3 5 6
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 3 8 ( 4 ) :3 5 6 -3 5 7 , jul-ago, 2 0 0 5
Elevada prevalência de blastocistose em pacientes do Centro de
Saúde de Soledad, Estado Anzoátegui, Venezuela
Blastocystosis: a high prevalence of cases found in patients from
Health Center of Soledad, Anzoategui State, Venezuela
Virma Velásquez
1, 2
, Rixcia Caldera
2
, Wladimir Wong
2
, Gloria Cermeño
2
, Maximo Fuentes
2
,
Ytalia Blanco
1, 2
, Maria Aponte
1, 2
e Rodolfo Devera
1, 2
RESUMO
En tre 9 8 e x a m e s p a ra si to ló gi c o s d e f e ze s d e p a c i e n te s d o Ce n tro d e Sa ú d e d e So le d a d , An zo á te gu i , Ve n e zu e la , f o ra m
e n c o n tra d o s 4 6 ( 4 6 ,9 %) p o si ti vo s p a ra B lasto c ystis ho minis.
Pal avr as-chave s:
B lasto c ystis ho minis. Bla sto c i sto se . Pa c i e n te s. Ve n e zu e la . Pre va lê n c i a .
ABSTRACT
The par asito lo gic al e xaminatio n o f fe c al sample s fr o m 9 8 patie nts fr o m an Amb ulato r y He alth Ce nte r o f So le dad, Anzo ate gui,
Ve ne zue la r e ve ale d a r athe r high pr o po r tio n o f r e sults po sitive fo r B lasto c ystis ho minis ( 4 6 .9 % ) .
Ke y-words:
B lasto c ystis ho minis. Bla sto c ysto si s. Pa ti e n ts. Ve n e zu e la . Pre va le n c e .
1 . Gr upo de Par asito sis Inte stinal, De par tame nto de Par asito lo gia y Mic r o b io lo gía, Esc ue la de Ciê nc ias de la Salud, Unive r sidad de Or ie nte , Ciudad de B o lívar, Estado B o lívar, Ve ne zue la. 2 . Amb ulató r io Rur al Tipo II, So le dad, Estado Anzo áte gui, Ve ne zue la.
En de r e ço par a cor r e spon dê n ci a: Dr. Ro do lfo De ve r a. Dpto de Par asito lo gia y Mic r o b io lo gía, Esc ue la de Cie nc ias de la Salud, Unive r sidad de Or ie nte . Núc le o B o lívar. Av. J o sé Mé nde z, B ar r io Aj ur o , Ciudad B o lívar, Estado B o lívar, 8 0 0 - 1 A, Ve ne zue la.
Fax: 0 0 2 8 6 6 3 2 - 4 6 0 8
e - mail: r o do lfo de ve r a@ ho tmail. c o m Re c e b ido par a pub lic aç ão e m 2 1 /3 /2 0 0 5 Ac e ito e m 2 1 /5 /2 0 0 5
B la s to c ys ti s h o m i n i s
é u m do s p r o to zo á r i o s m a i s
fr e q üe nte me nte e nc o ntr ado s no e xame par asito ló gic o das
fezes. Existem vár ias c o ntr o vér sias, so b r etudo r efer entes à
e pide m io lo gia , à tr a n s m is s ã o , a o s a s pe c to s c lín ic o s e à
pato genic idade do par asita
1 7. Co m r elaç ão ao diagnó stic o ,
também se tem dific uldades, pois ainda que se saiba o exame
direto é a melhor técnica. Alguns centros não fazem o diagnóstico
devido a diferentes c ausas, tais c omo falta de c onhec imento do
pessoal, uso da técnica incorreta ou simplesmente não concedem
importânc ia a seu ac hado
1 8.
A taxonomia do parasita também é indefinida. Em 1 9 9 6 ,
e studo s me diante análise filo ge né tic a do RNA r ib o sso mal,
inc luíram o parasita dentro dos Stra m e no pile s, um c omplexo
grupo de protozoários
1 8. Mais rec entemente, essa observaç ão
preliminar foi c onfirmada utilizando-se dados de seqüênc ias
molec ulares múltiplas
3.
Embora seja um protozoário polimórfic o, se desc revem
quatro fo rmas princ ipais: vac uo lar, granular, amebó ide e o
estágio de c isto. A primeira é a mais freqüentemente observada
nas fezes, sendo, portanto, a utilizada para fazer o diagnóstic o
8.
O o b j e tivo do e studo fo i de te r m inar a pr e valê nc ia de
B. ho m inis em pacientes atendidos no Posto de Saúde de Soledad
no Estado Anzoátegui, na Venezuela, no período març o-agosto
de 2 0 0 3 . A c omunidade é de tipo rural, loc alizada na margem
e sq ue r da do r io Or ino c o . Em ge r a l, o pa dr ã o de vida é
c onsiderado c omo baixo.
As amostras fec ais rec ebidas foram preservadas em formol
a 1 0 % e avaliadas dentro das 4 8 horas seguintes mediante a
téc nic a de sedimentaç ão espontânea
2. Para verific ar a morfologia
do protozoário, as amostras positivas foram avaliadas novamente
um mês depois.
Foram estudadas amostras de 9 8 pacientes, sendo a maioria
( 6 7 ,3 %) menores de 1 0 anos. A média de idade foi de 1 2 anos com
desvio padrão de 1 7 ,1 anos, e 5 2 % eram do sexo feminino e 4 8 %
do masculino. A prevalência de parasitoses intestinais foi de 5 8 ,2 %
( 5 7 /9 8 ) . A maioria dos infectados estava na faixa etária de 0 a 9
anos, embora essa diferença não tenha sido significativa (
χ
2= 3 ,7 1 ;
3 5 7
Velásquez V col s
7 ( 7 , 1 % )
Gi a rd i a la m b li a , 2 ( 2 % )
Io d a m e b a b u tsc h li i,
3 ( 3 ,1 %) Trichuris trichiura e 3 ( 3 ,1 %) Asca ris lum b rico ide s.
Essa prevalênc ia, e partic ularmente de B. ho m inis, c oinc ide
c om a enc ontrada em c omunidades rurais vizinhas
9 1 2, sendo
uma das maiores da Venezuela
9 1 2 1 7. Em outras loc alidades de
Améric a Latina, também se tem assinalado elevadas prevalênc ias
de blastoc istose
4 1 1 1 3 1 4 1 6.
Apesar da fragilidade das formas vac uolares
8, a preservaç ão
em fo rmo l a 1 0 % , e po sterio rmente exame pela téc nic a de
sedimentação espontânea dentro das 4 8 horas seguintes, mostrou
resultados adequados. A preservaç ão por mais de um mês, após
a c oleta, determina que as formas vac uolares se deformam,
dific ultando a identific aç ão.
Bla sto cystis ho m inis deve-se assinalar c omo o responsável
pe la s m a n ife s ta ç õ e s c lín ic a s e m to do pa c ie n te c o m : 1 )
B. ho m inis numerosos na amostra fec al. Sugere-se que mais de
5 células por campos de 4 0 0 X se associa com sintomas em muitos
pac ientes. 2 ) Presenç a de formas vac uolares grandes nas fezes.
3 ) Ausênc ia de outras c ausas que expliquem a sintomatologia.
4 ) Eliminaç ão dos sintomas apos tratamento antiparasitário
espec ífic o
8. Como é difíc il c umprir c om todos esses c ritérios,
c onsideramos sugestivas a exc lusão de outras c ausas e a c ura
c línic a e parasitológic a do pac iente, logo após o tratamento.
A água poderia ser o principal veículo de contaminação da
maioria dos protozoários
1 5, pois esta comunidade tem deficiente
fornecimento de água potável, além do nível educativo que leva a
baixas condições de higiene e dos limitados recursos econômicos
que se tem verificado na comunidade. Tudo isto forma parte da
chamada etiologia social das parasitoses intestinais
5 6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 . Amato Ne to V, Alar c ó n RSR, Gak iya E, B e ze r r a RC, Fe r r e ir a CS, B r az LMA.
B lasto c isto se : c o ntr o vé r sias e inde finiç õ e s. Re vista da So c ie dade B r asile ir a de Me dic ina Tr o pic al 3 6 : 5 1 5 - 5 1 7 , 2 0 0 3 .
2 . Amato Ne to V, Co r r ê a LL. Exame par asito ló gic o das fe ze s. Edito r a Sar vie r, São Paulo , 1 9 9 1 .
3 . Ar isue N, Hashimo to T, Yo shik awa H. Phylo ge ne tic po sitio n o f Bla sto c ysti s h o m i n i s and Str ame no pile s Infe r r e d fr o m Multiple Mo le c ular Se q ue nc e Data. J o ur nal o f Euk ar io tic Mic r o b io lo gy 4 9 : 4 2 - 5 3 , 2 0 0 2 .
4 . B o r da CE, Re a MJ , Ro s a J R, Ma ida n a C. I n te s tin a l pa r a s itis m in Sa n
Ca ye ta n o , Co r r i e n te s , Ar ge n ti n a . B u l l e ti n o f P a n - Am e r i c a n He a l th
Or ganizatio n 3 0 : 2 2 7 - 2 3 3 , 1 9 9 6 .
5 . B o te r o D. Pe r siste nc ia de par asito sis inte stinale s e ndé mic as e n Amé r ic a
Latina. B o le tín de la Ofic ina Sanitar ia Paname r ic ana 9 0 : 3 9 - 3 7 , 1 9 8 1 .
6 . Chac ín-B o nilla L. El pr o b le ma de las par asito sis inte stinale s e n Ve ne zue la.
Inve stigac ió n Clínic a 3 1 : 1 - 2 , 1 9 9 0 .
7 . De ve r a R. Bla sto c ysti s h o m i n i s: o e nigma c o ntinua. Re vista da So c ie dade B r asile ir a de Me dic ina Tr o pic al 3 1 : 4 9 1 - 4 9 2 , 1 9 9 8 .
8 . De ve r a R. Bla sto c ysti s h o m i n i s par asita inte stinal po uc o e studado no B r asil. J o r nal B r asile ir o de Me dic ina 7 6 : 8 5 - 8 9 , 1 9 9 9 .
9 . De ve r a R, Ce r me ño , B lanc o Y, B e llo Mo nte s MC, Gue r r a X, De So usa M,
Maitan E. Pr e vale nc ia de b lasto c isto sis y o tr as par asito sis inte stinale s e n
una c o m unida d r ur a l de l Esta do Anzo á te gui, Ve ne zue la . Pa r a sito lo gía
Latino ame r ic ana 5 8 : 9 5 - 1 0 0 , 2 0 0 3 .
1 0 . De ve r a R, Re q ue na I, Ve lásq ue z V, Castillo H, Gue var a R, Silva M, So usa M,
Ma r í n C. B a la n tidia s is e n un a c o m un ida d r ur a l de l e s ta do B o lí va r,
Ve ne zue la. B o le tín Chile no de Par asito lo gía 5 4 : 7 - 1 2 , 1 9 9 9 .
1 1 . Ko b ayashi J, Hase gawa H, Fo r li A, Nishimur a N, Yamanak a A, Shimab uk ur o
T. Pr e vale nc e o f inte stinal par asitic infe c tio n in five far ms in Ho lamb r a,
São Paulo , B r azil. Re vista do Instituto de Me dic ina Tr o pic al de São Paulo
3 7 : 1 3 - 1 8 , 1 9 9 5 .
1 2 . Mac huc a J , Gime ne z G. B lasto c ysto sis inte stinal e n niño s de 1 a 1 2 año s.
Eva lua c ió n Clín ic o - Pa r a s ito ló gic a . Mun ic ipio I n de pe n de n c ia ( Es ta do
Anzo áte gui) . 1 9 9 6 - 1 9 9 7 . Te sis de Gr ado , Unive r sidad de Or ie nte , Ciudad
B o lívar, Ve ne zue la, 1 9 9 7 .
1 3 . Me j í a s G. I n fe c c i o n e s e n te r o p a r á s i ta r i a s e n e s c o l a r e s r u r a l e s d e l
Ar c hipie lago de Chilo e , X Re gió n, Chile . B o le tín Chile no de Par asito lo gia
4 8 : 2 8 - 2 9 , 1 9 9 3 .
1 4 . Me r c ado R, Otto J P, Musle h M, Pé r e z M. Infe c c ió n humana po r he lminto s
y pr o to zo o s inte stinale s e n Calb uc o , X r e gió n, Chile , 1 9 9 7 . B o le tín Chile no
de Par asito lo gía 5 2 : 3 6 - 3 8 , 1 9 9 7 .
1 5 . Or ganizac ió n Mundial de la Salud. Infe c c io ne s inte stinale s po r pr o to zo o s
y he lm into s. Edito r a Gr á fic a s Re unida s, Se r ie info r m e s té c nic o s 6 6 6 ,
Gine b r a, 1 9 8 1 .
1 6 . Otto J P, Musle h M, Pé r e z R, Me r c ado R. Ente r o par asito sis e n 4 0 gr upo s
familiar e s de la lo c alidad de Chauq ue ar, isla Puluq ui, X Re gio n de Chile ,
1 9 9 7 . Par asito lo gía al Día 2 2 : 3 - 1 1 , 1 9 9 8 .
1 7 . Ram o s L, Salazar Lugo R. Infe stac ió n par asitar ia e n niño s de Car iac o
-e stado Suc r -e , V-e n-e zu-e la y su r -e lac ió n c o n las c o ndic io n-e s so c i-e c o nó mic as.
Kasme r a 2 5 : 1 7 5 -1 8 9 , 1 9 9 7 .