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O lugar da música religiosa na construção psicossocial da identidade de jovens presbiterianos independentes no Estado de São Paulo

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

"O lugar da música religiosa na construção

psicossocial da identidade de jovens presbiterianos

independentes no estado de São Paulo"

Sueli da Silva Machado

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE HUMANIDADES E DIREITO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

"O lugar da música religiosa na construção

psicossocial da identidade de jovens presbiterianos

independentes no estado de São Paulo"

Orientador: Professor Dr. Leonildo Silveira Campos. Dissertação de Mestrado apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de mestre.

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FICHA CATALOGRÁFICA

M18L

Machado, Sueli da Silva

O lugar da música religiosa na construção psicossocial da identidade de jovens presbiterianos independentes no estado de São Paulo / Sueli da Silva Machado -- São Bernardo do

Campo, 2012. 151fl.

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) –

Faculdade de Humanidades e Direito, Programa de Pós

Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo

Bibliografia

Orientação de: Leonildo Silveira Campos

1. Música nas igrejas - Igreja Presbiteriana Independente – São Paulo (Estado) 2. Igreja – Trabalho com jovens I. Título

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A dissertação de mestrado sob o título “

O lugar da música religiosa na

construção psicossocial da identidade de jovens presbiterianos

independentes no estado de São Paulo”

, elaborada por Sueli da Silva

Machado foi apresentada e aprovada em 22 de março de 2012, perante a

banca

examinadora

composta

por

Leonildo

Silveira

Campos

(Presidente/UMESP), Marilia Martins Vizzotto (Titular/UMESP) e

Jaqueline Z. Dolghie (Titular/MACKENZIE).

________________________________________

Profº Dr. Leonildo Silveira Campos Orientador e Presidente da Banca Examinadora

_________________________________________

Profº Dr. Leonildo Silveira Campos

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa em Ciências da Religião.

Área de concentração: Religião, Sociedade e Cultura.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela sua bondade durante estes anos de estudos e desafios.

Ao Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos pela forma que nos conduziu

nesta produção científica, pela sua amizade e carinho.

Ao Prof. Dr. James Farris pelo incentivo e desafio na primeira fase

desta pesquisa.

Ao Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva pela motivação.

A Professora Cecília Aparecida Vaiano Farhat pela colaboração e

disponibilidade no tratamento dos dados da pesquisa.

A minha família, pela paciência, pelo apoio, pela ajuda e pela

presença sempre acolhedora.

Ao meu filho Luca George que durante todo este tempo esteve ao meu

lado em mais um ideal a ser perseguido.

A minha amiga Damares pela amizade, companheirismo e incentivo.

Aos alunos/as da Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana

Independente do Brasil, pela pesquisa realizada.

Aos adolescentes e jovens que participaram da pesquisa.

Aos amigos, Carlos Eduardo, Daniel, Emerson, João Raul, Lauana,

Lidia, Marcinha, Rodrigo, pela companhia e pelos sorrisos, mesmo,

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MACHADO, Sueli da Silva. O lugar da música religiosa na construção psicossocial da identidade de jovens presbiterianos independentes no estado de São Paulo. Universidade Metodista de São Paulo. Mestrado em Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, 2012.

RESUMO

Esta pesquisa busca estudar o lugar da música religiosa na construção psicossocial da identidade de jovens presbiterianos independentes no estado de São Paulo. Seu objetivo visa verificar como se desenvolveu a identidade jovem dentro das mudanças e transformações da sociedade pós-moderna e de que maneira a música religiosa esteve presente nessas alterações. Primeiramente, foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica,

que procurou discutir temas como “identidade”, “adolescência”, “juventude”, “modernidade”, pós-modernidade”, “cultura hibrida”, “música” e “religião”. Na

segunda parte foi realizado a análise e discussão dos dados de uma pesquisa de campo com 245 jovens das comunidades locais, situados na faixa etária de 15 a 25 anos. O objetivo primordial foi o de verificar de que maneira se deu a construção dessa identidade jovem moderna e de como a música religiosa contribuiu e influenciou. A pretensão foi também a de verificar a construção identitária dos jovens respondentes levando-se em consideração o grupo social em que estão inseridos e de que maneira a cultura pós-moderna os ajudou na definição de seus gostos artísticos e musicais. Acredita-se que esta pesquisa ajudará na compreensão de momento de tantas transformações sociais, mudanças físicas, emocionais que experimentam as comunidades religiosas, as novas gerações e a prática cultica em todas elas.

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MACHADO, Sueli da Silva. O lugar da música religiosa na construção psicossocial da identidade de jovens presbiterianos independentes no estado de São Paulo. Universidade Metodista de São Paulo. Mestrado em Ciências da Religião. São Bernardo do Campo, 2012.

ABSTRACT

This research aims to study the place of religious music in the psychosocial construction of the identity of Independent Presbyterian youth in São Paulo state. Its objective aims to verify how the youth identity developed within the changes and transformations of post-modern society and in which way the religious music was present in those changes. In a first moment a bibliographic research was developed which aimed to discuss

themes like “identity”, “adolescence”, “youth”, “modernity”, “post-modernity”, “hybrid culture”, “music” and “religion”. In the second part the analysis and discussion of the

field research data with 245 young people from local communities, at the age of 15 up to 25 years old, was accomplished. The paramount objective was to verify in which way this young modern identity was constructed and how the religious music contributed and influenced this process. There was also an intension to verify the identity construction of the young people, considering the social group of which they are part and how the post-modern culture helped them in the definition of their artistic and musical tastes. It is believed that this research will help in the understanding of the moment of so many social transformations, physical and emotional changes that religious communities experience, the new generations and the worship practice in all of them.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

1 CAPITULO - A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PSICOSSOCIAL E RELIGIOSA DOS JOVENS PRESBITERIANOS INDEPENDENTES: ASPECTOS TEÓRICOS. ... 20

Introdução...20

1.1 A teoria psicológica de Mauricio Knobel sobre adolescência e identidade...21

1.2 A teoria psicossocial de Erik Erikson sobre a identidade humana...29

1.3 Os estágios da fé: a identidade jovem para James W. Fowler ... 344

1.4 A construção social da identidade jovem ... 411

1.4.1 - Identidade cultural na pós-modernidade... 49

1.4.2 Juventude moderna e movimento estudantil ... 522

1.4.3 - A identidade jovem e o momento atual ... 555

Conclusão... ... 566

2 CAPÍTULO - A PRESENÇA DA MÚSICA NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE JOVENS EVANGÉLICOS. ... 600

Introdução... ... 600

2.1 A música na formação da personalidade ... 611

2.2 A música como instrumento cognitivo e emocional ... 644

2.3 A dimensão sociologica da música: a formação do gosto...67

2.4 Os movimentos musicais no Brasil ... 67

2.5 Cultura e música na pós modernidade ... 683

2.6 A produção musical da pós modernidade...735

2.7 A tradição musical protestante versus cultura gospel...78

Conclusão...83

(9)

Introdução... ... 855

3.1 O método... ... 855

3.2 O perfil dos participantes ... 86

3.3 Discutindo o gosto musical ...94

Conclusão... ... 10606

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 10808

BIBLIOGRAFIA ... 1133

ANEXO 1 QUESTIONÁRIO ... 11919

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Introdução

Esta dissertação tem como tema “O lugar da música religiosa na

construção psicossocial da identidade de jovens presbiterianos independentes no estado de São Paulo". A pesquisa que deu origem a este texto teve como objetivo identificar de que maneira a presença da música religiosa contribui na construção

psicossocial da identidade desses jovens. Os termos “juventude”, “jovem”, “adolescência”, “identidade” ou “identidade jovem” são palavras que aparecem com freqüência nas discussões de psicólogos, sociólogos e outros cientistas do comportamento humano, que procuram explicá-los ou conceituá-los de acordo com

suas teorias.

O período conhecido como adolescência e juventude marcado na

vida das pessoas por muitas mudanças físicas, emocionais e sociais. Estas mudanças acontecem de forma intensa, proporcionando um estado instável na identidade do jovem, que diante de tantas alterações, precisam superar este mundo confuso dos hormônios em turbulência. Esse período marca a vida de muitos jovens na relação com seus pais, com o grupo em que estão inseridos e na vida cotidiana com as pessoas que lhes estão próximas. Além dessas mudanças há também transformações no cenário sócio-cultural, a sociedade moderna também está em mudanças. Conforme Stuart Hall (2005) são essas mudanças estruturais que tem influenciado o funcionamento das classes, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade. Essas mudanças e transformações também causam impactos nas culturas e na religião, e em todas as esferas e estágios da vida humana.

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humana, quer seja individual ou coletiva. Em se tratando de juventude, ela está presente diariamente na vida destes jovens e adolescentes que criam a sua própria música em grupos de amigos, imitam seus cantores preferidos, discutem música com seus pares. Conforme Palheiros (2004) apud Merrian (l964); Hargreves ( l999) e North (1999), há três funções psicológicas que operam na música: a cognitiva, emocional e social. Esses mesmos autores, sugerem que as funções sociais da música podem ser manifestadas na regulação dos estados emocionais, no desenvolvimento da identidade e das relações interpessoais. Os jovens experimentam a música através da linguagem e do grupo em que estão inseridos, o que Mauricio Knobel (1981) chama de tendência grupal.

A escolha deste tema está diretamente ligada a tais mudanças que a sociedade tem experimentado ao longo destes anos e que causaram alterações no comportamento e gosto dos jovens e adolescentes. Assim, a prática musical das igrejas e comunidades locais foi alterada em a novos desafios que provocaram alterações no comportamento social.

A Igreja Presbiteriana Independente (IPI) é uma instituição religiosa organizada em 1903, como conseqüência de uma cisão ocorrida do presbiterianismo brasileiro. Ela pertence à tradição reformada, é de confissão calvinista, portanto, faz

parte das chamadas “igrejas históricas” que se definem pelo cuidado da liturgia e na

pregação. O culto dessa igreja, desde a sua fundação tem tentado seguir moldes instituídos pela Reforma do Século XVI. A juventude da época considerava este culto, segundo Carl Joseph Hahn (1989) sem criatividade. Com o passar do tempo, vários grupos foram surgindo e estabelecendo novas formas cúlticas. Como reação a estes grupos e a insistência de que ocorressem reformas nos cultos, foi publicado o livro

“A Marcha da Mocidade” de Eduardo Pereira de Magalhães, neto do fundador

Eduardo Carlos Pereira e secretário geral da “União da Mocidade Presbiteriana Independente”, que entre muitos apontamentos sobre a vida da igreja, o culto era o

maior alvo das tensões produzidas por esse jovem (MAGALHÂES, 1938).

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viu era o engessamento desta hinódia que revelou um discurso teológico oriundo do pietismo e puritanismo da época, movimentos religiosos que enfatizavam a piedade, os sentimentos e a moral rígida. Essa característica musical marcou todo o protestantismo brasileiro até que movimentos modernos e secularizantes começaram a provocar mudanças dentro destas igrejas, como foi o movimento cultural e musical conhecido por

“Tropicalismo” (1967), que tinha como proposta provocar uma intervenção crítico- musical na cultura brasileira. Este movimento buscava desacreditar a sociedade de consumo e a política autoritária do Brasil após o golpe de 1964. Influenciada por essas propostas, a juventude presbiteriana independente começou a produzir e a cantar

músicas com ritmos e estilos brasileiros como o baião, o samba, etc. Essas mudanças pelas quais passou o culto, as músicas e a juventude presbiteriana,

foram resultado das transformações relacionadas à passagem de uma sociedade rural para uma sociedade urbana, que, na medida em que experimentavam a modernidade também alteravam suas maneiras de se comportarem.

Para Danielle Hervièu-léger (2005) os jovens são os responsáveis por absorver e salvaguardar toda a construção simbólica, ritos e costumes das sociedades ou instituições nas quais eles vivem, a própria cultura passa por interferências em todo tempo. As pessoas constroem sua identidade sócio-religiosa a partir dos diversos recursos simbólicos colocados a sua disposição e que podem ter acesso diante das experiências em que estão implicados. Mas, segundo Hall (2005), a instabilidade da identidade está relacionada com as mudanças que a modernidade pode exercer sobre as pessoas, e assim como os impactos que a globalização exerce no surgimento e manutenção da identidade cultural.

Nesse sentido tanto os jovens como a instituição religiosa da qual eles fazem parte, foram alcançadas por tais mudanças e sofreram os efeitos da globalização. Estes jovens para manterem-se nas igrejas locais lançaram mão de novos recursos simbólicos impostos por uma nova cultura globalizada. Graças a televisão, ao rádio, a internet, eles tiveram o gosto musical alterado. Observamos ainda, que tais mudanças promoveram entre estes jovens uma postura anti-institucional. O resultado foi o surgimento de novas práticas religiosas, entre outras, as ligadas ao lugar da prédica no culto, abrindo mais espaço para práticas que seriam conhecidas no

“louvorzão”.

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socializar seus jovens, o faz dentro destes parâmetros litúrgicos tradicionais, mas que teve que ajustar-se à concorrência no mercado de bens simbólicos para se usar as expressões de Pierre Bourdieu (1983). A música, portanto, parece uma das melhores formas que o jovem presbiteriano encontra para permanecer nestas comunidades tradicionais, mas sem perder de vista a cultura midiática ao seu redor. A música dá a esses jovens um sentimento de pertença ao grupo. É uma forma de sociabilizar-se e adaptar-se a cultura da época, sem que para isso seja necessário abandonar o grupo da qual faz parte.

A população pesquisada é composta de jovens e adolescentes, que freqüentam as comunidades da Igreja Presbiteriana Independente. Essa Igreja atualmente é composta por 526 comunidades locais, espalhadas por quase todos os estados brasileiros, com um total de aproximadamente 92 mil membros, sendo 23 mil jovens. No estado de São Paulo estão estabelecidas 254 comunidades. A nossa pesquisa foi feita em 30 comunidades. Sendo 11 na extensão do estado, 15 na Capital e quatro na Grande São Paulo. Essa pesquisa levantou dados fornecidos por 245 jovens 1.

Os dados usados neste trabalho foram colhidos por estudantes de Teologia, da Faculdade de Teologia de São Paulo, matriculados nas disciplinas

“Introdução a Sociologia” e “Igreja e Sociedade”. Para avaliação semestral foi

solicitado para as duas turmas uma pesquisa sobre juventude, sociedade e igreja, a fim de discutirem em sala de aula as mudanças ocorridas nos últimos anos. O instrumento de investigação foi um questionário com 25 perguntas fechadas e cinco abertas (Anexo 1). Na pesquisa, participamos com o orientador, professor Leonildo Silveira Campos das aulas, do planejamento da pesquisa e das discussões decorrentes delas. Assim pudemos ajudar na elaboração do questionário, na realização da pesquisa, na leitura dos dados e na tabulação dos mesmos. Participaram dela, jovens com idade entre 15 a 25 anos, dos sexos feminino e masculino, que frequentam as igrejas presbiterianas independentes no estado e cidade de São Paulo. Os respondentes foram selecionados de forma aleatória, considerando apenas a faixa etária estabelecida e as igrejas escolhidas por cada aluno/a. A participação dos respondentes foi livre, dependendo da vontade e disposição do jovem.

1

(14)

Para delimitar a população pesquisada, utilizamos as definições e

classificações elaboradas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, E.C.A, em que adolescente é definido para efeito de lei, as pessoas entre 12 e 18 anos de idade (ECA, 2000, art 2º) e a Organização Mundial de Saúde, que define que adolescência é um período que começa aos 10 anos e vai até os 19 anos se estendendo até os 24 anos, caracterizando-se, porém, juventude esse período dos 15 a 24 anos.

Para estabelecer o estado atual da questão levantada, foi realizada

uma pesquisa bibliográfica que utilizou livros, artigos em revistas especializadas e

trabalhos acadêmicos a respeito da relação entre música e juventude nas igrejas. No

que se refere à dimensão teórica procurou abrigo nas teorias psicológicas e

sociológicas de autores como Mauricio Knobel (1980 e 1981), Erik Erikson (1976 e

1998) que afirmaram sobre a construção da identidade do adolescente e jovem. Esta

construção acontece a partir da caminhada para a vida adulta e desenvolve-se nas suas

famílias e grupos sociais em que estão inseridos. Como a população pesquisada

tratava-se de jovens de uma instituição religiosa, a abordagem religiosa do tema fez

parte do levantamento teórico. Para tanto, autor como James W. Fowler (1992) trouxe

para o conteúdo teórico o processo da construção da identidade religiosa e de que

maneira se estabelece a fé para estes jovens. Outros teóricos, estes da sociologia

também nos ajudaram na compreensão da formação social da identidade jovem e a

formação de gosto como sendo um produto da classe social que o individuo faz parte,

como Karl Mannheim (1980), Pierre Bourdieu (1992 e 1983), Peter Berger e Thomas

Luckmann (1987 e 1980) e nos estudos culturais como. Stuart Hall (2005),

Na busca de sua identidade adolescente, segundo Mauricio Knobel

(1981) a adolescência é um processo de crescimento e desenvolvimento humano, marcado por desequilíbrios e estabilidades extremas. O "adolescer" significa assumir o desempenho de um papel adulto que o levará a maturidade, mas que muda de uma cultura pra outra, de uma sociedade para outra e de grupos sociais para outros. Enquanto isso, mudanças em seu corpo estão ocorrendo de forma clara e nítida. O adolescente vive o conflito de não ser mais criança, mas não sente que seja um adulto.

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problemas com os do grupo na qual ele vive, deve obrigar a pensar em buscar soluções através da utilização dos grupos. A pessoa que vive o período da adolescência recorre a um comportamento defensivo que é a busca de uniformidade, ocorrendo um processo de superidentificação em massa, ou seja, todos são iguais, se vestem da mesma forma, e um se identifica com o outro. Isto lhes garante a sensação de segurança e estima pessoal.

O processo é tão intenso que por vezes as pessoas se parecem mais com o grupo que propriamente com o grupo familiar. É no grupo que os adolescentes encontram pessoas que possam assumir o papel substituto da figura da família. A procura de um líder, a qual se submete, mesmo que este seja autoritário ou que assuma as mesmas características do pai e mãe. A música é uma forma de identificação com o

grupo, mesmo as músicas que contradizem o suposto “mundo saudável dos adultos” e

o mundo sócio-político, não deixa de ser uma forma de identificação (KNOBEL, 1981).

Além de Knobel, temos na psicologia, Erik Erikson (1976) que desenvolve sua teoria sobre identidade na tentativa de entender tal fenômemo. A construção da identidade jovem, segundo Erikson, se dá a partir de três dimensões, a dimensão biológica, que do ponto de vista da psicanálise, diz respeito a um poderoso conjunto de pulsões e impulsos em que o recém nascido humano possui; a dimensão social, dirá que o ser humano nasce com uma grande dependência social e a dimensão individual, que alega, que nenhum individuo desenvolve personalidades idênticas, mesmo considerando a existência de um plano básico biológico e social. O ser humano psicologicamente é aquele que desenvolve um firme sentido de identidade, quando consegue reconhecer que é uma pessoa única, dentro de uma determinada sociedade, com um passado, presente e futuro. Porém, ele não pode desenvolver este sentimento de ser único e de possuir um destino próprio e singular na ausência de uma cultura.

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jovem a não entender bem que papel deve desempenhar e dessa forma não saiba como

agir porque “não sabe exatamente quem é”.

Na pesquisa procurou-se abordar a presença da religião como fator importante na construção psicossocial da identidade. Buscamos em James W. Fowler (1992) e em seus estudos sobre o ciclo da vida humana como esse fato ocorre. Para Fowler o desenvolvimento humano se dá em estágios como na teoria de Erikson. Fowler organizou e sistematizou a dinâmica do desenvolvimento da fé para ampliar a compreensão de como acontece este processo de desafios e crises humanas.

Com Fowler temos o conceito do que seja a fé e a maneira pela qual, uma pessoa ou grupo responde ao valor e ao poder transcendente por meio de uma “tradição cumulativa”. Para ele, uma “tradição cumulativa” pode ser constituída por textos de escrituras ou leis, incluindo narrativas, mitos, profecias, relatos de revelações, símbolos visuais e de outros tipos, como tradições orais, música, dança, ensinamentos éticos, teologias, credos, ritos, liturgias, arquitetura e muitos outros elementos. Esses elementos e imagens são formados porque vivemos em comunidades sociais e por isto os moldamos segundo as construções partilhadas deste grupo ou classe (FOWLER, 1992).

A outra contribuição vem da sociologia de Peter Berger e Thomas Luckmann (1987) conceituando a identidade como sendo uma construção social e cultural. A identidade é formada por processos sociais e uma vez cristalizada é mantida, modificada ou mesmo modelada por relações sociais. Os processos sociais implicados na formação e conservação da identidade são determinados pela estrutura social. Inversamente, as identidades produzidas pela interação do organismo, da consciência individual e da estrutura social reagem sobre a estrutura social dada, mantendo-a, modificando-a ou mesmo modelando-a. A identidade é, portanto, um elemento chave da realidade subjetiva e como realidade subjetiva, deriva da dialética entre um individuo e a sociedade. (BERGER e LUCKMANN, 1987).

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dá por meio de sistemas de signos como a pintura ou a própria linguagem, e a representação interna ou mental que é a representação do real na consciência (SILVA, 2005).

A identidade do jovem na sociedade moderna foi objeto de estudo de Karl Mannheim (1980) que, segundo a psicologia e a sociologia modernas do

adolescente, a chave para se entender este período da vida humana não está somente na

efervescência biológica de momento do desenvolvimento humano porque ele é

universal e acontece no tempo e no espaço para todos igualmente. Mas, para ele o que é

decisivo neste período é que o adolescente entra nesta fase sendo confrontado com

valorizações antagônicas que antes não tinha experimentado.

Segundo Pierre Furter (1967) e Mannheim (1980) há uma relação

direta de juventude e modernidade. Para esses autores é necessário estudarmos a

juventude dentro de uma situação global. A juventude moderna deve ser compreendida

em função da juventude do mundo e que, portanto, juventude e modernidade são dois

temas em prodigiosa expansão. Juventude como representação das múltiplas

oportunidades que são oferecidas a cada nova geração e o que se refere a modernismo e

sua necessidade de renovação, da rejeição da continuidade e das tradições (FURTER,

1967).

Com respeito às mudanças que vem ocorrendo na cultura contemporânea, Mike Featherstone (1995), afirma que, elas podem ser compreendidas em termos de modificações nos campos artísticos, intelectuais e acadêmicos. Essas mudanças se deram na esfera cultural mais ampla, envolvendo novos modos de produção, consumo e a circulação de bens simbólicos. As práticas e experiências cotidianas de diferentes grupos que usaram regimes de significação de diferentes maneiras estão desenvolvendo novos meios de orientação e estrutura de identidade (FEATHERSTONE, 1995).

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Nesse sentido a prática musical está ligada a movimentos geradores e propagadores de determinados gostos.

Ao longo da pesquisa o termo “pós-modernidade” apareceu muitas

vezes. A pós-modernidade é um termo discutível no estudo da cultura contemporânea.

No centro dessa cultura contemporânea está o conceito de “hibridismo cultural” que

nos ajuda a explicar esse novo modo de vida de louvor e de participação das atividades religiosas. Esta cultura hibrida constitui por resultar do cruzamento entre aspectos tradicionais de ser protestante e as propostas pentecostais praticadas com muito sucesso no meio urbano brasileiro, no avanço da ideologia do mercado de consumo e na cultura midiática.

A cultura gospel é resultado do hibridismo cultural. A característica dessas músicas cantadas pelos jovens possui um teor sentimental que podem levá-los a se emocionarem e rememorar experiências individuais de conversão e comunhão. Isto porque, estas músicas unem a melodia e a letra fazendo as pessoas experimentarem um sentido de esperança e segurança nos atos divinos. Este estilo musical faz parte da renovação de gêneros musicais nacionais ou mesmo estrangeiros, um processo que acompanha a globalização, a diversidade e o pluralismo da sociedade pós moderna.

O presente texto está estruturado da seguinte forma: No primeiro capítulo, descreveremos como ocorre o desenvolvimento da identidade

jovem na sociedade pós-moderna, considerada contemporânea. A evolução do seu desenvolvimento da identidade como uma construção psicossocial. As teorias que utilizamos foram de teóricos da psicologia e da sociologia, como Mauricio Knobel (1981), Erick Erikson (1976) e James Fowler (1992) e de outros que tem se destacado

no âmbito da sociologia como Karl Manheinn (1980), Pierre Bourdieu (1983) e nos

estudos culturais de Stuart Hall (2005).

No segundo capítulo, tivemos como objetivo, verificar a presença da música religiosa na construção psicossocial da identidade dos adolescentes e jovens. Destacando que o gosto musical desses já é uma produção da nova prática religiosa inserida dentro do hibridismo cultural. Uma música com nova significação de diferentes maneiras, e que estão desenvolvendo novos meios de orientação e estrutura de identidade.

(19)

da música na vida jovem das comunidades da Igreja Presbiteriana Independente no estado de São Paulo e traçar o perfil desses jovens.

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Capitulo 1 - A construção da identidade

psicossocial e religiosa dos jovens presbiterianos

independentes: aspectos teóricos.

Introdução

Este primeiro capítulo tem por objetivo discutir as várias teorias

que podem ser aplicadas na descrição e interpretação da inserção de adolescentes e

jovens, por meio da música, em comunidades presbiterianas independentes, situadas em

cidades e do estado de São Paulo. Para isso, lançou-se mão de teóricos ligados a

psicologia como Mauricio Knobel (1981), Erik Erikson (1976) e James Fowler (1992) e

de outros que tem se destacado no âmbito da sociologia como Karl Mannheim (1982),

Pierre Bourdieu (1982 e 1983), Peter Berger e Thomas Luckmann (1987) e nos estudos

culturais de Stuart Hall (2005).

Na sua primeira parte, este capítulo terá a contribuição teórica de Mauricio Knobel, psicanalista argentino, cuja teoria pretende descrever as características da adolescência e as transformações fisico-emocionais que nelas ocorrem. Na segunda parte, destaca-se a contribuição da discussão proposta por Erik Erikson, sobre o desenvolvimento psicossocial da vida em oito estágios. Erikson dá especial importância ao período da adolescência, devido ao fato ser a transição entre a infância e a idade adulta, em que se verificam acontecimentos relevantes para a personalidade adulta. A seguir, o leitor encontrará uma síntese da teoria psico-religiosa de James Fowler, professor e pesquisador, sobre os estágios da fé e a maneira de como se dá o desenvolvimento da fé humana. A terceira parte deste capítulo, reúne algumas teorias expostas pelo sociólogo do conhecimento Karl Mannheim, e por teóricos como

(21)

Este primeiro capítulo ajudou na compreensão de um novo objeto de estudos, que se socializam no decorrer de um período situado entre o fim da infância e o começo da vida adulta dentro dos limites dessa pequena denominação protestante. Pressupomos que tal inserção sócio-cultural se dá a partir de um espaço eclesial

litúrgico dada aos jovens e adolescentes conhecido como “momentos de louvor” ou simplesmente “louvorzão” . Quais são as características psicossociais desses entusiastas participantes dos cultos dessa denominação religiosa?

1. Teorias psicológicas sobre adolescência e juventude (Knobel e Erikson).

Neste item apresentaremos duas teorias psicológicas sobre a adolescência e juventude. A primeira é de Mauricio Knobel (1981) e a outra Erik

Erikson (1976,1998). Ambas fornecem a nosso ver, uma compreensão da adolescência e

juventude, ao enfatizar que elas se definem como identidade pessoal sugeridas pelo seu

contexto social.

1.1 A teoria psicológica de Mauricio Knobel sobre adolescência e identidade

Existe uma distinção entre adolescência e puberdade feita por Mauricio Knobel (1981) muito oportuna na abordagem de nosso tema. Knobel entende a adolescência como uma transformação bio-psico pela qual em que todos os seres humanos passam. As meninas na puberdade tem mudanças anátomo-fisiológicas, que se caracterizam por crescimento de glândulas mamárias; surgimento de pêlos nas axilas e órgãos sexuais; aumento de gordura nas nádegas e dilatação da bacia pélvica; e a menarca, a primeira menstruação. Já nos meninos ocorre o desenvolvimento dos órgãos sexuais, testículos e pênis; a mudança da voz que se torna mais grave; o aparecimento de pêlos na região púbica, em torno dos órgãos sexuais, nas axilas e na face. Todas essas transformações são produzidas pelos neuro-hormonais e estão ligados ao desenvolvimento da sexualidade.

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estabilidades extremas provocam perturbação tanto neles como nos adultos. Porém, isso é necessário para que surja uma nova identidade social. O adolescente vive um conflito, pois não é mais criança, mas também não é adulto. Ora, esse processo se dá através de muitas mudanças, físicas e emocionais. Para Roberto Chieza (2002), o período é de tantas mudanças, decepções e frustrações, que talvez a maior dificuldade seja as condições em que a família encontra-se, ou seja, os familiares nem sempre estão preparados para ajudarem os adolescentes neste período de transição.

O adolescente neste processo experimenta três formas de luto. Segundo Arminda Aberastury (1981), o primeiro é a perda deste corpo infantil, o segundo é a perda da identidade infantil, ele já não é mais criança, obrigando-o a viver uma responsabilidade que não experimentara antes e que agora passa a ter. E o terceiro luto é a perda pelo refúgio e proteção dos pais que até agora era dispensado, mas que daqui para frente, também em função dos pais estarem envelhecendo precisam tratar seus filhos não mais como crianças, mas adultos ou que estão em via de ser. Quando o adolescente começa a ver-se com um corpo em transformação, mudando e alterando a sua identidade, ele passa a necessitar de uma nova ideologia que lhe permita a adaptação ao mundo, ou até mesmo, a sua ação sobre ele para mudá-lo. É realmente um período de contradições, é confuso, ambivalente, doloroso, com muitas crises e estados patológicos.

Todas as modificações que acontecem, independente da vontade da criança, para Aberastury (1981), exigem-se dela uma nova postura, um novo comportamento em sociedade, que são percebidas como uma invasão ao seu mundo infantil, evitando perdas das coisas de crianças, daí a tentativa de manter-se criança para sempre, resultando num voltar-se para si, para que em seu íntimo se mantenha uma ligação especial com o seu passado, e consiga enfrentar o futuro com mais segurança. Por causa dessas mudanças corporais e de seus reflexos na transformação da identidade de criança, ela é impulsionada a buscar novas expressões identitárias. Estas mudanças contribuem para a sua inserção no mundo social do adulto, adotando-se novos planos de vida e metas, assim como valores éticos, intelectuais e afetivos, implicando no nascimento de novos ideais e na aquisição da capacidade de luta para consegui-los (ABERASTURY, 1981).

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ou na necessidade de apoio e dependência deles. Sem considerar que, todo este processo pelo qual a criança está passando, é provocada pelo meio cultural, social e histórico que exige por demais que meninos e meninas, principalmente os meninos sejam independentes economicamente dos pais, e quando não, muitas vezes, é usada como coerção para forçá-los a algum tipo de comportamento desejado. Knobel define o período da adolescência por meio de 10 características comuns, que são eles:

busca de si mesmo e da identidade; tendência grupal; necessidade de intelectualizara fantasia; crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo mais intransigente até o misticismo mais fervoroso; deslocalização temporal, onde o pensamento adquire as características do pensamento primário; evolução sexual manifesta, que vai do auto-erotismo até a heterossexualismo genital adulto; atitude social reivindicatória com tendências anti ou associais de diversas intensidade; contradições sucessivas m todas as manifestações de conduta, dominada pela ação, que constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período; uma separação progressiva dos país; constantes flutuações do humor e do estado de ânimo. Vejamos a seguir cada uma delas separadamente

(KNOBEL,1981, p 29).

A primeira característica proposta por Knobel refere-se “a busca de si mesmo”. A utilização da genitália na procriação, segundo Knobel (1981), é um feito bio-psico-dinâmico que determina uma modificação essencial no processo da conquista da identidade. A idéia de si mesmo ou de self, é o conhecimento da individualidade biológica e social, do seu psicofísico em seu mundo social. Sendo o self como uma entidade psicológica que se une ao conhecimento físico e biológico da personalidade.

É necessário integrar todo o passado, o experimentado, o internalizado e também o rejeitado, com as novas exigências do meio e com as urgências instintivas e com as modalidades de relação objetal estabelecidas no campo dinâminco das relações interpessoais (KNOBEL,1981, p 31).

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identidade adolescente é a que se caracteriza pela mudança do indivíduo, com seus pais externos e a relação com as figuras parentais internalizadas, que estão incorporadas à personalidade do sujeito, começando desta forma o seu processo de individuação Knobel (1981, p 36).

A tarefa principal do adolescente é resolver o conflito de identidade.

O objetivo é descobrir “quem sou eu [...]” Erikson (1998, p 165). Erikson, embora tenha uma visão psicossocial diferente dos percussores (Aberastury e Knobel), indica algo relevante acerca da identidade, virtudes como a fidelidade, fé, lealdade aos amigos, companheiros e grupos de valores, faz com que se sintam seguros e cômodos diante da possibilidade de estabelecer uma relação intima com outra pessoa. As influências das mudanças sociais ou algum tipo de relação com outras pessoas produzem crises ao longo da vida e essas é que farão parte da definição da personalidade se caso não forem vencidas.

A segunda característica proposta por Knobel refere-se a “tendência grupal”. Compreendemos que a tendência grupal acontece em um momento de troca

bastante significativa na vida do adolescente, ou seja, o adolescente deixa de considerar temporariamente sua família de origem para viver em grupos de pares ou de iguais, identificando-se com eles e participando dos movimentos expressões de alegria, tristeza, raiva, reivindicações sociais e ainda experiências novas com os grupos. Knobel (1981), aponta que a tendência grupal na adolescência e a interação de seus problemas com os da sociedade na qual vive, obriga-o a pensar em buscar soluções por meio da utilização dos grupos.

A pessoa que vive o período da adolescência recorre a um comportamento defensivo, que segundo Knobel (1981), é a busca de uniformidade. Ocorre um processo de superidentificação em massa, ou seja, todos são iguais, se vestem da mesma forma, e um se identifica com o outro. Isto lhes garante a sensação de segurança e estima pessoal. O processo é tão intenso que por vezes as pessoas se parecem mais com o grupo que propriamente com o grupo familiar. É no grupo que os adolescentes encontram pessoas que possam assumir o papel substituto da figura da família. Alguém que faça o controle e estabeleça regras, que se aproxime da estrutura familiar. Surge a figura de um líder, a qual se submete, mesmo que este seja autoritário ou que assuma as mesmas características do pai e mãe.

A terceira característica proposta por Knobel refere-se a

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o corpo infantil, o papel infantil, os pais da infância, a bissexualidade que acompanha a identidade infantil, isto coloca o adolescente em confronto com o fracasso e a impotência diante as dificuldade externas. O adolescente para Knobel recorre ao pensamento e as fantasias para compensar as perdas ou para evitá-las se utilizando disso, como verdadeiros mecanismos de defesa. Um destes mecanismos é a intelectualização e a fantasia, recursos que servem para diminuir a angustia frente às perdas.

A quarta característica proposta por Knobel refere-se a “as crises

religiosas”. O adolescente neste período se caracteriza como um ateu exacerbado ou como um místico muito fervoroso, alcançando os extremos de cada situação, passando de um lado pra outro com muita facilidade. A questão da religiosidade aparece nesta fase com mais intensidade não por acaso, devido a sua angústia de viver o luto pelas perdas que é acometido, como o corpo infantil, a possibilidade de morte e morte de seus pais infantis. Esta busca pela divindade e de suas verdades absolutas pode significar uma saída menos frustrante para este período. Período que para Knobel, é de extrema importância para a construção definitiva de uma ideologia.

A quinta característica proposta por Knobel refere-se a

“deslocalização temporal”. O adolescente vive uma deslocalização temporal, converte o tempo em presente e ativo em uma tentativa de manejá-lo (KNOBEL, 1981), ou seja para o adolescente o que se pode esperar, o que ele prioriza e é urgente, ele deixa para depois, utilizando um tempo maior para aquela atividade, causando no convívio com pais e família, um desencontro temporal dificultando a relação entre os lados. Desta maneira delimitar e discriminar o tempo é para o adolescente o mesmo que equiparar ou que equivale, ou ainda, que coexiste sem maior dificuldade. Esta ambigüidade do adolescente está relacionada com a irrupção da parte psicótica da personalidade.

Quando o indivíduo chega à adolescência, ele já teve oportunidades de vivenciar as separações, morte de objetos internos e externos, de partes do ego e certa limitação do tempo no plano vital, fundamentalmente no corpo e na relação

interpessoal-corporea. O passar deste tempo vai se tornando mais objetivo e conceitual, assim ele

define como tempo existencial, que seria o tempo em si, um tempo vivencial ou experimental e um tempo conceitual chamado como tempo rítmico e tempo cronológico (KNOBEL, 1981).

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obsessiva, convertendo em situações psicóticas em neuróticas ou psicopáticas. Se o adolescente teve um padrão seguro na infância, segundo John Bowlby (1990), ele terá condições de fazer suas escolhas, profissão, grupos de amigos e aquelas de ordem social com mais tranquilidade. E os que tiveram um padrão inseguro acabam desenvolvendo atos de delinqüência e a experiência no uso de drogas. Quando se nega a passagem deste tempo, ele conserva a criança dentro dele como objeto morto-vivo, é muito freqüente este sentimento neste período. A noção temporal do adolescente tem características fundamentalmente corporais ou rítmicas, se baseia em suas atividades como comer, brincar, dormir, estudar e isto é o tempo vivencial ou experimental.

A sexta característica proposta por Knobel refere-se a “evolução

sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade”. Nesta evolução, segundo

Knobel (1981), do auto-erotismo à heterossexualidade, o adolescente vai de ações masturbatórias a de fato, ao manuseio genital, como forma de exploração e preparação da genitália procriativa. Ao aceitar a sua genitália, o menino ou a menina inicia a procura dos seus parceiros, marcando assim este período com grandes amores, com vínculos intensos, porém, frágeis. Ao citar Freud em sua teoria, Knobel estabelece a importância puberal para a reinstalação fática da capacidade genital do sujeito. Logo são as mudanças biológicas da puberdade que impõem a maturidade sexual ao

indivíduo, intensificando os processos psicológicos que se vivem nesta idade. A masturbação é uma experiência lúdica na qual as fantasias edípicas são manejadas

solitariamente, que atenta descarregar a agressividade misturada com erotismo através da mesma e aceitando a condição de terceiro excluído. É também a tentativa maníaca de negar a perda da bissexualidade, parte do processo de luto normal da adolescência.

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identidade é a relação que se tem entre o meio e o individuo, e este meio precisa fazer o reconhecimento desta identidade. O processo básico psicodinâmico-biológico do individuo se manifesta de diferentes formas, mas sempre de acordo com os padrões culturais.

Portanto, conhecer os padrões culturais é importante para fazer o manejo da adolescência, mas conhecer esta fase é essencial para que as influências culturais possam ser mudadas ou melhores utilizadas para que não se torne patologia e para não se criar estereótipos isolando por completo os adolescentes do mundo dos adultos.

o adulto projeta no jovem a sua própria incapacidade em controlar o que está acontecendo sócio-politicamente ao seu redor e tenta então deslocalizar o adolescente da sociedade, tornando o mundo adulto incompreensível e exigente. A burocratização das possibilidades de emprego, as exigências de uma industrialização mal canalizada e uma economia mal dirigida, ilógica que o adolescente tenta superar através de crises violentas, que se pode comparar às atitudes de caráter psicopático da adolescência. (KNOBEL, 1981, p 53).

Todas estas possibilidades podem conduzir os jovens para empresas e aventuras destrutivas, perniciosas e patologicamente reivindicatórias. Os processos citados por Knobel (1981), são de fundamental importância para o desenvolvimento evolutivo do individuo, as intelectualizações, fantasias conscientes, necessidades do ego flutuante que se reforça no ego grupal, fazem com que se transformem em pensamento ativo, em verdadeira ação social, político e cultural.

A oitava característica proposta por Knobel (1981) refere-se as

“contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta”. Para ele, é na adolescência que o individuo tem mais dificuldade para controlar as suas ações, que até mesmo o pensamento precisa se tornar ação para ser controlado. Knobel utiliza-se da figura da esponja para exemplificar que a personalidade do adolescente é permeável, recebe tudo e projeta tudo. Neste período, os processos de projeção e introjeção são bastante intensos, variáveis e freqüentes, o que facilita uma conduta não determinada e como resultado uma personalidade normal, porém, com anormalidades. A penúltima característica proposta por Knobel refere-se a

“separação progressiva dos pais”. Uma das tarefas básicas para se estabelecer a

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A necessidade de se experimentar e utilizar a genitália de forma procriativa, segundo Knobel (1981), faz com que esta separação aconteça naturalmente. A intensidade e a qualidade da angústia dependem da maneira pela qual o adolescente viveu a fase genital. Os pais vivem suas angústias de quando eram adolescentes e muitas vezes negam o crescimento dos filhos, que acabam desenvolvendo características persecutórias mais acentuadas, principalmente, se na fase genital prévia se desenvolveu dificuldades com as figuras dos pais que tem e teve caracteres de indiferenciação e de persecução. Ao contrário, se a figura dos pais esta bem definida em uma relação amorosa e criativa, os aspectos persecutórios se convertem no modelo de vínculo genital que o adolescente terá como modelo.

É na adolescência, segundo Bowlby (1990), que os comportamentos de apego de uma criança aos seus pais sofrem uma grande mudança, tornando-se ainda menos visíveis, ao mesmo tempo, o vínculo com outros adultos e pessoas da mesma idade. Alguns adolescentes desligam-se inteiramente de seus pais, outros permanecem intensamente apegados e outros conseguem estabelecer vínculos com outras pessoas.

A décima e última característica proposta por Knobel refere-se a

“constantes flutuações do humor e do estado de ânimo”. Os fenômenos de depressão e

luto acompanham o processo identificatório da adolescência. A quantidade e a qualidade da elaboração dos lutos da adolescência determinarão a maior ou menor intensidade desta expressão e destes sentimentos. “A intensidade e a freqüência dos processos de introjeção e projeção podem obrigar os adolescentes a realizarem rápidas

modificações no seu estado de animo [...] Knobel (1981, p 58)”. Neste período a realização das necessidades instintivas básicas que nem sempre são satisfeitas, fazendo com que o adolescente se feche em si para alcançar esta satisfação, desenvolvendo o sentimento de solidão.

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mesma forma, um se identifica com o outro e porque não dizer gostam das mesmas músicas. Isto lhes garante a sensação de segurança e estima pessoal.

Além destas características, Knobel aponta que o adolescente neste período é um ateu exacerbado ou um místico muito fervoroso, alcançando os extremos de cada situação, passando de um lado para outro com muita facilidade. A questão da religiosidade aparece nesta fase com mais intensidade não por acaso, devido a sua angústia de viver o luto pelas perdas que é acometido, como o corpo infantil, a possibilidade de morte e morte de seus pais infantis. Esta busca pela divindade e de suas verdades absolutas pode significar uma saída menos frustrante para este período. O que pudemos perceber ainda nos resultados da pesquisa foi exatamente uma

população muito “crente”. Itens como, leitura da bíblia como leitura preferida, ter em

Jesus como ídolo, ouvir música gospel e afirmar que a música religiosa é a expressão daquilo que estão sentindo e pensando, revela o quanto estes adolescente e jovens usam da religião como elemento presente na busca pela suas identidades psicossocial e religiosa.

1.2 A teoria psicossocial de Erik Erikson sobre a identidade humana.

Outra teoria sobre a identidade humana que é aplicável aos adolescentes e jovens das comunidades presbiterianas independentes é a teoria de Erik Erikson (1976/1998), que introduz elementos de uma teoria psicanalítica do

desenvolvimento psicossocial e desenvolvimento do ego. Esse autor enfatiza as abordagens psicossexual e psicossocial e sua relação com o conceito de ego, a partir daí passa a examinar como se dá o ciclo da vida, incluindo no pensamento

psicanalítico aquilo que se chamava o “mundo exterior”. Para Erickson, há, seja em

que ordem for, o processo biológico da organização hierárquica dos sistemas de órgãos que constituem um corpo. Há também o processo psíquico que organiza a experiência individual por meio da síntese do ego (psique), e, também, o processo comunal da organização cultural da independência das pessoas (etos) (ERIKSON, 1998).

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As dimensões do desenvolvimento

Para Erikson o desenvolvimento passa por várias dimensões. São elas, a dimensão biológica, a social e a individual. Quando integradas as três, segundo Erikson, resulta no que chamamos de personalidade. Isto é, estes três sistemas coordenados adequadamente resultam em uma pessoa saudável, ou seja, uma pessoa que domina ativamente seu ambiente, mostra uma certa unidade da personalidade e é capaz de perceber corretamente o mundo e a si mesma (ERIKSON, 1976).

A dimensão biológica para Erikson é um conceito que concorda com o ponto de vista da psicanálise no que diz respeito ao nível biológico, para ele, o recém nascido humano possui um poderoso conjunto de pulsões e impulsos. Porém, necessita de ordem e consistência, uma necessidade de continuidade da experiência, para que o desenvolvimento ocorra numa sequência mais ou menos previsível e que esta é, em parte, governada por algum tipo de mecanismo inato ou fator maturacional. Este tipo de mecanismo é que está por trás de todo o desenvolvimento orgânico humano ou não, que ele chama de princípio epigenético. Este princípio afirma que, tudo que cresce tem um plano básico e é a partir deste, que se erguem as partes ou peças componentes até que, todas surjam para formar um todo em funcionamento (GALLATIN, 1978).

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equipamentos para fazê-lo. Cada pessoa responde segundo a sua percepção de mundo e a maneira como é vista por ele.

O ser humano é considerado psicologicamente quando consegue desenvolver um firme sentido de identidade, e consegue se reconhecer como uma pessoa única, dentro de uma determinada sociedade, com um passado, presente e futuro. Os que não conseguem integrar suas experiências desta forma são menos integrados e unificados do que os que conseguem realizar esta integração, se a desorganização na síntese do ego é severa, eles podem tornar-se seriamente perturbados. A personalidade depende de um firme sentido de identidade.

o sentimento consciente de se possuir uma identidade pessoal baseia–se em duas observações simultâneas: a percepção da uniformidade e continuidade da existência pessoal no tempo e no espaço; e a percepção do fato de que os outros reconhecem essa uniformidade e continuidade da pessoa. Assim, a identidade do ego, em seu aspecto subjetivo, é a consciência do fato de que existe uniformidade e continuidade nos métodos de sintetização do ego, o estilo da individualidade de uma pessoa, e de que estilo coincide com a uniformidade e continuidade do significado que a pessoa tem para os outros significados na comunidade imediata (ERIKSON, 1976, p 49).

Portanto, a identidade como desenvolvimento da personalidade tem uma dimensão biológica, social e individual (ego) e que para Erikson, cada ser humano tem uma necessidade de sentir-se único, necessidade que provém do esforço inconsciente para manter a continuidade da experiência. Porém, ele não pode desenvolver este sentimento de ser único e de possuir um destino próprio e singular na ausência de uma cultura. A cultura proporciona cuidados e a consistência de um ego, fornece um conjunto de rótulos e diretrizes que permitem que o ego, a medida que se desenvolve, formule um identidade (Gallatin, 1978).

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compete ao ego integrar os aspectos psicossexuais e psicossociais de um dado nível de desenvolvimento e, ao mesmo tempo, integrar a relação entre os elementos de identidade recém adicionados e o que já existiam, isto é, compete-lhe superar as inevitáveis descontinuidades entre os diferentes níveis de desenvolvimento da personalidade, pois as anteriores cristalizações de identidades são passiveis de renovado conflito quando as mudanças na qualidade do impulso, as expansões no equipamento mental e as novas e amiúde conflitantes exigências sociais fazem com que os ajustamentos prévios pareçam insuficientes e, de fato, tornam suspeitas as prévias oportunidades e recompensa (ERIKSON, 1976, p 163).

O adolescente possui aptidões necessárias para decidir-se quanto a uma identidade. Ele também se defronta com certas pressões para que o faça. Seu ego é capaz de sintetizar suas percepções e memórias melhor do que o ego da criança, possuindo mais percepções e memórias para fazê-lo. Neste período, entre a transição da infância e a idade adulta, o adolescente se torna consciente de todos os ajustamentos pessoais, ocupacionais, sexuais e ideológicos, que serão exigidos dele antes que atinja a maturidade Gallatin (1978, p 203).

Quando se discute identidade, não podemos separar o desenvolvimento pessoal e a transformação comunitária, assim como não podemos separar a crise de identidade na vida individual e a crise contemporânea no desenvolvimento histórico porque ambas ajudam a definir à outra e estão verdadeiramente relacionados entre si como uma espécie de relatividade psicossocial (ERIKSON, 1976).

a instituição social é guardiã da identidade e é o que designamos de ideologia, pois, é através de sua ideologia que os sistemas sociais penetram na índole da geração seguinte e tentam absorver em seu fluido vital o poder rejuvenescedor da mocidade. A adolescência é pois, um regenerador vital no processo de evolução social, pois a juventude pode oferecer suas lealdades e energias tanto a conservação daquilo que continua achando verdadeiro como a correção revolucionária do que perdeu o seu significado regenerador (ERIKSON, 1976, p 134).

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possibilite aos jovens se rebelar contra um bem definido ou um conjunto de valores mais antigos (ERIKSON, 1976).

Os estágios de desenvolvimento

Erik Erikson dividiu o desenvolvimento humano em oito estágios ou idades a partir das crises que o ser humano experimenta em seu ciclo de vida. O primeiro estágio proposto por Erikson refere-se ao primeiro ano de existência, correspondente ao estágio da crise confiança básica versus desconfiança básica, caracteriza-se por uma atitude positiva de esperança, refletida pela confiança no meio em que a criança vive e confiança no futuro. Poderá, no entanto, tornar-se desconfiada e, por isso, temer o futuro. O evento importante deste estágio é a alimentação.

O segundo refere-se ao segundo ano, é o estágio da crise autonomia versus vergonha e dúvida. Este segundo ano caracteriza-se pela afirmação da vontade: capacidade de exercer uma escolha assim como possibilidade de autodomínio; sentimentos de autonomia e de amor-próprio que levam ao desenvolvimento da boa vontade e do brio. Por outro lado, pode acontecer que se desenvolvam sentimentos de perda de autodomínio ou de ser objeto de um excessivo domínio exterior. A vergonha e dúvidas acerca do livre exercício da vontade podem ser os sentimentos resultantes. O evento importante deste estágio é o uso do toalete.

O terceiro refere-se à fase correspondente ao espaço entre o 3º e o 5º anos. Relaciona-se com a crise iniciativa versus culpa. Nesta fase dá-se a consolidação da tenacidade que é a capacidade de iniciar atividades, de continuá-las e de apreciar a sua realização. Pode, no entanto, acontecer que haja medo de castigos e sentimentos

inibitórios ou ainda um comportamento de “show-off”, ou seja, chamar a atenção

resultante daqueles. O evento importante trata-se da locomoção.

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que diz respeito à crise identidade versus confusão do papel. É na adolescência que começamos a perceber bem o significado da lealdade, que é a capacidade de ser fiel. É também nesta altura que o adolescente se vê a si próprio como um ser único integrado na sociedade ou ao contrário, a crise poderá levar o jovem a não entender bem que papel

deverá desempenhar, isto é, não saiba como agir porque “não sabe exatamente quem é”.

O evento mais importante deste estágio é o relacionamento a pares.

O quinto e o sexto referem-se aos primeiros anos da vida adulta. É o sexto estádio que diz respeito à crise intimidade versus isolamento. Dá-se a capacidade de nos darmos aos outros, amor e amizade. Por outro lado, o jovem adulto poderá isolar-se, distanciando-se dos outros, evitando compromissos de amizade ou de amor. O evento importante é o relacionamento de amor.

O sétimo refere-se á meia-idade, a crise verificada é a de criatividade

versus estagnação. Nesta fase de vida, dá-se um aumento dos cuidados para com aquilo que foi criado através do amor, por necessidade ou acidentalmente: aumento de interesse pela atividade profissional, por idéias ou aumento da atenção para com os

filhos. Se isto não acontecer, a pessoa em causa viverá sem interesses, “num deixar-se

andar”, cairá na depressão e haverá um empobrecimento nas relações com os outros. O ultimo estágio refere-se ao da velhice, que diz respeito à crise

integridade versus desespero. A pessoa desta idade avançada pode tornar-se sábia. Ela deixa de preocupar-se ansiosamente com a vida porque descobriu o seu sentido da dignidade da sua vida e também haverá a aceitação da morte. Se não se atingir esta sabedoria, isto acontece se ao olhar para trás se verifica que não se fez nada que valesse a pena, haverá um sentimento de desgosto perante a vida e de desespero perante a morte. Os eventos importantes deste estágio são a reflexão e a aceitação da vida.

1.3 Os estágios da fé: a identidade jovem para James W. Fowler

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anteriormente. Para este autor, a teoria sobre os estágios da fé, procura considerar os desafios e crises previsíveis no decorrer do ciclo da vida humana.

As contribuições de Fowler para os estudos das etapas religiosas

A fé é a maneira pela qual uma pessoa ou grupo responde ao valor e poder transcendentes, conforme são percebidos e aprendidos através das formas da tradição cumulativa. Uma tradição cumulativa pode ser constituída por textos de escrituras ou leis, incluindo narrativas, mitos, profecias, relatos de revelações, símbolos visuais e de outros tipos, tradições orais, música, dança, ensinamentos éticos, teologias, credos, ritos, liturgias, arquitetura e muitos outros elementos. Segundo Fowler (1992), a “tradição cumulativa” é renovada a medida que seus conceitos provam ser capazes de evocar e modelar a fé de novas gerações. A fé é despertada e nutrida pelos elementos da tradição. Quando esses elementos chegam a expressar a fé dos novos aderentes a tradição é ampliada e modificada, ganhando assim nova vitalidade. Fowler continua dizendo que esta explicação representa um ideal, e que para a sociedade moderna o relacionamento da fé e religião se tornou problemático. A fé luta para ser mantida, em muitas pessoas hoje, que sentem não ter nenhum acesso utilizável a qualquer tradição religiosa cumulativa que seja viável (FOWLER, 1992).

As nossas primeiras experiências de fé e fidelidade começam com o nascimento. Somos recebidos e acolhidos com algum grau de fidelidade por aqueles que cuidarão de nós, e segundo Fowler, é a partir da consistência em suprir as nossas necessidades, por criarem um espaço valioso em nossas vidas, aqueles que nos recebem providenciam uma experiência inicial de lealdade e confiabilidade. Percebemos o quanto Fowler concorda com Erikson quando ele diz que o bebê com seus impulsos precisa ser cuidado para que possa sobreviver. Seu sentido de ordem e consistência não pode ser mantido e suas potencialidades não podem ser manifestas na ausência de outras pessoas. Tudo que ele vier aprender tem a ver com sua família, hábitos e necessidades. Dessa maneira,

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O que Fowler está nos indicando é o fato do individuo crer, confiar, comprometer-se, colocar seu coração e prometer fidelidade, é mostrar que fé é um verbo. A fé é uma forma ativa de ser e comprometer-se, um meio de adentrarmos e modelarmos as nossas experiências de vida e que fé é sempre relacional, sempre há um outro na fé. Na interação entre pais e filhos não só começa a se desenvolver um vínculo de confiança e lealdade mútuas, mas a criança ao desenvolver seus vínculos, o fará em um nível básico, sente o novo e estranho ambiente como um ambiente confiável ou/e providente, arbitrário ou/e negligente. A fé é um empreendimento relacional, triádico ou pactual em seu formato, ou seja, não colocamos o nosso coração em pessoas, causas, instituições ou deuses porque simplesmente devemos fazer, mas porque de alguma maneira o outro com a qual nos comprometemos tem para nós, uma excelência ou valor intrínseco e porque ele pode nos conferir valor (FOWLER, 1992).

os centros de valores e poder têm valor divino para nós, portanto, são aqueles que nos conferem sentido e dignidade e prometem nos sustentar em um perigoso mundo de poder. Nossos comprometimentos e confianças moldam nossa identidade. Eles determinam (e são determinados por) a comunidades a que filiamos. Num sentido real, nós nos tornamos parte daquilo que amamos e em que confiamos (FOWLER, 1992, p 27).

Em sua teoria, Fowler propõe uma visão estrutural desenvolvimental da fé e que deve ser uma teoria do conhecer e agir pessoais. Isto não implica uma teoria individualista, nem uma teoria que desista do compromisso com a possibilidade de generalização. Significa um compromisso de levar a sério o fato de que nossas decisões e ações anteriores moldam o nosso caráter, a nossa história, imagens que vivemos e de que somos formados em comunidades sociais, e que, nossa forma de ver o mundo são moldados pelas imagens e construções partilhadas de nosso grupo ou classe. Significa ainda um compromisso de relacionar os estágios estruturais da fé às crises e aos desafios previsíveis das fases de desenvolvimento e de levar a sério as histórias de vida no estudo da fé (FOWLER, 1992).

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que não se trata de um determinismo grosseiro e que tudo é decisivo para a fé, mas o que ocorre nos primeiros 12-60 meses de vida, a confiança versus desconfiança básica, é o fator de qualidade da primeira mutualidade da criança com as condições de sua existência e com as pessoas que fazem parte de sua vida. Isto ajudará a sua definição de identidade e fé, pois suas primeiras experiências de fé terão origens na relação com seus pais (FOWLER, 1992).

Os estágios da fé em Fowler

Assim como Erik Erikson e outros teóricos do desenvolvimento humano como Jean Piaget, Folwer desenvolveu sua teoria também a partir da idéia dos estágios e para ele, são seis estágios da fé.

O primeiro estágio proposto por Fowler refere-se a lactância e fé indiferenciada. Este período é marcado pela relação estritamente mãe-bebezinho, em que os cuidados maternos e paternos são essenciais na vida de qualquer ser humano, pois, somos no meio animal os que não sobrevivem sem estes cuidados nos primeiros meses de vida. Segundo Fowler (1992), começamos a desenvolver a fé também neste período. Com o nascimento, o bebê é lançado em um novo ambiente em que será necessário o desenvolvimento de nossas potencialidades humanas para sobrevivermos nele. Precisamos da ativação e elaboração de nossas capacidades adaptativas, porém, este progresso vai depender das pessoas e as condições desse ambiente que nos recebem e nos fazem entrar em interação.

Precisamos de estímulos de comunicação suficientes para que possamos desenvolver nossas capacidades adaptativas para relacionamentos e vínculos amorosos e se estes estímulos não ocorrem, estas capacidades adaptativas podem ficar retardadas ou mesmo não ativadas (FOWLER, 1992). Se nada disto acontecer, nossa confiança no mundo e em nós mesmos pode ser desequilibrada por desconfiança e desespero infantil. O bebê percebe a mãe, o seio materno, a mamadeira, como uma extensão dela própria. Em torno dos oito meses é que o bebê começa a se separar destes objetos, e ao perceber a ausência da mãe o bebê vive um

pânico pela incerteza de sua volta. Este “pânico” é tão difícil que desenvolvemos as

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Para Fowler, é desta maneira que desenvolvemos a confiança nas outras pessoas e no ambiente cultural, grupo social em que estamos inseridos. As primeiras imagens de Deus que temos neste período, segundo Fowler, são as primeiras experiências de mutualidade porque somos seres indefesos e dependentes de outros imensamente poderosos. Chama-se pré-imagens porque acontece em grande parte e formam-se antes da linguagem, antes dos conceitos e em uma época que coincide com o surgimento da consciência. Para Fowler, a força da fé que surge neste estágio é o fundo de confiança básica e a experiência relacional de mutualidade com a pessoa ou pessoas que dispensam os cuidados e amor primário (FOWLER, 1992).

Ainda, um outro momento dentro deste mesmo estágio é o que Fowler chama em segundo lugar de fé intuitivo-projetiva. Este período é quando começa a ocorrer a convergência de pensamento e linguagem, a criança toma posse de um tipo qualitativamente novo e poderoso manuseio sobre o mundo da experiência. Segundo Fowler, a criança intuitivo projetiva, cuja idade vai dos dois aos sete anos, usa a fala e representação simbólica para organizar a sua experiência sensória transformando-a em unidade de sentido, explora e dá nomes à coisas e objetos, o que antes não fazia sentindo agora começa a ter. Seu pensamento ainda não é reversível.

Imagem

Tabela  1  –   Distribuição  da  frequência  dos  jovens  segundo  o  que  estudam  dentro  das  faixas etárias
Tabela  3  –   Distribuição  da  frequência  dos  jovens  que  gostam  de  ler  distribuídos  por  faixas etárias
Tabela 6  –  Distribuição da frequência dos jovens que tem ídolos distribuídos por faixas  etárias
Tabela 8  –  Distribuição da frequência dos jovens e o tempo que ouvem musica.
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Referências

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