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Artigo
original
Epidemiologia
das
fraturas
do
terc¸o
proximal
do
fêmur
em
pacientes
idosos
夽
Daniel
Daniachi
∗,
Alfredo
dos
Santos
Netto,
Nelson
Keiske
Ono,
Rodrigo
Pereira
Guimarães,
Giancarlo
Cavalli
Polesello
e
Emerson
Kiyoshi
Honda
DepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,IrmandadedaSantaCasadeMisericórdiadeSãoPaulo,SãoPaulo,SP,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem11demarçode2014 Aceitoem10dejulhode2014
On-lineem23demaiode2015
Palavras-chave:
Epidemiologia Fraturasdoquadril Idoso
r
e
s
u
m
o
Objetivo:Estudoepidemiológicodasfraturasdoterc¸oproximaldofêmurempacientes
ido-sos,tratadosemhospital-escolanaregiãocentraldeSãoPaulo.
Métodos:Pacientes a partir 60 anos atendidos no períodode um ano. Questionário foi
elaborado com informac¸ões sociodemográficas básicas, comorbidades apresentadas e medicac¸õesemuso.Foramavaliadascircunstânciasdafraturaesuascaracterísticas, trata-mentoinstituídoetaxademortalidadeintra-hospitalar.
Resultados: Os 113 pacientes incluídos no estudo apresentavam 79 anos em média.
Aproporc¸ãoentreossexosfoidetrêsmulheresparacadahomem.Somente30,4%dos pacientesrelataramosteoporoseesomente0,9%tratavamadoenc¸a.Traumadebaixa ener-giafoiacausade92,9%dasfraturas.Fraturasdocolodofêmurrepresentaram42,5%das fraturasetrocantéricas57,5%.Cincopacientesnãoforamoperados,39foramsubmetidosa substituic¸ãoarticulare69foramsubmetidosaosteossíntese.Otempomédiodeinternac¸ão foide13,5diasedeesperaatéacirurgiasetedias.Ataxademortalidadeintra-hospitalar foide7,1%.
Conclusão:Pacientesatendidosnainstituic¸ãoapresentamperfilepidemiológicosemelhante
àquelesencontradosemliteraturanacional.Insuficiênciarenalcrônicaéumfator signifi-cativoparamortalidadeintra-hospitalar.Medidaspreventivascomodiagnósticoprecocee tratamentodaosteoporoseepráticaregulardeatividadesfísicasnãosãoadotadas.
©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Todososdireitosreservados.
夽
TrabalhodesenvolvidonoGrupodeQuadril,DepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,IrmandadedaSantaCasadeMisericórdia deSãoPaulo,SãoPaulo,SP,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:ddaniachi@hotmail.com(D.Daniachi). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2014.07.014
Epidemiology
of
fractures
of
the
proximal
third
of
the
femur
in
elderly
patients
Keywords:
Epidemiology Hipfractures Elderlypeople
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective: Thiswasanepidemiologicalstudyonfracturesoftheproximalthirdofthefemur
inelderlypatientswhoweretreatedatateachinghospitalinthecentralregionofSãoPaulo.
Methods: Thesubjectswerepatientsovertheageof60yearswhowereattendedovera
one-yearperiod.Aquestionnaireseekingbasicsociodemographicdataandinformation oncomorbiditiespresentedandmedicationsusedwasdrawnup.Thecircumstancesofthe fracturesandtheircharacteristics,thetreatmentinstitutedandtheintra-hospitalmortality ratewereevaluated.
Results: The113patientsincludedinthestudypresentedameanageof79 years.The
ratiobetweenthesexeswasthreewomentoeachman.Only30.4%ofthepatientsreported havingosteoporosisandonly0.9%hadhadtreatmentforthedisease.Low-energytrauma wasthecauseof92.9%ofthefractures.Femoralneckfracturesaccountedfor42.5%of thefracturesandtrochantericfractures,57.5%.Fivepatientsdidnotundergooperations; 39underwentjointreplacement;and69underwentosteosynthesis.Themeanlengthof hospitalstaywas13.5daysandthemeanlengthofwaitingtimeuntilsurgerywasseven days.Theintra-hospitalmortalityratewas7.1%.
Conclusion: Thepatientsattendedatthisinstitutionpresentedanepidemiologicalprofile
similartowhatisfoundintheBrazilianliterature.Chronickidneyfailureisasignificant factorwithregardtointra-hospitalmortality.Preventivemeasuressuchasearlydiagnosis andtreatmentofosteoporosisandregularphysicalactivitypracticeswerenotimplemented. ©2015SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Oenvelhecimentodapopulac¸ãoéumarealidadebrasileira. Em1991ototaldeidosos,pessoascom60anosoumais,era de10,7milhõesou7,2%dapopulac¸ão.Em2011essegrupo somou23,5milhõesou12,1%dapopulac¸ão.
Essatendêncialevaamaiorpreocupac¸ãocomos proble-masdedoenc¸asrelacionadasaessafaixaetária,entreelesas fraturasdoterc¸oproximaldofêmur.Sãocausadeelevadataxa demorbidadeemortalidade.1–3Grandepartedesses pacien-tesvaiaóbitoematédoisanosemuitosjamaisrecuperam suaqualidadedevidaouindependênciafuncional.4–6
Nosidosos, essas fraturas ocorrem relacionadas a trau-masdebaixaenergia.Aprincipalcausaéquedadaprópria altura.3,5,7,8Diversosfatoresderiscosãorelacionadosàs fra-turasdoterc¸oproximaldofêmur,comdestaqueparaidade avanc¸adaeosteoporose.2,9,10
Tais fraturaspodemser divididasemdocolo dofêmur, transtrocantéricas e subtrocantéricas.5,6 Todas são de tra-tamento cirúrgico,1,5 mas não há consenso para a melhor cirurgiaparacadaumadessas.Há,noentanto,fatores rela-cionadosao tratamento que possivelmente alterama taxa demortalidadedessespacientes,entreeles:tempo entrea internac¸ãoeacirurgia,usodeantibioticoterapiaprofiláticae fisioterapiapós-operatória.3,4,11–13
Oobjetivodesteestudoéoperfilepidemiológicodas fra-turas do terc¸o proximal do fêmur em idosos tratados no departamento deortopedia dohospital.Analisar ascausas da fratura, suas características e o tratamento instituído.
Observarsemedidasestãosendotomadasparaevitarnovas ocorrênciassemelhantes.
Casuística
e
método
Trata-sedeumestudoprospectivo,observacional,feitoemum únicohospital-escolanaregiãocentraldeSãoPaulo.Foram incluídospacientesidosos,comfraturadoterc¸oproximaldo fêmur,atendidosconsecutivamentede1deagostode2009a 31dejulhode2010.Foramexcluídospacientesquesenegaram ounãotiveramcondic¸õesderesponderasperguntas.Foram excluídospacientesdiagnosticadoscomfraturametastática ourelacionadaaprocessoneoplásicodofêmur.
Um questionário foi elaborado pelos autores para ser respondido pelo próprio paciente ou parente/cuidadorque vivesse com o paciente. Nesse questionário, além de informac¸ões sociodemográficas básicas, como sexo, idade, nacionalidade,etniaeatividadelaborativa,foramavaliados omecanismodetrauma,seulocaleoperíodoemque ocor-reu.Ascomorbidadesconhecidaspelospacientes,incluindo osteoporoseemedicac¸õesemuso,tambémforam pergunta-das.
Tipodefratura,períodototaldeinternac¸ão,presenc¸ade osteoporoseradiográfica,tempodeesperaatéacirurgiae tra-tamento instituídoforam os demaisdados coletadospelos autores.
genericamentedenominamoscomofraturasestáveisastipos IeII,enquantoasinstáveiscorrespondemaostiposIIIeIV.
Paradefinirpresenc¸aounãodeosteoporoseradiográfica foiaplicadoométododeSingh.14
OestudofoipreviamenteaprovadopeloComitêdeÉtica emPesquisadaInstituic¸ão.
Resultados
Responderamaoquestionário113pacienteseforam incluí-dosnoestudo;28eramdosexomasculinoe85dofeminino. Tinham entre 60 e 99 anos, média de 79. Em relac¸ão à ocupac¸ão,109faziam somente tarefas dolar. Quatro eram economicamente ativos. Nenhum era institucionalizado e somente18moravamsozinhos.
Relataramqueda115pacientes.Osdemaistiveram trau-mas de alta energia. Apresentaram queda em suas casas 81 pacientes,enquanto 24estavam na rua.Amaioria des-ses eventos ocorreu no quarto dos pacientes, seguido do banheiro.Aproximadamentedoisterc¸osdasfraturas aconte-ceramduranteodia;65 pacientesfraturaramoquadril nas estac¸õesfriasdoanoenquanto 48 astiveramnasestac¸ões quentes.
Somente 16 pacientes disseram não ter qualquer tipo de doenc¸a. A doenc¸a encontrada mais frequentemente de formaisoladafoihipertensãoarterialsistêmica,23pacientes; 15eramdiabéticos,seteforamdiagnosticadoscomAlzheimer eseistinhamhipotireodismo;22tinhamtrêsoumais comor-bidades.
Doispacientesfaziamatividadesfísicasregulares,ambos caminhavam.
Quando perguntados sobre doenc¸as pré-existentes somente dois pacientes relataram ter osteoporose. Incluí-mosnoquestionárioperguntaespecíficasobreessadoenc¸a. Quandoperguntadossobreterounãoosteoporose,34 pacien-tes(30,1%)referiramteradoenc¸a.Analisamosasradiografias dessespacientesconformeoscritériosdescritosporSingh14 eencontramos107(94,7%)pacientescomosteoporose.
Nãofaziamusodemedicac¸ão22pacientes.Captoprilfoi o medicamento mais usado. Somente um referiu uso de medicac¸ãoespecíficaparaotratamentodeosteoporose (alen-dronato).NenhumfaziausodevitaminaD.
Otipodefraturamaiscomumenteencontradofoi trans-trocantérica, 57 casos; 48 eram do colo do fêmur e oito subtrocantéricas.
Cincopacientesnãoforamoperados,enquanto108foram submetidos a algumtipo de intervenc¸ão cirúrgica. Osteos-síntese foi o tratamento instituído em todos os casos de fraturassubtrocantéricaseem56(98,2%)fraturas transtrocan-téricas.Umcasodefraturatranstrocantéricafoitratadocom substituic¸ãoarticularporapresentarartroseavanc¸adanessa articulac¸ão.Emrelac¸ãoàsfraturasdocolodofêmur,39 con-sideradasinstáveisforamtratadascomsubstituic¸ãoarticular enquantooito,estáveis,foramfixadas.
Otempomédiodeinternac¸ãodospacientesfoide13,5dias eotempomédiodeesperaentreainternac¸ãoeacirurgiafoi desetedias.
Receberamalta hospitalar 115 pacientes,enquanto oito (7,1%)faleceramduranteainternac¸ão.Seisdessespacientes
Óbito Não óbito (alta)
Óbito x insuficiência renal
1,0% 62,5%
99,0%
Sim Não
37,5%
Figura1–Oúnicofatorderiscoencontradoisoladamente paraaumentodemortalidadeintra-hospitalarfoia insuficiênciarenalcrônica.Opercentualdepacientes cominsuficiênciarenalésignificativamentemaior nospacientesqueforamaóbitoemcomparac¸ãocomos pacientesquenãoforamaóbito.
tinhammaisde80anosetrêstinhamdiagnósticode insufi-ciênciarenalcrônica.Cincopacientestinhamfraturasdocolo dofêmur(quatrosubmetidosasubstituic¸ãoarticular)etrês transtrocantéricas(submetidosafixac¸ão).
Analisamos os casos de óbitos intra-hospitalares em relac¸ãoadiversasvariáveis,comdestaquepara:tipode fra-tura,tipodecirurgia,númerodedoenc¸asassociadas,estac¸ão do ano, osteoporose radiográfica e idade. Ao nível de sig-nificância de 5%,não hárelac¸ão entre óbitoeas variáveis conformeobservamos(tabela1).
O único fator de risco encontrado isoladamente para aumento de mortalidade intra-hospitalar foi a insu-ficiência renal crônica. O percentual de pacientes com insuficiênciarenalésignificativamentemaiornospacientes queforamaóbitoemcomparac¸ãocomospacientesquenão foramaóbito(fig.1).
Asmesmasvariáveisforamavaliadasemrelac¸ãoaotempo totaldeinternac¸ãoeotempodecorridoentreainternac¸ãoeo tratamentocirúrgico.Nenhumasemostrouestatisticamente significativaparaotempodeesperaatéacirurgia.Otipode cirurgiafoiestatisticamentesignificativoparaotempototal deinternac¸ão.Ospacientessubmetidosaosteossíntese fica-raminternadosmenostempodoqueaquelessubmetidosa substituic¸ãoarticular(tabelas2e3).
Hádiferenc¸aentreospercentuaisdepacientescom oste-oporose relatada e com osteoporose radiográfica, pois o percentualdepacientescomosteoporoseradiográficaé sig-nificativamentemaiordoqueopercentualdepacientescom osteoporoserelatada(fig.2).
Discussão
Tabela1–Comparac¸ãodeóbitointra-hospitalaremrelac¸ãoàsvariáveis:tipodefratura,tipodecirurgia,número dedoenc¸asassociadas,estac¸ãodoano,osteoporoseradiográficaeidade
Comparac¸ãoentreóbito(simounão)emrelac¸ãoàsvariáveis Óbito(%) Nãoóbito(%) Total(%) pvalor
Tipodefratura
Coloestável 0(0) 9(8,6) 9(8) 0,387b
Coloinstável 4(50) 35(33,3) 39(34,5)
Subtrocantéricainstável 0(0) 8(7,6) 8(7,1)
Transtrocatérica 4(50) 53(50,5) 57(50,4)
Total 8(100) 105(100) 113(100)
Tipodecirurgia
Fixac¸ão 3(42,9) 65(64,4) 68(63) 0,420a
Substituic¸ão 4(57,1) 36(35,6) 40(37)
Total 7(100) 101(100) 108(100)
Númerodedoenc¸asassociadas
0 0(0) 16(15,2) 16(14,2) 0,273b
1ou2 6(75) 70(66,7) 76(67,3)
3ou4 2(25) 19(18,1) 21(18,6)
Total 8(100) 105(100) 113(100)
Estac¸ãodoano
Inverno 3(37,5) 33(31,4) 36(31,9) 0,150b
Outono 4(50) 25(23,8) 29(25,7)
Primavera 1(12,5) 26(24,8) 27(23,9)
Verão 0(0) 21(20) 21(18,6)
Total 8(100) 105(100) 113(100)
Osteoporoseradiográfica
Sim 8(100) 99(94,3) 107(94,7) 1,000a
Não 0(0) 6(5,7) 6(5,3)
Total 8(100) 105(100) 113(100)
Faixaetária
60a70anos 0(0) 22(21) 22(19,5) 0,115b
71a80anos 2(25) 33(31,4) 35(31)
>80anos 6(75) 50(47,6) 56(49,6)
Total 8(100) 105(100) 113(100)
Fonte:Arquivosdoservic¸o.
a TesteexatodeFisher.
b Testedarazãodeverossimilhanc¸a.
Tabela2–Comparac¸ãodotempodeesperaatéacirurgiaemrelac¸ãoàsvariáveis:tipodefratura,tipodecirurgia, númerodedoenc¸asassociadas,estac¸ãodoano,osteoporoseradiográficaeidade
Tempodecorridoentreinternac¸ãoecirurgiaemrelac¸ãoàsvariáveis pvalor
Tipodefratura Coloestável Coloinstável Subinstável Trans
Média±Desvio-padrão 4,5±2,4 8,6±9,3 8,9±7 5,9±3,6 0,364a
Mediana(mínimo-máximo) 6(1-7) 6(1-50) 8(0-22) 5(0-14)
Tipodecirurgia Fixac¸ão Substituic¸ão
Média±desvio-padrão 6,1±4,1 8,6±9,2 0,279b
Mediana(mínimo-máximo) 6(0-22) 6(1-50)
Númerodedoenc¸asassociadas 0 1ou2 3ou4
Média±desvio-padrão 5,7±4,6 6,7±5,5 9,2±10,1 0,215c
Mediana(mínimo-máximo) 4,5(1-17) 6(0-36) 6,5(2-50)
Estac¸ãodoano Inverno Outono Primavera Verão
Média±desvio-padrão 7,3±4,8 4,9±3,4 8,2±10,9 7,9±4,3 0,238c
Mediana(mínimo-máximo) 6(0-22) 4(1-12) 6(0-50) 7(1-17)
Osteoporoseradiográfica Sim Não
Média±desvio-padrão 6,9±6,6 8,8±4,4 0,482d
Mediana(mínimo-máximo) 6(0-50) 9(3-13)
Faixaetária 60a70anos 71a80anos >80anos
Média±desvio-padrão 7,8±5,3 8,5±9,5 5,7±3,7 0,221a
Mediana(mínimo-máximo) 6(0-22) 6(2-50) 5(0-17)
Tabela3–Comparac¸ãodotempodeinternac¸ãoemrelac¸ãoàsvariáveis:tipodefratura,tipodecirurgia,número dedoenc¸asassociadas,estac¸ãodoano,osteoporoseradiográficaeidade
Tempodeinternac¸ãoemrelac¸ãoàsvariáveis pvalor
Tipodefratura Coloestável Coloinstável Subinstável Trans
Média±desvio-padrão 8,8±3,9 16,3±12,6 14,9±12,9 12,1±8,3 0,202a
Mediana(mínimo-máximo) 9(3-14) 13(1-56) 13(2-43) 10(3-54)
Tipodecirurgia Fixac¸ão Substituic¸ão
Média±desvio-padrão 11±6,9 16,1±12,4 0,027b
Mediana(mínimo-máximo) 9(2-43) 13(1-56)
Númerodedoenc¸asassociadas 0 1ou2 3ou4
Média±desvio-padrão 10,1±6,9 13,3±10,2 16,6±11,7 0,156c
Mediana(mínimo-máximo) 7,5(1-23) 11(2-54) 13(6-56)
Estac¸ãodoano Inverno Outono Primavera Verão
Média±desvio-padrão 13,1±7,9 12,4±12,3 15,3±12,7 13±6,9 0,738c
Mediana(mínimo-máximo) 12(3-43) 8(5-54) 12(2-56) 11(1-29)
Osteoporoseradiográfica Sim Não
Média±desvio-padrão 13,4±10,4 13,7±7 0,958d
Mediana(mínimo-máximo) 11(1-56) 12(6-22)
Faixaetária 60a70anos 71a80anos >80anos
Média±desvio-padrão 13,8±9,5 14,3±12,4 12,8±9,1 0,779c
Mediana(mínimo-máximo) 11,5(2-43) 11(4-56) 10,5(1-54)
a TestenãoparamétricodeKruskal-Wallis. b TestenãoparamétricodeMann-Whitney. c Modelodeanálisedevariância(ANOVA). d TestetdeStudent.
Emnossoestudoencontramos92,9%dasfraturas associ-adasatraumasdebaixaenergia.Númeromenordoquenos EstadosUnidos,ondeStevenseSogolow7associammaisde 95%dasfraturasaquedas.Trabalhosnacionaispublicam per-centuaisdiscretamentemenores:Hungriaetal.,887,3%,Astur etal.,391,4%eRochaetal.573,5%.Agrandemaioriadas que-das ocorre dentrode casa. Emnossa série, 76,9%.Hungria etal.,873,4%,Pereiraetal.,1362,6%.Amaioriadasquedas ocor-reuduranteodiapredominantementenoquartoseguidopor banheiro,locaisondeosidososficamsozinhos.Essesachados corroboramateoriadefendidaporHungria etal.,8 Siqueira etal.10ePinheiroetal.,15entreoutros,dequeuma melho-rianainfraestruturadasmoradiasdosidosos,comretirada
Osteoporose relatada x Osteoporose radiográfica
Osteoporose radiográfica
30,1%
5,3%
69,9%
Sim Não
94,7%
Osteoporose relatada
Figura2–Hádiferenc¸aentreospercentuaisdepacientes comosteoporoserelatadaecomosteoporoseradiográfica, poisopercentualdepacientescomosteoporose
radiográficaésignificativamentemaiordoqueopercentual depacientescomosteoporoserelatada.
Alémdisso,ovalordocoeficientedeKappaémenordoque 0,5(50%),oqueindicabaixaconcordânciaentre
osteoporoserelatadaeradiográfica.
demóveisdesnecessários,evitarchãoescorregadio,barrasde apoio aoladodovasosanitárioechuveiro,evitartapetese capachos,entreoutrasmedidas,poderiaevitardiversas fratu-ras.
Aindaemrelac¸ãoàsquedas,outrosfatoresderisco conhe-cidossãoidentificadosemnossaamostra.Ospacientesque usavammaisdeumtipodemedicac¸ãorelataramqueforam prescritas, muitas vezes, por médicos diferentes e quase nuncaforamrevisadasafimdeprevenirocorrênciadequedas, medidadefendidaporSiqueiraetal.10Somentedoispacientes (1,8%)faziamatividadefísica.Siqueiraetal.10mostramuma maiorprevalênciadequedasemidosossedentários.Bandeira eCarvalho16concluemqueatividadefísicaprevinecontra fra-turadofêmurproximalediminuioíndicedeosteoporose.
Somente 16 pacientes não relataram doenc¸as e22 não faziam uso de medicac¸ões; 76 referiram ter uma ou duas comorbidades e 21, três ou mais. Nenhum desses dados mostrou-se estatisticamente significativo para mortalidade intra-hospitalarouparaoaumentodotempodeesperaaté acirurgia,porémsãofatoresrelevantesparamortalidadeem atéumanopós-operatório.1,2,11
Kootetal.,18quemostramfaltadecorrelac¸ãoentreoíndicede Singhedensitometria.Independentementedareal prevalên-ciadaosteoporoseemnossaamostra,chamaatenc¸ãoofato desomenteumpacienteestaremusodemedicac¸ão especí-ficaparatratamentodadoenc¸a(alendronato).Jenningsetal.17 fizeramum importantelevantamento emdiversosservic¸os nosEstadosUnidoseconcluíramquesomente2%recebiam tratamentoadequadoparaosteoporoseduranteinternac¸ãoe apósaalta.TambémnãoérotinanaSanta Casaintroduzir essetipodetratamentonessemomento.
Aproporc¸ãoentreossubtiposdefraturanãoéuniforme entreasséries.Ramalhoetal.9relatam50,7%defraturasdo colo dofêmure49,3% trocantéricas. Bentler etal.4 encon-traram 45% de fraturas trocantéricas. Encontramos 57,5% trocantéricas(7,1%subtrocantéricase50,4% transtrocantéri-cas)e42,5%docolodofêmur.
Cincopacientesnãopuderamseroperados,poiscondic¸ões clínicas tornavam o risco cirúrgico muito elevado. Pratica-mentetodosospacientescomfraturastranstrocantéricasque puderamseroperadosforamsubmetidosafixac¸ãointerna, assimcomoaquelescomfraturasestáveisdocolodofêmur. Foramfeitas40substituic¸õesarticulares,39nasfraturasdo colodofêmurinstáveiseumaemfraturatranstrocantérica com artrose avanc¸ada. Inicialmente chama atenc¸ão o fato de todas as fraturas instáveis do colo terem sido tratadas comsubstituic¸ãoarticularenenhumacom reduc¸ãoe oste-ossíntese.Devemos,noentanto,atentarquenossaamostra compreende somentepacientes acimade 60 anos, emsua grandemaioriacomosteoporoseradiográficaecomorbidades associadas.Parker etal.19 defendemahemiartroplastia em vezdefixac¸ãointernaparapacientesidososcomfraturasdo colodofêmurdesviadas.
Otempomédiodeinternac¸ãofoide13,5diaseotempo médio de espera até a cirurgia foi de sete dias. Não dife-remmuitoderesultadosdeoutrassériesnacionais.Mesquita etal.2 encontrammédiadeesperade6,8diase14diasde internac¸ão.Asturetal.,3noHospitalSãoPaulo,6,89e10,65. NosEstadosUnidos,Bentleretal.4fizeramumgrandeestudo eencontraramumtempomédiodeinternac¸ãode7,2dias.
Muitosautoresdefendemaideiadequeoatrasonacirurgia aumentaoriscodemortalidadeintra-hospitalareematéum anopós-operatório.2,11,12Essesestudoschamamatenc¸ãopara oproblemadademoraexcessivaatéaintervenc¸ãocirúrgica noshospitaisdarededoSUS.Osestudosinternacionaislevam emcontaperíodosdeesperaentre12,24ou48horas,aopasso quenossospacientesesperaramemmédiasetedias.
Acreditamosqueacondic¸ãoprecáriadesaúdedos paci-entesno momento da fratura edificuldades doservic¸o na conduc¸ãodoscasossãoasprincipaiscausasdosatrasos. Pro-blemasdoservic¸orelacionadosafaltadevagaparainternac¸ão, faltadevagaemUTIesuspensãodecirurgiasacarretamnum maiortempodeinternac¸ãonessafase.
Tipodefratura,idadeenúmerodecomorbidadesnão afe-taramsignificativamenteotempodeesperaatéacirurgia.
Otempototaldeinternac¸ãonassériesnacionaisémuito maiordoquenasinternacionais.Atribuímosessetempo pro-longadoàdemoradacirurgia,mastambémafatoressociais efaltadepolíticaspúblicasparaacolhimentopós-operatório dessespacientes.Todosospacientesquereceberamaltaem nossasérie foram para os seus lares ou de seus parentes,
enquanto 14% dessesna sériede Bentler et al.4 Osoutros foram acolhidosemservic¸osderetaguardaaté acura defi-nitiva. Tipo de fratura, idade e número de comorbidades nãoafetaramsignificativamente otempodeinternac¸ão.Os pacientes com fraturas instáveis e aqueles submetidos a substituic¸ãoarticularficarammaistempointernadosdoque aquelessubmetidosafixac¸ão.Mesquitaetal.2reportam resul-tadosemelhante,porématribuemesseaumentoaummaior tempodepreparopré-operatórioparaacirurgiade artroplas-tia.Emnossasérieotipodecirurgianãoafetouotempode esperaatéacirurgia.
Oito pacientes morreram durante ainternac¸ão, taxa de 7,1%. Sakaki et al.1 em suarevisão reportam 5,5%.Outros trabalhos nacionaisreportamtaxas semelhantes:Pereira et al.13 noRiodeJaneiro,8,9%eRiccietal.6noRioGrandedo Sul,5,45%.Bentleretal.,4tambémemrevisão,2,7%nos Esta-dosUnidos. Outrostrabalhos nosEstados Unidos mostram taxas bemmais baixas.Tipo de fratura,idade, número de comorbidadesetipodetratamentonãoinfluenciaramataxa de mortalidade intra-hospitalar. Insuficiência renal crônica mostrou-sefatorderiscoisoladoparamortalidade.Nãoestá bemclarooporquêderesultadostãodistintosentreas amos-trasnacionaiseinternacionais.Acreditamos,noentanto,que ascondic¸õesclínicasprecáriasdamaioriadospacientesno momentodainternac¸ão,secundáriasaumatendimento defi-cientenaredebásicadesaúdeeoatrasoparaarealizac¸ãoda cirurgiaumafaseemqueospacientesaindaestãoacamados, favorececomplicac¸õescomoinfecc¸ãorespiratória, tromboem-bolismo edelirium, como ocorreu no caso dopaciente que faleceucompneumoniaapós54diasdeinternac¸ão.Talteseé defendidaporPanulaetal.20
Acreditamosquemuitosdosfatoresestudadosnãoforam estatisticamentesignificativosdevidoàlimitac¸ãodonúmero daamostra,porémosvaloresencontradosnãodiferiram total-mentedasgrandesséries.Devemoscontinuaraseguiresses indivíduosafimdecorrelacionarasvariáveisestudadasà mor-talidadeemumano.
Conclusão
Os pacientes atendidos nesta instituic¸ão apresentamperfil epidemiológico semelhante àqueles encontradosem litera-turanacional.
Insuficiência renal crônica é umfator significativo para mortalidadeintra-hospitalar.
Medidaspreventivassimpleseeficazes,comodiagnóstico precoceetratamentodaosteoporoseepráticaregularde ati-vidadesfísicas,nãosãoadotadas.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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