rev bras ortop.2015;50(3):266–269
w w w . r b o . o r g . b r
Artigo
Original
Reprodutibilidade
das
classificac¸ões
AO/ASIF
e
Gartland
para
fraturas
supracondilianas
de
úmero
em
crianc¸as
夽
Igor
Tadeu
Silveira
Rocha
∗,
André
de
Siqueira
Faria,
Carlos
Fontoura
Filho
e
Murilo
Antônio
Rocha
UniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem2deabrilde2014 Aceitoem15demaiode2014
On-lineem5demarçode2015
Palavras-chave:
Fraturasdoúmero/classificac¸ão Crianc¸a
Variac¸õesdependentes doobservador
Reprodutibilidadedosresultados
r
e
s
u
m
o
Objetivo:Avaliarareprodutibilidadedasclassificac¸õesradiográficasdeGartlande
Associa-tionforOsteosynthesis/AssociationfortheStudyofInternalFixation(AO/ASIF)parafraturas supracondilianasdeúmeroemcrianc¸as.
Métodos:Em duasocasiõesforam avaliadas por trêscirurgiões ortopedistas pediátricos
50radiografiasnasincidênciasanteroposterioreseperfildeacordocomasclassificac¸ões deGartlandeAO/ASIFpediátrica.Asrespostasforamsubmetidasàanáliseestatísticapelo cálculodocoeficienteparaavaliaraconcordânciaintra-einterobservador,emambasas classificac¸ões.
Resultados:Aforc¸adeconcordânciaintraobservadorfoigrandeouquaseperfeitaparaostrês
examinadoresnosdoissistemasdeclassificac¸ão.Aforc¸adeconcordânciainterobservador foigrandenosdoissistemas,comcoeficientede0,756paraclassificac¸ãodeGartlandede 0,766paraclassificac¸ãoAO/ASIF.
Conclusão:Ossistemasdeclassificac¸ãodeGartlandeAO/ASIFmostraramreprodutibilidade
edesempenhosimilar.Observou-se grandeforc¸adeconcordâncianasanálisesintra-e interobservador.
©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublicadoporElsevierEditora Ltda.Todososdireitosreservados.
Reproducibility
of
the
AO/ASIF
and
Gartland
classifications
for
supracondylar
fractures
of
the
humerus
in
children
Keywords:
Fracturesofthe humerus/classification
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective:ToevaluatethereproducibilityoftheradiographicclassificationsofGartlandand
theAssociationforOsteosynthesis/AssociationfortheStudyofInternalFixation(AO/ASIF) forsupracondylarfracturesofthehumerusinchildren.
夽
TrabalhodesenvolvidonaDisciplinadeOrtopediaeTraumatologia,UniversidadeFederaldoTriânguloMineiro,Uberaba,MG,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mails:igorsilveira2003@yahoo.com.br,doutorigorsilveira@hotmail.com(I.T.S.Rocha). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2014.05.009
rev bras ortop.2015;50(3):266–269
267
Children
Observer-dependentvariations Reproducibilityofresults
Methods: Ontwooccasions,50radiographsinanteroposteriorandlateralviewswere
evalu-atedbythreepediatricorthopedistsinaccordancewiththeGartlandandAO/ASIFpediatric classifications.Their responses weresubjectedto statisticalanalysisconsisting of cal-culationofthecoefficient toassesstheintraandinterobserver concordance,inboth classifications.
Results:Thestrengthoftheintraobserverconcordancewashighornearperfectforthethree
examinersinthetwoclassificationsystems.Thestrengthoftheinterobserverconcordance washighinthetwosystems,withcoefficientsof0.756fortheGartlandclassificationand 0.766fortheAO/ASIFclassification.
Conclusion: TheGartlandandAO/ASIFclassificationsystemsshowedsimilarreproducibility
andperformance.Highstrengthofconcordancewasseenintheintraandinterobserver analyses.
©2014SociedadeBrasileiradeOrtopediaeTraumatologia.PublishedbyElsevierEditora Ltda.Allrightsreserved.
Introduc¸ão
Asfraturassupracondilianassãoasmaiscomunsdocotovelo dacrianc¸aeasegundamaiscomumnainfânciaerespondem pormaisde60%doscasos.1–4Ocorremmaisfrequentemente entrecincoe10anos.5Asváriasclassificac¸õespropostaspara essafraturatêmcomoobjetivoorientarotratamento,estimar oprognósticoepermitirapadronizac¸ãoeacomparac¸ãoentre váriosestudoscientíficos.Asclassificac¸õesdevemsersimples, defácilaplicac¸ãoclínicaereprodutíveis,comgrande concor-dânciaentre cirurgiões.6–8 Aclassificac¸ão deGartland para fraturasupracondilianadeúmeroéamaisusada;9,10 nesse sistemadeclassificac¸ão,asfraturassãoagrupadasconforme ograudedesvio.
Apesar de ser mais descritiva e detalhada em des-vios maiores, a classificac¸ão de LaGrange11 não é a mais usada.
Porsuavez,osistemaadotadopelogrupoAO12para fra-turasdosossoslongosnacrianc¸acombinaaclassificac¸ãode Mulleretal.13paraadultoscomadescric¸ãoadicionalfocada noesqueletoimaturo.8Trata-sedeumsistemaalfanumérico queincluioossoacometido,alocalizac¸ãoeagravidade, asso-ciadosapeculiaridadesdoosso emcrescimento. Assim,as fraturassupracondilianasseriamdescritascomo13-/9.1com fimI,II,IIIouIV,conformeafraturafossecompletaou incom-pleta,com ousemcontatoentre fragmentos. Desse modo, apenasocomponentedeexcec¸ão(IaIV)dosegmento morfo-lógicodaclassificac¸ãoAO/ASIFfoiconsideradonesteestudo.
Oobjetivodesteestudoéavaliarareprodutibilidadedas classificac¸õesdeGartlandeAO/ASIFparafraturas supracon-dilianasdoúmeroemcrianc¸aspormeiodaverificac¸ãodonível deconcordânciaintra-einterobservador.
Métodos
Oestudofoifeitoemhospitaldereferêncianoatendimento detraumaortopédico,apósaprovac¸ãopelo comitêdeética dainstituic¸ão. Foram selecionadaspara avaliac¸ão50 radio-grafiasconvencionais(incidências anteroposteriorelateral)
provenientesdoatendimentoinicialdepacientescomfratura supracondilianadeúmerofeitodejaneiroajunhode2013.
Asimagensradiográficasdoestudoforamobtidaspormeio defotografiadigitaldealta resoluc¸ão,compreservac¸ãodas característicasoriginaisdofilme.
Aselec¸ãodesconsiderouaqualidadedaradiografia.Foram excluídas asimagens de pacientes maiores de 16 anos ou queapresentassemlinhafisáriafechadaeradiografiascom fraturas múltiplas. As imagens foram avaliadas por três ortopedistas pediátricos, osquais tiveramacesso prévioàs classificac¸ões.Foipermitidotreinamentoporsetediasantes daanálise.
Osexaminadoresavaliaramas50imagens,emumtempo máximo de duas horas, e após duas semanas fizeram a segundaavaliac¸ão,comomesmoperíododedurac¸ão.Aordem das50imagensfoimodificadaporrandomizac¸ão.Os exami-nadoresnãotiveramacessoàsrespostasdeseusparesouà suarespostadadanaocasiãoanterior.
A respostadada porcada examinador à avaliac¸ão radi-ográfica foi escrita em planilha impressa, entregue acada participante, juntamente com o Termo de Consentimento LivreeEsclarecido.
Osresultadosforamrecolhidoseanalisadoscomo
auxí-lio do software SPSS® versão 12.0 (Chicago, EUA), para
determinac¸ãodocoeficiente,queinfereograude concor-dânciaalémdoqueseriaesperadotãosomentepeloacaso. Foientãodeterminadaaforc¸adasconcordânciasintra-e inte-robservador dosdois sistemas de classificac¸ão,14 conforme discriminadonatabela1.
Tabela1–Associac¸ãodocoeficienteeaforc¸a deconcordância14
Coeficiente Forc¸adeconcordância
Menosdezero Pobre
0-0,20 Desprezível
0,21-0,40 Leve
0,41-0,60 Moderada
0,61-0,80 Grande
268
rev bras ortop.2015;50(3):266–269Tabela2–Níveldeconcordânciaintraobservadorpelo coeficientereferenteàsclassificac¸õesGartlandeAO parafraturassupracondilianasdeúmeroemcrianc¸as
Gartland AO
Examinador1 0,781 0,767
Examinador2 0,859 1
Examinador3 0,719 0,782
Resultados
Aconcordânciaintraobservador,pelocoeficiente,referente àsclassificac¸õesGartlandparafraturassupracondilianasde úmeroemcrianc¸aseAO/ASIFparafraturasemcrianc¸as, con-formeapresentadonatabela2,foigrandeouquaseperfeita paratodososexaminadoresemambasasclassificac¸ões.Para dois dostrêsexaminadores aconcordância parao sistema AO/ASIFfoiligeiramentesuperior.
Astabelas3e4apresentamaanáliseinterobservadorpara asclassificac¸õesdeGartlandeAO,respectivamente. Observa--se queaconcordânciainterobservadordiminui quandose tratadacategoriaII,nosdoissistemasdeclassificac¸ão.
Deacordocomatabela5, naavaliac¸ãointerobservador, foiencontradode0,756paraaclassificac¸ãodeGartlande 0,766paraaclassificac¸ãoAO/ASIF,oqueconfiguraumagrande concordânciaparaambosossistemas.
Discussão
Adiversidadedeclassificac¸õespublicadas,aolongodotempo, para um grupo de fraturas pode gerar conflitos em sua interpretac¸ão.
Dessa forma,é necessária a verificac¸ão da validade, da reprodutibilidadeedacorrelac¸ãodeclassificac¸ões consagra-das,umavezqueacomparac¸ãodeavaliac¸õesdiferentes,com aexclusãodacasualidadeedoviéspessoal,demonstraas qua-lidades ouasfraquezasdedeterminadosistemaanalisado. DeacordocomAudigéetal.,6paraalcanc¸aressesobjetivosa classificac¸ãodevepassarportrêsfasesdepesquisaantesque sejavalidadaparausoclínico.6,14
Parasaberseumadadacaracterizac¸ão/classificac¸ãodeum objetoéconfiável,énecessárioteresseobjetoavaliadovárias vezesepormaisdeumexaminador.Paraisso,nestetrabalho, foiusadoocoeficiente,queinfereograudeconcordância alémdoqueseriaesperadotãosomentepeloacaso.Ele baseia--senonúmeroderespostasconcordantes,ouseja,nonúmero decasoscujoresultadoéomesmoentreosexaminadores.15,16 Nesteestudo,osexaminadoresparecemestar«calibrados», quer consigo mesmos, quer com os demais. Os valores encontrados de concordância interobservador estão dentro do intervalo de confianc¸a de 95%, com p<0,001 nas duas classificac¸ões.Apresentam,portanto,significânciaestatística. AssimcomonosresultadosdeBrandãoetal.,14nossoíndice deconcordânciainterobservadornãofoimaiordoque0,8;em quepeseofatodeosobservadoresteremsidotodos ortope-distaspediátricos.
Aconcordânciaencontradanossistemasdeclassificac¸ão GartlandeAO/ASIFfoisatisfatória(grandeouquaseperfeita) ecom desempenhosimilar,adespeitoda maior complexi-dadedaclassificac¸ãoAO/ASIFedamenorfamiliaridadedos examinadorescomessesistema.
Nesteestudo,amenorforc¸adeconcordância(moderada), na análiseinterobservador, foi encontradanos tipos II das classificac¸õesdeGartlandeAO/ASIF.Deacordocomo traba-lhodeHealetal.,10entretanto,omenorníveldeconcordância interobservadorparaaclassificac¸ãodeGartlandocorreuno tipoI.
Tabela3–Análiseinterobservadordocoeficienteparaclassificac¸ãodeGartland
GartlandI GartlandII GartlandIII
0,945 0,535 0,677
p-valordo <0,001 <0,001 <0,001
Intervalode95%deconfianc¸ado Superior:1,0 Superior:0,695 Superior:0,837
Inferior:0,785 Inferior:0,375 Inferior:0,517
Tabela4–Análiseinterobservadordocoeficienteparaaclassificac¸ãoAO
AOI AOII AOIII AOIV
0,865 0,435 0,75 1,0
p-valordo <0,001 <0,001 <0,001 <0,001
Intervalode95%deconfianc¸ado Superior:1,0 Superior:0,595 Superior:0,91 Superior:1,0
Inferior:0,705 Inferior:0,275 Inferior:0,59 Inferior:0,84
Tabela5–Coeficientegeralnaavaliac¸ãointerobservadorporsistemadeclassificac¸ão
Númeroderadiografias geral p-valorgeral Intervalode95%deconfianc¸ado
Gartland 50 0,756 <0,001 Superior:0,874
Inferior:0,637
AO/ASIF 50 0,766 <0,001 Superior:0,868
rev bras ortop.2015;50(3):266–269
269
Observa-sequevariac¸õesdeconcordâncianaanálise inte-robservador de publicac¸ões diferentes10,14 não invalidam a observac¸ãoconstantedequeasduasclassificac¸õestêmboa reprodutibilidade.
Aavaliac¸ãoda reprodutibilidadedessasclassificac¸õesse mostra relevante na medida em que são norteadoras do tratamento de fraturas (conservador×cirúrgico) e possibi-lita,ainda,umapadronizac¸ãodalinguagemortopédicapara comparac¸ãodeestudosdediferentescentros.
Uma vez constatada a reprodutibilidade dessas classificac¸ões, tornam-se necessários trabalhos futuros quepossamverificar asuperioridadedeumaemrelac¸ão à outrae,assim,determinarumsistemapadrão.
Conclusão
Houvereprodutibilidadeparaossistemasdeclassificac¸ãode Gartlande AO/ASIFde forma similareobservou-se grande forc¸adeconcordâncianasanálisesintra-einterobservador, emquepeseousoaindarestritodaclassificac¸ãoAO/ASIFpelos cirurgiõesortopédicose,consequentemente,menor familia-ridadecomométodo.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
1. LinsRE,SimovitchRW,WatersPM.Pediatricelbowtrauma. OrthopClinNorthAm.1999;30(1):119–32.
2. ChengJC,ShenWY.Limbfracturepatternindifferent pediatricagegroups:astudyof3,350children.JOrthop Trauma.1993;7(1):15–22.
3. BlountWP.Fracturesinchildren.Baltimore:Williamsand Wilkins;1955.
4.SmithFM.Children’selbowinjuries:fracturesand dislocations.ClinOrthopRelatRes.1967;(50):7–30. 5.KasserJR,BeatyJH.Supracondylarfracturesofthedistal
humerus.In:BeatyJH,KasserJR,editors.Rockwoodand Wilkins’fracturesinchildren.5thed.Philadelphia:Lippincott Williams&Wilkins;2001.p.577.
6.AudigéL,BhandariM,KellamJ.Howreliablearereliability sudiesoffractureclassifications?Asystematicreviewoftheir methodologies.ActaOrthopScand.2004;75(3):
184–94.
7.GarbuzDS,MarsiBA,EsdaileJ,DuncanCP.Classification systemsinorthopaedics.JAmAcadOrthopSurg. 2002;10(4):290–7.
8.SlongoT,AudigéL,SchlickeweiW,ClavertJ,HunterJ. DevelopmentandvalidationoftheAOpaediatric
comprehensiveclassificationoflong-bonefractures.JPediatr Orthop.2006;26(1):43–9.
9.GartlandJJ.Managementofsupracondylarfracturesofthe humerusinchildren.SurgGynecolObstet.1959;109(2): 145–54.
10.HealJ,BoudM,LivingstoneJ,BlewittN,BlomAW. ReproducibilityoftheGartlandclassificationfor
supracondylarhumeralfracturesinchildren.JOrthopSurg (HongKong).2007;15(1):12–4.
11.LaGrangeJRP.Fracturessupracondyleennes.RevChirOrthop. 1962;48:337–414.
12.SlongoT,AudigéL,ClavertJM,LutzN,FrickS,HunterJ,The AO.comprehensiveclassificationofpediatriclong-bone fractures:aweb-basedmulticenteragreementstudy.JPediatr Orthop.2007;27(2):171–80.
13.MüllerME,NazarianS,KochP.Thecomprehensive classificationoffracturesoflongbones.Berlin: Springer-Verlag;1990.
14.BrandãoG,TeixeiraL,AméricoL,SoaresC,CaldasL,Azevedo A,etal.Reprodutibilidadedaclassificac¸ãodaAO/Asifpara fraturasdosossoslongosnacrianc¸a.RevBrasOrtop.2010;45 Suppl:37–9.
15.SiegelS,CastellanN.Nonparametricstatisticsforthe behavioralsciences.NewYork:McGraw-Hill;1988. 16.FleissJL.ThemeasurementofinterrateragreementIn: