A ADMINIS'rRAçÃO DA OPEF<AÇÃO DOS TRANSPORTES COLETIVOS POR ÔNIBUS EM SÃO PAULO: POBLICl\ OU PRIVADA?
'~ Fundação Getulio Vargas Escola de Administração
FGV de Empresas de São Paulo Biblioteca co
CO
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(Sl
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Banca Exam5.na.dora
Prof. Orientador: Pedro Roberto ,Jaoibi
,
Prof.
t-, ,
-.:..,'
I
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Dedico a
~
,Ronan e Maria Itacaramby,
'k1C•.••__ r"9.:-.. ....
J.".lU-.J.. <..4LI-.L.a. -" """ ,
Lucas Itacarambi
e Rubia de Morais,
pelo significadb déSuas respectivas presenças
e ausência •
."
';.t\.•
,.
.1
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA DE ADHINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
PAULO AUGUSTO OLIVEIRA ITACARAHBI
A ADMINISTRAÇÃO DA OPERAÇÃO DO TRANSPORTE COLETIVO
POR ÔNIBUS EM SÃO PAULO: PÚBLICA OU PRIVADA?
"
.í
!
Dissertação apresentada ao Curso
.
_.
/de
Pos~Grad~açao
deEAESP/~GV.
Ârea de Concentração:Administr~
ção em Planejamento Urbano como
requisito para obtenção do títu
lo de mestre· em Administração.
Orientador: Prof. Pedro Itl>ertoJaéobi
são Paulo,
1985
i
Itacarambi, Paulo Augusto Oliveira. ~ Administração
da Operação do Transporte Coletivo por Ônibus em
são Paulo: Pública ou Privada?
são Paulo, EAESP/FGV, 1985,211 p(DissertaçãodeMes
trado apresentada ao Curso de P6s-Graduação de
EAESP/FGV, Área.de concentração: Administração em
Planejamento Urbano.
RESUMO
Trata da administração direta pelo Estado (Prefei
tura Hunicipal) do transporte coletivo em são Pau
lo, procurando" explicar os motivos da diminuiçãO de
sua.participação.Através do estudo da decadência
da CMTC e crescimento 'Idasempresas particulares,
no perrodo 1948-61, busca-se esclarecer a maneira
pt::laqual
os
iúi:.E::CE:SSE:S E:CúÚ0nÜcú5minar a ação política municipal, e destruir a pro
posta de exploração direta, coiu exclusividade, p~
la Prefeitura, através da CMTC, do serviço de ;tran~
porte coletivo.
Palavras-Chaves: Transporte Coletivo - são Paulo
- Po Lft.Lca de Transporte - Administração
PÚblica-- C.M.T.C.
Ônibus.
-Agradeço a todos os amigos, colegas, professores
e alunos que,de uma maneira ou outra, incentivaram e contribui
ram para o desenvolvimento de s.se trabalho.
,1
Entre eles gostaria de destacar àqueles que parti
ciparam ( e de fato influíram) mais diretamente na produção da
redação, a quem agradeço especialmente - Rose Mary d.Silva,Maria
das Graças, Julio C. Osello, Carlos A.Morales, José Francisco,
Pedro R. Jacobi, Isabel t1.arazinae Lucas Itacarambi, mui to .obrí,
gado.
i
Agradeço ainda, à-Fundação Prefeito Faria Lima
rp,....~'nc'Y"\r"\V"'+~ rl~
-. ...._ •...-1:"- ....-- '-4""" de
são Paulo e à Universidade Federal de são Carlos, por terem pro'
A ADMINISTRAÇÃO DA OPERAÇÃO DO TRAi.'lSPORTECOLETIVO POR
ONIBUS EM SÃO PAULO: PÚBLICA OU PRIVADA?
'!NDICE
1. Introdução
01
1.1
Sobre o Problema e o Nosso Ponto de Vista de Pesquisa eAnálise
01
1.2 Sobre a Hetodologia e E.struturação do Trabalho
06
2. C.M.T.C - Companhia Municipal de Transportes Coletivos
11
2.1 SituaçãoAtual - Mudança de seu pape.L 12
2.2 criação da CMTC 26
2.3 Decadência da CMTC
41
2.3.1 Período
1948
1955
2.3.2 Período
1955 - 1961
Stili-período
1955-59
Sub-período
1960-61
•Joaquinetas
l'
47
60
64
7376
3.1 Situação Atual
3.2 Evolução Hist6rica do Serviço de Onibus~
e das Empresas Particulares
3.2.1 Antes da CMTC'
3.2.2 Ap6s a Criação da CMTC
87
/
99
101
10,6
3.3 Outros Fatores no Crescimento do Serviço
de ônibus e das Empresas Particulares 112
Substi tuição do bonde pelo ônibus 115
a) Dificuldadesde Importação 117
b) O Estado assurreServiços PÚblicos de alta capitalização
e baixa rentabilidade 11.9
c) IndústriaAutorrobilísticaExpansão do rrercado rodoviário 121
d ) O õnibus e os Lotearentosclandestinos 12 3
4. Conclusões 126
4.1
Rápido Retrospecto 1274.1.2 Decadência da
cnrc
129
4.1.3 Reestruturação da CMTC - Agora com Novo PapeL
132
4.2 O que Explica a Decadência da CMTC?
134
5. Comentários Finais
149
6. Anexos
151
6.1 Estudos: A Municipalização dos ServiçosPÚblicos
153
6.2 Dados e Informações
166
6.2.1 Relação de Governadores do Estadode são Pauloe
Prefeitos do Município de são Paulo
6.2.2 Relação dos Diretores da CMTC
167
169
6.2.3 Relação das Empresas Particulares de ônibus:
R.l existentes em 1936
180
R.2 absorvidas pela CMTC em sua criação
182.
R.3 existentes em abril/1960
183
R.4 existentes em 1976(antesdo zonearrento
do servi
ço de ônibus)
186
R.5 atuais com respectivas áreas de operação,
n9 de linhas, frota
188
R.6 atuais com respectivos proprietários
189
6.2.4 Relação das Cidades que Possuíram Serviço de
Bondes
197
~. 2.5 Q. I. Quõ.~~ü do ~v~0liuút:dê l?ã.~5a~~iLú;,:; l,J,.·Qi-.lbPÚ.L
tados peLa <NrC e empresasparticulares
200
6.2.6 Q.II 'Quadro comparativo dos resultados da ope
ração do transportecoletivono municípiode S.paulo 201
6.2.7 Q.III Quadro da Frotada CMI'C--1948-59
202
6.2.8 Desenvolvimento Urbano e Densidade em S.Paulo
203
6.2.9 SISTRAN
204
1. ~ntrodução
1.1 Sobre a Definição do Problema e do Nosso Ponto de Vista
de PesSL~isa e Análi.se
o
transporte coletivo nas cidades brasileira~e particularmente na 'cidade de são Paulo, é feito principalmeg
te (quando não o
é
exclusivamente) através do serviço de ônibus.De maneira geral o serviço de ônibus
é
explQrado por empresas particulares que têm nessa atividade suas res
pectivas fontes de lucro e acumulação de capital.
Por outro lado, a grande mai0ria dos usu&rios
desse serviço é constituid~ pela população de biixa renda, que
dele não pode prescindir sob pena de não poder se deslocar at.ê
o emprego, perdendo a própria fonte ,de recursos.
(:osr.nmn-SP. riiz ar- QUE=!p.xist.p- uma éiE=!manãaí
õiaa--se popula~ão) cativa do serviço de ônibus.
Essa dependência tem origem no processo de u.!:,
banização que, regra geral, desenvolveu-se nessas cidades. Com
efeito, o transporte rodoviário, e particulàrmente o ônibus,tem
funcionado como elemento indutor do crescimento das cidades e es
truturador de seu espaço urbano.
o
processo de periferização urbana que, de maneira geral, tem se verificado nas cidades brasileiras, tem no
ônibus um aliado fundamental.
De fato, porque possuem baixo poder aquisiti
to implica, ao mesmo tempo, maior dependência do transporte co
letivo e aumento dos custos desse transporte. Essa situação, na
verdade, configura uma "roda viva" a que está sujeita a popul~
ção,de baixa renda. Quando melhora a infra-estrutura do bairro,
os serviços de transporte, etc. que foram reivindicados poraque
las população; ~ terreno já valori~ou, o aluguel subiu e o salã
rio não. A solução
é
mudar-se para o fim da linha de ônibus, oualguns quilômetros adiante. E recomeçar a luta reivindicatória.
A dependência do transporte coletivo
é
agrav~da ainda mais pela alta rotatividade no trabalho a que estão su
jei tos os trabalhadores.
f:
necessário ter a "chance 11 de rrorarlonge e poder trabalhar em qualquer ponto da cidade.
Portanto, o serviço de ônibus. representa, por
um lado, fonte direta de lucrÇ)s dos empresários que explora.m e.§.
se serviço, e apoio ao negócio imobiliário urbano, e, por outro
lado, fator fundamental e imprescind~vel
à
reprodução da forçade trabalho de ampla parcela da população urbana.
·Aqualidade e o preço desse serviço está então
sujeita
à
duas determinações conflitantes - o interesse privadode lucro e o interesse público coletivo, da população de baixa
renda.
Recentemente, com a crise econômica e o cres
cente. aÚIDento dos preços dos veículos rodoviários e de seu com
bustível, em proporção superior ao preço dos salários,aquele con
flito tem assumido grandes proporçoes.
A participação do transporte na composição das
despesas familiares, tem crescido significativamente.
Em conseqüência dessa situação,e do crescente
avanço da organizaçãopolítica das classes populares,ternsurgido inúmeras
reações aos aurentos de tarifa e aurrentadoas reivindicaÇÕ2spor transpo,E
o
desenvolvimento desse processo tem feito comque o Estado, partd.cul.arrrerrtea esfera de governo municipal, se envolva de maneira crescente com o problema.
A intervenção da .Prefeitura, via de regra, tem sido no
sentido de compatilizar as duas dimensões(conflitantes do problema)
Até então essa 'cornpatibj~lização vinha sendo fei
ta sem a participação da ·Pl."'efeitura,e às custas da qualidade do servi
ço e da maior exploração dos operadores (ccoradores e notoristas). O que signi
ficava, emúltimaanãlise, que boa.parte dos custos tem sido absorvida
pelos operadores e usuários sob a forma de baixos salários, más
condições de trabaTho, longa espera nos pontos, viagens derroradas,sem con
forto, inseguras, e comparte do percurso cornpletarrentea pâ,
A partir da entrada das Prefeituras nessa que s
tão, o problema.passou a ser abordado, de maneira geral, sob o seguinte
ponto de vista:
11como administrar umbinômio que apresenta,por um la
do, a escalada. dos custos do transporte coletivo. (p~
xada pelos aurrentos de preço do óleo diesel) e, de o~
tos das tarifas".
Sob esse prisma, as soluções buscadas t~m si
do no sentido de reduzir os custos.
Entre as diversas alternativas tentadas, ~it~
mos como exemplo as seguintes:
racionalização ·da rede através de:
. reestruturação das linhas
integração ,modal - 5nibus/trern
- melhorias na circulação e no sistema viário:
. faixa exclusiva, canaletas, ccmboios, etc.
- desenvolvimento. de tecnologias mais econôní.cas
Isto ~, procura-se reduzir os custos planeja~
do-se o serviço. Entretanto, para se conseguir implementar alg~
ma proposta de racionalização dos serviços', requer-se que o mes
mo seja regulamentado, disciplinado e controlado.
Ao procurar regulamentar o serviço e controlar
sua operaçao,o poder pGblico esbarra no fato de que as empresas
particulares geralmente dificultam o conhecimento de seus dados
operacionais.
Via de regra, as empresas particulares procu
ram sempre fugir a todo e qualquer controle sobre seus custos e
receitas.
Nessas circuns.tâncias, o poder púb Lí.co carece
de força política e instrumentos que o possibilitem intervir no
•
serviço. Os instrwnentos geralmente utilizados são: Leis que re
No caso de são Paulo,e algumas outras cidades
brasileiras, a Municipalidade dispõe ainda de uma Empresa pGbli
ca que lhe permite maior poder de intervenção.
Com efeito, um dos principais instrumentos de
controle
é
a ameaça efetiva de municipalização do serviço. Paraisso o contrato de concessão e a existência de uma empresa públ!
ca operadora do serviço de transporte,sãó fatores fundamentais.
A recente intervenção administrativa da Prefei
tância da empresa pública como instrumento efetivo de poder e
controle.
No entanto, em que pese o poder de inten~nção
da Prefeitura de são Paulo (maior do que ocorre na maioria dos de
mais municípios brasileiros), a presente situação ainda não lhe
permite a coordenação completa do serviço.
A coordenação operacional dossisbé~ de trans
porte requer a un í.fí.cação da gestão desses sistemas. E isso são
Paulo não tem; aliás, tinha e perdeu.
Em resumo, a atual situação dos transportes co
letivos demandam a intervenção do poder público. Esse, ao inteE
vir, tem visado a compatibilização dos interesses (conflitantes)
púb Lí.cos e privados, através' do planejamento, de modo a reduzi-r
os custos do se rv í.ço,
..
o
planejamento requer o controle operacionale a -gestãounificaã.a 'do serviço .,1-Je::3semomento, u puueL' l!G.0:Li~u
esbarra nos interesses privados das empresas particulares que
não desejam ter os seus lucros controlados.
Para vencer a resistência é necessário força
pol.ft.Lca e instrumentos de intervenção efetiva. Coloca-se então
como necessária a participação direta do poder público na explo
raçao do serviço do transporte.
Assim, o desenvolvimento da contradição exis
tente nesse serviço público, reflete em úl'tüna análise, o papel
contraditório do Estado em sua relação com o Urbano (no caso,atra
vés do serviço de transporte coletivo}. As tentativas de solução
dos conflitos aí presentes, t~azem
ã
tona a questão central daNo caso em exame, a questão central
é
a Estatiza:ção(municipalização) do serviço de ônibus.
A história do transporte co Letí, vo da cidade de
são Paulo,
é
um claro exemplo do processo de evolução e desenvolvimento desse aspecto contraditório da intervenção do Estado.
Em 1946 essa contradição teve como solução a
criação da
CMTC/que
deveria explorar com exclusividade o serviço de transporte coletivo ria éidade de são Paulo.
1'.
No entanto, a CMTC, logo após sua criação en
tra em processo de decad~ncia, perdendo sua exclusividade,com a.
conseqüente retomada do serviço pelas empresas particulares.
Iremos investigar como esse processo se desen
volveu e porque ele se deu.
1.2 Sobre a Metodologia e a Estruturação desse Trabalho
IniCialmente, colocamo-nos a seguinte questão:
b
queé
que explica a decad~ncia da CMTC, po~co tempo depois de sua criação, e
o
conseqüente crescimento dasempresas particulares?
Com essa indagaçãopassamos a debater com técnicos da
área, e a pesquisar os trabalhos existentes sobre a história da
CMTC.
É impossível reproduzir aqui o desenvolvimen
forma quase que cotidiana uma vez que militamos nessa área.
Quanto
à
pesquisa bibliográfica procuraremosapresentar os passos mais significativos para o desenvolvimento
dessa dissertação, apesar que o próprio contato com os diversos
documentos sobre a matéria se desenvolveu também dentro da dinâ
mica de nosso trabalho profissional na área de transporte.
Das diversas leituras que realizamos,foi possi
veldelimitar o período de 1948-61, como o período base para aná
lise.
De .fato, em 1948 a CMTC assinou o contrato de
concessao que lhe dava exclusividade mas iniciou apenas pouco mais
de8C% do serviço. De 1948 a 1954, ela teve sua participação no
total de passageiros transportados aument.ada e, a partir de 1955,
sua participação foi sistematicamente diminuida. Em 1961 as em
presas particulares já detinham a hegemonia do serviço,e se con
solidaram a partir de então.
Delimitado o período, procuramos sistematizar
as explicações correntes para àquela questão ..Encontramos então
um estudo, realizado em 1961 pela COPLAN,que procurou analisar
o desenvolvimento da CMTC, justamente no período de 1948-61.
Esse estudo, apesar de bem feito, nao respo~
dia, segundo nossa opinião, a pergunta que havíamos formulado.
No entanto, ele constituíu, pela riqueza de in
formações e qua..lidadeda análise realizada, a base a partir do
qual elaboramos nossa própria análise.
Para fazê-lo, procuramos levantar outras :infor
ficar o debate e denfincias que ent~o eram feitas.
Des"ses registros foi-nos possível caracterizar
-a conjuntura em que se desenvolveu o processo de decadência da
CMTC.
Então, com base em outrbs estudos e anâlises
sobre a intervenç~o do Estado(Prefeitura) no processo de urbani
zaçao de são Paulo, durante aquele período, elaboramos nossa aná
lise sobre como o processo de decadência, de fato se desenvol
veu. Procuramos aí identificar as pistas que nos Jevasse aos mo
tivos que finalmente explicasse os fatos.
Mostrou-se necessârio identificar os setores
econômicos interessados no fenômeno em anâlise, seus mecanismos
de ação, e de que forma aqueles interesses compareciam nas polí
ticas desenvolvidas pela Municipalidade.
\
Pesquisamos então sobre o desenvolvimento do
C"AV""f"'~ .-:.~
~--.-.-
rrrria ni7.;H~;;O:E! os setores econômicos envolvidos nesse serviço.
Procuramos esclarecer sobre a relação existeri
te entre as empresas de ônibus e os demais setores econômtcos in
teressados no serviço de ônibus. (encarroçadoras, Revendedoras de
veículos, Loteadores etc). O que exigiu-que pesquisássemos sobre
a propriedade das empresas de ônibus.
Nesse trabalho -contamos com o fato de que ou
tros dois companheiros estavam desenvolvendo pesquisa correlata,
relacionando o serviço de ônibus com o crescimento da cidade de
são Paulo, particularmente, quanto ao parcelamento e comerciali
Assim, junto com Jos~ Francisco e Carlos AntQ
nio Morales, que são as pessoas menc10nadas, procuramos correl~
cionar os seguintes fen6menos: desenvolvimento das empresas pa~
ticularesde Snibus, loteamentos clandestinos e distribuição da
população.
Não foi possível até o presente mxre.•nto, reunir
cada um dos trabalhos em um único, com uma análise de conjunto.
No entanto, as discussões cotidianas que realizamos ( estávamos,
os três, ministrando aulas, no mesmo curso da Universidade Fede
ral de são Carlos), contribuiu com a análise aqui realizada •
.,
i.~ Para conseguir, finalmente, entender a lógica
/
pela qual a açao pública resultou na destruição da CI'-1TC,emben~
frcio dos empresários de 6nibus e dos demais setores econBmicos
interessados nos serviços de"Ônibus, julgamos necessário anali
sar a criação da CMTC.
..
Nessa análise, procuramos identificar a dou
trina que fundamentava a política implementada.
Isso feito, tivemos então a compreensao de co
mo as prática.s políticas populista.s e clientilistas, permitiam
que o Estado exercesse um papel contraditório, aparenterrente ser
vindo ao interesse público, enquanto beneficiava os interesses
privados particulares.
A destruição da CMTC
é
um fenômeno, cuja ana-lise esclarece como se dá a combinação dos interesses políticos
dos lideres populistas com os interesses capitalistas .de deter
guinte forma:
Esse trabalho estã ent~o, estr~turado da se
- capitulo 1: introduç~o
no capitulo 2 estudamos a CMTC. Primeiro,
identificando as diferenças entre o seu p~
pel atual e àquele para o qual foi criada.
Em seguida comentamos as explicações existen
tes sobre a decadência da CMTC,
cotenjando--as com as· noticias da época. Nesse capítu
10 procurou-se esclarecer o como se deu a de
cadência;
- no capitulo 3 procuramos estudar a evoluç~o
do..serviçode ônibus e das empresas particula
res. Identificou-se no ônibus o ponto de con
vergência de um conjunto de setores econômi
cos, interessados em um determinado tipo de
~
urbanização - crescimento e estruturaç~o do
"""Y'-"_"" , ..._'\.-...~'V"\ ~ 1-.."",, -1- __ .••.•.• .•._"-_ '-..J,t'-""""'f('-' ,\.4..i...,jJ\"...c,.•••••~ , ••.\...IAi.1. ~ ••..•.•...,"'- .lL\.J ·\,. •.LU-I .•..,J!:"'-"'.L· '-~
rio e na especulação imobiliãria;
no capítulo 4 procuramos reunir as análises
anteriores ao estudo da forma de intervenção
da Municipalidade no processo de urbanização.
Concluímos errt áo o estudo, Ldarrt.Lf í.cando.nas
prãticas populistas e clientilistas,a manei
ra pela qual os setores econ6micos interes
sados no serviço de 6nibus, realizaram seus
objetivos. A C~1TC constituia um obstáculo que
.1
-,
/'
!
, 1
1 .I
)
2., C.M.T;C--'"
·t.
'2. CMTC - Companhia Munic~pal de Tran,:;porte Coletivo
2.1 Situação Atual - Mudans:.~de se.~ ~
Empresa pública de economia mista, criada em
1946 com a finalidade de "prestar e explorar com exclusividade o
serviço público de transporte coletivo de passageiros no municl.
pio de são Paulo" (1), desempenha hoje um papel bastante distin
to daquele para o qual foi criada.
De fato, um dos aspectos centrais da at.ua L p~
lítica municipal de transporte coletivo
é
a regulamentação e(x>-:)Edenação dos serviços prestados pelas empresas privadas. lA at.uaL
política, ao contr&rio daquela encetada em 1946, não objetiva a
eliminação dos interesses privados e lucrativos desse campo de
atividade, mas sim o controle dos custos e da qualidade dos seus
serviços. Nesse contexto,
à
CMTC cabe o papel de: operar as linhas consideradas vitais para integração e coordenação da rede
de ônibus; fornecer dados concretos sobre os problemas operaci~.
nais do sistema; possibilitar a criação de novas linhas para
1n-troduz:lr modificações na rede e/ou.'para atender demandas que as
empresas privadas não podem ou não se interessam em prover; ei
principalmente, constituir-se em um valioso instrumento de poder
para a administração pública, frente às empresas privadas na im
plantação de suas políticas, permitindo-lhe inclusive,quando ne
cessáriot intervir nas mesmas.
Em 1946, a orientação política da administra
çao municipal era bastante distinta e propugnava pela retirada
dos interesses privados do serviço de transporte público. Ente~
dia aquela administração que o Lnt.er'esse público, de que se re
vestia o serviço de transporte coletivo de passageiros, só pod~
(1) P.I.T. - Programa de Integração dos Transportes, Secretaria
ria ser preservado
com a participação
dire·ta do poder
pGblico na
exploração
do serviço(2).
Defendia
aquela
administração
municipal,
que
se realizasse
a integração
e coordenação
dos vãrios
sistemas
de
transporte,
unificando
a propriedade
e gestão
dos diversos
ser
viços em mãos
do poder pÚblico.A
CMTC seria então
o instrumento
de operação
dessa pol!tica.
A exposição
de motivos,
apresentada
pelo Prefeito
Abrahão
Ribeiro,
que acompanhou
a minuta
do decre
to-lei
de criação
da CMTC para aprovação
do governo
do
Estado,
apresentando
as conclusões
da CET(3),
manifesta
claramente
essa
posição:
I'
I
i
"19 - que se impõe a coordenação
dos vários sí.s
temas de transporte
empregados
ou a errpreqar
r
29 - que essa coordenação
só pode ser
eficaz
mente
conseguida
mediante
a unificação
da pro
priedade
e da gestão
direta
dos vãrios
servi
-ç:C5;
39 - que a unificação
deve ser feita por
,'.urna
entidade
semi-oficial
(autarquia
administrat!
va), ou seja, um órgão
de administração
muni
~
cipal
gozando
de autonomia
que reclama
o cara
ter industrial
do serviço
a gerir.
ESsas
conclusões
foram
reexaminadas,
atualiza
das pelàs
luzes de novos
estudos
e receberam
nova redação,poden
(2)Em .out.ra
parte desse trabalho entrarerrosem rraiordetalhe a respeito des
sa posição, e da criação da CMIC, no rrorrerrto,
Irrport.a
apenas rrostrar
a
diferença entre as pç>l!ticasrmmí.cdpaí.s
de 1946 e de hoje,e,em conseqoên
cí.a.adiferença entre os papéis que a
GII'Ctem assumido.
(3)
CETC -Conússão de Estudo do Transporte Coletivo - criada p/pref.Dr.Fran
cisco Prestes Maia, em 3/2/39, para realizar um arrploestudo
sobre
o
do ser assim enunciadas:
"19 - os serviços de transportes coletivos de
são Paulo deverão ser executados, com exclusi
vidade, por uma sociedade de economia mista,
possivelmente, sob a forma de sociedade anôni
ma, aqui denominada - Compahia Municipal de
Transporte Coletivos o
29 - os sistemas a adotar no momento .-bonde a
em coordenaç-ão com o ônibus e tróleibus e, fu
turamente, o trânsito rápido, em coordenação
com esses três meios, em proporçoes que irão
variar com o decorrer do tempot:(4).
Verifica-se portanto que cabia
à
CMTC a operaçao direta de todos os meios de transporte coletivo,exceçãó fei
ta
à
ferrovia mas incluia a previsã~ de operação do metropolitano.
No entanto, criada p~ra ser concessionãria ex
clusiva do serviço de transporte coletivo, a CMTC viu-se obriga
da, d~sà.e o. início, a conviver com as empresas particulares de
ônibus.
Essa convivência tinha,. inicialmente ,condições
e· prazos e'stabe Lecí do si mas, com o tempo, os prazos foram dila
tados, as condições alteradas e a exclusividade perdida.
De fato, das 34 empresas privadas existentes
em 1946 apenas 17 foram incorporadas, as demais ficaram aguardan
do acordos especiais com a municipalidade. Com isso, abriu-se uma
infração
à
concessao, autorizando a contrataçio de serviços de(4) RIBEIRÓ., Abrahão
-
Exposição de Motivos que acompanha o projeto de Remodelação do Serviço de Transporte Coletivo na ci
terceiros, ainda que limitado a ncertas e determinadas linhas r~
raisIr. No entanto, apesar de não ter a exclusividade, a
om:::
era,nesse momento he qemôní.ca r e, em 1953, com o Decreto Municipal n'il
2.215,53, que regulamenta a contratação de empresas particulares,
a CMTC garantiu sua soberania definindo, inclusive, prazo para
atingir a exclusividade do serviço.
Segundo esse Decreto, as empresas particulares
só podiam operar as linhas situadas fora do círculo com raio de
4 km a partir da praça da
sé,
e o total de suas receitas nao podia ultrapassar 33% da receita total da CMTC. Ele fixava também
um prazo para o término do regulamento - 31/12/59, data em que
a CMTC assumiria todas as linhas existentes(5).
Esse decreto foi posteriormente alterado por
dois outros Decretos -. Decreto
nv
3.438, de 14/01/57, que prolonga o prazo de vigência do regulamento de 31/12/59 para 31/12/65,.
e Decreto n9 3.609, de 26/07/57, que aumenta o limite da arreca
dação das empresas privadas de 33% para 49% da receita da CHTC.
Ambos os decretos apenas refletiam, no plano
legal, uma tendência que já se manifestava na prática.
Com efeito, a partir de 1955 as empresas pri
vadas aumentaram rapidamente sua participação no transporte de
passageiros, pulando de 10,1% em 1954 para 36,1% em 1957)6). Na
da indicava, portanto, que em 1959 a CMTC teria o monopólio do
serviço.
Esses decretos,' entra tanto , reforçariam o cre~
cimento das empresas privadas ao ponto de, em 1965, responderem
por 78,4% do total de passageiros transportados.
(5) PIT, pág. 17
delimitar a atuação dessas empresas e sem fixar prazos para tér
mino dessa situação.
Criou-se então os Termos de Permissão por li
nha, com validade inicial de cinco anos e que poderiam ser reno
vados sucessivamente.
Dai em dianfe a participação da CMTe caiu ca
da vez mais, atingindo o limite mínimo de 14% em 1975,e a situ~
çãodos transportes coletivos deteriorava-se continuamente.
A solução para o caos que então graçava era aguar
dada para o início de ope r
açjio
do Metrô (7). E foi o que, de certa maneira, ocorreu. Pelo menos·é o que se depreende do estudo
do Programa de Integração de Transp?rte - PIT, elaborado com vis
tas a integração das linhas de ônibus e do Metrô:
"Embora o problema dos transportes no Hunicípio
da Capital Ultrapasse a linha de suas frontei
ras, atingindo, assim, a Região Metropolitana,
esse Programa visa apenas a integração dos
subsistemas que operam no Município sob a ju
risdição da Prefeitura, o Metrô e os ônibus ur
banos.
(
...
)Seu caráter imediato deveu-se
à
ocorrência dedois eventos importantes que vieram condi cio
nar a amplitude das decisões, a fixação de pra
(7)Há quem diga, que a própria AdministraçãoPública submetia todas as suas
decí.sôes relativas
ã
rreIhor.í.a dos serviços de transporteã
entrada emoperação do M=trô, e maldosarrenteconc.Lue, que assim o rretrôapareceria
zos e,até mesmo as possibilidades técnicas,ou
seja:
o término dos contratos de permissão dos ôni
bus urbanos já renovados anteriormente; e
• a entrada em operação da linha Norte-Sul do
Metrô.
Tais eventos requeriamf portanto, l~a pronta
açao das autoridades municipais 11 (8).
As metas especIficas do PIT eram:
reformulação das condiç~es de permissão de
serviços de ônibus urbano, para efeito de re
novação de permissão;
estabelecimento ,das cond í çôes para a üi.tegra
ção dos sistemas metro-onibus urbanos.
• redefinição dos conceitos e diretrizes bãsi
cas para a integração dos transportes" (9).
Com esses objetivos foi expedido o Decreto n9
11.187, em 31/07/1974 que "disciplina a operação, através de Em
presas Permissionárias, do transporte coletivo por ônibus no Mu
nicípio da Capital".
As principais medidas estipuladas nesse decre
to, sao as seguintes:
divisão da área do Mun í.c
Ip
í.o em seis setoresvinculando as empresas (l cada um dos setores
(8)
PIT pág. 10classificaç~o das linhas de 6nibus em radial,
diametral, setorial, intersetorial, circular,
especial e alimentadorai estabelece que as li
nhas diametrais, especiais e circulares que
passam pelo setor central ser~o operadas ape
nas pela CMTCi estabelece requisitos mínimos
para outorga da permissão pela CMTC às empre
sas privadas, dentre as quais destacamos o con
cionanante de frota nunca inferior a 40ônibusi
condiciona a outorga de permiss~o ao aceitepe
las empresas de todas as cláusulas desse de
ereto; e, principalmente, torna expresso, no
termo de permí ssâo , determinadas obrigaçees das
empresas, das quais destacamos uma que ',deter
mina que elas aceitem com posterior rsgate,os
passes ou pilhetes de passagens emitidos pela
CMTC ou pelo Metrô, condição básica para a in
tegração das linh~s de ônibus ao Metrô.
"PX'.i·h~~-se;!?Ol'7t~nt.o: que com base num fai:ono
vo de legítima importância - início de operação do Metrô,a adro!
nistração municipal, no momento da renovação das permiss5es, re
toma parte de seu poder de regulamentação do serviço de transpo~
te coletivo e dá um pequeno ordenamento ao sistema.
Vale ressaltar que o decreto,ao disciplinar a
prestação do serviço, introduzindo condições para que a CMTC ou
torgue permissões e dando-lhe exclusividade em determinados ti
pos de linha, fortalece a CMTC e recupera para ela parte da ca
pacidade de regulamentação e coordenação anteriormente perdidas.
Nes~e momento tem início a redefinição do p~
pel da CMTC.
De lá para cá, foram tomadas outras rredí.dasque
procuraram consolidá-la nesse novo papel. A Lei n9 8.424 de 18
viço e renova o prazo de concessao por mais de 30 anos,
i
determinante nesse aspecto.
Deve-se lembrar que em 1978 expiraria o prazo
estabelecido no contrato de concessão assinado entre a Prefeitu
ra e a CMTC em 1948. Colocava-se em questão, nesse momento,a con
tinuidade dos serviços da Companhia Municipal de Transporte Co
letivo e as condiç6es em que isso se daria; isto ~, continuaria
a CMTC como concessionária exclusiva do serviço de t.ranspor'teco
letivo?
Veja-se que, de fato, a CMTC já não detinha ex
clusividade alguma. Se antes ela fora criada para operar,com ex
,i clusividade, todos os serviços de transporte coletivo,a exceção
do trem de subúrbio, nesse momento, dos serviços existentes,ela
só explorava com exclusividade o tróleibus. O serviço de ônibus
era explorado com hegemonia pelas empresas privadas re para a op~
ração do metrô fora criada uma empresa específica.
No entanto, a administração municipal entendeu
por bem manter a CMTC como concessionária exclusiva mas de sernpe
nhando, na prática, apenas o papel de regulamentação e coordena
ção do serviço de ônibus, operando parte dele e, com exciliusivi
dade, todo o servuço de tróleibus. Aliás, entendia a prefeitura
que o papel de regulamentação e coordenação, só poderia ser de
sempenhado com efetividade pela CMTC caso ela fosse fortalecida
administrativa e operacionalmente.
Cuidou a Prefeitura então de renovar e ampliar
.
-a frot-a d-a Ci.-a, de reestrutur-ar sua administração e de
destinar--lhe um papel operacional específico dentro do sistema,outra vez
reordenado.
A nova reordenação do sistema de ônibus proc~
gênea suas condições econômicas e operacionais. Para isso divi
diu a cidade em
23
setores de operaç~o, destinando cadasetorp~ra uma única empresa ou consórcio de empresas.
Reduzia-se então o n9 de empresas, estas mais
fortes economicamente, que passaram ent~o a ser contratadas para
operar uma determinada área e não mais para determinadas linha~
Dessa forma estabelecia-se um certo equilibrio que permitia con
tinuar explorando o serviço com tarifa única e com base no con
ceito de "serviço pelo custo".
:g'
importante esclarecer que o "serviço pelo custo".é entendido como condição básica para auto-suficiência eco
nômica-financeira da empresa que explora o serviço.
Como o custo por passageiro em cada linha de
pende do volume de passageiros transportados naquela linha,
tem--se então que, na base do "serviço pelo custo", cada linha deve
ria ter uma tarifa distinta.
Ao se estabelecer uma tarifa única ter-se-á ,
portanto, linhas mais rentáveis que outras.
E
é exatamente o queocorria e continua ocorrendo.
A competição entre as empresas se fazia en"tãó,
com a coincidência de itinerários nos percursos de maior deman
da.
Uma situação desse .tipo dificulta o pJBnejame~
to racional do serviço,piora a sua qualidade e favorece algumas
empre sas que I. de uma forma ou outra, conseguem as linhas mais ren
táveis.
Além disso, a pressão das empresas, nessa si
base nos custos das linhas menos ren'táveis. O que de certa manaí,
ra sempre ocorreu, uma vez que o "custo médio" tem sido calcula
do com base nos dados operacionais da CMTC que 1 via de regra;op~
ra as linhas menos rentáveis e tem geralmente seus custos mais
elevados que as demais empresas.
o
objetivo da prefeitura ao mudar as condiçõesde contratação das empresas, passando a ser por área de operaçao ,
era buscar um equillbrio maior entre as empresas e dessa forma,
mantendo a tarifa única, conseguir estabelecer um "custo médio"
mais próximo dos valores máximos e mínimos I diminuindo-se a pre~
sao por tarifas baseadas nos custos das empresas menos r~~tãveis.
Convém observar que nesse momento a tarifa já
alcançava níveis que ameaçava por em risco a própria permanência
de interesse lucrativos nesse serviço. Esse fato, ilustrado por
uma série de movimentos reivindicativos que tinham lugar em são
Paulo e no p~is, contribuiu no sent~do da adoção de medidas ra
cionalizadoras do sistema de transporte.
A medida adotada; ao consolidar a Cl'1'rcconso
lidava também as empresas privadas, e estabelecia, por outra la
do, as regras de co-existênCia entre essas empresas pública e
privadas.
No entanto, em decorrência da crise econânica,
a questão tarifária continuou crucial e exigindo novas medidas
para sua redução.
Continuando a linha de atuação inic.iadaem 1974,
de coordenação e controle do serviço, a prefeitura procura red~
zir os custos através de melhori~s tecnológi~as dos veIculos e
do planejamento da rede, modificando o itinerários,estabelecenào
faixas exclusivas e aumentando o controle sobre a receitadas em
1.'>., recente proposta de câmara de compensação de
ve ser entendida como um aprofundamento das medidas no sentido'de
homogenizar a receita das empresas, e permitir que a tarifa po~
sa ser mantida em um patamar mais baixo.
Com efeito, a divisão em 23 ireas de operaçao
nao eliminou a desigualdade de IIcustos por passageiro" entre as
empresas. Em conse~uência a tendência reinante é de que o IICUS
to médio" seja pressionado sempre pelas empres.as menos rentáveis.
'Mais ainda, se considerarmos o fato de que a administração muni
cipal não conseguiu até hoje ter conhecimento sobre a real recei
ta das empresas (10) •
A Câmara de compensaçao permitirá que se man
tenha uma certa lucratividade no serviço de transporte,mas com
a condição de que ele seja redistribuído entre as empresas.E is
..
so permite que a tarifa seja mantida num patamar mais baixo do
que seria se permaneçesse a desigualdade de receitas.
suasao por parte da prefei tur a ,;E é o que a CHTC melhor aparelha
da lhe fornece. Fato aliás demonstrado no incidente das ihterven
çoes já mencionado.
EP,11985 deverá expirar o prazo de contrataçãodas e!!!
presas privadas e surgirá, mais uma vezf outra oportunidade pa
ra se repensar e reformular as condições de exploração' do servi
ço de transporte coletivo por ônibus. As medidas já adotadas es
tão a resvalar na questão da unif.icação e da excl usi vidade. Essa
discussão provavelmente virá a baila, e a história da CMTC deve
.,(10) Com a intervenção recent.emente realizada, a administração ~.
rã ser mat~ria muito utilizada.
A história da CMTC, compilada a partir das r~
portagens de jornais,
é
uma história d~ crises, conflitos,denúncias de corrupção,
etc ...
Após 1955, poucos foram os rrorre.ntosemque a CMTC desfrutou da simpatia da opinião pública. Só mais re
centemente, com as modificações relatadas acima, a CMTC rre.lhorou
seus serviços, ampliou sua participação no mercado recuperou par
te de suas prerrogativas e mudou a sua imagem pública •
.
Apesar dos dissabores, a CMTC foi e continua
sendo uma das empresas públicas da maior importância para a mai~
ria da população paulistana. O cotidiano dos trabalhadores,prin
cipalmente daqueles de baixa renda, estã ligado ao cotidianode~
sa empresa. De seus serviços diretos e indiretos (fiscalização'dos
serviços das empresas privadas) depende a qualidade de 3,5 milhões
de viagens diariamente realizadas por ônibus (11) •
A importância da CMTC pode ser medida ainda p~
pondente ao transporte de 600 milhões de passageiros, e para co
brir seu déficit, são lhe destinados outro tanto.) O impacto po
litico e a ressonância nacional que adquire as medidas
político--administrativas de gestão dos serviços da CMTC
é
outro indicadorde sua importância.
Apesar de sua importância para a população pa~
listana e de seu significado político, apesar de sua constante
presença nos jornais, poucos são os estudos que procuraram ana
lisar com profundidade essa experiência de administração p.Úbli
ca dos serviços de transporte coletivo. Não existe uma história
da CMTCi isto
é,
nao existe o estudo de seu passado e nem mesmoa preservaçao de sua memória. Se algo estã preservado,deve-se ao
'(lI) BRANCO, Adriano M., O Tróleibus e as Tendências l-bdemas dos
zelo individual de um funcionário (Senhor Cruz) que, como se pre
servasse a sua própria memória, reteve sob seus cuidados impor
tantes documentos históricos relativos
à
administração da CMTC.Não há dúvidas, no entanto, que a história da
CMTC constitui valioso subsídio para a formulação de uma políti
ca séria de transporte urbano.
~ senso comum que o conhecimento dos erros admi
nistrati vos passados t dos mecanismos e expedientes utilizados pe
los diversos interesses envolvidos para fazer frente
à
determinadas medidas da Administração PÚblica, dos debates e opinião pú
blica
à
cerca de certas posições, e da própria evolução dos seEviços da empresa, constituem precioso material para o planejamen
todo serviço público.
Nosso estudo procurará responder algumas das
questões suscitadas nesse relato. Seu desenvolvimento deverá ter
por eixo a questão que segue:
 pergunta : o que explica o declínio da paE.
ticipação da CM'rc e, conseqüentemente, o crescimento da partici
pação das empresas privadas no transporte coletivo de passage!,
ros no Município de são Paulo?
~ comum ouvir respostas que responsabilizam por
um lado, a administração da CMTC, que
é
consideradacrmo tendo sido quase sempre ineficiente, sob fortes influências de políticas
clientelísticas e, algumas vezes, sujeitas
à
corrupção; e debitam, por outro lado, ao rápido crescimento da cidade, a geraçao
de demandas que a CMTC não conseguia atender, admitindo porta!!,
to que as empresas privadas o fizessem, em volume cada vez maior,
o que criou as condições para o rápido florescimento daquelas em
Ambos os aspectos da resposta acima tem o mes
mo s í.qn Lf í.oado , qual seja:o declínio da CrviTCdeve-se
à
sua incapacidade operaCional de at.eride r
à
demanda,seja devido a má adruí,nistração, seja por que sua estrutura não acompanhou o cxes c í.men
to da cidade.
~ enganoso procurar a resposta
à
essa questãona incapacidade operacional da CMTC, como soe ocorrer. Afirmar
que a CMTCnão foi capaz de responder de maneira a.dequada ao cre~
cimento -da dema.nda que se verificou a partir da déca,da de 50,
é
incompleto e equivocado.
t;
ne'ces sârí.o dizer como esse fato ocorreu e porque ele se deu. Respostas desse tipo além de encobrir
a real política desenvolvida nesse período, justificam e favore
cem a atuação das empresas privadas.
r ) !
Com o objetivo de buscar uma resposta mais 5a
. tisfatór.ia a essa questão faremos o estudo da atuação da Cl\1TCno
período compreendido entre o início ,de sua operação,
1948,
e omomento em que o conjunto das empresas privadas consolidou sua
nara o Derío
do de decadência de participação da C!'1TC- de 1955 a 1961.
A gTOSSO modo a história da CM'l'Cpode ser di vi
dida em quatro periodos:
1948 - 54 -
Tentativa de consolidação da CNTCcomo concessionária exclusiva
1955 - 61 - Destruição da CMTCenquanto conces
sionária exclusiva
1961 - 74 - Consolidação das empresas partic~
lares
1974 - em diante - Reerguimento da CMTCsob um
Em 1946 o Poder Público rasol ve assumir para
si a prestaç~o do serviço de transporte coletivo na cidade de
são Paulo. Cria então a CMTC- Companhia Municipal de Transp0,E
te Co1et.ivo, empresa de economia mista, cuja finalidade. era a de
"prestar e explorar com
e
xcLusi vidade o serviço público de tran~ porte coletivo de passageiros no Município de são Paulo" (1) •Criada em 1946 pelo Decreto-lei Estadual n9
15.958, de 14/08/46, complementado pelo Decreto-lei Municipal n9
365, de 10/10/46, e constituída por escritura pública em 14 de
março de 1947, a CHTC começou a funcionar em 18/06/47, por auto
rização do então prefeito Christ:iano St.ock.1er das Neves f antes
mesmo de assinar o contrato de concessão (o contrato foi assina
do em 24/01/48) (2).
guinte composição societária:
---tigos empresá
~~.
- 1
!S...ões miJ~()2~_ Part.
%1
'cipa1 de são Paulo ~O.ÓOO 80 mí.Ihoes 32
.de são Paulo 350.000 70
"
28300.000 60
"
24rios de ônibus 200.000 40
"
16Total 1.250.
ooç
250 100%açoes milhões
refeitura Munl
do Est
Interessa-nos averiguar os motivos pelos quais
o Poder Público adotou tal decisão. Porque o fato ocorreu em1946?
(l) PREFEITURAr-fJNTCIPl-\LDE SÃOPAUID. Secret.aria Municipal de Transpo~tes. PIT - Programa.de Int:egTação dos Transportes, SPI 1975, p.12
Em que condições e circunstâncias ele ocorreu?porque algumas e~
presa.s privadas permaneceram em operação, e outras foram cxí.adas
logo em seguida?
o
ex-prefeito Abra.hão Ribeiro, em sua exposiçao de motivos, ap6s discorrer sobre o problema
e
apresentar asolução proposta, justificando-a ticnica econ5mica, tece as se
guintes consi.deraçõe.s a respeito da oportunidade de cria.ção da
CMTC:
liA solução no momento
é
t.ambém oportuna. e degrande alcance. De fato, a Municipalidade no
momento encontra-se, com rela.ção aos rreiosexis
tentes:
a) no setor dos bondes - nao
s5
com o contrato de concessão
à
Companhia Ligth já venc!"
do, como, por força do Decreto-lei8.26B,
de 03/12/45, incumbida de tornar as providên
cias necess;rias para assegurar a continui
deseja continuar prestando
(3)
ib)
no setor dos 5nibus - contando com uma se..
rie de pequenas empresas (cerca de 34),das
.quais duas apenas. possuem em tráfeg6 mais
de 100 carros, e todos prestando serviços
..
sob regime ~e licenciamento, que e
do anualmente, desde 1941, a título
renova
..
prec~
rio;
(3)
De fato, o Decreto-lei n9 8.268 revoga o Decreto-lei 3.366,de 25/06/41, que havia obrigado a Light a continuar, contra
a sua vontade,prestando o serviço de transporte de passagei
ros,e estabelece em seu art. 29 que: "A Municipalidadeda Capí.ta.l
do Est.deSPestabele02ráos entendírrenros e torraráas providênciasque
se tornaremnecessâr.í as para assegurar a continuidadedos serviços de
que trata o refericY-JCecreter-·lei,atendi.dosos int:eressesda coletividade
e as necess.ídadestécnicas,"econômicas, administrativase fin.anceirasde
c) ambos os serviços estão em verdadeiro esta
do de abandono (salvo poucas excepç~es para
o caso de ônibus) e sem regulamentação
-
.-
adequadar quer no que concerne ãqualidade,c~
mo ã quantidade, e como ao padrão de servi
ço a ser prestado.
Por outro lado, ainda, os veículos em
tráfego-- bondes e ônibus estão sofrendo as conseqü~ncias dos excessos
de lotação tolerados no regime de gue~ra e do abandono do servi
ço de conservação normal, em parte motivado pela esca.ssez de p~
ças e materiais para repa raçôe s . O que
é
certoé
que se torna neI
/ ce ss âzí,o proceder imediatamente a reabilitação dos serví.ços exis
tentes, (••• )
é
preciso iniciar a execuçao de um plano de grandeenvergadura, que sequer avultadas somas de dinheiro, e portanto
garantias reais de juros e amortização. Esses elementos só pod~_
rao ser obtidos em bases compatíveis com o in·teresse de popuLa
çao se o poder público estiver participando diretamente da exe
cnção do serviço r envolvido no negócio ~ procurando interessar co.
pitais, garantindo as inv2rs~es e zelando pela obtenção de bai
xas de juros, e também pleiteando condições razoáveis para o pa
gamento dos mat.eriais .adqu.írí.dos" (4) .
Verifica--se do exposto que se fazia necessário
o envolvimento direto e imediato do poder públicó na solução do
problema, Primej.ro, porque a situação do transport'e coletivo era
\...
grave e cabia
à
Municipalidade promover a sua soluçào sem maisdemora. Segundo, porque a recuperação dos serviços exí.qí.aminves
timentos ~ultuosos, que só poderiam ser obtidos, com baixas ta
xas de juros, caso o poder pÚblico estivesse participando dire
tamente do negócio. Terceiró, porque a Light já não estaya inte
(4) RIBEIHO, Abrahão. Exposição de Mot.ivos do projeto de Ren10d~
Laçao do Serviço de 'rransporte Coletivo na Cidade de são Pau
ressada em pe rmane ce r no serviço de bondes I e dí fí.cí.Lmente qual
quer outro empresário particular ae aventuraria nesse ramo de.
atividade sem garantia de rentabilidade.
Não restava, portanto, outra alternativa que
nao fosse a participação direta da Prefeitura na exploração do
serviço.
Por outro lado, a participação do poder pGb1!
co nas atividades de interesse coletivo, era um fenômeno que vi
nha se desenvolvendo de maneita crescente em S~o paulo(e deres
to no Brasil).
De fáto, a partir de 1930 a Prefeitura Munici
pa1 de são Paulo vinha tomando uma série de medidas (criação de
Comissões de Serviços de Utilidade Pública; tomadas de contas de
certos serviços) visando a r~gulamentação e o controle dos ser
viços de interesse púb Lí.co , Essas medidas tinham como pe r-spe ct.L
va a (efetiva ou ameaça real de) muüicipalização dos serviços de
utilidade púbIí.ca , como único meio de garantir o interesse cole
tivo(5) .
No caso dos transportes coletivos, as primei
ras medidas de regulamentação estavam consubstanciadas no ato mu
nicipal n9 643 de 05/07/34. Em 1939 foi criada uma Comissão de
Estudos de Transportes Coletivos - CETC, de cujos estudos resul
tou a proposta de criação da CMTC.
Ao lado dessa nova postura da Administração pG
blica frente ~s atividades de interesse coletivo,
desenvolvia--se um novo fenômeno de crescimento da intervenção do Estado na
economia, para o qual eram transferidos as atividades de pequ~
na rentabilidade - que exigiam alta capitalização com pequenas.
taxas de retorno.
Os serviços de transporte sobre trilhos era
uma dessas atividades, que já não interessa
à
iniciativada (como a Light( no caso dos bondes).
priv9-..
Assim, ao mesmo tempo que as condições econo
-mlcas e sociais demandavam a intervenç~o da Prefeitura noproble
ma, defendià-se, por outro lado, a sua participaç~o direta na
admí.n.í.str
açâo
e exploração desse serviço de interesse pÚblico.Ainda na exposição de motivos do ex-prefeito
Abrahão Ribeiro ..em continuação ao exposto anteriormente, encon
tramos o seguinte:
"Não
é
conveniente, por outro lado,que essa re~bilitação total dos atuais serviços (..• )seja
feita pelos mesmos métodos até hoje adotados,
isto, ao arbitrio de algumas dezenas de empr~
~;: _..; "...., ~ ••••• -1' •••• ~ !'..•.;-,... ,..""r-.r., •...•"i'Ir-.">"() I ~':"""1~,..-..r~,!,,::r_, ..~.,.r'""""II... "-"~J"~-·'\.""""""'f~~t:""!)
t.J\,.A.~ ~ •.•~._.1 ':1,"04"'- .L~",""","-' l::"J •.•"'_...., •.••...~~'\o".I\,A.-'..y'" .I..-..a_..L....:. •..••"'O-:'L,:._ .••._ -"'''--1,--::--'_0--1
a mentalidade de prestacionistas de serviços
de utilidade pública. (•.• ) Urge uma iniciati
va de grande envergadura confiar todo o servi
ço a uma única entidade. com organização
técnj"
ca adequada, elevada idoneidade, e com capac!
dade financeira capaz de não s6 obeter os ca
pi t.ais necessárias, como garanti-las com rem~
neração justa e razoãvel e geri-los com assis
t~ncia e a colaboração dos particulares inte
ressados I que poderão trazer' a contribuição de
sua experiência e o melhor de sua participação.
~ pois oportuna a solução proposta pela Muni.
nicipalidade"(6).
Ent.retanto, se a pé.lrtid.pação
da Preiei tura
era
tida como necessá.ria e aceita,
a forma como se daria essa pa.rti
cipação
era objeto
de controv6rsias.
De maneira
geral,
aceitava-se
que o poder
blico participasse,
principalmente
realizando
investimentos
cessãrios
e que não interessáva
aos particulares,
pela sua
xa rentabilidade,
mas sem prejudicar
a iniciativa
privada.
~
p~
ne
bai
:t:
dessa combinação
de interessesrmesclada
com
objetivos
d~ defesas
do interesse
coletivo,
que a CMTC
i
criada
como sociedade
de Economia
Mista.
Veremos
a seguir algumas
observações
quanto
a
evolução
dessa proposta.
Segundo
o estudo
COPLAN,
liacriação
da
CHTC,
efetuada
com certo açodamento
rfoi objeto
de. severas crít.ic<":ts"
(7).
o
prefeito
Christiano
Stockler
das Neves,con.§.
tituiu
uma comissão
para analisar
as circunstâncias
em que
foi
criada
a CMTC, e os reparos
que se lhe poderiam
fazer.
"Os
mem
bros dessa comissão,
reco.nhecendo embora
a existência
de mumer9.
sos de·feitos na organização
da nova Companhi.a, e apesar
da
pr~
ferência
que devam a outros
moldes· administrativos
,entre eles o
que fora adotado
em Londres (8), opinaram,
não obs
tant.e.pelo pro.§.
seguimento
da organização
em sociedade
mista,
a fim de evitar
o
caos que ameaçava
a cidade"(9).
(7)COPLAN,
GITC:Suas Origens,
Fãrial.í.dadese Corrportanento
até1961. SP,As
sociaçã.odos Empregados da
Clvll'C,1961, p.ll
--(8)Em Londres o serviço fora mificado sob propriedadedo Poder Pllblico e
sua administraçãoéntregue
à
um corpo de
especí.e Lí.stzi.AlçoserreJbante
à
uma
Autarquia ou Errpn~sapúbll.ca.
A ameaça de caos era entã.o o argument:o maior.
No entanto, nem o caos iminente surgira de repente,nen a propo~
ta de criação da CMTCfora parida tão rapidamente.
l'\. CMTCes teve na iminência de ser constituída
no ano de 1941, pelo prefeito Prestes Maia, na época comcaráter
de AU'rARQUIA, e não de sociedade de economia mista, por recomen dação das conclus6es do estudo da CETC.
As conclusõe-s da CETCf conforme consta do r'e :
latório dessa Comissão (10) , são as seguintes:
"A Comissão de Estudos de Transportes Coletivos,
no I Volume de seu Helatório (l1) , focalizou com
especial empenho a questão relativa ao regime
juridico-administrativo, sob o qual devem ser
explorados os serviços de transportes coleti
vos urbanos.
:t:
esse f com efeito, umdos aspectosmais delicados do problema, cuia solução nao
depende somente de consideraç6es de ordem eco
nômica. AnaLí.san do obj eti vamente o caso parti cular de são Paulo, e inspirando-se nos exem
pIos dos serviços similares estrangeiros,a Co
missão concluiu:
19 -
que se imp6e a coordenação dos vários sis temas de transportes empregados ou a empregar;
29 - que essa coordenação só pode ser eficaz
mente conseguida mediante a mificação da
propriedade e da gestão dos vários servi
(10) CEIe, Relatório da COmissão,presidida pelo Dr. Iv1a..rioLopes Leão,apr~ sentado ao Secretário de Obras e Serviços Municipais em favereiro de
1946.
(11) reI'C. R:.üatório apresentado ao então Prefe.it.o Prest_es ~..aiaem 07/3/40, reunindo cinco grossos vol urres, mantidos C'"OrrD rratéria confLdencí.al.. Nos
39 - que a unificação deve ser feita por uma
entidade semi-oficial (autarquia admini~
trati va), ou seja, um órgão de admjJ1istr~
ção municipal gozando da autonomia que
reclama o caráter industrial do serviço
a gerir".
Ao lado das conclusões, a Comissão indicou as
medidas legais para apoiar a iniciativa da Pre
feitura (lei.s federais para desapropriação e
encampação), as minutas do projeto de lei pa
ra a reorganização dos transportes, e traçou
os estatutos e regulamento dos órgãos que se
incumbiriam, numa primeira fase transitória e
depois na sua fase definitiva, dos serviços de
transportes urbanos.
A Companhia Light,. porém, em setembro de 1940,
enquanto a superior administração municipal e~
.•, -- _. -._ I _ _'-.
Cll.JJ.t::;:'I;;:llu..)l~ VJ.=':'
ciosamente uma proposta de venda do acervo ut~
lizado no serviço da viação urbana (incluindo
a linha Santo Amaro) ti (12) •
Na época, foi nomeada uma comissão que anali
sou a proposta e concluiu pela viabilidade da transação OQtercial
conforme propunha a Companhia Light.
Em junho de 1941,· quando os entendimentos es
tavam em sua fase final (a Prefeitura já havia inclusive adotado
medidas concretas para receber o acervo da Light(13), houve mu
(12) CE'1'C- Relatório,
são
Paulo, 1946, ítens 7,8 e 24.(13) Foi alugado o prédio
à
rua Quirino de Andrade,237, para escritóriocentral do órgão. Havia sido encaminhadoao D2partarr13ntoAdrnin1strat.!
dança de Governo do Estado e de orientação quanto às quest.ões de
transportes. O int:erventor federal Dr , Adhemar de Barros foi subs tituído pelo Dr. Fernando Costa. Em seguida foi promulgado o De
ereto-lei 3 • .366, em 25/07/1941, obrigando
à
Ld.qht; acont.ínuar
co~ pulsoriamente a prestação de serviços de transporte sobre trilhos.Verifica-se,do relato exposto acima, que era
Lnt.en çâo
da Prefeitura assumir para si, ·já em 1940,a gestão unificada e exclusiva dos serviços de transporte. Por outro l~dof
a iniciativa do Governo Fede ra L demons tr a a cxistêncla de urra cer ta posição
à
idªia na ~poca.Corrvêrn lembrar que a idéia de un ífií.caçào da ge,:'? tão já vinha de longa data.
O
ex-prefeito Jos~ Pires do Riojã
havia manifestado, em 1926, sua opinião favorável, conforme vi
mos ant.eriormente. O engenheiro Anhaia Mello, ex-prefeito (1933), e o Dr. Fábio Prado, também ex-prefeito (1934-38) I de fend.i.am a
Ldê ía .
:t;
o que dernon.str-a
parte de entrevistas de ambos ao jornalL. de Anha í.a M.ello (14) ~
"Já em 1922, continuou aquele eng. Anhaia de
HelIo) f na Conferência Nacional de Urbanismo
. nos Estados Unidos, nan í.eL '1'urner, o grande e.§... pecialista, traçava·o rumo a obedecer. Veja-se
bem, 1922, há 24 anos. As novidades para são
Paulo são as velharias nos outros centros ci
vi.lizados; a nossa decalagem
é
tremenda, ap~.sar da onisciência dos nossos administradores.
Jã naquela data, Turner afirmava que o trans
porte coletivo urbano
é
um
"problema social 11e nao um neg6cio. Deve ser considerado sob o
ponto de v í.st a de 11serviçol! e não de "Lucros" •
Para isso
é
mister a unificação ou gest~o Gnica, é socialização. ,Táxis, ônibus ,bondes de su
perficie, ou subterrãrieos metropolitanos devem
sel:'operados em coordenação é sob controle pQ
blico. O interesse público deve ser o único de
terminante do transporte coletivo".
Fábio Prado(15):
I1Quando prefeito,con~ebí
a
idéia de aumentar apassagem do bonde para quatrocentos réis, se~
do que a quantia correspondente ao aumento
- 200 réis - seria integralmente destinada
à
Prefeitura. Após meticuloso e permenorizad6 e~
tudo, concluiu-se ,que a medí.da em apreçodaria,
até a data do vencimento do contrato da Light ,
um lucro de 250.000 contos de réis,o que equi
vale a dizer que Municipalidade ficaria em con
dições de empreender imediatamente a realização
prática do plano de remodelação geral do sist~
ma de transporte coletivo na capital.Com essa
reserva monetária, poderia ser efetuada a com
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transporte coletivo,
e
finalmente promover aunificação de todos os meios de transporres co
letivos até então utilizados na capital pauli~
ta.
Não havia outra solução, uma vez que a Light &
& Power havia declarado não cont.inuar, de modo
algum, com o serviço de bondes. Não se trata
va de questão de preço, e ainda que a passagem
pudesse ser elevada para 400 ou 2.000 reis,não
reformafia o contrato ,pois não pretendia aque
la companhia levantar capitais para serem em
pregados nesses serviços. Diante dessa situa
ção, foi que surgiu a idéia do aimerrto das pa~
sagens. Chegou-se, mesmo, a estudar a possib!
lidade de importação de um grande nÚITerode a~
.to-ônibus, inclusive os ônibus anfíbios, isto
é, ônibus que podem ser movidos pela eletrici
dade· ou pelo combustível, ou pelos 'do
í.s
alternadamente, denominadospelos americanos de
"al.I
service 11 .:
(E conclui o Sr. Fábio Prado:)
r
) I
••• Somente um organismo, nesse caso a Munici
i
palidade,que enfeixaSse nas mãos tod6 o con
trole, centralizasse toda orientação, poderia
realmente, dar solução a esse inadiável probl~
ma do.transporte coletivo urbano da capitalll
•
o
problema não parecia ser propriamente qua~to
à
idéia de unidade administrativa. com exclusividade (rronopôl.í.odo serviço},e sim sobre QUEM teria a propriedade desserronopô'Lí.o,
A Companhia Light, que deteve o monopólio do
serviço de transporte de passageiros até 1925,lutou para
mantê--10,
ou pelo menos deter a hegemonia. Era esse o significado doseu projeto de remodelação proposto em 1926, onde era defendida
a coordenação. .' dos modos.
Os proprietários de empresas de ônibus também
nao eram contra a constituição de uma émpresa única, desde que
essa lhes pertencesse.
t;
o que se pode concluir da entrevista dopresidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passage!
ros do Estado de são Paulo, deduzindo-se que o mesmo representa
Reproduzimos aqui parte de sua entrevista ao
jornal "O ESTADO DE SÃO PAULO", em 14/02/1946.
"provaestá que, em julho de 1945,foi proposto
ao Sr. Prefeito a constituição de uma empresa
única, que abrangesse as linhas compreendidas
no setor da Avenida Brigadelro Luiz Antonio e
Auto-Estrada, at~ a Avenida Dr. Arnaldo. Esta
riam, assim, reunidas sete empresas. Tal inici§':
tiva teria sido o primeiro passo para a solu
çao racional do problema de transporte de ônl
bus em são Paulo. Cumpre notar ainda que;para
a organização dessa uní.âo de empresas,se aubme
teriam as mesmas ao regime de serviço aprego~
do pela Prefeitura, ori seja, serviço pelo cu~
to. Uma
vez
aprovada pela prática, estaria d.~lineando sem maiore~ esforços, a organização
da empresa única para o serviço dos transportes
coletivos por auto-ônibus, de características
p:r.O!?:C":J.rls: em nossa capí.i::.al. E::;::;o. ::;uL:iéUó.\..t8r .-;;
de se reconhecer f um primeiro momento teria que
contar com um aumento tarifário,mas o próprio
pÚblico seria o principal beneficiário. Eis aí
a perspectiva dos planos futuros" (16)..
Percebe-se, portanto, que a Light, os empresa
rios de ônibus e a Prefeitura, cada um por seu lado, acalentavam
a idéia de prestar o serviço de transporte coletivo com exclusi
vidade. As ações do Poder Público nesse campo refletiam a luta
entre esses setores em oposição.
Os emp~esários de ônibus, ao-oont.rârí.o 'da Light,
estavam interessados em per~a~ecer naquela atividade, que se lhes
ap re sent ava como lucrativa e promissora'.