REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Anestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
DIVERSO
Traduc
¸ão
e
adaptac
¸ão
transcultural
da
Pain
Quality
Assessment
Scale
(PQAS)
para
a
versão
brasileira
夽
Anamada
Barros
Carvalho
a,b,c,∗,
João
Batista
Santos
Garcia
a,b,d,
Thayanne
Kelly
Muniz
Silva
be
João
Victor
Fonseca
Ribeiro
baAmbulatóriodeDorCrônica,HospitalUniversitáriodaUniversidadeFederaldoMaranhão(HU-UFMA),SãoLuís,MA,Brasil
bLigaAcadêmicadeDorMaranhão,SãoLuís,MA,Brasil
cCiênciasdaSaúde,UniversidadeFederaldoMaranhão(UFMA),SãoLuís,MA,Brasil
dDisciplinadeAnestesiologia,DoreCuidadosPaliativos,UniversidadeFederaldoMaranhão(UFMA),SãoLuís,MA,Brasil
Recebidoem9deagostode2013;aceitoem30deoutubrode2013 DisponívelnaInternetem30deagostode2014
PALAVRAS-CHAVE
Neuropatia; Quimioterapia; Instrumentos deauto-relato; Traduc¸ão; Adaptac¸ão transcultural
Resumo
Introduc¸ão:amaioriadospacientescomcâncersãotratadoscomquimioterápicosea neuro-patiaperiféricaéumproblemaclínicosérioecomumqueafetaospacientesemtratamento oncológico.Entretanto,taissintomassãosubjetivossendosubdiagnosticadopelosprofissionais desaúde.Assim,torna-senecessárioodesenvolvimentodeinstrumentosdeautorrelatopara superaressalimitac¸ãoemelhorarapercepc¸ãodopacientesobreoseutratamentooucondic¸ão clínica.
Objetivo:traduzireadaptartransculturalmenteaversãobrasileiradoPainQualityAssessment Scale(PQAS),constituindoemuminstrumentoútildeavaliac¸ãodaqualidadedadorneuropática empacientescomcâncer.
Método: oprocedimentoseguiuasetapasdetraduc¸ão,retrotraduc¸ão,análisedasversões por-tuguêseinglêsporumcomitêdejuízesepré-teste.Opré-testefoirealizadoem30pacientes comcânceremtratamentoquimioterápicoseguindonormasinternacionalmente recomenda-das,sendoasversõesfinaiscomparadaseavaliadasporcomitêdepesquisadoresbrasileirose daMAPIResearchTrust,originadoresdaescala.
Resultados: asversõesum edoisapresentaram100%de equivalênciasemânticacoma ver-sãooriginal.Naretrotraduc¸ãohouvediferenc¸asnatraduc¸ãolinguísticacomaversãooriginal. Apósaavaliac¸ãodoComitêdeJuízes,foiencontradaumafalhanaequivalênciaempíricaena equivalênciaidiomática.Nopré-teste,duaspessoasnãoentenderamoitem12daescala,sem interferirnaelaborac¸ãofinaldamesma.
夽 InstitutoMaranhensedeOncologiaAldenoraBello.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:anamadac@yahoo.com.br(A.B.Carvalho). http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2013.10.016
Conclusão:oinstrumentoagoratraduzidoeadaptadotransculturalmenteéapresentadonessa publicac¸ãoe,atualmente,encontra-seemprocessodevalidac¸ãoclínicanoBrasil.
©2014SociedadeBrasileira deAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados. KEYWORDS Neuropathy; Chemotherapy; Self-report instruments; Translation; Cross-cultural adaptation
TranslationandtransculturaladaptationofPainQualityAssessmentScale(PQAS)
toBrazilianversion
Abstract
Introduction:mostcancerpatientsaretreatedwithchemotherapy,andperipheralneuropathy is a seriousand common clinicalproblem affecting patients undergoing cancer treatment. However, thesymptomsaresubjectiveandunderdiagnosed byhealthprofessionals. Thus,it becomesnecessarytodevelopself-reportinstrumentstoovercomethislimitationandimprove thepatient’sperceptionabouthismedicalconditionortreatment.
Objective: translateandculturallyadapttheBrazilianversionofthePainQualityAssessment Scale(PQAs),constitutingausefultoolforassessingthequalityofneuropathicpainincancer patients.
Method: theprocedurefollowedthestepsoftranslation,backtranslation,analysisof Portu-gueseandEnglishversionsbyacommitteeofjudges,andpretest.Pretestwasconductedwith 30cancerpatientsundergoingchemotherapyfollowinginternationallyrecommendedstandards, andthefinalversionswerecomparedandevaluatedbyacommitteeofresearchersfromBrazil andMAPIResearchTrust,thescale’screators.
Results:versionsoneandtwo showed100%semanticequivalence withtheoriginalversion. Back-translation showed difference between the linguistic translation and the original version.Afterevaluationbythecommitteeofjudges,aflawwasfoundintheempirical equi-valenceandidiomaticequivalence.Inpretest,twopeopledidnotunderstandtheitem12of thescale,withoutinterferinginthefinalelaboration.
Conclusion: thetranslatedandculturallyadaptedinstrumentisnowpresentedinthis publica-tion,andcurrentlyitisintheprocessofclinicalvalidationinBrazil.
© 2014SociedadeBrasileirade Anestesiologia.Publishedby ElsevierEditoraLtda.Allrights reserved.
Introduc
¸ão
Asexperiênciasdolorosasnãosãoiguais.Aspessoasutilizam apalavra ‘‘dor’’paradescreverumagrandevariedade de sensac¸õeseexperiênciasdecorrentesdediversasetiologias. Emboraaintensidadeouamagnitudedadorsejaa caracte-rísticamaisavaliadanaexperiênciaclínicaeempesquisas científicas,atualmentejátemosconhecimentoqueas pes-soas podem apresentar a mesma intensidade dador, mas comqualidadesdiferentes.1
A maioria dos pacientes com câncer são tratados com quimioterápicos.Asupressãomedulareatoxicidaderenal eneurológicasãoosefeitosadversosmaisfrequentemente observadosapósautilizac¸ãodosagentesquimioterápicosno tratamentodedoenc¸asoncológicas,constituindoos princi-paismotivosparaasuspensãodotratamentoantineoplásico ouparaamudanc¸adoregimedetratamento.A neurotoxici-dade,queenvolvetantoosistemanervosoperiféricoquanto ocentral,tendeaocorrernoinícioeapersistirmesmocoma diminuic¸ãoouasuspensãodotratamentoquimioterápico.2---7
Atualmente, aumentou o interesse na percepc¸ão sub-jetiva dos pacientes sobre a intensidade e os efeitos da Neuropatia Periférica Induzida por Quimioterápico (NPIQ)
e vários instrumentos de auto-relato estão sendo desen-volvidosparaavaliarapercepc¸ão dopaciente sobreoseu tratamentooucondic¸ãoclínica.4,6---11
Dentreosinstrumentosdeauto-relatoutilizadosna prá-ticaclínicaexiste aPainQuality AssessmentScale(PQAS) (fig. 1)ouEscaladeAvaliac¸ãodaQualidadedaDor(EAQD) (anexo).A EAQD não é específica para NPIQ, mas deriva de umaescala denominada Neurophatic Pain Scale (NPS) ouEscala de Dor Neuropática (EDN). A EDN foi desenvol-vidaparaquantificarumabrevemedidadadorneuropática, sendoo primeiro instrumento desenhado especificamente para tal fim.12 A escala inclui dois itens que avaliam as
dimensões globais de intensidade e de dor intolerável, alémde oito itens onde são descritas qualidades especí-ficasdador neuropáticacomo: ‘‘facada’’,‘‘queimac¸ão’’, ‘‘mal localizada’’, ‘‘congelando’’, ‘‘sensível como carne viva’’,em ‘‘coceira’’,‘‘superficial’’e ‘‘profunda’’.12
Seleção de instrumento Um retrotradutor Dois tradutores independentes Compatibilização das traduçães pela pesquisadora Compatibilização das traduçães pela pesquisadora Retrotradução
Primeira versã o tra duzida do instrumento (V4)
Revisã o por comitê de juízes
Equivalência empírica e conceitual
Versão final (V5)
Pré-teste (Técnica da prova
em 30 pacientes) Tradução inicial
(V1 + V2 = V3)
Equivalência semântica e idiomática
Figura1 Fluxogramamostrandoasetapasdatraduc¸ãoeadaptac¸ãotransculturaldaescalaPainQualityAssessmentScale(PQAS) emumhospitaldereferênciaemcâncernoBrasil.
temporalidadedador(‘‘constantecomaumentos intermi-tentes’’,‘‘intermitente’’ ou‘‘constante com flutuac¸ão’’) sendo útil, assim, para avaliar tanto a dor neuropática quantoadornão---neuropática,1,13---16surgindo,dessaforma,
aEAQD.Essaescala,emboraútil,aindanãofoivalidadapara oBrasil.
Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi reali-zara traduc¸ão e adaptac¸ão transcultural do Pain Quality AssessmentScale(PQAS)paraoportuguêsdoBrasil,visando disponibilizarparaclínicosepesquisadoresuminstrumento deavaliac¸ão daqualidade dadorneuropática em pacien-tesquerealizamtratamentoquimioterápicoemumhospital públicodereferênciaemcâncer.
Material
e
método
O PQAS contém 20 itens que avaliam a intensidade glo-bal da dor e seus inconvenientes, dois aspectos espacial dadore16diferentesqualidadesdador.Apesardositens apresentaremcaracterísticassemelhantescommaisdeuma medida, sua melhor habilidade é capturar as qualidades oudomínios afetados pelo tratamento da dor. Cada item utiliza a escala numérica verbal, onde 0=‘‘sem dor’’ ou ‘‘nenhuma sensac¸ão’’ e 10=‘‘a maior sensac¸ão de dor imaginável’’.Comomencionadoanteriormente,adoré ava-liadaatravés dedoisdomíniosglobais(intensidadedador
e desconforto provocado por ela), dois domínios espaci-ais (profundo ou superficial) e 16 domínios de qualidade (pontada,queimac¸ão, mallocalizada,fria,sensível, como umaferida,comouma‘‘picadademosquito’’,fisgada, dor-mência,emchoque,formigamento,emcólica,irradiando, latejante,comouma‘‘dordedente’’eempeso).Ademais, oPQAStambémcontémumitemqueavaliaopadrão tem-poraldador(‘‘intermitentecomausênciadedoremoutros momentos’’, ‘‘mínimode doro tempotodo com períodos deexacerbac¸ão’’e‘‘dorconstantequenãomudamuitode ummomentoparaoutro’’).1,13---16
A traduc¸ão e adaptac¸ão do PQAS foram realiza-das seguindonormas internacionalmente recomendadas.17
O PQAS foi traduzido para o português por dois brasilei-roscomfluênciaeminglêseportuguês,sendogeradasduas versõesindependentes(V1eV2).Essasduasversõesforam avaliadas pelos pesquisadores brasileiros que elaboraram umaterceiraversão(V3).Aterceiraversãofoientão sub-metida a retrotraduc¸ão para o inglês (back-translation), realizadaporummédicocomfluênciaemportuguêseinglês, que desconhecia o instrumento original e o objetivo da traduc¸ão,sendoproduzidaumaversãoeminglês(V4).17,18
multidisciplinar (médico, enfermeiro, psicólogo, fisiotera-peuta)conhecedoradotemapesquisadoedafinalidadedo instrumentoe dos conceitos aseremanalisados. O traba-lhodosjuízes consistiuemdetectarpossíveisdivergências nastraduc¸ões,cabendo-lhescompararostermosepalavras entresi,verificandoseositensdaescalareferiam-seounão aos conceitos mensurados noinstrumento original. Foram consideradoscomotendotraduc¸ãoadequada,os descrito-resaceitosporpelomenos,80%dosespecialistas.Apartir dos pareceres dos juízes, foi elaborada a versão final do instrumento(V5).17,18
As decisões foram feitas por este comitêrealizando a equivalênciaentreafonteeaversãoalvoemquatro aspec-tos:
a) EquivalênciaSemântica:saberseaspalavrastraduzidas significavamamesmacoisa;seosmúltiplossignificados sãodeumdadoitemeseexistiramdificuldades grama-ticaisnatraduc¸ão.
b) Equivalência Idiomática: foram formuladas expressões equivalentes na versão alvo, evitando dificuldades na traduc¸ãodecoloquialismoseexpressõesidiomáticas. c) Equivalência Empírica: foram substituídos termos no
questionárioporoutrossemelhantesequesãoutilizados emnossaculturadeorigem,buscandocapturar experi-ênciasdavidadiária.
d) EquivalênciaConceitual:foramobservadasseaspalavras apresentavam diferentessignificadosentreasculturas, substituindoostermosinadequados.17---19
O consenso foi alcanc¸ado em todos os itens, com a presenc¸adetodosostradutoresnocomitê,proporcionando umbomentendimentoimediatamente.17,18
Após ser escolhida a versão final (V5) foi realizado o pré-testeonde30pacientessubmetidosaotratamento qui-mioterápico em umhospitaldereferência paraOncologia noBrasilcompletaramoquestionárioeforamentrevistados sobreoquepensaramarespeitodecadaitemeescolheram a melhor resposta, após assinarem o Termo de Consenti-mentoLivreeEsclarecido.17,18
Aavaliac¸ãodaequivalênciasemânticafoirealizadasob coordenac¸ão dos pesquisadores na MAPI Research Trust,
Lyon, France que elaboraram o PQAS original com a
participac¸ãodapesquisadoraprincipal.
Resultados
Apartirdaretrotraduc¸ãoe daavaliac¸ãodosjuízes, resul-tou a versão brasileira final da PQAS, a qual está sendo submetidaàavaliac¸ãodassuaspropriedadespsicométricas em estudoem andamento pelaequipedeDordoHospital UniversitáriodereferêncianoBrasil.
Durante a elaborac¸ão das versões V1e V2observamos 100%deconcordânciasemânticaentreostradutores.Oitem 4ondeperguntamoshowdullyourpain?apalavradullfoi traduzidacomo‘‘indefinida’’nessasduasversões,oquenão persistiuapósojulgamentodosjuízes.
Aoserrealizadoaretrotraduc¸ãoobservamosdiferenc¸as na traduc¸ão linguística com a versão original. Na retrotraduc¸ão no item 1 onde lemos na escala original ‘‘intense’’foiretrotraduzidopor‘‘severe’’.Noitem2like
Tabela1 TabelaevidenciandoRetrotraduc¸ãodaPQAS
EscalaOriginal EscalaRetrotraduzida
4/Dull. Difficultwastolocateyour
pain. 7/Likeabruise. Likeawound. 8/Likepoisonivy. Likeatingle.
9/Zapping. Hooked.
13/Tight. Gripping.
15/Pounding. Pulsatile.
19/Howintenseisyour surfacepain?
Howintenseisyourshallow pain?
20/Ihavevariablepain
(backgroundpainallthe time,butalsomoments ofmorepainoreven severebreakthroughpain orvaryingtypesofpain.
Ihavevariablepainoreven
withmomentsofsuddenly severepainordifferent levelsofintensityofpain.
PQAS,PainQualityAssessmentScale.
aspikefoisubstituído porlike aneedlee themost sharp porthemostprickling.Todososoutrositenssãoresumidos natabela1.
Durante a avaliac¸ão do Comitê de Juízes, não houve diferenc¸as quanto à equivalênciasemântica e conceitual. Nasversões1e2,item4apalavradullfoitraduzidacomo ‘‘indefinida’’ como citado anteriormente. Entretanto, tal expressãofoijulgadacomopoucoelucidativada caracterís-ticadolorosadopacienteemnossalinguagemnativa,sendo identificada uma falha na equivalência empírica. Dessa forma,foisubstituídapelotermo‘‘mallocalizada’’ exem-plificandomelhortalqualidadededoremnossapopulac¸ão regional.
Osjuízestambémidentificaramcoloquialismose expres-sões idiomáticas que poderiam interferir na descric¸ão corretadaqualidadedadoremnossapopulac¸ãocomo,por exemplo,noitem1ondelê-se‘‘nenhumador’’naV1e‘‘sem dor’’naV2foiescolhidootermo‘‘semdor’’naversãofinal. Talfatodecorreemumaalterac¸ãonaequivalência idiomá-tica.Após conclusão dessa fase foi gerada a versão 5 do instrumento.Osdemaistermosestãonastabelas2e3.
Durante o pré-teste, onde os pacientes são questio-nados sobre a escolha entre os termos, apenas no item 12duaspessoasnãomarcaramporquenãocompreenderam osentidodaescala.Nosdemaistermos100%dospacientes relataramentendimentodositensescolhidossemnenhuma dificuldade.
Apesar dessa pequena diferenc¸a, os originadores da escaladecidiramquehouveconcordânciasemântica entre as duas traduc¸ões, podendo ser iniciado o processo de validac¸ão.
Discussão
O principal objetivo desse estudo foi alcanc¸ado com a traduc¸ão e adaptac¸ão transcultural realizada com êxito do instrumento Pain Quality Assessment Scale (Escala de Avaliac¸ãodaQualidadedaDor)paraaLínguaPortuguesa.
Tabela2 TermosescolhidosnaVersãoV1apósjulgamento dosjuízes
ItemnaescalaV1 JulgamentodosJuízes
2 Dormaisagudaimaginável
3 Semqueimac¸ão
5 Semsensac¸ãodefrio/sensac¸ãomaisfria imaginável
‘‘congelando’’
6 Nãosensível/domodomaissensível possível(‘‘emcarneviva’’) 7 Nãosensível/domodomaissensível
possível(‘‘comoumaferida’’)
8 Semcoceira
10 Semdormência/Amaiorsensac¸ão dedormênciaimaginável 11 Semchoques/Amaiorsensac¸ão
dechoquesimaginável. 13 Semsensac¸ãodecólica/Amaior
sensac¸ãodecólicaimaginável
14 Semirradiac¸ão
16 Semdolorimento/maiorsensac¸ão dedolorimentoimaginável
sintomasdeneuropatiasensitivae/oumotoradegrau mode-radoa severo, quandojá ocorreu o comprometimento da qualidade de vida desses indivíduos, tanto física quanto emocionalmente.Dessamaneira,escolhemosparavalidac¸ão da EAQD em tal populac¸ão de pacientes, que relatam com frequência formigamento, ardência ou queimac¸ão, dormência, ‘‘picadas e agulhadas’’, sensac¸ões tipo cho-que bilateralmente em mãos e pés, quando acometidos por sintomas decorrentes da NPIQ em fases ainda preco-cesdadoenc¸a.Ademais,ainexistênciadeuminstrumento padrão-ouro para identificar tal doenc¸a dificulta ainda mais qualquer possibilidade de prevenc¸ão e tratamento adequado.10
Outros estudos comparando os efeitos dos diferentes tratamentos da dor em pacientes com qualidades de dor semelhantes, algumas vezes mostram efeitos similares e outras vezes diferenciais em determinadas qualidades, dependendo do tratamento e da populac¸ão estudada.1
Um estudo comparou os efeitos do patch de lidocaína a 5% com a injec¸ão isolada de corticoide na Síndrome do TúneldoCarpo(STC).Osresultadosmostraramdiminuic¸ão noformigamento,dormência,sensac¸ãodesagradável, pro-fundo, elétrico, intenso, superficial, pontada, queimac¸ão em ambos os tratamentos, com efeitos maiores no late-jamento e na dormência com o patch de lidocaína.9 No
grupodepacientescomdorneuropáticaqueincluíam neu-ralgia pós-herpética (NPH) e neuropatia diabética (NPD), a combinac¸ão de pregabalina e oxicodona demonstrou melhora significante na dor tipo congelante, embora a combinac¸ãodepregabalinaeplacebotenhamelhoradoador emqueimac¸ãoefacada.1Osresultadosdessesestudos
suge-rem a eficácia dos diferentes tratamentosfarmacológicos em certas qualidades de dor em pacientes com diagnós-ticos específicos. Dessamaneira, a traduc¸ão e adaptac¸ão transcultural da EAQD e sua posterior validac¸ão será um instrumentoútilparatalfimemnossapopulac¸ão.
Nãohouvedificuldadesna elaborac¸ãodasversõesV1e V2.Entretanto,omédicoquerealizouaretrotraduc¸ão refe-riu dificuldade ao finalizar a mesma, visto que apresenta especialidadediversadotemapesquisado,alémdemuitos termosreferentesaosquadros dolorosos nãoseremfáceis de expressar exatamente a qualidade dador que o paci-enteapresenta.Issogeroumaisconfiabilidadeaessaetapa dapesquisa,jáqueaversãoretrotraduzidafoiconsiderada compatívelpelosoriginadoresdaescala.
Arealizac¸ãodopré-testeéumafasenecessáriaparaa finalizac¸ãodoprocessodetraduc¸ãoeadaptac¸ão transcultu-raldasescalas.Durantearealizac¸ãodesseestudofoipreciso darexplicac¸õesmaisextensasdealgunstermosdevido ao baixo nível de escolaridade dapopulac¸ão pesquisada.Em um estudo realizado no Japão,18 os pacientes relataram
Tabela3 TermosescolhidosnaVersãoV2apósJulgamentodosJuízes
Itemna EscalaV2
JulgamentodosJuízes Itemna
EscalaV2
JulgamentodosJuízes
1 Amaisintensadorquevocêjáteve 14 Amaiorirradiac¸ãodedorimaginável(se espalhou)
2 Nenhumadorempontada/Amaior
sensac¸ãodedorempontadajásentida (comoumafaca)
15 Nenhumadorlatejante/Amaiorsensac¸ão dedorlatejanteimaginável
3 Amaiordoremqueimac¸ãojásentida (queimando)
17 Nenhumadorempeso/Amaiorsensac¸ão dedorempeso(bastanteforte) 4 Nenhumador/Amaiorsensac¸ãodedor
‘‘mallocalizada’’imaginável
18 Nãoincomoda/Asensac¸ãomaisintolerável dedorimaginável
8 Amaiorsensac¸ãodecoceiraimaginável (comoumapicadademosquito)
19 Nenhumadorprofunda/Adormais profundaimaginável;Nenhumador nasuperfície/Grandedornasuperfície docorpo
9 Nenhumadoremfisgada/amaiordor emfisgadajásentida
20 Todosositensdaescalaforamescolhidos
12 Nenhumformigamento/Amaior
problemas quanto à compreensãodos itens, sendo alguns consideradosirrelevantes,divergindodesseestudoondetal recursonãofoinecessário.Nãohouveproblemasquantoà autorizac¸ão dosoriginadores daescalapara iníciodo pro-cessodetraduc¸ão,adaptac¸ãotransculturaleavalidac¸ãoda mesma.
Durantearealizac¸ãodacoletadedados,oquestionário foi respondido poruma entrevistavia clínico/pesquisador e paciente utilizando apenas lápis e papel. Os pacientes demoraramaproximadamente15minutos,emmédia,para responder o questionário pela primeira vez. Outras vezes essetempoeramaisextenso.Apósserobservadoqueisso poderiaserumfatorcomplicadorparaaplicac¸ãodo ques-tionário na rotina dos consultórios lotados, foi decidido realizarumpequenotreinamentoentreospróprios pesqui-sadores.Assim,aentrevistaerarealizadacomtermosmais simples, de entendimento fácil, já que grande parte dos pacientesapresentavaumníveleducacional mais elemen-tar.Foiconseguidoentão, encurtarotempoderealizac¸ão daentrevistapara8 a10 minutos,nãocomprometendoo tempo da consulta e atingindo a satisfac¸ão do paciente. Entretanto, sabe-se que os pacientes apresentam dificul-dadesemexpressarossintomasdolorosos,principalmente quandoestessãoassociadosaNPIQ.10 Issopodeexplicar a
dificuldadeencontradapelospacientesaorespondero ques-tionário.
Emboranãoexistaumprocessodatraduc¸ãoeadaptac¸ão transcultural padrão-ouro a ser seguido rigorosamente por todos os pesquisadores, três passos são essenciais: realizac¸ão da traduc¸ão/retrotraduc¸ão, revisão por um comitêdejuízeseafasedopré-teste.Todosospassosforam rigorosamenteseguidosnesteestudo.18
Assim,aversãobrasileiradoPQASencontra-seagora tra-duzidaeadaptadatransculturalmentee,após,suavalidac¸ão (atualmenteemandamentopeloGrupodePesquisaemDor emumHospitalUniversitáriodereferêncianoBrasil),será certamenteumaferramenta útil paraclínicos e pesquisa-doresna avaliac¸ão dos sinais e sintomas7 decorrentes de
diferentesqualidadesdedor,sejaneuropáticaounão, aju-dandonaelucidac¸ãodomecanismo doloroso,na avaliac¸ão daeficáciadotratamento dediferentesdoenc¸ase, princi-palmente,nadetecc¸ãoprecocedesintomassensitivosem pacientescomriscodedesenvolvergrausmaisprejudiciais daNPIQ.
Conflitos
de
interesse
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