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A contribuição da assistência técnica no desenvolvimento de projetos de assentamento no Estado do Rio Grande do Norte

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA

A CONTRIBUIÇÃO DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA NO

DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE ASSENTAMENTO

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

MAX VICTOR BEZERRA BARBOSA

2013 Natal – RN

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Max Victor Bezerra Barbosa

A CONTRIBUIÇÃO DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA NO

DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS DE ASSENTAMENTO NO

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR

SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Bastos

2013 Natal – RN

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Barbosa, Max Victor Bezerra.

A contribuição da assistência técnica no desenvolvimento de projetos de assentamento no estado do Rio Grande do Norte / Max Victor Bezerra Barbosa. – Natal, RN, 2012.

75 p.; il.

Orientador: Fernando Bastos.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pro-Reitoria de Graduação. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA.

1. Reforma agrária – Dissertação. 2. Políticas públicas – Dissertação. 3. Assentamentos – Dissertação. 4. Extensão rural – Dissertação. 5. Meio ambiente – Dissertação. I. Bastos, Fernando. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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MAX VICTOR BEZERRA BARBOSA

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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AGRADECIMENTOS

A Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária no Rio Grande do Norte (INCRA/SR-19/RN) pelas informações, conhecimento e experiências repassadas.

Ao Professor Dr. Fernando Bastos, não só por ter sido meu orientador, mas por ter sido um verdadeiro mestre.

A minha querida esposa, Meire, pela compreensão, carinho, conselhos e ajuda nos momentos difíceis desse trabalho.

A minha amiga Dalvanir Avelino, que foi não só amiga, mas conselheira, motivadora e “Co -Orientadora” neste percurso.

A meu amigo de todas as horas, Fábio, pelo apoio para a participação nas aulas e coleta de dados.

Aos meus pais, Max Alves Barbosa e Maria das Neves Bezerra Barbosa, pelo apoio e amor incondicional e pela coragem e força de vontade, sem as quais este momento não se realizaria.

Aos meus irmãos, Mayara e Magno, pelos momentos de carinho e ajuda para a consecução de meus objetivos.

À minha família, por sempre haver me incentivado e amparado ao longo da minha vida.

Aos amigos e amigas conquistados durante o curso, pela amizade e confiança que depositaram em mim.

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RESUMO

A contribuição da assistência técnica para o desenvolvimento de projetos assentamentos no estado do Rio Grande do Norte

As políticas públicas devem ter como objetivo primordial a melhoria da qualidade de vida de determinada população, entretanto, sua execução deve ser constantemente monitorada e avaliada com escopo de averiguar se essas políticas vêm atingindo os objetivos propostos. O presente trabalho consistiu na busca e análise de bibliografias que abordassem a evolução histórica do debate sobre o tema da reforma agrária como política pública no Brasil e sobre a política de assistência técnica e extensão rural, e na coleta de dados in loco, no intuito de avaliar se as ações implementadas no âmbito dessa última contribuem para melhorias no desenvolvimento local de projetos de assentamento (PA) de reforma agrária no estado do Rio Grande do Norte (RN), isto dadas às constantes críticas apresentadas quanto a sua efetividade, considerando que empiricamente é difícil diferenciar assentamentos que receberam daqueles que não receberam os serviços de assistência técnica. Dessa forma, realizou-se coleta de dados para comparação das características (organização social, relação com ambiente local, forma de produzir e avaliação dos serviços de assistência técnica) de dois assentamentos no RN, sendo um que tenha recebido os serviços de assistência técnica e outro que não teve acesso a esses serviços nos últimos cinco anos, pelo menos, para confirmar se aquele que teve acesso aos citados serviços apresenta melhores características de organização social e na relação com o ambiente local, principalmente, o que foi confirmado nos resultados obtidos, que demonstraram ainda a inexistência de diferenças significativas quanto à forma de produzir e de comercializar nos PA estudados. Constatou-se também que os problemas enfrentados pelas famílias assentadas nos PA estudados assemelham-se dos verificados em diversos outros estados brasileiros, especialmente quanto à forma de utilização dos recursos naturais nas áreas de reforma agrária e da instabilidade da disponibilidade dos serviços de assistência técnica. Deve ser garantida a continuidade e universalidade dos serviços de assistência técnica a assentamentos, buscando um foco maior nas questões produtivas, que proporcionam a renda necessária para que as famílias assentadas possam ter uma melhor qualidade de vida.

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ABSTRACT

The contribution of technical assistance in the development of settlements in the state of Rio Grande do Norte

The public policies must have as their aimed the primordial at improving quality of life of families of a given population, however, its performance must be constantly monitored and evaluated scoped to ascertain whether these policies are reaching those goals. This work consisted in search of bibliographies and analysis that addressed the historical evolution of the debate on the subject of agrarian reform in Brazil as public policy and on the policy of technical assistance and rural extension, and collecting data in loco, in order to assess whether the actions implemented under this latter contribute to improvements in local development of settlements projects (PA) land reform in the state of Rio Grande do Norte (RN), this given the constant presented criticisms regarding their effectiveness, considering that it is difficult to empirically differentiate settlements they received of those who did not receive the technical assistance services. In this way, was held the data collection for comparison of characteristics (social organization, relationship with the local environment, form of producing and evaluation of technical assistance services) of two settlements in RN, being one you have received the technical assistance services and another who has not had access to these services in the past five years, at least, to confirm whether those who had access to the above services presents best features of social organization and the relationship with the local environment, mainly, which was confirmed in the results obtained, which still demonstrated that no significant differences on the forma to produce and of commercialization in PA studied. It was also found that the problems faced by families settled in PA studied resemble those seen verified in many other Brazilian states, especially as to how to use natural resources in the areas of land reform and the instability of the availability of technical assistance services. Should be guaranteed at continuity and universality of technical assistance services to settlements, seeking a higher focus on productive issues, which provide the income necessary for families settled can have a better quality of life.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Projetos de Assentamento do RN (2007) ... 16

Figura 02 – Território da Cidadania do Mato Grande ... 17

Figura 03 – Número de PA localizados no Rio Grande do Norte ... 18

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL E REVISÃO DE LITERATURA 10

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE 12

2 METODOLOGIA GERAL 16

2.1 DELINEAMENTO DAS ÁREAS AMOSTRAIS 17

2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA AMOSTRAL 20

2.2.1 PA Baixa do Novilho 20

2.2.2 PA Planalto do Retiro 20

2.3 DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO AMOSTRAL 21

2.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS 22

3 REFERÊNCIAS 23

CAPÍTULO 1 – A REFORMA AGRÁRIA NO RN: política pública, meio ambiente e

extensão rural. 25

RESUMO 25

ABSTRACT 25

Introdução 26

Breve histórico da reforma agrária no Brasil 27

Contexto regional – Números da reforma agrária no Rio Grande do Norte (RN) 30

A reforma agrária como política pública 31

Relação da reforma agrária com o meio ambiente 38

A assistência técnica e extensão rural na reforma agrária 42

Considerações finais 49

Referências 50

Figura 01 – Histórico do assentamento de famílias pelo Programa Nacional de Reforma

Agrária no RN 31

Figura 02 – Histórico da criação de projetos de assentamento federais no RN 31

CAPÍTULO 02 – A ASSISTÊNCIA TÉCNICA DE FATO CONTRIBUI PARA O

DESENVOLVIMENTO EM ÁREAS DE REFORMA AGRÁRIA NO RN? 53

RESUMO 53

ABSTRACT 53

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PERFIL DAS FAMÍLIAS ENTREVISTADAS 58

ORGANIZAÇÃO SOCIAL, MEIO AMBIENTE E PRODUÇÃO 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS 66

REFERÊNCIAS 67

Figura 01. Nível de escolaridade dos membros das famílias entrevistadas 58 Figura 02. Participação das famílias nas atividades da Associação 59 Figura 03. Satisfação das famílias com a atuação da Associação 59 Figura 04. Acesso à legislação ambiental 61 Figura 05. Ocorrência dos principais problemas ambientais 62 Figura 06. Principais culturas produzidas 63 Figura 07. Destinação da produção de sequeiro 63 Figura 08. Histórico das quantidades produzidas 64 Figura 09. Produção animal das famílias 64 Figura 10. Acesso das famílias a informações técnicas 64 Figura 11. Avaliação do trabalho desenvolvido por equipes técnicas 65 Figura 12. Avaliação da disponibilidade de crédito 65 Figura 13. Comparação da renda atual da família em relação à antes do assentamento 65 Figura 14. Avaliação do conhecimento sobre técnicas de produção 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS 68

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INTRODUÇÃO GERAL E REVISÃO DE LITERATURA

A política de Reforma Agrária no Brasil provém, de forma definitiva, desde a década de 1970. Entretanto, a necessidade de distribuição de terras e fragmentação das grandes propriedades agrícolas monocultoras data da época das sesmarias, passando pelos ciclos do açúcar, algodão e café, adentrando na era moderna e avançando no tempo até os dias atuais. Porém, com o advento da “Revolução Verde”, baseada nas políticas de uso intensivo de máquinas e produção em monocultivo para a exportação, contribuiu mais fortemente para o agravamento da questão agrária no país, com o aumento na concentração de terras, gerando um enorme êxodo rural e desemprego em massa nos centros urbanos.

Devido essa situação a sociedade passou a se organizar e exigir de forma mais incisiva a criação e a aplicação de uma política de distribuição de terras, donde, entre as décadas de 1960 e 1970, surge à Política Nacional de Reforma Agrária, com a criação de institutos governamentais para sua implementação.

Desde então se iniciou um longo processo de identificação das terras concentradas sob a posse de poucos proprietários e consideradas improdutivas, as quais eram adquiridas pelo governo por meio de desapropriação por interesse social com base no Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30/11/1964) e distribuídas à população que não tinha terra para trabalhar. Era a Reforma Agrária tomando corpo no Brasil.

Concomitante a formatação definitiva da Política de Reforma Agrária, também veio se consolidando no Brasil a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), tendo como princípio o modelo introduzido, em Minas Gerais, pela Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR).

Na década de 1990, com o surgimento do modelo dos Projetos de Assentamento (PA), que consistiu, no caso do Nordeste do Brasil, na formação de uma ou mais agrovilas, localizadas em pontos estratégicos na propriedade, de forma que possibilitasse as famílias ali residentes o acesso com maior facilidade ás políticas públicas (saúde, educação, saneamento, energia, etc.) e aos lotes individuais de produção, intensificou-se a distribuição de terras aos pequenos agricultores familiares que não dispunham desse meio para se instalar, produzir e gerar renda. Esse modelo, juntamente com a luta dos movimentos sociais, propiciou que se desse um salto no número de projetos criados em todo o país.

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privatização de diversos serviços prestados pelo Estado, incluindo os de assistência técnica e; uma segunda, que se pautava na recuperação e no fortalecimento dessa política pública.

Mesmo com esse contexto, torna-se notável o avanço no processo de reforma agrária no Brasil. No entanto, com a destinação de recursos para o assentamento de famílias, não fica claro como as famílias assentadas na região nordeste do Brasil, que na sua grande maioria é formada por agricultores familiares, conseguem permanecer morando e produzindo nos assentamentos, quando as condições climáticas e econômicas nestes locais em geral só lhes permitem a prática agrícola nos lotes familiares no período de chuvas, com a produção de culturas de subsistência.

Nesta perspectiva, a política de ATER, nas áreas de assentamento, deve atuar de maneira multidisciplinar no sentido de contribuir para a instalação e para o desenvolvimento dessas comunidades, trabalhando e fomentando sua organização social, capacitando e alertando para as questões ambientais que envolvem as famílias, bem como introduzindo e instruindo sobre práticas produtivas de forma a gerar renda para que as famílias assentadas permaneçam nessas áreas com dignidade.

Entretanto, diversos problemas em ambas as políticas (tanto a de reforma agrária quanto a de ATER), dificultam o cumprimento integral de seus objetivos. A título de exemplo, pode-se citar como problemas da política de reforma agrária a demora nas desapropriações, na liberação dos créditos iniciais e na montagem da infraestrutura básica para a instalação das famílias; já no que se refere à política de ATER a falta de continuidade e a deficiência na qualidade dos serviços estão entre os problemas mais recorrentes.

Apesar disso, essas políticas estão constantemente se entrelaçando, até mesmo pela similaridade em alguns de seus princípios, no sentido de promover mudanças na realidade agrária do Brasil, possibilitando acesso aos meios de produção para a agricultura e o desenvolvimento do setor rural, bem como a melhoria da qualidade de vida das famílias assentadas. Contudo, dentre o leque de ações desenvolvidas pela ATER, questiona-se se a assistência técnica de fato contribuiu para a organização social, para um melhor manejo ambiental e para a introdução de técnicas produtivas às famílias assentadas em projetos de assentamento no Rio Grande do Norte (RN).

Este questionamento se justifica porque, por exemplo, observações empíricas mostraram que nos assentamentos do RN, salvo raras exceções, não é possível identificar se um ou outro assentamento foi beneficiado ou não com os serviços de ATER. Isso se dá até

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relacionar-se internamente, a forma com que usam e exploram os recursos naturais locais e a forma como produzem as famílias assentadas não difere entre os assentamentos que tiveram e os que não tiveram a oportunidade de serem acompanhados recentemente através da política de ATER.

Porém, para viabilizar uma análise acerca da contribuição da ATER para a vida das famílias assentadas, se faz necessário dispor de determinadas informações, notadamente quanto às atividades produtivas que adotam, a sua situação social e econômica, bem como sobre a forma com que se relacionam com o ambiente local.

Partindo deste pressuposto, o presente trabalho teve por escopo a realização de estudo sobre as famílias assentadas em dois projetos de assentamento situados no Território da Cidadania do Mato Grande, estado do Rio Grande do Norte, sendo um que tenha usufruído dos serviços de ATER nos últimos anos e outro que não tenha tido acesso a esses serviços, buscando identificar diferenças em sua organização social, no seu relacionamento com o ambiente local e na forma com que produzem, na perspectiva de confirmar uma possível diferenciação notadamente quanto aos dois primeiros aspectos e, por fim, verificar, caso esta diferenciação se confirme, se a mesma pode ser vinculada ao trabalho da assistência técnica.

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE

A presente pesquisa encontra-se disposta em dois capítulos, sendo abordado no primeiro capítulo o histórico e a evolução das políticas de reforma agrária e de assistência técnica e extensão rural no Brasil, e, ainda, uma resumida discussão sobre a relação que os projetos de reforma agrária vêm tendo com o ambiente local, com destaque para o que ocorreu no estado do RN. No segundo capítulo analisam-se, em nível local, as características de dois projetos de assentamento situados no Território da Cidadania do Mato Grande relacionando a ação da ATER com as características sociais, ambientais e produtivas encontradas nesses assentamentos.

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o desenvolvimento do meio rural.

Caporal e Costabeber (2002, p. 10) discorrem que o desenvolvimento em sua formulação mais ampla, “significa a realização de potencialidades sociais, culturais e econômicas de uma sociedade, em perfeita sintonia com o seu entorno ambiental e com seus valores políticos e éticos”, ao tempo em que contrapõem que o tido como sociedade desenvolvida é apenas o estabelecimento, que aceitamos, de determinadas condições sociais, as quais quando não se enquadra certa sociedade, é-lhe taxado o título de subdesenvolvida.

Sen (2000, p. 17) corrobora a ideia de que o desenvolvimento de uma determinada sociedade pode até ser influenciado, mas que não pode ser simploriamente determinado, pelo crescimento econômico, como o verificado por meio da variação do Produto Nacional Bruto (PNB), pelo crescimento tecnológico e industrial, etc., porém, deve-se avaliar também o acesso à educação e saúde, à organização social e todas as “liberdades” a que o sujeito deve ter acesso e gozo para, aí sim, se inferir sobre o nível de desenvolvimento desfrutado de fato por determinada sociedade. Este autor defende que a liberdade é tanto o principal fim quanto o principal meio do desenvolvimento.

Jesus et al (2011, p. 364) informam que erroneamente vem se utilizando o termo desenvolvimento como sinônimo de crescimento econômico, principalmente durante o

período da revolução verde, alertando ainda que “os problemas ambientais vem ao longo

deste processo se intensificando, levando a perdas de solos e ecossistemas”.

Caporal e Costabeber (2002, p. 10) consideram que fora impugnado aos países ditos

subdesenvolvidos uma lógica de que somente seguindo um “pensamento linear e cartesiano” é

que seria possível o desenvolvimento de uma agricultura competitiva, que possibilitasse o crescimento do país, que era o que realmente importava, e que era necessária a adoção cada

vez maior de novas tecnologias, abandonando as “velhas tradições” para que se atingisse o

“progresso”. E com esta lógica, os recursos naturais, não renováveis em sua maioria, é que

financiaram as ações antrópicas em busca do progresso.

Voltando a análise do desenvolvimento para o ambiente rural, a Revolução Verde é apresentada como marco do avanço e da degradação do campo brasileiro.

A Revolução Verde, marco deste processo, representava a modernização deste setor econômico, não conseguindo, contudo suplantar duas consequências importantes. A primeira foi a de não perceber que, além do objetivo de aumentar a produção e a produtividade agrícola, era fundamental que a riqueza produzida fosse socialmente distribuída. O que efetivamente ocorreu apontou na direção oposta. Esta por sua vez levou a uma segunda, que está no fato de que o processo de modernização foi custeado pela pauperização, ainda persistente atualmente, em uma parcela significativa do meio rural (KIRSCH e WAQUIL, 2010, p. 26)

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muito aquém disso. Talvez tenha gerado mais problemas que propiciado soluções, ressalvados avanços inegáveis em algumas técnicas produtivas, por exemplo, e que, mesmo hoje, encontramo-nos num processo de mudança de rumo no tocante à forma de produzir e de explorar o meio. Caporal e Costabeber (2002) colocam ainda que a imersão nesta crise socioambiental que é vivenciada pelo mundo força-nos a repensar o papel de instituições de apoio ao desenvolvimento rural, onde se enquadram perfeitamente aquelas responsáveis pela prestação dos serviços de extensão rural.

A constatação do uso predatório dos recursos naturais, sobretudo da terra, associados à noção da finitude e limite destes recursos, instaura um período de incertezas e riscos e a necessidade de um uso diferenciado da noção de desenvolvimento rural (KIRSCH e WAQUIL, 2010, p. 18).

Fomenta-se então um movimento mundial, em meados dos anos 1980, de discussão das práticas desenvolvimentistas, concluindo-se pela necessidade de incorporação da qualificação de sustentabilidade e de padrões ambientais para o desenvolvimento das atividades rurais. Isto na busca de alternativas que promovessem menos impactos e que desgastassem menos os recursos disponíveis. Esta mudança é motivada, sobretudo pelos grandes e impactantes acidentes ambientais que tiveram repercussão neste período (KIRSCH e WAQUIL, 2010, p. 18).

A incorporação da dimensão ambiental do desenvolvimento surge como uma preocupação acadêmica, numa forma mais sistematizada de suas relações com as formas de produção na agricultura, num período relativamente recente da história (KIRSCH e WAQUIL, 2010, p. 17).

A discussão pública mais bem fundamentada e menos marginalizada sobre questões ambientais pode ser não apenas benéfica ao meio ambiente, como também importante para a saúde e o funcionamento do próprio sistema democrático (SEN, 2000, p. 186).

Com a evolução da discussão já se identificam avanços no tocante ao estabelecimento de parâmetros ambientais para várias atividades que não possuíam normatização, bem como a previsão imposta por legislações ambientais de reparação de eventuais danos causados ao meio (destacando que esta reparação, do ponto de vista biológico, nem sempre é possível), dentre outros exemplos. Entretanto ainda há muito em que se avançar!

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insustentável.

Sustentabilidade não é continuar cultivando a produção pela produção, só que de forma esverdeada. É, antes de tudo, submeter, por meio do debate público, inspirado por valores, a vida econômica às necessidades sociais e reconhecer os limites dos ecossistemas (ABRAMOVAY, 2010).

Albiero et al (2011) também discorreram sobre a importância em se contextualizar os princípios sustentáveis e agroecológicos com a realidade, de forma a propiciar a utilização da tão malfadada tecnologia no desenvolvimento de técnicas e mecanismos passíveis de uso pelo homem do campo para o cumprimento de suas atividades comuns e laborais, impactando menos o ambiente local, buscando ainda, sempre que possível, a menor deterioração dos recursos naturais disponíveis. Para tanto estes autores desenvolveram uma máquina adaptada ao ambiente de trabalho da agricultura familiar e as características das matas de transição amazônicas, sendo capaz de coletar os frutos de babaçu (Orbignya phalerata), com impacto ambiental menor que na coleta manual (extrativista), o que poderá promover a perpetuação da atividade econômica de coleta e venda desses frutos por um maior período de tempo, bem como a conservação das florestas de babaçu por meio do menor impacto às plantas e às condições daqueles ambientes.

O exemplo retro demonstra, antes de qualquer coisa, que o meio científico, juntamente com o Estado, têm a capacidade de desenvolver alternativas e de contribuir significativamente para um desenvolvimento rural com menores impactos ambientais. Fundamentalmente, a segurança nacional depende de uma agricultura sadia e sustentável (LUTZENBERGER, 2001, p. 65). O que resta então é buscar a priorização na realização de pesquisas e de políticas públicas para o meio rural.

Assim, em atendimento aos objetivos e conforme padronização estabelecida pelo PRODEMA, esta Dissertação se encontra composta por esta Introdução geral, Metodologia geral empregada para o conjunto da obra e por dois capítulos que correspondem a artigos científicos a serem submetidos à publicação, sendo o Capítulo 01 intitulado “A reforma

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2 METODOLOGIA GERAL

Ao se promover estudos sobre as áreas de reforma agrária, torna-se imperiosa a necessidade de se estudar os projetos de assentamento e, por conseguinte, as famílias assentadas.

Analisar o perfil dos trabalhadores assentados (...), caracterizando as condições sociais e econômicas da comunidade torna-se fundamental para que possamos entender as condições concretas em que se desenvolve o processo de consolidação do assentamento e as formas como são enfrentadas as novas situações sociais que emergem da nova condição social: “assentado” (SILVA, 2011, p. 120)

O estado do RN conta com uma capacidade de assentamento de 20.331 famílias (SIPRA/INCRA, 2012), distribuídas em 283 projetos de assentamento, nas diversas regiões do estado. A área ocupada por estes projetos de assentamento (5.102,12 km2) corresponde a 9,66% de todo o território potiguar, cuja extensão é de 52.810,899 km2 segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na figura 01 é demonstrada a distribuição dos projetos de assentamento federais no território do Rio Grande do Norte no ano de 2007.

Figura 01: Projetos de Assentamento do RN (2007).

Fonte: Setor de Cartografia – INCRA/RN (adaptado), 2012.

Assim, para ser possível desenvolver a presente pesquisa optou-se pela realização de sorteio dos assentamentos que serão estudados, com foco nos PA incrustados no Território da Cidadania do Mato Grande, e ainda assim, pela realização de amostragem, em cada PA, das famílias a serem entrevistadas.

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sustentável, com base na participação social e integração entre políticas dos governos federal, estadual e municipal.

O Território da Cidadania do Mato Grande (apresentado na figura 02) é constituído, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (2012), por 15 municípios (quais sejam: Bento Fernandes, Caiçara do Norte, Ceará-Mirim, Jandaíra, João Câmara, Maxaranguape, Parazinho, Pedra Grande, Poço Branco, Pureza, Rio do Fogo, São Bento do Norte, São Miguel do Gostoso, Taipu e Touros), com um contingente populacional de 224.107 pessoas (IBGE, 2010), sendo 114.518 (51,10%) residentes da zona rural, e destes 5.236 beneficiários da Reforma Agrária (SIPRA, 2012).

Figura 02: Território da Cidadania do Mato Grande.

Fonte: Setor de Cartografia – INCRA/RN (adaptado), 2012.

De acordo com Silva (2011, p. 118), “para compreendermos esse modo de vida dos assentados necessário se faz conhecermos quem são esses sujeitos, como vivem e de que

forma enfrentam os desafios colocados no dia a dia do assentamento”, o que corrobora com o que Naase (2010) e Francelino et al (2003) apresentam em seus trabalhos.

Dada a necessidade de viabilizar a realização desta pesquisa sem prejuízo da confiabilidade requerida dos resultados e de fundamentar teoricamente os procedimentos adotados, optou-se pelo uso de amostragem (ferramenta relacionada à estatística aplicada) das famílias a serem entrevistadas, nos assentamentos sorteados, considerando-se que a mesma confere praticidade e confiabilidade aos dados obtidos. O procedimento metodológico utilizado para a consecução do objetivo proposto encontra-se descrito a seguir.

2.1 DELINEAMENTO DAS ÁREAS AMOSTRAIS

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Rio Grande do Norte, sorteando-se um assentamento que fora beneficiado com ações desenvolvidas por instituições em parceria com o INCRA/RN quanto à prestação de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) e outro que não os acessaram (grupo de controle).

O Território da Cidadania do Mato Grande foi delimitado como o Universo da presente pesquisa, com base nos argumentos já apresentados, mas, sobretudo pela representatividade que o mesmo demonstra em relação aos números da Reforma Agrária no Rio Grande do Norte. Este território abriga atualmente 27,92% dos assentamentos instalados no estado, com uma parcela de aproximadamente 25,75% das 20.331 famílias assentadas. Para melhor visualização dessas informações, foram elaborados os gráficos apresentados nas figuras 03 e 04.

Figura 03: Número de PA localizados no Rio Grande do Norte.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do SIPRA/INCRA (Junho de 2012)

Figura 04: Número de famílias assentadas no Rio Grande do Norte.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do SIPRA/INCRA (Junho de 2012)

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aproximadamente 50% (cinquenta por cento) acima ou abaixo do número médio de famílias por PA, neste território.

Ato contínuo, do intervalo inicialmente estabelecido foram eliminados os assentamentos criados até 31 de dezembro de 1994, em consonância com as delimitações estabelecidas por Sparovek (2003), que entende que os assentamentos criados no período anterior a esta data possuíam características distintas dos projetos de assentamento criados a partir de 1995, quando a política de reforma agrária no Brasil ganhou outro norte. Ademais,

alguns dos “projetos de assentamento” criados no primeiro interregno constituem-se de projetos de colonização reconhecidos como assentamentos, possuindo distribuições espaciais e características sociais que impossibilitariam a comparação com outros projetos de período posterior sem ensejar em riscos significativos de vício nas informações necessárias para a análise proposta.

Com relação ao período entre os anos de 1990 e 1994, Santos e Gois (2011, p. 271) relatam a ocorrência de superinflação, baixo dinamismo econômico e a contenção fiscal, o que reforça o fato de que a conjuntura do país, neste período, difere das situações (econômicas, sociais, etc.) evidenciadas posteriormente.

Ainda seguindo este raciocínio, foram excluídos deste intervalo os assentamentos criados após 1º de janeiro de 2009, considerando-se que tais projetos de assentamento encontram-se na fase mais inicial de estabelecimento, estando envolvidos na construção de sua infraestrutura básica (estradas de acesso, construção das residências, demarcação dos lotes produtivos e áreas coletivas, formalização das associações comunitárias, dentre outras). Assim, diferem de sobremaneira da realidade dos demais projetos, já estabelecidos, o que também impossibilitaria a comparação no tocante aos critérios de investigação da articulação local e organização social, relação com o meio ambiente local (considerando que na sua maioria não possuem ainda a reserva legal devidamente demarcada e isolada). Acrescente-se, ainda, o fato de que nenhum destes projetos possuiu equipe de ATER até o momento, o que, novamente, inviabilizaria a comparação proposta no presente instrumento.

Feito isto, os assentamentos restantes foram divididos naqueles que tiveram serviços de assistência técnica contratada nos últimos cinco anos e aqueles que não tiveram disponíveis estes serviços no mesmo período, criando-se o “Bloco A” e o “Bloco B”.

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2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA AMOSTRAL

2.2.1 PA Baixa do Novilho

O Projeto de Assentamento Baixa do Novilho é um dos 15 assentamentos localizados na zona rural do município de João Câmara/RN, distando 20 km da sede deste município e cerca de 100 km da capital do estado, Natal/RN.

Este PA tem sua criação oficial datada de 29 de junho de 1999, por meio da desapropriação das fazendas Baixa do Novilho, Limão e Monte Alegre. Possui uma área de 1.505,30 ha, para a qual o INCRA/RN avaliou ter capacidade para abrigar 60 famílias de agricultores, sendo que atualmente conta com 59 famílias na Relação de Beneficiários.

O PA conta com o trabalho de uma equipe do Programa Saúde da Família (PFS). Quanto às infraestruturas sociais existe um posto de saúde onde são realizados os atendimentos semanalmente. As residências desse PA foram recuperadas recentemente por meio do acesso das famílias ao Crédito Instalação na modalidade Recuperação/Materiais de Construção, operacionalizado pelo INCRA/RN. A comunidade é abastecida com água oriunda de poço artesiano, sendo já encanada para a maioria das residências.

Dentre os últimos cinco anos, por advento do Contrato CRT/RN/Nº 11.000/2009, firmado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Associação Nacional de Apoio a Reforma Agrária e Agricultura Familiar (ANGRA), este projeto de assentamento teve a oportunidade de usufruir dos serviços de ATER, contando com o trabalho de sete profissionais (de nível superior e técnico), durante o período entre agosto de 2009 e julho de 2010.

2.2.2 PA Planalto do Retiro

O Projeto de Assentamento Planalto do Retiro é um dos 09 assentamentos localizados na zona rural do município de Touros/RN, distando 27 km da sede deste município e cerca de 105 km da capital do estado, Natal/RN.

(22)

INCRA/RN avaliou ter capacidade para abrigar 70 famílias de agricultores, sendo que atualmente este assentamento conta as exatas 70 famílias na Relação de Beneficiários.

Quanto às infraestruturas sociais não possui posto de saúde nem escola. As residências desse PA carecem ainda de recuperação, pois ainda não conseguiram acessar o Crédito Instalação na modalidade Recuperação/Materiais de Construção junto ao INCRA/RN. A comunidade é abastecida com água oriunda de poço artesiano, sendo já encanada para todas as residências.

Apesar de estar inserido nos últimos Editais publicados pelo INCRA/RN para a contratação de prestadoras de serviços de ATER, este PA não foi contemplado com tais serviços nos últimos oito anos.

2.3 DELIMITAÇÃO DO ESPAÇO AMOSTRAL

Brandão Neto (2004) discorre que amostra deve ser definida como um subconjunto de uma população, na qual se estabelecem ou se estimam determinadas características.

A transparência e a clareza dos relatórios de pesquisa, destacando a etapa de coleta de dados, são consideradas parâmetros importantes de avaliação do rigor científico dos estudos qualitativos (FONTANELA, RICAS E TURATO, 2008, p. 17).

A metodologia de pesquisa não se define a partir da mera descrição dos métodos e técnicas a serem utilizadas. Ela é resultado das opções e leituras realizadas pelo pesquisador a partir do quadro teórico adotado. Neste sentido Capra (1989, p.115) já discorria que “o observador decide qual vai ser o método empregue para quantificar e esta opção vai determinar, de alguma forma, as propriedades do objeto observado”.

Ao selecionar a unidade familiar como prestadora das informações avaliadas, reconhece-se esta como a unidade que possui a melhor condição para prover as informações mais precisas quanto ao tema em questão, conforme aduzem Kirsch e Waquil (2010) em seu trabalho.

(23)

Assim, a amostra foi coletada dentre as famílias dos assentamentos sorteados, de maneira totalmente casualizada, conferindo a cada uma destas a mesma probabilidade de participar da pesquisa através do fornecimento de informações.

Ao que toca a quantificação da amostra, ou seja, o número de famílias a serem entrevistadas, considerando que cada pesquisador adéqua esta quantificação as áreas estudadas, para a presente pesquisa foram coletadas informações de 10% das famílias de cada assentamento. Dessa forma, procedeu-se com a entrevista de 6 (seis) famílias no projeto de assentamento Baixa do Novilho e de 7 (sete) famílias no projeto de assentamento Planalto do Retiro.

Há de se reforçar que, conforme já colocado, o sorteio das famílias entrevistadas se deu de maneira aleatória, promovendo oportunidades iguais a qualquer das famílias de cada PA prestarem informações para o presente estudo. Este fato merece destaque por possibilitar, principalmente no PA Baixa do Novilho, tanto às famílias que participavam das atividades com os técnicos de ATER quanto àquelas que não se identificavam com tal ação, a oportunidade de prestarem sua opinião quanto ao trabalho desempenhado pela assistência técnica para o conjunto da comunidade.

2.4 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

A coleta inicial de dados baseou-se principalmente em dados primários junto aos arquivos e sistemas utilizados pelo INCRA/RN, a exemplo do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), Processos de Desapropriação dos citados assentamentos, arquivos e processos administrativos da Divisão de Desenvolvimento de Projetos de Assentamento, pesquisa em artigos de periódicos e livros que tratassem do assunto abordado na presente pesquisa. E ainda a diversos sites como o do próprio INCRA, o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dentre outros, conforme indicado nas referências.

Quanto às informações das famílias, utilizou-se como principal meio de coleta de dados em campo um questionário semi-estruturado, ou seja, com perguntas fechadas e abertas, e alternativas pré-estabelecidas para respostas na maioria delas.

(24)

as forma de organização social do assentamento, finalizando com questionamentos sobre a ação da assistência técnica e a qualidade de vida da família.

A análise dos dados qualitativos foi realizada de acordo Bittencourt (1999), onde os dados dos questionários dos PA foram tabulados e comparados, visando identificar se existem diferenças significativas entre os mesmos nos aspectos da organização social, da relação com o meio ambiente e nas técnicas de produção, no sentido de confirmar ou refutar a hipótese anteriormente formulada, cujas diversas considerações encontram-se dispostas no Capítulo 2 do presente instrumento.

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SPAROVEK, G.. A qualidade dos assentamentos de reforma agrária brasileira. São Paulo:

(26)

CAPÍTULO 1

A REFORMA AGRÁRIA NO RN: política pública,

meio ambiente e extensão rural.

CHAPTER 1

AGRARIAN REFORM IN RN: public policy,

environment and rural extension.

Max Victor Bezerra Barbosa Mestrando do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente –

PRODEMA/UFRN. maxvictorbb@yahoo.com.br

Prof. Dr. Fernando Bastos Professor Adjunto e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais –

PPEUR/UFRN. fbastos@ufrnet.br.

ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO AO PERIÓDICO CAMPO-TERRITÓRIO: REVISTA DE GEOGRAFIA RURAL E, PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE

ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA (vide www.campoterritorio.ig.ufu.br)

RESUMO

O presente trabalho consistiu na busca e análise de bibliografias que abordassem a evolução histórica do debate sobre o tema da reforma agrária como política pública no Brasil e sua relação com o uso e/ou preservação dos recursos ambientais e com a extensão rural, fazendo a relação das situações descritas pelos diversos autores com a realidade verificada no processo de reforma agrária do estado do Rio Grande do Norte, situado na Região Nordeste do Brasil. Como principais resultados percebeu-se que as características da reforma agrária no RN assemelham-se com as do restante do país, principalmente quanto aos entraves enfrentados, na forma de utilização dos recursos naturais locais e na instabilidade da prestação dos serviços de assistência técnica.

Palavras-Chaves: reforma agrária, políticas públicas, assentamentos, extensão rural,

meio ambiente.

ABSTRACT

(27)

form of use of local natural resources and instability in the provision of technical assistance services.

Key-words: agrarian reform, public policy, settlements, agricultural extension,

environment.

Introdução

Não é recente a temática da reforma agrária no Brasil, entretanto essa temática é sempre atual, na medida em que ainda se verifica a luta de milhares de famílias, muitas vezes instaladas à margem de rodovias, para ter acesso a esse bem de produção tão precioso e limitado que é a terra.

Considera-se Reforma Agrária, de acordo com o Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964), “o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade” (BRASIL, 1964).

Inicia-se o presente artigo com o conceito de reforma agrária, estabelecido em Lei ainda no ano de 1964, propositadamente, para demonstrar que não é atual o pleito pela posse e uso da terra no país. Com relação ao período em que fora promulgado o Estatuto da Terra, Borges (2004, p.305) cita como exemplo do tamanho da hostilidade existente no Brasil a forma que era tratado o conflito entre os camponeses e os detentores das propriedades no leste de Minas Gerais, tendo aqueles como lema

“Reforma Agrária, na Lei ou na marra”.

Carvalho Filho (1997, p.100) corrobora com o fato de que a luta pela equânime distribuição da terra no Brasil vem se arrastando ao longo do tempo, ao discorrer que

“os conflitos, a violência e a impunidade persistiram no campo, violentando a cidadania

(...). A reforma agrária, como uma das políticas públicas apropriadas para atacar esses

problemas, deveria, portanto, ter sido objeto de amplo debate”. Trata-se, pois, de uma

“necessidade histórica do fim das terras improdutivas e o cumprimento ao legado constitucional de que a terra tem de cumprir sua função social” (OLIVEIRA, 2001,

(28)

Em se avançando até a realidade da reforma agrária vivenciada no final do século XX e início deste século XXI percebe-se que ocorreram avanços na distribuição de terras a essa população tão necessitada através dos programas de reforma agrária adotados, principalmente, pelo Governo Federal.

Dessa forma, com intuito de contribuir com informações sobre a temática da reforma agrária, o presente trabalho consistiu na busca e análise de bibliografias que abordam a evolução histórica no debate sobre o tema da reforma agrária como política pública no Brasil, a relação desta política como uso e/ou preservação dos recursos ambientais e com política de assistência técnica e extensão rural, fazendo, sempre que possível, a relação das situações descritas pelos diversos autores com a realidade verificada no processo de reforma agrária do estado do Rio Grande do Norte.

Breve histórico da reforma agrária no Brasil

Da colonização à independência, o Brasil foi essencialmente agrícola, o que reflete na condição recente da sua estrutura agrária, onde se percebe a concentração de muita terra, na forma de grandes propriedades denominadas latifúndios, na mão de poucos proprietários. “Da plantação colonial, subordinada às necessidades estrangeiras e financiada, em muitos casos, do exterior, provém em linha reta o latifúndio” (GALEANO, 1996, p.42).

No início do século XIX houve grande preocupação com o acesso a terra, necessário para o desenvolvimento econômico local na ideia de José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos seus principais defensores (SPAROVEK, 2003).

Entre a independência (1822) e a promulgação da “Lei de Terras” (Lei Nº 601 de 18 de setembro de 1850), a terra poderia ser ocupada livremente. Entretanto, dada a situação social vivenciada no país àquela época, poucos casos ocorreram neste sentido. Após a Lei que dispunha sobre as terras devolutas do império, consolidaram-se as grandes propriedades para exportação, onde a terra só poderia ser adquirida do governo a altas custas.

(29)

Este período findou com o início da industrialização, juntamente com o implemento de leis trabalhistas, mas sem mudanças significativas na estrutura agrária brasileira.

Em 1946 elaborou-se uma Nova Constituição na qual a questão agrária começou a ganhar importância, principalmente com o aumento das pressões populares para debater o tema da Reforma Agrária, que dividia opiniões, culminando na Criação da Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA) em 1962 e na elaboração do Estatuto do Trabalhador Rural, em 1963.

Mesmo com o Golpe de Estado pelos militares, em 1964, as pressões populares sobre o tema da reforma agrária continuaram, tanto que mesmo em pleno regime

ditatorial fora criado o “Estatuto da Terra” (Lei 4.504, de 30 de novembro de 1964) para

tratar sobre os assuntos relacionados à posse da terra no Brasil, instrumento legal que vigora até os dias atuais, e por meio do qual se criaram o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA). O primeiro começou sua atuação em ações que não priorizavam a desapropriação por interesse social, mas se preocupando da colonização e na expansão da fronteira agrícola. No ano de 1970, ocorreu a extinção do IBRA e do INDA para a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), além de outros órgãos com o escopo de estimular a colonização do interior do Brasil, como o Projeto de Integração Nacional (PIN), que visava a colonização da Região Norte a partir da transamazônica, com transferência de parte da população nordestina, e do Projeto de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (PROTERRA), que não foram bem sucedidos, inclusive com a verificação do aumento do Índice de Gini em 1979 (SPAROVEK, 2003, p.12).

A baixa eficiência na alteração da estrutura fundiária brasileira, juntamente com o agravamento dos conflitos no campo no início da década de 1980 resultam no nascimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), formalmente constituído em 1984, com atuação em coordenações estaduais, promovendo uma constante pressão por reforma agrária em todas as regiões do país.

(30)

Com o processo de redemocratização do país o tema da reforma agrária adquire novamente visibilidade na sociedade em função da ação de diversos atores sociais que forçam o poder público a inseri-lo na agenda governamental (SILVA, 2011, p.202).

Com o fim da ditadura, em 1985, já no Governo Sarney ocorre a Criação do Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário (MIRAD). O INCRA elabora o Plano Nacional de Reforma Agrária – PNRA, com previsão de assentar 1.400.000 famílias em 5 anos, mas só cumpre menos de 10% devido pressões contrárias ao tema, sendo inclusive extinto em 1987.

A elaboração de nova Constituição Federal, em 1988, consolidou a inclusão da pauta da reforma agrária através de seu Capítulo III (Título VII). Este instrumento

também previu veto a desapropriação da “propriedade produtiva” (Inciso II, Art. 185);

Visando implementar o determinado na Carta Magna Constitucional, em 1989, o INCRA é restabelecido pelo Governo Federal, que no período do Governo do Presidente Fernando Collor de Mello promove a extinção do MIRAD.

No Governo do Presidente Itamar Augusto Cautiero Franco ocorre um resgate do tema da reforma agrária com a promulgação da Lei Complementar 76, que orienta o rito sumário para o processo de desapropriação de propriedades por interesse social.

As lutas pela reforma agrária continuam encabeçadas pelos movimentos sociais, inclusive com tragédias como os massacres de Corumbiara (RO) e Eldorado dos Carajás (PA) durante o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 1996, o Governo Federal criou o Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e promoveu o I Censo da Reforma Agrária buscando a efetivação de assentamentos no país com o aumento do número de desapropriações, disponibilização de créditos específicos (Procera e Pronaf), dentre outras medidas, ensejando no assentamento de 372.866 famílias, entre 1995-1999, de acordo com o que informa Sparovek (2003, p.14).

(31)

Segundo dados do Sistema de Informações de Projetos de Reforma Agrária – SIPRA/INCRA, em agosto de 2011, existiam 8.790 assentamentos e 1.117.985 famílias beneficiárias em assentamentos reconhecidos pelo INCRA no Brasil, cabendo destacar a existência de assentamentos federais em todos os 27 estados da federação, sob a alçada das 30 Superintendências Regionais do INCRA, juntamente com a sua sede que se localiza em Brasília/DF.

Contexto regional – Números da reforma agrária no Rio Grande do Norte (RN)

O estado do Rio Grande do Norte tem vivenciado nas três últimas décadas um acelerado processo de mudanças socioeconômicas que provocaram alterações significativas, tanto no seu espaço urbano, quanto no espaço rural (SILVA, 2011, p.33).

É notável o resultado da reforma agrária empreendida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no Rio Grande do Norte, pois este estado conta atualmente com 283 Projetos de Assentamento (PA) federais, ocupando uma área somada de 5.102,12 km2, representando 9,66% do território do RN.

Silva (2011, p.47) coloca que os assentamentos de reforma agrária do RN foram resultantes, em sua grande maioria, de ações de desapropriação onerosa por parte do INCRA. E ainda que a modernização tecnológica do meio rural, principalmente empregada nas grandes fazendas do polo de produção de frutíferas, no Vale do Assú, que resultou na expulsão de inúmeros pequenos agricultores de suas terras, constituiu-se no principal fator responsável pelo recrudescimento dos conflitos sociais no campo potiguar, propiciando o ressurgimento dos movimentos sociais no campo e da luta pela

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Ao analisar os gráficos apresentados nas Figuras 01 e 02, percebe-se que a criação de PA no RN teve maior ímpeto entre os anos de 1995 e 2001, sendo este também o período onde ocorreu o assentamento do maior número de famílias, e que houve uma desaceleração substancial na criação de assentamentos no RN nos últimos anos, sendo este fato atribuído principalmente a redução do número de propriedades de grande porte que atendessem os requisitos estabelecidos para a sua desapropriação e transformação em projeto de assentamento, bem como pela mudança na política de governo, que passou a concentrar mais esforços no sentido de estruturar e desenvolver os assentamentos já existentes durante do mandato do Presidente Luís Inácio Lula da Silva . Acrescente-se como argumento ao primeiro motivo apresentado o fato da não criação de nenhum projeto de assentamento federal no RN durante o ano de 2011.

Figura 01 – Histórico do assentamento de famílias pelo Programa Nacional de

Reforma Agrária no RN

Figura 02 – Histórico da criação de projetos de assentamento federais no RN

Fonte: Elaboração própria com base em dados do SIPRA/INCRA (junho de 2012).

Importa informar também que, segundo dados do SIPRA/INCRA, 30.621 famílias já foram cadastradas e homologadas nos assentamentos do RN no interregno entre 1987 e 2012, apesar da existência de apenas 20.331 vagas, já descritas, o que indica que ocorreu uma significativa rotatividade das famílias, circundando os 50,6%, que por um motivo ou outro deixam a condição de beneficiário da reforma agrária.

A reforma agrária como política pública

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interesse público (CALDAS, 2008, p.5). Considerando que a sociedade não consegue se expressar de maneira uníssona, esta apresenta as suas demandas, normalmente por meio de grupos organizados (ao que se denomina Sociedade Civil Organizada) aos governos por meio de seus representantes eleitos, para que estes tracem estratégias para atender as demandas da sociedade. Percebe-se, pois, que não é a sociedade que escolhe as políticas públicas, mas seus governantes (eleitos, quando em se tratando de regimes democráticos).

Almeida, Oliveira e Xavier (2010) colocam que a confecção e promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi o marco inicial para a implementação de diversos processos e políticas que viriam a contribuir com o desenvolvimento do país, notadamente quanto ao fato de que este instrumento legitimou a descentralização de diversas atribuições até então exclusivas do Estado, possibilitando condições para que os outros entes da federação e da sociedade civil participassem das tomadas de decisão quanto aos rumos e políticas a serem adotados pelo Governo. Como exemplo desta abertura política pode ser citada a própria instituição do sistema democrático no País.

Corroboram a opinião apresentada acima, Santos e Gois (2011, p.271) ao

colocarem que “parte significativa dos avanços alcançados pelo Brasil no campo do enfrentamento da pobreza e desigualdade encontra-se relacionada a marcha

estruturadora das políticas públicas, encadeadas, sobretudo, pela Constituição de 1988”.

Nesta perspectiva, é importante ressaltar que a reforma agrária é abordada sob as mais diversas ópticas, sendo, entretanto, mais apontada e discutida enquanto política pública, esfera que será abordada nesta seção.

Gehlen (2004, p.101) sintetiza bem a ideia de reforma agrária enquanto política pública: “a reforma agrária, por essência, é política pública com forte impacto social, sem diminuir os argumentos econômicos de aumentar a produção e de inclusão de

parcela da população no circuito do mercado de produtores e de consumidores”.

Em explanação sobre a situação da reforma agrária no Brasil no século XX, mais especificamente antes do Governo de Fernando H. Cardoso, quanto a sua inserção no contexto político, Martins (2003, p.145) considera que “a demanda por reforma agrária difundiu-se e avolumou-se à margem do processo político, fora da agenda do Estado,

(34)

o autor, isso contribuiu sobremaneira para o retardamento na adoção de ações públicas com maior consistência sobre o tema, ou seja, fosse constituída e aprovada nas esferas de poder, angariando o beneplácito político necessário para a elaboração e execução de uma Política Nacional de Reforma Agrária, que se configurou através do Decreto Nº 91.766, de 10 de outubro de 1985, que aprovou o I Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA).

Da mesma forma, Oliveira (2001, p.201) tomando também como período histórico o governo de Fernando Henrique Cardoso, discorre sobre a influência e as pressões exercidas pelos movimentos sociais para a criação de novos assentamentos,

concluindo que “tal fato mostra que a Reforma Agrária, antes de ser uma política propositiva do governo é a necessidade de resposta à pressão social”.

Há concordância no entendimento de que ocorre a participação dos movimentos sociais organizados nesse processo para Sigaud (2005, p.276) quando a mesma expõe

que “a demanda por terra não é preexistente: é produzida pelos movimentos e

alimentada pelas práticas do Estado. Mas desde que haja indivíduos dispostos a atender aos convites dos movimentos e a crer na possibilidade do acesso à terra”, e também para Martins (2003, p.143) ao colocar que “os fatos revelavam, e continuam revelando, que a questão agrária tem hoje mais importância política do que econômica e social”.

Continuando, Martins (2003, p.144) afirma que “no tabuleiro da política, cada movimento das organizações que falam e agem em nome dos chamados sem-terra toca

menos na questão agrária e toca mais na questão política que a sobre passa”. Percebe-se, pois a inclusão sublinhar de sua visão quanto à atuação dos movimentos sociais que atuam sob a bandeira da reforma agrária.

Na defesa da manutenção da reforma agrária como uma política pública nacional Silva (2011) ressalta que:

O assentado é essencialmente um trabalhador rural, entretanto, se diferencia de outros trabalhadores rurais a partir do momento em que adere a um processo de luta e passa a se constituir, através dos movimentos sociais organizados, protagonista da sua história. É através da luta e da disputa política que esses trabalhadores se colocam a frente do poder público como diferentes, portanto com direito a políticas públicas específicas (SILVA, 2011, p. 118).

(35)

Quanto à questão da organização da sociedade do Rio Grande do Norte na forma de movimentos sociais e/ou outras formas associativas para cobrar do Estado o cumprimento das diretrizes da reforma agrária, pode-se destacar a atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT) ligada a Igreja Católica, bem como dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais em diversos municípios.

Essas entidades tiveram papel predominante na “luta” pela desapropriação de diversas

propriedades pelo INCRA, culminando na criação de projetos de assentamento, o que reforça o fato de que a reforma agrária tem forte vertente política e social.

Some-se a importância da reforma agrária no contexto político local, a capacidade da população dos projetos de assentamento, juntamente com as comunidades rurais, de eleger representantes para o Poder Legislativo de muitos dos municípios aos quais estão inseridos.

Em seu trabalho, Oliveira (2001, p.205) analisa que a Reforma Agrária não possui apenas caráter social, mas que também possui forte relação com a economia local e nacional ao assinalar que a mesma contribui significativamente para o aumento na

oferta de produtos agrícolas no mercado, concluindo que “a Reforma Agrária [...] tem que ser também política. Tem que ser instrumento mediante o qual esta parcela da população conquiste a sua cidadania”.

Da mesma forma, sobre o aspecto econômico da questão agrária, Galeano (1996,

p.150) conclui que “quanto menos está vinculado ao modo internacional de produção pela dependência tecnológica ou financeira, mais o capitalista tende a olhar com bons olhos a reforma agrária e a elevação da capacidade de consumo das classes populares”.

Sparovek (2003, p.21) apresenta como principais impactos de natureza econômica da reforma agrária a criação direta e indireta de empregos a baixo custo, o aumento da oferta de alimentos e matérias-primas para o mercado interno, a obtenção de divisas e o aumento da arrecadação tributária.

No aspecto da importância econômica da reforma agrária, oportuno colocar que

a “Pesquisa sobre a Qualidade de Vida, Produção e Renda nos Assentamentos de

Reforma Agrária no Brasil”, realizada pelo INCRA em 2010, ressalta a importância dos

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feijão e milho. A mesma pesquisa ainda destaca a importância da produção ocorrida nos assentamentos para o fornecimento de produtos que são consumidos pelas próprias famílias, garantindo uma melhor soberania alimentar para as mesmas.

Noutra vertente da reforma agrária, a produtiva, David, Waniez e Brustlein (1997, p.51) registram que “um programa de reforma agrária que busque transformar as condições de vida de seus beneficiários deve estar inserido em uma estratégia produtiva

que assegure a sustentabilidade desta agricultura”, o que complementa, pelo menos em

parte, o conceito anterior de que a reforma agrária perpassa os aspectos políticos e sociais, atuando em outras esperas dentro da sociedade brasileira.

Ainda na seara das áreas de abrangência da reforma agrária são apresentadas outras avaliações da forma como esta política pública vem sendo desenvolvida. Zylberstajn (1997, p.133) informa que “a discussão da questão agrária tem se pautado por apenas alguns dos seus múltiplos aspectos e, em geral, sem considerar as

prioridades dos mesmos”.

Com supedâneo nestas diversas opiniões pode-se inferir que um projeto de assentamento é um espaço social composto por inúmeras interfaces, tais como a política, a social, a produtiva, a cultural, a ambiental, dentre outras, possuindo e construindo relações das mais diversas com o poder público (nas esferas federal,

estadual e municipal), o que é denominado por Silva (2011, p.56) de “multiplicidade de dimensões”.

À luz da dinâmica que envolve as políticas públicas para o meio rural, Kirsch e

Waquil (2010, p.9) discorrem que “a tomada de decisão a respeito de políticas públicas

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Figura 01: Projetos de Assentamento do RN (2007).
Figura 02: Território da Cidadania do Mato Grande.
Figura 04: Número de famílias assentadas no Rio Grande do Norte.
Figura 01. Nível de escolaridade dos membros das famílias entrevistadas
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