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Relações sociais de callithrix jacchus machos: competição ou cooperação?

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RELAÇÕES SOCIAIS DE Callithrix jacchus MACHOS:

COMPETIÇÃO OU COOPERAÇÃO?

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RELAÇÕES SOCIAIS DE Callithrix jacchus MACHOS: COMPETIÇÃO OU COOPERAÇÃO?

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte para a obtenção do título de mestre em Psicobiologia.

Orientador: Prof. Arrilton Araújo

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de Biociências

Santiago, Alessandra Maressa Lessa.

Relações sociais de Callithrix jacchus machos: competição ou cooperação? / Alessandra Maressa Lessa Santiago. – Natal, RN, 2012.

48 f.: il.

Orientador: Prof. Arrilton Araújo.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Callithrix jacchus. – Dissertação. 2. Acasalamento. – Dissertação. 3. Relações sociais. – Dissertação. I. Araújo, Arrilton. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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Autor: ALESSANDRA MARESSA LESSA SANTIAGO

Data da defesa: 27 de abril de 2012

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Profa. Maria Adélia Borstelmann de Oliveira Universidade Federal Rural de Pernambuco

____________________________________ Profa. Maria Emília Yamamoto

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

____________________________________ Prof. Arrilton Araújo - Orientador Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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• Gostaria de agradecer a meu querido orientador Arrilton, por ter acreditado em mim e apostado no meu sucesso quando ninguém mais havia;

• À Bárbara, por me auxiliar nas observações e por acordar um ano inteiro de madrugada, nos feriados e finais de semana, independente das condições climáticas;

• À minha família, pelo apoio, pela paciência e principalmente pelo incentivo à minha carreira acadêmica;

• À minha querida irmã Talita, por ter se sacrificado tanto por mim e por sua preciosa ajuda com os gráficos;

• Aos funcionários do LEAP: Edinólia, Flávio, Francisco, Geniberto, Antônio Barbosa e José Luiz, pelo auxílio com o manejo dos saguis;

• À minha companheira de turma Priscilla Kelly, pela amizade e pelas longas conversas de desabafo;

• À Felipe, sem o qual não teria conseguido entender estatística até hoje;

• À Patrícia, Eliane, Edilma e Hélderes por todo apoio e ajuda na análise hormonal;

• Aos meus colegas do LBC, pelas boas risadas e muito companheirismo;

• À Fívia por ter me ouvido quando precisei e ter sido uma das primeiras pessoas a me ensinar sobre o comportamento de saguis;

• Aos professores do programa de Psicobiologia, que me fizeram amar tanto a área do comportamento animal;

• À CAPES pelo auxílio financeiro na forma de bolsa;

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(7)

machos.

(8)

The group Callithrichidae is characterized by the flexibility in its mating system. This fact generates questions about the mechanisms that Callithrix jacchus males reach the breeding position in a group and how they prevent the subordinates’ reproduction, since the competition apparently happens with less intensity when compared to the females. Studies have shown the importance of social interactions and kinship among individuals in the distribution of mating opportunities in a group. This work aimed to evaluate if dyads of Callithrix jacchus males acted socially different due to kinship. We observed the agonistic and affiliative behaviours made by the males when associated in dyads (Phase 1) and when these dyads received a female (Phase 2), which was introduced in the pair`s cage for 45 minutes. In the phase 2, we also accounted for the sexual interactions between

males and female in each trio. We used 16 males, 8 related (brothers-R) and 8

non-related (NR), as well as 8 females. Each phase lasted 4 weeks, with 3

observations/week, during 15 min/male in phase 1 and 2. In the first phase, two

pairs of R males had a contested dominance and the other two, just like in the NR

males, had an uncontested dominance. The NR dominant males were more

aggressive than the subordinates. With the female`s entrance in the cage, all male

pairs began to have an uncontested dominance. The NR males’ aggression

frequency rose along with the subordinates` submission. In the R males, the

frequency of grooming and physical contact was higher than in the NR males. So,

we conclude that the low levels of agonism presented by the R males, along with the

higher tolerance shown amongst them, lead us to believe that kinship attenuate the

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(10)

1 INTRODUÇÃO...8

2 OBJETIVO GERAL...13

3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS………...13

4 HIPÓTESES E PREDIÇÕES...13

5 METODOLOGIA...15

5.1 SUJEITOS...15

5.2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL...15

5.3 CATEGORIAS COMPORTAMENTAIS REGISTRADAS...16

5.4 ANÁLISE HORMONAL...17

5.5 CLASSIFICAÇÃO HIERÁRQUICA DOS MACHOS...18

5.6 ANÁLISE DE DADOS………...18

6 RESULTADOS...………..19

7 DISCUSSÃO...………28

8 CONCLUSÕES....………...39

(11)

1 INTRODUÇÃO

Os calitriquídeos são animais arbóreos, vivendo em grupos familiares pequenos de 3 a

17 indivíduos (ARAÚJO, 1996; FRENCH, 1997; TARDIF, 1997). Sua reprodução é

monopolizada por um ou por um número pequeno de indivíduos dominantes de cada sexo

(FRENCH, 1997; TARDIF, 1997). Em condições naturais, normalmente o grupo consiste no

casal reprodutor e sua prole (EPPLE, 1975; DIGBY E BARRETO, 1993). Os membros que

não se reproduzem auxiliam no cuidado dos infantes (YAMAMOTO E BOX, 1997).

A posição social pode ter um papel importante na determinação das oportunidades

reprodutivas e no sucesso reprodutivo de machos e de fêmeas de calitriquídeos (SOUZA ET

AL., 2005; YAMAMOTO ET AL., 2009). As fêmeas reprodutoras são tipicamente aquelas

socialmente dominantes sobre as outras do grupo, inibindo a ovulação das subordinadas

(ABBOTT, BARRETT E GEORGE, 1993; ABBOTT ET AL., 1998; BARRETT, ABBOTT

E GEORGE, 1993; ROTHE, 1975). Essas fêmeas dominantes geralmente são as únicas

fêmeas em seus grupos sociais que exibem níveis hormonais, circulante ou excretado,

indicativo de ciclos ovarianos (ABBOTT ET AL., 1981), apesar de ser comum outra fêmea

também ovular no grupo (ARRUDA ET AL., 2005; SOUSA ET AL., 2005; YAMAMOTO

ET AL., 2009). Como outros Platyrrhini, os calitriquídeos não menstruam e não exibem

sinais externos conspícuos de ovulação. O comportamento sexual ocorre ao longo do ciclo

ovariano e da gravidez, sendo mais comum durante o período peri-ovulatório (DIXSON,

1998; ROTHE, 1975) e logo após o parto (DIXSON, 1998).

Machos e fêmeas não reprodutores de calitriquídeos quase não apresentam

comportamento de cópula quando estão em grupos familiares monogâmicos, evitando desta

forma o incesto (BAKER, ABBOTT E SALTZMAN, 1999). Em estudo do perfil social de

machos de C. penicillata realizado por Decanine & Macedo (2008a), não se observou padrão

de dominância entre os machos, havendo ligação social entre apenas um do grupo com a

fêmea dominante, sugerindo-se ser esse o macho reprodutor sem aparente competição por tal

posição.

Embora a monogamia seja o sistema de acasalamento prevalente, com reprodução

tipicamente restrita a uma fêmea e a um macho reprodutores específicos, a presença de duas

fêmeas reprodutoras em alguns grupos demonstra que a supressão reprodutiva não é absoluta

(ARRUDA ET AL., 2005; YAMAMOTO ET AL., 2009). Portanto, o sistema de

acasalamento é variável dentre as espécies de Callithrichidae, já havendo sido reportados

(12)

FERRARI, 2009; FERRARI E DIGBY, 1996; SCHAFFNER E FRENCH, 2004;

YAMAMOTO ET AL., 2009). As espécies desta família geralmente concebem gêmeos e o

papel dos ajudantes não reprodutivos do grupo é de auxiliar no cuidado da prole da fêmea

reprodutora. Este auxílio consiste no compartilhamento do carregar os gêmeos infantes por

seu habitat arbóreo, como também a cooperação através da provisão de alimento (TARDIF,

HARRISON E SIMEK, 1993). Espécies nas quais os adultos que não os pais regularmente

auxiliam no cuidado da prole tipicamente defendem território contra a investida de grupos

vizinhos e intrusos (GASTON, 1978). Sistemas de acasalamento com cooperação se

caracterizam pelo monopólio da reprodução por um ou mais animais dominantes de cada

sexo (TARDIF, 1997), o que pode afetar o envolvimento dos animais reprodutores e dos

ajudantes em interações entre os grupos (LAZARO-PEREA, 2001).

Estudo em uma população de Saguinus mostrou que o sistema social variava entre monogâmico e poliândrico de acordo com o número de ajudantes disponíveis para auxiliar no

cuidado da prole. Assim, se houvesse ajudantes não reprodutivos disponíveis, esses animais

reproduziam-se monogamicamente e se os mesmos não estivessem presentes,

reproduzir-se-iam poliandricamente, dividindo os custos do cuidado dos infantes (GOLDIZEN, 1987).

De acordo com Goldizen (1988), a poliandria cooperativa é um dos padrões variados

de sistema de acasalamento que ocorrem em Callithrichidae e o grau de parentesco entre

machos é um fator importante na disputa pela reprodução (BAKER, ABBOTT E

SALTZMAN, 1999; SCHAFFNER E FRENCH, 2004). Deduz-se que esta ocorrência é

devido a alta incidência de gêmeos, juntamente com o relativo alto peso dos infantes, o que

torna o cuidado dos mesmos bastante difícil. Assim, os ajudantes não reprodutivos,

geralmente compostos pelos filhotes mais velhos, e os machos poliândricos podem servir

como fontes de ajuda extra no cuidados dos filhotes. Existe também a evidência de que

machos irmãos, como também pai e filho, sendo membros permanentes do grupo, se unem

para receber uma nova fêmea reprodutora em casos nos quais o par reprodutor ou a antiga

fêmea reprodutora morrem ou desaparecem (CASTRO E ARAÚJO, 2004;

LAZARO-PEREA ET AL., 2000).

Yamamoto & Araújo (1991) também sugeriram a flexibilidade do sistema de

acasalamento dos calitriquídeos, onde, ao compilar dados de campo e de cativeiro,

observaram que a tolerância e o grau de parentesco entre os machos estaria influenciando no

tipo de sistema social. Esta flexibilidade também pode ser explicada como um ajuste

(13)

número de cuidadores do grupo (GOLDIZEN, 1990) e/ou da influência das pressões

ambientais (DIGBY E FERRARI, 1994; RYLANDS, 1996).

A maneira mais frequentemente utilizada para se aferir tolerância é através da reação

a indivíduos da mesma espécie. Em cativeiro, a reação de C. jacchus a intrusos é afetada pelo

sexo do residente e do intruso (ARAÚJO E YAMAMOTO, 1993; BAKER, ABBOTT E

SALTZMAN, 1999; HARRISON E TARDIF, 1988), presença do parceiro

(ANZENBERGER, 1985; ARAÚJO E YAMAMOTO, 1993; HARRISON E TARDIF, 1988)

e status social no grupo (ANZENBERGER, 1985).

Araújo & Yamamoto (1993) reportaram que fêmeas acasaladas ou não são mais

agressivas com fêmeas intrusas que os machos acasalados com machos intrusos. Porém,

machos não acasalados são tão agressivos quanto às fêmeas com intrusos do mesmo sexo,

sugerindo que esses machos solitários são tão agressivos quanto as fêmeas quando uma

relação de dominância ainda não foi estabelecida. Os autores sugerem que a maior tolerância

dos machos acasalados com os machos intrusos pode trazer vantagem aos primeiros, como a

assistência de ajudantes e o aumento de seu sucesso reprodutivo. O parentesco também pode

atenuar a competição entre os machos (YAMAMOTO E ARAÚJO, 1991), sendo observados

maiores níveis de comportamentos afiliativos entres estes que naqueles sem parentesco

(GALVÃO-COELHO ET AL., 2008; YAMAMOTO E ARAÚJO, 1991). Tais

comportamentos afiliativos, como também o contato físico, aparentemente são usados por

machos com parentesco como um mecanismo para contrabalançar os efeitos causados por

condições estressantes (GALVÃO-COELHO ET AL., 2008).

De acordo com o modelo teórico de Troisi (2001), machos e fêmeas de uma espécie

desenvolvem mecanismos diferentes para suportar o estresse social. Baseados neste modelo,

Silva, Leão e Sousa (2008) investigaram a resposta hormonal e comportamental de pares de

gêmeos isossexuais de machos e fêmeas de C. jacchus. Ao separar esses pares de seus grupos

natal, os pares de gêmeos machos mostraram maiores níveis de aumento de cortisol fecal que

as fêmeas. Estes dados mostram uma maior tendência a filopatria dos machos e a maior

frequência na qual fêmeas selvagens migram de seus grupos em relação aos machos

selvagens. Assim, para as fêmeas, a estratégia de migrar significa oportunidade de

acasalamento. Para os machos, a estratégia de permanecer no grupo pode representar também

uma oportunidade de acasalamento, envolvendo o estabelecimento de ligação social com

outros machos, o que fortalece o grupo através da cooperação entre estes, dando suporte ao

cuidado e proteção da prole do par reprodutor (LAZARO-PEREA, 2001; SOUSA ET AL.,

(14)

interações afiliativas (catação social e comportamento de se amontoarem) depois que

separados do grupo natal que as fêmeas. Tais resultados indicam que mudanças no ambiente

social e fisiológico aumentam a competição entre as fêmeas aparentadas, enquanto que nos

machos aparentados há um aumento dos comportamentos afiliativos, sugerindo-se uma

estratégia de cooperação entre os mesmos.

Os trabalhos acima citados, juntamente com dados experimentais de Werdenich e

Huber (2002), que mostraram que díades de machos cooperavam com sucesso em uma dada

tarefa instrumental, independente da quantidade de alimento disponível, reforçam a evidência

que os machos são mais propensos a cooperar uns com os outros.

De modo a mostrar a importância do tipo de interação social de animais de um grupo e

sua consanguinidade na distribuição de oportunidades reprodutivas e na organização social

dos grupos, Yamamoto e Araújo (1991) observaram os comportamentos afiliativos e sexuais

de dois pares de machos de C. jacchus na presença de uma fêmea. Um dos pares era formado

por gêmeos e o outro por animais não aparentados. Os autores observaram que havia uma

dominância clara de um dos indivíduos sobre o outro, porém esta era menos consistente nos

gêmeos que no par não aparentado. Harrison e Tardif (1988), ao testarem a hipótese da

atenuação de agressão baseada em parentesco, relataram uma diminuição significativa de

comportamentos agressivos entre aos machos aparentados em relação aos desconhecidos,

permitindo a formação de grupos poliândricos fraternos. Estudo sobre poliandria cooperativa

em Saguinus (GOLDIZEN, 1989) também mostrou a baixa incidência de agressão entre os machos poliândricos, os quais raramente atrapalhavam a cópula um do outro, dividiam o

alimento e catavam um ao outro ocasionalmente, mostrando um teor mais afiliativo que

agressivo de sua relação.

De maneira a se analisar a resposta fisiológica (níveis de cortisol) e comportamental

diante de agentes estressores físicos e sociais, Galvão-Coelho (2009) reuniu díades de

machos gêmeos e não aparentados e com base em seus níveis basais de testosterona os

classificou em dominante, subordinado e com hierarquia de dominância indefinida (HDI).

Foram observadas diferenças nos níveis de cortisol de acordo com o posto social.

Considerando todos os dias do estudo em conjunto, os machos dominantes apresentaram uma

maior tensão do que os demais machos, pois mostraram maiores níveis de cortisol que os

machos dos outros grupos. Esta maior tensão foi descrita como uma frequência mais elevada

de comportamentos de piloereção, indicativo de competitividade, e uma maior frequência de

afastamento do outro macho, ocasionando a diminuição da frequência de contato físico que é

(15)

Schaffner e French (2004) perceberam que ao colocar dois machos relacionados

juntamente com uma fêmea, numa situação de poliandria artificial, os mesmos apresentavam

baixos níveis de agonismo notório e pouca diferença em seus comportamentos. Além disso,

não havia mudança em seus níveis urinários de testosterona e cortisol quando eram colocados

sozinhos com a fêmea numa situação de monogamia, sugerindo o baixo nível de competição

entre estes machos. Outros estudos com Callithrix também mostraram poucas interações agonistícas entre os machos aparentados (ARAÚJO E YAMAMOTO, 1993; BAKER ET

AL., 1999; DECANINE E MACEDO, 2008A; LAZARO-PEREA ET AL., 2001).

Estudo com grupos familiares em cativeiro mostrou que não houve diferença

significativa nos níveis plasmáticos de testosterona entre pais (dominantes) e filhos

(subordinados) (BAKER, ABBOTT E SALTZMAN, 1999). Abbott (1984) também não

encontrou diferença nos níveis de testosterona entre machos dominantes e subordinados não

aparentados. Porém, Castro & Sousa (2005) encontraram diferença significativa nos níveis

fecais de andrógenos entre pais e filhos. Diferenças encontradas no volume dos testículos

entre machos reprodutores e não reprodutores nos levam a crer que os níveis de andrógenos

variam entre os machos de acordo com a sua posição reprodutiva no grupo (ARAÚJO E

SOUSA, 2008).

Esta flexibilidade no sistema de acasalamento de Callitrichidae tem suscitado

questões sobre os mecanismos pelos quais os machos de C. jacchus atingem a posição de reprodutor no grupo e como impedem a reprodução dos outros machos subordinados, já que

aparentemente a competição, quando ela existe, ocorre com menos intensidade por essa

posição, diferentemente do que acontece com as fêmeas. De maneira a tentar elucidar este

problema, Araújo e Sousa (2008) correlacionaram o volume testicular e massa corpórea de

machos selvagens. Estes autores descobriram que o volume testicular varia com o status

reprodutivo dos machos em seu grupo social, possuindo os machos reprodutores testículos

maiores. Assim, sugere-se que a estratégia reprodutiva destes machos seja uma combinação

de mecanismos fisiológicos e comportamentais, com pouca competição explícita (ABOTT,

1985; ARAÚJO E SOUSA, 2008).

Em resumo, Yamamoto et al. (2010) caracterizam a organização social das fêmeas de

C. jacchus como competitiva, reforçando a monopolização reprodutiva da mesmas e evitando os pesados custos da criação de filhotes de mais de uma fêmea simultaneamente. Entre os

machos, os autores descrevem a organização como cooperativa. Esta cooperação é

(16)

organização social se complementam, sendo o sucesso deste sistema social altamente

dependente de um balanço entre os dois.

A influência do parentesco nas relações sociais entre os machos pode ajudar no

esclarecimento sobre a questão da flexibilidade do sistema de acasalamento desta espécie.

Este trabalho visa testar a influência do parentesco nas interações sociais entre machos

adultos de Callithrix jacchus.

2 OBJETIVO GERAL:

Avaliar se as díades de machos de Callithrix jacchus apresentam padrões de comportamento socialmente diferentes em função do parentesco.

3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

• Comparar o nível de tolerância entre os pares de machos com parentesco e sem parentesco antes e depois da introdução de uma fêmea em suas gaiolas.

• Avaliar o nível de competição sexual pela posse da fêmea entre os machos de acordo com sua hierarquia (dominante ou subordinado) e grupo (com parentesco e sem

parentesco).

• Comparar os níveis de cortisol dos machos quando solitários, quando pareados com

outro macho e quando na presença da fêmea.

• Avaliar os níveis de progesterona das fêmeas antes e depois de serem introduzidas na gaiola dos machos.

4 HIPÓTESES E PREDIÇÕES:

Hipótese 1:

(17)

Predição 1:

O parentesco reduz a competição social entre os machos. Assim, a tolerância será

maior naqueles animais que possuem relação de parentesco.

Hipótese 2:

Os comportamentos agonistas e afiliativos entre os machos de C. jacchus mudarão com a presença da fêmea.

Predição 1:

A competição pela fêmea ocorrerá de maneira menos agressiva entre machos com

parentesco, podendo, inclusive, haver compartilhamento da posse da mesma por estes

machos.

Predição 2:

A disputa pela fêmea será mais intensa entre os machos sem relação de parentesco,

pois os mesmos precisarão assegurar seu sucesso reprodutivo.

Hipótese 3:

As interações sexuais entre as díades de machos de C. jacchus e a fêmea ocorrerão de

acordo com o parentesco apresentado entre eles.

Predição 1:

Os pares de machos com parentesco interagirão sexualmente com a fêmea em

frequência similar, havendo pouca ou nenhuma competição pela posse da fêmea.

Predição 2:

Os pares de machos não aparentados competirão pela posse da fêmea e uma relação

de dominância será estabelecida entre eles. O animal dominante possuirá maior frequência de

interações sexuais com a fêmea que o subordinado.

Hipótese 4:

Os níveis fecais de cortisol variarão de acordo com o posto social e grau de

(18)

Predição 1:

Pares de machos que não apresentam uma posição hierárquica clara possuem níveis

basais de cortisol semelhantes.

Predição 2:

Em pares de machos onde existe uma hierarquia definida, os machos dominantes

apresentarão níveis basais de cortisol mais elevados que os subordinados.

5 METODOLOGIA

O estudo foi realizado no Laboratório de Estudos Avançados em Primatas (LEAP) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte e foi aprovado pela comissão de ética no uso

de animais (CEUA) protocolo 042/2010.

5.1 Sujeitos:

Foram utilizados 24 animais da espécie Callithrix jacchus, todos adultos, dentre os quais foram 8 fêmeas, 8 machos com parentesco (dois pares de gêmeos e dois pares de

irmãos separados apenas por 1 geração) e 8 machos sem parentesco. Os machos foram

agrupados em pares, totalizando 4 pares de machos com parentesco e 4 pares de machos sem

parentesco. Cada par de machos foi colocado em uma gaiola (2,0 X 1,0 X 2,0 m), estando

expostos às condições naturais de temperatura, umidade e iluminação. A alimentação ocorreu

duas vezes ao dia e consistiu numa papa proteica pela manhã e frutas tropicais à tarde.

5.2 Procedimento Experimental:

O experimento foi dividido em 2 fases com duração de quatro semanas cada. Antes de

se iniciar o experimento, cada animal foi acompanhado durante 4 semanas, não havendo

observação comportamental, somente coleta de fezes três vezes por semana. As fezes foram

coletadas para servir como fase basal para as outras fases do experimento.

Fase I:

Os machos foram agrupados em duplas, de maneira a formarem 4 pares de machos

com parentesco e 4 pares de machos sem parentesco. A junção dos pares ocorreu de forma

gradativa, sempre com a presença de um observador a fim de separar os animais caso a

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foi acompanhado pelo veterinário da colônia. Padronizou-se que as observações de

determinada dupla iniciavam-se na manhã seguinte a primeira noite que os animais

dormissem na mesma gaiola. Foram feitos os registros de seus comportamentos (descritos no

item 5.3 ) e a coleta de suas fezes. Durante esta fase, as fêmeas permaneceram isoladas em

suas gaiolas.

Fase II:

Nesta fase, uma fêmea adulta foi introduzida na gaiola de cada par de machos

previamente formados durante 45 minutos. Durante este período foram realizados os registros

das interações sócio-sexuais dos trios. A mesma fêmea foi utilizada para cada par ao longo do

experimento. Nenhuma das fêmeas possuía relação de parentesco com os machos da gaiola

onde foram introduzidas. Os comportamentos foram observados na presença de dois

observadores.

As observações na fase 1 do experimento foram realizadas através da técnica

amostragem de tempo focal ("focal time sampling") com duração de 15 min para cada

indivíduo e registro instantâneo a cada minuto. Foi realizado um focal/dia/indivíduo, três

vezes por semana. O animal focal foi escolhido de forma randômica entre os indivíduos do

par a ser observado. Na fase 2, as observações foram realizadas através da técnica “scan

sample”, onde os trios foram observados durante 45 minutos, com registro instantâneo a cada

minuto. As observações iniciaram-se em Julho/2010 e estenderam-se até Junho/2011.

5.3 Categorias Comportamentais Registradas :

Os comportamentos abaixo descritos, baseados nas descrições de Alencar et al.

(2006), Decanine e Macedo (2008a,b) e Stevenson e Poole (1976) e foram registrados quanto

as suas frequências para cada sujeito:

1. Interações Agonísticas:

• Vocalização agonística: Execução de vocalização do tipo ehr ehr.

• Vocalização de submissão: Execução de vocalização do tipo nga-nga.

• Agressão: Agarrar, morder, bater, empurrar outro indivíduo.

• Perseguição: Seguir e perseguir outro na gaiola.

• Postura de submissão: se apoiar nas pernas traseiras, com os tufos murchos. O

(20)

inferiormente em relação aos outros animais na gaiola.

• Exposição de genitália: Levantar a cauda e expor a genitália para outro indivíduo.

• Piloereção: A pelagem corporal do animal encontra-se completamente ereta,

acompanhada de ereção cônica da pelagem da cauda.

• Marcação de cheiro: Esfregar a área anogenital no substrato.

• Frown: O animal encara com os olhos abertos e sobrancelhas caídas. Ocorre em contexto agressivo, podendo ser acompanhado de vocalização erh-erh e de

“tufts flick stare”, no qual os tufos do animal se movem para trás e depois para

frente. Aqui foram registradas todas as ocorrências deste comportamento

durante o tempo de observação.

2. Interações Afiliativas:

• Contato físico: Contato de qualquer parte do corpo de um indivíduo com outro, com exceção da cauda.

• Catação:

Recebida: a pelagem do animal focal é catada por outro animal;

Realizada: o animal focal cata a pelagem de outro indivíduo.

3. Interações Sexuais:

Estas só foram registradas na segunda fase do experimento, com a introdução da

fêmea. Os registros ocorreram através da técnica de amostragem comportamental durante os

45 minutos de observação dos trios.

• Tentativa de cópula: Animal focal monta sobre a fêmea, mas esta recusa.

• Cópula: Macho monta sobre a fêmea, acompanhada de movimentos pélvicos. Como não foi possível se observar se houve cópula efetiva, reunimos os

comportamentos de cópula e tentativa de cópula em uma categoria única: comportamentos

sexuais.

5.4 Análise Hormonal:

As fezes de cada macho e fêmea foram coletadas antes do início das observações nas

duas fases do experimento e na etapa anterior as mesmas, para se verificar os níveis de

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intervalo entre 06h30min e 09h30min da manhã, para evitar a influência circadiana sobre as

variáveis em estudo (SOUSA E ZIEGLER, 1998). Após a coleta, as amostras foram

armazenadas em freezer, aproximadamente a 5oC. Posteriormente, estas amostras foram

processadas para extração e dosagem hormonal através da técnica de ELISA de acordo com o

protocolo de Raminelli et al. (2001). O coeficiente de variação interensaio para o cortisol foi

de 5,22% e o coeficiente de variação intraensaio foi de 1,89%. Para a progesterona, o

coeficiente de variação interensaio foi de 9,93% e o coeficiente de variação intraensaio foi de

2,67%. A análise dos níveis de progesterona das fêmeas do presente estudo mostrou que as

mesmas apresentaram ciclos hormonais normais durante o período do experimento.

5.5 Classificação hierárquica dos machos:

Afim de saber se houve diferença hierárquica entre os machos observados, calculamos

o índice de DeVries (DEVRIES E APPLEBY, 2000; WHITEHEAD, 2008). Para isto,

somamos, para cada par de machos, os comportamentos agonísticos feitos para o outro

macho e os de submissão recebidos pelos mesmos.

5.6 Análise de dados:

As frequências dos comportamentos acima citados foram totalizados para cada sessão

de observação para os pares de saguis com parentesco e sem parentesco em todas as fases do

experimento e foi realizada uma comparação intra grupo e entre os grupos. Para testar se

houve normalidade, utilizamos o teste de Kolmogorof-Smirnoff. Devido a natureza dos

dados, optamos por utilizar análises não paramétricas. Para as comparações nas quais foram

contrastados dois grupos independentes, utilizamos o teste Mann-Whitney, para o contraste

de mais de dois grupos com medidas independentes utilizamos o teste Kruskal-Wallis. Nas

comparações de dois grupos com medidas relacionadas foi utilizado o teste de Wilcoxon e

para comparações com mais de duas medidas o teste de Friedman. Nestes testes o índice de

significância adotado foi 5% (bicaudal). Nas análises post hoc dos testes Kruskal-Wallis e

Friedman foram aplicadas comparações par a par utilizando o teste Mann-Whitney e

Wilcoxon, respectivamente. Nestas comparações foi aplicada a correção de Bonferroni a fim

de evitar o erro do tipo I. Os valores das concentrações fecais de cortisol de todas as fases do

estudo foram normalizados por meio de transformação logarítmica. Os dados foram

analisados através de modelos lineares generalizados (GLM) e o teste de Bonferroni nas

(22)

Para iniciar nossos experimentos, não conseguimos agrupar alguns pares de machos

na primeira tentativa de junção, pois os níveis de agressão eram bastante altos. O

estabelecimento dos pares foi acompanhado de perto, havendo separação dos pares se os

níveis de agressão se intensificassem, reagrupando-os no dia seguinte, até que os animais

dormissem juntos na gaiola. Esta situação ocorreu em dois pares de macho sem parentesco

como também em três pares com parentesco, dois dos quais possuíam dominância clara. Um

dos pares com parentesco com dominância contestada foi agrupado sem dificuldades na

primeira tentativa, mesmo estando separados um do outro por 4 anos. No outro par com

parentesco e dominância contestada, os machos brigaram bastante nas duas primeiras

tentativas de junção e um dos machos exibia comportamentos de agonismo e o outro de

submissão. Na terceira tentativa, ambos os machos começaram fugir um do outro e nenhum

dos dois exibiu comportamentos agressivos, somente de submissão. Também houve dois

casos nos quais machos sem parentesco, ao serem agrupados, não apresentaram nenhum

comportamento de agressão explícito, e minutos após a junção, os animais estavam em

contato físico e/ou em comportamento de catação.

6 RESULTADOS:

Fase I:

Após juntarmos os pares de machos em uma gaiola neutra, todos os animais exibiram

comportamentos de agonismo e/ou submissão. Calculamos o índice de DeVries através da

seguinte fórmula:

DAB= (IAB + 0.5)/(IAB + IBA + 1)

Onde: IAB= índice de interação do indivíduo A com o B;

IBA= índice de interação do indivíduo B com a A.

Estes índice foi calculado para cada par e observamos que em todos os pares de

machos sem parentesco, um dos machos assumia o posto de dominante e o outro de

subordinado (Tabela 01). Entre os machos com parentesco, dois dos pares apresentaram um

perfil de dominância clara entre eles. Já os outros dois pares não, embora um dos machos

apresentasse comportamentos agressivos mais frequentemente que o outro (Tabela 01). Desse

modo realizamos todas as análises comportamentais e hormonais nesta fase, considerando

três grupos: sem parentesco, com parentesco com dominância clara e com parentesco com

(23)

Tabela 01. Índice de DeVries na Fase 1 para os machos com parentesco e sem parentesco.

Os valores indicados são o índice de assimetria (IA), o valor do qui-quadrado (χ2) e o nível de

significância correspondente (p).

GRUPO ANIMAIS IA ± EP χ2 p

Com parentesco

MP1/MP2 0,99 ± 0,06 72,0 0,001

MP3/MP4 0,99 ± 0,08 35,0 0,001

MP5/MP6 0,72 ± 1,23 02,0 0,100

MP7/MP8 0,88 ± 0,22 03,0 0,100

Sem parentesco

MN1/MN2 0,95± 0,14 10,0 0,001

MN3/MN4 0,95± 0,15 09,0 0,001

MN5/MN6 0,99 ± 0,07 43,0 0,001

MN7/MN8 0,74 ± 2,60 09,0 0,001

Fonte: Autoria própria.

Os machos dominantes sem parentesco apresentaram maior frequência de

comportamentos agressivos que os subordinados, como esperado (U=1,00 p=0,03). No

entanto, os machos dominantes do grupo com parentesco com dominância clara apresentaram

os mesmos níveis agressivos que os subordinados deste grupo(U=0 p=0,10), ocorrendo o

mesmo com os machos de dominância contestada (U=0 p=0,12) (Fig. 1).

Todos os machos dominantes apresentaram níveis semelhantes de comportamentos de

agressão (χ2(2)=5,19 p=0,07). A mesma comparação foi feita entre os machos subordinados

dos diferentes grupos e nenhuma diferença na frequência deste comportamento foi

(24)

Figura 01. Frequência dos comportamentos agressivos ocorridos durante os 15 minutos de

observação entre os machos de C. jacchus dos grupos sem parentesco, com parentesco com dominância clara e com dominância contestada na primeira fase do experimento.

Fonte: Autoria própria.

Quanto aos comportamentos de submissão, os machos dominantes e subordinados dos

três grupos analisados se comportaram de maneira similar nesta fase do experimento (com

parentesco com dominância clara: U=0 p=0,10; com parentesco com dominância contestada:

U=2,0 p=1 e sem parentesco: U=6,0 p=0,31). Comparando os machos dominantes dos três

grupos percebemos que eles apresentaram frequência semelhante de submissão (χ2(2)=0 p=1),

(25)

Quanto às interações afiliativas, os machos com parentesco e os sem parentesco se

cataram (U=30,0 p=0,83) e estiveram em contato físico (U=24,50 p=0,43) com similar

frequência. Não encontramos diferença na frequência que o macho dominante catou o

subordinado e vice-versa nem no grupo dos machos com parentesco com dominância clara

(U=1,50 p=0,68), nem com dominância contestada (U=1,0 p=0,44) nem nos sem parentesco

(U=7,0 p=0,77). Na comparação entre os grupos, observamos que machos com parentesco

com dominância clara e contestada e os sem parentesco, dominantes (χ2(2)=1,0 p=0,61) e

subordinados (χ2(2)=1,10 p=0,57) apresentaram similar frequência deste comportamento.

Fase II:

Com a presença da fêmea na gaiola dos machos, o índice de DeVries foi mais uma

vez calculado para todos os pares (Tabela 02). Percebemos que as relações previamente

estabelecidas entre os machos na fase 1 foram reafirmadas nos casos nos quais houve uma

relação hierárquica clara. No caso dos dois pares de machos com parentesco com dominância

contestada, a presença da fêmea faz surgir a dominância clara, tornando-se dominante o

macho que apresentava maior frequência de comportamentos agonistas tanto nesta como na

fase anterior. Dessa forma apresentamos os resultados do grupo de animais com parentesco

(26)

Tabela 02. Índice de DeVries na Fase 2 para os machos com parentesco e sem parentesco.

Os valores indicados são o índice de assimetria (IA), o valor do qui-quadrado (χ2) e o nível de

significância correspondente (p).

GRUPO ANIMAIS IA ± EP χ2 p

Com parentesco

MP1/MP2 0,99 ± 0,06 60,0 0,001

MP3/MP4 0,99 ± 0,06 79,0 0,001

MP5/MP6 0,88 ± 0,96 07,4 0,010

MP7/MP8 0,99 ± 0,07 48,0 0,001

Sem parentesco

MN1/MN2 0,99± 0,07 57,0 0,001

MN3/MN4 0,99± 0,06 78,0 0,001

MN5/MN6 1,00 ± 1,00 309,0 0,001

MN7/MN8 0,99 ± 1,00 128,0 0,001

Fonte: Autoria própria.

Com relação às interações agonísticas, os machos dominantes do grupo com

parentesco (U= 0 p=0,02) e dos sem parentesco (U=0 p=0,02) apresentaram maior frequência

de agressão que os subordinados de seus respectivos grupos (fig. 2). Não houve diferença na

frequência de agressão dos machos dominantes dos pares com parentesco e sem parentesco

(U=2,0 p=0,08). Da mesma forma para os machos subordinados, que se comportaram de

maneira similar nos dois grupos (U=5,0 p=0,37).

No grupo dos animais com parentesco, os machos dominantes e subordinados

apresentaram frequência de submissão semelhante (U=4,0 p=0,13). Já no grupo sem

parentesco, os machos subordinados apresentaram maior frequência deste comportamento

que os dominantes (U=2,0 p=0,04) (Fig. 3).

Com a entrada da fêmea, os machos do grupo com parentesco se cataram mais que os

do sem parentesco (U=1,50 p=0,001). Os machos dominantes (U=0, p=0,01) e os

subordinados (U=1,50 p=0,058) do grupo dos animais com parentesco cataram mais um ao

outro que os do grupo sem parentesco (Fig. 04). Nessa fase, machos pertencentes a ambos os

(27)

Figura 02. Frequência dos comportamentos de agonismo ocorridos durante os 15 minutos de

observação entre os machos de C. jacchus do grupo com parentesco e sem parentesco, na segunda fase do experimento.

(28)

Figura 03. Frequência dos comportamentos de submissão ocorridos durante os 15 minutos de

observação entre os machos de C. jacchus do grupo com parentesco e sem parentesco, na segunda fase do experimento.

(29)

Figura 04. Frequência dos comportamentos de catação ocorridos durante os 15 minutos de

observação entre os machos de C. jacchus do grupo com parentesco e sem parentesco, na segunda fase do experimento.

Fonte: Autoria própria.

Os machos dominantes, tanto no grupo com parentesco (U=1,0 p=0,04) quanto no sem

parentesco (U=0 p=0,02), exibiram comportamentos sexuais mais frequentemente que os

subordinados. A comparação dos machos dominantes (U=8,0 p=1) e dos subordinados

(U=5,50 p=0,46) mostrou frequência similar de comportamentos sexuais nas duas categorias,

(30)

Figura 05. Frequência de comportamentos sexuais dos machos de C. jacchus ocorridos durante os 15 minutos de observação por hierarquia (dominantes e subordinados) e por grupo

(com parentesco e sem parentesco) com a fêmea.

Fonte: Autoria própria.

Comparação entra as fases:

Os machos dominantes com parentesco mantiveram os mesmos níveis agonísticos de

uma fase à outra (Z= -1,80 p=0,07), enquanto os dominantes sem parentesco aumentaram as

agressões direcionadas ao macho subordinado (Z= -2,50 p=0,01). Os machos subordinados

do grupo com parentesco (Z= -0,40 p=0,65) e sem parentesco (Z= 0 p=1) mantiveram a

mesma frequência baixa de agressão da fase 1.

Os machos subordinados do grupo com parentesco (Z= -1,10 p=0,28) e sem

(31)

submissão da fase 1, ocorrendo o mesmo para os machos dominantes de ambos os grupos

(Z=0 p=1 para ambos os grupos).

Com a entrada da fêmea, a frequência de catação entre os machos diminuiu em

relação a fase 1 do experimento, tanto entre machos com parentesco (Z= -2,10 p=0,04)

quanto entre os sem parentesco (Z= -2,50 p=0,01). Já o contato físico não sofreu alterações

em sua frequência entre as fases [machos com parentesco (U= -1,50 p=0,14), sem parentesco

(U= -1,80 p=0,07)] .

Resultado Hormonal:

Não encontramos diferença na medida do cortisol entre as fases basal, 1 e 2 para

nenhum dos machos dos três grupos do estudo [grupo com parentesco com dominância clara

(F(2,8)=0,85 p=0,46), com parentesco com dominância contestada (F(2,8)=0,85 p=0,46) e

sem parentesco dominantes (F(2,6)=0,65 p=0,55) e subordinados (F(2,6)=0,77 p=0,51)].

Também não encontramos diferença significativa ao compararmos os machos dominantes e

subordinados dos três grupos estudados em nenhuma das fases.

7 DISCUSSÃO:

As relações de dominância se estabeleceram rapidamente na maioria dos pares de

machos, sob a modulação da relação de parentesco. Essas relações de dominância foram

reforçadas com a exibição mais frequente dos comportamentos de agressão.

Estes resultados mostram que o parentesco influenciou nas interações sociais apenas

em alguns pares de machos do experimento, corroborando em parte nossa predição inicial, a

qual estabelece que a relação de parentesco seria responsável por maior tolerância entre

machos com parentesco e maior competição entre os sem parentesco. Nem sempre foi isso

que ocorreu neste trabalho, já que o agonismo ocorreu em diferentes duplas de machos,

independente do parentesco apresentado entre eles e os comportamentos afiliativos ocorreram

em frequência similar entre todos os machos, independente do grupo.

De acordo com o índice de DeVries calculado para cada par de machos na primeira

fase do experimento, o grupo dos saguis sem parentesco apresentou uma relação de

dominância clara entre os machos. Os machos dominantes deste grupo apresentaram maior

frequência de agressão que os subordinados. Os machos subordinados não responderam a

esta maior frequência de agressão com comportamentos de submissão, já que a frequência

(32)

Nos machos com parentesco, duas duplas de machos apresentaram uma relação de

dominância clara, assim como aconteceu entre os machos sem parentesco. Nestas duplas, o

macho dominante também apresentou mais comportamentos de agressão que o subordinado.

Porém, em nossa análise estatística não encontramos diferença quantitativa para estes

comportamentos entre machos. Isto pode ter ocorrido provavelmente pelo pequeno número

de animais nesta categoria para análise estatística, apenas duas duplas. Nos outros dois pares

com parentesco, não houve uma relação hierárquica clara. Os níveis de agonismo e

submissão entre os machos foi bastante similar, não sendo possível diferenciar

estatisticamente o macho dominante do subordinado. Assim, denominamos estas duplas

como possuindo dominância contestada. Nestas duas duplas não houve agressão física entre

os machos e o agonismo, quando presente, foi um comportamento mais ritualizado (p.e.,

“tuf-flick stare”, piloereção), sendo sempre executado pelo macho que na segunda fase se

consolidou como o macho dominante da dupla.

Alencar et al. (2006) reportam situação similar de diferentes padrões de dominância

entre fêmeas aparentadas de C. jacchus. Nos pares em que havia dominância clara, a fêmea dominante exibia agonismo mais frequentemente que a subordinada, não havendo exibição

de comportamentos de submissão entre as mesmas. As fêmeas do grupo com dominância

contestada apresentaram frequência similar de comportamentos de agressão e submissão, mas

a dominante sempre exibia uma frequência um pouco maior de comportamentos agressivos.

Altos níveis de agressividade direcionado à animais intrusos têm sido relatado em

experimentos utilizando o paradigma do intruso. Este tipo de experimento é realizado em

cativeiro e imita encontros sociais de animais em campo, introduzindo indivíduos do mesmo

sexo ou do sexo oposto na gaiola de animais isolados, famílias ou casais de animais

(HARRISON E TARDIF , 1988). As espécies do grupo dos calitriquídeos têm sido relatadas

como bastante intolerantes à intrusos (FRENCH E SNOWDON, 1981; SUTCLIFF E

POOLE, 1978). Sutcliff e Poole (1984) relatam que quando intrusos do mesmo sexo de C. jacchus eram colocados nas gaiolas dos animais residentes, ambos residente e intruso eram bastante hostis um com o outro, menos quando eram parentes ou se já fossem familiarizados

um com o outro. A alta agressividade à intrusos ocorreria pois estes seriam seus potenciais

competidores.

Abbott (1984) percebeu que na formação de novos grupos por animais desconhecidos

entre si, os índices de agressão entre estes animais é alto até o estabelecimento das relações

de dominância. Estes altos níveis de agressividade a animais estranhos está relacionado a

(33)

(ANZENBERGER, 1985).

French e Inglett (1989, 1991) em estudo com Leontopitecus rosalia, também em cativeiro, mostraram que as fêmeas desta espécie eram bastante agressivas com outras fêmeas

intrusas. Já os machos apresentavam agonismo moderado direcionado a outros machos

intrusos. Os autores sugerem que a alta intolerância apresentada pelas fêmeas pode ser um

importante regulador das relações sócios-sexuais entre o casal reprodutor. A intolerância

direcionada à conspecíficos não familiares promoveria a exclusividade reprodutiva e

associação preferencial entre o par reprodutor. Em S. oedipus, French e Inglett (1991) encontraram que os machos eram altamente agressivos a outros machos intrusos, para

expulsar os potenciais competidores. As fêmeas possuíam baixos níveis de agressão às

intrusas, já que nesta espécie as mesmas inibem diretamente a capacidade reprodutiva de

outras fêmeas no grupo, não havendo competição por seu cargo de reprodutora.

Anzenberger (1985) e Araújo e Yamamoto (1993), em experimentos utilizando o

paradigma do intruso em C. jacchus, observaram que existia uma maior tolerância à intrusos

machos quando os residentes eram machos e já estavam previamente acasalados. Machos não

acasalados eram altamente agressivos com outros intrusos machos, assim como as fêmeas

acasaladas e não acasaladas eram com as fêmeas intrusas, sugerindo que os níveis de

agressão são mais altos quando as relações de dominância ainda não foram estabelecidas. No

campo, alta agressividade direcionada a animais intrusos do mesmo sexo foi encontrada em

trabalhos de Dawson (1978) em S. oedipus e Hubrecht (1985) em C. jacchus. Castro e Araújo

(2004) em trabalho em campo com C. jacchus, observaram o nível de agressividade durante

encontros entre grupos e a reação dos grupos aos intrusos. Os animais reprodutores

aumentaram os níveis de agonismo na presença de intrusos do mesmo sexo, o que sugere um

comportamento de defesa do parceiro sexual.

Após a junção dos machos de nosso experimento na primeira fase, as relações de

dominância começaram a se estabelecer, de maneira que em todos os oito pares de machos

estudados, o macho que iniciou os comportamentos de agressão foi aquele que se tornou o

macho dominante da dupla. As agressões cessaram, mas o agonismo ritualizado continuou a

ser exibido em baixa frequência, mantendo-se como reforço às novas relações hierárquicas

estabelecidas. Além disso, os machos de todos os grupos passaram boa parte do tempo de

observação em contato físico e se catando. Nos três grupos, machos dominantes e

subordinados se cataram com igual frequência, permanecendo mais próximos um do outro,

(34)

Diferentemente do que encontramos em nosso trabalho, Heymann (1996), Heymann e

Valdez (1988) e Lazaro-Perea, Arruda e Snowdon (2004) mostraram que existe uma

assimetria na frequência em que machos ou fêmeas catam outros membros do grupo do

mesmo sexo nos calitriquídeos, sendo os animais subordinados mais catados pelos

dominantes que o contrário. Harrison (1965) ao estudar aves e Rasa (1987) e Sparks (1967)

mamíferos sugerem que esse direcionamento na catação, dos machos dominantes para os

subordinados, funcionaria como um redutor de tensão entre estes animais, substituindo ou

redirecionando os comportamentos de agressão. No entanto, Lazaro-Perea, Arruda e

Snowdon (2004) não encontraram esta relação em fêmeas de C. jacchus. Os autores sugerem

que em grupos com reprodução cooperativa, os animais subordinados auxiliam aos

dominantes e o fato dos dominantes catarem mais os subordinados poderia ser visto como um

incentivo à sua permanência no grupo ou, como sugerem Zahavi e Zahavi (1997), como um

sinal de interesse em manter um vínculo social com estes animais.

Com a entrada da fêmea, as relações hierárquicas entre os machos foram reafirmadas

quando estas já eram claras, e estabelecidas nos casos dos pares aparentados com dominância

contestada. Nestas duplas, os machos que realizaram maior frequência de comportamentos de

agonismo ainda na primeira fase se tornaram os dominantes. Notamos que a frequência de

comportamentos de agonismo, principalmente a agressão e a perseguição, eram mais intensas

na primeira semana de observação, justamente onde as relações de dominância estavam se

reafirmando. Após estes primeiros contatos dos machos com a fêmea, notamos pouca ou

nenhuma agressão evidente entre os machos e um aumento dos comportamentos afiliativos

entre eles.

A competição pela fêmea levou os machos dominantes, tanto do grupo dos saguis

com parentesco, quanto dos sem parentesco, a realizarem maior frequência de

comportamentos de agressão que os subordinados de seus respectivos grupos, como também

a realizarem maior frequência de interações sexuais com a fêmea. Observamos que qualquer

tentativa de interação sexual pelo macho subordinado era impedida através do

comportamento de “tufs flick stare” ou, mais raramente, de agressões para afastá-lo da fêmea.

Por consequência, o macho dominante interagiu quase que com exclusividade com a fêmea.

A agressão clara aconteceu com pouca frequência. Apesar deste resultado, observamos que

em dois dos trios aparentados, um que possuía dominância clara e outro contestada na

primeira fase do experimento, ambos os machos interagiram sexualmente com a fêmea,

havendo pouco ou nenhum impedimento ou qualquer tipo de comportamento agressivo por

(35)

Schaffner e French (2004) agruparam pares de machos de C. kuhlii com e sem parentesco, os quais conviveram por um período de pelo menos 6 semanas. Os machos

apresentavam relações sociais estáveis, não havendo incidência de agressão entre eles e

havendo catação mútua e frequente contato físico. Os autores formaram grupos poliândricos

compostos por machos irmãos e observaram que não houve monopólio da fêmea por nenhum

dos dois machos nem competição evidente entre eles. Porém, não conseguiram formar grupos

poliândricos de animais sem parentesco, pois com a entrada da fêmea, a relação bem

estabelecida previamente entre estes machos foi abalada e comportamentos agonistas foram

intensificados, havendo vocalização agonística e de submissão, perseguição, agressão e a

presença do macho subordinado no canto inferior da gaiola, em postura de submissão. Estes

comportamentos foram similares aos que ocorreram em algumas duplas com e sem

parentesco no nosso trabalho na junção dos machos na primeira fase do experimento. Na

segunda fase, a entrada da fêmea não gerou tal reação comportamental em nenhum dos

grupos.

Ao compararmos o agonismo apresentado entre os machos de ambos os grupos antes

e depois da entrada da fêmea, pudemos perceber que entre os animais com parentesco, o nível

de agonismo se manteve o mesmo em ambas as fases, tanto para os machos dominantes,

como para os subordinados. Já entre os sem parentesco, os machos dominantes aumentaram a

frequência deste comportamento como consequência da entrada da fêmea. Como resposta a

este aumento no agonismo, os machos subordinados deste grupo aumentaram a frequência de

comportamentos de submissão. Este resultados corroboram as nossas predições que

estabeleciam uma disputa mais intensa pela posse da fêmea pelos machos sem parentesco.

Diferentemente do nosso experimento, as diferenças nos padrões de dominância se

mantiveram após a entrada de um macho não relacionado às fêmeas do experimento de

Alencar et al. (2006). Os autores observaram que fêmeas de C. jacchus com parentesco e dominância contestada apresentavam frequência similar de comportamentos de agonismo e

submissão. Mesmo com a entrada do macho continuou a competição pelo posto de

dominância nestes pares. Já nas fêmeas que apresentavam dominância clara, as dominantes

apresentavam maior frequência de comportamentos de agonismo que as subordinadas e estas

apresentaram maior frequência de comportamentos de submissão que as dominantes de seu

grupo, como também que as dominantes e subordinadas do grupo com dominância

contestada. Nestes pares, a dominante reforçou sua posição com alta frequência de

comportamentos de agonismo, e a subordinada respondeu à este agonismo através de

(36)

macho sem parentesco, que também possuíam uma relação de dominância clara. Estas

diferenças apresentadas entre machos e fêmeas de C. jacchus serão discutidas mais a frente.

Quanto aos comportamentos afiliativos, os machos de ambos os grupos diminuíram a

frequência de catação entre eles ao compararmos a primeira com a segunda fase. Isso

provavelmente ocorreu pela maior frequência de catação destinada à fêmea. Mesmo com esta

diminuição da frequência de catação nos dois grupos, os machos com parentesco se cataram

mais que os sem parentesco. Apesar do contato físico entre os machos dos dois grupos haver

sido estatisticamente semelhante, os machos com parentesco tenderam a apresentar maior

frequência deste comportamento, já que a mediana do grupo dos machos sem parentesco

estava mais próxima dos 25% interquartílicos. Isto pode indicar maior tolerância entre os

machos com parentesco que nos sem parentesco.

Yamamoto e Araújo (1991) em estudo semelhante ao nosso, agruparam pares de

machos gêmeos ou sem parentesco e encontraram uma alta frequência de agressão entre os

machos sem parentesco. Os gêmeos possuíam uma relação mais afiliativa, indicativa de

maior tolerância entre estes. O parentesco diminuiria a competição social entre os machos, já

que estes animais compartilham de genes comuns. Assim, os machos com parentesco são

menos agressivos e apresentam maior frequência de comportamentos afiliativos um com o

outro que aqueles machos sem relação de parentesco, pois a competição entre eles é menor já

que a reprodução de um parente também garantiria a passagem de seus genes adiante

(HAMILTON, 1964).

Harrison e Tardif (1988) em trabalho realizado com C. jacchus e S. oedipus em cativeiro observaram que em ambas as espécies, quando o macho intruso era parente do

macho residente, os níveis de agressão eram consideravelmente mais baixos em relação

àqueles apresentados entre animais sem parentesco, mesmo estes machos estando sem se ver

há pelo menos 4 meses. A preferência por parentes ocorreu em ambas as espécies, na

presença ou não de uma fêmea. Os autores sugerem que no campo, machos calitriquídeos

estariam mais aptos a admitir irmãos em um grupo já estabelecido que outros machos sem

parentesco, mesmo após longa separação. Em campo, Goldizen (1988) observou baixa

agressividade presente entre os machos poliândricos de S. fuscicollis, ausência de hierarquia

entre eles, raras interrupções de cópula um do outro com a fêmea, catação recíproca,

comportamento de carregar os filhotes do grupo realizado por ambos e até mesmo divisão

ocasional de alimento. A relação entre eles era mais afiliativa que agonista. O autor relata não

(37)

machos não eram parentes. Esta afirmativa sugere que a poliandria traria vantagens além do

aumento da aptidão direta ou indireta destes machos.

Este padrão de baixa agressividade entre os machos com parentesco de grupos

poliândricos encontrado em nosso trabalho corrobora dados de outros trabalhos realizados

com espécies de calitriquídeos (BAKER ET AL., 1993; GARBER ET AL., 1993;

GOLDIZEN, 1987; GOLDIZEN, 1989, HEYMANN, 1996; LAZARO-PEREA ET AL.,

1999; SOINI, 1987). Porém, nestes trabalhos, não houve clara definição de hierarquia entre

os machos, e ambos interagiam sexualmente com a fêmea sem haver agressão ou

interferência na atividade sexual realizada por algum dos machos.

Os trabalhos realizados em campo por Dawson (1979) e Neyman (1978) sugerem que

os padrões em cativeiro são similares ao que ocorre em campo. Estes trabalhos mostraram

que agressões e ameaças são bastante raras entre os machos, mesmo na presença de um

intruso macho desconhecido por eles. Os autores sugerem que baixos níveis de agressão

direcionados à animais intrusos poderiam ser um mecanismo no qual grupos menores

recrutariam ajudantes adicionais. Grupos maiores, mais estáveis e já contando com a ajuda de

sua prole mais velha, não precisariam de mais ajudantes e agiriam com grande agressividade

aos intrusos, por serem estes potenciais competidores reprodutivos.

Goldizen et al. (1996) estabelecem ser quase impossível para os casais reprodutores

de S. fuscicollis em campo criarem com sucesso sua prole sem a assistência de ajudantes. Nos

grupos de calitriquídeos, este auxílio provém de ajudantes não reprodutores, que auxiliam no

cuidado dos infantes e geralmente são a prole mais velha do casal reprodutor (TARDIF,

HARRISON E SIMEK, 1993). Mesmo não se reproduzindo diretamente, estes animais

recebem benefícios indiretos, aumentando sua aptidão indireta auxiliando no cuidado de seus

parentes para que os mesmos sobrevivam e também venham a se reproduzir, como também

estão ganhando experiência em cuidado parental (TARDIF, 1997). Claramente, a relação de

parentesco nestas situações explica porque os machos com parentesco seriam mais tolerantes

um com o outro. Faulkes, Arruda e Cruz (2003) realizaram análise genética de indivíduos de

diferentes grupos em campo, os quais já haviam sido previamente estudados quanto a sua

estrutura e relações sociais por outros autores. Observações prévias mostraram a imigração de

um macho de um grupo para outro. Neste novo grupo, este macho era um grande ajudante. A

análise genética mostrou que o macho imigrante era parente dos machos residentes do grupo

ao qual se juntou, justificando a sua grande frequência de ajuda destinada à este grupo, sendo

tal comportamento explicado pelo altruísmo por seleção de parentesco.

(38)

com parentesco do que aqueles sem parentesco, principalmente em pares ainda sem filhotes,

pois os mesmos representariam um auxílio extra na divisão dos custos do cuidado de seus

futuros filhotes. Este prerrogativa seria especialmente importante para espécies que possuem

sistema de reprodução cooperativo, como é o caso da espécie C. jacchus. Em cativeiro, os custos de criar a prole são menores, podendo os níveis de agonismo serem mais altos já que

os machos não se beneficiam com a poliandria neste caso. Sendo os machos parentes, os

níveis de agressão seriam baixos pois mesmo assim a aptidão indireta destes animais seria

mais alta (GOLDIZEN, 1988).

Ross, French e Orti (2007) encontraram uma correlação entre o cuidado parental nos

machos de Callithrix kuhlii e a presença de quimerismo epitelial. O quimerismo genético consiste na mistura de duas ou mais linhagens genômicas em um único indivíduo

(MCLAREN, 1976). Os machos de C. kuhlli carregavam infantes quiméricos com mais frequência que os não quiméricos. O quimerismo genético raramente ocorre em mamíferos,

mas em espécies de calitriquídeos é muito comum que os gêmeos fraternos troquem células

através do fuso coriônico nos primeiros estágios de seu desenvolvimento (BENIRSHKE,

ANDERSON E BROWNHILL, 1962), o que deve provavelmente influenciar nos

comportamentos de cooperação e conflitos apresentados por este grupo. Esta troca de

material genético mais comumente ocorre em tecidos epiteliais, porém foi encontrado

quimerismo genético em células do tecido germinativo de calitriquídeos, os quais

frequentemente transmitem alelos fraternos adquiridos no útero para sua própria prole,

evidenciando que nem sempre o animal que forneceu os gametas à uma prole é

necessariamente o pai genético da mesma (ROSS, FRENCH E ORTI, 2007).

Faulkes, Arruda e Cruz (2003, 2009) em estudo genético com famílias de C. jacchus

já previamente estudadas por outros pesquisadores, descobriram que os grupos familiares são

mais heterogêneos do que se pensava. Cinco dos nove grupos analisados possuíam animais

sem parentesco. Em um destes grupos, mais da metade dos componentes era formado por

animais que não possuíam relação de parentesco com o restante do grupo. Tais resultados

sugerem que outras questões, além do altruísmo por seleção de parentesco, devem estar por

trás da evolução do sistema de reprodução cooperativo de maneira que traga vantagens

evolutivas aos animais não reprodutores sem parentesco com o grupo.

Digby, Ferrari e Saltzman (2007) e Yamamoto et al. (2010) discutem o papel da

cooperação e da competição em calitriquídeos. Apesar deste grupo ser caracterizado por

relações sociais com cooperação e grande tolerância entre seus membros, a competição entre

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mais intensa nas fêmeas, as quais se utilizam de supressão reprodutiva e comportamental para

reforçar seu monopólio reprodutivo e evitar os altos custos do cuidado da prole em um

sistema poligínico. Entre os machos existe a competição por tal posição, porém a relação

entre os mesmos no grupo parece ser mais afiliativa, havendo baixos níveis de agressão e

maior frequência de comportamentos afiliativos como catação e contato físico. Nas espécies

que apresentam sistema de reprodução mais cooperativo, a divisão de trabalho no grupo entre

os sexos parece diferir para os diferentes tipos de cuidado parental. As fêmeas são

responsáveis por todo custo energético da gestação e da lactação. Os machos adultos

carregam até duas vezes mais a prole que as fêmeas e este comportamento é bastante custoso,

só não mais que a lactação (GOLDIZEN, 1987; YAMAMOTO ET AL., 2008), justificando

uma maior tolerância apresentada entre os machos dos grupos que possuem reprodução

cooperativa devido à importância que os ajudantes têm nestes grupos.

As fêmeas de todos os grupos de nosso experimento engravidaram após o término das

observações. Os trios foram separados em média uma semana após o término das

observações por motivo de briga entre os animais ou devido à utilização de algum deles em

outros experimentos. As brigas ocorreram devido a mudança de gaiola, o que desestabilizou

as relações entre os animais dos trios, principalmente os machos. A chegada dos animais em

um novo território fez com que a competição pela posição de dominância entre os machos

naquele novo ambiente recomeçasse. Araújo e Yamamoto (1994) perceberam que colocar um

intruso do mesmo sexo na gaiola de machos ou fêmeas de C. jacchus gerava uma competição

entre estes saguis, marcada por altos níveis de agressão do macho residente para com o

intruso, indicando defesa do território pelo primeiro.

Somente um dos trios, formado por machos irmãos separados por uma geração,

permaneceu junto durante oito meses. Este par possuía dominância contestada na primeira

fase e foi observado compartilhando a posse da fêmea. Ambos os machos foram vistos

carreando os filhotes e não houve nenhum relato de briga entre os machos. O macho

subordinado só foi removido da família por motivo de doença que o levou a eventual óbito.

Os outros machos subordinados que foram separados dos trios foram acasalados e geraram

filhotes, mostrando que todos os machos do experimento eram funcionais e que a supressão

reprodutiva que estava ocorrendo no experimento poderia ser comportamental. Baker, Dietz e

Kleiman (1993) encontraram que quando fêmeas intrusas não familiares eram colocadas nas

gaiolas, só o macho dominante copulava com ela. Quando o macho subordinado ficava

Imagem

Tabela 01. Índice de DeVries na Fase 1 para os machos com parentesco e sem parentesco
Figura  01.  Frequência  dos  comportamentos  agressivos  ocorridos  durante  os  15  minutos  de  observação entre os machos de C
Tabela 02. Índice de DeVries na Fase 2 para os machos com parentesco e sem parentesco
Figura 02. Frequência dos comportamentos de agonismo ocorridos durante os 15 minutos de  observação  entre  os  machos  de  C
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Referências

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