Aspalavraseomundomudamjuntos,masnãoemsim-plescorrelaçãodireta.Quandoimaginamosaintrodução de uma palavra nova, tendemos a pensar em exemplos tais como o explorador dando nome a um local recém-descoberto, ou o químico preparando uma substância recém-descoberta ou recém-criada. Mas esses exemplos sãoprofundamenteenganosos,poisamaioriadaspalavras nãosãonomes;eossereshumanospodem,comamesma facilidade,discursarsobreoqueexisteeoquenãoexiste. Nocampodosfenômenossociais,culturaisepolíticos,a relação entre as palavras e o mundo é ainda mais com-plexa,poisessesfenômenossãoconstituídospelaconduta humana,queéprofundamenteformadapeloqueaspesso-aspensamedizem,porpalavras.Então,paracompreender
EIDÉIAS*
HannaFenichelPitkin
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comoaspalavraseomundomudamjuntos,deve-seolhare vercasosparticulares,paratomaremprestadaumafamosa expressãodeWittgenstein(1968:§66).
Oconceitoderepresentaçãoéumcasoinstrutivopor-queseusignificadoéaltamentecomplexoe,desdemuito cedo na história dessa família de palavras, tem sido alta- menteabstrato.É,assim,umcorretivoútilparanossasfan-tasiassobreexploradoresequímicos.Arepresentaçãoé, emgrandemedida,umfenômenoculturalepolítico,um fenômenohumano.Dessemodo,o“mapasemântico”das palavrasinglesasdafamília“represent-”nãocorresponde bemao“mapasemântico”determoscognatosatémesmo emoutrosidiomasmuitopróximosaoinglês.Porexemplo, alínguaalemãtemtrêspalavras–vertreten,darstellene reprä-sentieren –quegeralmentesãotraduzidaspelapalavraingle-sa“represent”1.Darstellensignifica“retratar”ou“colocaralgo
nolugarde”;vertretensignifica“atuarcomoumagentepara alguém”.Osignificadoderepräsentierenépróximoaode ver-treten,masémaisformalepossuiconotaçõesmaiselevadas (teóricos alemães da política, às vezes, argumentam que merosinteressesprivadosegoístaspodemservertreten,mas obemcomumouobemdoEstadodevemserrepräsentiert). Entretanto,osignificadoderepräsentierennãoé,deforma alguma,próximoàquelededarstellen.Então,paraquemfala eminglêsomodopeloqualumapintura,umpintorouum atordepalcorepresentam,eomodopeloqualumagen-teouumlegisladoreleitorepresentam,obviamente,estão ligadosaomesmoconceito.Omesmonãoacontecepara quemfalaemalemão.Ahistóriadarepresentaçãolegal, artística,políticaedeoutrostiposderepresentaçãoentre
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povosquefalamalemãotambémdifere,éclaro,dahistó-riacorrespondenteentrepovosquefalaminglês,masnão deumamaneiraquecorrespondadeformapuraesimples àquelasdiferençassemânticas.
Contartodaahistóriadoconceitoderepresentaçãoexi-giriadetalhadosrelatosparalelosdehistóriaverbalesocial, políticaecultural,tarefaqueemmuitoultrapassaoescopo desteensaio.Seufocoélimitadoprincipalmenteàhistória etimológica,comincursõesocasionaisnahistóriasociopo- lítica;eseuinteresseprimárioestánarepresentaçãopolíti-ca,emboraaquelefocosejatratadoemrelaçãoaosmuitos outroscamposdesignificadodessafamíliadepalavras.
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2.Lagarde(1937:429n.),traduçãominha.VertambémTierney(1955:4,34-36,45). 3.Minhainformaçãonesteparágrafo,enoseguinte,vemdeLagarde(1937). 4.Roffredus,QuaestionesSabbathinae,citadoporLagarde(1937:429n).Georgesde Lagardedescobriuumapassagemmuitointeressantenosescritosdeumjuristado
NaIdadeMédia,apalavraéestendidanaliteraturada Cristandadeaumtipodeencarnaçãomística,“aplicadaà comunidadecristãemseusaspectosmaisincorpóreos”2.Mas
suarealexpansãocomeçanoséculoXIIIenoiníciodosécu-loXIV,quandosedizcomfreqüênciaqueopapaeoscar- deaisrepresentamapessoadeCristoedosapóstolos3
.Acono-taçãoaindanãoédedelegação,nemdeagência;oslíderes daIgrejasãovistoscomoaencarnaçãoeaimagemdeCristo edosapóstolos,eocupamseuslugaresporsucessão.Aomes-motempo,juristasmedievaiscomeçamausarotermopara apersonificaçãodavidacoletiva.Umacomunidade,embora nãosejaumserhumano,deveservistacomoumapessoa ( personarepraesentata,repraesentaunampersonam,uniumperso-naerepraesentatvicem).Aênfaseestánanaturezafictíciada conexão:nãosetratadeumapessoareal,masdeumapessoa apenasporrepresentação(personanonverasedrepraesentate).
Enquantoisso,háumaidéiapresenteentreosglosa-dores,derivadadodireitoromano,dequeopríncipeouo imperadoratuapelopovoromano,ocupaseulugar,cuida deseubem-estar.NoséculoXIII,oscanonistascomeçama adotaressaidéia,aaperfeiçoá-la,desenvolvê-laeaplicá-laà vidareligiosacomunal.Todavia,nemosglosadoresnemos canonistasusamapalavra“representação”aodesenvolver essasidéiaspresentesnodireitoromano.Oparalelocomo pensamentoeclesiásticoalegórico,porém,ésuficientemen-tepróximo,demodoqueemmeadosdoséculoXIII,um escritorfamiliarizadocomasduasdisciplinaspodiaargu-mentarqueomagistradorepresentaaimagemdetodoo Estado4
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Umdesenvolvimentosemelhantepareceterocorrido nofrancês.PelomenosdeacordocomoLittré,apalavra
représentererausadaparaimagenseobjetosinanimadosque encarnamabstrações,muitoantesdevirasignificaralgo comoumapessoaagindoporoutras6.Mas,noséculoXIII,
pode-sefalardeumencarregadorepresentandoapessoa deseusenhor.
Amesmaseqüênciadedesenvolvimentotambémocorre nalínguainglesa,depoisdoaparecimentodapalavra “repre-sent”,provavelmentenofinaldoséculoXIV7
.Naquelepon-to,deacordocomoOxfordEnglishDictionary ,apalavrasigni-fica“trazeraprópriapessoa,ououtrapessoa,àpresençade
finaldoséculoXIII,emqueosentidoderepresentaçãoimagéticadeumacomu-nidadeseencontracomumanoçãodeagêncialegal.OjuristaAlbertdeGaudino perguntaseumacomunidadepodepronunciar-sepormeiodeumadvogado(par procureur )emumcasocriminal.Emcertosentido,dizele,seétentadoarespon-derquenão,postoquetodapessoaprivadadeveapresentar-seempessoa,euma coletividade(universitas)deveservistacomoumapessoa.Mas,emoutrosentido, oadvogadorepresentaapenasapessoafictíciadacomunidade.Portanto,seelese apresenta,écomoseacomunidadeseapresentasseempessoa.Aquitemosnão apenasacoletividadequeétomadacomoumapessoapormeiodeumaficção (uniuspersonaerepraesentatvicem),mastambémoadvogadoqueseapresentano lugardestapessoa(quirepraesentatvicemuniversitatis).Nestemomento,apalavra “representar”aindanãodesignaasatividadesusuaisdeumadvogadonotribunal; Gaudinousaintervenire paradesignaromodopeloqualummagistradoouadvoga-dosubstituiacomunidadeeatuaporela.
5.Lagarde(1937:433en.).Tierney(1955:126)sugerequeoconceitodesuper-visor(proctor )podefigurarsignificativamentenatransiçãodeimagemouencarna-çãoparaaçãodeautoridade.
6.Littré(1875).Odesenvolvimentoemlatimprovavelmenteteveumainfluência maiorsobreofrancêsdoquesobreoinglês.C.H.MacIlwain(1932:689)citauma convocaçãodoiníciodoséculoXIVfeitapeloreidaFrançaedirigidaaosclérigos deTours,ordenando-lhesavirempessoaouaenviar“exvobisunumnobisadpremissa mittatis,quivicemomniumrepresentetetomniumhabeatplenariampotestatem ”.Documen-toscorrespondentesnaInglaterranãoparecemusarrepraesentare.
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alguém”;“simbolizarouencarnarconcretamente”;“trazer àmente”.Oadjetivo“representativo”significa“queserve pararepresentar,figurar,retratarousimbolizar”.Duranteo séculoXV,overbo“representar”passaasignificartambém “retratar,figurar,oudelinear”.Elepassaaseraplicadoa objetosinanimadosque“ocupamolugardeoucorrespon-dema”algooualguém.Etambémsignifica“produziruma peça”,aparentementeumtipodefiguraçãonopalco.Ao mesmotempo,surgeosubstantivo“representação”,quesig-nifica“imagem,figuraoupintura”.Ossereshumanosnão estãocompletamenteausentesdessesprimeirosusos;eles aparecemdeduasmaneiras.Emprimeirolugar,arepresen- taçãopodeserumobjetoinanimadoouumaimagemsubs-tituindoumserhumano.Emsegundolugar,representaré umaatividadehumana,masnãoumagirparaoutros;éa atividadedeapresentar,defigurar,depintarumquadroou encenarumapeça.AtéoséculoXVInãoseencontraum exemplode“representar”comosignificadode“tomarou ocuparolugardeoutrapessoa,substituir”;eaté1595não háumexemploderepresentarcomo“atuarparaalguém comoseuagenteautorizadooudeputado”8.
O desenvolvimento no significado de “representar”, queocorreunolatimnoséculoXIIIenoiníciodoséculo XIV,equeaomenosestavaocorrendonofrancêsnoséculo XIII,realmentenãoocorreunoinglêsatéoséculoXVI? OusimplesmentefaltamexemplosmaisantigosnoOxford EnglishDictionary,emboraamudançatenhaocorridomais cedo?Épossívelqueobraslegais,jurídicasepolíticas,nas
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quais pudesse ser empregado representar no sentido de “atuarpara”,nãotenhamsidoescritaseminglêsatéesse momentotardio,nemmesmonaInglaterra.Emvezdisso, taisescritospodemtersidoformuladosemlatimoufrancês. Emboraumestatutode1362determinassequeoinglêsfos- seusadonascortesjudiciais,osregistrosdasdecisõesdetri-bunalaté1500aindaestãoemfrancês9.Eosestatutosforam
escritosemlatimportodooséculoXV10.Apetiçãoescrita
eminglêsmaisantigaqueseconheceéde1414(Chrimes, 1936:132).
Paracompreendercomooconceitoderepresentação entrounocampodaagênciaedaatividadepolítica,deve- seteremmenteodesenvolvimentohistóricodeinstitui-ções,odesenvolvimentocorrespondentenopensamento interpretativo sobre aquelas instituições e o desenvol-vimentoetimológicodessafamíliadepalavras.Hojeem diaéamplamenteaceitoqueaconvocaçãodecavaleiros eburguesesparareunirem-senoParlamentocomoRei eoslordescomeçoucomoumaquestãodeconveniência administrativaepolíticaparaoRei11.Oscavaleiroseos
burguesesiamaoparlamentoparadarconsentimentoà cobrançadetributos,paradarinformações,para“trazero registro”dostribunaislocaisemcasosdedisputajudicial, e para levar informações de volta às suas comunidades (Cam,1944,capítulo15;MacIlwain,1932:669;Chrimes, 1936:142-145).Inicialmente,opontocrucialeraqueeles fossemaoParlamentocomautoridadeparaobrigarsuas
9.AleiestáemLodgeeThornton(1935:268).StanleyBertramChrimes(1936)apre-sentaexcertosdeYearBookCasesaolongodoséculoXV,todosaindaemfrancês. 10.Porexemplo,aquelascitadasemLodgeeThornton(1935).
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comunidades a pagar os tributos que seriam cobrados. Umpoucomaistarde,elescomeçaramaserusadospelas comunidades como um meio de apresentar queixas ao Rei,ehouvetentativasdeinsistirnasoluçãodessasqueixas antesdedarconsentimentoaimpostos.Comessedesen-volvimentocomeçouumreconhecimentogradualdeque omembropoderiapromoverointeressedesuacomunida-de,alémdecomprometê-lacomopagamentodostributos (Cam,1944:cap.15;Pollard,1926:158-159).Oscavalei-roseosburguesesqueiamaoParlamentocomeçarama servistoscomoservidoresouagentesdesuascomunida- des.Eleserampagospelascomunidadese,quandoretor-navam, podiam ser solicitados a prestar contas do que haviamfeitonoParlamento(Cam,1944,capítulos15e16, especialmenteaspáginas230-232;McKisack,1932:82-99; Brown,1939:23-24;eEmden,1956:12).ElesiamaoParla- mentocomautoridadeparacomprometersuascomunida-des,mascomfreqüênciahavialimitesespecíficosparaessa autoridade,ouentãoestavinhaacompanhadadeinstru- ções.Ealgunsmembrostinhamqueconsultarsuascomu-nidadesantesdedarconsentimentoaumtributoatípico (McKisack,1932:130).
DoséculoXIVaoséculoXVII,houveumdesenvolvi- mentogradualdaaçãounificadadecavaleiroseburgue-sesnoParlamento12.Elesdescobriramquetinhamqueixas
comuns,ecomeçaramaapresentarpetiçõescomuns,em vezdeapresentarapenaspetiçõesseparadas.Elespassaram aserchamadosde“membros”doParlamento.Essaação conjuntaavançoupassoapassocomumaconsciênciacres-centedesimesmoscomoumcorpoúnico.Osparlamentos
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vamaconhecerunsaosoutroseatrabalharemjuntos.Sua açãoconjuntafreqüentementeeraemoposiçãoaoRei,e, agindocomoumacorporação,elesencontravamforçapara oporem-seaoRei.Essedesenvolvimentoculminounoperí-ododaGuerraCivil,doProtetoradoedaRepública( Com-monwealth),quandonãohaviaReiaoqualseoporoucomo qualconsentir.Repentinamente,haviaapenasoParlamento paragovernaranaçãoeparaescolherolíderdogoverno, emnomedanação.
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enviadoaoParlamento,eneleobtémassento,eleserveao paíscomoumtodo,poisafinalidadedesuaidaparaláé geral,comoestáescritonodocumentodesuaeleição”13.
Essasvisõesemmudançasobreafunçãodosmembros doParlamentoligaram-seaduasoutrastradiçõesdepen-samento:aidéiadequetodososhomensestãopresentes noParlamento,eaidéiadequeogovernantesimbolizaou encarnaopaíscomoumtodo.Aprimeiraidéiaé,essencial-mente,umaficçãolegal,queprovavelmenteseoriginouna doutrinamedievalquodomnestangit ,vindadodireitoroma-no, segundo a qual as partes que têm direitos legais em jogonumaaçãojudicialtêmdireitoaestarpresentesou, aomenos,seremconsultadasnadecisãodaação(Pitkin, 1967:cap.4,especialmentenotaderodapén.89).Assim,a suposiçãoeraqueoParlamento,consideradoumtribunal enãoumaagêncialegislativa,tinhaoconsentimentoea participaçãodetodososcontribuintes.NoséculoXIV,um juizpoderiaargumentarquenãohádesculpasparaaigno-rânciadalei,postoquetodossãoconsideradospresentes quandooParlamentoatua(ibid.).Éclaroqueessanãoé umadoutrinademocráticadaépoca.
Aoutraidéiaquevemparaenriqueceratradiçãode pensamentosobreoParlamentoéaidéiadequetodaa
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14.Gierke(1913,parte2,capítulo4);vertambém,demodomaisgeral,Gierke (1881);Kern(1939,parte1);Hauck(1907);Hintze(1929-1930:230);Lagarde (1937);Lewis(1954,vol.I:195,242,263-264;vol.II:415);Kantorowicz(1957). 15.Kern(1939:141).Cf.Clarke(1936:290),quedizqueaidéia“resisteàanálise”; eWolff(1934:13-16).
naçãoestá,dealgumaforma,encarnadaemseugovernante, assimcomoaIgrejaestáencarnadaemCristoounoPapa, depoisDele.Estaéumaconcepçãomedievalemística:o Reinãoéapenasacabeçadocorpodanação,nemape-nasoproprietáriodetodooreino;eleéacoroa,oreino,a nação14
.Aidéiavaialémdarepresentaçãooudasimboliza-çãocomonósagoraasconcebemoseenvolveumaunidade místicaque“aanáliseteóricadificilmentepodeseparar”15.
Apalavralatinarepraesentare passagradualmenteaseruti-lizadaemconexãocomesseconjuntodeidéias.Então,à medidaqueaautoridadedoParlamentocresce,eseupapel em declarar a lei é reconhecido mais amplamente, essa posiçãosimbólicaéatribuídaconjuntamenteaoRei-no-Par- lamento,comoumcorpooucorporaçãoúnicos(Wilkin-son,1949:502-509;Brown,1939:29;Hatschek,1905:239). Assim,oRei-no-Parlamentoquegovernaoreinotambémé vistocomoseuequivalentemístico,ouencarnação.
Essasidéiasedoutrinasvariadasconvergemdeforma muitonatural.ORei-no-Parlamentoéoequivalentemísti-coouaencarnaçãodetodooreino,etodosquevivemno reinodevemserconsideradospresentesnoParlamento.Os Lordes,osbisposeopróprioReiestãopresentesempessoa; osComunscomoumtodo(comoumaordem ,porcertotem-po)estãopresentespormeiodeseugrupodeprocuradores (Chrimes,1936:81-126).Finalmente,concebe-sequetodo cavaleiroouburguêsatuaparatodasaspessoascomuns,e paraoreinotodo.
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Anglorum,deSirThomasSmith,publicadonaqueleano16.
AobradeSmithtambéméumadasprimeirasaplicações conhecidas da palavra inglesa “represent” ao Parlamento. Smithutilizaapalavraumavezsó,masautilizanumponto crucial,aoescreversobre“oParlamentodaInglaterra,que representaetemopoderdetodooreino,tantoacabe-çaquantoocorpo.Pois,entende-sequetodoinglêsestá presenteali,sejaempessoa,sejaporprocuraçãooupor meiodedelegados(...)eoconsentimentodoParlamento éconsideradocomooconsentimentodetodososhomens” (Smith,1906:49).SmithafirmaqueoParlamentorepresen-tatodooreino(ourepresentaopoderdetodooreino?), maselenãoaplicaapalavraaosmembrosdoParlamento, ouàquelesmembrosemparticularqueestãonoParlamen-tocomoprocuradoresedelegadosparaosComuns.Este pareceseropadrãoemtodasasprimeirasaplicaçõesda palavraàsinstituiçõesparlamentaresdaInglaterra;éoPar-lamentocomoumtodo(freqüentementeincluindooRei) querepresentaoreinotodo.
Quasemeioséculosepassa,depoisdaobradeSmith, atéquesediganovamentequeoParlamento“representa”, masnesseínterimcomeçaumflorescimentonotáveldesig- nificadoseformasnessafamíliadetermos.Particularmen-te,nosegundoquartildoséculoXVII,afamília“represent” ganha conotação política, sem dúvida sob o estímulo da panfletagemedodebatepolíticoqueprecedeu,acompa-nhouesucedeuaGuerraCivil.Masoflorescimentonão é,deformaalguma,confinadoàpolítica.Noperíodoque vaidaobradeSmithatéaRevoluçãoGloriosa,oinglêsse enriquececomostermos“representator”(1607),“representant” (1622),“representee”(1624),“representance”(1633), “representa-tory”(1674),“representativer”(1676),“representamen”(1677),
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17.Chisholm(1910-1911:109);Hintze(1929-1930:235).Algunsescritores,en- tretanto,argumentamqueotermo“representação”foiaplicadoemprimeirolu-garàsatividadesdedelegadoseagentes;emseguidaaosmembrosindividuaisdo Parlamento,àmedidaqueeramconcebidoscomoagentes;eapenasdeforma derivadaaoParlamentocomoumtodo.VerespecialmenteHermens(1941:5); Lewis(1877:97-98).Talvezessasvisõessebaseiememcertaconfusãoentreouso dapalavralatinaedapalavrainglesanesseperíodo.
alémdemuitossignificadosnovosparaaspalavrasdessa famíliaquejáexistiam.Obviamente,muitasdessasinova-ções não foram mantidas no inglês moderno, e algumas delasnãoperduraramalémdoséculoXVII.Nãoobstante, apolitizaçãodaidéiaderepresentaçãopareceterocorrido contraopanodefundodeumaexpansãogeraledafluidez nessaregiãoconceitual.
Aevidênciaetimológicanãoéinteiramenteclara,mas sugerequetodaafamíliadetermosparecetersidoapli-cadaprimeiramenteaoParlamentocomoumtodo,ouaos Comunscomoumgrupo17
.Eossignificadosestãoobvia-menteemtransição,doantigo“pôr-seemlugardeoutros”, pelaviadasubstituição,paraalgocomo“atuarparaoutros”. Os termos parecem ser utilizados, primeiramente, como umaexpressãode–ecomoumademandapor–autori-dade,podereprestígio.QueosLordesfiquemcientes:os Comunsrepresentamoreinotodo.QueoReifiqueciente: oParlamentorepresentaoreino.Emnenhummomento duranteesseperíodotaispalavrassãousadasparaexpressar arelaçãodeummembroindividualdosComunscomsua baseparticular,seudeverdeobedeceraosdesejosdaqueles querepresenta,seupoderdecomprometê-loscomdecisões tomadas,ouqualquercoisadotipo.Existe,éclaro,aidéia dequeosmembrosdoParlamentosãodelegadosouagen-tesdesuascomunidades,maselanãoéexpressapelotermo “representação”.
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18.DeacordocomoOxfordEnglishDictionary,nenhumtermoalternativosobrevive aoséculoXVII.Éclaro,noentanto,queafaltadeexemplosposterioresnodicio-nárionãoéumaprova.Paraexemplosdonovousodotermonosparlamentosdo Protetoradoedepois,verBrown(1939);Emden(1956:15).
19.TheElementsofLaw,concluídoem1640,nãofoipublicadoaté1650.Decive, concluídoem1642,foipublicadopelaprimeiravezemlatimenãoapareceuem inglêsaté1651,anodapublicaçãodeLeviathan.
1651,quandoIsaacPennington,oJovem,escreve:“Odirei- tofundamental,segurançaeliberdadedoPovo;queradi-canopróprioPovo,edeformaderivadanoParlamento, nossubstitutosounosrepresentantesdopovo”(citadopor Chisholm,1910-1911:109;grifomeu).Osubstantivoéapli- cadodestemodo,comfreqüênciacrescente,nosparlamen- tosdoProtetorado,atéquefinalmenteestesetornaoprin-cipalsignificadodosubstantivo,eváriostermosalternativos setornamobsoletos18.
Mas1651tambéméoanoemqueHobbespublicou oLeviathan,oprimeiroexamedaidéiaderepresentação nateoriapolítica.Duasvezesantes,em1640eem1642, Hobbestinhaconcluídoargumentossemelhantesàqueles doLeviathan,derivandoasoberaniaeaobrigaçãopolítica deumcontratosocialcelebradonumestadodenatureza anterior19.Dealgumamaneira,nadécadaseguinte,eem
meioàturbulênciasemânticanafamília“represent-”,Hob-besvislumbrouumaformabrilhantedeaplicarapalavra “representação”aoseuargumento.
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“Diz-sequeumaRepública(Commonwealth)seinstituiu quandoumamultidãodehomensconcordaepactua,cada umcomooutro,quedeterminadohomem,ouassembléiade homens,devereceberdamaiorparteodireitodeapresentar apessoadetodoseles,istoé,deserseurepresentante;todos [...]devemautorizartodasasaçõesejulgamentosdaquele homem,ouassembléiadehomens,comosefossemseus próprios.”(Hobbes,1839-1845,vol.III:159-160)
Essaaçãosoldaamultidãodeindivíduosemumúnicoe duradourotodo,“apessoadetodos”.Osoberanorepresen-taaquelapessoasingular,pública;naverdade,éporqueele arepresentaqueelapodeserconsideradaumaunidade.
PeladefiniçãoformalistadeHobbes,aoserautorizado, orepresentanteadquirenovosdireitosepoderes;orepre-sentado adquire apenas novas obrigações. Mas à medida queotermoseaplicavaàagênciaindividual,nousocomum daquele tempo, ele certamente já incluía implicações de algumas obrigações ou padrões, restringindo o que o representantecomotaldeveriafazerecomoaatividadede representardeveriaserconduzida.Naverdade,apesardesua definiçãoformalista,opróprioHobbesocasionalmenteusa-vaapalavranessaacepçãocomum.Assim,adespeitodofato deconscientementepretenderesseefeito,seuargumento políticosobreasoberaniaexploraadiscrepânciaentresua definiçãoformaleousocomum.Aochamarosoberanode representante,Hobbesconstantementesugerequeosobe-ranofaráoqueseesperaqueosrepresentantesfaçam,não apenasoquelhesatisfaz.Noentanto,adefiniçãoformal asseguraqueessaexpectativanuncapodeserinvocadapara criticarosoberanoouresistiraelepornãorepresentarseus súditoscomodeveria.Naverdade,nadefiniçãoexplícita, nãoexistealgocomoum(não)representarcomosedeveria.
modernoderepresentação,aomenosemseusaspectospoliti-30
camentesignificativos,estivesseessencialmenteacabadoantes dofinaldoséculoXVII,seudesenvolvimentonateoriapolí-ticamaltinhacomeçado.Nateoriapolítica,suaelaboração continuoucontraopanodefundodasgrandesrevoluções democráticasdofinaldoséculoXVIIIedepoisdasprolonga-daslutaspolíticaseinstitucionaisdoséculoXIX:osufrágio,a divisãoemdistritoseaproporcionalidade,ospartidospolíti- coseosinteressesepolíticas,arelaçãoentreasfunçõeslegis-lativaseexecutivaseasinstituiçõeslegislativaseexecutivas. Essaslutaspolíticasprecipitaramumcorpoconsiderávelde literatura,sistematizadadetemposemtempos,enriquecida eredirecionadapelateoriapolítica.Dessematerialcolossal, apenasduasquestõesconceituaisinter-relacionadaspodem serdiscutidasaqui:a“polêmicasobreomandatoeaindepen-dência”earelaçãoentrearepresentaçãoeademocracia.
A“polêmicasobreomandatoeaindependência”éum daquelesdebatesteóricosinfindáveisquenuncaparecem seresolver,nãoimportaquantospensadorestomemposi-çãoemumladoounooutro.Elepodesersintetizadonessa escolhadicotômica:umrepresentantedevefazeroqueseus eleitoresqueremouoqueeleachamelhor?Adiscussãonas- cedoparadoxoinerenteaoprópriosignificadodarepre-sentação:tornarpresentedealgumaforma oqueapesardis-sonãoestáliteralmentepresente.Mas,nateoriapolítica,o paradoxoérecobertoporváriaspreocupaçõessubstantivas: arelaçãoentreosrepresentantesnalegislatura,opapeldos partidospolíticos,amedidaemqueosinteresseslocaise parciaisseencaixamnobemnacional,aformapelaquala deliberaçãoserelacionacomovotoeambasserelacionam comoexercíciodogovernoetc.
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“OParlamentonãoéumcongressoformadopor embaixadoresdeinteressesdiferentesehostis,quecada umdevesustentarcomoagenteeadvogadocontraoutros agenteseadvogados.OParlamentoéumaassembléia deliberativadanação,comuminteresse,ointeressedotodo –ondeospreconceitoslocaisnãodevemservirdeguia, massimobemgeral,queresultadojuízogeraldotodo.É verdadequeossenhoresescolhemummembro;masele, umavezescolhido,nãoéummembrodeBristol,éum membrodoParlamento”.(Burke,1949c[1774]:116)
Umavezquearelaçãodecadaparlamentarécoma naçãocomoumtodo,elenãoseencontranumarelação especialcomseueleitorado;elerepresentaanação,não aquelesqueoelegeram.
Esta posição está de acordo com o entendimento mais geral de Burke de que o governo é um fiduciário (trusteeship):
“OReiéumrepresentantedoPovo;assimtambémsãoos lordes;assimsãoosjuízes.Elessãotodosfiduciáriosdo Povo,assimcomoosComuns;poisnenhumpoderédado paraobemexclusivodaquelequeorecebe”.(Burke,1949b [1770]:27-28)
Aconsideraçãomaisimportanteéqueosgovernantes devemservirtuososesábios,independentedaformacomo sãoescolhidos.Masaúnicaformaconfiáveldeproduzirtal liderança,acreditaBurke,éocomplexosistematradicio-naldeformação,educaçãoedesenvolvimentodecaráter queeleassociacomuma“aristocracianatural”20.Nessavisão
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sentação–aeleição,aprópriaexistênciadaCâmarados Comuns–nãoparecemterlugar.
Masessanãoédeformaalgumaatotalidadedateoria deBurkesobrearepresentação.Ele,apesardetudo,atri- buiàCâmaradosComunsumpapelespecial,defendepar-lamentareseleitos,defende(emcertamedida)areforma parlamentareaextensãodosufrágio,eapóiaaqueixadas colôniasamericanasdequeeramoprimidasporqueeram excluídasdarepresentação.“Avirtude,oespíritoeaessên-ciadaCâmaradosComuns”,dizBurke,“consisteemser capazdeseraclaraimagemdossentimentosdanação.”Sua tarefanãoétantoadegovernarquantoadecontrolaro governoemnomedoPovo.“Elanãofoicriadaparaserum controlesobreoPovo[...],masumcontroleparaoPovo.” Eelanãopodeexerceressafunçãocontroladoraanãoser queseusmembros“sejamelesmesmoscontroladosporseus eleitores”(Burke,1949b[1770]:28)
Burkedistingueentreoquechamaderepresentação “virtual”e“efetiva”.Arepresentaçãoefetivasignificatervoz, defato,naescolhadorepresentante.Avirtualsignifica:
“umacomunhãodeinteresseseumasimpatiade sentimentosedesejosentreaquelesqueagememnome deumaimagemqualquerdoPovoeoPovoemcujonome elesatuam,aindaqueosfiduciáriosnãosejamefetivamente escolhidosporeles”.(Burke,1949f[1792]:495)
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epráticassematendimento,Burkeapoiavaareformaeleito-ral,masseopunhaaextensõesdosufrágiobaseadasapenas emalgumprincípioabstratoouno“direitonatural”.
Burke não pensa em “interesses” como algo pessoal e mutável, como uma questão de escolha individual. Ele pensaeminteressesrelativamentepouconumerosos,em interessesamplos,fixoseobjetivosque,juntos,formamo bem-estardotodo.Essesinteressessãoemgrandemedida econômicosesãoassociadosalocalidadesespecíficascujos meiosdevidaelescaracterizam.Elefaladeuminteresse mercantil,deuminteresseagrícola,deuminteressepro-fissional(mastambémreconheceumclarointeressedos católicosirlandesescomogrupo).Umalocalidade“compar-tilha”ou“participade”talinteresse;nenhumalocalidade ouindivíduo“tem”uminteresse.
Orepresentanteé,semdúvida,umporta-vozdointe-ressedoseudistrito,porexemplo,dointeressemercantil, seelerepresentaBristol.Masissonãosignificaqueelepre- cisaconsultaropovodeBristol,nemqueseusvotospre-cisamfavorecerBristolemdetrimentodaGrã-Bretanha.A consultanãoénecessáriaporqueosinteressessãoobjetivos ecompletamentediferentesdasopiniões.Orepresentante deveaseuseleitores“devoçãoaosseusinteressesantesque àsuaopinião”21.Demodogeral,aspessoassabemquando
algovaimalemsuasvidas,deformaqueasinformações sobresuasqueixasenecessidadesdevemsertransmitidas porumrepresentantequesejasimpáticoaosseusproble-mas;noentanto,quantoàscausasesoluções,aspessoassão irremediavelmenteignorantes.
Ascriaturasmaispobres,ignorantesedesinformadasda terrasãoosjuízesdeumaopressãoprática.Éumaquestão
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desentimento;ecomoessaspessoasgeralmentesentirama maiorpartedaquelaopressão,enãosãodeumasensibilida-dedemasiadodelicada,essaspessoassãoosmelhoresjuízes. Masquantoàcausareal,ouaoremédioadequado,elasnunca devemserconsultadas22.
Tampoucoorepresentanteéumagentedointeresse particularnoqualseudistritoparticipa,umavezqueatarefa realdalegislaturaéadeliberaçãoenãoovoto.Osgrandes everdadeirosinteressesdanaçãoemprincípioseencaixam; épapeldosestadistassábiosevirtuososdescobrircomose encaixam,comoasquestõesexistentespodemsermaisbem resolvidas. Quando terminarem de deliberar, o resultado dificilmenteexigiráovoto.Ogovernoéumaquestãode razão,nãodevontade;detarefas,enãodearitmética.
Burketambémreconheceaexistênciadeumainterpre-taçãocompletamentediferentedarepresentação,queele chamade“representaçãopessoal”:arepresentaçãodecada pessoaindividualpormeiodosufrágiouniversalemdistri-toseleitoraiscombasenapopulação(Burke,1949d[1782]: 229).Burkerejeitaenfaticamenteessainterpretação,como umacriaturadaespeculaçãofilosóficaabstratafundadana idéiadedireitosnaturais.
Masaidéiaderepresentaçãopessoaltriunfariasobrea idéiaburkeanaderepresentaçãodeinteressesfixos;mesmo notempodeBurke,osteóricosdoliberalismonosdoislados doAtlânticoestavamarticulandoumateoriadarepresenta- çãodepessoasquetêminteresses.NaAmérica,representa-çãoeraclaramenterepresentaçãodepessoas,eosinteresses tornaram-seummalinevitável,quedeveriaserdomesticado porumgovernobemconstruído.NaInglaterra,outilitaris-monãoapenasfavoreciaarepresentaçãodepessoascomo faziadointeresseumconceitocadavezmaispessoal.
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AlexanderHamilton,JohnJayeJamesMadison,nos Arti-gosFederalistas,apresentamogovernorepresentativocomo umdispositivoadotadonolugardademocraciadireta,por-queseriaimpossívelreunirumgrandenúmerodepessoas emumúnicolugar.Arepresentaçãoéassimum“substituto paraoencontropessoaldoscidadãos”23
.Maselesnãoacon- sideramumsubstitutomenor;naverdade,elaprometepos-sibilidadessemprecedentesparaogovernodaAmérica.
ParaosautoresdeOFederalista ,oconceitodeinteres-seémuitomaispluraleinstáveldoqueparaBurke,eé essencialmentepejorativo.Interessessãoidentificadoscom “facção”esãoummal.EmboraMadisonreconhecesseum “interesse agrário” e um “interesse manufatureiro”, eles poderiam ser subdivididos quase indefinidamente, e os agrupamentos econômicos resultantes se entrecruzavam com outros agrupamentos “fundados em acidentais dife-rençaspolíticas,religiosas,deopiniãoounaligaçãopessoal comoslíderes”(Madison,1953[1787]:17,42).Osinteres-sessãoalgoqueaspessoas“sentem”,esãotãovariáveise mutantesquantoosentimento,queéfundamentalmente subjetivo(Hamilton,Madison,eJay,1948,n.o10:45).
Noentanto,OFederalistatambémadmiteaexistência dealgomaioremaisobjetivo,“obempúblico”(Hamilton, MadisoneJay,1948,n.o10:45;vejatambémn.o63:324).A
representaçãoésuperioràdemocraciadiretaprecisamen-teporquepodeassegurarobempúblicosemadistração deváriosinteressesparticularesconflitantes,ou“facções”. Umafacçãoé:
“umaquantidadedecidadãos,quepodeconstituiramaioria ouaminoriadotodo,quesãounidoseatuamporalgum impulsocomumdepaixão,oudeinteresse,contrárioaos
23.Hamilton,MadisoneJay(1948,n.o
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direitosdosoutroscidadãos,ouaointeressepermanentee agregadodacomunidade”.(Hamilton,MadisoneJay,1948, n.o10:42)
Umarepúblicaougovernofundamentadonarepresen-tação“prometeacura”paraosmalesdafacção.
Emprimeirolugar,aprópriarepresentaçãofunciona comoumaespéciedefiltropararefinareampliaraspers-pectivas do público, ao passá-las por um corpo eleito de cidadãos,cujasabedoriapodediscernirmelhorosverdadei-rosinteressesdeseupaís,ecujopatriotismoeamorpela justiçaserãomenossuscetíveisasacrificá-laemnomede consideraçõestemporáriasouparciais.(Hamilton,Madison eJay,1948,n.o10:45)
Issopareceburkeano,masMadisonnãotem,naverda- de,muitaconfiançanessemecanismo.“Nemsempreesta- distasesclarecidosestarãonocomando”(Hamilton,Madi-soneJay,1948,n.o10:44).Muitomaispromissoréofatoda
representaçãotornarpossívelumarepúblicagrande.Numa repúblicagrande,osinteressesserãomúltiplosediversos; portanto,serámenosprovávelacombinaçãodeinteresses paraumaefetivaaçãofacciosa.
Amplieaesferaeteráumamaiorvariedadedepartidos einteresses;tornarámenosprovávelqueamaioriatenha ummotivocomumparainvadirosdireitosdosoutroscida-dãos;ou,seumtalmotivocomumexistir,serámaisdifícil paraaquelesqueosentemdescobrirsuaprópriaforçae agiremconcordância24.
ParaMadison,operigoresidenaaçãopolítica,easal-vaguardaseencontranoempatedeforças.Osinteresses
24.Hamilton,MadisoneJay(1948,n.o10:47).Omesmoargumentoéfeitonos
n.os51,60e63,p.267,307,323,enumdiscursodeMadison,em6dejunhode
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dasfacçõesdevemser“rompidos”,“controlados”e“equi-librados”unscontraosoutrosparaproduzir“estabilidade” (Beer,1957:629;Padover,1953:17;DeGrazia,1951:96,99-100).Nosrarosmomentosemqueserequeraaçãopública, Madisonadmitequenãohaverádificuldadeemassegurar umamaioriasubstantivaparaapoiá-la.Arepresentaçãonão apenas torna possível uma grande república, mas é tam-bémummeiodetrazerconflitossociaisperigososparaum fórumcentralúnico,noqualpodemsercontroladosetor-nadosinofensivospeloequilíbrio.Oequilíbrionecessário aconteceráapenassecadarepresentantebuscardefatoos interessesdosseuseleitores.
Oconceitodeinteressedosautoresutilitaristaséain-damaissubjetivoe,emúltimainstância,pessoalparacada indivíduo.Dediversasmaneiras,osutilitaristasargumen-tam que todo mundo sempre é, ou pelo menos a maior partedaspessoasnormalmenteé,motivadapelointeresse próprio, e que assim, segundo Bentham, “ninguém sabe oqueédoseuinteressetãobemquantovocêmesmo”25.
Seguedissoquecadaindivíduoéomelhorguardiãodoseu própriointeresse,sejaporqueosoutrossãomuitoegoístas paradefendê-lo,sejaporquenãopodemconhecê-lo.
Issoparecetornarimpossívelarepresentação,masessa nãoénaverdadeaconclusãoaquechegamosutilitaris-tas.Todoselesreconhecemaexistênciadeuminteresse “comum”,“universal”ou“geral”,obemdetodaasocie-dade26. Às vezes Bentham diz que se trata simplesmente
da“união”ouda“somadeinteressesdosváriosmembros quecompõem”asociedade;masnocontextodalegislação,
25.Bentham(1843g:33;1954:438).ComparecomJamesMill(1955:69);John StuartMill(1947,capítulo3:208;1947:133;Bailey(1835:68);AdamSmith(1937: 497);Halevy(1955:491);Stoke(1937:80).
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27.Bentham(1843b:453-455;1843f:6,53,60-62,67;1843e:475;1954:428-433). Cf.JohnStuartMill(1947,capítulo6:248-255);Bailey(1835:137).
28.Bentham(1843f:61).VejatambémBentham(1954:432). 29.CitadoemFord(1924:146);JamesMill(1955:69).
Benthamreconhecequecadapessoatemtantouminteres- sepúblicoquantoprivado,tantouminteressesocialquan-toumauto-interesse27.Osinteressespúblicosousociaisde
cada um resultam no “interesse universal”; os interesses privadosouosauto-interesses,não.Infelizmente,amaior partedaspessoasprefereessesúltimos.Asexceçõessãotão raras,dizBenthamnumacomparaçãoreveladora,que“não érazoávelesperarquehajatantosexemplosdessaexceção quantodeloucura”28.
Masaquiintervémolegislador.Suafunçãoérecompen-saraçõessocialmentedesejáveis,masnãoatrativasdoponto devistaindividual,epunirasaçõessocialmenteindesejáveis eatrativasdopontodevistaindividual,deformaqueointe-resseprópriosealinhecomobempúblico.Oquemotiva olegisladorafazerisso?Emseusprimeirosescritos,Ben- thampareceimaginarumlegislador-mestreúnico,hipoté- tico(talvezelemesmo),queseriaumdaquelesrarosindiví-duosgenuinamentemotivadospeloaltruísmo.Masparao Benthamdosúltimosescritos,ecertamenteparaJamese JohnStuartMill,olegisladorésubstituídopelalegislatura eleitaeoaltruísmodevesersubstituídopormecanismos institucionais,emparticularpelarepresentação.
Uma vez que “a comunidade não pode ter nenhum interesseemoposiçãoaosseusinteresses”,JamesMillargu-mentaquetudooqueénecessárioéque“osinteressesdos representantessejamidentificadoscomosdasuacomuni-dade”29.Millacreditaqueissopodeserconseguido,sehá
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30.Bentham(1843b:455).SobreosEstadosUnidos,Bentham(1843b:437,445, 447)eHalévy(1955:412).
aconhecidanoçãodequeoslegisladoresfarãooqueos eleitoresquerem,porqueoslegisladoresqueremserreelei-tos(Bentham,1843f:63,103,118,155).E,nessecontexto, Benthamafirmaqueoseleitoresqueremointeressepúbli- co.BenthamestavaimpressionadocomoexemplodaAmé-ricaeoutilizouparaprovar,combasenaexperiência,que
“dapartedoseleitores–pelomenos,dapartedamaioria deles–existeadisposiçãodecontribuirparaapromoçãodo interesseuniversal,namedidaemqueseusvotospodem contribuir”30.
MasesteéomesmoBenthamquepensavaquealoucu- raeramaisfreqüentequeadisposiçãodesacrificaroegoís-mopelointeressepúblico!
JohnStuartMilldebate-secomomesmodilema.Ele tambémacreditaserum“fatouniversalmenteobservável” queumindivíduoirápreferirseus“interessesegoístasàque- lesquecompartilhacomosoutros,eirápreferirseuinte-resseimediatoediretoàquelesindiretoseremotos”(John Stuart Mill, 1947, capítulo 6: 252). Na verdade, por esse mesmomotivo,Milldefendeuogovernorepresentativo,o sufrágiouniversalearepresentaçãoproporcional:
“Éimportantequetodososgovernadostenhamvozno governo,porqueédifícilesperarqueaquelesquenãotêm voznãosejaminjustamentepreteridosporaquelesque têm”.(JohnStuartMill,1874:21)
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31.JohnStuartMill(1947,capítulo4:219).Novamente,emoposiçãoaBurke,os utilitaristasconsideramointeressecomoalgoqueaspessoas“sentem”.
32.JohnStuartMill(1947,capítulo6:254-255).Cf.os“interessesmaléficos”de Bentham(1843b:446,450-451).
nosassuntosgeraisdoEstadonecessárioparaaformação deumaopiniãopública,[nasquais]oseleitoresraramente farãoqualquerusododireitodesufrágiosenãoparaservir seuinteresseprivado,ouointeressedasualocalidade31.
Às vezes, John Stuart Mill acredita que mesmo uma minoriadecidadãoscomespíritopúblicoseriasuficientese osistemarepresentativofosseorganizadodeformaqueos interessesegoístasfossemequilibradosigualmente,unscon-traosoutros,cadaumanulandoooutrocomonasfacções deMadison.Milldefine“classe”quaseexatamentecomo Madisondefinefacção:
“Seconsideramoscomoclasse,nosentidopolítico,uma quantidadequalquerdepessoasquetêmummesmo interessemaléfico–ouseja,cujointeressediretoeaparente aponteparaomesmogênerodemásmedidas;oobjetivo desejávelseriaquenenhumaclasse,oucombinação prováveldeclasses,fossecapazdeexercerumainfluência preponderantesobreogoverno”32.
Então,podesurgirumaminoriaemcadaclassecujo interessedeclasse“estejasubordinadoàrazão,àjustiçae aobemdotodo”eessasminoriasjuntaspodemprevalecer sobreosinteressesdeclasseempatados(JohnStuartMill 1947,capítulo6:255).
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nãoéomelhorjuizdoseuprópriointeresse.Naverdade,se ojulgamentodointeressefosseverdadeiramentesubjetivo epessoalacadaindivíduo,umarepresentaçãosignificativa seriaimpossível.
EssaéaposiçãoadotadaporJean-JacquesRousseau. Rousseaunãoargumentaemtermosdeinteresse,masde vontade,eavontadeéverdadeiramentepessoal.Umapes- soapodetervontadenolugardeoutras,masnãohágaran-tiadequeessavontadedeumcoincidirácomasvontades dosoutros.Assim,aspessoassãolivresapenasquandose autogovernam;aspessoassãoobrigadasdeformalegítima apenaspelasleisqueelas“ratificarampessoalmente”,pelas leisaprovadasporsuaprópriavontadeexpressaempartici-paçãodireta(Rousseau,1974:260).
Evidentemente,opúblicotemqueterváriosmagistra-dosqueo“representam”exercendotarefasadministrativas, judiciaiseexecutivas,mas“oPovo,emsuafunçãolegislati-va,nãopodeserrepresentado”(Rousseau,1974:261).Logo queopovointroduzarepresentaçãolegislativa,eledeixa deserlivre.Assim,
“Opovoinglêspensaserlivreemuitoseengana,poissóo éduranteaeleiçãodosmembrosdoParlamento;umavez esteseleitos,eleéescravo,nãoénada.Duranteosbreves momentosdasualiberdade,ousoquedelafaz,mostraque mereceperdê-la.”(Rousseau,1974:260)33
De modo geral, pensadores posteriores ignoraram a perspectivadeRousseau,considerando-abizarraeidiossin-crática.Quaseninguémqueapoiavaademocraciaduvidava
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lenteindireto.Seogovernorepresentativotinhadefeitos, essesdefeitoseramatribuídosaosistemaeleitoralparticu-lar,aosistemapartidárioouàexclusãodealgumgrupodo sufrágio. Mesmo a maior parte dos críticos socialistas da democracialiberalnãoquestionouarepresentaçãoemsi, masasuaautenticidadesobocapitalismo.
Apenasemdécadasrecentesalgunspensadoresnova- mentecomeçaramaquestionaressespressupostos,reani-maramaquelaspoucasedébeisvozes–algumassocialistas, outrasanarquistas,todasmaisoumenosbizarrasedesvian- tes–quecontinuavamadesafiaraprópriaidéiaderepresen-tação,adesafiarnãoapenassuasuperioridadeemrelaçãoà democraciaparticipativadireta,masmesmosuacapacidade desubstituirovelhoideal.Essespensadorestêmsugerido queaparticipaçãonopoderpúblicoearesponsabilidade podemterumvalorintrínsecoenãoapenasinstrumental, necessário,portanto,aobemdavidaeaoplenodesenvol-vimentodossereshumanos.Elestêmsugeridoqueapenas umpovoativoecomenvolvimentopolíticoélivreeque asinstituiçõesrepresentativas,inicialmenteprojetadaspara abrirodomíniopúblicoparaopovocomumanteriormente excluído,têm,defato,servidoparadesencorajaracidada-niaativa.
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Assim,HannahArendt(1965:239)argumentouquea questãodarepresentação,umadasquestõescruciaisemais problemáticasdapolíticamodernadesdeasrevoluções[do século XVIII], na verdade implica nada menos que uma decisãosobreadignidadedoprópriodomíniopolítico.
Apenasaparticipaçãodemocráticadiretaproporciona umaalternativarealparaodilemaentremandatoouinde- pendência,noqualorepresentanteouéummeroagen-tedeinteressesprivadosouéumusurpadordaliberdade popularperiodicamenteeleito.Noprimeirocaso,absolu-tamenteninguémtemacessoàvidapública,jáquenãohá nenhuma.Nosegundo,aantigadistinçãoentregovernante egovernado[...]venceuoutravez;umavezmaisopovonão éadmitidonodomíniopúblico,umavezmaisosassuntos degovernosetornaramoprivilégiodepoucos[...]Como resultado,oPovooudeveafundarnuma“letargia,precur-soradamortedaliberdadepública”oudeve“preservaro espírito de resistência” diante de qualquer governo que tenhaeleito,jáqueoúnicopoderqueconservaé“opoder reservadarevolução”.(Arendt,1965:240)
HannaFenichelPitkin
éprofessoradeTeoriaPolíticadaUniversidadedeBerkeley
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