B R A G A N T I A
Boletim Técnico do Instituto Agronômico do Estado de São Paulo
Vol. 15 Campinas, outubro de 1956 N.° 23
A I N O C U L A Ç Ã O D E S E M E N T E S D E S O J A T R A T A
-D A S C O M A R A S A N (*)
S H I R O M I Y A S A K A , engenheiro-agrônomo, Seção de Genética, Instituto Agronômico e
J. G O M E S DA SILVA, engenheiro-agrônomo, Chefe do Serviço de Expansão da Soja
R E S U M O
A fim de estudar o efeito do tratamento com "Arasan" sôbre a germinação das sementes de soja, e também de verificar a compatibilidade entre êsse tratamento e a inoculação das sementes com Rhisobium japonicum, f o i instalada uma série de ensaios nas localidades de Campinas, Ribeirão Prêto e Pindorama, empregando as variedades A b u r a e M o g i a n a , esta apresentando o defeito de rachaduras ( " c r a c k i n g " ) na casca das sementes, enquanto a primeira é isenta dêsse defeito.
Os resultados mostraram que houve aumento moderado na porcentagem de germinação de sementes, devido à aplicação de " A r a s a n " . A inoculação c o m R.
japo-nicum, na véspera do plantio, ocasionou aumento significativo do número de nódulos
e da produção de grãos.
Concluiu-se também que, sob as condições dos ensaios realizados, a aplicação de fungicida " A r a s a n " é compatível com a inoculação das sementes, uma vez que foram insignificantes as diferenças entre as produções dos tratamentos " A r a s a n + Inoculante" e " I n o c u l a n t e " .
1 — I N T R O D U Ç Ã O
Recentes resultados de ensaio de produção de variedades de soja no Estado de S. Paulo ( 9 , 1 0 , 1 2 , 1 3 ) , vieram demonstrar a superioridade ria variedade Mogiana (recente denominação dada pela Comissão de Legu-minosas do Instituto A g r o n ô m i c o de Campinas, ao material anteriormente conhecido como " 4 5 5 " ) sobre a variedade Abura. Acontece, porém, que embora altamente produtiva, com bons característicos agronômicos e ra-zoável tolerância às moléstias, a variedade Mogiana apresenta o inconve-niente de apresentar as sementes com pequenas rachaduras ( " c r a c k i n g " ) na casca ( 9 ) . Essas rachaduras podem favorecer a separação dos cotilé-dones das sementes na ocasião da colheita mecânica, o que deprecia o
pro-(*) O s a u t o r e s a g r a d e c e m a c o l a b o r a ç ã o d o s E n g . A g r s . R e y n a l d o F o r s t e r , A . J u n q u e i r a Reis e J o ã o A l o i s i S o b r i n h o , c h e f e s d a s E s t . E x p e r i m e n t a i s d e C a m p i n a s , R i b e i r ã o P r ê t o e P i n d o r a m a , r e s p e c t i v a m e n t e . A g r a d e c e m t a m b é m a o E n g . A g r . A r m a n d o C o n a g i n , p e l a a.iuda p r e s t a d a na a n á l i s e d o s d a d o s o b t i d o s .
330 B B A G A N T I A V O L . 15, N.° 23 duto e prejudica a germinação das sementes, desde que as rachaduras constituem porta de entrada a micro-organismos.
A fim de melhorar a germinação das sementes, tem-se sugerido
( 1 , 2 , 3 , 1 1 ) a aplicação de fungicida, principalmente para as variedades
de soja que perdem facilmente o valor cultural. Por outro lado, sabe-se que a inoculação das sementes de soja com bactérias fixadoras de azôto, re-sulta em maior produção de grãos pelas plantas, em nossas condições ( 1 2 ) .
Verifica-se, porém, revendo a literatura, que há incompatibilidade entre os tratamentos " I n o c u l a ç ã o " e " A p l i c a ç ã o de fungicida à base de mercúrio" ( 6 , 1 1 , 1 4 ) . Esta incompatibilidade na formação de nódulos tem sido observada também entre os tratamentos " I n o c u l a ç ã o " e " F u n g i
-cida orgânico", nos ensaios realizados em solos esterilizados ( 7 ) , ou em solos secos ( 8 ) . No entanto, nas condições de campo, têm-se observado graus variáveis dessa incompatibilidade, sendo mesmo recomendado o tra-tamento de sementes com fungicidas tais como Arasan, em certas locali-dades, quando existem no solo populações de bactérias formadoras de
nódulos ( 1 , 2 , 4 , 5 , 6, 7 , 8 ) .
A fim de estudar, em nossas condições, o grau de compatibilidade entre a " i n o c u l a ç ã o " e a "aplicação de fungicida orgânico", o efeito da interação nos mesmos em confronto com os tratamentos isolados, na ger-minação das sementes, na produção de grãos e na. formação de nódulos, resolveu-se efetuar uma série de ensaios, usando sementes de variedades de soja com e sem rachadura na casca da semente, tratadas ou não com inoculantes e Arasan. Este produto, além de ser favoravelmente indicado
em diversos trabalhos ( 6 , 7 , 8 ) era, na ocasião, de fácil aquisição em nosso Estado.
Os dados obtidos constituem o objeto do presente trabalho.
2 — M A T E R I A L E M É T O D O
Três ensaios foram instalados, nas Estações Experimentais de Campinas, Ribeirão Preto e Pindorama, utilizando sementes colhidas em Campinas, em abril de 1954.
A s experiências foram plantadas em blocos ao acaso, com quatro repetições, sendo cada canteiro formado por quatro linhas de cinco metros de comprimento; em cada linha foram distribuídas 50 covas, plantando-se quatro sementes em cada uma. A s ruas de bordadura serviram para o estudo de nodulação e as duas linhas centrais foram utilizadas para a determinação da produção de grãos, " s t a n d " inicial, e " s t a n d " final.
F o r a m os seguintes os tratamentos estudados:
a) inoculação, com cultura de Rhisobium japonicum em turfa, de sementes da variedade A b u r a ;
bi desinfestação com " A r a s a n " , de sementes da variedade A b u r a :
M I Y A S A K A & SILVA
<"»ÜT., 1 9 5 6 I N O C U L A Ç Ã O D E S E M E N T E S D E S O J A 3 3 1
d ) inoculação, com cultura em turfa, de sementes da variedade M o g i a n a ;
e) desinfestação, com " A r a s a n " , de sementes da variedade Mo-giana ;
f ) inoculação e desinfestação de sementes da variedade Mogiana.
Sendo o plantio de sementes inoculadas uma prática de recomenda-ção generalizada para as nossas condições, no ensaio não se incluiram
sementes sem inoculação, considerando-se os primeiros tratamentos ( a ) e ( d ) como testemunhas.
O tratamento com Arasan foi feito segundo a dosagem e recomen-dação do fabricante, quatro dias após a colheita das sementes; a inocula-ção foi efetuada dentro dos 3 0 minutos que antecederam à semeainocula-ção do ensaio.
E m Campinas o ensaio foi semeado em 2 8 de outubro e em Pindo-rama no dia 1 2 de novembro de 1 9 5 4 , ocorrendo a germinação, em ambas as localidades, depois de sete dias. Na Estação Experimental de Ribeirão Preto o plantio foi feito em 1 7 de novembro de 1 9 5 4 , germinando cinco dias após esta data. Depois de anotado o " s t a n d " inicial, foi feito o des-baste, de modo a deixar apenas 2 0 0 plantas nas duas linhas centrais. Todos os ensaios tiveram bom desenvolvimento.
Enquanto em Campinas foram feitas duas pesagens de nódulos (em
2 0 - 1 - 5 5 e 2 8 - 2 - 5 5 ) , nas outras localidades efetuou-se uma única pesagem em 1 0 - 2 - 5 5 e 1 8 - 2 - 5 5 , respectivamente para Pindorama e Ribeirão Preto. E m Campinas foi ainda possível atribuir uma série de pontos para os vários graus e modo de nodulação no sistema radicular das plantas ar-rancadas, empregando-se uma escala subjetiva de pontos de 1 a 5 , sendo 1 ponto para plantas sem nenhum nódulo e 5 para aquelas que apresen-tavam nódulos abundantes, de bom tamanho, e localizados de preferência na raiz principal.
3 — R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O
Os dados do quadro 1 mostram não ter havido diferenças estatisti-camente significativas n o que se refere aos "stands" inicial e final, dos diversos tratamentos. Não obstante, nota-se devido ao tratamento com Arasan, uma pequena melhoria na germinação inicial da variedade M o -giana, a qual, como j á se mencionou, apresenta valor cultural inferior ao da variedade A b u r a .
V O L . 1 5 , N . ° 2 3
plantas, ao passo que quando se emprega Arasan e Inoculante, há apre-ciável aumento de nódulos, o qual é, porém, inferior ao observado no tratamento que recebeu apenas a inoculação. Diante d o elevado coefi-ciente de variação dos dados relativos ao peso de nódulos, efetuou-se a análise de variância dos pontos dados ao ensaio de Campinas, obtendo-se, neste caso, um coeficiente de variação menor. O exame desses dados mostra concordância com o resultado obtido pela pesagem dos nódulos.
O U T . , 1956
MiYASAKA & SILVA
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somente inoculados ou que receberam apenas Arasan. E m Ribeirão Preto também se verificaram diferenças entre os tratamentos para cada uma das variedades; neste caso, porém, o tratamento c o m inoculante e Arasan pro-duziu pouco menos que o tratamento apenas inoculado. E m Pindorama
notou-se, igualmente, diferença na produção, apesar de não ser significa-tiva entre os tratamentos para as duas variedades.
De modo geral observou-se que a variedade Mogiana deu maiores produções do que a variedade Abura, nas três localidades. A s produções de grãos de ambas as variedades, em Pindorama, foram bem superiores às observadas em outras localidades.
Uma vez verificado que a grandeza dos erros das três experiências era da mesma natureza, efetuou-se a análise da variância da produção de grãos dos três ensaios em conjunto. Os resultados obtidos estão no quadro
4, o qual mostra a diferença significativa das produções de grãos entre os
tratamentos, entre as variedades e entre as localidades. Podem-se ob-servar, n o quadro 5, as diferenças das produções de grãos, tomando-se em
3 3 4 V O L . 1 5 , N . ° 2 3 Q U A D R O 5. — Comparação de produções médias de sementes de soja de três
expe-riências, agrupadas em tratamentos, em variedades e em localidades
Comparações realizadas Produções Tratamentos
kg/ha
2.172 2.012 2.259 Variedades
Mogiana
1.895 2.397 Localidades Ribeirão Prôto
Pindorama _ . _
1.791 1.828 2.827
D . M . S. (limite 5%) 184
E m vista desses dados e suas análises estatísticas (quadro 4 e 5 ) pode-se concluir que o tratamento " A r a s a n e Inoculante" não diferiu
d o " I n o c u l a n t e " mas foi superior, significativamente, ao tratamento " A r a s a n " . 0 aumento que o tratamento " A r a s a n e Inoculante" ocasionou em relação ao " A r a s a n " , foi de 1 1 % . Quanto às variedades, a Mogiana mostrou-se mais produtiva do que a A b u r a e, quanto às localidades, as produções de Pindorama foram superiores às demais.
4 — C O N C L U S Õ E S
Os dados relativos aos três ensaios, nas Estações Experimentais de Campinas, Pindorama e Ribeirão Preto, permitem tirar as seguintes con-clusões:
a ) o tratamento " A r a s a n " melhorou, embora não significativa-mente, o valor cultural das sementes da variedade Mogiana, a qual
possui o defeito de apresentar-se com rachaduras na casca;
b ) a aplicação de Arasan nas sementes prejudicou o efeito da inoculação das sementes c o m bactérias, mas a melhora ocasionada p o r aquela pratica, nos "stands" inicial e final, contribuiu para o aumento da produção de g r ã o s ;
c ) a produção de grãos, devida ao tratamento " A r a s a n e Ino-culante", não diferiu do tratamento " I n o c u l a n t e " , mas foi superior àquela do tratamento " A r a s a n " ; entre as produções dos tratamentos " I n o -culante" e " A r a s a n " não houve diferença;
I N O C U L A T I O N O F S O Y B E A N S E E D T R E A T E D W I T H A R A S A N
S U M M A R Y
Field tests were carried out at three different locations to study the compati-bility o f seed treatment with Arasan and inoculation with nodule bacteria, and to verify the influence o f the fungicide treatment on the germination o f two soybean varieties: A b u r a (with no c r a c k i n g ) and M o g i a n a (with 7 6 % o f c r a c k i n g ) . T h e re-sults o f the tests showed that there was a slight increase in emergence due to Arasan.
Inoculation o f the seed j u s t prior to planting increased significantly both the number of nodules and the yield.
Under the conditions o f the trials, treatment with Arasan did not impair the e f f i c i e n c y o f inoculation, as j u d g e d b y non-significant differences between the treat-ments, inoculation alone and inoculation plus Arasan.
L I T E R A T U R A C I T A D A
1. A L L I N G T O N , W . B., K E N T , G. C , T E R V E T , I. W . & K O E H L E , B . Results o f the uniform soybean seed treatment tests in 1944. P l a n t Dis. Reptr. Suppl. 156:220-224. 1945.
2 . A L L I S O N , J. L . & T O R R I E , H . H . E f f e c t o f several seed protectant on germination and stands o f various f o r a g e Legumes. P h y t o p a t h o l o g y
34:799-803. 1944.
3 . H I L D E B R A N D , A . A. & K O C K , L . W . S o y b e a n disease in Ontario and effec-tiveness o f seed treatment. P h y t o p a t h o l o g y 37:111-123. 1947.
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5 . Soybean seed treatment, Soybean D i g . 1 1 ( 7 ) : 17-20. 1951.
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7 . K E R N A K M P , M . F. Chemical treatment o f soybean seed in relation to nodu¬ lation b y nodule bacteria. P h y t o p a t h o l o g y 38:955-959. 1949.
8 . , F R O S H E I S E R , F. I . & G I B L E R , J. W . Plant Dis. Reptr. 37:222-225. 1953.
9 . M I Y A S A K A , S. Melhoramento da soja. I - Observações preliminares sôbre o comportamento de algumas variedades de soja em São P a u l o . Bragantia 14:[9]-17. 1954.
1 0 . N E M E , N. A . Relatório da Seção de Leguminos-a*. Campinas, Instituto agro-nômico, 1952. [ N ã o p u b l i c a d o ]
1 1 . S H E R W I N , H . S., L E F E B R E , L. C. & L E N K E L , R . W . E f f e c t o f seed treat-ment on the germination o f soybean. P h y t o p a t h o l o g y 3 8 : 1 9 7 - 2 0 4 . 1948.
1 2 . S I L V A , JOSÉ G O M E S D A . Estudos sôbre a inoculação da soja. R e v . A g r i c , Piracicaba 2 3 : 3 6 5 - 3 7 8 . 1948.
1 3 . Variedades de S o j a para o Estado de São P a u l o . Piracicaba, Escola Sup. A g r i c . " L u i z de Q u e i r o z " , 1954. 32p. [ T e s e de doutoramento, não p u b l i c a d a ]
