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Representação: palavras, instituições e idéias.

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Academic year: 2017

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As฀palavras฀e฀o฀mundo฀mudam฀juntos,฀mas฀não฀em฀sim-ples฀correlação฀direta.฀Quando฀imaginamos฀a฀introdução฀ de฀ uma฀ palavra฀ nova,฀ tendemos฀ a฀ pensar฀ em฀ exemplos฀ tais฀ como฀ o฀ explorador฀ dando฀ nome฀ a฀ um฀ local฀ recém-descoberto,฀ ou฀ o฀ químico฀ preparando฀ uma฀ substância฀ recém-descoberta฀ ou฀ recém-criada.฀ Mas฀ esses฀ exemplos฀ são฀profundamente฀enganosos,฀pois฀a฀maioria฀das฀palavras฀ não฀são฀nomes;฀e฀os฀seres฀humanos฀podem,฀com฀a฀mesma฀ facilidade,฀discursar฀sobre฀o฀que฀existe฀e฀o฀que฀não฀existe.฀ No฀campo฀dos฀fenômenos฀sociais,฀culturais฀e฀políticos,฀a฀ relação฀ entre฀ as฀ palavras฀ e฀ o฀ mundo฀ é฀ ainda฀ mais฀ com-plexa,฀pois฀esses฀fenômenos฀são฀constituídos฀pela฀conduta฀ humana,฀que฀é฀profundamente฀formada฀pelo฀que฀as฀pesso-as฀pensam฀e฀dizem,฀por฀palavras.฀Então,฀para฀compreender฀

E฀IDÉIAS*

Hanna฀Fenichel฀Pitkin

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como฀as฀palavras฀e฀o฀mundo฀mudam฀juntos,฀deve-se฀olhar฀e฀ ver฀casos฀particulares,฀para฀tomar฀emprestada฀uma฀famosa฀ expressão฀de฀Wittgenstein฀(1968:฀§฀66).

O฀conceito฀de฀representação฀é฀um฀caso฀instrutivo฀por-que฀seu฀significado฀é฀altamente฀complexo฀e,฀desde฀muito฀ cedo฀ na฀ história฀ dessa฀ família฀ de฀ palavras,฀ tem฀ sido฀ alta- mente฀abstrato.฀É,฀assim,฀um฀corretivo฀útil฀para฀nossas฀fan-tasias฀sobre฀exploradores฀e฀químicos.฀A฀representação฀é,฀ em฀grande฀medida,฀um฀fenômeno฀cultural฀e฀político,฀um฀ fenômeno฀humano.฀Desse฀modo,฀o฀“mapa฀semântico”฀das฀ palavras฀inglesas฀da฀família฀“represent-”฀não฀corresponde฀ bem฀ao฀“mapa฀semântico”฀de฀termos฀cognatos฀até฀mesmo฀ em฀outros฀idiomas฀muito฀próximos฀ao฀inglês.฀Por฀exemplo,฀ a฀língua฀alemã฀tem฀três฀palavras฀–฀vertreten,฀darstellen฀e ฀reprä-sentieren฀ –฀que฀geralmente฀são฀traduzidas฀pela฀palavra฀ingle-sa฀“represent”1.฀Darstellen฀significa฀“retratar”฀ou฀“colocar฀algo฀

no฀lugar฀de”;฀vertreten฀significa฀“atuar฀como฀um฀agente฀para฀ alguém”.฀O฀significado฀de฀repräsentieren฀é฀próximo฀ao฀de฀ ver-treten,฀mas฀é฀mais฀formal฀e฀possui฀conotações฀mais฀elevadas฀ (teóricos฀ alemães฀ da฀ política,฀ às฀ vezes,฀ argumentam฀ que฀ meros฀interesses฀privados฀egoístas฀podem฀ser฀vertreten,฀mas฀ o฀bem฀comum฀ou฀o฀bem฀do฀Estado฀devem฀ser฀repräsentiert).฀ Entretanto,฀o฀significado฀de฀repräsentieren฀não฀é,฀de฀forma฀ alguma,฀próximo฀àquele฀de฀darstellen.฀Então,฀para฀quem฀fala฀ em฀inglês฀o฀modo฀pelo฀qual฀uma฀pintura,฀um฀pintor฀ou฀um฀ ator฀de฀palco฀representam,฀e฀o฀modo฀pelo฀qual฀um฀agen-te฀ou฀um฀legislador฀eleito฀representam,฀obviamente,฀estão฀ ligados฀ao฀mesmo฀conceito.฀O฀mesmo฀não฀acontece฀para฀ quem฀fala฀em฀alemão.฀A฀história฀da฀representação฀legal,฀ artística,฀política฀e฀de฀outros฀tipos฀de฀representação฀entre฀

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povos฀que฀falam฀alemão฀também฀difere,฀é฀claro,฀da฀histó-ria฀correspondente฀entre฀povos฀que฀falam฀inglês,฀mas฀não฀ de฀uma฀maneira฀que฀corresponda฀de฀forma฀pura฀e฀simples฀ àquelas฀diferenças฀semânticas.฀

Contar฀toda฀a฀história฀do฀conceito฀de฀representação฀exi-giria฀detalhados฀relatos฀paralelos฀de฀história฀verbal฀e฀social,฀ política฀e฀cultural,฀tarefa฀que฀em฀muito฀ultrapassa฀o฀escopo฀ deste฀ensaio.฀Seu฀foco฀é฀limitado฀principalmente฀à฀história฀ etimológica,฀com฀incursões฀ocasionais฀na฀história฀sociopo- lítica;฀e฀seu฀interesse฀primário฀está฀na฀representação฀políti-ca,฀embora฀aquele฀foco฀seja฀tratado฀em฀relação฀aos฀muitos฀ outros฀campos฀de฀significado฀dessa฀família฀de฀palavras.

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2.฀Lagarde฀(1937:฀429n.),฀tradução฀minha.฀Ver฀também฀Tierney฀(1955:฀4,฀34-36,฀45). 3.฀Minha฀informação฀neste฀parágrafo,฀e฀no฀seguinte,฀vem฀de฀Lagarde฀(1937). 4.฀Roffredus,฀Quaestiones฀Sabbathinae,฀citado฀por฀Lagarde฀(1937:฀429n).฀Georges฀de฀ Lagarde฀descobriu฀uma฀passagem฀muito฀interessante฀nos฀escritos฀de฀um฀jurista฀do฀

Na฀Idade฀Média,฀a฀palavra฀é฀estendida฀na฀literatura฀da฀ Cristandade฀a฀um฀tipo฀de฀encarnação฀mística,฀“aplicada฀à฀ comunidade฀cristã฀em฀seus฀aspectos฀mais฀incorpóreos”2.฀Mas฀

sua฀real฀expansão฀começa฀no฀século฀XIII฀e฀no฀início฀do฀sécu-lo฀XIV,฀quando฀se฀diz฀com฀freqüência฀que฀o฀papa฀e฀os฀car-฀ deais฀representam฀a฀pessoa฀de฀Cristo฀e฀dos฀apóstolos3

.฀A฀cono-tação฀ainda฀não฀é฀de฀delegação,฀nem฀de฀agência;฀os฀líderes฀ da฀Igreja฀são฀vistos฀como฀a฀encarnação฀e฀a฀imagem฀de฀Cristo฀ e฀dos฀apóstolos,฀e฀ocupam฀seus฀lugares฀por฀sucessão.฀Ao฀mes-mo฀tempo,฀juristas฀medievais฀começam฀a฀usar฀o฀termo฀para฀ a฀personificação฀da฀vida฀coletiva.฀Uma฀comunidade,฀embora฀ não฀seja฀um฀ser฀humano,฀deve฀ser฀vista฀como฀uma฀pessoa฀ ( persona฀repraesentata,฀repraesenta฀unam฀personam,฀unium฀perso-nae฀repraesentat฀vicem).฀A฀ênfase฀está฀na฀natureza฀fictícia฀da฀ conexão:฀não฀se฀trata฀de฀uma฀pessoa฀real,฀mas฀de฀uma฀pessoa฀ apenas฀por฀representação฀(persona฀non฀vera฀sed฀repraesentate).

Enquanto฀isso,฀há฀uma฀idéia฀presente฀entre฀os฀glosa-dores,฀derivada฀do฀direito฀romano,฀de฀que฀o฀príncipe฀ou฀o฀ imperador฀atua฀pelo฀povo฀romano,฀ocupa฀seu฀lugar,฀cuida฀ de฀seu฀bem-estar.฀No฀século฀XIII,฀os฀canonistas฀começam฀a฀ adotar฀essa฀idéia,฀a฀aperfeiçoá-la,฀desenvolvê-la฀e฀aplicá-la฀à฀ vida฀religiosa฀comunal.฀Todavia,฀nem฀os฀glosadores฀nem฀os฀ canonistas฀usam฀a฀palavra฀“representação”฀ao฀desenvolver฀ essas฀idéias฀presentes฀no฀direito฀romano.฀O฀paralelo฀com฀o฀ pensamento฀eclesiástico฀alegórico,฀porém,฀é฀suficientemen-te฀próximo,฀de฀modo฀que฀em฀meados฀do฀século฀XIII,฀um฀ escritor฀familiarizado฀com฀as฀duas฀disciplinas฀podia฀argu-mentar฀que฀o฀magistrado฀representa฀a฀imagem฀de฀todo฀o฀ Estado4

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Um฀desenvolvimento฀semelhante฀parece฀ter฀ocorrido฀ no฀francês.฀Pelo฀menos฀de฀acordo฀com฀o฀Littré,฀a฀palavra฀

représenter฀era฀usada฀para฀imagens฀e฀objetos฀inanimados฀que฀ encarnam฀abstrações,฀muito฀antes฀de฀vir฀a฀significar฀algo฀ como฀uma฀pessoa฀agindo฀por฀outras6.฀Mas,฀no฀século฀XIII,฀

pode-se฀falar฀de฀um฀encarregado฀representando฀a฀pessoa฀ de฀seu฀senhor.

A฀mesma฀seqüência฀de฀desenvolvimento฀também฀ocorre฀ na฀língua฀inglesa,฀depois฀do฀aparecimento฀da฀palavra฀ “repre-sent”,฀provavelmente฀no฀final฀do฀século฀XIV7

.฀Naquele฀pon-to,฀de฀acordo฀com฀o฀Oxford฀English฀Dictionary ,฀a฀palavra฀signi-fica฀“trazer฀a฀própria฀pessoa,฀ou฀outra฀pessoa,฀à฀presença฀de฀

final฀do฀século฀XIII,฀em฀que฀o฀sentido฀de฀representação฀imagética฀de฀uma฀comu-nidade฀se฀encontra฀com฀uma฀noção฀de฀agência฀legal.฀O฀jurista฀Albert฀de฀Gaudino฀ pergunta฀se฀uma฀comunidade฀pode฀pronunciar-se฀por฀meio฀de฀um฀advogado฀(par฀ procureur )฀em฀um฀caso฀criminal.฀Em฀certo฀sentido,฀diz฀ele,฀se฀é฀tentado฀a฀respon-der฀que฀não,฀posto฀que฀toda฀pessoa฀privada฀deve฀apresentar-se฀em฀pessoa,฀e฀uma฀ coletividade฀(universitas)฀deve฀ser฀vista฀como฀uma฀pessoa.฀Mas,฀em฀outro฀sentido,฀ o฀advogado฀representa฀apenas฀a฀pessoa฀fictícia฀da฀comunidade.฀Portanto,฀se฀ele฀se฀ apresenta,฀é฀como฀se฀a฀comunidade฀se฀apresentasse฀em฀pessoa.฀Aqui฀temos฀não฀ apenas฀a฀coletividade฀que฀é฀tomada฀como฀uma฀pessoa฀por฀meio฀de฀uma฀ficção฀ (unius฀personae฀repraesentat฀vicem),฀mas฀também฀o฀advogado฀que฀se฀apresenta฀no฀ lugar฀desta฀pessoa฀(qui฀repraesentat฀vicem฀universitatis).฀Neste฀momento,฀a฀palavra฀ “representar”฀ainda฀não฀designa฀as฀atividades฀usuais฀de฀um฀advogado฀no฀tribunal;฀ Gaudino฀usa฀intervenire ฀para฀designar฀o฀modo฀pelo฀qual฀um฀magistrado฀ou฀advoga-do฀substitui฀a฀comunidade฀e฀atua฀por฀ela.

5.฀Lagarde฀(1937:฀433฀e฀n.).฀Tierney฀(1955:฀126)฀sugere฀que฀o฀conceito฀de฀super-visor฀(proctor )฀pode฀figurar฀significativamente฀na฀transição฀de฀imagem฀ou฀encarna-ção฀para฀ação฀de฀autoridade.฀

6.฀Littré฀(1875).฀O฀desenvolvimento฀em฀latim฀provavelmente฀teve฀uma฀influência฀ maior฀sobre฀o฀francês฀do฀que฀sobre฀o฀inglês.฀C.฀H.฀MacIlwain฀(1932:฀689)฀cita฀uma฀ convocação฀do฀início฀do฀século฀XIV฀feita฀pelo฀rei฀da฀França฀e฀dirigida฀aos฀clérigos฀ de฀Tours,฀ordenando-lhes฀a฀vir฀em฀pessoa฀ou฀a฀enviar฀“exvobis฀unum฀nobis฀ad฀premissa฀ mittatis,฀qui฀vicem฀omnium฀representet฀et฀omnium฀habeat฀plenariam฀potestatem ”.฀Documen-tos฀correspondentes฀na฀Inglaterra฀não฀parecem฀usar฀repraesentare.

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alguém”;฀“simbolizar฀ou฀encarnar฀concretamente”;฀“trazer฀ à฀mente”.฀O฀adjetivo฀“representativo”฀significa฀“que฀serve฀ para฀representar,฀figurar,฀retratar฀ou฀simbolizar”.฀Durante฀o฀ século฀XV,฀o฀verbo฀“representar”฀passa฀a฀significar฀também฀ “retratar,฀figurar,฀ou฀delinear”.฀Ele฀passa฀a฀ser฀aplicado฀a฀ objetos฀inanimados฀que฀“ocupam฀o฀lugar฀de฀ou฀correspon-dem฀a”฀algo฀ou฀alguém.฀E฀também฀significa฀“produzir฀uma฀ peça”,฀aparentemente฀um฀tipo฀de฀figuração฀no฀palco.฀Ao฀ mesmo฀tempo,฀surge฀o฀substantivo฀“representação”,฀que฀sig-nifica฀“imagem,฀figura฀ou฀pintura”.฀Os฀seres฀humanos฀não฀ estão฀completamente฀ausentes฀desses฀primeiros฀usos;฀eles฀ aparecem฀de฀duas฀maneiras.฀Em฀primeiro฀lugar,฀a฀represen- tação฀pode฀ser฀um฀objeto฀inanimado฀ou฀uma฀imagem฀subs-tituindo฀um฀ser฀humano.฀Em฀segundo฀lugar,฀representar฀é฀ uma฀atividade฀humana,฀mas฀não฀um฀agir฀para฀outros;฀é฀a฀ atividade฀de฀apresentar,฀de฀figurar,฀de฀pintar฀um฀quadro฀ou฀ encenar฀uma฀peça.฀Até฀o฀século฀XVI฀não฀se฀encontra฀um฀ exemplo฀de฀“representar”฀com฀o฀significado฀de฀“tomar฀ou฀ ocupar฀o฀lugar฀de฀outra฀pessoa,฀substituir”;฀e฀até฀1595฀não฀ há฀um฀exemplo฀de฀representar฀como฀“atuar฀para฀alguém฀ como฀seu฀agente฀autorizado฀ou฀deputado”8.

O฀ desenvolvimento฀ no฀ significado฀ de฀ “representar”,฀ que฀ocorreu฀no฀latim฀no฀século฀XIII฀e฀no฀início฀do฀século฀ XIV,฀e฀que฀ao฀menos฀estava฀ocorrendo฀no฀francês฀no฀século฀ XIII,฀realmente฀não฀ocorreu฀no฀inglês฀até฀o฀século฀XVI?฀ Ou฀simplesmente฀faltam฀exemplos฀mais฀antigos฀no฀Oxford฀ English฀Dictionary,฀embora฀a฀mudança฀tenha฀ocorrido฀mais฀ cedo?฀É฀possível฀que฀obras฀legais,฀jurídicas฀e฀políticas,฀nas฀

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quais฀ pudesse฀ ser฀ empregado฀ representar฀ no฀ sentido฀ de฀ “atuar฀para”,฀não฀tenham฀sido฀escritas฀em฀inglês฀até฀esse฀ momento฀tardio,฀nem฀mesmo฀na฀Inglaterra.฀Em฀vez฀disso,฀ tais฀escritos฀podem฀ter฀sido฀formulados฀em฀latim฀ou฀francês.฀ Embora฀um฀estatuto฀de฀1362฀determinasse฀que฀o฀inglês฀fos- se฀usado฀nas฀cortes฀judiciais,฀os฀registros฀das฀decisões฀de฀tri-bunal฀até฀1500฀ainda฀estão฀em฀francês9.฀E฀os฀estatutos฀foram฀

escritos฀em฀latim฀por฀todo฀o฀século฀XV10.฀A฀petição฀escrita฀

em฀inglês฀mais฀antiga฀que฀se฀conhece฀é฀de฀1414฀(Chrimes,฀ 1936:฀132).

Para฀compreender฀como฀o฀conceito฀de฀representação฀ entrou฀no฀campo฀da฀agência฀e฀da฀atividade฀política,฀deve- se฀ter฀em฀mente฀o฀desenvolvimento฀histórico฀de฀institui-ções,฀o฀desenvolvimento฀correspondente฀no฀pensamento฀ interpretativo฀ sobre฀ aquelas฀ instituições฀ e฀ o฀ desenvol-vimento฀etimológico฀dessa฀família฀de฀palavras.฀Hoje฀em฀ dia฀é฀amplamente฀aceito฀que฀a฀convocação฀de฀cavaleiros฀ e฀burgueses฀para฀reunirem-se฀no฀Parlamento฀com฀o฀Rei฀ e฀os฀lordes฀começou฀como฀uma฀questão฀de฀conveniência฀ administrativa฀e฀política฀para฀o฀Rei11.฀Os฀cavaleiros฀e฀os฀

burgueses฀iam฀ao฀parlamento฀para฀dar฀consentimento฀à฀ cobrança฀de฀tributos,฀para฀dar฀informações,฀para฀“trazer฀o฀ registro”฀dos฀tribunais฀locais฀em฀casos฀de฀disputa฀judicial,฀ e฀ para฀ levar฀ informações฀ de฀ volta฀ às฀ suas฀ comunidades฀ (Cam,฀1944,฀capítulo฀15;฀MacIlwain,฀1932:฀669;฀Chrimes,฀ 1936:฀142-145).฀Inicialmente,฀o฀ponto฀crucial฀era฀que฀eles฀ fossem฀ao฀Parlamento฀com฀autoridade฀para฀obrigar฀suas฀

9.฀A฀lei฀está฀em฀Lodge฀e฀Thornton฀(1935:฀268).฀Stanley฀Bertram฀Chrimes฀(1936)฀apre-senta฀excertos฀de฀Year฀Book฀Cases฀ao฀longo฀do฀século฀XV,฀todos฀ainda฀em฀francês. 10.฀Por฀exemplo,฀aquelas฀citadas฀em฀Lodge฀e฀Thornton฀(1935).

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comunidades฀ a฀ pagar฀ os฀ tributos฀ que฀ seriam฀ cobrados.฀ Um฀pouco฀mais฀tarde,฀eles฀começaram฀a฀ser฀usados฀pelas฀ comunidades฀ como฀ um฀ meio฀ de฀ apresentar฀ queixas฀ ao฀ Rei,฀e฀houve฀tentativas฀de฀insistir฀na฀solução฀dessas฀queixas฀ antes฀de฀dar฀consentimento฀a฀impostos.฀Com฀esse฀desen-volvimento฀começou฀um฀reconhecimento฀gradual฀de฀que฀ o฀membro฀poderia฀promover฀o฀interesse฀de฀sua฀comunida-de,฀além฀de฀comprometê-la฀com฀o฀pagamento฀dos฀tributos฀ (Cam,฀1944:฀cap.฀15;฀Pollard,฀1926:฀158-159).฀Os฀cavalei-ros฀e฀os฀burgueses฀que฀iam฀ao฀Parlamento฀começaram฀a฀ ser฀vistos฀como฀servidores฀ou฀agentes฀de฀suas฀comunida- des.฀Eles฀eram฀pagos฀pelas฀comunidades฀e,฀quando฀retor-navam,฀ podiam฀ ser฀ solicitados฀ a฀ prestar฀ contas฀ do฀ que฀ haviam฀feito฀no฀Parlamento฀(Cam,฀1944,฀capítulos฀15฀e฀16,฀ especialmente฀as฀páginas฀230-232;฀McKisack,฀1932:฀82-99;฀ Brown,฀1939:฀23-24;฀e฀Emden,฀1956:฀12).฀Eles฀iam฀ao฀Parla- mento฀com฀autoridade฀para฀comprometer฀suas฀comunida-des,฀mas฀com฀freqüência฀havia฀limites฀específicos฀para฀essa฀ autoridade,฀ou฀então฀esta฀vinha฀acompanhada฀de฀instru- ções.฀E฀alguns฀membros฀tinham฀que฀consultar฀suas฀comu-nidades฀antes฀de฀dar฀consentimento฀a฀um฀tributo฀atípico฀ (McKisack,฀1932:฀130).

Do฀século฀XIV฀ao฀século฀XVII,฀houve฀um฀desenvolvi- mento฀gradual฀da฀ação฀unificada฀de฀cavaleiros฀e฀burgue-ses฀no฀Parlamento12.฀Eles฀descobriram฀que฀tinham฀queixas฀

comuns,฀e฀começaram฀a฀apresentar฀petições฀comuns,฀em฀ vez฀de฀apresentar฀apenas฀petições฀separadas.฀Eles฀passaram฀ a฀ser฀chamados฀de฀“membros”฀do฀Parlamento.฀Essa฀ação฀ conjunta฀avançou฀passo฀a฀passo฀com฀uma฀consciência฀cres-cente฀de฀si฀mesmos฀como฀um฀corpo฀único.฀Os฀parlamentos฀

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vam฀a฀conhecer฀uns฀aos฀outros฀e฀a฀trabalharem฀juntos.฀Sua฀ ação฀conjunta฀freqüentemente฀era฀em฀oposição฀ao฀Rei,฀e,฀ agindo฀como฀uma฀corporação,฀eles฀encontravam฀força฀para฀ oporem-se฀ao฀Rei.฀Esse฀desenvolvimento฀culminou฀no฀perí-odo฀da฀Guerra฀Civil,฀do฀Protetorado฀e฀da฀República฀( Com-monwealth),฀quando฀não฀havia฀Rei฀ao฀qual฀se฀opor฀ou฀com฀o฀ qual฀consentir.฀Repentinamente,฀havia฀apenas฀o฀Parlamento฀ para฀governar฀a฀nação฀e฀para฀escolher฀o฀líder฀do฀governo,฀ em฀nome฀da฀nação.

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enviado฀ao฀Parlamento,฀e฀nele฀obtém฀assento,฀ele฀serve฀ao฀ país฀como฀um฀todo,฀pois฀a฀finalidade฀de฀sua฀ida฀para฀lá฀é฀ geral,฀como฀está฀escrito฀no฀documento฀de฀sua฀eleição”13.

Essas฀visões฀em฀mudança฀sobre฀a฀função฀dos฀membros฀ do฀Parlamento฀ligaram-se฀a฀duas฀outras฀tradições฀de฀pen-samento:฀a฀idéia฀de฀que฀todos฀os฀homens฀estão฀presentes฀ no฀Parlamento,฀e฀a฀idéia฀de฀que฀o฀governante฀simboliza฀ou฀ encarna฀o฀país฀como฀um฀todo.฀A฀primeira฀idéia฀é,฀essencial-mente,฀uma฀ficção฀legal,฀que฀provavelmente฀se฀originou฀na฀ doutrina฀medieval฀quod฀omnes฀tangit ,฀vinda฀do฀direito฀roma-no,฀ segundo฀ a฀ qual฀ as฀ partes฀ que฀ têm฀ direitos฀ legais฀ em฀ jogo฀numa฀ação฀judicial฀têm฀direito฀a฀estar฀presentes฀ou,฀ ao฀menos,฀serem฀consultadas฀na฀decisão฀da฀ação฀(Pitkin,฀ 1967:฀cap.฀4,฀especialmente฀nota฀de฀rodapé฀n.฀89).฀Assim,฀a฀ suposição฀era฀que฀o฀Parlamento,฀considerado฀um฀tribunal฀ e฀não฀uma฀agência฀legislativa,฀tinha฀o฀consentimento฀e฀a฀ participação฀de฀todos฀os฀contribuintes.฀No฀século฀XIV,฀um฀ juiz฀poderia฀argumentar฀que฀não฀há฀desculpas฀para฀a฀igno-rância฀da฀lei,฀posto฀que฀todos฀são฀considerados฀presentes฀ quando฀o฀Parlamento฀atua฀(ibid.).฀É฀claro฀que฀essa฀não฀é฀ uma฀doutrina฀democrática฀da฀época.

A฀outra฀idéia฀que฀vem฀para฀enriquecer฀a฀tradição฀de฀ pensamento฀sobre฀o฀Parlamento฀é฀a฀idéia฀de฀que฀toda฀a฀

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14.฀Gierke฀(1913,฀parte฀2,฀capítulo฀4);฀ver฀também,฀de฀modo฀mais฀geral,฀Gierke฀ (1881);฀Kern฀(1939,฀parte฀1);฀Hauck฀(1907);฀Hintze฀(1929-1930:฀230);฀Lagarde฀ (1937);฀Lewis฀(1954,฀vol.฀I:฀195,฀242,฀263-264;฀vol.฀II:฀415);฀Kantorowicz฀(1957). 15.฀Kern฀(1939:฀141).฀Cf.฀Clarke฀(1936:฀290),฀que฀diz฀que฀a฀idéia฀“resiste฀à฀análise”;฀ e฀Wolff฀(1934:฀13-16).

nação฀está,฀de฀alguma฀forma,฀encarnada฀em฀seu฀governante,฀ assim฀como฀a฀Igreja฀está฀encarnada฀em฀Cristo฀ou฀no฀Papa,฀ depois฀Dele.฀Esta฀é฀uma฀concepção฀medieval฀e฀mística:฀o฀ Rei฀não฀é฀apenas฀a฀cabeça฀do฀corpo฀da฀nação,฀nem฀ape-nas฀o฀proprietário฀de฀todo฀o฀reino;฀ele฀é฀a฀coroa,฀o฀reino,฀a฀ nação14

.฀A฀idéia฀vai฀além฀da฀representação฀ou฀da฀simboliza-ção฀como฀nós฀agora฀as฀concebemos฀e฀envolve฀uma฀unidade฀ mística฀que฀“a฀análise฀teórica฀dificilmente฀pode฀separar”15.฀

A฀palavra฀latina฀repraesentare฀ passa฀gradualmente฀a฀ser฀uti-lizada฀em฀conexão฀com฀esse฀conjunto฀de฀idéias.฀Então,฀à฀ medida฀que฀a฀autoridade฀do฀Parlamento฀cresce,฀e฀seu฀papel฀ em฀ declarar฀ a฀ lei฀ é฀ reconhecido฀ mais฀ amplamente,฀ essa฀ posição฀simbólica฀é฀atribuída฀conjuntamente฀ao฀Rei-no-Par- lamento,฀como฀um฀corpo฀ou฀corporação฀únicos฀(Wilkin-son,฀1949:฀502-509;฀Brown,฀1939:฀29;฀Hatschek,฀1905:฀239).฀ Assim,฀o฀Rei-no-Parlamento฀que฀governa฀o฀reino฀também฀é฀ visto฀como฀seu฀equivalente฀místico,฀ou฀encarnação.

Essas฀idéias฀e฀doutrinas฀variadas฀convergem฀de฀forma฀ muito฀natural.฀O฀Rei-no-Parlamento฀é฀o฀equivalente฀místi-co฀ou฀a฀encarnação฀de฀todo฀o฀reino,฀e฀todos฀que฀vivem฀no฀ reino฀devem฀ser฀considerados฀presentes฀no฀Parlamento.฀Os฀ Lordes,฀os฀bispos฀e฀o฀próprio฀Rei฀estão฀presentes฀em฀pessoa;฀ os฀Comuns฀como฀um฀todo฀(como฀uma฀ordem ,฀por฀certo฀tem-po)฀estão฀presentes฀por฀meio฀de฀seu฀grupo฀de฀procuradores฀ (Chrimes,฀1936:฀81-126).฀Finalmente,฀concebe-se฀que฀todo฀ cavaleiro฀ou฀burguês฀atua฀para฀todas฀as฀pessoas฀comuns,฀e฀ para฀o฀reino฀todo.

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Anglorum,฀de฀Sir฀Thomas฀Smith,฀publicado฀naquele฀ano16.฀

A฀obra฀de฀Smith฀também฀é฀uma฀das฀primeiras฀aplicações฀ conhecidas฀ da฀ palavra฀ inglesa฀ “represent”฀ ao฀ Parlamento.฀ Smith฀utiliza฀a฀palavra฀uma฀vez฀só,฀mas฀a฀utiliza฀num฀ponto฀ crucial,฀ao฀escrever฀sobre฀“o฀Parlamento฀da฀Inglaterra,฀que฀ representa฀e฀tem฀o฀poder฀de฀todo฀o฀reino,฀tanto฀a฀cabe-ça฀quanto฀o฀corpo.฀Pois,฀entende-se฀que฀todo฀inglês฀está฀ presente฀ali,฀seja฀em฀pessoa,฀seja฀por฀procuração฀ou฀por฀ meio฀de฀delegados฀(...)฀e฀o฀consentimento฀do฀Parlamento฀ é฀considerado฀como฀o฀consentimento฀de฀todos฀os฀homens”฀ (Smith,฀1906:฀49).฀Smith฀afirma฀que฀o฀Parlamento฀represen-ta฀todo฀o฀reino฀(ou฀representa฀o฀poder฀de฀todo฀o฀reino?),฀ mas฀ele฀não฀aplica฀a฀palavra฀aos฀membros฀do฀Parlamento,฀ ou฀àqueles฀membros฀em฀particular฀que฀estão฀no฀Parlamen-to฀como฀procuradores฀e฀delegados฀para฀os฀Comuns.฀Este฀ parece฀ser฀o฀padrão฀em฀todas฀as฀primeiras฀aplicações฀da฀ palavra฀às฀instituições฀parlamentares฀da฀Inglaterra;฀é฀o฀Par-lamento฀como฀um฀todo฀(freqüentemente฀incluindo฀o฀Rei)฀ que฀representa฀o฀reino฀todo.

Quase฀meio฀século฀se฀passa,฀depois฀da฀obra฀de฀Smith,฀ até฀que฀se฀diga฀novamente฀que฀o฀Parlamento฀“representa”,฀ mas฀nesse฀ínterim฀começa฀um฀florescimento฀notável฀de฀sig- nificados฀e฀formas฀nessa฀família฀de฀termos.฀Particularmen-te,฀no฀segundo฀quartil฀do฀século฀XVII,฀a฀família฀“represent”฀ ganha฀ conotação฀ política,฀ sem฀ dúvida฀ sob฀ o฀ estímulo฀ da฀ panfletagem฀e฀do฀debate฀político฀que฀precedeu,฀acompa-nhou฀e฀sucedeu฀a฀Guerra฀Civil.฀Mas฀o฀florescimento฀não฀ é,฀de฀forma฀alguma,฀confinado฀à฀política.฀No฀período฀que฀ vai฀da฀obra฀de฀Smith฀até฀a฀Revolução฀Gloriosa,฀o฀inglês฀se฀ enriquece฀com฀os฀termos฀“representator”฀(1607),฀“representant”฀ (1622),฀“representee”฀(1624),฀“representance”฀(1633),฀ “representa-tory”฀(1674),฀“representativer”฀(1676),฀“representamen”฀(1677),฀

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17.฀Chisholm฀(1910-1911:฀109);฀Hintze฀(1929-1930:฀235).฀Alguns฀escritores,฀en- tretanto,฀argumentam฀que฀o฀termo฀“representação”฀foi฀aplicado฀em฀primeiro฀lu-gar฀às฀atividades฀de฀delegados฀e฀agentes;฀em฀seguida฀aos฀membros฀individuais฀do฀ Parlamento,฀à฀medida฀que฀eram฀concebidos฀como฀agentes;฀e฀apenas฀de฀forma฀ derivada฀ao฀Parlamento฀como฀um฀todo.฀Ver฀especialmente฀Hermens฀(1941:฀5);฀ Lewis฀(1877:฀97-98).฀Talvez฀essas฀visões฀se฀baseiem฀em฀certa฀confusão฀entre฀o฀uso฀ da฀palavra฀latina฀e฀da฀palavra฀inglesa฀nesse฀período.฀

além฀de฀muitos฀significados฀novos฀para฀as฀palavras฀dessa฀ família฀que฀já฀existiam.฀Obviamente,฀muitas฀dessas฀inova-ções฀ não฀ foram฀ mantidas฀ no฀ inglês฀ moderno,฀ e฀ algumas฀ delas฀não฀perduraram฀além฀do฀século฀XVII.฀Não฀obstante,฀ a฀politização฀da฀idéia฀de฀representação฀parece฀ter฀ocorrido฀ contra฀o฀pano฀de฀fundo฀de฀uma฀expansão฀geral฀e฀da฀fluidez฀ nessa฀região฀conceitual.

A฀evidência฀etimológica฀não฀é฀inteiramente฀clara,฀mas฀ sugere฀que฀toda฀a฀família฀de฀termos฀parece฀ter฀sido฀apli-cada฀primeiramente฀ao฀Parlamento฀como฀um฀todo,฀ou฀aos฀ Comuns฀como฀um฀grupo17

.฀E฀os฀significados฀estão฀obvia-mente฀em฀transição,฀do฀antigo฀“pôr-se฀em฀lugar฀de฀outros”,฀ pela฀via฀da฀substituição,฀para฀algo฀como฀“atuar฀para฀outros”.฀ Os฀ termos฀ parecem฀ ser฀ utilizados,฀ primeiramente,฀ como฀ uma฀expressão฀de฀–฀e฀como฀uma฀demanda฀por฀–฀autori-dade,฀poder฀e฀prestígio.฀Que฀os฀Lordes฀fiquem฀cientes:฀os฀ Comuns฀representam฀o฀reino฀todo.฀Que฀o฀Rei฀fique฀ciente:฀ o฀Parlamento฀representa฀o฀reino.฀Em฀nenhum฀momento฀ durante฀esse฀período฀tais฀palavras฀são฀usadas฀para฀expressar฀ a฀relação฀de฀um฀membro฀individual฀dos฀Comuns฀com฀sua฀ base฀particular,฀seu฀dever฀de฀obedecer฀aos฀desejos฀daqueles฀ que฀representa,฀seu฀poder฀de฀comprometê-los฀com฀decisões฀ tomadas,฀ou฀qualquer฀coisa฀do฀tipo.฀Existe,฀é฀claro,฀a฀idéia฀ de฀que฀os฀membros฀do฀Parlamento฀são฀delegados฀ou฀agen-tes฀de฀suas฀comunidades,฀mas฀ela฀não฀é฀expressa฀pelo฀termo฀ “representação”.

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18.฀De฀acordo฀com฀o฀Oxford฀English฀Dictionary,฀nenhum฀termo฀alternativo฀sobrevive฀ ao฀século฀XVII.฀É฀claro,฀no฀entanto,฀que฀a฀falta฀de฀exemplos฀posteriores฀no฀dicio-nário฀não฀é฀uma฀prova.฀Para฀exemplos฀do฀novo฀uso฀do฀termo฀nos฀parlamentos฀do฀ Protetorado฀e฀depois,฀ver฀Brown฀(1939);฀Emden฀(1956:฀15).

19.฀The฀Elements฀of฀Law,฀concluído฀em฀1640,฀não฀foi฀publicado฀até฀1650.฀De฀cive,฀ concluído฀em฀1642,฀foi฀publicado฀pela฀primeira฀vez฀em฀latim฀e฀não฀apareceu฀em฀ inglês฀até฀1651,฀ano฀da฀publicação฀de฀Leviathan.

1651,฀quando฀Isaac฀Pennington,฀o฀Jovem,฀escreve:฀“O฀direi- to฀fundamental,฀segurança฀e฀liberdade฀do฀Povo;฀que฀radi-ca฀no฀próprio฀Povo,฀e฀de฀forma฀derivada฀no฀Parlamento,฀ nos฀substitutos฀ou฀nos฀representantes฀do฀povo”฀(citado฀por฀ Chisholm,฀1910-1911:฀109;฀grifo฀meu).฀O฀substantivo฀é฀apli- cado฀deste฀modo,฀com฀freqüência฀crescente,฀nos฀parlamen- tos฀do฀Protetorado,฀até฀que฀finalmente฀este฀se฀torna฀o฀prin-cipal฀significado฀do฀substantivo,฀e฀vários฀termos฀alternativos฀ se฀tornam฀obsoletos18.

Mas฀1651฀também฀é฀o฀ano฀em฀que฀Hobbes฀publicou฀ o฀Leviathan,฀o฀primeiro฀exame฀da฀idéia฀de฀representação฀ na฀teoria฀política.฀Duas฀vezes฀antes,฀em฀1640฀e฀em฀1642,฀ Hobbes฀tinha฀concluído฀argumentos฀semelhantes฀àqueles฀ do฀Leviathan,฀derivando฀a฀soberania฀e฀a฀obrigação฀política฀ de฀um฀contrato฀social฀celebrado฀num฀estado฀de฀natureza฀ anterior19.฀De฀alguma฀maneira,฀na฀década฀seguinte,฀e฀em฀

meio฀à฀turbulência฀semântica฀na฀família฀“represent-”,฀Hob-bes฀vislumbrou฀uma฀forma฀brilhante฀de฀aplicar฀a฀palavra฀ “representação”฀ao฀seu฀argumento.

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29

“Diz-se฀que฀uma฀República฀(Commonwealth)฀se฀instituiu฀ quando฀uma฀multidão฀de฀homens฀concorda฀e฀pactua,฀cada฀ um฀com฀o฀outro,฀que฀determinado฀homem,฀ou฀assembléia฀de฀ homens,฀deve฀receber฀da฀maior฀parte฀o฀direito฀de฀apresentar฀ a฀pessoa฀de฀todos฀eles,฀isto฀é,฀de฀ser฀seu฀representante;฀todos฀ [...]฀devem฀autorizar฀todas฀as฀ações฀e฀julgamentos฀daquele฀ homem,฀ou฀assembléia฀de฀homens,฀como฀se฀fossem฀seus฀ próprios.”฀(Hobbes,฀1839-1845,฀vol.฀III:฀159-160)

Essa฀ação฀solda฀a฀multidão฀de฀indivíduos฀em฀um฀único฀e฀ duradouro฀todo,฀“a฀pessoa฀de฀todos”.฀O฀soberano฀represen-ta฀aquela฀pessoa฀singular,฀pública;฀na฀verdade,฀é฀porque฀ele฀ a฀representa฀que฀ela฀pode฀ser฀considerada฀uma฀unidade.

Pela฀definição฀formalista฀de฀Hobbes,฀ao฀ser฀autorizado,฀ o฀representante฀adquire฀novos฀direitos฀e฀poderes;฀o฀repre-sentado฀ adquire฀ apenas฀ novas฀ obrigações.฀ Mas฀ à฀ medida฀ que฀o฀termo฀se฀aplicava฀à฀agência฀individual,฀no฀uso฀comum฀ daquele฀ tempo,฀ ele฀ certamente฀ já฀ incluía฀ implicações฀ de฀ algumas฀ obrigações฀ ou฀ padrões,฀ restringindo฀ o฀ que฀ o฀ representante฀como฀tal฀deveria฀fazer฀e฀como฀a฀atividade฀de฀ representar฀deveria฀ser฀conduzida.฀Na฀verdade,฀apesar฀de฀sua฀ definição฀formalista,฀o฀próprio฀Hobbes฀ocasionalmente฀usa-va฀a฀palavra฀nessa฀acepção฀comum.฀Assim,฀a฀despeito฀do฀fato฀ de฀conscientemente฀pretender฀esse฀efeito,฀seu฀argumento฀ político฀sobre฀a฀soberania฀explora฀a฀discrepância฀entre฀sua฀ definição฀formal฀e฀o฀uso฀comum.฀Ao฀chamar฀o฀soberano฀de฀ representante,฀Hobbes฀constantemente฀sugere฀que฀o฀sobe-rano฀fará฀o฀que฀se฀espera฀que฀os฀representantes฀façam,฀não฀ apenas฀o฀que฀lhe฀satisfaz.฀No฀entanto,฀a฀definição฀formal฀ assegura฀que฀essa฀expectativa฀nunca฀pode฀ser฀invocada฀para฀ criticar฀o฀soberano฀ou฀resistir฀a฀ele฀por฀não฀representar฀seus฀ súditos฀como฀deveria.฀Na฀verdade,฀na฀definição฀explícita,฀ não฀existe฀algo฀como฀um฀(não)฀representar฀como฀se฀deveria.

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moderno฀de฀representação,฀ao฀menos฀em฀seus฀aspectos฀politi-30

camente฀significativos,฀estivesse฀essencialmente฀acabado฀antes฀ do฀final฀do฀século฀XVII,฀seu฀desenvolvimento฀na฀teoria฀polí-tica฀mal฀tinha฀começado.฀Na฀teoria฀política,฀sua฀elaboração฀ continuou฀contra฀o฀pano฀de฀fundo฀das฀grandes฀revoluções฀ democráticas฀do฀final฀do฀século฀XVIII฀e฀depois฀das฀prolonga-das฀lutas฀políticas฀e฀institucionais฀do฀século฀XIX:฀o฀sufrágio,฀a฀ divisão฀em฀distritos฀e฀a฀proporcionalidade,฀os฀partidos฀políti- cos฀e฀os฀interesses฀e฀políticas,฀a฀relação฀entre฀as฀funções฀legis-lativas฀e฀executivas฀e฀as฀instituições฀legislativas฀e฀executivas.฀ Essas฀lutas฀políticas฀precipitaram฀um฀corpo฀considerável฀de฀ literatura,฀sistematizada฀de฀tempos฀em฀tempos,฀enriquecida฀ e฀redirecionada฀pela฀teoria฀política.฀Desse฀material฀colossal,฀ apenas฀duas฀questões฀conceituais฀inter-relacionadas฀podem฀ ser฀discutidas฀aqui:฀a฀“polêmica฀sobre฀o฀mandato฀e฀a฀indepen-dência”฀e฀a฀relação฀entre฀a฀representação฀e฀a฀democracia.

A฀“polêmica฀sobre฀o฀mandato฀e฀a฀independência”฀é฀um฀ daqueles฀debates฀teóricos฀infindáveis฀que฀nunca฀parecem฀ se฀resolver,฀não฀importa฀quantos฀pensadores฀tomem฀posi-ção฀em฀um฀lado฀ou฀no฀outro.฀Ele฀pode฀ser฀sintetizado฀nessa฀ escolha฀dicotômica:฀um฀representante฀deve฀fazer฀o฀que฀seus฀ eleitores฀querem฀ou฀o฀que฀ele฀acha฀melhor?฀A฀discussão฀nas- ce฀do฀paradoxo฀inerente฀ao฀próprio฀significado฀da฀repre-sentação:฀tornar฀presente฀de฀alguma฀forma ฀o฀que฀apesar฀dis-so฀não฀está฀literalmente฀presente.฀Mas,฀na฀teoria฀política,฀o฀ paradoxo฀é฀recoberto฀por฀várias฀preocupações฀substantivas:฀ a฀relação฀entre฀os฀representantes฀na฀legislatura,฀o฀papel฀dos฀ partidos฀políticos,฀a฀medida฀em฀que฀os฀interesses฀locais฀e฀ parciais฀se฀encaixam฀no฀bem฀nacional,฀a฀forma฀pela฀qual฀a฀ deliberação฀se฀relaciona฀com฀o฀voto฀e฀ambas฀se฀relacionam฀ com฀o฀exercício฀do฀governo฀etc.

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“O฀Parlamento฀não฀é฀um฀congresso฀formado฀por฀ embaixadores฀de฀interesses฀diferentes฀e฀hostis,฀que฀cada฀ um฀deve฀sustentar฀como฀agente฀e฀advogado฀contra฀outros฀ agentes฀e฀advogados.฀O฀Parlamento฀é฀uma฀assembléia฀ deliberativa฀da฀nação,฀com฀um฀interesse,฀o฀interesse฀do฀todo฀ –฀onde฀os฀preconceitos฀locais฀não฀devem฀servir฀de฀guia,฀ mas฀sim฀o฀bem฀geral,฀que฀resulta฀do฀juízo฀geral฀do฀todo.฀É฀ verdade฀que฀os฀senhores฀escolhem฀um฀membro;฀mas฀ele,฀ uma฀vez฀escolhido,฀não฀é฀um฀membro฀de฀Bristol,฀é฀um฀ membro฀do฀Parlamento”.฀(Burke,฀1949c฀[1774]:฀116)

Uma฀vez฀que฀a฀relação฀de฀cada฀parlamentar฀é฀com฀a฀ nação฀como฀um฀todo,฀ele฀não฀se฀encontra฀numa฀relação฀ especial฀com฀seu฀eleitorado;฀ele฀representa฀a฀nação,฀não฀ aqueles฀que฀o฀elegeram.

Esta฀ posição฀ está฀ de฀ acordo฀ com฀ o฀ entendimento฀ mais฀ geral฀ de฀ Burke฀ de฀ que฀ o฀ governo฀ é฀ um฀ fiduciário฀฀ (trusteeship):

“O฀Rei฀é฀um฀representante฀do฀Povo;฀assim฀também฀são฀os฀ lordes;฀assim฀são฀os฀juízes.฀Eles฀são฀todos฀fiduciários฀do฀ Povo,฀assim฀como฀os฀Comuns;฀pois฀nenhum฀poder฀é฀dado฀ para฀o฀bem฀exclusivo฀daquele฀que฀o฀recebe”.฀(Burke,฀1949b฀ [1770]:฀27-28)

A฀consideração฀mais฀importante฀é฀que฀os฀governantes฀ devem฀ser฀virtuosos฀e฀sábios,฀independente฀da฀forma฀como฀ são฀escolhidos.฀Mas฀a฀única฀forma฀confiável฀de฀produzir฀tal฀ liderança,฀acredita฀Burke,฀é฀o฀complexo฀sistema฀tradicio-nal฀de฀formação,฀educação฀e฀desenvolvimento฀de฀caráter฀ que฀ele฀associa฀com฀uma฀“aristocracia฀natural”20.฀Nessa฀visão฀

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sentação฀–฀a฀eleição,฀a฀própria฀existência฀da฀Câmara฀dos฀ Comuns฀–฀não฀parecem฀ter฀lugar.

Mas฀essa฀não฀é฀de฀forma฀alguma฀a฀totalidade฀da฀teoria฀ de฀Burke฀sobre฀a฀representação.฀Ele,฀apesar฀de฀tudo,฀atri- bui฀à฀Câmara฀dos฀Comuns฀um฀papel฀especial,฀defende฀par-lamentares฀eleitos,฀defende฀(em฀certa฀medida)฀a฀reforma฀ parlamentar฀e฀a฀extensão฀do฀sufrágio,฀e฀apóia฀a฀queixa฀das฀ colônias฀americanas฀de฀que฀eram฀oprimidas฀porque฀eram฀ excluídas฀da฀representação.฀“A฀virtude,฀o฀espírito฀e฀a฀essên-cia฀da฀Câmara฀dos฀Comuns”,฀diz฀Burke,฀“consiste฀em฀ser฀ capaz฀de฀ser฀a฀clara฀imagem฀dos฀sentimentos฀da฀nação.”฀Sua฀ tarefa฀não฀é฀tanto฀a฀de฀governar฀quanto฀a฀de฀controlar฀o฀ governo฀em฀nome฀do฀Povo.฀“Ela฀não฀foi฀criada฀para฀ser฀um฀ controle฀sobre฀o฀Povo฀[...],฀mas฀um฀controle฀para฀o฀Povo.”฀ E฀ela฀não฀pode฀exercer฀essa฀função฀controladora฀a฀não฀ser฀ que฀seus฀membros฀“sejam฀eles฀mesmos฀controlados฀por฀seus฀ eleitores”฀(Burke,฀1949b฀[1770]:฀28)

Burke฀distingue฀entre฀o฀que฀chama฀de฀representação฀ “virtual”฀e฀“efetiva”.฀A฀representação฀efetiva฀significa฀ter฀voz,฀ de฀fato,฀na฀escolha฀do฀representante.฀A฀virtual฀significa:

“uma฀comunhão฀de฀interesses฀e฀uma฀simpatia฀de฀ sentimentos฀e฀desejos฀entre฀aqueles฀que฀agem฀em฀nome฀ de฀uma฀imagem฀qualquer฀do฀Povo฀e฀o฀Povo฀em฀cujo฀nome฀ eles฀atuam,฀ainda฀que฀os฀fiduciários฀não฀sejam฀efetivamente฀ escolhidos฀por฀eles”.฀(Burke,฀1949f฀[1792]:฀495)

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e฀práticas฀sem฀atendimento,฀Burke฀apoiava฀a฀reforma฀eleito-ral,฀mas฀se฀opunha฀a฀extensões฀do฀sufrágio฀baseadas฀apenas฀ em฀algum฀princípio฀abstrato฀ou฀no฀“direito฀natural”.

Burke฀ não฀ pensa฀ em฀ “interesses”฀ como฀ algo฀ pessoal฀ e฀ mutável,฀ como฀ uma฀ questão฀ de฀ escolha฀ individual.฀ Ele฀ pensa฀em฀interesses฀relativamente฀pouco฀numerosos,฀em฀ interesses฀amplos,฀fixos฀e฀objetivos฀que,฀juntos,฀formam฀o฀ bem-estar฀do฀todo.฀Esses฀interesses฀são฀em฀grande฀medida฀ econômicos฀e฀são฀associados฀a฀localidades฀específicas฀cujos฀ meios฀de฀vida฀eles฀caracterizam.฀Ele฀fala฀de฀um฀interesse฀ mercantil,฀de฀um฀interesse฀agrícola,฀de฀um฀interesse฀pro-fissional฀(mas฀também฀reconhece฀um฀claro฀interesse฀dos฀ católicos฀irlandeses฀como฀grupo).฀Uma฀localidade฀“compar-tilha”฀ou฀“participa฀de”฀tal฀interesse;฀nenhuma฀localidade฀ ou฀indivíduo฀“tem”฀um฀interesse.

O฀representante฀é,฀sem฀dúvida,฀um฀porta-voz฀do฀inte-resse฀do฀seu฀distrito,฀por฀exemplo,฀do฀interesse฀mercantil,฀ se฀ele฀representa฀Bristol.฀Mas฀isso฀não฀significa฀que฀ele฀pre- cisa฀consultar฀o฀povo฀de฀Bristol,฀nem฀que฀seus฀votos฀pre-cisam฀favorecer฀Bristol฀em฀detrimento฀da฀Grã-Bretanha.฀A฀ consulta฀não฀é฀necessária฀porque฀os฀interesses฀são฀objetivos฀ e฀completamente฀diferentes฀das฀opiniões.฀O฀representante฀ deve฀a฀seus฀eleitores฀“devoção฀aos฀seus฀interesses฀antes฀que฀ à฀sua฀opinião”21.฀De฀modo฀geral,฀as฀pessoas฀sabem฀quando฀

algo฀vai฀mal฀em฀suas฀vidas,฀de฀forma฀que฀as฀informações฀ sobre฀suas฀queixas฀e฀necessidades฀devem฀ser฀transmitidas฀ por฀um฀representante฀que฀seja฀simpático฀aos฀seus฀proble-mas;฀no฀entanto,฀quanto฀às฀causas฀e฀soluções,฀as฀pessoas฀são฀ irremediavelmente฀ignorantes.

As฀criaturas฀mais฀pobres,฀ignorantes฀e฀desinformadas฀da฀ terra฀são฀os฀juízes฀de฀uma฀opressão฀prática.฀É฀uma฀questão฀

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de฀sentimento;฀e฀como฀essas฀pessoas฀geralmente฀sentiram฀a฀ maior฀parte฀daquela฀opressão,฀e฀não฀são฀de฀uma฀sensibilida-de฀demasiado฀delicada,฀essas฀pessoas฀são฀os฀melhores฀juízes.฀ Mas฀quanto฀à฀causa฀real,฀ou฀ao฀remédio฀adequado,฀elas฀nunca฀ devem฀ser฀consultadas22.

Tampouco฀o฀representante฀é฀um฀agente฀do฀interesse฀ particular฀no฀qual฀seu฀distrito฀participa,฀uma฀vez฀que฀a฀tarefa฀ real฀da฀legislatura฀é฀a฀deliberação฀e฀não฀o฀voto.฀Os฀grandes฀ e฀verdadeiros฀interesses฀da฀nação฀em฀princípio฀se฀encaixam;฀ é฀papel฀dos฀estadistas฀sábios฀e฀virtuosos฀descobrir฀como฀se฀ encaixam,฀como฀as฀questões฀existentes฀podem฀ser฀mais฀bem฀ resolvidas.฀ Quando฀ terminarem฀ de฀ deliberar,฀ o฀ resultado฀ dificilmente฀exigirá฀o฀voto.฀O฀governo฀é฀uma฀questão฀de฀ razão,฀não฀de฀vontade;฀de฀tarefas,฀e฀não฀de฀aritmética.

Burke฀também฀reconhece฀a฀existência฀de฀uma฀interpre-tação฀completamente฀diferente฀da฀representação,฀que฀ele฀ chama฀de฀“representação฀pessoal”:฀a฀representação฀de฀cada฀ pessoa฀individual฀por฀meio฀do฀sufrágio฀universal฀em฀distri-tos฀eleitorais฀com฀base฀na฀população฀(Burke,฀1949d฀[1782]:฀ 229).฀Burke฀rejeita฀enfaticamente฀essa฀interpretação,฀como฀ uma฀criatura฀da฀especulação฀filosófica฀abstrata฀fundada฀na฀ idéia฀de฀direitos฀naturais.

Mas฀a฀idéia฀de฀representação฀pessoal฀triunfaria฀sobre฀a฀ idéia฀burkeana฀de฀representação฀de฀interesses฀fixos;฀mesmo฀ no฀tempo฀de฀Burke,฀os฀teóricos฀do฀liberalismo฀nos฀dois฀lados฀ do฀Atlântico฀estavam฀articulando฀uma฀teoria฀da฀representa- ção฀de฀pessoas฀que฀têm฀interesses.฀Na฀América,฀representa-ção฀era฀claramente฀representação฀de฀pessoas,฀e฀os฀interesses฀ tornaram-se฀um฀mal฀inevitável,฀que฀deveria฀ser฀domesticado฀ por฀um฀governo฀bem฀construído.฀Na฀Inglaterra,฀o฀utilitaris-mo฀não฀apenas฀favorecia฀a฀representação฀de฀pessoas฀como฀ fazia฀do฀interesse฀um฀conceito฀cada฀vez฀mais฀pessoal.

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Alexander฀Hamilton,฀John฀Jay฀e฀James฀Madison,฀nos฀ Arti-gos฀Federalistas,฀apresentam฀o฀governo฀representativo฀como฀ um฀dispositivo฀adotado฀no฀lugar฀da฀democracia฀direta,฀por-que฀seria฀impossível฀reunir฀um฀grande฀número฀de฀pessoas฀ em฀um฀único฀lugar.฀A฀representação฀é฀assim฀um฀“substituto฀ para฀o฀encontro฀pessoal฀dos฀cidadãos”23

.฀Mas฀eles฀não฀a฀con- sideram฀um฀substituto฀menor;฀na฀verdade,฀ela฀promete฀pos-sibilidades฀sem฀precedentes฀para฀o฀governo฀da฀América.

Para฀os฀autores฀de฀O฀Federalista ,฀o฀conceito฀de฀interes-se฀é฀muito฀mais฀plural฀e฀instável฀do฀que฀para฀Burke,฀e฀é฀ essencialmente฀pejorativo.฀Interesses฀são฀identificados฀com฀ “facção”฀e฀são฀um฀mal.฀Embora฀Madison฀reconhecesse฀um฀ “interesse฀ agrário”฀ e฀ um฀ “interesse฀ manufatureiro”,฀ eles฀ poderiam฀ ser฀ subdivididos฀ quase฀ indefinidamente,฀ e฀ os฀ agrupamentos฀ econômicos฀ resultantes฀ se฀ entrecruzavam฀ com฀ outros฀ agrupamentos฀ “fundados฀ em฀ acidentais฀ dife-renças฀políticas,฀religiosas,฀de฀opinião฀ou฀na฀ligação฀pessoal฀ com฀os฀líderes”฀(Madison,฀1953฀[1787]:฀17,฀42).฀Os฀interes-ses฀são฀algo฀que฀as฀pessoas฀“sentem”,฀e฀são฀tão฀variáveis฀e฀ mutantes฀quanto฀o฀sentimento,฀que฀é฀fundamentalmente฀ subjetivo฀(Hamilton,฀Madison,฀e฀Jay,฀1948,฀n.o฀10:฀45).

No฀entanto,฀O฀Federalista฀também฀admite฀a฀existência฀ de฀algo฀maior฀e฀mais฀objetivo,฀“o฀bem฀público”฀(Hamilton,฀ Madison฀e฀Jay,฀1948,฀n.o฀10:฀45;฀veja฀também฀n.o฀63:฀324).฀A฀

representação฀é฀superior฀à฀democracia฀direta฀precisamen-te฀porque฀pode฀assegurar฀o฀bem฀público฀sem฀a฀distração฀ de฀vários฀interesses฀particulares฀conflitantes,฀ou฀“facções”.฀ Uma฀facção฀é:

“uma฀quantidade฀de฀cidadãos,฀que฀pode฀constituir฀a฀maioria฀ ou฀a฀minoria฀do฀todo,฀que฀são฀unidos฀e฀atuam฀por฀algum฀ impulso฀comum฀de฀paixão,฀ou฀de฀interesse,฀contrário฀aos฀

23.฀Hamilton,฀Madison฀e฀Jay฀(1948,฀n.o

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direitos฀dos฀outros฀cidadãos,฀ou฀ao฀interesse฀permanente฀e฀ agregado฀da฀comunidade”.฀(Hamilton,฀Madison฀e฀Jay,฀1948,฀ n.o฀10:฀42)

Uma฀república฀ou฀governo฀fundamentado฀na฀represen-tação฀“promete฀a฀cura”฀para฀os฀males฀da฀facção.

Em฀primeiro฀lugar,฀a฀própria฀representação฀funciona฀ como฀uma฀espécie฀de฀filtro฀para฀refinar฀e฀ampliar฀as฀pers-pectivas฀ do฀ público,฀ ao฀ passá-las฀ por฀ um฀ corpo฀ eleito฀ de฀ cidadãos,฀cuja฀sabedoria฀pode฀discernir฀melhor฀os฀verdadei-ros฀interesses฀de฀seu฀país,฀e฀cujo฀patriotismo฀e฀amor฀pela฀ justiça฀serão฀menos฀suscetíveis฀a฀sacrificá-la฀em฀nome฀de฀ considerações฀temporárias฀ou฀parciais.฀(Hamilton,฀Madison฀ e฀Jay,฀1948,฀n.o฀10:฀45)

Isso฀parece฀burkeano,฀mas฀Madison฀não฀tem,฀na฀verda- de,฀muita฀confiança฀nesse฀mecanismo.฀“Nem฀sempre฀esta- distas฀esclarecidos฀estarão฀no฀comando”฀(Hamilton,฀Madi-son฀e฀Jay,฀1948,฀n.o฀10:฀44).฀Muito฀mais฀promissor฀é฀o฀fato฀da฀

representação฀tornar฀possível฀uma฀república฀grande.฀Numa฀ república฀grande,฀os฀interesses฀serão฀múltiplos฀e฀diversos;฀ portanto,฀será฀menos฀provável฀a฀combinação฀de฀interesses฀ para฀uma฀efetiva฀ação฀facciosa.

Amplie฀a฀esfera฀e฀terá฀uma฀maior฀variedade฀de฀partidos฀ e฀interesses;฀tornará฀menos฀provável฀que฀a฀maioria฀tenha฀ um฀motivo฀comum฀para฀invadir฀os฀direitos฀dos฀outros฀cida-dãos;฀ou,฀se฀um฀tal฀motivo฀comum฀existir,฀será฀mais฀difícil฀ para฀aqueles฀que฀o฀sentem฀descobrir฀sua฀própria฀força฀e฀ agir฀em฀concordância24.

Para฀Madison,฀o฀perigo฀reside฀na฀ação฀política,฀e฀a฀sal-vaguarda฀se฀encontra฀no฀empate฀de฀forças.฀Os฀interesses฀

24.฀Hamilton,฀Madison฀e฀Jay฀(1948,฀n.o฀10:฀47).฀O฀mesmo฀argumento฀é฀feito฀nos฀

n.os฀51,฀60฀e฀63,฀p.฀267,฀307,฀323,฀e฀num฀discurso฀de฀Madison,฀em฀6฀de฀junho฀de฀

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das฀facções฀devem฀ser฀“rompidos”,฀“controlados”฀e฀“equi-librados”฀uns฀contra฀os฀outros฀para฀produzir฀“estabilidade”฀ (Beer,฀1957:฀629;฀Padover,฀1953:฀17;฀De฀Grazia,฀1951:฀96,฀99-100).฀Nos฀raros฀momentos฀em฀que฀se฀requer฀a฀ação฀pública,฀ Madison฀admite฀que฀não฀haverá฀dificuldade฀em฀assegurar฀ uma฀maioria฀substantiva฀para฀apoiá-la.฀A฀representação฀não฀ apenas฀ torna฀ possível฀ uma฀ grande฀ república,฀ mas฀ é฀ tam-bém฀um฀meio฀de฀trazer฀conflitos฀sociais฀perigosos฀para฀um฀ fórum฀central฀único,฀no฀qual฀podem฀ser฀controlados฀e฀tor-nados฀inofensivos฀pelo฀equilíbrio.฀O฀equilíbrio฀necessário฀ acontecerá฀apenas฀se฀cada฀representante฀buscar฀de฀fato฀os฀ interesses฀dos฀seus฀eleitores.

O฀conceito฀de฀interesse฀dos฀autores฀utilitaristas฀é฀ain-da฀mais฀subjetivo฀e,฀em฀última฀instância,฀pessoal฀para฀cada฀ indivíduo.฀De฀diversas฀maneiras,฀os฀utilitaristas฀argumen-tam฀ que฀ todo฀ mundo฀ sempre฀ é,฀ ou฀ pelo฀ menos฀ a฀ maior฀ parte฀das฀pessoas฀normalmente฀é,฀motivada฀pelo฀interesse฀ próprio,฀ e฀ que฀ assim,฀ segundo฀ Bentham,฀ “ninguém฀ sabe฀ o฀que฀é฀do฀seu฀interesse฀tão฀bem฀quanto฀você฀mesmo”25.

Segue฀disso฀que฀cada฀indivíduo฀é฀o฀melhor฀guardião฀do฀seu฀ próprio฀interesse,฀seja฀porque฀os฀outros฀são฀muito฀egoístas฀ para฀defendê-lo,฀seja฀porque฀não฀podem฀conhecê-lo.

Isso฀parece฀tornar฀impossível฀a฀representação,฀mas฀essa฀ não฀é฀na฀verdade฀a฀conclusão฀a฀que฀chegam฀os฀utilitaris-tas.฀Todos฀eles฀reconhecem฀a฀existência฀de฀um฀interesse฀ “comum”,฀“universal”฀ou฀“geral”,฀o฀bem฀de฀toda฀a฀socie-dade26.฀ Às฀ vezes฀ Bentham฀ diz฀ que฀ se฀ trata฀ simplesmente฀

da฀“união”฀ou฀da฀“soma฀de฀interesses฀dos฀vários฀membros฀ que฀compõem”฀a฀sociedade;฀mas฀no฀contexto฀da฀legislação,฀

25.฀Bentham฀(1843g:฀33;฀1954:฀438).฀Compare฀com฀James฀Mill฀(1955:฀69);฀John฀ Stuart฀Mill฀(1947,฀capítulo฀3:฀208;฀1947:฀133;฀Bailey฀(1835:฀68);฀Adam฀Smith฀(1937:฀ 497);฀Halevy฀(1955:฀491);฀Stoke฀(1937:฀80).

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27.฀Bentham฀(1843b:฀453-455;฀1843f:฀6,฀53,฀60-62,฀67;฀1843e:฀475;฀1954:฀428-433).฀ Cf.฀John฀Stuart฀Mill฀(1947,฀capítulo฀6:฀248-255);฀Bailey฀(1835:฀137).

28.฀Bentham฀(1843f:฀61).฀Veja฀também฀Bentham฀(1954:฀432). 29.฀Citado฀em฀Ford฀(1924:฀146);฀James฀Mill฀(1955:฀69).

Bentham฀reconhece฀que฀cada฀pessoa฀tem฀tanto฀um฀interes- se฀público฀quanto฀privado,฀tanto฀um฀interesse฀social฀quan-to฀um฀auto-interesse27.฀Os฀interesses฀públicos฀ou฀sociais฀de฀

cada฀ um฀ resultam฀ no฀ “interesse฀ universal”;฀ os฀ interesses฀ privados฀ou฀os฀auto-interesses,฀não.฀Infelizmente,฀a฀maior฀ parte฀das฀pessoas฀prefere฀esses฀últimos.฀As฀exceções฀são฀tão฀ raras,฀diz฀Bentham฀numa฀comparação฀reveladora,฀que฀“não฀ é฀razoável฀esperar฀que฀haja฀tantos฀exemplos฀dessa฀exceção฀ quanto฀de฀loucura”28.

Mas฀aqui฀intervém฀o฀legislador.฀Sua฀função฀é฀recompen-sar฀ações฀socialmente฀desejáveis,฀mas฀não฀atrativas฀do฀ponto฀ de฀vista฀individual,฀e฀punir฀as฀ações฀socialmente฀indesejáveis฀ e฀atrativas฀do฀ponto฀de฀vista฀individual,฀de฀forma฀que฀o฀inte-resse฀próprio฀se฀alinhe฀com฀o฀bem฀público.฀O฀que฀motiva฀ o฀legislador฀a฀fazer฀isso?฀Em฀seus฀primeiros฀escritos,฀Ben- tham฀parece฀imaginar฀um฀legislador-mestre฀único,฀hipoté- tico฀(talvez฀ele฀mesmo),฀que฀seria฀um฀daqueles฀raros฀indiví-duos฀genuinamente฀motivados฀pelo฀altruísmo.฀Mas฀para฀o฀ Bentham฀dos฀últimos฀escritos,฀e฀certamente฀para฀James฀e฀ John฀Stuart฀Mill,฀o฀legislador฀é฀substituído฀pela฀legislatura฀ eleita฀e฀o฀altruísmo฀deve฀ser฀substituído฀por฀mecanismos฀ institucionais,฀em฀particular฀pela฀representação.

Uma฀ vez฀ que฀ “a฀ comunidade฀ não฀ pode฀ ter฀ nenhum฀ interesse฀em฀oposição฀aos฀seus฀interesses”,฀James฀Mill฀argu-menta฀que฀tudo฀o฀que฀é฀necessário฀é฀que฀“os฀interesses฀dos฀ representantes฀sejam฀identificados฀com฀os฀da฀sua฀comuni-dade”29.฀Mill฀acredita฀que฀isso฀pode฀ser฀conseguido,฀se฀há฀

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30.฀Bentham฀(1843b:฀455).฀Sobre฀os฀Estados฀Unidos,฀Bentham฀(1843b:฀437,฀445,฀ 447)฀e฀Halévy฀(1955:฀412).

a฀conhecida฀noção฀de฀que฀os฀legisladores฀farão฀o฀que฀os฀ eleitores฀querem,฀porque฀os฀legisladores฀querem฀ser฀reelei-tos฀(Bentham,฀1843f:฀63,฀103,฀118,฀155).฀E,฀nesse฀contexto,฀ Bentham฀afirma฀que฀os฀eleitores฀querem฀o฀interesse฀públi- co.฀Bentham฀estava฀impressionado฀com฀o฀exemplo฀da฀Amé-rica฀e฀o฀utilizou฀para฀provar,฀com฀base฀na฀experiência,฀que฀

“da฀parte฀dos฀eleitores฀–฀pelo฀menos,฀da฀parte฀da฀maioria฀ deles฀–฀existe฀a฀disposição฀de฀contribuir฀para฀a฀promoção฀do฀ interesse฀universal,฀na฀medida฀em฀que฀seus฀votos฀podem฀ contribuir”฀30.

Mas฀este฀é฀o฀mesmo฀Bentham฀que฀pensava฀que฀a฀loucu- ra฀era฀mais฀freqüente฀que฀a฀disposição฀de฀sacrificar฀o฀egoís-mo฀pelo฀interesse฀público!

John฀Stuart฀Mill฀debate-se฀com฀o฀mesmo฀dilema.฀Ele฀ também฀acredita฀ser฀um฀“fato฀universalmente฀observável”฀ que฀um฀indivíduo฀irá฀preferir฀seus฀“interesses฀egoístas฀àque- les฀que฀compartilha฀com฀os฀outros,฀e฀irá฀preferir฀seu฀inte-resse฀imediato฀e฀direto฀àqueles฀indiretos฀e฀remotos”฀(John฀ Stuart฀ Mill,฀ 1947,฀ capítulo฀ 6:฀ 252).฀ Na฀ verdade,฀ por฀ esse฀ mesmo฀motivo,฀Mill฀defendeu฀o฀governo฀representativo,฀o฀ sufrágio฀universal฀e฀a฀representação฀proporcional:฀

“É฀importante฀que฀todos฀os฀governados฀tenham฀voz฀no฀ governo,฀porque฀é฀difícil฀esperar฀que฀aqueles฀que฀não฀têm฀ voz฀não฀sejam฀injustamente฀preteridos฀por฀aqueles฀que฀ têm”.฀(John฀Stuart฀Mill,฀1874:฀21)

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31.฀John฀Stuart฀Mill฀(1947,฀capítulo฀4:฀219).฀Novamente,฀em฀oposição฀a฀Burke,฀os฀ utilitaristas฀consideram฀o฀interesse฀como฀algo฀que฀as฀pessoas฀“sentem”.

32.฀John฀Stuart฀Mill฀(1947,฀capítulo฀6:฀254-255).฀Cf.฀os฀“interesses฀maléficos”฀de฀ Bentham฀(1843b:฀446,฀450-451).

nos฀assuntos฀gerais฀do฀Estado฀necessário฀para฀a฀formação฀ de฀uma฀opinião฀pública,฀[nas฀quais]฀os฀eleitores฀raramente฀ farão฀qualquer฀uso฀do฀direito฀de฀sufrágio฀senão฀para฀servir฀฀ seu฀interesse฀privado,฀ou฀o฀interesse฀da฀sua฀localidade31.฀

Às฀ vezes,฀ John฀ Stuart฀ Mill฀ acredita฀ que฀ mesmo฀ uma฀ minoria฀de฀cidadãos฀com฀espírito฀público฀seria฀suficiente฀se฀ o฀sistema฀representativo฀fosse฀organizado฀de฀forma฀que฀os฀ interesses฀egoístas฀fossem฀equilibrados฀igualmente,฀uns฀con-tra฀os฀outros,฀cada฀um฀anulando฀o฀outro฀como฀nas฀facções฀ de฀Madison.฀Mill฀define฀“classe”฀quase฀exatamente฀como฀ Madison฀define฀facção:

“Se฀consideramos฀como฀classe,฀no฀sentido฀político,฀uma฀ quantidade฀qualquer฀de฀pessoas฀que฀têm฀um฀mesmo฀ interesse฀maléfico฀–฀ou฀seja,฀cujo฀interesse฀direto฀e฀aparente฀ aponte฀para฀o฀mesmo฀gênero฀de฀más฀medidas;฀o฀objetivo฀ desejável฀seria฀que฀nenhuma฀classe,฀ou฀combinação฀ provável฀de฀classes,฀fosse฀capaz฀de฀exercer฀uma฀influência฀ preponderante฀sobre฀o฀governo”฀32.

Então,฀pode฀surgir฀uma฀minoria฀em฀cada฀classe฀cujo฀ interesse฀de฀classe฀“esteja฀subordinado฀à฀razão,฀à฀justiça฀e฀ ao฀bem฀do฀todo”฀e฀essas฀minorias฀juntas฀podem฀prevalecer฀ sobre฀os฀interesses฀de฀classe฀empatados฀(John฀Stuart฀Mill฀ 1947,฀capítulo฀6:฀255).

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não฀é฀o฀melhor฀juiz฀do฀seu฀próprio฀interesse.฀Na฀verdade,฀se฀ o฀julgamento฀do฀interesse฀fosse฀verdadeiramente฀subjetivo฀ e฀pessoal฀a฀cada฀indivíduo,฀uma฀representação฀significativa฀ seria฀impossível.

Essa฀é฀a฀posição฀adotada฀por฀Jean-Jacques฀Rousseau.฀ Rousseau฀não฀argumenta฀em฀termos฀de฀interesse,฀mas฀de฀ vontade,฀e฀a฀vontade฀é฀verdadeiramente฀pessoal.฀Uma฀pes- soa฀pode฀ter฀vontade฀no฀lugar฀de฀outras,฀mas฀não฀há฀garan-tia฀de฀que฀essa฀vontade฀de฀um฀coincidirá฀com฀as฀vontades฀ dos฀outros.฀Assim,฀as฀pessoas฀são฀livres฀apenas฀quando฀se฀ autogovernam;฀as฀pessoas฀são฀obrigadas฀de฀forma฀legítima฀ apenas฀pelas฀leis฀que฀elas฀“ratificaram฀pessoalmente”,฀pelas฀ leis฀aprovadas฀por฀sua฀própria฀vontade฀expressa฀em฀partici-pação฀direta฀(Rousseau,฀1974:฀260).

Evidentemente,฀o฀público฀tem฀que฀ter฀vários฀magistra-dos฀que฀o฀“representam”฀exercendo฀tarefas฀administrativas,฀ judiciais฀e฀executivas,฀mas฀“o฀Povo,฀em฀sua฀função฀legislati-va,฀não฀pode฀ser฀representado”฀(Rousseau,฀1974:฀261).฀Logo฀ que฀o฀povo฀introduz฀a฀representação฀legislativa,฀ele฀deixa฀ de฀ser฀livre.฀Assim,

“O฀povo฀inglês฀pensa฀ser฀livre฀e฀muito฀se฀engana,฀pois฀só฀o฀ é฀durante฀a฀eleição฀dos฀membros฀do฀Parlamento;฀uma฀vez฀ estes฀eleitos,฀ele฀é฀escravo,฀não฀é฀nada.฀Durante฀os฀breves฀ momentos฀da฀sua฀liberdade,฀o฀uso฀que฀dela฀faz,฀mostra฀que฀ merece฀perdê-la.”฀(Rousseau,฀1974:฀260)33

De฀ modo฀ geral,฀ pensadores฀ posteriores฀ ignoraram฀ a฀ perspectiva฀de฀Rousseau,฀considerando-a฀bizarra฀e฀idiossin-crática.฀Quase฀ninguém฀que฀apoiava฀a฀democracia฀duvidava฀

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lente฀indireto.฀Se฀o฀governo฀representativo฀tinha฀defeitos,฀ esses฀defeitos฀eram฀atribuídos฀ao฀sistema฀eleitoral฀particu-lar,฀ao฀sistema฀partidário฀ou฀à฀exclusão฀de฀algum฀grupo฀do฀ sufrágio.฀ Mesmo฀ a฀ maior฀ parte฀ dos฀ críticos฀ socialistas฀ da฀ democracia฀liberal฀não฀questionou฀a฀representação฀em฀si,฀ mas฀a฀sua฀autenticidade฀sob฀o฀capitalismo.

Apenas฀em฀décadas฀recentes฀alguns฀pensadores฀nova- mente฀começaram฀a฀questionar฀esses฀pressupostos,฀reani-maram฀aquelas฀poucas฀e฀débeis฀vozes฀–฀algumas฀socialistas,฀ outras฀anarquistas,฀todas฀mais฀ou฀menos฀bizarras฀e฀desvian- tes฀–฀que฀continuavam฀a฀desafiar฀a฀própria฀idéia฀de฀represen-tação,฀a฀desafiar฀não฀apenas฀sua฀superioridade฀em฀relação฀à฀ democracia฀participativa฀direta,฀mas฀mesmo฀sua฀capacidade฀ de฀substituir฀o฀velho฀ideal.฀Esses฀pensadores฀têm฀sugerido฀ que฀a฀participação฀no฀poder฀público฀e฀a฀responsabilidade฀ podem฀ter฀um฀valor฀intrínseco฀e฀não฀apenas฀instrumental,฀ necessário,฀portanto,฀ao฀bem฀da฀vida฀e฀ao฀pleno฀desenvol-vimento฀dos฀seres฀humanos.฀Eles฀têm฀sugerido฀que฀apenas฀ um฀povo฀ativo฀e฀com฀envolvimento฀político฀é฀livre฀e฀que฀ as฀instituições฀representativas,฀inicialmente฀projetadas฀para฀ abrir฀o฀domínio฀público฀para฀o฀povo฀comum฀anteriormente฀ excluído,฀têm,฀de฀fato,฀servido฀para฀desencorajar฀a฀cidada-nia฀ativa.

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Assim,฀Hannah฀Arendt฀(1965:฀239)฀argumentou฀que฀a฀ questão฀da฀representação,฀uma฀das฀questões฀cruciais฀e฀mais฀ problemáticas฀da฀política฀moderna฀desde฀as฀revoluções฀[do฀ século฀ XVIII],฀ na฀ verdade฀ implica฀ nada฀ menos฀ que฀ uma฀ decisão฀sobre฀a฀dignidade฀do฀próprio฀domínio฀político.

Apenas฀a฀participação฀democrática฀direta฀proporciona฀ uma฀alternativa฀real฀para฀o฀dilema฀entre฀mandato฀ou฀inde- pendência,฀no฀qual฀o฀representante฀ou฀é฀um฀mero฀agen-te฀de฀interesses฀privados฀ou฀é฀um฀usurpador฀da฀liberdade฀ popular฀periodicamente฀eleito.฀No฀primeiro฀caso,฀absolu-tamente฀ninguém฀tem฀acesso฀à฀vida฀pública,฀já฀que฀não฀há฀ nenhuma.฀No฀segundo,฀a฀antiga฀distinção฀entre฀governante฀ e฀governado฀[...]฀venceu฀outra฀vez;฀uma฀vez฀mais฀o฀povo฀não฀ é฀admitido฀no฀domínio฀público,฀uma฀vez฀mais฀os฀assuntos฀ de฀governo฀se฀tornaram฀o฀privilégio฀de฀poucos฀[...]฀Como฀ resultado,฀o฀Povo฀ou฀deve฀afundar฀numa฀“letargia,฀precur-sora฀da฀morte฀da฀liberdade฀pública”฀ou฀deve฀“preservar฀o฀ espírito฀ de฀ resistência”฀ diante฀ de฀ qualquer฀ governo฀ que฀ tenha฀eleito,฀já฀que฀o฀único฀poder฀que฀conserva฀é฀“o฀poder฀ reserva฀da฀revolução”.฀(Arendt,฀1965:฀240)

Hanna฀Fenichel฀Pitkin฀

é฀professora฀de฀Teoria฀Política฀da฀Universidade฀de฀Berkeley

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