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Extensão: trabalho de intelectuais para as classes populares

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(1)

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

EXTENSÃO: TRABALHO DE INTELECTUAIS

PARA AS CLASSES POPULARES

(2)

CURSO DE ~ffiSTRADO EM ADMINISTRAÇÃO POBLICA

Luiza Ma~ia Rebelo de Souza

EXTENSÃO: TRABALHO DE INTELECTUAIS PARA AS CLASSES POPULARES

Monografia apresentada ã Escola

Brasileira de Administração Pú

blica para a obtenção do grau

de mestre em adm~nistração

blica.

Rio de Janeiro 1984

(3)

pu-CURSO DE t-.1ESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO POBLICA

E

EXTENSÃO: TRABALHO DE INTELECTUAIS PARA AS CLASSES POPULARES

(Um estudo da extensão uni versitiria na Universidade do Amazonas).

Monografia de mestrado apresentada por:

~UIZA MARIA REBELO DE SOUZA

Aprovado em /

j /

/2-/

JlY'

Pela Comiss~o Julgadora

REIS VIEIRA

Ph.D. em Administraç~o PGblica

bow" - .

IlJ'éCt:-

~;i=..

el~.

,/lJ/-'-J MARIk JULIETA COSTA CALAZANS () .

. / eme .

Doctora~ 111 cycle em SOCiologia

do Desenvolvimento

PAU{O R0BERTO MOTTA

(4)

· Fundação Universidade do Amazonas · Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior - CAPES

(5)

Extensão: trabalho de intelectuais para as classes

popula-res constitui dissertação de mestrado para a EBAP/FGV e pretende

discutir a (s) proposta (s) de extensão da Universidade do "Amazonas na conjuntura atual.

Compreendendo a extensão como um mecanismo de política

so-cial utilizado pelo Estado capitalista, apresenta-se a inserção do

Brasil e da região amazônica nesta esfera para colocá-los a serviço

do modelo político~econômico implantado no País. Neste quadro,

mos-tra-se o destacado papel que passa a ter a educação, a escola, a

unl

versidade, tomadas como instrumentos privilegiados para a

legitima-ção do novo formato da sociedade. A extensão, nesse bojo, é um dos

canaIS que vão fazer a ponte entre políticas de Estado e classes

populares.

Trabalha-se esse contexto para situar as atividades de

ex-tensão da Universidade do Amazonas no período 1964-84. Para

compre-ensão da problemática específica da extcompre-ensão universitária no

Ama-zonas, tornou-se relevante apresentar, ainda que descritivamente,an~

taçôes da vida da Escola Universitária Livre de Manaus (fundada em

1909), cujos reflexos fazem-se sentir na prática extensionista atuaL

O objeto da investigação foi trabalhado no processo

atra-ves da articulação entre a discussão teórica, calcada em ciências

sociais e educação, e as informações empíricas levantadas em pesquj

sa do campo. Destaca-se como aspecto central do trabalho a analise

(6)

Constata-se que as atividades de extensão da Universidade do Amazonas são reforçadoras da manutenção da consciência ingênua das

classes populares, impedindo-lhes a apreensao crítica da realidade

social onde se insere.

Isto posto, apresentam-se indicações alternativas que con-templam a discussão da prática atual para elaboração de programas que considerem as necessidades básicas das chamadas populações carentes, nas propostas formuladas entre intelectuais e classes populares.

o

estudo, em sua essência, sugere que a Universidade do

Amazonas, ao desenvolver a extensão, de um lado, tome por base, a

produção do conhecimento e, de outro, procure atender às demandas vi

tais das classes populares, contribuindo para o desenvolvimento da

consciência crítica. Este seria uma prática concreta de

tuais com as classes populares.

(7)

intelec-Ã Paulo Re~h V~e~~a, pela orientação, paciência, estímulo e compreensao.

à Ma~~a Jul~eta Co~ta Calazanh, pela orientação constante e decisiva e, sobretudo, pela amizade e apoio.

à Paulo Robe~to de Agu~a~ Lopeh, pela amizade, incentivo e ajuda no delineamento e estrutura do trabalho.

à Samuel Sã, Paulo Robe~to Motta, Gaudênc~o F~~gotto, pelas críticas e sugestões.

Aos companhe~~oh do Vepa~tamento de Adm~n~~t~ação da Fa-culdade de Estudos Sociais da UA, em especial ao colega

Lu~z Au~êl~o pelo incentivo e cooperaçao.

Aos p~o6e~ho~eh, 6unc~onã~~o~ e coleg~ da EBAP/FGV, pelo oferecimento do indispensavel ambiente intelectual

favo-recedor do debate livre e pluralista.

Ao I~an, meu~ p~h e ~~maõh, pelo carinho e confiança, in-gredientes essenciais para prosseguir na luta até o fim.

à Helena, G~aça, So6~a, MaZha, Clemênc~a, Ed~th, Cê~a~ e Ve~ôn~ca - colegas na mesma busca - pela cooperação ini-cial e final.

à M~~teh, E~cZl~a, Lu~za, Vanda, Reg~na e E~on, pela aten-ção e valiosa ajuda.

Ãs companhe~~~ da Re~~dênc~a da UERJ, abrigo dos momentos mais difíceis, pela carinhosa acolhida.

A

todos os amigo~ que me ajudaram e incentivaram,

(8)

AGRADECl\1E~TOS

SIDL~R 10

LISTA DE QUADROS

Ii\TRODUÇÃO

1. O Âmbito da Problemática 2. Estruturaç~o do Trabalho

3. Delimitação de Alguns Conceitos Utilizados

CAP!TULO 1

POLrTICA SOCIAL, EDUCAÇAO E EXTE~S}\O ~IVERSITÁRIA: \-ERTE'\TES DE UMA sd PROPOSTA

CAP!TULO 2

iii

IV

1

1 2 1S

19

A EXTE'\SAO UNIVERSITÁRIA DA U'\IVERSIDADE DO A~!AZOXAS 47

2.1 - Antecedentes: da Escola Universitária Livre de Manaus

às faculdades isoladas do Estado (1909-1963) 48

2.2 - Tópicos para Discutir a Extens~o Universitária na

Uni-versidade do Amazonas (1964-1984) 62

2.3 - ~otas Discursivas sobre a Extebs~o Universitária na

UA 93

CAPrTULO 3

A EXTE'\SÃO U'\I\'ERSIT.~RIA PARA LT)L6. POPULAÇÃO NO Af..1AZONAS 99

CO'\SIDERAÇOES FINAIS 136

BIBLIOGRAFIA 143

(9)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Estrutura Organizacional da Extensão Universitária da Universidade do Amazonas

Quadro 2 - Assessoria Especial para Extensão Universitária: proces-so de atuação nos últimos anos

Quadro 3 - Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comuni-tária (Crutac-Am): processo de atuação nos últimos anos

Quadro 4 - Assessoria Especial para Assuntos Culturais: processo de atuação nos últimos anos.

(10)

1. O âmbito da problemática

o embrião da idéia de fazermos um trabalho que versasse so bre a extensão universitária na Universidade do Amazonas surgiu qua~

do concluímos a área de domínio conexo do ~·1estrado em AdmInistração Púb 1 i ca. Escolhemos para cursar a área de política educacional em função do

trabalho de docência que exercemos na Universidade do Amazonas e, no

decorrer do curso, tivemos contato com uma série de problemas que

até então só conhecíamos de relance.

Dentre os temas trazidos para exposlçao e debate, mereceu

destaque o concernente ao ensino superior, ã universidade. Question~

va-se sobre a real função social de uma universidade, sobretudo nas

sociedades dependentes e periféricas, como é o caso do Brasil. O

assunto nos interessava sobremaneira, o que nos levou a dedicar-lhe

mais atenção. Após várias leituras e discussões, concluímos - pess~

alrnente - que uma universidade, como instituição integrante da

so-ciedade, tem a função, o dever de estar ao lado dessa sociedade que

a IT.an tém. Isso não significa estar ao lado de uma determinada clas

se - a 4ue detém os meios de produção, ou seja, a classe

economica-mente dominante; significa, isto sim, estar ao lado das amplas

cama-das marginalizacama-das do processo produtivo e impossibilitacama-das de satis

fazerem suas necessidades "bâsjcas.

(11)

as funções da universidade sao três: ensino, pesquisa e extensão, e

que por esta terceira função ela atenderia às chamadas populações

"c.a.ll..ente~", ou seja, aquelas que não dispõem dos meios materiais mí-nimos para o atendimento de suas necessidades vitais. Mas essa

in-formação aguçava nossa inquietação, pois outras indagações se

suce-diam: satisfazer essas "c.a.ll..ênc.ia..ó" de que modo? Com que objetivo?

Essas questões, em seguida, passaram a ter contornos mais

definidos: na Universidade do Amazonas (UA) , onde desenvolvemos a

prática docente, corno se dá esse "a.tendimento"? A quem ela serve? A população - alvo tem oportunidade de chegar até ela para expressar

suas reais necessidades?

A partir dessas formulações, montamos um projeto cujo obj~

tivo era analisar a proposta de extensão da Universidade do Amazonas.

Kão obstante sabermos que ela fazia trabalhos denominados extensão,

desconhecíamos o escopo implícito em sua ação; conhecer, pois, era o

móvel inicial da tarefa que nos propúnhamos realizar.

Estava dada a partida para destrinchar o tema. Era

preci-so dominar bem o assunto para podermos alcançar nossa pretensão: ana

lisar. Para tanto, abrimos duas "&Il..ente~ de tll..a.ba.lho":. urna na lite ratura pertinente e outra de ordem prática dentra da UA, a fim de co

nhecerrnos todos os trabalhos que ela fazia e que denominava extensão.

Depois-de alguns meses de trabalho, a problemática se nos

apresentava com mais clareza. Da literatura pesquisada inferimos que

desde os anos 20 deste século a extensão - entendida corno ajuda,

au-xílio, prestação de serviços da universidade a grupos e pessoas

(12)

le-vantada por alguns segmentos sociais, destacando-se o grupo estudan til.

No âmbito latino-americano, a reforma universitária reali zada em GÓrdoba, Argentina, em 1918, e que se estendeu por todo o con tinente, considerou sua, desde o primeiro mo~ento, a obrigação de co laborar no desenvolvimento da cultura dos trabalhadores manuais,para os quais criou cursos, programas de capacitação sindical, etc. A de fesa dos reformistas pelo desenvolvimento dessa extensão era o direi to de todos à educação integral. Na década de 20, ao tomar corpo,no Brasil, o movimento da Escola Nova, é retomada a idéia de extensão universitária, constituindo-se a mesma em um dos princípos basila-res do IP.ovimento ("uma educaç.ão mai~ viva e cJtiuiva capaz de ~eJt um agente de de~envo.e.vimento"J.l

A partir de 1930, o movimento esco1anovista adquire maior expressa0 e seus adeptos ("o~ pioneiJto~ da educaç.ão") lançam para a extensão a idéia de um serviço para o desenvolvimento social e um instrumento pedagógico válido.

lU.nhaJtu, Ftávio A. A ext~ão univeMUâJt.<..a - oJt.{.g~ e dUeJlvo.f.vimenM. Educ.a-ç.ão. MEC, B~Iiia, {5J: 20, abJt./jun., 1976, p.48.

Em inque.M;to Jtewzado em 1926 puo jOJtna.f. O E!dado de são Pauio, a nunç.ão etten uoni.6ta apaJteceu como ~atoJt pJtepondeJtante, nao .6 omente no condlç.ão de extenÚiõ univeMitâJr..<..a, mM taJr.bem CO/lW exteJ1.6ão JtuJta.f. (com b~~e na idúa do.6 Land G· ... c1nt

CoUege.6

J,

innfuênua do yadMo 11OJtte-ameJt.{.cano de extel1.6ão.

Um 6ato maJtcante na wtcJtia dU.6a ex.ten.6M

e.

a Jtewzaç.ã.o da I Semana do Fazen-deiJto, ocoJtJtida em_1929, na E~co.e.a de AgJt.{.cu.f.tuJta e VeteJtinâJt.<..a de Viç.o.6a - ~kl1M

GeJUÚ6, que teve como obj eüvo t'laJL~mLüJz. o Jte6u.f.tado de PUg.lÚ.6M e en.6ino a 39 nl!;zende.hw.6, c.om o y JtCPÔ.6ÜO de aumen:taJt a pJtoduüvidade agtu.c.o.e.a da Jteg-iã.c atJta

(13)

o

Estatuto das Universidades Brasileiras, elaborado em

1931, reserva para essa atividade o papel de "pode~o~o -i.n~t~ume.nto

do~ -i.n~t-i.tuto~ de en~-i.no ~upe.~o~ com a ~oc-i.e.dade., ut-i.l-i.zando em

be.-Essa legislação esta belece que a extensão "de.~t-i.na-~e. i d-i.6u~~o de conhec-i.mento~

6-i.lo~;-6ico~, a~tZ~t-i.co~, l-i.te~ã~-i.o~ e. c-i.entZ6-i.co~, em bene.6Ic-i.o do ap~ove.~ tame.nto ind-i.vidual e. cole.t-i.vo".3

Na década de 40, a extensão rural (a mesma prestação de

-serviços, so que exclusivamente ao homem do campo) toma grande vulto na P~érica Latina, embora essa prática seja cópia do modelo

norte-americano. Na década de 60, essa atividade assume maior proporção, considerando sobretudo, o patrocínio ou suporte dado por: l.organiz~

ç6es de "coope.~ac~o t~cn-i.ca" ligadas diretamente ao Governo dos EUA (IIAA, ICA, AID, USOf<~, Aliança para o Progresso, etc.); 2. corpora-ç6es, associaç6es e fundaç6es privadas, ditas "6-i.lant~;p-i.ca~", liga-das ao grande capital monopolista americano (AIA, Fundação Ford, F~ dação Rockfeller, Fundação Kellog, etc.); 3. organismos interna-cionais permeáveis aos interesses dos dois grupos mencionados e que a eles dão legitimidade, cobertura e prestígio, vendendo urna imagem romântica da extensão rural para mascarar a expansão da economia de mercado dos países centrais para os países periféricos (IICA, OEA, BID, FAO, BIRD).~

2Re.60/rma do EIt~ino Supv-vi.o~ FJta.nwco CampOb. ViâtU.o 06-i.cial, 15/ab~./1931. p.

5.830-9. E9?O~-i.CM de. Mo.t{vo~. II1:Fâv~o, Ma/t.Út de. LOuMU. Un-i.ve.M-i.dade. i. P('de.~.

An~e. ~ca/6wldame.nto~ h-UtÕ/ÚCOb: 1930-1945. Ri.o de. Janwo: ACJ11amE, 1980, p.130.

3ú tatu:tO dM UlÚve.Juidadu BJtMile..úuL6. Ve.Me.tO 11919.851, de. 11 de. abtúf de. 1931.

In: Fâv~o, HaJu_a de. Loudu, op.m. p.170.

~Figue.L'te.do, Romeu PacLLe.ha de.. A e.rte.n~M ~ 6ac.e. li p~oble.mâlic.a da pequena p.!to

duÇão 110 BJtMil. Cade.MOb ANPE'D, Rio de. JaJ1wo, Ánpe.d/CNPq, (1): 5! jun. /1982. -úte. au:to~ a,~~Úlo.lli que. e. hnpoJr.;ta.nte. ~e.t~ que., como ~v-i.dade. do ~e.to~ pUbuco,a e.xte.tMã.o fl..J.lJLa1. ~~e. como o capilo.Lú.,mo monopowta de. E~tado, ~to ~, quw1do a pll.e..6e.nça do útado pM~a a ~~ .. i.mplr.uw1dZve..t na lr.e.gulaCM do plr.OcU~O de.

(14)

A proposta embutida neste intricado complexo era atuar com

pequenos e méaios proprietários (eram excluídos os não-proprietários ,os

mini fundiários e a grande propriedade), procurando "mudalL a

me.nta!i-dade." dos mesmos a fim de que adquirissem "novol> hãbito.6" favorávejs

à adoção de técnicas mais "ava.rzç.ada.6" que lhes possibilitassem

ele-yar a produção, a produtividade e a "me..tho!U.a. deu, c.ond.{.ç.õe..6 de. vida da

n

am I..ti a Itulta!". Mas logo essa proposta de atendimento ao "pe.que.no

e. m~dio pltcplLie.t~lLio" é repensada e, inicia-se a viabilização da tecnificação da grande propriedade, através da interferência do

Es-taco.

Essa "nova opç.~o da e.xte.nl>~o lLulLa!" encontrou sua consa-graçao, no Brasil, no Governo Jânio Quadros e no programa Aliança

para o Progresso. Um plano qUinqUenal (1961-65) foi formulado com o

objetivo de consólidar as novas diretrizes, onde ficava claro que o

fundamental era "e.!e.valL a PlLodutividade. da m~o-de.-oblLa".s

o

novo pacto de Estado instalado no Brasil a partir de

1964 reforçou essa ótica do atendimento das necessidades de

amplia-çao do grande capital, utilizando os diversos mecanismos existentes

que pudesseIT servir de agente facilitador para tal empreitada. Nesse

bojo, a extensão rural e a extensão universitária assumem caráter re

leyante como instrumentos de veiculação da ideologia dominante e de

política social para esconder o caráter anti-social da política

eco--

.

nor lca.

(15)

e, para tanto lançou mao dos instrumentos que pudessem viabilizar e~

se objetivo. Utilizava, assim, instrumentos id~016gicos e repressi vos ,na medida em que considerava necessário o uso de um ou de outro, ou de ambos simultaneamente. Nesse intento, utilizou tanto as ins tituições situadas na esfera da sociedade política (que agrupa gen~

ricamente as atividades que dizem respeito

à

coerção e

à

violência -governo, tribunais, polícia, etc.) como na esfera da sociedade civil ("conjunto de ongani~mo~ vulganmente chamadoh Jpnivadoh'~ in~umbido6

damentai.6") .6 Nessa 6tica, a Igreja, a escola e a imprensa

repre-sentam as organizações de maior significação dentro da sociedade ci-vil. t assim que a escola assume papel privilegiado por ser urna instituição que possui ampla credibilidade e aceitação de todas as classes sociais,e twbém porque, através de seus conteúdos, pode ser disseminada a ideologia necessária à legitimação do novo Estado sem que pareça um ato de violência. Dentre os vários níveis escolares, a universidade começa a ter destaque porque assume o papel da forma ção de quadros para servirem de intermediários do grande capital. E~

te não tem mais pátria e nem um dono definido; ele tem empregados, que remunera para cuidar de seus interesses. t preciso, portanto, que esses quadros estejam convencidos de que fazem um trabalho impo! tante e necessário para a sociedade.

Outra exigência da grande empresa é a de que existam ins-tituições de caráter social, mantidas pelo Estado, para atender a necessidades básicas e suprir carências das classes subalternas. As sim, a extração da mais-valia pode ser realizada sem a preocupaçao

(16)

de que essas classes venham a se organizar para fazer reivindicações,

o que poderia desestabilizar as organizações implantadas.

Nesse momento, sao criados e/ou revitalizados vários

meca-nismos e instituições para cumprirem esse papel, e esse conjunto pa~ sa a ser denominado política social (já que estaria supostamente vol

tado para a problernática social das pessoas), em oposlçao a

políti-ca econômipolíti-ca, que era considerada a prioritária.

o

raciocínio vige~ te ?rgumentava que priJTleiro era preciso teI urna economia forte para' se p~

cer pensar em redistribuir a renda. fi .. "paz" na área social era pr~ condição para 2 expansão econômica. Logo, era necessário tornar medi

das pertinentes àquela área para possibilitar o desenvolvimento des

ta.

A universidade, corno instituição da sociedade civil, tinha

de dar o seu quinhão. E o faria "ate.nde.ndo" às reivindicações de diversos grupos e, em especial.as dos estudantes: se " e.hte.nde.JU..a" à comunidade. Desse modo, a função de extensão passava para o

inte-rior da legislação oficLal, com o fim de colaborar na legi timação do

novo Estado, sob a denominação de extensão universitária, já que a

extensão rural adquiria, por parte do Estado, trato cada vez mais re

=inado e ampliado.

fi a p r e e n s a o de s se" a te!"La n j c " a n í \' e I n a c i C' n a I mo t i vou - nos a

estudar e analisar corno isto se deu na J'niversidade do Ar.a:onas. Qu~

ríamos saber como a lIA se situou no interior dessa proposta concebi

da pela burocracia atrelada ao poder. Teria sido fiel às eí.anaçces -do Esta-do ou teria encontra-do formas de burlá-lo e desenvolvido um

modelo alternativo de extensão, onde as classes populares teriam

(17)

Para verificarmos isso, fizemos inicialmente um amplo

le-vantamento documental sobre todos os trabalhos que a DA realiza e

mantém sob a rubrica de extensão. Procurávamos saber quando

come-çou, quais os objetivos gerais e específicos, qual a área de

abran-gência" quais os resultados obtidos, etc. Montamos um quadro com

todas essas informações a fim de que pudéssemos ter um panorama do

trabalho desenvolvido, e ele nos mostrou que, dentre todos os traba-lhos, dois se destacavam por serem os mais antigos e com duração con

tínua. Eram o Projeto Puxirum, desenvolvido para o bairro do

Co-roado (área contígua ao campus universitário, localizada na periferia

da cidade de Manaus), e o Crutac-Am, com sede no município de Coari

(interior do Estado). Elegemos, então, esses dois programas como

objeto da nossa análise, por entendermos que eles espelhavam com pr~

cisão o que era e o que é a extensão universitária na DA. As

medi-das adotamedi-das para eles eram também as medimedi-das adotamedi-das para os

de-mais; além disso, suas ações, sendo as mais antigas e contínuas, po-deriam dar uma visão menos parcializada para a análise.

Nesses dois lugares realizamos, ao todo, 48 entrevistas

abrangendo os diversos grupos que atuam diretamente na extensão. Fo

ram os dirigentes (os gestores) da DA e dos dois programas, os

pro-fessores que atuam diretamente nas áreas eleitas, os alunos que lá

atuam ou atuaram, os dirigentes de instituições (agentes

comunitá-rios)com que a lIA se relaciona e as pessoas do povo (classes populares)

que são, em última instância, os "ben.enic.iãJtiofl" da ação.

Utilizamos para esses grupos uma denominação que espelha a

função que cada qual exerce no quadro de extensão da UA. Optamos

(18)

(gestores, professores, alunos e os agentes comunitários) em função

do papel mediador que eles assumem entre a estrutura e a superestr~

tura (bloco histórico).

Para Gramsci, o critério de classificação dos intelectuais nao está ligado às características intrínsecas dessa atividade,pois,

sob tal ótica, todos os homens são intelectuais. O autor argumenta

que o homo faber não se dissocia do homo sapiens, e que em todas as

atividades humanas, mesmo nas manuais, está presente a intervenção

intelectual. Acrescenta, ainda, que "t.odo homem

ê.

ó.ilô.6oóo" na

me

-dida em que todos cooperam para sustentar ou modificar as concepçoes de mundo e suscitar novos modelos de pensamentos:

Neste sentido, para Gramsci, "t.odo.6 0.6 homen.6 .6ao

.int.elee-t.ua.i.6, maJ.:, nem t.odo.6 0.6 homen.6 de.6empenham na .6oe.iedade a óunção de

Tomando por base este enfoque conceitual, o

crité-rio que adotamos neste trabalho, para caracterizar o intelectual, e

-a função que c-ad-a grupo tom-a e -assume no exercício d-a extensão na

DA. E a função que esses quatro grupos dese~penham na prática exten

sionista da universidade é a de ligação desta instituição com as

classes populares.

As entrevistas realizadas com os cinco grupos finais foram abertas, sem tempo estabelecido para início e fim, pois muitas vezes

era preciso discutirmos bastante o assunto e que explicássemos o PO!

que e a iJllportância do trabalho, para, então, utilizarmos

°

gravador.

7Gltmn6Ú, Ant.OIt.io. 0.6 ~e1.ectu.a.L6 e a oltgan-ização da eult.WUt. Rio de JaJ1wo,

c..i..-v-i.Ltzação BltMilUJut, 1977. p. 7.

(19)

As entrevistas nao obedeciam a um esquema rígido, e sim a um roteiro em que se procurava detectar informações consideradas bá-sicas para este trabalho e que nos dessem subsídios para análise da proposta de extensão da DA. Esse roteiro era basicamente o seguin-te:

1. Por que razao o entrevistado achava que a DA estava na-quele lugar (Coroado ou Coari).

2. Se ele achava ou acreditava que a DA, seus professores e alunos aprendiam alguma coisa com as classes populares.

3. Qual era a compreensao que ele tinha de extensão.

4. Como ele encarava a atuação da DA junto às classes su-balternas - como uma responsabilidade dela, ou como um direito des-sas classes em obter tal ou tais serviços.

S. Se ele achava que o trabalho tinha ou deveria ter urna perspectiva de conscientização (ação/reflexão) e uma discussão do p~

pel político de cada ser humano.

6. Qual a visão que as classes populares tinham da atuação da DA.

7. E se ele achava que o trabalho já tinha rendido ou esta va rendendo resultados concretos - em caso afirmativo, quais serIam. . 9

(20)

Procuramos extrair dessas entrevistas subsídios que possi-bilitassem a análise pretendida, sempre tomando por base o nexo teó-rico elaborado concomitante à fase de levantamento de dados (documen tais e empíricos).

A essa altura já tínhamos claro que a extensão, na ótica do Estado, consistia num mecanismo de política social com uma dupla proposta: a) "a-6 .6..wt-<-tc.." às cl as ses popul ares supr indo suas "c.aJtên-c.ia.6", embora muitas vezes viesse no bojo de um discurso humanitaris ta de "pJtomoç.ã.o" do homem, utilizando técnicas de "de.-6e.nvoivime.nto de. c.omunidade." (DC) e a "aç.ã.o c.omunit;Jtia" (AC); b) desenvolver um trabalho formador (treinar o aluno e adestrar as _c_l_a_s_s __ e_s ____ p~o~p_u_l_a_r __ e_s p a r a "ap!te.nde.Jte.mfl

algum o f í c i o) .

Tinha, assim, a extensão universitária, dois "p~biic.o.6 ai

VO.6": as comunidades carentes e os alunos. Era necessário, para o

projeto político-econômico, manter esses dois segmentos sob controle.

Por uma opçao teórico-metodológica, escolhemos centrar no~

so foco de análise nas classes populares, ou seja, nas chamadas pop~

laçôes carentes. Analisar a ação dessa atividade sobre os estudan-tes constitúi-se em objeto que merece um outro estudo, específico p! ra o caso.

Com o arcabouço teórico devidamente articulado,percebíamos que a extensão universitária no Brasil vinha servindo de coadjuva~

te para manutenção e consolidação de um determinado projeto do Esta-do; mas, ao mesmo tempo tínhamos presente que essa atividade poderia constituir-se numa ação educativa que levasse a um posicionamento p~ lltico-crítico das classes populares na sociedade. No entanto.a in

(21)

dagação primeira continuava a nos inquietar: e na UA, como estaria se processando essa prática? Quais os interesses presentes no seu desenvolvimento?

2. Estruturação do trabalho

Com a atenção voltada para a compreensao do que vem sendo a extensão universitária na UA, iniciamos a montagem do trabalho, a que demos a estrutura descrita a seguir.

No capítulo 1 - política social, educação e extensão uni-versitária: vertentes de uma só proposta - procuramos destacar qual o papel de uma política social no Estado capitalista; eamu-o Estado brasileiro vem tratando historicamente as questões sociais, especia! mente o Estado pós-64; qual a importância da região amazõnica nesse quadro; como a educação se situa no bojo das políticas sociais; qual o papel da universidade e da extensão universitária nesse conjunto. O objetivo

ê

demonstrar que política social, educação e extensão uni versitária são vertentes de um único nascedouro dentro da lógica do Estado capitalista. Este arcabouço teórico servirá de suporte para análise dos dados empíricos, a fim de que se possa desvendar o cará-ter da extensão universitária desenvolvida na Universidade do Amazo-nas.

(22)

foram historicamente - e sao ainda - desenvolvidas pela UA tendo

como alvo as classes populares. Essas anotações históricas - já

que nao se trata de um trabalho de historiador - foram elaboradas

sempre com a preocupação de se mostrar os vínculos entre a história

local e a nacional, já que avida das instituições universitárias no

Amazonas sempre esteve sujeita às determinações mais amplas da histó

ria brasileira e da economia nacional e internacional.

Fizemos esse recuo histórico por acreditarmos que muito da

prática extensionista atual foi moldado e determinado pelo percurso

e atividade da instituição que se implantou no início do século em

Manaus. Há, inclusive, dirigentes da atual estrutura que ·foram for

mados por essa antiga instituição.

A partir da criação da Universidade do Amazonas (1962) ,pr~ curamos ser mais minudentes com relação às suas iniciativas

exten-sionistas. Mas os dados eram raros e esparsos - utilizamos muito o

relato verbal das pessoas que, à época, participaram desses

traba-lhos. A partir de 1974-76, os dados passaram a ser mais precisos e

completos e, aí, as notas ficaram mais ricas.

Fazemos ainda uma descrição - embora sucinta - de todos os

programas ditos de extensão realizados pela UA, inclusive do Projeto

Puxirum e do Crutac. Este capítulo é complementado por quatro

qua-dros - síntese, anexos, que procuram dar um mapa de todas as ativida

des dessa área reali:adas pela Universidade.

No capítulo 3 - A extensão universitária para urna

popula-çao no Amazonas - procuramos discutir a prática da extensão na UA to

mando por eixo analítico as argumentações teóricas contidas no

(23)

Colocamos em primeiro plano a fala das classes populares, ji que a nivel de discurso elas sao uma das "populaç5e~-alvo" e e a que foi por nós escolhida para dar a direção do nosso trabalho.

A prova da validade de nossa construção teórica está cen-trada na prática, ou seja, a prática é o critério que adotamos como

sendo o da verdade!D E já que o discurso vigente privilegia o aten dimento a essas classes, então cremos, que sao elas que devem dizer o que vem sendo a extensão praticada pela DA. Os depoimentos dos demais grupos aparecem para retificar ou ratificar aquilo que foi ex presso pelas populações atingidas.

O confronto entre a teoria e a pritica permite que se iden tifique com clareza qual o caráter da extensão universitiria na DA: se crítico-conscientizador ou se assistencialista e cúmplice da pro-posta estatal de manter as classes populares amorfas e passivas.

Essa discussão baseou-se nao só na construção teórica que fizemos no capítulo I, mas também, e sobretudo, nas categorias fun-ção política e funfun-ção educativa da extensão, além da verificafun-ção da medida em que as ações empreendidas pela DA facilitavam ou dificulta vam a formação da consciência do homem.

Ao final, retornamos as questões iniciais que orientaram o

lO"A 6do.6oSia da p-.. ,liX.il)

e.

a wuc.a em dotaJL o c.onhewne.n:to humano de wn c.tú;t"é./r.io

c.ie.núSic.o p:Vta fu.tinguÁ.Jz. a veJuiade do eNtO, paJz..a .6ubme.tVt c.ada ve/r.dade a uma veJtiFc.açã.o ex.ata e .6 eguJr..a. Etde c.Jti.té.Jtio

e.

a pttâti.c.a humana ( .•. ). A pJÚi.tic.a não e .6ome.nte a ba.6e e a

nome

do tytogJteMo da teoJtia, ma.6 .também o w1ic.o

Cfl.i.te.-!tio c.ie.rtÚ6ic.o da. veJtac.idade do no.6.6O c.onhec.ime.nt.o". (Pequeno cU.c."<'ollâ)I..{ .. O 6ilo~ê­

(24)

trabalho e. utilizando a discussão teórica. concluímos que a exten são universitária na Universidade do Amazonas não conseguiu escapar do envolvimento com a malha estatal e, assim, apresenta as caracte-rísticas de mecanismo de política social, tal qual outros mecanismos de que o Estado lança mao.

A função educativa neutra que o Estado atribui i universi-dade esconde em seu interior urna função política: a de impedir

classes populares, dominadas, que se apercebam das reais

determina--

as

çoes que lhe colocaram naquela situação e, assim, tudo permanece imu tável.

Considerando esse quadro, concluímos o estudo apresentando urna proposta de trabalho para ser discutida com todos os setores da UA e da sociedade amazonense, com o propósito de que essa institui ção possa adotar um caminho contrário ao que vem percorrendo e elabo-rar, junto com as classes subalternas, um plano de ação que atenda seus reais interesses.

Por nao compartilharmos da tese do determinismo mecanicis-ta,cremos que esta é a hora de a Universidade do Amazonas fazer sua opção política em favor dos oprimidos e, assim, inaugurar na socie-dade amazonense um novo momento histórico; trabalhar com as classes subalternas, e não maIS para elas nem sobre elas.

3. Delimitação de alguns conceitos utilizados

(25)

ro de conceitos e categorias necessárias para o construto do estudo. Alguns deles se explicitam no próprio corpo do trabalho, mediante i~

dicação de referências específicas, e outros exigem que se estabele ça previamente sua compreensão, tanto para podermos expor nosso pen-sarnento como para o leitor acompanhar a linha de raciocínio seguido. Nesses, estão:

a) extensão: este e um termo genérico usado para designar

assistência técnica, prestação de serviços, realização de cursos e outras formas de ensinamento, que determinadas instituições fazem para as camadas que têm difícil acesso a esses serviços e conhecimen to s. 12

Ela vem, em geral, acompanhada de outra., palavra que define a sua especificida~é: extensão rural ou extensão universi-tária. A primeira circunscreve-se basicamente ao atendimento das populações rurais, "en~inando-lhe~" técnicas mais "mode~na6". A se-gunda designa a ação da universidade, em geral, na periferia urbana e na zona rural, mas também refere-se a cursos realizados no âmbito da instituição, muitas vezes, para um público seleto que já passou em seus bancos.

Neste trabalho, os termos extensão e extensão universitá-ria sao usados indistintamente para designar a aç~o da universidade em geral e da UA em particular, junto aos diversos segmentos da so-ciedade amazonense;

12VeJt Sav..i.ruú Vetune\H1J., Ex:te.nóão univeM~: uma abo~dagem não exten6..wn..wta .

In: EIMino rlblic.o e a1.guma6 6a1.ct660b~e wÚveM.idade. são Paulo, Couez

(26)

b) Considerando as funções que as pessoas desempenham na relação DA/classes populares, temos:

b.l - gestores, administradores, dirigentes (intelectuais que gerenciam - IG) - incluem-se aí, segundo Gorz, aqueles que desem penham "6unç~eh tipicamente pat~onaih: di~igi~ out~ah pehhoah, o~ga­

niza~, coo~dena~, decidi~. Oh que dehempenham ehheh papéih ex.e~cem

pode~ hob~e pehhoah e dependem tamb~m de out~ah ( ..• )".12 Assim, nes

te trabalho eles são: os dirigentes maiores da DA e os dos diversos programas de extensão existentes na sua programaçao;

b.2 - professores (intelectuais que "sabem" e ensinam -IP): sao todos os docentes que atuam na extensão, seja por determinação hierárquica superior (cumprimento de atribuições e cargas horárias com alunos de estágio curricular obrigatório), seja por decisão pes-soal. Têm sob sua orientação grupos de alunos para cumprir uma pro-gramação estabelecida em um determinado local;

b.3 - alunos (intelectuais que aprendem - IA) -compreendem todos os estudantes que atuaram ou atuam na programaçao extensionis ta, seja por exigência curricular, seja por vontade pessoal ou dese-jo de receber uma bolsa de estudos;

b.4 - agentes de comunidade (intelectuais-orginicos AC) -sao aqueles elementos originários das classes populares que dirigem as in5tituiç(::;-~5 locais (por exigência do cargo ou função que ocupam,

12Go~z, And!!..ê., o~g. U mruúnetdo. In: cJUtica da divihão do .tJtabalho. são Paute,

(27)

ou por exercerem papel de líderes locais). A UA os ve como represe~

tantes legítimos das populações e os utiliza como seus representantes incumbidos de veicular, facilitar e legitimar sua programação exten-sionista. Este grupo, portanto, se situa quase na condição de execu tor das políticas traçadas pela UA. Nesse especificidade, asseme-lha-se aos gestores (IG), que se colocam praticamente corno executo-res das determinações traçadas a nível do Governo federal.

Dissemos que esses quatro grupos desempenham a função de ligação da Universidade com as classes populares. E o que sao as classes populares (CP)? Para efeito deste trabalho, sao o conjunto dos grupos sociais que ocupam urna posição subordinada no processo de produção, que são dominados a nível econômico-político-ideológico. Esse conceito ~ utilizado no mesmo sentido que o de "clahhe~

~ubal-te~na~" de Gramsci}3 Assim, utilizaremos os dois conceitos para designar a mesma coisa.

No mesmo sentido, também usamos as expressoes populações atingidas e população(õ~s) - alvo), para designar esse segmento que sofre os influxos da atuação extensionista da UA. Mas é preciso que se esclareça que há gradações no interior dessas classes: há desde aqueles situados na condição de total carência até os que exercem aI guma atividade remunerada, pública ou privada, mas que têm necessi-dades que devem ser atendidas no interesse do próprio Estado.

13G'Lam~c.i 6a.la de "ctM~U -6ubaLteJU1M" em opoú.ç.ão a "~~U domDlant~". No mo

do de plcodução cap-U:a.LLóta, duM clM~ U bUHdmne~, a bMgu eó-<-a (' (! p'tO.l

('.-til!U..ado, ~e.Hdo uta. a ~~e ~ubalt~'Ula 6undame.nt.a.l. (Cb. Gt-úV;lÓC...t, Antc'ilw.

(28)

Para a análise da extensão universitária praticada atua1-mente na Universidade do Amazonas, que nos propomos fazer neste tra-balho, foi necessário buscarmos um eixo teórico que lhe servisse de suporte e possibilitasse explicar quais os interesses presentes na instituciona1ização desse mecanismo pelo Estado. Após levantamento e reflexões, elaboramos a premissa de que a extensão universitária, no Brasil, e uma tarefa da política social do Estado e, enquanto tal, favorece o desenvolvimento de uma consciência ingênua do homem, ti-rando-1he a possibilidade de uma visão crítica da realidade e da pa~

ticipação efetiva na decisão de sua história.

A adoção dessa idéia exige que explicitemos melhor a

fun-(~ao da política social nos países capitalistas (logo, também no

Brasil), sua absorção pelo Estado brasileiro, sua repercussão na re-gião amazônica, sua relação com a política educacional do País e con seqUente reflexo na extensão universitária.

Em observância a essa proposta, partiremos da poslçao teó-rica que sustenta ser a política social um dos instrumentos de açao do Estado sobre a sociedade, com o objetivo de acomodar os interes ses emergentes das classes populares. A propósito, Faleirosl~ res salta que o Estado, através da institucionalização dos

conflitos,es-1 ~Fa1..eÁJW~, V..ic.eJLte. de. Paula. A PoúM.c.a ôocJ...a1. do útado cap-Ua.LL6ta: M nWlçC~

(29)

tabelece regras e limites precisos, permitindo a manutenção ou a criação de novos conflitos em lugar da igualdade social. Na realida de, a política social no Estado capitalista tem uma função ideológi-ca, servindo, em geral, para desmobilizar as camadas subalternas da sociedade, eliminar os obstáculos ao crescimento econômico (tais co-mo "~e~i~t~ncia cultu~al" is inovaç6es) e criar ~condiç6es impres-cindíveis i eficácia do mesmo. "Ne~ta~ condiçõe~", como ressalta Ammann , 15

~aúde, habitação, a~~i~t~ncia, etc. - ~ep~e~enta um ing~ediente coad juuante do bom de~empenho econõmico, po~quanto cont~ibui pa~a a ~e-p~odução e maio~ p~odutividade da 6o~ça de t~abalho."

A denominação "polltica ~ocial" sugere, para Saviani, 16

que os demais tipos de ação política, em especial a política econômi ca, não são sociais. Mais do que isso, a necessidade de formulação de uma política social decorre do caráter anti-social da economIa ca pitalista e, portanto, da política econômica nas sociedades capita-listas.

o

interesse de um Estado capitalista pelo desenvolvimento

de políticas sociais fundamenta-se em estratégia voltada para o cha-mado desenvolvimento econômico, pois, para que este possa verifi-car-se sem maiores atropelos, é necessário que haja no seio da socie-da de um "cLima de paz e concõ~dia" incaDaz de ameaçar o processo de

lSAmmann, Sa6iJta Bez~. r deologia do duenvolv.{nlvlto de comwúdade no B~il.

são Paulo, Co~ez, 1980. p. 105-6.

1 6Sav

i.ani,

Ve~eval. A polItica educacional no conjunto dM polIticM .6 o ciw .

(30)

acumulação do capital. "Con~idelLa-~ e, pOlLtanto, qu.e qualqu.elL

polI-tica ~ocial aplicada pelo govelLno lLeplLe~enta de'celLta maneilLa, a~ lLe

laç.õu entlLe o E~tado e a economia, dUlLante a 'época em qu.e~tão."17

Por vezes o Estado procura agIr de forma preventiva,

ante-cipando-se na concessao de "~ene6Icio~" que constituem as proprlas

-

. necessidades básicas do ser humano, como: comida, casa, saúde, etc.

Isso ocorre no interesse do capital que não quer pôr em risco

deter-minado investimento. No mais, as medidas de política social são con

cedidas no limite inferior das necessidades humanas. São concedidas

não para atender a necessidades básicas mas para suprir carências g~ radas pela superexploração inerente ao sistema capitalista. Essa ou

torga configura-se como uma estratégia compensatória para satisfazer

as cerências engendradas a partir de relações de produção, na medida

necessária e suficiente à produção e reprodução do capital~18

Essas medidas resultam de um processo onde o homem é

con-siderado objeto, fator de produção, não tendo qualquer participação

na sua historicidade. A determinação dos fins é privilégio da clas

se hegemônica.

A política social concedida em função das carências se fun

da no atendimento das necessidades mínimas do homem como forma de man

tê-lo produtivo e alheio às questões de seus direitos básicos_ e,

assim, não pertubar o equilíbrio do sistema. :E que essas"calLê.ncia~"

17Viwa, Eva1.do. útado e ~vu.a /:,0cia.l110 8Jz..a..óli: de Ge:tii.LW a GWe..t. são Paulo,

CoJtte.z, 1983. p.JO.

lBviA

MaJtx, KaJtl, -In: IW1I1i, Octávio, olLg. Sociologia. 3. ed. são Pau1..o, Ã:tica.

1982. p.53.

(31)

sao estabelecidas por cima e para fora dos sujeitos, sem que eles te nham voz e voto.

Saviani assinala que, desde as origens do processo de con-solidação do capitalismo. já emergia a preocupação com uma certa "p~ lItiea ~oeial" como necessidade de proteger as forças sociais produ-tivas da superexploração dos capitalistas privados. "A~~im, de~ de a~ 'lei~ 6ab.tz.i~' ingle~a~, eon~ide.tz.ada~ po.tz. Ma.tz.x ao me~mo .tempo eomo, a p.tz.ime.i.tz.a .tz.eação eonôeiente e. metõdiea da ôoeiedade eont.tz.a, a óor~a

e~pontaneamente de~envolvida de ~eu p.tz.oee~~o de. p.tz.odução e eomo 'um p.tz.oduto neee~~ã.tz.io da indü~t.tz.ia mode.tz.na' (O Capital, V.1, p.550-11,

lei~ e.hhah ~ituad~ ainda na ó~e do eapitali~mo eoneo.tz..tz.encial, até Oh bene.óleioh hoeiaih do chamado 'Ehtado do Be.m-Ehta.tz.' e da Soeial-Ve. moe.tz.aeia eonte.mpo.tz.ânea, eht.tz.utu.tz.OU-~e. uma 'polltiea hoeial' como an-tIdo to ao ea.tz.âte.tz. anti-hocial da economia eapitalihta. E na ó~e do eapitalihmo monopolihta quando ôe admite a inte.tz.venção do E~tado na eeonomia e.hha cont.tz.adição tem luga.tz. no p.tz.õpllio inte.tz.io.tz. do apa.tz.elho gove.tz.namental explicitando-~e aI at.tz.avéh da 'polItiea eeonômiea' eom toda a hua ea.tz.ga anti-hocial ã qual he cont.tz.apõe a 'polItiea hoei-al' ." 19

Esse mesmo autor afirma que numa sociedade sem classes,que nao tivesse seu modo de produção baseado na acumulação de capital e na propriedade privada, não haveria necessidade de que o Estado cap-turasse sob forma de programas oficiais a questão da política social. Esta seria um direito do homem enquanto tal, que teria necessariamen te satisfeitas todas as suas necessidades vitais ou "natu.tz.ai~" como decorrência do próprio modelo. "AI, eom e6eito, toda polItiea, em

(32)

cada uma

de

hu~ man~6ehtaçõeh, he~ã hoc~ai jã que nao have~ã

iuga~ pa~a a ap~op~~açio p~~vada da ~~queza p~oduz~da hoc~aimente.~o

No entanto, a feição do capitalismo mudou, adquiriu nova

roupagem, refinou suas práticas e discursos, ou seja, alteraram-se as conjunturas especificas e, com elas a determinação estrutural tam

bêm se alterou. Vejamos o caso brasiléiro:

o

atendimento às questões sociais antes de 1930, no Brasi~

nao fazia parte das preocupações do Estado mercantil agroexportador

vigente que se caracterizava pelo uso da violência para acumulação

do capital. Segundo Ianni,21 até 1930 predominava no Governo e

en-tre os compradores de força de trabalho quase que a mesma concepçao

oligárquica de poder e mando, caracteristica da sociedade agrária de

então. Essa era a razao por que antes da Revolução de 1930 as leis

trabalhistas eram principalmente leis repressivas.

A derrota do Estado oligárquico deu lugar ao nascimento do

Estado intervencionista-populista aliado à emergente burguesia indus

trial; juntos, passaram a reformular as condições de funcionamento

do mercado de fatores de produção (ou forças produtivas), bem como

as relações internas de produção e as relações entre a economia bra-sileira e a economia internacional.

Ianni22 afirma que a evolução da legislação trabalhista e

sindical, por exemplo, mostra de modo bastante claro essa transição (regulamentação do funcionamento do mercado de força de trabalho).

2°Id. ib~. p.33.

21Ia.HM, Oc.:tâ.v~. E6:ta.do e ptanejame.n:to ecol1ôm~co no BltMil (1930-19701. R~ de Ja

H~O, C~v~zaçao B!tMil~, 1977. p.34.

(33)

o

Estado, a partir de 1930, adotou uma série de medidas,d!

tas sociais, com o fim de I/e~~abelece~ a ha~monia e a~~anqailidade

en~~e emp~egado.6 e emp~egado~e.6l/, ou seja, a "ha~monia en~~e o c.api:;

~al e ~~abalho". O discurso vigente proclamava pela doutrina da "paz'.6ac.ial" e da "o~dem e t~abalhol/mas, no cerne da questão o que havia era uma política de controle e dominação da atividade e da or ganização política do proletariado. Dentre as principais medidas de política social, destacam-se as leis trabalhistas, a política sindi cal e o instituto da previdência social.

A partir de então, a política social em função de I/ca~~n­

c.ia~" e que tem sido típica no Brasil, quando o Estado passou a as-sumir o papel destacado de agente capitalista e normalizador da or-dem social. Agente capitalista, se considerarmos que agilizou os mecanismos de acumulação ao intervir na produção, distribuição e con sumo de mercadorias. Ao mesmo tempo, colocou em prática todo o seu poder integrador e normalizádor através das várias instituições que criou com o fim de obter uma ordem social que, ideologicamente, favo recia a justiça social. I/Ve~ta 6o~ma, o E~~ado, a~~av~.6 da polZtic.a

~oc.ial, implemen~ou medida.6 de ca~ã~e~ ec.onômico, ~ocial e polZtico com o 6im de mante~ a.6 ~elaçõe.6 de p~odução e, em ~eu di~cu~~o, ju~­ ti 6ic.ou e~ta~ medida~ cemo b en e6iciã.~iM a~ cla.6~ e~ ~ ubalt e~na~, ~

u-6oc.ando e de~viando a~ençõe~ de~ta~ pa~a a o~ganização. deu ma"'-gem pa"'-a Jteivindic.ação apel1a~ a nZvel in~tituciollal. 1/23

Saindo do modelo agroexportador e ingressando no modelo u~

bano-industrial, o Estado brasileiro passou a exercer forte domínio

(34)

nao somente no âmbito da política econômica, como também no campo da política social, alargando cada vez mais seus recursos para operar nesta area; assim, foi concebendo e pondo em pratica, paulatinamente, um conjunto de instrumentos legais com a finalidade de permitir, den-tro dos limites por ele estabelecidos, que as classes populares co~

seguissem reclamar perante o Estado a satisfação de seus direitos.2~

Varios autores 25 endossam o raciocínio de que a política social é expressão dos interesses vitais das forças sociais em suas relações recíprocas, que objetivam criar as condições necessarlas

-

. para a solução dos problemas colocados imperiosamente pela dinâmica social. Reafirmam, portanto, que a concessao de urna política social se da no boj o da iminência de confl i tos, s ej a por inquietação e ques-tionamento das classes populares, seja por crise de produtividade no capi tal.

Assim, a política social traçada pelo Estado para as clas-ses populares apresenta-se, ou como resultado de reivindicações e in satisfações dessas classes e/ou uma ".tJtapaça" quando se manifesta como uma concessao do aparelho estatal:6

2~EMa d~ção de ãAea,pe1.o E6.tado, den.tJto da qual. lt6 ci..a.,6.6C?...6 popui.aJl.e6 podem 4e

moveJt ê. cllt6J.:,..tóica..da poJt WandeJr.1.ey GlLilheJtme d04 SantoJ.:" em .J.:, eu liVM Cidada.rúa.

e {UJ.:,~: A po~ca .J.:,oc.<.o...e. 110. oJtdem bJtlt6ile..tJta, (1Uo de JanÚM,CampUJ.:" 1979)~

mo

"u

dmúa. Jte.guiada".

2 5 EntJte ouOtOJ.:,: Sardaf., [11avrde..'ll'.ey Guilheuune do!:,. ur.cil,; FalÚMJ.:" Vic.en.te de Pauta.op.

c.d.; Souza, MM-<-a Lu.-tza de. S eJtv.Á..ço .J.:, o Ua1'. e inJ.:,.tLt:túção: a que.J.:,.tão da paJr;t-i c..t

pa.-ção.São Pa..u.io, CoJi;tez,1982; Lima, TeJtez . .i..nha MoJteN'ta. op.w.; Ammanl1,Sa6..L'La.

Be-zeJtJta. op.U.t.; Vie-<-Jta, Evaldo. op.U.t.

.

26Joaqtu.na BaJta.ta Tuxe-<-Jta, em.6W :tJtaba1JlO Po.e.IU.ca.. J.:,oual e .J.:,eJtviço .60cAM

(Se.lL-ll..tç.O Soúal. g Sociedade, são Paulo, J (1): 65-73, .6e.t.1979), lt6.6il1a...f.a. que "o---U;

tado p'l.omove o a.tel1d/únen:to de uma polLt<..ca .6oúal a óavoJt dlt6 c1.MJ.:, e6 op'l...uIl-idcU

em dual> C.OI1d..[çõ e6: 1. quando O.J.:, ..tJl:teJteM e.J.:, dlt6 c1'.a.6J.:, e.J.:, o pJLúrú.dlt6 e.J.:,:tão

ar...:t.icuta-do,!>; 2. quando hã c.ond..[çõ e.J.:, paJI.a a ap'l..O p!Úação de Jtazoãve1. exc.eden:te pOl!. paue. de

E-!>:t.a.do, que. .6W Jteve.Jt.t-<-do em CU.6:tM de Po.f.1.üc.a Sou.ai". AóoJta ~.J.:,o, p'wMe.gue, "0 E-!>tado a.6-!>ume o a.tend..tmen:to de uma poútica.. .6oUaf apenlt6 palta aliv.w.'l. te.n-.6 Õ e6 e gaJta.n:t..tJt a manu:t V1ção da o Jtd em M:tab ef euda e pa.Jta o c.Lúna de a CUfli!1la.ç.ão ,

(35)

No geral, essa conduta das classes dirigentes em relação

as classes populares prossegue até os dias de hoje. Só que se faz

necessário que abramos um parêntese na história político-econômica e

social do País no ano de 1964, pois a partir de então instalou-se no

Brasil um Estado autoritário-militar-burocrático que possui especif~

cidades próprias. diferenciadas do Estado de 1930. mas com uma manel

ra igualmente própria de tratar as questões sociais.

Ianni27 assinala que tanto a história como a lógica do m~ delo econômico da ditadura instalada em 1964 têm os seus movimentos

e as suas articulacões determinadas, ou governadas,fundamentalmente,

pelo capital monopolista, estrangeiro e nacional, ou ambos

combina-dos.

Os fundamentos do Estado autoritário~militar-burocrático

assentam-se não só ~a associação entre o capital internacional e o capital nacional, como também na ideologi~ da segurança nacional,orl unda da Escola Superior de Guerra. A caracterização desse tipo de

Estado seria basicamente, a seguinte:28

ao .6e~OlL popu.talL, 0.6 c.ana-i..6 de ac.e.6.6O ao E.6~ado, e que 0.6 de.6 mo b-i..ti

za po.t-i.~ic.amen~e, median~e lLeplLe.6.6ão e c.on~lLo.te.6 velL~ic.a-i..6 lc.olLpolL~

~ivo.6);

2 7r al1lú

-

, '

ZOlH,a.

b) .6elLia ~ambêm .6i.6~ema de exc..tu.6ão ec.onômic.a, ao lLeduzilL

Octávio. VdadLUta. e. aglLic..u1.t.uJz..a.: o duenvo.tv-tmenW do cap~t-i..6mo no Ania-11964-1978J. p.36.

(36)

cJ ~e~~a, adema~h, um ~~~~ema de~poti~izan~e, na medida em que ~ende~ia a ~eduzi~ ah queh~Õeh hoc~ai~ e potZ~~cah a p~obtemah

~~cnicoh, a he~em etuc~dado~ med~an~e a in~e~nação ent~e a~ cuputah

de g~andeh o~ganizaçõeh;

dJ Oh ca~goh hupe~io~eh do Gove~no cOhtumam he~ ocupado~

po~ pehhoah que dehenvolve~am vi~tuohah ca~~ei~ah em o~gan~zaçõeh co~ ptexah e altamen~e bu~oc~atizadah, como a Ex~~cito, o p~ôp~io Ehtado ou ah g~andeh emp~ehah p~ivadah;

el ehte tipo de Ehtado hu~gi~~a em momen~oh nOh quaih Oh mecanihmoh de acumulação hOb~em impo~tanteh t~anhbo~maçõeh, como pa~

te do p~ocehho de ap~onundamento da induht~ialização;

6J hu~ge, em ge~al, depoi~, e como _CQnld~q_Uência de uma

6o~te at~vação potZt~ca do he~o~ popula~, hob~etudo do u~bano, o que

he~ve pa~a d~~e~enciã-lo do auto~ita~ihmo ~~ad~c~onal, ca~acte~izado

peta ~ne~c~a potZt~ca e peta deho~ganização poputa~, ahh~m como do populihmo, ~dentibicado pela mob~tização ~nduz~da e cont~olada po~ cima."

Para dar suporte a esse novo pacto, o Estado ampliou consi

deravelmente a prestaç~o de serviços e as açoes de politica social às classes populares, como forma de desviar a atenção de amplas

ca-madas da população para a internacionalizaç~o da economia, com todas as suas conseqUências, tais como o arrocho salarial e o desemprego.

A ampliação dos serviços se deu na proporç~o inversa da restriç~o na formulaç~o e na negociaç~o de poliitcas sociais em funç~o de direito

(37)

Os primeiros 10 anos do novo regime (1964-74) caracteriza-ram-se por uma série de medidas isoladas de política social (embora não aparecessem especificamente sob essa denominação), sobretudo nas áreas de educação, saúde, habitação e previdência social. Foi dada ênfase ao "de~envolvimento econ~mico" que, segundo a concepção ofi-cial, traria como conseqUência natural o desenvolvimento social. ~o

entanto, tal fato nao ocorreu. O que se verificou foi um acirramen-to das contradições de classes, a ocorrência de greves em diversos setores da economia, a rearticulação do movimento estudantil, a ins tituição da guerrilha urbana, a retirada do apoio de significativos setores da Igreja Católica ao golpe de 1964; enfim, uma série de ou-tros movimentos que demonstraram sobejamente que as medidas ditas so ciais tomadas pelo novo Estado não alteraram o empobrecimento exis-tente em determinadas áreas, ocorrendo, ao contrário, a ampliação da pauperização.

Diante desse quadro, o Governo tratou de alterar sua forma de se relacionar com as classes populares, adotando um discurso e uma prática destinados a amenizar as visíveis contradições.

Nessas medidas figura o 11 Plano Nacional de Desenvolvime~

to (11 PND - 1974-79), onde a política social aparece pela primeira vez explicitamente no discurso do Governo brasileiro como sendo dota da de "objetivo pnõpnio"; ou seja, o Estado legitima, de forma cla-ra e ordenada, ações que vinha desenvolvendo antes sem "uma vi~ãc

concatenada" .29 Dentre essas medidas destacam-se a criação do Conse .lho de Desenvolvimento Social (CDS) - já existia o Conselho de Desen

(38)

volvimento Econômico (CDE) -, do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), do Programa Nacional de Alimentação e Nutrição(Pronan), do Programa de Interiorização das Ações Saúde Saneamento (Piass) ,dos Centros Sociais Urbanos (CSU), instituição do 149 salário para

ins-critos no PIS/Pasep há mais de cinco anos e ganhando até cinco salá-rios mínimos, além da reserva de considerável número de medidas para as regiões do país caracterizadas como pobres. 30

Em relação a essas regiões ditas pobres, o Plano colocou como uma das ":.taJI.e.6tu ã.!t.dua..6" que o País se propunha realizar, no sen tido de "conqui.ót.a.ó econômica.ó e. .óociai.ó", a "ocupação p!t.odut.iva da Amazônia". Essa região, esporádica e efemeramente lembrada pelos g~

vernos anteriores, a partir de 1964 passou a merecer destaque nas propostas governamentais. Para Ianni!l o ".ó~bit.o" interesse pela área deu-se pela indução sofrida pelos governos militares para reela borarem e desenvolverem as políticas regionais na Amazônia por

ra-zões de geopolítica (refazer e reforçar os laços da região com o con junto do País, em especial o Centro-Sul), e de ordem econômica (rea-brir a AmazQIÍia~ao desenvolvimento exte!lsivo do capitalisroo)-. Sob vários as-pectos, a história da Amazônia, a partir de 1964, reflete e esclare ce a história da sociedade brasileira nesses últimos anos. 32

30Pe.dM Vemo,na ob!t.a c.it.ada,6az um levantamento da..6 açõu dit.a.ó .óoc.iai.ó t.omada.ó p! lo Gove.!t.Ylo em t.oda.ó O.ó ptano.ó e.taboMdo.ó pÕ.ó-64. UaboM, ii1dU.ó..<.ve., um quad!t.o co!!!,

pMativo d..<.v.üUY/.do em t.Jt.ê..6 óMU o novo E.ót.ado: P!LÚnÚM 6a.óe: 1963-68; .ó~Wlda

ÓMe.: 1968-73; e. t.e.Jt.c.eÁÃa 6a.óe: de 1974 em diant.e.. Tenta c.aMct.e.Jt..tzM a uLtima

6Me. c.omo futinta CÍító out.M.ó dUM. (Op.w.l p.9-85.

3 1 I ruuu., O c.t.âv..<.o. A d..<.t.adu.Jz.a do g.'l.an de. c.a p..<.t.a.t. 1U.o de. J an ei)w, C"<' v.il.i. zação B-'l.a6"<' -lUM, 1981. p.132.

3 2 V âJU.o.ó au:to fi.. U .ó e d e.d..<. carillm a U C.Jl.. e. v e.!t. eM a lú.6 t.ôflia , d u ta c.an do --6 e: O c.tá v i...o

I ann..<., A cLUaduM do gM.nde. cap..{.t.aL Op. w . V..<.t.aduM e. agJu ... c..u1..tu!t.a ••• o p. c.i...t. ,

CaJldo.óo, F(V"Jlando HeJlfL.tqUe., t. Mme!t., Ge.tr..a1do. knazon..<.a: e.Xpa.1Mao do

c.apLta1.Ú-mo. são Paulo, Ce.bMp/B1ta-!>.il.i.C2.J'L-6e.; e. Maha!l.., VenYUh J. VUeJlvolv-uneJltõ eCCllOnl-<"'CO

(39)

Observa-se que tanto a nível macro (nacional)como a nível

mIcro (regional). o Governo brasileiro vem, ao longo dos anos.

ado-tando medidas, ditas sociais. para "atender" às classes populares

sem, no entanto. lhes perguntar quais são suas reais necessidades

(ou, quando pergunta. as "neee~~ldade~" que devem aparecer ji foram devidamente trabalhadas na consciência do povo). Com ISSO,

verifi-ca-se, ora um esvaziamento da política social adotada (no caso da p~ lÍtica habitacional. por exemplo), ora uma não-repercussão das

medi-das adotamedi-das (a política cultural. por exemplo). Di-se, como resul

tado, a instituição de políticas próprias elaboradas pelas classes

populares (a invasão de terras e construção de suas habitações, e o

isolamento de suas práticas culturais para que a classe dominante de

las não se aproprie).

As medidas de política social adotadas tentam induzir a

crença, infundada, de que a cr~ação e/ou ampliação de serviços de bem-estar social poderiam, por si sós. redistribuir a renda

acumula-da pela política de crescimento econômico. Isto porque sabe-se que

é ilusória qualquer política redistributiva que não conte previamen-te com a reestruturação enérgica do sispreviamen-tema de produção.

O que se verifica é que a política social no País,ao ficar

a serviço do sistema existente (ji que o Estado não abriu mão do seu

"mode.fo"), transformou-se em ação assistencial e, portanto, lnocua, .

-quando não perversa, diante dos imperativos da pobreza. Por outro

lado, o Estado, ao chamar para si a exclusiva responsabilidade pela

criação e coordenação da polÍitca social, impediu a população de pa!

ticipar da escolha, definição e controle de programas sociais mais

(40)

sim, uma política social autoritária, segmentada em setores arbitra riamente denominados sociais e, corno tal, muito mais comprometida com urna linha burocratizada de distribuição de benefícios do que de apli

cação de investimentos no potencial produtivo da maioria da popula-ção. 33

Em relação a essa questão da burocratização, observa-se que esse processo e a política social desempenham, em determinado instan te, papéis semelhantes - ambos funcionam como canais delimitadores. Estes canais não têm autonomia e atuam corno impulsionadores das ações dos aparelhos de Estado. A política social apresenta-se como conjunto sistemático e relativamente organizado de diretrizes e nor mas assumidas pelo Estado como orientador das suas açoes, enquanto a burocracia apresenta-se corno sistema de conduta técnica e racional que deve orientar as ações profissionais que implementarão a polítj ca social.

As açoes profissionais, ao operarem as diretrizes e normas da política social,podem redefini-las de acordo com o saber profis-sional e o posicionamento social assumido por este saber. Quanto mais frágil for esse saber, mais tende a encontrar nas diretrizes e normas a sua própria verdade. Assim, as exigências da política so-cial passam a ser exigências da profissão que tem na burocracia um sistema de conduta própria a ser seguido.34

3 3C6. PeJtWa, PotyMa AmazoYlucia g Paiva, Le.cia Vei CMO. A poWic.a .60c.W.1. e. a

quutão da pobJteza YlO BJta.6il. SeJtviç.o Socia.i. g Sociedade., são Paulo,

i

(5): 23,

maJz.. 1981.

3'*C6.Souza, MaJL.Ú1 Luiza de. op. cit. p.16; e Bati:..i..rU.., OdâJU..a. O aM.ú.,.:ten.:te.~ocia1. e

Referências

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