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O homem e o pós-estruturalismo foucaultiano: implicações nos estudos organizacionais.

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Academic year: 2017

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O

T

* Pr of. da FUCAPE

* * Pr ofª da Univer sidade Feder al do Espír it o Sant o/ UFES * * * Pr ofª da UFES

O H

OMEM

E

O

P

ÓS

-E

STRUTURALISMO

F

OUCAULTIANO

:

IMPLICAÇÕES

NOS

ESTUDOS

ORGANIZACIONAIS

El o i si o M o u l i n d e So u z a * Le i l a D o m i n g u e s M a ch a d o * * M ô n i ca d e Fá t i m a Bi a n co * * *

R

ESUMO

b j et iv a- se n est e ar t ig o p r ob lem at izar o con ceit o d e Hom em con t id o n a cor r en t e pós est r ut ur alist a e seu r om pim ent o com a v isão t r adicional do Hom em da m oder -n id ad e, d em o-n st r a-n d o su as im p licações p ar a os est u d os or g a-n izacio-n ais. Dessa for m a, abor da- se a fr agilidade e ar m adilhas pr esent es na analít ica da finit ude con-t ida no pensam encon-t o da m oder nidade e busca- se con-t razer, por m eio de um a análise do pensa-m ent o de Michel Foucault , upensa-m a out r a for pensa-m a de se enx er gar o Hopensa-m epensa-m e de se analisar o seu d i scu r so . Par a t an t o, ab or d am os o q u e ser i a a con cep ção d e Hom em co n t i d a n a m o d er n i d a d e, co m p a r a n d o - a co m a p e r sp ect i v a f o u ca u l t i a n a . Fo u ca u l t p r o v o ca u m a desan t r opom or fização n a an álise dos fen ôm en os or gan izacion ais e dem on st r a qu e as r e-lações de t r abalho são r ee-lações de poder e não apenas r ee-lações de pr odução.

A

BSTRACT

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Introdução

s pesquisas or ganizacionais que r ealizam a análise do cam po subj et ivo ba-seiam - se, em sua m aior ia, no fat o de que o hom em é aut ônom o e que seu discur so necessit a ser int er pr et ado, para que se consiga r et irar, descobr ir, an alisar e en t en der o seu v er dadeir o sign ificado. Sign ificado est e qu e se apr esent a escondido e ocult o à pr im eir a v ist a, cabendo ao pesquisador a t ar efa de t r azê- lo à t ona. Cont udo, t al t ar efa, além de não ser sim ples, est á fundam en-t ada na en-t r adição das ciências hum anas que em er gir am dur anen-t e o século XVI I I .

D e s s a f o r m a , c o n s i d e r a d a s a s t e n t a t i v a s m a i s i n f l u e n t e s n a cont em por aneidade no sent ido de at ingir - se o ent endim ent o sobr e o hom em , nem os posit iv ist as e nem as abor dagens cr ít icas est r ut ur alist as conseguir am sat isfa-zer às ex pect at iv as a que se pr opuser am nos est udos or ganizacionais ( DREYFUS & RABI NOW, 1995) . Com o um a alt er nat iva ao pensam ent o posit ivist a e est r ut ura-list a, em er ge o pós–est r ut ur alism o. Por t ant o, um a das per t inent es quest ões par a os est udos or ganizacionais na at ualidade é: com o o conceit o de Hom em cont ido n o p ós- est r u t u r alism o p od e ser u t ilizad o p ar a se com p r een d er os f en ôm en os or g an izacion ais?

Assim , est e ar t ig o t em com o p r in cip al ob j et iv o t r azer p ar a o cam p o d a adm in ist r ação u m a per spect iv a dif er en t e de an álise do Hom em e, con seqü en -t em en -t e, do seu discu r so. Es-t a ou -t r a per spec-t iv a en con -t r a- se pr esen -t e e es-t á f u n dam en t ada n a an álise desen v olv ida por Mich el Fou cau lt ( 1 9 7 2 , 1 9 7 9 , 1 9 8 5 , 1 9 8 7 a, 1 9 8 7 b, 1 9 8 8 , 1 9 9 7 , 1 9 9 9 a, 1 9 9 9 b, 2 0 0 2 , 2 0 0 3 a, 2 0 0 3 b, 2 0 0 3 c, 2 0 0 3 d) , pr in cipalm en t e em dois m om en t os de su a obr a: ar qu eologia e gen ealogia.

No per íodo ar queológico, Foucault ( 1972, 1999a, 2002, 2003b, 2003d) pr o-cur a analisar o hom em com o sendo const it uído por um sist em a aut ônom o, e t em com o pr incipal obj et iv o, est udar e “ gener alizar int er r elações conceit uais capazes de sit uar os saber es const it ut ivos das ciências hum anas, sem pr et ender ar t icular as for m ações discur sivas com as pr át icas sociais ( FOUCAULT, 1979, p. I X) . Ou sej a, o pr opósit o da análise ar queológica consist e em r elat ar a em er gência das ciências hum anas par t indo- se de um a int er r elação dos saber es. I nt er r elação est a que cons-t icons-t ui um a r ede conceicons-t ual que per m icons-t e e cr ia o espaço de ex iscons-t ência das ciências h u m an as; de f or m a qu e Fou cau lt ( 1 9 7 9 ) acaba deix an do, pr oposit alm en t e, de lado as r elações ent r e os saber es e as est r ut ur as polít icas e econôm icas. Desse m odo, a ar queologia pr ocur a est abelecer com o se const it ui as ciências hum anas, “ pr iv ilegiando as int er r elações discur siv as e sua ar t iculação com as inst it uições” ( FOUCAULT, 1979, p. X) .

Co n t u d o , é n a g e n e a l o g i a q u e Fo u ca u l t ( 1 9 8 5 , 1 9 8 7 a , 1 9 8 7 b , 1 9 8 8 , 1 9 9 7 , 1 9 9 9 b , 2 0 0 3 a , 2 0 0 3 c) e x p l i ca r á a p o ssi b i l i d a d e d a co n st i t u i çã o d o s sab er es a p ar t i r d e d et er m i n ad as co n d i çõ es ex t er n as ao p r ó p r i o sab er, t r a-zen d o p ar a a an álise d o h om em os d isp osit iv os p olít icos e h ist ór icos d e q u es-t õ e s r e l a ci o n a d a s a o p o d e r. Eses-t e , se g u n d o o a u es-t o r, é u m i n ses-t r u m e n es-t o d e an álise q u e p ossib ilit a ex p licar a p r od u ção d os sab er es sob r e o h om em , b em com o a con st it u ição d o p r óp r io h om em ( FOUCAULT, 1 9 7 9 ) . Por t an t o, ob ser -v a- se q u e, p ar a Fou cau lt , o h om em é f or m ad o p elas r elações d iscu r si-v as e d e p o d e r, e q u e p a r a e n t e n d ê - l o é n e ce ssá r i o co m p r e e n d e r o q u e se r i a m t ais p r át icas d iscu r siv as e d e p od er.

Na pr im eir a par t e do pr esent e ar t igo, abor dar em os os conceit os de hom em em bu t idos n as cor r en t es t r adicion ais da adm in ist r ação. Post er ior m en t e, v am os pr ocur ar explicar o que se ent ende por m oder nidade e com o a visão de hom em é por est a car act er izada. Em t er ceir o plano, discut ir em os o ent endim ent o do ho-m eho-m cont ido na obr a foucault iana, t ant o na ar queologia coho-m o na genealogia. Por fim , r ealizar em os um a com par ação ent r e as abor dagens m oder nist as de análise do discur so e a analít ica foucault iana.

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O Homem nos Estudos Organizacionais

Na t eor ia or ganizacional t r adicional, o Hom em é vist o desde um ser com ple-t am enple-t e passivo aple-t é um ser com plexo, sendo que cada um a dessas visões é influ-enciada pela for m a que as r espect ivas escolas da adm inist r ação definem o con-ceit o de hom em . Tal significado t em um a r elação dir et a com os pr essupost os de gest ão defendidos e pr egados por cada um a das cor r ent es.

A escola clássica ou cient ífica da adm inist r ação desenv olv ida inicialm ent e por Tay lor ( 1969) e aper feiçoada por For d ( 1995) e Fayol ( 1970) , foi o pr im eir o passo par a o desenv olv im ent o da adm inist r ação de um a for m a sist em át ica. I st o não significa que a adm inist r ação nasce com Taylor, pois desde o m odo de pr odu-ção asiát ico j á ex ist iam pr át icas adm inist r at iv as, pr incipalm ent e pr át icas ligadas ao co n t r o l e, o q u e se p o d e ch am ar d e f ase assi st em át i ca d a ad m i n i st r ação ( MEDEI ROS, 1978) .

A sist em at ização da adm inist r ação é acom panhada com um m aior cont r ole sobr e o hom em , e com eça- se a cr iar t écnicas e m ecanism os de cont r ole com um único obj et ivo: o aum ent o da pr odução e, conseqüent em ent e, do lucr o das or ga-nizações. Assim , com o int ent o de se cont r olar o hom em cr ia- se um conceit o em t or n o do qu e ser ia a su bj et iv idade, est an do est e con ceit o r elacion ado com as t écnicas de gest ão em pr egadas.

No t aylor ism o, for dism o e no pensam ent o de Fayol, o hom em é denom inado de “ hom o econom icus” ; é vist o com o um suj eit o passivo e pr evisível. O com por t a-m ent o hua-m ano é consider ado coa-m o algo unifor a-m e e hoa-m ogêneo, ea-m que apenas incent ivos financeir os, capacit ação e vigilância são r ecur sos suficient es par a o con-t r ole dos suj eicon-t os em um a or ganização, bem com o capazes de gar ancon-t ir a pr oducon-t i-v idade desej ada.

May o ( 1968) é o pr incipal r epr esent ant e da escola de r elações hum anas. Par a ele o hom em não é t ão pr ev isív el com o acr edit av a a t eor ia clássica. Ent r a, en t ão, em cen a o “ h om o social”. O au m en t o da pr odu t iv idade n ão depen der ia som ent e dos fat or es apont ados pela escola clássica, m as est ar ia, t am bém , r elacio-nado com o am bient e de t r abalho e com fat or es afet ivos ( MAYO, 1968) . Por t ant o, o hom em deixava de ser vist o com o algo m er am ent e im pulsionado por aspect os eco n ô m i co s, j á q u e a l ém d o s i n cen t i v o s f i n a n cei r o s, t a m b ém o s i n cen t i v o s psicossociais passam a ser consider ados pelas t ecnologias de gest ão.

Com Maslow ( 1943) e Her zber g ( 1966) em er ge o conceit o de “ hom o com

ple-x o”, ou sej a, o hom em possui necessidades m últ iplas, que não est ar iam lim it adas

apenas a incent ivos financeir os e sociais. Ele é ent endido com o um ser det ent or de n ecessidades r elacion adas a aspect os fisiológicos, sociais, de segu r an ça, de aut o- est im a e de aut o- r ealização. Assim , apesar das difer enças ent r e Maslow ( 1943) e Her zber g ( 1966) , essas necessidades apar ecem em am bos os t r abalhos e pas-sam ser apr opr iadas e ut ilizadas na gest ão dos t r abalhador es.

Podem os obser v ar que em t odas as per spect iv as analisadas o conceit o de hom em define as t ecnologias de gest ão que ser ão ut ilizadas par a cont r olá- lo. As per spect iv as funcionalist as são m est r es em desenv olv er m ecanism os de cont r ole e suj eição m ediant e a cr iação de novos conceit os r elacionados à nat ur eza hum a-na. O hom em é vist o, segundo essas abor dagens, com o possuidor de um a essên-cia, um a or igem ; acr edit am que, ao ent ender a essência hum ana, ser ão capazes de capt ur ar est a subj et iv idade par a o int er esse e uso das or ganizações.

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En t r e t a n t o , a p e s a r d e s e u s o b j e t i v o s o p o s t o s , t a n t o a s t e o r i a s or g an izacion ais f u n cion alist as com o as ab or d ag en s cr ít icas aq u i ap r esen t ad as possuem um a car act er íst ica em com um par a definição de hom em : am bas ut ilizam a concepção de hom em cont ida na m oder nidade, ou sej a, acr edit am na exist ência de um a essência hum ana ( ALVESSON & DEETZ, 1998) .

Assim , acr edit am os que o pensam ent o de Foucault pode nos t r azer nov as dir eções e cont r ibuições nesse cam po. Apesar da obr a de Foucault t er sido t em a de diver sos est udos no cam po or ganizacional int er nacional ( BURRELL, 1988; CLEGG, 1 9 9 3 , TOW N LEY, 2 0 0 1 ; K N I GH TS, 2 0 0 2 , D AUD I , 1 9 8 6 ) e n a s p e s q u i s a s or ganizacionais br asileir as, com o os t r abalhos de Car r ier i ( 2005, 2006) , Souza e out r os ( 2 0 0 6 a, 2 0 0 6 b) , Alcadipani e Tonelli ( 2 0 0 4 ) , Alcadipani ( 2 0 0 5 ) , Mot t a e Alcadipani ( 2004) , Segnini ( 1982, 1988) , ger alm ent e t ais t r abalhos cam inhar am na dir eção de ent ender o que ser ia o poder ou a análise do discur so na filosofia foucault iana. É assim que est e t r abalho t r az nov as cont r ibuições no sent ido em que pr et ende desenv olv er um a v isão do conceit o de hom em cont ida na obr a de Foucault e sua r elação com as t écnicas de gest ão.

Por t ant o, sendo o funcionalism o e a t eor ia cr ít ica neom ar xist a pensam ent os que em er gem com o adv ent o da m oder nidade e que apóiam o seu conceit o de h om em sobr e t al per spect iv a, qu ais ser iam os seu s t r aços m ar can t es? Qu al a r elação que os m esm os possuem com a concepção de um a ciência m oder na? Com o o h om em con st it u i- se ao m esm o t em po com o su j eit o e obj et o de pesqu isa n a m od er n id ad e?

A Modernidade segundo Foucault

Par a Foucault ( 1972, 1999a, 2002, 2003b, 2003d) , o hom em em er ge com o obj et o de pesquisa no fim do século XVI I I , const it uindo- se ao m esm o t em po com o suj eit o e obj et o cient ífico. É a par t ir daquela época que a or dem e explicação do m undo deixam de ser fundam ent adas em Deus e passam a ser baseadas na r a-zão e no m ét odo cient ífico. O hom em que at é ent ão er a um ser igual aos out r os ser es do m undo, t or na- se um suj eit o ent r e obj et os, ou sej a, o hom em não é vist o m ais com o um a cr iat ur a igual às dem ais cr iat ur as de Deus, m as t r ansfor m a- se no su j eit o cogn oscen t e do m u n do. Por t an t o, Fou cau lt , den t r e ou t r os pen sador es, acr edit a que o hom em se enxer ga com o suj eit o cognoscent e por possuir a lingua-gem que per m it e o acesso aos obj et os e ao m undo, deix ando de ser um m er o espect ador do m undo.

Ant es do fim do século XVI I I , o hom em não exist ia. Não m ais que a pot ência de v ida, a fecundidade do t r abalho ou a espessur a hist ór ica da linguagem . É um a cr iat u r a m u it o r ecen t e q u e a d em iu r g ia d o sab er f ab r icou com su as m ãos h á m enos de 200 anos: m as ele env elheceu t ão depr essa que facilm ent e se im agi-nou que ele esper a na som br a, dur ant e m ilênios, o m om ent o de ilum inação em que ser ia enfim conhecido ( FOUCAULT, 1999a, p. 425) .

Por t ant o, o hom em pr et ende conhecer não som ent e os obj et os do m undo, m as a si m esm o, t or nando- se suj eit o e obj et o de seu conhecim ent o; em er ge não apenas com o sendo suj eit o e obj et o de conhecim ent o, m as, de um a for m a par a-dox al, t or na- se o or ganizador do m undo em que ele m esm o se encont r a. Dessa for m a, ocupando o hom em o “ lugar do r ei”, o m esm o não se dedica apenas em conhecer as leis do m undo que o lim it ar iam e o seu saber, ou sej a, t ais lim it ações deixam de exist ir e passam a não ser m ais det er m inadas ou im post as ao hom em , m a s d et er m i n a d a s e i m p o st a s p el o p r ó p r i o h o m em . Co m a em er g ên ci a d a m oder nidade ocor r e, ent ão, um a inver são, o hom em passa a r eivindicar o t ít ulo de único ser por t ador de conhecim ent o em v ir t ude m esm o de suas pr ópr ias lim it a-ções e finit ude ( FOUCAULT, 1999a) .

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dom inar- lhe as significações, reanim adas, cont udo, pela insist ência de sua palavr a” ( p. 438) . Assim , a m oder nidade em er ge com a incr ível e ant agônica idéia de um ser que é sober ano em função da v ir t ude de ser escr av izado, ou sej a, um ser cuj a finit ude lhe possibilit a ocupar o lugar de Deus ( DREYFUS; RABI NOW, 1995) .

Por t ant o, par a Foucault ( 1999a, 2003b) , o hom em é um a invenção do pen-sam ent o m oder no. Se o saber do hom em é finit o, est a finit ude é devido ao pensa-m ent o est ar pr eso nos cont eúdos da linguagepensa-m . A concepção de que os lipensa-m it es do conhecim ent o fundam ent am de for m a posit iv a a possibilidade do saber ser á de-nom inada por Foucault ( 1999a) de “ analít ica da finit ude”.

Daí o j ogo int er m ináv el de um a r efer ência r eduplicada: se o saber do hom em é finit o, é por que ele est á pr eso, sem liber ação possív el, nos cont eúdos posit iv os da linguagem , do t r abalho e da v ida; e inv er sam ent e, se a v ida, o t r abalho e a lin gu agem se dão em su a posit iv idade, é por qu e o con h ecim en t o t em f or m as finit as. Em out r os t er m os, par a o pensam ent o clássico, a finit ude ( com o det er -m inação posit iv a-m ent e const it uída a par t ir do infinit o) ex plica essas for -m as ne-gat iv as que são o cor po, a necessidade, a linguagem e o conhecim ent o lim it ado que deles se pode t er ; par a o pensam ent o m oder no, a posit iv idade da v ida, da pr odu ção e do t r abalh o ( qu e t êm su a ex ist ên cia, su a h ist or icidade e su as leis pr ópr ias) f u n da, com o su a cor r elação n egat iv a, o car át er lim it ado do con h eci-m en t o; e, in v er saeci-m en t e, os lieci-m it es do con h ecieci-m en t o f u n daeci-m posit iv aeci-m en t e a p ossib ilid ad e d e sab er, m as n u m a ex p er iên cia sem p r e lim it ad a, o q u e são a v ida, o t r abalho e a linguagem . [ ...] Ent ão, t odo o cam po do conhecim ent o oci-den t al foi in v er t ido. Lá on de ou t r or a h av ia cor r elação en t r e u m a m et afísica da r epr esent ação e do infinit o e um a análise dos ser es v iv os, dos desej os do ho-m eho-m e das palavr as de sua língua, vê- se const it uir uho-m a analít ica da finit ude e da ex ist ência hum ana, e em oposição a ela ( m as num a oposição cor r elat iv a) , um a per pét ua t ent ação de const it uir um a m et afísica da vida, do t r abalho e da lingua-gem ( FOUCAULT, 1999a, p. 436- 437) .

O qu e Fou cau lt ( 1 9 9 9 a) est á af ir m an do é qu e, de u m a f or m a par adox al, a con cepção do saber cien t íf ico da m oder n idade, ao af ir m ar qu e a r azão e o m é-t o d o c i e n é-t íf i c o d e v e r i a m s u b s é-t i é-t u i r é-t u d o a q u i l o q u e s e a p r e s e n é-t a c o m o t r an scen d en t al, m et af ísico e d iv in o, acab a cain d o em su a p r óp r ia ar m ad ilh a. Assim , ao t en t ar f u gir de u m a idéia m et af ísica e t r an scen den t al do m u n do, por m eio da u t ilização da r azão e da con st it u ição do m ét odo cien t íf ico, a m oder n idade acab a cr ian d o u m a m et af ísica d a v id a, d o t r ab alh o e d a lin g u ag em . Fou cau lt ( 1 9 9 9 a, 2 0 0 3 b) obser v a qu e as div er sas f or m as de an alít ica da f in it u de con st i-t u íd as p el a m od er n i d ad e, d en i-t r e el as a h er m en êu i-t i ca, a f en om en ol og i a e o est r u t u r alism o, p assam a an alisar o h om em p or m eio d os seg u in t es d u p los: em pír ico/ t r an scen den t al, cogit o/ im pen sado e r ecu o/ r et or n o da or igem .

Assim , na t ent at iva do hom em de afir m ar a sua finit ude e, ao m esm o t em po, negá- la com plet am ent e, a linguagem e o discurso abrem um espaço no qual a ana-lít ica da finit ude art icula- se por m eio de est rat égias inút eis, ou sej a, cada saber irá afirm ar um a ident idade e um a diferença ent re a finit ude com o lim it ação e finit ude com o sendo a font e de t odos os fat os. Dessa form a, analisando- se est e duplo as-pect o, o hom em em er ge nos est udos m oder nos com t r ês duplos car act er íst icos: prim eiram ent e com o um fat o, dent re out ros, para ser est udado de form a em pírica, com o t am bém t endo um a condição t ranscendent al de possibilidade de t odo conhe-cim ent o; por out ro lado, o hom em passa a est ar cercado por obj et os que não po-dem se esclarecer por si m esm o ( o im pensado) , ao m esm o t em po em que o hom em t em um cogit o pot encialm ent e lúcido que é font e de t oda a int eligibilidade do m un-do; e por últ im o, com o sendo o produt o de um a hist ória dist ant e cuj o início nunca poderá alcançar, ao m esm o t em po e de form a paradoxal, com o font e dest a hist ória ( DREYFUS; RABI NOW, 1995) . Mas, o que seriam esses t rês duplos?

O Homem e suas Dicotomias

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Assim , por m eio do em pír ico, o hom em quer t r azer à luz o conhecim ent o, a par t ir dos pr ópr ios cont eúdos em pír icos que nele se encont r am . Cont udo, o ser cognoscent e desse pr ocesso é o pr ópr io hom em , ou sej a, é o hom em com o suj eit o cognoscent e que t em a possibilidade de t r ansfor m ar o m undo da linguagem , da vida e do t r abalho em um saber pur o.

Ex ist e um a v er dade que se encont r a acessív el par a o hom em , esper ando par a ser descober t a, sendo que a sua descober t a depende de um a disciplina que possui um discur so neut r o capaz de desvendar est a ver dade. Cont udo, a idéia de um a ver dade que cont ém t oda a essência sobr e um det er m inado saber, aliado ao fat o de que par a est a ver dade ser descober t a faz- se necessár io um a ciência neut r a e pur a, é um a m anifesneut ação de que exisneut e algo neut r anscendenneut al a ser descober -t o e q u e só p od e ser con h ecid o p or m eio d o es-t u d o em p ír ico, con s-t i-t u in d o a dicot om ia em pír ica- t r anscendent al.

Acredit a- se que é sim ular um paradoxo supor, por um só inst ant e, o que poderiam ser o m undo, o pensam ent o e a verdade se o hom em não exist isse. É que est am os t ão ofuscados pela recent e evidência do hom em que sequer guardam os em nossa lem br ança o t em po, t odav ia pouco dist ant e, em que ex ist iam o m undo, sua or -dem , os seres hum anos, m as não o hom em . [ ...] nosso pensam ent o m oderno do hom em , nossa solicit ude par a com ele, nosso hum anism o dor m iam ser enam ent e sobr e sua r et um bant e inex ist ência ( FOUCAULT, 1999a, p. 444) .

A dicot om ia em pír ica- t r anscendent al cr ia um hom em m et afísico, ou sej a, um hom em neut r o, concepção divina de hom em , pois som ent e por m eio da neut r ali-dade o h om em con segu ir ia descobr ir a v er ali-dade qu e se en con t r a escon dida n o m undo. Por ém , ao m esm o t em po, a ver dade só pode ser conhecida por m eio do est udo em pír ico, em er gindo, dessa for m a, um a t eor ia do hom em baseada na na-t ur eza hum ana. Com isso, o esna-t ana-t una-t o que possibilina-t a a exisna-t ência do discur so con-sider ado com o v er dadeir o m an ifest a t al am bigü idade, ger an do in st abilidade n a dicot om ia em pír ica- t r anscendent al.

Por t ant o, as t ensões ent r e um a t eor ia do hom em fundam ent ada na nat ur e-za hum ana e um a t eor ia dialét ica, na qual a essência do hom em é hist ór ica, faz em er g i r a p r o cu r a d e u m a n o v a an al ít i ca d o su j ei t o . A d i co t o m i a em p ír i ca-t r anscendenca-t al ca-t enca-t ou cr iar um a ciência que ca-t em um conca-t eúdo em pír ico e, ao m es-m o t ees-m p o, t r an scen d en t al, q u e p od er ia d escr ev er o h oes-m ees-m coes-m o u es-m a f on t e aut opr odut ora de per cepção, cult ura e hist ór ia ( DREYFUS; RABI NOW, 1995) .

Par a Fou cau lt ( 1 9 9 9 a) , a d icot om ia f or m ad a p elo cog it o e o im p en sad o t r az p r ob lem as an álog os à d icot om ia em p ír ica- t r an scen d en t al. Assim , sen d o o h om em u m a d icot om ia em p ír ica- t r an scen d en t al, o p r óp r io h om em t am b ém se con st it u i com o sen d o u m lu g ar d e d escon h ecim en t o. Descon h ecim en t o q u e ex p õe sem p r e o seu p en sam en t o e lh e p er m it e in t er p elar, ao m esm o t em p o, a p ar t ir d o q u e lh e escap a. Dessa for m a,

com o pode ocor r er que o hom em pense o que ele não pensa, habit e o que lhe escapa sob a for m a de um a ocupação m uda, anim e, por um a espécie de m ov i-m ent o r ij o, essa figur a dele i-m esi-m o que se lhe apr esent a sob a for i-m a de ui-m a ex t er ior idade obst inada? ( FOUCAULT, 1 9 9 9 a, p. 4 4 5 ) .

Assim , há no hom em um a dim ensão sem pr e aber t a, que j am ais ser á delim i-t ada de um a v ez por i-t odas, m as que é indefinidam eni-t e per cor r ida; v ai de um a par t e dele m esm o, que ele não r eflet e num cogit o, ao at o de pensam ent o pelo qual a capt a. Mas, o que ser ia o cogit o da m oder nidade par a Foucault ( 1999a) ?

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Exat am ent e por est ar envolvido com o m undo, o hom em se consider a sobe-r ano nele; posobe-r ém , t em um a sobe-r elação est sobe-r anha com os seus envolvim ent os. A ut iliza-ção de um a linguagem que o pr ópr io hom em não dom ina, o or ganism o vivo que for m a o hom em e não faz par t e do pensam ent o, bem com o os desej os que não pode cont r olar t or nam - se a base da habilidade hum ana de pensar. Assim , sendo possível o hom em ser int eligível par a ele m esm o, o seu im pensado t em que ser acessível ao seu pr ópr io pensam ent o, ou sej a, o seu im pensado é a pr ópr ia con-dição de possibilidade do pensam ent o. O pensam ent o m oder no t r at a de pensar o im pensado, buscando reconciliar o hom em com a sua essência ( DREUFUS; RABI NOW, 1995) .

Por últ im o, a dicot om ia for m ada pelo r ecuo e r et or no da or igem r efer e- se à hist ór ia e à or igem do hom em . Par a Foucault ( 1 9 9 9 a) , essa dicot om ia em er ge ex at am en t e qu an do a lin gu agem per de su a t r an spar ên cia, deix an do de ex ist ir um a r elação dir et a ent r e as palavr as e as coisas, per dendo, assim , as palavr as, a ligação com sua or igem . O hom em é separ ado da or igem que o far ia um cont em po-r âneo de sua ppo-r óppo-r ia exist ência, pois papo-r a o pensam ent o m odepo-r no t al opo-r igem não é m ais concebível.

Foucault ( 1999a) afirm a que, no com eço do século XI X, o hom em se const it ui com o inacessível a sua origem , ou sej a, só consegue enxergar- se e descobrir- se em um a hist or icidade j á elabor ada, não sendo j am ais um cont em por âneo dessa or i-gem . Port ant o, o hom em só se relaciona com um a hist oricidade j á acabada, dada e det erm inada, não se enxergando com o agent e dest a hist oricidade que o const it ui.

É que, com efeit o, o hom em só se descobr e ligado a um a hist or icidade j á feit a: n ão é j am ais con t em por ân eo dessa or igem qu e, at r av és do t em po das coisas, se esboça enquant o se esquiv a; quando ele t ent a definir - se com o ser v iv o, só d escob r e seu p r óp r io com eço sob r e o f u n d o d e u m a v id a q u e, p or su a v ez, com eçar a b em an t es d ele; q u an d o t en t a se ap r een d er com o ser n o t r ab alh o, t r az à luz as suas for m as m ais r udim ent ar es som ent e no int er ior de um t em po e de um espaço hum ano j á inst it ucionalizado, j á dom inado pela sociedade; e quan-do t ent a definir sua essência de suj eit o falant e, aquém de t oda língua efet iv a-m ent e const it uída, j aa-m ais encont r a senão a possibilidade da linguagea-m j á des-dobr ada, e não o balbucio, a pr im eir a palavr a a par t ir da qual t odas as línguas e a p r óp r ia lin g u ag em se t or n ar am p ossív eis. É sem p r e sob r e u m f u n d o d o j á com eçado qu e o h om em pode pen sar o qu e par a ele v ale com o or igem . Est a, por t ant o, de m odo algum é par a ele o com eço – um a espécie de pr im eir a m anhã da h ist ór ia a par t ir da qu al se h ou v essem acu m u lado as aqu isições u lt er ior es ( FOUCAULT, 1999a, p. 455- 456) .

Assim , Foucault ( 1979, 1999a, 2002) salient a que hist ór ia é sem pr e um pr o-cesso em m ovim ent o e não algo pr é- det er m inado e acum ulado ao longo dos sécu-los. Em ou t r as palav r as, o filósofo est á se con t r apon do a v isão de u m m u n do lin ear, q u e cam in h a sem p r e p ar a o p r og r esso, cr iad o p ela m od er n id ad e. Par a Foucault ( 1979) , o hom em se const it ui no pr esent e, em que passado e pr esent e at uam em conj unt o; cont udo, de um a for m a não linear, m as em r ede. Não exist e um a or igem do hom em a par t ir da qual ele foi evoluindo ao longo da hist ór ia, ou sej a, a hist ór ia e o hom em não devem ser vist os com o algo dado, m as, sim , com o um pr ocesso que est á se const it uindo nest e ex at o m om ent o.

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O Estudo Arqueológico

Em um a t ent at iva de evit ar cair nos m esm os conflit os e inst abilidades cau-sadas pelas dicot om ias que com põem a analít ica da finit ude e o pensam ent o da m oder nidade, Foucault ( 1972, 1999a, 2002, 2003b, 2003d) t ent a est abelecer um a nova for m a de analisar as for m ações discur sivas, que ser á denom inada pelo filó-sofo de ar queologia.

Confor m e dit o ant er ior m ent e, no est udo ar queológico, Foucault dedica- se a a n a l i sa r co m o o s sa b er es e a s ci ên ci a s so ci a i s se co n st i t u ír a m a p a r t i r d o r enascim ent o at é o século dezenove. Assim , Foucault ( 2002) est uda, daquela época, o que ele denom ina de discur sos sér ios, ou sej a, os discur sos m édicos, psiquiát r i-cos, j ur ídii-cos, econôm icos et c., considerados com o sendo pr odut or es de ver dades e r ealidades. Foucault não se pr eocupa com os at os discur sivos do cot idiano, m as com os at os discur siv os que est ão separ ados da sit uação local e do fundam ent o d o d ia- a- d ia, p ar a, d est a f or m a, con st it u ir u m cam p o au t ôn om o p ar a o at o discur sivo. Cont udo, t ais at os discur sivos adquir em sua aut onom ia apenas depois de ser em pur ificados por m eio de um t est e inst it ucional de r egr as de ar gum ent a-ção dialét ica, de int er r ogat ór io inquisit ór io ou da confir m aa-ção em pír ica ( DREYFUS; RABI NOW, 1 9 9 5 ) . Em seu est udo ar queológico, Foucault ( 1 9 9 9 a, 2 0 0 2 , 2 0 0 3 b) t ent a descr ev er e isolar t r ês fases do pensam ent o ocident al: o Renascim ent o, a época Clássica e a Moder nidade.

A ar queologia não int ent a definir os pensam ent os, as r epr esent ações, as im agens, os t em as, as obsessões que se apresent am ocult as ou se m anifest am no discurso, m as os próprios discursos com o sendo prát icas que obedecem a det erm i-nadas regras. A arqueologia não t rat a o discurso com o sendo um docum ent o, um signo diferent e e um elem ent o que deveria ser t ransparent e

cu j a opacidade im por t u n a é pr eciso at r av essar f r eqü en t em en t e par a r een con -t r ar, en f im , aí on d e se m an -t ém a p ar -t e, a p r of u n d id ad e d o essen cial; ela se d ir ig e ao d iscu r so em seu v olu m e p r óp r io, q u alid ad e d e m on u m en t o. Não se t r at a de um a disciplina int er pr et at iva: não busca um ‘out r o discur so’ m ais ocult o ( FOUCAULT, 2002, p. 159) .

I n f lu en ciado pelo est r u t u r alism o f r an cês, Fou cau lt ( 1 9 9 9 a, 2 0 0 2 , 2 0 0 3 b) aban don ou seu in t er esse pelas in st it u ições sociais e dedicou - se a pr ocu r ar as r egr as que det er m inam a aut onom ia do discur so, bem com o suas t r ansfor m ações descont ínuas. Assim , Foucault pr ocur ou, na análise ar queológica, separ ar o dis-cur so de sua fundam ent ação social, int ent ando descobr ir as r egr as que det er m i-nam sua aut r egulam ent ação. Dessa for m a, a busca por r egr as e leis que aut o-r egulam ent ao-r iam a foo-r m ação discuo-r siva apo-r oxim am o est udo ao-r queológico desen-volvido por Foucault com a per spect iva est r ut ur alist a. Cont udo, confor m e Dr eyfus e Rabinow ( 1995) salient am , t al t ent at iva não t or nou Foucault um pensador que pudesse ser consider ado com o est r ut ur alist a, m as, sim , pós- est r ut ur alist a.

A ar queologia alm ej a est udar a est r ut ur a do discur so das div er sas discipli-nas que se r efer em às t eor ias da sociedade, do indiv íduo e da linguagem . Par a conseguir t al int ent o, Foucault ( 2002) elabor ou a noção de epist em e, noção est a que ser á abandonada em seus est udos post er ior es denom inados de genealógicos. Ent ende- se por epist em e o conj unt o de r elações que podem unir, em um a det er-m in ad a ép oca, as p r át icas d iscu r siv as q u e ced eer-m o seu esp aço p ar a f ig u r as epist em ológicas, ciências e sist em as for m alizados. Ent r et ant o, a epist em e não é consider ada pelo filósofo com o um a for m a de conhecim ent o, ou um a for m a de r acionalidade que, at r av essando pelas div er sas ciências, “ m anifest ar ia a unidade sober ana de um suj eit o, de um espír it o ou de um a época; é o conj unt o das r ela-ções que podem ser descober t as, par a um a época dada, ent r e as ciências, quan-do est as são analisadas no nível das r egular idades discur sivas” ( FOUCAULT, 2002, p. 217) .

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discur sivas, seus obj et os, seus conceit os e suas est r at égias que possuem signifi-cados, pr ocur ando fazer um a descr ição pur a das for m ações discur siv as; ou sej a, par a a ar qu eologia as r egu lar idades qu e descr ev em o cor po do discu r so sér io t am bém r egulam sua pr odução. Cont udo, em er gem as seguint es quest ões: ex is-t e a possibilidade de um a descr ição pur a do discur so? Não há inis-t er pr eis-t ação nas escolhas de det er m inadas cat egor ias descr it iv as? I st o não se assem elha a um a noção de v er dade?

Assim , o pr oj et o ar queológico em er ge com o um a disciplina hist ór ica que possui um a linguagem t écnica hist ór ica. Linguagem t écnica est a que ser ve com o fer r a-m ent a e pode av aliar e or denar a hist ór ia, ex at aa-m ent e, dev ido a não est ar na hist ór ia. Ocor r e na ar queologia cer t a r adicalização da fenom enologia husser liana, que necessit a da v er dade, de um significado e de um a ent idade t r anscendent al, ao m esm o t em po em que t ent a encont r ar nas pr át icas em pír icas um im pensado qu e pode ser capt u r ado e or den ado por u m sist em a de r egr as qu e ex ist em a

pr ior i, caindo na cr ença da exist ência de um a or igem que cont er ia t oda a essência

do discur so.

Vem os, ent ão, que a ar queologia t er m ina por r epr oduzir as dicot om ias exis-t enexis-t es na analíexis-t ica da finiexis-t ude, pois o pensam enexis-t o ar queológico r eafir m a, pr incipalm ent e, a dicot om ia em pír ica t r anscendent al e a busca da r ecuper ação do im -pensado no cogit o. Além dist o, a ar queologia t ent a fundam ent ar o saber em um suj eit o hist ór ico, pr ocur ando a or igem do significado do discur so na int er pr et a-ção da cult ur a e não na consciência esclar ecida do suj eit o. Assim ,

a Arqueologia do Saber, enquant o se sit ua além da verdade e do significado profun-do e profun-do hom em , não se libert ou das duas novas versões profun-do duplo. Que t ais duplos ocorrem novam ent e no discurso arqueológico é o que nos m ost ra a nova ont ologia de Foucault , segundo a qual, após a época da represent ação e do hom em , o ser est á m ais um a vez diret am ent e relacionado com o discurso, t rat ando- se ainda de um a versão da analít ica da finit ude ( DREYFUS; RABI NOW, 1995, p. 110) .

Dessa for m a, o pr oj et o ar queológico fr acassa devido a duas r azões: pr im ei-r am ent e, o podeei-r casual concedido às ei-r egei-r as que goveei-r nam os sist em as discuei-r sivos é inint eligível e t or na incom pr eensível a influência que as inst it uições sociais t êm nest a em pr eit ada; segundo, na m edida em que Foucault consider a a ar queologia com o um fim em si m esm o, o aut or acaba excluindo a possibilidade de desenvolver as suas análises cr ít icas r elacionadas com as quest ões sociais.

Assim , a ar queologia cai nas ar m adilhas das dicot om ias cont idas na analít i-ca da finit ude a qual int ent ava se cont rapor, m ant endo as m esm as inst abilidades e conflit os, além de se assem elhar m uit o à t eor ia est r ut ur alist a, t r azendo, assim , em seu cor po algum as dificuldades que est avam pr esent es no est r ut ur alism o, na her m enêut ica e na fenom enologia dos aut or es ant er ior m ent e cit ados. Par a sair dessas ar m adilhas, Foucault desenv olv e um a nov a for m a de análise do discur so, den om in ada de gen ealogia. Con t u do, v ale r essalt ar qu e n ão ex ist e pr é e pós-ar queologia no pensam ent o de Foucault . Ent r et ant o, o que é a genealogia e qual a sua r elação com a análise do Hom em e seu discur so?

A Pesquisa Genealógica

Nos est udos genealógicos, Foucault ( 1979, 1985, 1987a, 1988, 1999b, 2003c) enfat iza a for m ação do discur so por m eio de pr át icas discur sivas e não discur sivas, d e t e r m i n a n d o d e u m a v e z p o r t o d a s a m o r t e d a b u s c a d e u m a o r i g e m t r anscendent al do discur so. O aut or abandona a pr ocur a por significados, e con-clu i, n os est u dos gen ealógicos, qu e n en h u m discu r so t em sign if icado e n em é sér io. Por t ant o, a genealogia é um a for m a de análise que se concent r a nas r ela-ções de poder, do saber e do cor po na sociedade.

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genealógica de Foucault . Aliás, a própria palavra genealogia ut ilizada por Foucault par a defin ir a n ov a per spect iv a de an álise do discu r so, t em com o u m de seu s fundam ent os o livr o “ Genealogia da Mor al: um a polêm ica” de Niet zsche ( 1998) .

Assim , par a o genealogist a não ex ist em essências fix as, nem leis e r egr as que exist em a pr ior i, nem , m uit o m enos, finalidades m et afísicas. A genealogia t ent a en con ent r ar descon ent in u idades ex aent am en ent e on de os desen v olv im en ent os apr esen -t am - se com o sendo con-t ínuos e -t endendo par a o pr ogr esso. O es-t udo genealógico não busca a pr ofundidade, m as, sim , a super ficialidade dos acont ecim ent os, seus m ín i m o s d e t a l h e s e su t i l e za s. D e ssa f o r m a , a g e n e a l o g i a t e n t a e n co n t r a r d escon t in u id ad es ex at am en t e on d e os d esen v olv im en t os ap r esen t am - se com o sen do con t ín u os

O genealogist a obser v a as coisas à dist ância. Par a ele, quest ões t r adicio-nalm ent e consider adas pr ofundas e com plexas são as m ais super ficiais. Ent r et an-t o, isan-t o não significa que sej am m enos im por an-t anan-t es, m as que o seu significado dev e ser encont r ado nas “ pr át icas super ficiais e não em pr ofundidades m ist er io-sas” ( DREYFUS; RABI NOW, 1995, p. 119) . Dessa for m a, a genealogia car r ega com o bandeir a um a oposição à pr ofundidade e à busca de um a int er ior idade no hom em com o sendo algo pessoal, ínt im o e indev assáv el. O hom em e as coisas não t êm um a essência, e a int er pr et ação não é a r ev elação de um significado escondido, não é a r evelação de um a ver dade.

O genealogist a est á int er essado em com o a obj et iv idade e a subj et iv idade em er gem j unt as; onde as pr át icas sociais, não os indivíduos, est abelecem o espa-ço par a que det er m inadas for m as de vida aflor em . Assim , o pesquisador que ut ili-za o est udo genealógico não se pr eocupa em buscar um a or igem , pois o obj et ivo e o subj et ivo não são algo dado ou nat ur al, ou sej a, não exist e um obj et ivo e um subj et ivo a pr ior i, pois eles se const it uem em um a lut a incessant e e est ão sem pr e em m udança.

Assim , ao invés de pr ocur ar um a or igem , um a r elação de causa- efeit o e um pr ogr esso linear, o genealogist a vai pr ocur ar ent ender as r elações de poder ao invés de buscar um significado ocult o e pr ofundo nas pr át icas discur sivas. O pes-quisador genealógico t ent ar á com pr eender o pr ocesso que faz com que det er m i-nadas for ças const it uam um discur so com o sendo ver dadeir o ( FOUCAULT, 1979) .

Essa for m a de enxer gar o m undo t r az algum as conseqüências. Um a delas é que ninguém é r esponsáv el por um a em er gência, pois par a o genealogist a não exist e um suj eit o, sej a ele individual ou colet ivo, que m ovim ent a a hist ór ia. Não há ent idades que m ovim ent am a hist ór ia, não se pr et ende em um a análise de discur -so g en eal ó g i ca d esco b r i r su j ei t o s, i n v en t o r es e h er ó i s, p o i s o s su j ei t o s n ão pr eexist em , são const it uídos por r elações de poder ( FOUCAULT, 2004) .

Os suj eit os em er gem em um cam po const ant e de bat alha, sendo som ent e nest e cam po que se const it uem e desem penham os seus papéis. O m undo deixa de ser enx er gado apenas com o um j ogo que esconde e m ascar a um a r ealidade que est ar ia escondida. O m undo é da for m a que apar ece. Por t ant o, esse conflit o, essa lut a const ant e, não é um j ogo de significados e, m uit o m enos, um a bat alha ent r e suj eit os ( FOUCAULT, 1979) .

Pode- se dizer que a genealogia de Foucault ( 1979, 1987b, 2004) pr ocur a analisar as for m ações discur sivas específicas, sua hist or icidade e o seu lugar em um cont ext o m ais am plo que envolve as r elações de poder, para, assim , avaliar as afir m ações que descr ev em a r ealidade.

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A co m p r een são i n t er p r et at i v a só p o d e ad v i r d e al g u ém q u e co m p ar t i l h a d o envolvim ent o do at or, m as dele se afast a. Est a pessoa não deve levar em consi-der ação o dur o t r abalho hist ór ico de diagnost icar e analisar a hist ór ia e a or ga-nização das pr át icas cult ur ais cor r ent es. A int er pr et ação r esult ant e é um a leit ur a da coer ên cia das pr át icas da sociedade, pr agm at icam en t e con du zidas. Est a in -t er pr e-t ação não pr e-t ende cor r esponder às significações fr eqüen-t em en-t e acei-t as p elos at or es, n em , n u m sen t id o sim p les, r ev elar o sig n if icad o in t r ín seco d as pr át icas. É n est e sen t ido qu e o m ét odo de Fou cau lt é in t er pr et at iv o, m as n ão her m enêut ico ( DREYFUS; RABI NOW, 1995, p. 138) .

Por ém , r est a ent ender o que ser iam pr át icas sociais par a Foucault ? Qual a sua r elação com a análise do discur so e o est udo do hom em ? Par a Foucault ( 2003c) , o est udo das pr át icas sociais lev a em consider ação as ex per iências do dia- a- dia ( at os cor r iqueir os que acont ecem nos r elacionam ent os diár ios) , os saber es, t ais com o os saber es da psiquiat r ia, da m edicina, da cr im inologia, da sex ologia, da adm inist ração, da psicologia et c., e o poder, ou sej a, as m últ iplas e diver sas for-m as de r elações de poder. Assifor-m , as pr át icas sociais são as exper iências diár ias que se r efer em à m aneir a com o o suj eit o se const it ui por m eio de esquem as que ele encont r a em sua cult ur a, em sua sociedade e em seu gr upo social.

Dessa for m a, Foucault pr eocupa- se em saber com o o suj eit o hum ano ent r a nos j ogos de v er dade por m eio das pr át icas sociais, sendo que est es j ogos de ver dade podem t er a for m a de ciência, de inst it uições ou das diver sas pr át icas de cont r ole do hom em . As pr át icas sociais m anifest am as diver sas for m as de r elações de poder ex ist en t es em u m a sociedade; t ais r elações con st it u em o h om em e, con seq ü en t em en t e, o seu d iscu r so. Em su m a, Fou cau lt p or m eio d os est u d os genealógicos, const it ui um m odo de analisar as pr át icas cult ur ais que t êm sido inst r um ent ais par a a for m ação do indiv íduo cont em por âneo, t ant o com o obj et o quant o com o suj eit o.

Considerações Finais

Em pr im eir o lugar, podem os salient ar a cont r ibuição analít ica de Foucault par a os est udos or ganizacionais, cent r ando- se especialm ent e na im por t ância em t r at ar m os as r elações de t r abalho enquant o r elações de poder e não só de pr odu-ção. São r elações que for m am suj eit os, volt ando nossa at enção par a a m ult iplicidade dos agenciam ent os da subj et ivação ( GUATTARI ; ROLNI K, 1999) , inser idos no con-t ex con-t o sócio- hiscon-t ór ico- or ganizacional no ‘con-t em po’ da pesquisa; por con-t ancon-t o, buscando enx er gar na dit a super ficialidade dos discur sos dos suj eit os est e hom em do seu t em po e espaço, e não buscando um a essência ou ver dade. Tem po e espaço das t ecnologias de gest ão desenv olv idas par a o cont ex t o em que est e hom em v iv e, t r anspir a, r espir a, cr ia e discur sa; m uit as v ezes pr om ov endo singular izações que o pesquisador pr ecisa capt urar.

Podem os dizer que os m odos de ser na or ganização se at ualizam , são dinâ-m icos e se est abelecedinâ-m n as r elações pr odinâ-m ov idas pelas t ecn ologias de gest ão em pr egadas e m odificadas pelos gest or es or ganizacionais; o que est abelece no-vas r elações de pessoas par a com as pessoas e par a com os sist em as de t r aba-lho. É o hom em se pr oduzindo. Pr oduz- se nest e am bient e um ser m or al a par t ir dos pr ocessos de su bj et iv ação, pr ocessos sociais, pr át icas or gan izacion ais qu e seqüest r am a subj et iv idade dos suj eit os.

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Par a conseguir r ealizar um a int er pr et ação hist ór ica or ient ada par a a pr át i-ca, Foucault ( 1979, 1985, 1987a, 2003c) desenvolveu o t er m o disposit ivo. O signi-ficado de disposit ivo não foi explicado por Foucault ; cont udo, a dir eção par a qual ele apont a é clar a. Disposit ivo dist ingue- se da idéia de epist em e ut ilizada em seus est udos ar queológicos, pois abar ca do m esm o m odo as pr át icas discur sivas e não-discur sivas. Disposit ivo é algo het er ogêneo e inclui os não-discur sos, as inst it uições, a ar quit et ur a das const r uções, os r egulam ent os, as leis, as pr át icas adm inist r at i-vas, os enunciados cient íficos, a m or alidade, as idéias filosóficas, a filant r opia so-cial, ou sej a, as pr át icas sociais.

Analisando esses com ponent es het erogêneos, o aut or t ent a est abelecer um det erm inado conj unt o de relações flexíveis reunidas em um único aparelho, de for-m a a isolar ufor-m problefor-m a específico. Esse aparelho, ou disposit ivo, reúne o poder e o saber em um diagram a específico de análise, ou sej a, quando se consegue isolar est rat égias específicas de relações de forças que suport am det erm inados t ipos de saber e vice- versa, ent ão, se est abelece o que podem os cham ar de disposit ivo.

O disposit ivo é um diagram a de análise const r uído pelo pesquisador. Cont u-do, o disposit iv o t am bém é for m ado pelas pr ópr ias pr át icas sociais qu e at u am com o um apar elho, um a fer r am ent a, const it uindo suj eit os e os or ganizando. O enfoque pr incipal de um a análise do discur so é ident ificar e est abelecer o t ipo de int eligibilidade que as pr át icas apr esent am , com pr eender um conj unt o de pr át icas sociais coer ent es que or ganizam um a det er m inada r ealidade social, pr ocur ando não r ecor r er ao possível suj eit o que a const it ui e a leis obj et ivas.

Assim , na análise do discur so por m eio de um a pesquisa genealógica, deve-m os dar deve-m enos ênfase às opiniões do at or social e deve-m ais ênfase às pr át icas sociais. I sso não significa que os at or es sociais não consigam com pr eender o significado super ficial do que dizem e fazem , m as que as pr át icas sociais pr oduzem det er m i-n ados discu r sos “ ver dadeir os”.

Ao n ão pr ocu r ar u m sign if icado pr of u n do n o discu r so de u m at or social, Foucault afast a- se da her m enêut ica e da fenom enologia, ou sej a, o significado pr ofundo, os segr edos que o at or é obr igado a descobr ir não podem ser com pr e-endidos com o sendo a v er dade, pois o significado pr ofundo que um pesquisador t r az a t ona e faz com que o at or social descubr a esse significado; t am bém escon-de u m sign ificado m ais im por t an t e, qu e por su a vez n ão é v álido par a o at or. Por t ant o, o at or com pr eende o significado de seu com por t am ent o cot idiano. En-t r eEn-t anEn-t o, o que nem o aEn-t or nem o pesquisador podem per ceber são os div er sos efeit os qu e u m a det er m in ada pesqu isa pr odu z sobr e eles m esm os. Um est u do genealógico com pr eende que a pesquisa é pr oduzida por aquilo que se est á ana-lisando e, conseqüent em ent e, nunca pode per m anecer isent a e neut r a.

Essa r elação ent r e suj eit o e v er dade im plica cer t as escolhas e at it udes do pesquisador. Pr im eir am ent e, o pesquisador deve t er um cet icism o em r elação a t odos os discur sos ant r opológicos consider ados com o v er dadeir os. Cont udo, não significa que t odos eles ser ão r ej eit ados logo de início, m as que o m ais im por t ant e não é adequar um a det er m inada r ealidade às t eor ias ant r opológicas, buscando en con t r ar ali con ceit os con sagr ados e v er dades absolu t as defen didas por qu al-quer cam po cient ífico. Por ém , o pesquisador deve dar m uit o m ais im por t ância às pr át icas obser vadas com o elas se apr esent am e são, sem quer er enquadr á- las e engessá- las em algum cam po t eór ico. Assim ,

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Essa cit ação de Foucault ( 2004) dem onst r a que, ao ut ilizar m os a analít ica do discur so desenvolvida pelo filósofo, devem os cont or nar os univer sais ant r opo-lógicos de um hum anism o que defende os dir eit os, os pr ivilégios e exist ência de um a nat ur eza do hom em com o sendo um a ver dade im ediat a e at em por al do suj ei-t o. O hom em é um ser hisei-t ór ico e car r egado de hisei-t or icidade, não exisei-t indo um a essência do m esm o. Devem os inver t er a t r adição filosófica socr át ico- plat ônica que r em ont a a um suj eit o const it uint e, do qual se exige dar cont a de t odo obj et o de conhecim ent o. Pelo cont r ár io, devem os descer ao est udo das pr át icas concr et as e r eais pelas quais o suj eit o é const it uído em um cam po im anent e de conhecim ent o. Suj eit o e obj et o for m am - se e t r ansfor m am - se, um em r elação ao out r o e em fun-ção do out r o.

Por últ im o, ao est udar m os o hom em no cam po or ganizacional, o cam po da análise dev e est ar dir ecionado par a as pr át icas, ou sej a, abor dar o est udo pelo v iés do que se faz. Dev em os est udar o conj unt o de m aneir as de fazer m ais ou m enos r egr adas, m ais ou m enos pensadas e m ais ou m enos acabadas, por m eio das quais se delineia de for m a sim ult ânea, o que se const it ui com o r eal par a aqueles que pr ocur am pensá- lo e cont r olá- lo; e, t am bém , a m aneir a com o se const it uem enquant o suj eit os capazes de conhecer, analisar e m odificar o r eal. Por t ant o, são as pr át icas concebidas com o sendo o m odo de agir e de pensar que dão a chave de ent endim ent o para a const it uição cor r elat iva do suj eit o e do obj et o ( FOUCAULT, 2004) .

Quando consider am os a inexist ência de um a ver dade e de um a essência no hom em , e pr iv ilegiam os a análise dos pr ocessos de subj et iv ação que pr oduzem esse hom em , est am os r et ir ando o hom em do cent r o das análises or ganizacionais e colocan d o em f oco a an álise d os p r ocessos q u e o con st it u em n o am b ien t e o r g a n i z a c i o n a l . Es s a d e s a n t r o p o m o r f i z a ç ã o d a a n á l i s e d o s f e n ô m e n o s or ganizacionais acaba, por v ez, com a ant r opom or fização das t écnicas de gest ão que, ger alm ent e, indiv idualizam e culpabilizam os m em br os de um a or ganização por seus r esult ados.

Dessa for m a, enx er gando- se o hom em com o um suj eit o at r av essado por diver sas for ças, são exat am ent e t ais for ças que devem ser analisadas e ent endi-das, pois são elas que at uam sobr e os t r abalhador es e os const it uem com o suj ei-t os. Esse aspecei-t o lim iei-t a a cr ença que r epousa na ex isei-t ência de um a auei-t onom ia e x e r ci d a p e l o s t r a b a l h a d o r e s e m su a s d e ci sõ e s e a çõ e s d e n t r o d o e sp a ço or gan izacion al. Em ou t r as palav r as, as car act er íst icas do in div ídu o n o t r abalh o são elabor adas e pr ocessadas por u m a gr an de r ede de f or ças qu e o m oldam . Ent ender essas r edes t or na- se algo pr im or dial e fundam ent al. Por t ant o, há um a inver são de pólos em que o m ais im por t ant e não é est udar o hom em , m as, sim , as r edes de for ça or ganizacionais que o m oldam e o desm oldam a t odo t em po. O hom em é v ist o apenas com o um efeit o desse pr ocesso, com o se fosse apenas um a gr ande t ela de cinem a na qual ocor r e a pr oj eção e se dá visibilidade a t odas essas f or ças, n ão sen do, assim , con cebido com o u m su j eit o au t ôn om o. Nesse sent ido, os t rabalhos de Peci e Alcadipani ( 2006) , Tur et a e Alcadipani ( 2007) e Alcadipani e Tur et a ( 2008a, 2008b) , ao abor dar em a r elação ent r e At or- Rede ca-m inhaca-m no sent ido de esclar ecer eca-m aspect os r elacionados à desant r opoca-m or fização n o s e st u d o s o r g a n i za ci o n a i s, b e m co m o su a r e a l a p l i ca b i l i d a d e n o ca m p o or gan izacion al.

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