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Sobre a importância de examinar diferentes ambientes onlineem estudos de deliberação.

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OPINIÃO PÚBLICA, Campinas, vol. 21, nº 2, agosto, 2015

Rousiley C. M. Maia

Pat rícia G. C. Rossini

Vanessa V. de Oliveira

Alicianne G. de Oliveira

I n t r odu çã o

Apr eender deliber ação, conver sação infor m al online e a int er face ent r e esses

dois fenôm enos exige que se com pr eendam as condições de int er ação e as

especificidades dos diver sos am bient es conver sacionais da int er net . O obj et ivo dest e

ar t igo é dem onst r ar a im por t ância de analisar difer ent es am bient es virt uais – no caso,

os blogs, os sit es de redes sociais e as plat afor m as colabor at ivas – consider ando com o

suas especificidades t écnicas podem fom ent ar , const r anger ou im pedir difer ent es

for m as de com unicação m ediada à luz da t eor ia deliber at iva. Os t r ês am bient es

escolhidos r epr esent am os t ipos de fer r am ent as m ais popular es da Web 2.0 e

apr esent am car act eríst icas específicas que per m it em um a análise da ut ilização da

int er net com o espaço de conver sação polít ica em esfer as dist int as, cada um a com

const r angim ent os e affor dances pr ópr ios.

Adot am os a noção de sist em a deliber at ivo ( Mansbr idge, 1999; Mansbr idge et

al., 2012; Maia, 2012; Neblo, 2005) , que per m it e r eflet ir sobr e com o a deliber ação

ocor r e na sociedade consider ando seus m últ iplos am bient es e agent es. Essa abor dagem

valor iza a conver sação cot idiana com o um a im por t ant e et apa de pr ocessos m ais

com plexos de deliber ação e par t icipação cívica ( Mansbr idge, 1999; Maia, 2012;

Mar ques e Maia, 2010) .

A int er net r epresent a um am bient e ext r em am ent e diver so par a a int er ação

social, cuj as car act er íst icas t r ansfor m am e r eor ganizam as pr át icas sociais. A

com unicação ent r e indivíduos e gr upos, bem com o a or ganização de com unidades de

int er esse e am bient es par a discussão, é car act er íst ica iner ent e à evolução das

fer r am ent as da int er net – desde a Web 1.0, car act er izada pelos sit es est át icos e pela

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na int er ação social, no com par t ilham ent o de infor m ações e no acesso às fer r am ent as de

pr odução ( Ackland, 2013; Baym , 2010) . Dado seu pot encial par a a com unicação descent r alizada, sim ult ânea e de baixo cust o, os sit es de r edes sociais são vist os com o

plat afor m as que dão supor t e a um a série de at ividades cot idianas, t ais com o a

conver sação int er pessoal, o com par t ilham ent o de cont eúdos, a for m ação de gr upos e com unidades de int eresse et c. ( Baym , 2010; Bur gess e Gr een, 2009; Jenkins, 2009;

Jenkins et al., 2012) .

Apesar de diver sos aut or es dest acarem a diver sidade de plat afor m as e fer r am ent as de com unicação vir t uais, poucos est udos se dedicam a exam inar essa

com plexidade. Redes e m ídias sociais, wikis e plat afor m as de cont eúdo colabor at ivo,

por exem plo, alt er am dr am at icam ent e a infr aest r ut ur a da conect ividade social e t or nam o am bient e polít ico m ais por oso. Esse fat o não é um fenôm eno r ecent e. Há décadas,

est udos sobr e a conver gência de m edia m ost r am com o as int er faces ent re a ar quit et ur a

t ecnológica da t elevisão, dos j or nais, do cinem a e da int er net desafiam os m odelos t r adicionais da com unicação de m assa or ganizada de m odo cent r alizado, com as elit es

oper ando com o gat ekeeper s e assegur ando o m onopólio da infor m ação ( Ackland, 2013;

Chadwick, 2013; Jenkins, 2006; Jenkins et al., 2012) .

Vár ios aut or es t êm se concent r ado em ident ificar os efeit os decor rent es das

escolhas de design e a int er face na par t icipação polít ica e na deliber ação vir t ual

( Colem an e Moss, 2012; Janssen e Kies, 2004; Wr ight e St r eet , 2007) . Out r os est udos, baseados em análise de cont eúdo, est ão principalm ent e int er essados em m edir

r egular idades e gener alizações sobr e discussões online, at r avés de indicadores

consagr ados t ais com o respeit o, t r oca de ar gum ent os r acionais, r eflexividade, não coer ção e inclusividade ( Dahlber g, 2001; Gr aham , 2008; Kies, 2010; Wilhelm , 2000) .

Esses est udos t êm ofer ecido fer r am ent as com cr escent e gr au de sofist icação par a t r at ar

da deliber ação no am bient e digit al. Não obst ant e, essa lit er at ur a r ar am ent e int er age. Daí a im por t ância de pr om over um diálogo ent re as cont r ibuições desses est udos, a fim

de exam inar de m odo int egr ado as condições da int er ação online.

Par t im os da prem issa que os cr it ér ios da deliberação são exigent es e que abor dagens dem asiadam ent e r est rit as a essa perspect iva, no âm bit o da int er net ,

podem deixar de capt ar fenôm enos com unicat ivos r elevant es que não configur am ,

necessar iam ent e, deliber ação ( Bächt iger et al., 2009; Chadwick, 2009; Colem an e Moss, 2012; Dahlber g, 2004; Dahlgr en, 2005; Maia, 2014) . Nesse sent ido, ent endem os

que os par âm et r os nor m at ivos devem ser t om ados com o condições ideais par a a

deliber ação, m esm o quando a obser vação da realidade não cor robor a esses pr incípios. Adem ais, m et odologias desenvolvidas par a apr eender conver sações que ocor r em em

plat afor m as digit ais, em bor a possam ser influenciadas pela deliber ação, devem ir além

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2007, p. 276, ver t am bém Haber m as, 1997) . A ar gum ent ação, ou os m om ent os

deliber at ivos, ocor r e episodicam ent e em m eio a diver sas m odalidades de com unicação.

Cabe dest acar que exam inar a conver sação infor m al online, com a devida

consider ação das especificidades das difer ent es form as de com unicação m ediada por

com put ador , ainda se apr esent a com o um desafio m et odológico. Ger alm ent e, a

conver sação infor m al é difícil de ser obser vada e exam inada sist em at icam ent e, um a vez

que é um a at ividade cont ínua, com m últ iplos propósit os e for m as de engaj am ent o com

o out r o. Por isso, crit érios de deliber ação nem sem pr e são adequados e sat isfat órios

par a a sua análise. Diant e da necessidade de um a r eflexão t eórico- m et odológica volt ada

par a essa pr át ica, nosso ar t igo exam ina a r elação ent r e o design e a or ganização dos

espaços vir t uais e seus possíveis im pact os na conver sação m ediada – r eflet indo, com o

pano de fundo, acer ca das condições de deliber ação.

Nosso obj et ivo nest e art igo é car act erizar , de m odo com par at ivo, t r ês espaços

de conver sação online: blogs, sit es de r edes sociais ( com o o Facebook) e plat afor m as

de cont eúdo colabor at ivo ( com o o YouTube) . A análise concent r a- se nos seguint es

aspect os desses am bient es: a ident ificação dos par t icipant es; a m oderação; as

car act er íst icas das int er ações ent r e os usuár ios e a nat ur eza do público presum ido.

Nossa pr opost a se alinha às abor dagens que propõem a obser vação da Web 2.0 com o

um a ecologia com plexa ( Chadwick, 2013; Papachar issi, 2010; Walt her et al., 2011;

Maia, 2014) . Nesse sent ido, defendem os o ar gum ent o que um a car act er ização

cuidadosa das condições de com unicação de cada am bient e conver sacional da int er net

possibilit a avançar a r eflexão sobr e as oport unidades e os const r angim ent os que essas

fer r am ent as apr esent am à int er ação. A análise das especificidades do am bient e online

cont r ibui par a elucidar com o aqueles elem ent os int er fer em na m aneir a at r avés da qual

as pessoas int er agem online, com o elas r econhecem seus int er locut or es, const r oem e

apr esent am seus ar gum ent os e lidam com per spect ivas desafiant es. Par a expor essa

per spect iva, não analisam os casos específicos. Em vez disso, part im os da explor ação

cr ít ica da lit er at ur a cor r ent e e est udos em pír icos sobr e am bient es digit ais e deliber ação

e propom os um diálogo com evidências decor r ent es de pesquisas j á desenvolvidas. Essa

pr opost a nos aj uda a r eexam inar essas cont r ibuições à luz de um a per spect iva

sist êm ica.

Est e ar t igo est á est r ut ur ado da seguint e m aneir a: na pr im eir a seção, " Sobre

am bient es conver sacionais: desenhos int er at ivos e par âm et r os da deliber ação" ,

r eflet im os sobre as condições de com unicação m ediada por com put adores a par t ir das

oport unidades e dos const r angim ent os da int er face, ou sej a, a ar quit et ur a dos espaços

de discussão. Na seção seguint e, " I nfluências da int er face das plat afor m as da int er net

na conver sação cot idiana" , exam inam os de que for m a as especificidades de t r ês

difer ent es am bient es conver sacionais – blogs, sit es de r edes sociais e plat afor m as de

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expr essões polít icas. Com o conclusão, indicam os algum as im plicações de nosso t r abalho

par a pensar , m et odologicam ent e, a conver sação infor m al online em um a per spect iva deliber acionist a.

Sobr e a m bie n t e s con v e r sa cion a is: d e se n h os in t e r a t ivos e pa r â m e t r os da d e lib e r a çã o

O uso cada vez m ais fr equent e e ubíquo de t ecnologias digit ais no cot idiano

suscit a o quest ionam ent o sobr e com o as plat afor m as int er acionais podem im pact ar as

r elações sociais por elas m ediadas. A ar quit et ur a e a or ganização das plat afor m as

int er fer em subst ancialm ent e nas condições de par t icipação e nas m odalidades de

com unicação possíveis. Esses elem ent os cr iam affor dances1 – aqui t r aduzidas com o

oport unidades par a ação – par a as r elações sociais m ediadas, bem com o

const r angim ent os e r est rições a det er m inados t ipos de com port am ent o e int er ação.

Consider ando o not ável efeit o que as escolhas de design e a or ganização dos

espaços de int er ação podem t er sobr e a conver sação ( Davies e Chandler , 2012; Janssen

e Kies, 2004; Sam paio, Bar r os e Mor ais, 2012; Wr ight e St r eet , 2007) , é fundam ent al

que as car act eríst icas de um det er m inado am bient e conver sacional sej am t om adas

com o im port ant es aspect os na análise de fenôm enos com unicat ivos que ocor r em no

am bient e vir t ual.

Nesse sent ido, Baym ( 2010) enum er a set e conceit os- chave par a r eflet ir acer ca

de com o o uso de t ecnologias digit ais ( especificam ent e int er net e celular es) m odifica as

int er ações e, pot encialm ent e, os r elacionam ent os m ediados. São eles: a) a

int er at ividade – social ( conexões ent r e pessoas e gr upos) ou t écnica ( int er ação com a

t ecnologia e suas plat afor m as) ; b) a est r ut ur a t em por al; c) as " pist as" sociais –

infor m ações sobr e cont ext o, cont eúdos, significados e ident idades; d) o alcance; e) a

r eplicabilidade; f) o ar quivam ent o; e g) a m obilidade ( Baym , 2010, p. 6- 12) . Cabe

r essalt ar que essas car act er íst icas var iam em difer ent es am bient es conver sacionais e,

por t ant o, devem ser observadas a pr ior i com o condições das int er ações m ediadas.

A est r ut ur a t em por al da com unicação é um aspect o t écnico que est abelece o

padr ão de int er ação. Via de r egr a, as conver sações vir t uais podem ser síncr onas ou

assíncr onas. O pr im eir o t ipo r equer a presença dos int er locut or es num m esm o am bient e

e em t em po r eal, sendo um a m odalidade m ais próxim a das int er ações face a face. São

exem plos os chat s e as fer r am ent as de m ensagens inst ant âneas. Já a com unicação

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assíncr ona r efer e- se a m odalidades de com unicação na qual os int er locut or es podem

par t icipar em m om ent os dist int os, t ais com o e- m ails, list as e gr upos de discussão,

fór uns, com ent ár ios em blogs et c.

A obser vação sobre a est rut ur a t em por al das int er ações possui desdobr am ent os

r elevant es sobr e os gr aus de cont r ole que int er locut ores det êm sobr e a pr ópria

expr essão e o engaj am ent o com o out ro ( Boyd, 2007, 2011; Donat h e Boyd, 2004) .

Par a Baym ( 2010, p. 4) , " a separ ação ent r e pr esença e com unicação nos ofer ece m ais

cont r ole sobr e nossos m undos sociais, m as, ao m esm o t em po, nos subm et e a novos

m ecanism os de cont r ole, vigilância e const r angim ent o" . A aut or a dest aca que os

am bient es de conver sação síncr ona aum ent am a sensação de pr oxim idade ent r e os

int er agent es, m esm o quando est ão fisicam ent e dist ant es. O sincr onism o pr oduz um a

const ant e negociação do relacionam ent o ent re os par t icipant es e o público, o que t or na

as m ensagens m ais im ediat as e pessoais e encoraj a com por t am ent os descont r aídos

( Baym , 2010, p. 8) . O cust o da int er ação síncr ona é que, nor m alm ent e, o núm er o de

par t icipant es é m ais r est rit o porque essa m odalidade r equer que as pessoas est ej am

conect adas ao m esm o t em po.

Já nas sit uações em que indivíduos int er agem por m eios assíncr onos, é possível

m obilizar gr upos significat ivam ent e m aiores e os par t icipant es t êm m ais t em po par a

const r uir e m ant er est r at egicam ent e suas pr esenças online. Com o Janssen e Kies

( 2004) apont am , enquant o conver sas em t em po r eal t endem a ser m ais infor m ais, a

int er ação assíncr ona favor ece debat es m ais r acionais ou cr ít icos e propor cionam aos

int er agent es m ais t em po e espaço par a apr esent ar e desenvolver seus ar gum ent os.

Um a car act er íst ica que dist ingue a conver sação infor m al m ediada é a

t r ansver salidade ( t r ansver sabilit y) ( Br undidge, 2009) , ou sej a, a capacidade que os

indivíduos t êm de realizar diver sas at ividades sim ult aneam ent e. Um int er naut a pode,

por exem plo, acessar um a not ícia em um a página da int er net , com par t ilhá- la em sua

r ede social, com ent á- la em m odo pr ivado por m eio de m ensagens inst ant âneas ou

engaj ar - se em debat es nas seções de com ent ários ou em fór uns específicos. A ecologia

com plexa dos m edia digit ais r equer a consider ação de que am bient es conversacionais

dist int os apr esent am car act er íst icas que os t or nam m ais suscet íveis ao sur gim ent o de

cer t os m odos de com unicação – o que não significa, em últ im a inst ância, que as

pessoas que se com por t am de cer t a m aneir a em um am bient e de discussão não agem

de for m a diferent e quando as condições de int er ação são alt er adas. Em out r as palavr as,

ainda que cer t os am bient es fom ent em int er ações car act er izadas por civilidade e

r espeit o, os part icipant es desse espaço podem est ar , sim ult aneam ent e, debat endo o

t em a em espaços pr ivados ou r edes que suscit am com ent ár ios int oler ant es ou r adicais.

Na pr óxim a seção, " I nfluências da int er face das plat afor m as da int er net na

conver sação cot idiana" , apr esent am os um a pr opost a analít ica das car act eríst icas que

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vir t uais: blogs, sit es de r edes sociais e plat afor m as colabor at ivas. Tom ando com o base

os cr it érios ident ificados na lit er at ur a de deliber ação, r eflet im os sobr e o m odo pelo qual os const r angim ent os e as oport unidades dos var iados am bient es conver sacionais da

int er net im pact am a configur ação da ar gum ent ação e da conver sação m ediada. Nesse

sent ido, m ais do que pensar em plat afor m as específicas – a r ede social ou a plat afor m a " m ais at ual" –, é pr eciso cont ext ualizar as car act er íst icas que ident ificam t ais m eios, de

m odo que a análise perm aneça r elevant e ainda que det er m inadas plat afor m as se

t or nem obsolet as.

Par a em pr eender esse esfor ço, é pr eciso, pr im eir am ent e, pont uar br evem ent e a

oper acionalização dos crit érios deliber at ivos na lit er at ur a. Apesar das difer ent es

cor r ent es t eór icas que se dedicam a r eflet ir sobre a dem ocr acia deliber at iva, há um r elat ivo consenso de que a deliber ação pública é o processo at r avés do qual os

cidadãos, em condições de liber dade e igualdade, m obilizam e t r ocam ar gum ent os com

j ust ificações com preensíveis e passíveis de ser em aceit as pelos dem ais, a fim de t om ar decisões legít im as e dem ocr át icas. Apesar de inúm er as cont r ovér sias nor m at ivas sobr e

os cr it ér ios em quest ão, a deliber ação pode ser ent endida, de m odo sint ét ico, com o

um a pr át ica de discussão r eflet ida, em que os par ceir os se engaj am de m odo r ecípr oco e r esponsivo com os argum ent os e as j ust ificações dos out ros ( Benhabib, 1996;

Bohm an, 1996; Cohen, 1997, Dr yzek, 2000; Gut m ann e Thom pson, 1996, 2004;

Haber m as, 1997; Maia, 2012; St einer , 2012; St einer et al., 2004) .

Par a os pr opósit os da r eflexão em t ela, t om am os com o definição os

apont am ent os sint ét icos dos indicador es de deliber ação adapt ados par a o am bient e

online. Par a t eór icos que com par t ilham da m at r iz haber m asiana, t ais com o Dahlber g

( 2004) e Kies ( 2010) , a deliber ação pr ecisa at ender a cinco cr it ér ios norm at ivos:

j ust ificação r acional, cuj o obj et ivo é ver ificar se as posições apr esent adas são debat idas

cr it icam ent e e os ar gum ent os são fundam ent ados; r eflexividade, r efer ent e à disposição dos int er agent es em avaliar a posição dos out r os e r ever seu posicionam ent o inicial;

em pat ia ou ideal r ole t aking, que consider a o r espeit o e a t oler ância às colocações de

out r os indivíduos; sincer idade, que, em bor a sej a difícil de afer ir discur sivam ent e, est á r elacionada à consist ência e coer ência do discur so; inclusão, concernent e à

possibilidade de t odo int er essado ou afet ado por um det er m inado t ópico ser capaz de

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at it udes et c. ( Dahlber g, 2004, p. 32- 35; Kies, 2010, p. 42)2.

Ao r ecor r er aos cr it érios deliber at ivos par a obser var t r ocas com unicat ivas

infor m ais, é im port ant e r eit er ar que a deliber ação é um fenôm eno r ar o, com pr incípios

nor m at ivos exigent es e de difícil obser vação em pír ica. De t al m odo, não pr et endem os

defender a t ese de que as t r ocas ar gum ent at ivas que acont ecem em espaços vir t uais

possam cum pr ir t odos os r equisit os da deliber ação. Não obst ant e, ident ificar as r elações

que se est abelecem ent r e as m odalidades das conver sações polít icas que acont ecem em

am bient es digit ais – a par t ir dos crit érios de deliber ação – é út il par a reflet ir sobr e a

m aneir a pela qual diferent es configur ações int er at ivas facilit am ou dificult am pr át icas

deliber at ivas.

I n flu ê n cia s da in t e r fa ce da s pla t a for m a s da in t e r n e t n a con v e r sa çã o cot idia n a

Pesquisador es que t êm na int er net seu obj et o de est udo não podem deixar de

consider ar que as fer r am ent as digit ais são, fundam ent alm ent e, am bient es const r uídos.

As escolhas de design e or ganização – consider ando- se aspect os de desenvolvim ent o,

pr ogr am ação e adm inist r ação, que pr ecedem o desenvolvim ent o da int er face – definem

e delim it am as condições e m odalidades at r avés das quais usuár ios poder ão int er agir

t ant o com a m ídia quant o ent r e si. A visão da int ernet com o um am bient e const r uído,

par a Colem an e Moss ( 2012) , é o pont o de par t ida par a a com pr eensão das lim it ações e

possibilidades de ação e par t icipação polít ica em um a dada plat afor m a. Esses aut or es

r ecom endam , port ant o, um exam e das decisões est r at égicas que det erm inam as

m aneir as possíveis de int er ação, m obilização e ação social online.

Com a pr eocupação de invest igar especificam ent e fer r am ent as de par t icipação

polít ica e engaj am ent o cívico, Janssen e Kies ( 2004) ident ificam quat r o fat or es que

podem afet ar a discussão: ident ificação; aber t ur a e liber dade discur siva; m oder ação;

agenda set t ing. A lit er at ur a focada em conver sação m ediada por com put ador e sit es de

r edes sociais, cuj o int eresse r ecai sobr e a const r ução de ident idades e com por t am ent o

em am bient es vir t uais, dest aca que aspect os com o a ident ificação dos part icipant es, a

liberdade discur siva e a m oder ação são elem ent os que influenciam o engaj am ent o

discur sivo e a int er ação social m ediada. Esses aspect os cont ribuem par a m oldar a

aut oexpr essão, a m odalidade de negociação ent re igualdades e difer enças ent r e os

2 Dahlber g ( 2004) apont a, ainda, com o sext o crit ério, "aut onom ia em r elação ao Est ado e ao poder

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par t icipant es e, ainda, a const r ução de com unidades ( Baym , 2010; Boyd, 2007, 2011;

Boyd e Ellison, 2007; Donat h e Boyd, 2004; Ellison e Boyd, 2013) .

Por ident ificação, ent ende- se a aut oapr esent ação do indivíduo na int er net . Nas

plat afor m as digit ais, isso se t r aduz na necessidade de r egist r o e/ ou uso de per fis

vir t uais em det er m inada plat afor m a, o que afet a subst ancialm ent e a par t icipação e o com port am ent o dos usuár ios por difer ent es m ot ivos. Tr at a- se de um a quest ão

cont r over sa: por um lado, o anonim at o cont r ibui par a aum ent ar a liberdade de

expr essão dos suj eit os, sobr et udo em debat es sobr e t em as const r angedor es ou t abus. Por out ro lado, o anonim at o, ao resguar dar a ident idade dos int er agent es, pode facilit ar

a em er gência de com por t am ent os agr essivos, desr espeit osos e pr econceit uosos.

Davies e Chandler ( 2012) obser vam que o anonim at o pode aum ent ar a disposição dos indivíduos em par t icipar do debat e, m as t ende a r eduzir o sent im ent o de

sat isfação dest es devido à dist ância em ocional ent r e int erlocut or es – ou sej a, em

am bient es onde a ident idade r eal é r esguar dada pela ut ilização de apelidos ou onde não há necessidade de apr esent ar algum a for m a de ident ificação par a par t icipar . Adem ais,

os indivíduos t endem a t r at ar seus int erlocut ores com dist anciam ent o e a não

consider ar suas opiniões, o que, por fim , cont ribui par a que as t rocas discur sivas apr esent em níveis m ais baixos de r espeit o e r eflexividade.

O uso de ident idades reais, por out r o lado, pode ger ar const r angim ent os e

r est r ições à liberdade de expr essão ao vincular as ações vir t uais a um a pessoa que pode ser facilm ent e ident ificada. Não obst ant e, esse pode ser um aspect o posit ivo nos

am bient es de int er ação social por que a possibilidade de r ast r eam ent o da ident idade

t ende a r eduzir com port am ent os indesej áveis, t ais com o o uso de m ent ir as e ar gum ent os falsos, a violência e o desr espeit o nas discussões em rede ( Boyd e Ellison,

2007; Donat h e Boyd, 2004; Janssen e Kies, 2004, Maia e Rezende, 2014a) .

Par a Baym ( 2010, p. 31- 32) , a incer t eza iner ent e às const r uções ident it ár ias na int er net é um a car act eríst ica m ar cant e dos am bient es discur sivos nos quais indivíduos

int er agem em condições de anonim at o. Segundo a aut or a, a ausência de cont ext o ( ou

de " pist as" sociais) cont ribui par a que os indivíduos t enham dificuldade em acr edit ar que os seus par ceir os de int er ação cor r espondam às suas ident idades const r uídas

vir t ualm ent e.

O cr it ério abert ur a e liber dade discur siva r efer e- se à possibilidade de que o acesso ou o núm er o de int er ações de cada usuár io sej a lim it ado, o que, sob um a

per spect iva deliber acionist a, afet ar ia a plur alidade de ideias e discussões no cur so de

um debat e ( Janssen e Kies, 2004; Kies, 2010) . Esse cr it ér io, r elacionado à ideia da igualdade discur siva na deliber ação, é bast ant e com plexo e de difícil oper acionalização

em pesquisas sobre deliber ação vir t ual ( Dahlber g, 2004, 2007; Sam paio, Bar r os e

(9)

novos desafios e problem as de desigualdades par a a inclusão dem ocr át ica ( Nor r is,

2000; Papachar issi, 2004) . Por out r a leit ur a, é possível defender o argum ent o de que

am bient es digit ais são dem ocr át icos e inclusivos na m edida em que gar ant em condições

m ais igualit árias par a aqueles que possuem m eios e m ot ivações par a part icipar ( Rossini

e Maia, 2014) .

A pr esença de m oder ação em espaços conver sacionais pode exer cer dois

papéis: a) o de censur ar per spect ivas que não são congr uent es com as nor m as e

posições polít icas pr opost as par a o espaço – o que ser ia negat ivo do pont o de vist a da

plur alidade e da liber dade de expr essão – e b) o de pr om over a deliber ação, ofer ecendo

oport unidades par a a expr essão de opiniões m inor it ár ias, sint et izando o debat e,

pr ovendo infor m ações adicionais sobr e o assunt o et c.

Finalm ent e, por agenda set t ing os aut or es se r efer em ao cont role sobre a

det er m inação do t ópico: os par t icipant es ( agenda descent r alizada) , os or ganizador es

( agenda cent r alizada) ou am bos ( agenda par cialm ent e cent r alizada) . Em out r as

palavr as, esse cr it ér io est á int er essado em obser var em que nível est á o cont role sobre

o t em a das discussões vir t uais – se é definido a pr ior i, negociado ent r e os par t icipant es

e os adm inist r ador es, ou se os int er agent es possuem liber dade par a propor novos

debat es ( Janssen e Kies, 2004, p. 5) . Evident em ent e, esse cr it ér io focaliza am bient es

for m ais de part icipação polít ica e r essalt a o papel delegado ao cidadão nesses espaços

( Chadwick, 2013) .

A seguir , consider ando as condições de int er ação de am bient es conver sacionais

dist int os – os blogs, sit es de r edes sociais e plat afor m as colabor at ivas –, buscam os

apr eender for m as com unicat ivas e expr essões polít icas que não se car act er izam com o

deliber ação, m as com o int er ações sociais m enos pret ensiosas, nas quais a relação é

negociada a t odo m om ent o ent r e int er locut or es que falam a um a audiência im aginada

( Chadwick, 2003; Colem an e Blum ler , 2009; Colem an e Moss, 2012; Boyd, 2011) .

Blogs

Os blogs sur gir am na década de 1990 com o espaços em que indivíduos

escr eviam sobr e quest ões de car át er pessoal ou público ( Ackland, 2013; Bay m , 2010) .

Em bor a a int er face e os r ecur sos disponíveis aos usuár ios de blogs t enham

nat ur alm ent e evoluído na m edida em que as plat afor m as da int er net se t or nar am m ais

int er at ivas, a ar quit et ur a t écnica e a or ganização desses espaços apr esent am linhas

ger ais m ais ou m enos bem definidas, que t r anscendem a m ult iplicidade de plat afor m as

que ofer ecem o ser viço. Tam bém é im por t ant e r essalt ar que os blogs não configur am ,

necessar iam ent e, am bient es conver sacionais. No ent ant o, a int er ação social é possível

por m eio da seção de com ent ár ios – que pode ser m oder ada pelo propr iet ário do blog.

(10)

" cr iador " : podem ser um espaço de r eflexão pessoal ou de com ent ários sobr e

acont ecim ent os, ou um am bient e especializado ( com o blogs j or nalíst icos, de colunist as e figur as públicas et c.) . Podem t r at ar de quest ões de int er esse público, com o polít ica e

econom ia, ou ver sar sobre ent r et enim ent o, m oda, gam es et c. A nat ur eza t em át ica do

blog delim it a sua audiência im aginada – o público par a o qual o aut or escr eve e ao qual

se dir ige – e fom ent a r elações ent r e blogueir os com int er esses afins. Nesse âm bit o, a

definição de agenda é pr edom inant em ent e cent r alizada e acont ece de cim a par a baixo,

ou sej a, do aut or par a o público.

Muit as vezes, blogueiros cr iam r elações com aut or es de out r os blogs e

disponibilizam links par a seus sit es no blogroll, que t am bém inclui links unilat er ais par a

blogs e sit es que o aut or consider a int er essant es ( Baym , 2010) . A int er ação social em blogs é assíncr ona e ocor re, pr edom inant em ent e, na seção de com ent ários – espaço no

qual o aut or do blog pode int er agir com sua audiência pr esum ida.

No ent ant o, esse r elacionam ent o é sem pre desigual por que o blogueiro possui cont r ole sobr e os com ent ár ios e pode decidir quais opiniões ficar ão visíveis no blog e

quais ser ão apagadas. Aqui, cabe analisar a necessidade ou não de ident ificação do

usuár io – definição que t am bém fica a cr it ér io do aut or – e a pr esença de m oder ação, fat or es que im põem const r angim ent os à par t icipação desr espeit osa e ao uso de

ident idades falsas ( Boyd, 2007, 2011; Donat h e Boyd, 2004; Maia e Rezende, 2014a,

2014b) . Essas car act er íst icas de design e or ganização do blog, cuj a influência r eside na nat ur eza com unicat iva do espaço, podem fom ent ar ou r est r ingir a em er gência de

det er m inadas car act er íst icas deliber at ivas. No ent ant o, é im por t ant e ressalt ar que blogs

são fer r am ent as am plam ent e cust om izáveis e, por t ant o, difíceis de apr eender a par t ir de cr it ér ios pr edefinidos. As car act er íst icas est r ut ur ais dos blogs dependem

exclusivam ent e das decisões de seu pr opriet ár io/ cr iador . Mas, com o ressalt a Siles

( 2012) , as ident idades de usuár ios e das t ecnologias são const r uídas m ut uam ent e e isso influencia nas for m as com unicat ivas que se r ealizam nesses espaços.

A est r ut ur a da fer r am ent a – post agens seguidas de com ent ários – e a relação

ent r e aut or e leit ores – que t am bém pode ser afer ida a par t ir da for m a com o os leit ores são convidados a part icipar – t or nam esse am bient e propício à t roca de argum ent os

j ust ificados e à pr esença de r espeit o ent r e os int er locut or es. I sso por que: a)

par t icipações desr espeit osas podem ser censur adas; b) blogs r eúnem leit or es assíduos que, ao longo do t em po, podem est abelecer relações sociais t ant o com o aut or com o

com os dem ais leit or es.

Est udos em deliber ação online dem onst r am que blogs são am bient es pr ofícuos par a a conver sação e a ar gum ent ação ( Kaye, 2011; Mer az, 2007; Am ar al, Recuer o e

Mont ar do, 2009) . Cont udo, é pr eciso t er em m ent e que a var iedade de t em as e

(11)

dos blogs t am bém int er fer em na definição da ident idade dos usuár ios com o gr upo,

t endo em vist a o com par t ilham ent o de valor es e pr át icas. A t ese de Siles ( 2012) é a de

que as ident idades de usuár ios são const r uídas m ut uam ent e em relação às

car act er íst icas do blog; e isso t r az im plicações não apenas par a o m odo de engaj am ent o

das pessoas nas conver sações t r avadas nesses espaços, m as, t am bém , par a os níveis

de j ust ificação dos com ent ár ios e, ainda, par a a at it ude r esponsiva dos par t icipant es.

Em am bient es em que há r espeit o e het erogeneidade de opiniões e posições

polít icas, est udos apont am que o engaj am ent o discur sivo par ece conduzir a argum ent os

m ais sofist icados, o que car act er izar ia um nível m ais elevado de j ust ificação ( Br undidge

e Rice, 2009; Risse, 2000, St einer et al., 2004, St einer , 2012) . A t r oca de m ensagens e

a cont est ação de opiniões conflit ant es nos blogs par ece exer cer pr essão par a que os

par t icipant es expliquem suas opiniões de m odo m ais clar o, com m aior gr au de

pr ofundidade e com evidências m ais convincent es, par a que sej am ent endidas ou

aceit as pelos dem ais ( Maia e Rezende, 2014a, 2014b) . Nesse sent ido, a " pr essão" par a

que se ofer eçam ar gum ent os m ais sofist icados par ece favor ecer a r ecipr ocidade ent r e

os par t icipant es. Esse com por t am ent o responsivo pode ocor r er , inclusive, em sit uações

em que não há um nível consider ável de r eflexividade ( Mut z, 2006) .

A exist ência ou não de plur alidade de opiniões e discur sos, segundo Woj cieszak

e Mut z ( 2009) , afet a subst ancialm ent e a per cepção do pot encial deliber at ivo e do valor

das conver sações polít icas na int er net . Nos est udos cuj o obj et o são espaços online

definidos, a pr ior i, com o polit icam ent e het erogêneos, a int er net é r et r at ada com o

espaço propício às t r ocas deliber at ivas ent r e part icipant es de m ent e aber t a, que

apr eciam per spect ivas difer ent es. Do cont r ár io, quando pesquisador es est udam gr upos

ligados a par t idos ou ideologias, é com um que a conclusão indique a presença de

" câm ar as de eco" , nas quais pessoas que nut r em per spect ivas sem elhant es são

expost as a ar gum ent os par ciais, que r efor çam suas pr edileções iniciais ( Woj cieszak e

Mut z, 2009, p. 42) .

Sit es de r edes sociais

Redes sociais são am bient es com plexos cuj a est r ut ur a básica é com post a por

per fis públicos ou sem ipúblicos, ar t iculação de um a list a de conexões r ecípr ocas e

possibilidade de navegar por essas list as e visualizar t ant o conexões pessoais com o

aquelas m ant idas por out r os usuár ios do sist em a ( Boyd e Elisson, 2007) . Nesses

am bient es, as at it udes dos usuár ios t endem a ser influenciadas por m ot ivações sociais,

com o a vont ade de par t icipar e com par t ilhar cont eúdos út eis ao gr upo, além de

const r uir e m ant er ident idades públicas desej áveis par a um público im aginado de

pessoas com quem desej am se com unicar ou para quem desej am apar ecer ( Boyd,

(12)

2008) .

I nicialm ent e, sit es de redes sociais er am plat afor m as cent r adas na const r ução e na visualização de per fis pessoais – um a her ança dos sit es de relacionam ent os

am or osos ( Ellison e Boyd, 2013) – e na ar t iculação das list as de " am izades" , r elações

r ecípr ocas est abelecidas publicam ent e. Sob o ar gum ent o de que a saliência dessas car act er íst icas foi alt er ada pela evolução das plat afor m as e de seus usos, Ellison e Boyd

r evisar am , r ecent em ent e, a definição par a os sit es de r edes sociais enfat izando os

pr ocessos de produção e cir culação de cont eúdos3:

Um a rede social é um a plat afor m a de com unicação int erconect ada na qual

os par t icipant es: 1) possuem perfis únicos e ident ificáv eis que consist em

de cont eúdos cr iados pelo usuár io, cont eúdos pr ov idos por out r os usuár ios

e/ ou dados em nív el de sist em a; 2) podem ar t icular conex ões

publicam ent e que podem ser v ist as e ex am inadas pelos out r os; e 3)

podem consum ir , produzir e/ ou int er agir com st ream s de cont eúdo ger ado

por usuár ios prov ido por suas conex ões no sit e ( Ellison e Boyd, 2013, p.

158) .

No âm bit o da const r ução de per fis – repr esent ação vir t ual do indivíduo –, as

aut or as dest acam o pr ocesso colabor at ivo de const r ução da ident idade ent r e o usuár io e

suas conexões: além das infor m ações pessoais dos usuár ios, os com ent ár ios e fot os

com par t ilhados por seus am igos cont r ibuem par a m oldar a for m a com o os per fis são

vist os na r ede e essas infor m ações t endem a ser pr ovas m ais confiáveis sobr e a

ident idade do indivíduo do que aquilo que ele pr ovê ( Donat h e Boyd, 2004; Ellison e

Boyd, 2013; Walt her et al., 2008) . Consider ando- se que sit es de r edes sociais são

espaços cuj as conexões sociais são pr edom inant em ent e est abelecidas ent re pessoas

que j á possuem algum t ipo de r elacionam ent o offline, a visibilidade dessas conexões

int er pessoais ger a num er osos const r angim ent os ao com port am ent o dos usuár ios ( Boyd,

2007, 2011; Boyd e Ellison, 2007; Ellison e Boyd, 2013) . Além disso, saber que alguém

est á conect ado a out r a pessoa j á conhecida favor ece o est abelecim ent o de confiança

par a novos r elacionam ent os, de m odo que " conexões em com um " at uam com o

im port ant es " pist as" sociais, pr ovendo cont ext o às int er ações em r edes sociais ( Baym ,

2010; Donat h e Boyd, 2004; Walt her et al., 2008) .

Ter a ident idade r evelada e est ar conect ado a difer ent es gr upos de r elações

sociais ( fam ília, am igos, relações de t r abalho et c.) são const r angim ent os sociais que

3

(13)

det er m inam a for m a at r avés da qual os indivíduos se com por t am e int er agem online.

No Facebook, especificam ent e, é possível se com unicar t ant o de m aneir a assíncr ona,

por m eio de post s e com ent ár ios, com o de m odo pr ivado e em t em po r eal, ut ilizando o

chat e as m ensagens pr ivadas ( Ellison e Boyd, 2013) . Dessa for m a, é possível assum ir

que indivíduos ir ão se com port ar de acor do com as nor m as per cebidas de

com port am ent o em diferent es am bient es: enquant o páginas e gr upos fom ent am a

cr iação de com unidades de pessoas com int eresses ou pensam ent os sem elhant es e

podem , port ant o, ser propícias a debat es aut or r eferenciados e at é host is em r elação a

posições diver gent es ( Maia e Rezende, 2014a; 2014b) , a int er ação das pessoas com

seu cír culo de conexões em espaços públicos da r ede t ende a se car act erizar pela

t oler ância e aber t ur a aos cont eúdos com posições conflit ant es ( Rossini, 2013)4.

No t ocant e aos cr it ér ios acim a m encionados, a ident ificação é o único par âm et ro

est ável nos difer ent es am bient es com unicacionais do Facebook: par a par t icipar de

qualquer at ividade na r ede, o usuár io pr ecisa possuir um per fil conect ado a um a cont a

ver ificada de e- m ail e pode ser penalizado por at it udes que violem os t er m os de acesso

do sit e.

Em r elação aos out ros parâm et r os, o Facebook apresent a condições dist int as de

com unicação. A definição de agenda pode ocor rer das t r ês for m as: em gr upos, event os

e páginas. O t em a cost um a ser definido pela pessoa ou gr upo de pessoas r esponsável

pela cr iação e adm inist r ação. Elas t am bém possuem , nesse cont ext o, o cont r ole sobr e

fer r am ent as de m oder ação – podendo apagar com ent ár ios e cont eúdos – e podem ,

por t ant o, r est r ingir a aber t ur a e a liber dade discursiva. O est udo de Maia e Rezende

( 2014b) m ost r a que par t icipant es em páginas e event os de apoio a det er m inadas

causas t endem a excluir ou r echaçar pessoas que cont r ar iam as cr enças dom inant es no

gr upo. Já no âm bit o dos com ent ár ios em publicações visíveis no feed de not ícias, os

usuár ios não t êm o cont r ole sobre a par t icipação de suas conexões – podendo,

por t ant o, passar por const r angim ent os ou, ainda, ser int er pelados por discussões m ais

het er ogêneas ( Rossini, 2013) . Aqui, not a- se m aior aber t ur a e liber dade discur siva e a

possibilidade de m oder ação sobr e a ação de t er ceir os é lim it ada5.

A const at ação de t ais car act er íst icas do am bient e dos sit es de r edes sociais

dem onst r a que esse é um espaço de for t e car át er discur sivo e int er at ivo. Os usuár ios

4 A ênfase na pr odução de cont eúdos fez com que o Facebook m odificasse o padrão de suas conexões,

que, inicialm ent e, eram obrigat or iam ent e r ecípr ocas. No m om ent o de t essit ur a dest e art igo, t am bém era possível "seguir " pessoas, um a conexão unilat eral que significa r eceber suas at ualizações de st at us sem est ar conect ado com o am igo. É im por t ant e enfat izar que as m udanças nas fer r am ent as das redes sociais ocor rem em rit m o aceler ado e fr equent em ent e sem aviso prévio, de m odo que car act eríst icas obser vadas por um a pesquisa podem j á est ar ult rapassadas ou não exist ir no m om ent o da sua publicação ( Ackland, 2013; Ellison e Boyd, 2013) .

5

(14)

desse am bient e possuem o cont r ole sobr e a pr ópria part icipação e um a

aut oident ificação paut ada pr incipalm ent e por m ot ivações pessoais. Essa especificidade do Facebook possibilit a que as conexões dos par t icipant es com os out r os usuár ios, que

per t encem à sua r ede de r elacionam ent os, sej am m ais for t es e dur adour as. I sso t ende

a est im ular a aut oexpr essão e a afir m ação da ident idade. Diver sos aut ores sust ent am o ar gum ent o segundo o qual esses fat or es facilit am a int er ação nos sit es de r edes sociais,

o que abr e espaço par a possíveis t rocas ar gum ent at ivas ( Ellison, St einfield e Lam pe,

2011; Gr asm uck, Mar t in e Zhao, 2009; Valenzuela, Par k e Kee, 2009; War d, 2012) . Nesse sent ido, cr it érios de deliber ação podem ser ut ilizados par a apr eender as

condições de com unicação ent r e pessoas que se conhecem e que convivem em

det er m inados dom ínios sociais.

A possibilidade de os sit es de redes sociais se t or narem espaços de int er ação é

dest acada em pesquisas que invest igam a for m ação de capit al social em sit es com o o

Facebook. De acor do com a pesquisa desenvolvida por Ellison, St einfield e Lam pe ( 2011) , o uso do Facebook por est udant es univ er sit ár ios dem onst r a as seguint es

car act er íst icas: a) o sit e t or na possível que os indivíduos m ant enham um am plo

conj unt o de laços sociais fr acos; b) per m it e que indivíduos t or nem r elações efêm er as em conexões per sist ent es; c) dim inui os cust os de m ant er laços sociais fr acos; d) pode

r eduzir as bar r eir as par a iniciar int er ações e facilit ar a for m ação de um t er reno com um

par a o diálogo; e) pode t or nar m ais fácil a busca por infor m ação e apoio no out r o. Os pesquisadores concluem que o Facebook pode aum ent ar o capit al social, o que, por sua

vez, pot encializa a possibilidade de os sit es de r edes sociais se t or nar em ar enas

discur sivas. Gr asm uck, Mar t in e Zhao ( 2009) , por exem plo, ao pesquisar as ex pr essões de ident idade no Facebook de det er m inados gr upos ét nico- r aciais, dem onst r am que os

suj eit os recor r em a difer ent es est r at égias, desde elem ent os visuais at é t écnicas

nar r at ivas, par a est abelecer r elações ent r e suas ident idades vir t uais e r eais, enfat izando, sobr et udo, expr essões de orgulho e pert encim ent o ét nico ou r acial. Sendo

assim , os sit es de r edes sociais podem funcionar com o espaços de r efor ço de

ident idades e de per t encim ent o a gr upos, bem com o ar ena de disput a de int er esses, com " declar ações fort em ent e fundam ent adas na vida offline" ( Gr asm uck, Mar t in e Zhao,

2009, p. 177) .

No Facebook, as condições par a exam inar o cr it ér io de não coer ção, im por t ant e par a o pr ocesso deliber at ivo, apr esent a cer t as especificidades. Pr im eiro, esse é um

am bient e em que const rangim ent os própr ios da vida social, nor m as e expect at ivas

r elat ivas aos padr ões de com port am ent o no cír culo de pessoas conhecidas se fazem pr esent es com m aior int ensidade. Poder íam os aludir aqui aos " const r angim ent os

int er nos" ( Haber m as, 1997, p. 305- 306) , que bloqueiam a livr e expr essão da opinião e

(15)

nas r elações et c. Segundo, a aut om oder ação em sit es com o Facebook pode ser elevada.

Em am bient es em que as pessoas se agr egam espont aneam ent e devido à ident ificação

com um a causa com um , em sit uações de at ivism o, por exem plo, é r ecor r ent e a pr át ica

ent r e os par t icipant es de convidar pessoas com posicionam ent os opost os a se ret ir ar em

das páginas e per fis específicos ( Maia e Rezende, 2014a, 2014b) . Nesse sent ido, as

r edes sociais podem ser ut ilizadas t ant o par a nut r ir solidar iedade ent r e pessoas que se

ident ificam , com o part e de um esfor ço com um par a fazer avançar cer t as causas, quant o

par a se difer enciar e, em alguns casos, r echaçar aqueles ident ificados com o difer ent es

( War d, 2012, p. 161) .

Por fim , r essalt am os as condições de r esponsividade e r eflexividade da

deliber ação. Os sit es de redes sociais, com o o Facebook, são am bient es m ais com plexos

par a a oper acionalização do cr it ér io de r eflexividade, um a vez que possibilit am m últ iplas

for m as de com unicação que var iam ent r e m eios síncr onos e assíncr onos, públicos

( com ent ár ios no feed de not ícias) , sem ipúblicos ( gr upos, event os, páginas) e pr ivados.

No âm bit o das r elações sociais e int er ações públicas de um usuár io, é plausível supor

que suas int er ações ser ão m ais r eflexivas e r espeit osas. O m esm o não ocor r e quando

se consider am páginas e gr upos, nos quais pessoas com int er esses em com um e

opiniões sem elhant es t endem a desr espeit ar a expr essão de per spect ivas desafiant es.

Tr at a- se, port ant o, de um a quest ão que depende fundam ent alm ent e do cont ext o das

int er ações que se pr et ende obser var .

Plat afor m as de cont eúdo colabor at iv o

As plat afor m as de cont eúdo colabor at ivo, fr equent em ent e abor dadas sob o

conceit o guar da- chuva " m ídias sociais" , são sit es da int er net que gar ant em aos usuár ios

acesso gr at uit o e sim plificado a fer r am ent as de pr odução e com part ilham ent o de

cont eúdos. São exem plos o Soundcloud, sit e dest inado à produção de áudio, o Flickr ,

cuj o uso é par a com par t ilham ent o de im agens e fot ogr afias, o YouTube e o Vim eo,

plat afor m as de vídeos, ent r e out r as num er osas possibilidades ( Ackland, 2013; Ellison e

Boyd, 2013; O’Reilly, 2005; Shir k y, 2011) .

Assim com o os sit es de r edes sociais, difer ent es plat afor m as possuem

fer r am ent as específicas par a int er ação social. Par a os obj et ivos dest e ar t igo, elegem os

o YouTube com o exem plo par a nossa r eflexão acer ca dos cr it érios de organização e

design e seus possíveis efeit os sobr e a int er ação social.

De m aneir a ger al, a est r ut ur a t em por al da int eração nesses am bient es é

assíncr ona e ocor r e pr edom inant em ent e em seções dest inadas a com ent ár ios – em bora

sej a possível acr escent ar com ent ár ios e anot ações no pr ópr io vídeo. Um a difer ença

m ar cant e em r elação a sit es de r edes sociais é o fat o de que os cont eúdos são

(16)

m eio de com ent ários t am bém é abert a6 ao público – o que significa, em t er m os

pr át icos, que não é necessár io est ar ident ificado par a par t icipar de discussões nessas plat afor m as. A ausência de m ecanism os de ident ificação – ou, em out r as palavr as, a

possibilidade de anonim at o – pode im plicar com port am ent os abusivos, falt a de r espeit o

e uso de linguagem im pr ópr ia ( ver Maia e Rezende, 2014a, 2014b; Mut z, 2006; Woj cieszak e Mut z, 2009) .

A seção de com ent ár ios do YouTube t em a opção de r espost a – o que pr opicia o

sur gim ent o de discussões ent r e usuár ios – e apr esent a duas for m as de int er ação r eat iva – ou int er ação com a m ídia: apoiar o com ent ár io ( a figur a da m ão com o dedo

polegar par a cim a) ou negá- lo ( a figur a da m ão com o dedo polegar par a baixo) . Out r a

for m a de int er ação é a inser ção de anot ações no vídeo ( caixas de t ext o que apar ecem dur ant e a r epr odução do vídeo) .

Em r elação a liber dade e abert ur a discur siva, as plat afor m as de cont eúdo

colabor at ivo podem ser consider adas propícias à liber dade de expr essão, um a vez que per m it em a par t icipação de indivíduos não r egist r ados. Nesse sent ido, elas são m ais

aber t as que fer r am ent as que r est r ingem a int eração ao r egist r o. No ent ant o, o

pr opr iet ário do canal pode opt ar por não abr ir a opção de com ent ários em seu cont eúdo ou cont r olar a visibilidade dos com ent ár ios vinculando- os a um a apr ovação. No t ocant e

à definição de agenda, é possível supor que com ent ár ios feit os em um vídeo ser ão

r efer ent es ao cont eúdo dest e, de m odo que a agenda da discussão ser ia, a pr incípio, det er m inada pelo t em a da m ídia. No ent ant o, com o é possível desenvolver discussões a

par t ir de r espost as a com ent ár ios, o YouTube fr equent em ent e se t or na palco de debat es

ent r e indivíduos com opiniões divergent es sobr e quest ões que t r anscendem o t em a or iginal ( Maia e Rezende, 2014a) .

Ao analisar a const it uição e os m ecanism os de par t icipação e coer ência

pr esent es nos diálogos am bient ados nos com ent ár ios do YouTube, Bou- Fr anch, Lor enzo- Dus e Blit vich ( 2012, p. 516) r essalt am que esse am bient e não é habit ado

som ent e por pr odut or es de vídeo e espect ador es, m as t am bém por um im por t ant e

gr upo de usuár ios dedicados à int er ação t ext ual. Os aut or es ressalt am que as int er ações que lá acont ecem são " com plexas, flexíveis, inst áveis e im previsíveis" e que

as pessoas que se expr essam no YouTube fazem isso pr incipalm ent e de for m a anônim a,

conscient es de que est ão " int er agindo e ent r ando em cont at o com out r os, m uit as vezes desconhecidos, YouTuber s" ( Bou- Fr anch, Lor enzo- Dus e Blit vich, 2012, p. 502) .

Confor m e discut im os, o anonim at o t ende a am pliar o dist anciam ent o ent r e os

int er locut or es e dificult ar o r econhecim ent o dest es com o par ceir os de int er ação. Nat ur alm ent e, esse fat or cont r ibui par a que as t r ocas discur sivas no YouTube

6

(17)

apr esent em m enos r espeit o e r ecipr ocidade, um a vez que as pessoas se encont r am

vir t ualm ent e na pr esença de um a " 'm assa' im aginada de usuár ios com uns" ( Bur gess e

Gr een, 2009, p. 8) , for m ada por usuár ios at ivos e passivos, que acessam o sit e par a

consum ir cont eúdos e obser var event uais discussões.

A m oder ação – por onde as par t icipações desr espeit osas poderiam ser

censur adas – não é car act er íst ica m ar cant e desse am bient e, em bor a os adm inist r adores

dos canais possam ut ilizar esse t ipo de fer r am ent a. Tr at am ent os desr espeit osos fazem

com que a audiência sej a vist a com o um a m assa de oponent es ( Jur is, 2005) . I sso, além

de não favor ecer a cooper ação ar gum ent at iva, pr opicia que, no plano da j ust ificação,

acont eça um a " guer r a de int er pr et ações" ( Jur is, 2005, p. 416) . Em espaços com o o

YouTube, os par t icipant es t endem a ser indifer ent es quant o à possibilidade de os

dem ais usuár ios responderem ou não às suas ideias e r azões, e, ainda, desint er essados

nas r espost as que eles possam r eceber , desfavor ecendo, por t ant o, a em er gência de

int er ações dialógicas.

Cenár io difer ent e do que pode acont ecer quando, por exem plo, não est ão em

j ogo quest ões cont r over sas. Ao analisar os com ent ár ios de vídeos do est ilo "com o eu

faço..." veiculados no YouTube, Lindgr en ( 2012) m ost r a que, apesar do r elat ivo

anonim at o, há um clim a par t icipat ivo, em que a m aioria dos com ent ár ios expr essa

posições m oder adas – negat ivas ou posit ivas. Segundo o aut or , os com ent ár ios fazem

par t e de um cir cuit o m idiát ico na plat afor m a, o que aj udar ia, inclusive, na cr iação de

novas conexões e r elações ent r e os par t icipant es. Desse m odo, os com ent ár ios m ais

ext r em os e polêm icos ser iam um a pequena m inor ia.

Con sid e r a çõe s fin a is

O esfor ço em pr eendido nest e ar t igo foi o de r eflet ir sobr e a m aneir a pela qual

os diver sos am bient es com unicacionais pr esent es na int er net pr opiciam for m as dist int as

de conver sação infor m al. Par t indo de um a obser vação de pesquisas sobr e a int er face

int er at iva de t r ês plat afor m as dist int as – blogs, sit es de r edes sociais e sit es de

cont eúdo colabor at ivo –, buscam os r essalt ar as car act er íst icas dessas ar enas

conver sacionais com o espaços const r uídos e enfat izar as opor t unidades par a ação e os

const r angim ent os à int eração social com o fat ores que influenciam cr ucialm ent e a

conver sação m ediada e m oldam as int er ações possíveis em cada sit uação.

À luz da t eoria deliber at iva e dos oper ador es fr equent em ent e ut ilizados em

pesquisas sobr e deliber ação online, pr opusem o- nos a pensar com o alguns cr it ér ios,

usualm ent e aplicados em est udos em pír icos, podem cont r ibuir para pensar

conver sações infor m ais online – for m as com unicat ivas e expr essões polít icas que for am

am pliadas e enr iquecidas com os novos disposit ivos e r ecur sos da Web 2.0.

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discur sivas online, pr incipalm ent e aquelas t r azidas pelos pr óprios am bient es em suas

car act er íst icas m ais est r ut ur ais. Ent endem os que o cont eúdo, a for m a, o pr ocesso discur sivo que acont ecem nesses espaços devem ser consider ados par a que se possa

chegar a um a análise dos cr it érios sobr e a qualidade das conver sações polít icas m ais

consonant es com a diver sidade de plat afor m as e as int er ações est abelecidas hoj e na int er net . É pr eciso consider ar , ainda, que os usuár ios encont r am na int er net

possibilidades var iadas de engaj am ent o discur sivo e, fr equent em ent e, par t icipam em

m ais de um a delas.

Cont udo, r essalt am os que a nossa pr opost a apr esent a algum as dificuldades.

Pr im eir o, qualquer esfor ço par a car act erizar a ar quit et ur a t ecnológica dos m edia não

pode per der de vist a que os suj eit os usam esses disposit ivos par a os m ais difer ent es pr opósit os. Tal uso é pr ofundam ent e influenciado por um conj unt o com plexo de fat or es

sociocult ur ais, que int er agem com as opor t unidades e os const r angim ent os provocados

pela int er face de cada am bient e. Consequent em ent e, não há com o fazer der ivações neut r as sobr e as pr opr iedades t écnicas dos disposit ivos, m uit o m enos suger ir que eles

sej am " posit ivos" ou " negat ivos" par a a dem ocr acia.

Segundo, a indagação sobr e a " conect ividade" ent r e am bient es dist int os de

m edia, apesar de t er um a pr et ensão gener alizant e, pode apenas guiar est udos

em pír icos que pr ecisam ser delim it ados, a fim de const r uir cer t as peças de evidência,

um a vez que as plat afor m as sociais da int er net configur am um hor izont e com plexo de int er ações sociais que não pode ser consider ado unifor m e. Não obst ant e, ent endem os

que um a per spect iva m ais nuançada sobr e o am bient e digit al pode aj udar os

pesquisadores a int er pret ar os r esult ados de nat ur eza m icr o, os quais são pot encialm ent e válidos apenas em um dado cont ext o.

A abor dagem aqui delineada valor iza o papel da conver sação infor m al com o

pr ocesso cat alisador de for m as m ais com plexas de par t icipação polít ica e cívica. Ent endem os, por t ant o, que a deliber ação se dá em m eio a pr át icas diver sas e que

ocor r e em var iadas inst âncias, incluindo- se aí a ar ena dos m edia e os espaços de

conver sação infor m al ( Mansbr idge et al., 2012; Neblo, 2005; Maia, 2012; St einer , 2012) . No ent ant o, a abordagem da " ecologia com plexa" do am bient e digit al pode ser vir

com o pont o de par t ida par a um a nova agenda de pesquisa. Nesse cont ext o,

dest acam os a invest igação de am bient es cuj os desenhos par t icipat ivos cr iam oport unidades e const r angim ent os dist int os e, ainda, cuj os espaços conver sacionais são

int er dependent es. Essa per spect iva coloca o desafio de obser var e invest igar com o os

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Rousiley C. M. Maia - Pr ofessor a associada do Depar t am ent o de Com unicação Social, Faculdade de Filosofia e Ciências Hum anas, Univ er sidade Feder al de Minas Ger ais ( UFMG) . E- m ail: < r ousiley@fafich.ufm g.br> .

Pat r ícia G. C. Rossini - Dout oranda em Com unicação Social na Faculdade de Filosofia e Ciências Hum anas, Universidade Feder al de Minas Ger ais ( UFMG) e pesquisador a do Gr upo de Pesquisa em Mídia e Esfer a Pública ( EME/ UFMG) . E- m ail: < pat r iciar ossini@ufm g.br> .

Vanessa V. de Oliveir a - Dout or anda em Com unicação Social na Faculdade de Filosofia e Ciências Hum anas, Universidade Feder al de Minas Ger ais ( UFMG) e pesquisador a do Gr upo de Pesquisa em Mídia e Esfer a Pública ( EME/ UFMG) . E- m ail: < v anessav eiga@ufm g.br> .

Alicianne G. de Oliv eir a - Dout or anda em Com unicação Social na Faculdade de Filosofia e Ciências Hum anas, Universidade Feder al de Minas Ger ais ( UFMG) e pesquisador a do Gr upo de Pesquisa em Mídia e Esfer a Pública ( EME/ UFMG) . E- m ail: < alicianneg@gm ail.com > .

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Referências

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