in dep en den te da qu es-tão da AIDS” (San tos & Fon tes, 1999:59).

Essa p articip ação LGBT n a tem ática da AIDS decorre de dois aspectos fun dam en tais: (1) com -b ate ao alastram en to d a ep id em ia n a com u n i-d a i-d e LGBT; (2) rea çã o a o estigm a q u e a sso cia AIDS e im oralid ad e. Partin d o d esses d ois veto-res, as d iversas associações LGBT p ortu gu esas – co m p a rticu la r d esta q u e p a ra a d elega çã o p ortu gu esa d a ILGA-Portu gal – têm p rocu rad o d esen volver u m trab alh o q u e ab ran ja tam b ém a p rob lem á tica d a AIDS, p rod u zin d o m a teria l im p resso d e in fo rm a çã o p a ra gayse lésb ica s, m as tam b ém p ara p ais, am igos, fam iliares,

escolas etc. A p resen ça da AIDS em atividades p ú -b licas organ izad as p or essas associações e a organ ização d e even tos d ed icad os exclu sivam en -te à AIDS são tam b ém freqü en -tes, tal com o es-p eram os d em on strar n esta seção.

O en vo lvim en to d a ILGA-Po rtu ga l n a lu ta co n tra a AIDS tem sid o regu la r d esd e a su a con stitu ição, o q u e d ecorre p rin cip alm en te d o fa to d e o s seu s m em b ro s-fu n d a d o res tere m in icia d o o seu a tivism o n a já referid a Ab ra ço. Nu m a en trevista co n ced id a em 1999, o en tã o p resid en te, Go n ça lo Din iz, referia “A associção su rgiu a partir de volu n tários qu e trabalh a-vam em organ iz ações d e lu ta con tra a AIDS e eram organ iz ações qu e tin h am u m a gran d e m assa de volu n tariado qu e era gaye qu e pen sa-va qu e deveria existir u m a organ ização qu e tratasse exclu sivam en te d os assu n tos d essa com u -n idade” (San tos & Fon tes, 1999:103).

Logo n o an o em q u e foi oficialm en te con s-titu íd a, a ILGA-Portu gal p articip ou , em feverei-ro d e 1996, d a Exp osição SIDAdan ia, n o Mu seu d a Ciên cia d a Un iversid ad e d e Lisb oa. Essa ex-p osição, visan do a divulgar o trabalho desen volvid o n essa área e a en corajar a p reven ção, con -tou com o ap oio d a Com issão Nacion al d e Lu ta con tra a AIDS e d o Min istério d a Ed u cação.

A 4 d e m aio d e 1997, a ILGA-Portu gal orga-n izou a 1aMarch a em Mem ória e Solidariedade

p ara com as Pessoas Afetad as p elo HIV/AIDS, celeb ra çã o q u e se tem vin d o a rep etir a n u a l-m en te d esd e en tã o. A p ro p ó sito d a p ril-m eira ed içã o d essa m a rch a , Alm eid a a firm o u q u e “n u n ca em Portu gal, a n ão ser em torn o d a qu estão d o aborto, se tin h a con segu id o m obili-zar gen te para u m a ação de ru a em torn o da po-lítica sex u al. (...) Tod a a gen te sabe qu e a lu ta con tra a AIDS n ão é n em n u n ca foi u m m ovi-m en to ‘n orovi-m al’ d e solid aried ad e coovi-m vítiovi-m as ou de pedido de fu n dos para a saú de. Nu n ca foi só isso. Foi sem p re tam bém – e sobretu d o cá – u m catalisador, u m espaço, u m a m otivação, pa-ra a afirm ação d a cid ad an ia e d a p olítica se-x u al e d os estilos d e vid a” (Alm eid a , 1997:98). Por m otivos ain d a p or d eterm in ar, aq u ela q u e seria a 3aMarch a em Mem ória e Solid aried ad e

p ara com as Vítim as d o HIV/AIDS,a realizar-se em m a io d e 1999, a ca b o u p o r ser ca n cela d a . En tre a s exp lica çõ es a va n ça d a s, co n to u -se o b aixo n ú m ero d e p articip an tes (cerca d e trin ta) e u m a p lan ificação d eficien te d os recu rsos d is-p o n ib iliza d o s is-p a ra o even to. Reto m a d a s a 19 d e m a io d e 2001, d a ta d a rea liza çã o d a su a 4a

(13)

p elo HIV/ AIDS, b em com o alertar e m ob ilizar a com u n id ad e p ara o com b ate ao HIV/ AIDS – e con tam com o ap oio d a Com issão Nacion al d e Lu ta con tra a AIDS e d a Câ m a ra Mu n icip a l d e Lisb oa.

Nessa q u a rta ed içã o, a p ó s a lgu n s b reves d iscu rsos, segu iu -se u m a largad a d e 4.424 b a-lõ es, sim b o liza n d o a s m o rtes n o tifica d a s p o r AIDS ocorrid as até jan eiro d e 2001. Para p arti-cip a r n a m a rch a , fo ra m co n vid a d a s d iversa s en tid ad es e associações LGBT, d e solid aried a-d e so cia l e liga a-d a s à p reven çã o a-d o H IV/ AIDS, en tre ou tras.

De acord o com o relatório d e ativid ad es p a-ra o an o d e 1998, a ILGA-Portu gal d esen volveu d ois p rojetos d en tro d a esfera social d e ação d a a sso cia çã o co n sa gra d a a o Ap o io n a Área d o HIV/ AIDS. Os p rojetos foram d esign ad os “Ho

-m ossexu alidade e AIDS I” – con sistin d o n a p ro-d u ção e ro-d istrib u ição ro-d e folh etos e cartazes – e “Hom ossex u alid ad e e AIDS II” – in cid in d o n a p rod u ção e d istrib u ição d e k itscom p ostos p or preservativos, lubrifican tes à base de água e u m a b ro ch u ra exp lica tiva , em a sso cia çõ es LGBT, b ares, sau n as, restau ran tes e d iscotecas. Nesse m esm o an o, as in stalações d a associação ILGA-Portu gal albergaram o Movim en to Ibérico Qu ilt

Portu gu ês, in sp irad o n o m ovim en to Qu iltin i-cia d o n o s Esta d o s Un id o s em 1987. Sem esta r d ireta m en te liga d o à p reven çã o o u a o tra ta -m en to, esse -m ovi-m en to viso u a co n stitu ir-se com o u m a p resen ça viva em m em ória d aq u eles qu e m orreram com AIDS e a ch am ar a aten -ção d os govern os p ara a n ecessid ad e d e in ter-vir ativam en te n o com b ate à ep id em ia.

Ma is recen tem en te, o Pla n o d e Ativid a d es d a ILGAPortu gal p ara 2000 con tem p lou o en -volvim en to em três p rojetos eu rop eu s relacio-n a d os com essa tem á tica : Projeto Eu rop eu d e Prostitu ição Mascu lin a; Projeto Eu rop eu CERIS (p reven çã o ju n to a joven s h o m o ssexu a is) e Pro jeto Eu ro p eu M in d th e Gap (d esen vo lvi-m en to colvi-m u n itá rio). Pa ra a lélvi-m d isso, lvi-m a n te-ve-se a h ab itu al d istrib u ição d e folh etos e k its

d e p reservativos e lu b rifican tes.

Ap esar d esse trab alh o realizad o p ela ILGA-Po rtu ga l em to rn o d o H IV/ AIDS, o p rin cip a l ob jetivo d essa associação n ão está d iretam en -te liga d o a o co m b a -te d a ep id em ia . Co n tu d o, p o r se tra ta r d e u m gru p o cu ja sexu a lid a d e é con stan tem en te d iscu tid a n a esfera p ú b lica, a a sso cia çã o sen tiu a n ecessid a d e d e in clu ir n a su a agen d a ativid ad es d e p reven ção e in clu são d o s in fecta d o s e d o en tes p elo víru s, co n so li-d an li-d o assim u m trab alh o m ais ab ran gen te li-d e lu ta p elo fim d a d iscrim in ação sexu al. Nas p a-la vra s, u m a vez m a is, d e Go n ça lo Din iz, “n ós n u n ca qu isem os ser u m a organ iz ação d e lu ta

con tra a AIDS p orqu e as organ iz ações d e lu ta con tra a AIDS já existem e já faz em u m traba-lh o qu e é m u ito válid o. N ós qu eríam os era, d e algu m a form a, com p lem en tar o trabalh o qu e elas já fazem e qu e era fazer u m a p reven ção dirigida, com u m a lin gu agem qu e tivesse em con -ta a p op u lação qu e se qu er atin gir” (Sa n to s & Fon tes, 1999:107).

Ain d a q u e o a lca n ce d a a çã o d a s a sso cia -ções LGBT extravase o âm b ito d a lu ta con tra a AIDS, é certo qu e o trab alh o d essas associações p o d e rep resen ta r u m a im p o rta n te m a is-va lia n a p reven çã o e in fo rm a çã o ju n to d a co m u n i-d a i-d e LGBT. Na veri-d a i-d e, a s ca m p a n h a s con tra o HIV/ AIDS são geralm en te d irigid as à p op u la-ção em geral, u tilizan d o u m a lin gu agem in ad e-q u ad a às esp ecificid ad es d os d iferen tes p ú b li-cos-alvo. Assim se com p reen d em os resu ltad os o b tid o s n u m in q u érito on -lin e rea liza d o em d ezem b ro d e 2000, cu ja p ergu n ta era “Con side

-ra qu e as cam pan h as de preven ção con t-ra o HIV n os LGBT têm sid o ad equ ad as?”: 36% d o s in q u irid o s o p ta ra m p ela a lín ea “q u a is ca m p a -n h as?” e 22% co-n sid eraram qu e se fez u m m au tra b a lh o (Po rtu ga l Ga y, 2000). Ta is resu lta d o s in d ica m cla ra m en te q u e o en vo lvim en to d a s a sso cia çõ es LGBT n a p reven çã o e tra ta m en to d o HIV/ AIDS é im p ortan te e d eve ser d esen vol-vid o p ara q u e a com u n id ad e LGBT esteja cad a vez m ais in form ad a. De fato, a esse trab alh o se d eve, segu ram en te, a d im in u ição d a in cid ên cia d e ca so s n o tifica d o s d e H IV/ AIDS en tre h o -m ossexu ais n os an os -m ais recen tes.

Contra a AIDS no século XXI:

o direito à não-discriminação

(14)

d os d ireitos h u m an os p or p arte d e u m a n ação. Lo go, o govern o p o rtu gu ês está o b riga d o n ã o ap en as a n ão violar ativam en te os d ireitos h u -m an os, co-m o ta-m b é-m a criar con d ições p ara a igu ald ad e d e d ireitos en tre sorop ositivos e so-ron egativos.

Presen tem en te, o trab alh o n a área d a HIV/ AIDS em Portu gal d eve u ltrap assar os âm b itos tra d icio n a is d a p reven çã o e tra ta m en to p a ra ab arcar u m ou tro, relacion ad o com a ed u cação p a ra a cid a d a n ia . En q u a n to n ã o h o u ver u m a p reo cu p a çã o esta ta l n esse sen tid o, tra d u zid a p or in iciativas sistem áticas, tais com o jorn ad as d e in fo rm a çã o, ca m p a n h a s d e sen sib iliza çã o, form ação p ara a igu aldade etc., essa relação en tre AIDS e d ireitos h u m an os n ão será su ficien tem en te forte p ara im p edir qu alqu er tratam en -to discrim in atório relativo aos doen tes de AIDS. Ta l co m o tem o s vin d o a d efen d er, a q u es-tão d a d iscrim in ação d os d oen tes d e HIV/ AIDS em Portu ga l d ecorre em la rga m ed id a d e u m a con ju n ção d e fatores relacion ad os com a forte tra d içã o ca tó lica n o Pa ís, o co n ser va d o rism o m o ra l, o d éficit d e ed u ca çã o sexu a l e a ten ta -çã o d e a ssocia r a AIDS a com p orta m en tos se-xu a is con sid era d os socia lm en te d esvia n tes. A d efesa d o qu e se ch am a m oral e b on s costu m es p ortu gu eses con stitu i u m a d as p rin cip ais b an -d eira s -d o s q u a -d ra n tes p o lítico s -d e cen tro --d i-reita e d ii-reita . Co n tu d o, in d ep en d en tem en te d o qu ad ran te p olítico em cau sa, verifica-se fre-q ü en tem en te a in vo ca çã o d a fa m ília n u clea r trad icion al com o m od elo d e virtu d e p essoal e estab ilid ad e social. Vem a p rop ósito citar as p a-la vra s d o p sicólogo clín ico Filip e Nu n es, n u m d eb ate su b ord in ad o ao tem a Med os e segred os sobre sexu alid ad e e AIDS, p ro m ovid o p ela As-sociação Acad êm ica d e Coim b ra em d ezem b ro d e 1995: “O Estado u ltrapassa largam en te a su a m issão qu an d o, em cam p an h as d e com bate à AIDS, ap ela aos valores d a fam ília” (Pú b lico, 1995d :19)

No ú ltim o an o, foi visível u m a p reocu p ação crescen te rela tiva m en te a o co m b a te co n tra a d iscrim in ação, p aten te n ão só n os d iscu rsos d e rep resen tan tes estatais, com o tam b ém n as es-tratégias e ativid ad es d as associações a trab a-lh ar n o terren o. A 19 d e n ovem b ro d e 2001, p or in icia tiva d o Presid en te d a Rep ú b lica p o rtu -gu ês, Jorge Sam p aio, realizou -se em Lisb oa u m sem in ário su b ord in ad o ao tem a “O HIV/AIDS e os Direitos Hu m an os”, qu e reu n iu cerca d e qu a-trocen tos esp ecialistas e in teressad os n a m até-ria . Den tre a s in ter ven çõ es feita s n o â m b ito d esse sem in ário, q u erem os realçar u m a: o d is-cu rso d e Jorge Sam p aio, qu e ficou m arcad o p or u m a p elo a o fim d a d iscrim in a çã o q u e vitim a d oen tes e in fectad os com HIV/ AIDS. Com

efei-to, o Presid en te d a Rep ú b lica m a n ifesto u -se p reo cu p a d o co m a fa lta d e “recon h ecim en to e exercício d os d ireitos d e cid ad an ia d as p essoas com HIV/AIDS” e, p a ra q u e ta l situ a çã o p o ssa ser in vertid a, id en tificou com o áreas u rgen tes d e in terven ção a in form ação, o con h ecim en to e a so lid a ried a d e (Diá rio d e No tícia s, 2001). Ta m b ém a 19 d e n ovem b ro 2001, a Co n ferên -cia Ep iscop al Portu gu esa (CEP) torn ou p ú b lica u m a Nota Pastoral d e tom ad a d e p osição sob re a qu estão d a AIDS, on d e se afirm ava: “Já n ão se pode ilu dir a gravidade desta doen ça e a am ea-ça qu e esta rep resen ta p ara a h u m an idade.[…]

A gravid ad e d esta d oen ça acen tu ase com a in -cógn ita do n ú m ero dos sorop ositivos, con tagia-dores poten ciais, m u itos sem saberem qu e o são.

[…] Mas se a preven ção con tra a doen ça con sti-tu i u m apelo a com portam en tos respon sáveis, a assistên cia aos d oen tes d e AIDS é ex igên cia d e carid ad e fratern a. Com o acon teceu com ou tras d oen ças n o p assad o, a AIDS está m arcad a p or u m estigm a social. Isso é apen as m ais u m apelo à n ossa caridade fratern a. Ao patrocin arm os co-m o sin al ju bilar u co-m a In stitu ição d e ap oio a es-tes d oen es-tes, a Dom u s Fratern itas, qu e con tin u a em fase d e in stalação, qu isem os su blin h ar este d ever d a Igreja” (CEP, 2001). Essa to m a d a d e p osiçã o p ú b lica d a Igreja Ca tólica p a rece-n os sin tom ática d a corren te an tid iscrim in ação qu e o País tem vin d o ten d en cialm en te a assu m ir.

O in crem en to n a p a rticip a çã o esta ta l e a crescen te visib ilid ad e in tern acion al qu e Portu -ga l recen tem en te a d q u iriu n a lu ta co n tra a AIDS são d ois ou tros asp ectos qu e serão p oten -cialm en te ú teis n o com b ate à d iscrim in ação d e p o rta d o res d e H IV/ AIDS. Ap resen ta m o s três exem p los, tod os ocorrid os n o an o d e 2001.

Logo a 30 d e m a io d e 2001, Fern a n d o Ven -tu ra, p resid en te d a CNLCS, foi eleito vice-p resid en te d o Co n selh o d e Co o rd en a çã o d o Pro -gram a d a UNAIDS. A p artir d esse an o, Portu gal ob teve p ela p rim eira vez o estatu to d e m em b ro p erm an en te d esse organ ism o, resp on sável p or to d a s a s q u estõ es rela cio n a d a s co m p o lítica , estra tégia , fin a n cia m en to, vigilâ n cia e a va lia -ção d a UNAIDS.

Referências

Documentos relacionados

O primeiro carregamento analisado foi o de pressão interna, associada aos modos de falha por escoamento e vazamento, onde observou-se que os valores de

No entanto, expressões de identidade não são banidas da linguagem com sentido apenas porque a identidade não é uma relação objetiva, mas porque enunciados de identi- dade

A rubrica “Aplicações para garantia de depósitos” enquadra os ativos fi nanceiros que servem de garantia dos depósitos constituídos nas CCAM participantes no FGCAM, de acordo com

É proibido fumar no interior das instalações, exceto no espaço previsto para o efeito junto ao restaurante da empresa.. c o m THERMOKING Bour g-En-Br esse - A40 n°4 M ac on

suspensão, o advogado ou estagiário retomou a prática ilícita que ensejou o Ajustamento de Conduta ou havendo indícios que tenha cometido outra infração ética

Os roedores (Rattus norvergicus, Rattus rattus e Mus musculus) são os principais responsáveis pela contaminação do ambiente por leptospiras, pois são portadores

A partir da análise dos depoimentos, verificou-se que a importância da participação nas ações de Hackathon promovida pela Embrapa para as instituições de ensino superior situadas em

Entenda que você pode ser a diferença que faz a diferença, para assim iniciar uma jornada de autoconhecimento e transformação com a PNL Sistêmica.. DATAS DA