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Definitivamente: epilepsia não é doença.

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Academic year: 2017

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DEFINITIVAMENTE: EPILEPSIA NÃO É DOENÇA

MARCO AURÉLIO SMITH FILGUEIRAS *

R E S U M O — O a u t o r a n a l i s a a l g u n s c o n c e i t o s d o p a s s a d o q u e , i n f e l i z m e n t e , a i n d a p e r d u r a m n o s d i a s a t u a i s , s o b r e o e p i l é p t i c o c o m o u m d o e n t e m e n t a l e c o m o p o r t a d o r d e g r a v e s d i s t ú r b i o s d e c o n d u t a c a p a z d o c o m e t i m e n t o d e c r i m e s d o m a i s a l t o r e q u i n t e d e p e r v e r s i d a d e . C o m -p r o v a -p e l a s a f i r m a ç õ e s d e e m i n e n t e s -p e r s o n a l i d a d e s d o m u n d o c i e n t í f i c o , q u e e -p i l e -p s i a n a d a t e m a v e r c o m d o e n ç a m e n t a l , c o m v i o l ê n c i a e q u e n ã o é c o n c e i t o n o s o l ó g i c o d e d o e n ç a .

P A L A V R A S - C H A V E : e p i l e p s i a , a s p e c t o s p s i q u i á t r i c o s , a s p e c t o s n o s o l ó g i c o s .

D e f i n i t i v e : e p i l e p s y i s n o t a d i s e a s e .

S U M M A R Y — T h e a u t h o r a n a l y s e s p a s t c o n c e p t s w h i c h s t i l l h o l d g o o d t o d a y . S u c h c o n c e p t s r e g a r d e p i l e p s y a s a m e n t a l d i s e a s e a n d t h e . e p i l e p t i c i s u s u a l l y t a k e n a s s o m e o n e s u f f e r i n g f r o m a s e v e r e m e n t a l d i s o r d e r , t e n d i n g t o c r i m i n a l b e h a v i o u r . T h e a u t h o r p r o v e s , t a k i n g i n t o a c c o u n t v a r i o u s s t a t e m e n t s f r o m p r o m i n e n t p e r s o n a l i t i e s i n t h e s c i e n t i f i c w o r l d , t h a t e p i l e p s y i s n e i t h e r t a m e n t a l d i s e a s e n o r a d i s e a s e i n i t s o w n s e n s e , a n d t h a t t h e e p i l e p t i c h a s n o t a n a g g r e s s i v e b e h a v i o u r .

K E Y W O R D S : e p i l e p s y , p s y c h i a t r i c a s p e c t s , n o s o l o g i c a s p e c t s .

E P I L E P S I A ( d o g r e g o E P I , d e c i m a e L E P S E M , a b a t e r ) s i g n i f i c a a l g o q u e v e m d e c i m a e d e s u r p r e s a a b a t e a p e s s o a , a l g o q u e v e m d e f o r a e a t a c a s u b i t a m e n t e 3 . E m d e c o r r ê n -c i a d e s s e s i g n i f i -c a d o ' e p e l o -c a r á t e r à s v e z e s d r a m á t i -c o d a f o r m a -c o n v u l s i v a , t o r n o u - s e -c a m p o f é r t i l p a r a o c u l t i v o d e m i t o s , t a b u s e p r e c o n c e i t o s 13. A s s i m é q u e , h á m i l ê n i o s , c o n d e n a - s e o c a s a m e n t o d e e p i l é p t i c o s ; h á m i l ê n i o s , f o g e s e d o e p i l é p t i c o e m c r i s e c o m m e d o d o « c o n t á

-g i o » ^ ; h á s é c u l o s , r e l a c i o n a - s e a c o n v u l s ã o à « p o s s e s s ã o d e m o n í a c a » o u à « i n f l u ê n c i a d e m a u s e s p í r i t o s » i 3 . H á l o n g o s a n o s , a c u s a - s e , o s e u p o r t a d o r d e c o n d u t o p a t a e p o t e n c i a l m e n t e v i o l e n t o , c a p a z d o c o m e t i m e n t o d e c r i m e s d o m a i s a l t o r e q u i n t e d e c r u e l d a d e 6 . D e s d e t e m p o s i m e m o r á v e i s , o e p i l é p t i c o é s e g r e g a d o s o c i a l m e n t e , t r a t a d o ' c o m o d o e n t e m e n t a l , t e r r i v e l m e n t e d i s -c r i m i n a d o e m a r g i n a l i z a d o n a s r u a s , nosi l a r e s , n a s e s -c o l a s , n o t r a b a l h o .

F r a n ç a 4 v e m c h a m a n d o a a t e n ç ã o n e s t e p a r t i c u l a r , q u a n d o a f i r m a q u e « q u a n d o s e t e n t a r o t u l a r a e p i l e p s i a c o m o d o e n ç a m e n t a l , p o r p r e t e n s a s m o d i f i c a ç õ e s d a p e r s o n a l i d a d e p e l o q u e n o s a c o d e , c o m e t e m s e d o i s e r r o s b á s i c o s : p r i m e i r o , p e l a i n s i g n i f i c a n t e i n c i d ê n c i a d e s s a s m o -d i f i c a ç õ e s c o m p o r t a m e n t a i s a s s o c i a -d a s à e p i l e p s i a , -d e p o i s , a p r ó p r i a e x p r e s s ã o -d o e n ç a m e n t a l , p o r s i m e s m a , j á é u m a b s u r d o ( . . . ) . L i m i t a r a c a p a c i d a d e c i v i l d o e p i l é p t i c o é c o l o c á - l o n u m a c l a s s e i n f e r i o r d e h o m e n s , p r o i b i d o s d e d e s f r u t a r o s m e s m o s d i r e i t o s e p r i v i l é g i o s d o s o u t r o s ( . . . ) . S o b o p r i s m a p e n a l , p e c a - s e a o r o t u l a r o e p i l é p t i c o c o m o p r o b l e m a g r a v e , q u a n d o a f i r m a m t e r o c a r á t e r e c o m p o r t a m e n t o a l t e r a d o s , e x a c e r b a d o s e m s e u s i n s t i n t o s e s e r e m a u t o r e s d e c r i m e s v i o l e n t o s , s a n g u i n á r i o s , i n t e m p e s t i v o s e s e l v a g e n s . I s s o é f a l s o ( . . . ) . O f a t o d e s s a p e r i c u l o s i d a d e c o m e ç a a s e r d e s m a s c a r a d o e s e u s v a l o r e s e s t a t í s t i c o s a t u a i s a s s i -n a l a m c i f r a s b e m e l e v a d a s p a r a o s c a s o s e m q u e e s s e i e s t a d o -n a d a t e m a v e r c o m o d e l i t o c o m e t i d o » . N ã o h á e v i d ê n c i a d e q u e v i o l ê n c i a s e j a m a i s c o m u m e n t r e e p i l é p t i c o s q u e e m n ã o e p i l é p t i c o s , e n e m é m i a i s c o m u m e m p a c i e n t e s c o m c r i s e s p a r c i a i s c o m p l e x a s q u e e m o u t r o s

* P r o f e s s o r A d j u n t o d a D i s c i p l i n a d e N e u r o l o g i a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d a P a r a í b a , P r e s i d e n t e d o C a p í t u l o P a r a i b a n o d a L i g a B r a s i l e i r a d e E p i l e p s i a .

Dr. Marco Aurélio Smith Filgueiras — Av. Monteiro da Franca 1063, Manaira - 58035 João Pessoa PB . Brasil.

D e f i n i t i v e : e p i l e p s y i s n o t a d i s e a s e .

S U M M A R Y — T h e a u t h o r a n a l y s e s p a s t c o n c e p t s w h i c h s t i l l h o l d g o o d t o d a y . S u c h c o n c e p t s r e g a r d e p i l e p s y a s a m e n t a l d i s e a s e a n d t h e . e p i l e p t i c i s u s u a l l y t a k e n a s s o m e o n e s u f f e r i n g f r o m a s e v e r e m e n t a l d i s o r d e r , t e n d i n g t o c r i m i n a l b e h a v i o u r . T h e a u t h o r p r o v e s , t a k i n g i n t o a c c o u n t v a r i o u s s t a t e m e n t s f r o m p r o m i n e n t p e r s o n a l i t i e s i n t h e s c i e n t i f i c w o r l d , t h a t e p i l e p s y i s n e i t h e r t a m e n t a l d i s e a s e n o r a d i s e a s e i n i t s o w n s e n s e , a n d t h a t t h e e p i l e p t i c h a s n o t a n a g g r e s s i v e b e h a v i o u r .

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tipos de crises. Violencia ictal é r a r a e, quando ocorre, u s u a l m e n t e t o m a a forma de «violencia resistiva», como r e s ul t ado de restrição física no fim de uma crise, enquanto o paciente ainda está confuso. No início da crise, é e x t r e m a m e n t e r a r a , estereotipada e nunca em f o n n a de séries consecutivas de movimentos resolutos. « D u r a n t e o estado pós-ictal, o paciente pode estar bíistante p e r t u r b a d o , mesmo violento, dando origem ao velho conceito clínico de furor epiléptico. E n t r e t a n t o , na prática, t a i s atividades violentas são incoordenadas e mal direcio-nadas, desse modo são facilmente controladas», afirmam L a i d l a w e R i c h e n s 9. «Atos complexos de violência têm m u i t o pouca p r o b a b i l i d a d e de serem de origem epiléptica e o uso da epi-lepsia como defesa c o n t r a acusações de crimes violentos é, q u a s e sempre, injustificado», a t e s t a P o r t e r 15. O velho e s t i g m a vinculado à m a i o r i a dos epilépticos como sendo pessoas impulsivas, agressivas, encontra pouco s u p o r t e em estudos científicos», ecreveu Fenwick, em 1976 (citado por Trimble e R e y n o l d s 20).

Epilepsia é e r r ô n e a ou equivocadamente associada, frequentemente, com furor homicida (um assassino epiléptico), deficiência mental, tendências criminais e antissociabilidade, asse-g u r a F r u m e n t o 5. Marino J r . 11 enfatiza: «Contrariamente à crendice asse-geral, a epilepsia é causa r a r a de a g r e s s i v i d a d e a r t i c u l a d a à disfunção cerebral. Clinicamente, o ato agressivo de linhagem epiléptica é reconhecido pela s u a e s t r u t u r a ç ã o frouxa, pelo c a r á t e r aleatório de seu alvo, pelo colorido confusional e pelas manifestações p a r a l e l a s de n a t u r e z a epiléptica inequívoca. Esses elementos p e r m i t e m o diagnóstico diferencial com agressividade relacionada a: per-sonalidades psicopáticas, psicoses a g i t a d a s (síndrome paranóide, m a n i a e depressão

endó-genas), oligofrenias a g i t a d a s , uso de álcool e o u t r a s drogas psicotrópicas». E n t r e t a n t o , apesar dessas afirmações categóricas, a p s i q u i a t r i a forense insiste em diagnosticar a u t o r e s de cri-mes monstruosos, que u l t i m a m e n t e vêm sendo t ã o divulgados pela imprensa, como p o r t a d o r e s de «epilepsia condu t o p a tica». Um falso diagnóstico, criado pela medicina judiciária h á quase

um século e que n u n c a deveria t e r existido e m u i t o menos c o n t i n u a r a vigorar nos dias a t u a i s .

O «monstro» existe s i m ; é o p o r t a d o r de P e r s o n a l i d a d e Psicopática Anética ou Moral I n s a n i t y 18, que é captaz do cometimento de delitos de inimaginável crueza, e mais, pode até esquecer que o cometeu. E n t ã o , por que c u l p a r o epiléptico de um crime que não é de sua responsabilidade? Sim, ele n ã o e s t á inocentado de tudo, p o d e cometer um crime, m a s como todo ser humano, sem r e l a ç ã o com a crise epiléptica.

Há pouco m a i s de 30 anos, f r u t o de t o d a s o r t e de estudos, análises e da a c i r r a d a luta empreendida pela comunidade neurológica e, em especial, pelos epileptologistas, a epilepsia foi finalmente excluída da Classificação I n t e r n a c i o n a l d a s Doenças P s i q u i á t r i c a s 20.

Depois dessa i m p o r t a n t e conquista, a ciência se ocupou em comprovar que a epilepsia não é doença e, sim, um distúrbio, u m a síndrome ou simplesmente um sintoma. P u p o 16, há cerca de d u a s décadas, g a r a n t i u : «Epilepsia não é u m a moléstia, é u m a síndrome, isto é, um conjunto de manifestações clínicas várias, que se a p r e s e n t a m em consequência de processos mórbidos cerebrais, t a m b é m vários, i n t e i r a m e n t e diversos, segundo consideremos os grupos etários dos pacientes».

Mathes 12 a s s e g u r a q u e «epilepsia n ã o é conceito nosológico de doença». O u t r a s declara-ções pertinentes foram feitas p o r : Marino J r . l l , Jeavons e Aspinall 8, P o r t e r 15, Shorvon 17, Goldsohn et al.7 e N i e d e r m e y e r 14, e n t r e o u t r o s 19. Na ú l t i m a p r o p o s t a p a r a revisão da Clas-sificação d a s Epilepsias e Síndromes Epilépticas de 1988/89, a Comissão de ClasClas-sificação e Terminologia da I n t e r n a t i o n a l L e a g u e Against Epilepsy, p r e s i d i d a por Roger, p r a t i c a m e n t e definiu esta q u e s t ã o referindose à epilepsia unicamente como d i s t ú r b i o ou s í n d r o m e 2. P o r -tanto, definitivamente, n ã o t e m m a i s s e n t i d o se conceituar epilepsia como u m a doença neu-rológica crônica 1, como m u i t o s a i n d a estão a p r e g o a n d o .

R E F E R Ê N C I A S

1. Buchpigel CA, C u k e r t A, H i r o n a t a F H , Cerri GG, M a g a l h ã e s AEA, Marino R J r . Brain Spect in t h e p r e - s u r g i c a l evaluation of epileptic p a t i e n t s . A r q N e u r o - P s i q u i a t (São P a u l o ) 1992, 50:37-42.

2. Comission of Classification a n d Terminology of the I n t e r n a t i o n a l League against Epilepsy. Proposal for revised Classification of Epilepsies a n d epileptic syndromes. Epilepsia 1989, 30:389-399.

3. Dicionário Enciclopédico de Medicina. Ed 3. L i s b o a : Argoeditora.

4. F r a n ç a GV de. Medicina Legal. Ed 3. Rio de J a n e i r o : G u a n a b a r a Koogan, 1991.

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7. Goldsohn ES, Glaser GH, Goldberg MA. Epilepsias. I n : M e r r i t t T r a t a d o de Neurologia. Rio de J a n e i r o : G u a n a b a r a Koogan, 1986, p 638-660.

8. J e a v o n s PM, Aspinall A. T h e Epilepsy Reference Book. L o n d o n : H a r p e r & Row, 1985. 9. Laidlaw J, R i c h e n s A. A Textbook of Epilepsy. E d i n b u r g h : Churchill Livingstone, 1976. 10. L i m a DRA. Epilepsia e Civilização. I I I Simpósio P a r a n a e n s e de Epilepsia, Curitiba, 12/

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11. Marino R J r . Epilepsias. São P a u l o : Sorvi er, 1983.

12. M a t h e s A. E p i l e p s i e : Diagnostik a n d T h e r a p i e für K l i n i k and P r a x i s . S t u t t g a r t : Georg Thieme, 1975.

13. Mello GB de. E p i l e p s i a : mito e realidade. I I I Simpósio P a r a n a e n s e de Epilepsia. Curi-tiba, 12/14 j u n h o 1986 ( A b s t r ) .

14. N i e d e r m e y e r E. T h e Epilepsies: Diagnosis a n d Management. B a l t i m o r e : U r b a n &Sch-warzenberg, 1990.

15. P o r t e r R J . E p i l e p s y : 100 E l e m e n t a r y Principles. L o n d o n : Saunders, 1984.

16. P u p o P P . Questões s o b r e Epilepsia. Ed 2. São P a u l o : I n s t i t u t o de Eíletroencefalografia, 1971.

17. Shorvon SD. Epilepsy, a General P r a c t i c e Perspective. B a s e l : Ciba-Geigy, 1988. 18. Schneider K. L a s P e r s o n a l i d a d e s Psicopáticas. Ed 7, M a d r i d : Morata, 1974.

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