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Megaprojetos de hidrelétricas brasileiras: um olhar sobre responsabilidade social corporativa

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Academic year: 2017

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(1)

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - FGV

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS - EBAPE MESTRADO EXECUTIVO EM GESTÃO EMPRESARIAL - MEX

Marco André Fernandes Albuquerque

MEGAPROJETOS DE HIDRELÉTRICAS BRASILEIRAS: Um Olhar Sobre Responsabilidade Social Corporativa

Orientador: Prof. Dr. Hélio Arthur Reis Irigaray

(2)

MARCO ANDRÉ FERNANDES ALBUQUERQUE

MEGAPROJETOS DE HIDRELÉTRICAS BRASILEIRAS: Um Olhar Sobre Responsabilidade Social Corporativa

Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresa - EBAPE, ao Curso de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, da para obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Hélio Arthur Reis Irigaray.

(3)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Albuquerque, Marco André Fernandes

Megaprojetos de hidrelétricas brasileiras : um olhar sobre responsabilidade social corporativa / Marco André Fernandes Albuquerque. – 2013.

77 f.

Dissertação (mestrado) - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.

Orientador: Hélio Arthur Reis Irigaray. Inclui bibliografia.

1. Responsabilidade social da empresa. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Externalidades (Economia). 4. Acionistas. I. Irigaray, Hélio Arthur. II. Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa. III. Título.

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MARCO ANDRÉ FERNANDES ALBUQUERQUE

MEGAPRO.FETOS DE HlIDRELETRICAS BRASILEIRAS: UM OLHAR SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas para obtenção do grau de Mestre em Administração.

Data da defesa: 06/1 1/2013

ASSINATURA DOS MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA

Hélio Arthur Reis Irigaray Orientador (a)

,/

(5)

À Deus, toda honra e glória!

Aos meus pais, pelo amor e carinho;

À minha esposa, Elaysa, pelo companheirismo e apoio;

(6)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por tudo o que tem feito em minha vida e por mais essa vitória

que me permitiu conquistar. “Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória,

pois, a Ele eternamente. Amém” (Romanos 11:36).

Aos meus pais Marco Antônio e Gleyre Helena (in memorian), por hoje ser o que sou. Obrigado pela educação e fé ensinadas.

À minha amada esposa Elaysa Renata, por me aguentar nessa jornada, estar comigo nos meus conflitos, pelas palavras de força, pelo suporte e por sempre acreditar que conseguiríamos vencer mais essa batalha.

Ao meu filho Benjamim, pelas tardes ausentes e noites de estudo e, principalmente, pelo amor incondicional e pelo sorriso sempre pleno e tranquilo.

À minha Irmã Marcia Danielle, pela ajuda nas correções. À minha família (avós, tios e primos) e amigos pelo carinho ao longo desse tempo.

Aos meus colegas de Mestrado, pelas discussões, debates e ensinamentos compartilhados.

Ao meu Orientador, Prof. Dr. Hélio Arthur, por acreditar em mim no momento em que nem eu mesmo acreditava. Por conseguir extrair de mim todo esse esforço que resultou nessa dissertação. Muita paz, saúde e que Deus continue a te abençoar! Muito Obrigado!

Aos diversos professores da EBAPE/FGV que contribuíram para minha formação acadêmica ao longo desse período.

(7)

RESUMO

Em um mundo onde a questão da necessidade de se preservar o meio ambiente e de movimentos socialmente responsáveis em alta, este trabalho surgiu da curiosidade de se buscar entender o binômio do desenvolvimento econômico versus o desenvolvimento sustentável, visando compreender como se deu a evolução desta relação em grandes projetos hidrelétricos brasileiros. Neste contexto, os levantamentos de acontecimentos à época da construção de Itaipu serviram de base comparativa para o que hoje está sendo vivenciado pela hidrelétrica de Santo Antônio. É fato que projetos desse porte vão causar impactos e externalidades, porém como, hoje estão sendo tratadas, é algo que pode nortear o andamento futuro de sua gestão. Por isso, questões como a preservação da fauna e flora, reassentamento e desenvolvimento local, foram colocadas na pauta para verificação de como, ainda hoje, mesmo com o avanço da tecnologia e com pressões externas a respeito da questão sustentável, as externalidades desses projetos são as mesmas. As luzes das teorias apresentadas de Responsabilidade Social Corporativa, desenvolvimento sustentável e econômico, além da estruturação dos movimentos sociais, servirão de base para entender as questões apresentadas. Identificou-se que o sacrifício de poucos para usufruto de muitos continua a ser uma das principais questões a ser resolvida, e neste, inclui-se a questão da terra, assim como a não integração entre stakeholders e shareholders para se conseguir em alinhamento a melhor forma de se aproveitar e interagir com o meio em que será inserido o empreendimento, a exclusão política dos stakeholders do processo decisório sobre os projetos hidrelétricos a serem implementados.

(8)

ABSTRACT

In a world where the issue regarding the necessity to protect the environment, and where the socially responsible movement is booming, this work came through as a result of the curiosity to understand the binomial economic development versus sustainable development. Aiming to understand how was this relationship evolution in great Brazilian hydroelectric projects. In this context, events surveys during the construction of the Itaipu Dam served as a comparative basis for what is being experienced today in the construction of the Santo Antônio Dam. The fact is that projects of this magnitude will cause impacts and externalities, but understanding how they are being treated is something that can guide the progress of these projects management. Therefore issues such as the preservation of fauna and flora, resettlement and local development, were put on the agenda to verify how today, even with the advance of technology and external pressures on the sustainability issue, the externalities of those projects are still same. The theories presented in Corporate Social Responsibility, sustainable and economic development, in addition to social movements structuring, will serve as basis for understanding the presented issues. It was identified that the sacrifice of a few for the enjoyment of others continues to be one of the main issues to be resolved, and in this we can include the land issue. As well as the non-integration between stakeholders and shareholders to achieve alignment on the best way to enjoy and interact with the environment in which the project will be inserted, the political exclusion of stakeholders on the decision-making process of hydropower projects to be implemented, are also identified.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Correntes de Análise de RSC 22

Figura 2. Modelo de Devis e Blomstrom 23

Figura 3. Modelo de RSC proposto por Carroll 24

Figura 4. Conceito de Desenvolvimento Sustentável 32

Figura 5. Tríplice Fronteira - Itaipu 38

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Decomposição da projeção da população urbana residencial 40

Quadro 2. Área total e comprometida dos municípios afetados pela represa de Itaipu 43

Quadro 3. Área utilizada no reservatório 45

Quadro 4. Número de imóveis, edificações e moradores identificados nas atas notariais 52

Quadro 5. Estimativa da população atraída para a cidade de Porto Velho 54

Quadro 6. Evolução da População de Porto Velho 54

Quadro 7. Altura das Usinas x tipo 57

Quadro 8. Área alagada x Altura 58

Quadro 9. Área alagada x Potência (I) 59

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome ou Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

APP Área de Preservação Permanente

BRIC Brasil, Rússia, Índia, China

BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CEMDS Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável

CNAEE Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

EIA Estudos de Impactos Ambientais

ha hectares

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

ITC Instituto de Terras e Cartografia

kw Quilowatt

MAB Movimento dos Atingidos por Barragens

MAB Movimentos dos Atingidos por Barragens

MST Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

Mw Megawatts

NR Normas Regulamentadoras

ONU Organização das Nações Unidas

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

(12)

PIB Produto Interno Bruto

PPP Parcerias Públicos Privados

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

ROI Retorno sobre o Investimento

RSC Responsabilidade Social Corporativa

SAE Santo Antônio Energia S.A.

SAESA Santo Antônio Energia S.A.

SUS Sistema Único de Saúde

TAC Termos de Ajustamento de Conduta

UHE Usinas Hidrelétricas

UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNICON União de Construtoras

(13)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

1.1 Objetivo do estudo 12

1.2 Questões a serem respondidas 13

1.3 Relevância do estudo 13

1.4 Delimitações do estudo 14

2 METODOLOGIA 15

2.1 Coleta e tratamento dos dados 15

2.1.1 Levantamento dos principais problemas 16

2.1.2 Comparação eficiência x impacto 17

3 MARCO TEÓRICO 19

3.1 Responsabilidade social corporativa - conceito 19

3.2 Movimentos sociais - intervenientes externos 25

3.3 Desenvolvimento econômico 26

3.4 Desenvolvimento sustentável 30

4 HIDRELÉTRICAS BRASILEIRAS 35

4.1 Uma breve história 35

4.2 Itaipu binacional 37

4.2.1 Antecedentes históricos 37

4.2.2 Itaipu e RSC 39

4.3 Santo Antônio 46

4.3.1 História 46

4.3.2 Santo Antônio e RSC 48

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA 56

5.1 Área alagada x potência instalada 59

5.2 Área devastada x potência instalada 60

5.3 Programas de desenvolvimento local 62

5.4 Famílias afetadas 64

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 67

(14)

1 INTRODUÇÃO

A responsabilidade social das organizações, ou Responsabilidade Social Corporativa - RSC é um tema recente, polêmico e dinâmico que, nos últimos anos, passou a ser amplamente discutido, principalmente com relação ao verdadeiro papel que as empresas/organizações devem assumir perante a sociedade que não somente o da maximização do lucro e criação de riqueza (BERTONCELLO; CHANG JÚNIOR, 2007).

Determinar o que venha a ser RSC é quase impossível, existem várias definições e tal conceito está em evolução contínua para poder se adaptar às mudanças ocorridas na sociedade e nas empresas (OLIVEIRA, 2008). Banerjee (2008) destaca que a RSC já se tornou uma mini-indústria na academia e no mundo dos negócios, sendo imprescindível uma análise crítica a respeito das teorias e práticas empresariais.

É certo que em um país em desenvolvimento econômico como o Brasil, questões a respeito de RSC serão sempre levantadas, exemplo disso pode-se ter com os movimentos ambientalistas, além de enfoque da mídia e da política, como no caso da Hidrelétrica de Belo Monte.

É a partir do crescimento da discussão sobre RSC nesse tipo de projeto que este estudo foi desenvolvido, se propondo a analisar criticamente as teorias e práticas empresariais de RSC dentro deste nicho de mercado, tomando como base dois projetos, o de Itaipu e o de Santo Antônio (BANERJEE, 2008).

Deste modo, o presente trabalho busca ampliar a discussão a respeito da RSC, propondo-se a explicar se os novos projetos apresentam os mesmos problemas socioambientais que podem ser observados em projetos mais antigos, se comprometendo a fazer um comparativo entre esses dois grandes projetos.

1.1 OBJETIVO DO ESTUDO

(15)

1.2 QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS

Tentar-se-á responder basicamente uma questão: se os problemas vivenciados pelas concessionárias das grandes hidrelétricas brasileiras mostram uma realidade diferente da vivenciada no passado.

Dessa forma, serão analisados os principais impactos relatados, verificando se houve uma mudança de cenário, onde, novas técnicas e formas de gestão criaram um ambiente mais responsável socialmente, ou se os problemas vividos por projetos do passado ainda são observados da mesma forma.

Para tanto, comparações entre projetos serão propostos para se entender o grau de impacto, verificando se o mesmo está diminuindo ou em crescimento. Buscar-se-á responder duas perguntas auxiliares, onde serão adotados índices comparativos para mensurar o crescimento ou diminuição desses impactos/aspectos:

1. Os impactos ambientais diminuíram ao longo do tempo?

a. Área alagada x Potência Instalada;

b. Área devastada x Potência Instalada;

c. Área reflorestada x Área devastada.

2. Os impactos sociais no entorno diminuíram ao longo do tempo?

a. Projetos sociais previstos x Projetos efetivados;

b. Programas de desenvolvimento local (educação, saneamento básico etc.);

c. Famílias afetadas (deslocadas).

1.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

É fato que ultimamente, muito se tem falado sobre responsabilidade social corporativa - RSC. Em janeiro de 2001, Kofi Annan, então Secretário Geral das Nações Unidas - ONU, discursou na Câmara de Comércio dos Estados Unidos a respeito do “papel revolucionário que as empresas poderiam desempenhar no combate a AIDS” (ANNAN apud BANERJEE, 2008, p. 53).

(16)

entre a ONU e as grandes corporações para incentivar e desenvolver a Responsabilidade Social Corporativa nas mais diversas áreas, como os direitos humanos, normas fundamentais do trabalho e meio ambiente.

Mas, o que seria de fato a definição de responsabilidade social? Segundo Soares (2004) RSC “se caracteriza fundamentalmente por uma proposta de retomada das questões éticas tanto no âmbito interno das organizações como no seu relacionamento com o público

externo”. Para a ABNT (2010), RSC é definido como:

[...] responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que: (1) contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bem-estar da sociedade; (2) leve em consideração as expectativas das partes interessadas; (3) esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as normas internacionais de comportamento; e (4) esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações.

Em contraponto à busca por um ambiente socialmente responsável, têm-se a necessidade do desenvolvimento e crescimento econômico, no qual o Brasil é um agente com extrema importância e visibilidade. Pertencente ao bloco econômico dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é tido como uma das futuras economias do mundo encontrando-se em constante investimento, interno e externo, a fim de alcançar o crescimento econômico. Segundo Romeiro (2010):

[...] a grande dificuldade para a adoção de uma atitude precavida de buscar estabilizar o nível de consumo de recursos naturais está em que essa estabilização pressupõe uma mudança de atitude que contraria a lógica do processo de acumulação de capital em vigor desde a ascensão do capitalismo.

Com a crescente relevância do tema RSC, surgem tentativas de se estruturar informações sociais e ambientais, além de formas de analisar criticamente as verdadeiras ações empresariais sobre o assunto. Dessa forma, este estudo traz contribuições para a área, na

medida em que realiza uma análise à luz da teoria sobre as verdadeiras “externalidades”

decorrentes de grandes projetos hidrelétricos no Brasil.

1.4 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

(17)

2 METODOLOGIA

Para a classificação da pesquisa, utilizou-se como base a taxonomia proposta por Vergara (2011), que qualifica uma pesquisa em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, será exploratória e descritiva. Exploratória porque, embora se tenha muitos estudos em diversas áreas do conhecimento que analisam os grandes projetos hidrelétricos brasileiros e, em alguns casos, até mesmo a questão da responsabilidade social corporativa dentro de um determinado projeto e em um determinado impacto, não se encontrou nada na literatura que mostrasse a evolução como um todo, mostrando a gestão destes projetos ao longo do tempo, com um foco voltado para a Responsabilidade Social Corporativa, e descritiva, pois visa descrever percepções e expectativas dos envolvidos a respeito do assunto.

Quanto aos meios, a pesquisa será bibliográfica, documental e ex pos facto. Bibliográfica, pois, para a fundamentação teórico-metodológica do trabalho, será feita uma investigação sobre os seguintes assuntos: responsabilidade social corporativa, teoria do desenvolvimento econômico, movimentos sociais. Será documental, uma vez que buscará através de documentos internos das empresas, ou estudos governamentais, elucidar questões pertinentes à pesquisa, e ex pos facto, dada a impossibilidade de o pesquisador controlar ou manipular variáveis.

Dessa forma, buscar-se-á, através de dois exemplos, confrontar como as questões de responsabilidade social, nos âmbitos sociais e ambientais, foram e estão sendo tratadas, analisando as ações das empresas nas soluções dos impactos e reivindicações existentes.

2.1 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS

(18)

de outros problemas que não tenham sido previamente abordados nos estudos. Dessa forma, os dados serão coletados basicamente por meio de:

a) Pesquisa bibliográfica em livros, revistas especializadas, relatórios, sites especializados, jornais, teses e dissertações com dados pertinentes ao assunto;

b) Pesquisa documental - Arquivos/dados das empresas construtoras dos projetos, para coletar informações técnicas sobre área desmatada, área alagada, cronograma, programas sociais, etc.

Após o levantamento dos principais problemas enfrentados que foram extraídos dos relatórios e documentos das empresas, análises comparativas foram criadas para que pudessem mostrar uma melhor visão da eficiência da usina em comparação aos impactos por ela causados. Dessa forma, os comparativos mencionados na seção 1.3 desta dissertação foram pensados com o intuito de minimizar o efeito temporal e espacial existente entre os dois projetos estudados.

2.1.1 Levantamento dos principais problemas

Segundo Gavião (2006) os aproveitamentos hidrelétricos são responsável por quatro grandes impactos ou externalidades: (1) remanejamento da população e atividades econômicas; (2) danos à fauna e flora; (3) alterações da qualidade da água; e (4) modificação dos rios à jusante da barragem.

Segundo Fearnside (1999), autor de um artigo sobre os impactos da UHE Tucuruí, mostra que essa hidrelétrica também passou por problemas semelhantes: (1) movimentos sociais dos residentes ao longo das margens do reservatório que acamparam durante dois anos em frente à ELETRONORTE (empresa detentora da concessão da usina) reivindicando locais alternativos para o reassentamento; e (2) economias de cidades/vilarejos afetados foram totalmente destruídos. Na questão ambiental, apenas 140 km2 dos 2.850 km2 alagados foram desmatados, causando uma perda de aproximadamente 2,5 milhões de m3 de madeira que poderia ser aproveitada, além de alterar a qualidade da água e mortalidade de espécies de peixes (FEARNSIDE, 1999).

(19)

a maior cachoeira do mundo em volume de água (GERMANI, 2003). A população de Foz do Iguaçu cresceu mais de 100 mil habitantes em 15 anos, o que gera uma superdemanda por serviços básicos como saneamento, saúde, educação e segurança, a qual a cidade não estava dimensionada para suportar.

Em Santo Antônio, questões relacionadas às externalidades começaram a aparecer antes mesmo das obras iniciarem. A preservação do meio ambiente e a privatização das águas foram temas de reivindicações de movimentos sociais promovidos pelo grupo Excluídos de Brasília. Hoje, a Santo Antônio Energia - SAE possui alguns Termos de Ajustamento de Conduta -TAC, como, por exemplo, a de ter que repor 150 mil peixes no rio madeira devido a morte de aproximadamente 11 toneladas de peixes em função de sua atividade.

No ano de 2012, em função dos efeitos da erosão causados pela construção da UHE Santo Antônio, um centenário marco histórico que delimitava a divisa entre os estados de Mato Grosso e Amazonas foi destruído. Um novo TAC foi feito para sanar esse problema assim como para indenizar as famílias que também foram afetadas pela erosão (JORNAL DA ENERGIA, 2012).

Dessa forma, pode-se perceber que os problemas mais marcantes e que causaram a maior movimentação de classes/grupos sociais envolvidos, são os relacionados com a terra, águas do rio e economia da região onde o projeto se encontra. Dessa forma, será demonstrado o que se buscou mostrar com os comparativos estudados ao longo deste trabalho.

2.1.2 Comparação eficiência x impacto

Para melhor explanação sobre o assunto, optou-se por dividir os comparativos em dois grandes grupos. O primeiro relacionado aos problemas ambientais e o segundo aos problemas sociais.

(20)

De modo semelhante o comparativo da área devastada x potência, que compreende não somente áreas que foram inundadas, mas também áreas necessárias aos componentes acessórios ao funcionamento de uma usina como estradas de acesso, subestações, casas de forças, etc., nos mostra o quanto de vegetação foi suprimida para a instalação do complexo energético. E o terceiro comparativo, área reflorestada x área devastada, busca mostrar o quanto a concessionário tentou reverter suas externalidades para com o meio ambiente.

(21)

3 MARCO TEÓRICO

3.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA - CONCEITO

Em um mundo globalizado, que vive sob uma enorme crise ambiental em função dos anos de busca pelo tão sonhado desenvolvimento, questões sobre o que se pode fazer para minimizar os impactos socioambientais são levantadas a todo momento.

Juntamente a isso, em função da mudança de pensamento social, principalmente utilizando-se dos conceitos pós-industriais, questões de fundo social como erradicação da pobreza, fome, inclusão das minorias, direitos humanos estão em pauta nas discussões dos grandes empresários mundiais.

Com isso, nas últimas décadas, vem surgindo e se tornando cada vez mais forte, a necessidade de se entender quem, como e quando ações para melhoria ou diminuição desses impactos devam ser tomadas.

Conforme ensinamentos de Thiry-Cherques (2008):

É verdade que a estabilidade e a integração social têm preocupado os empresários desde o advento dos distritos industriais. Mas há uma diferença substancial naquilo a que estamos assistindo hoje. É que a nossa capacidade de controle parece já não dar conta dos riscos associados à atividade econômica.

É nesse contexto que os primeiros estudos sobre Responsabilidade Social Corporativa - RSC são apresentados. Oliveira (2008) afirma que o estudo de RSC não é uma ciência e sim uma área de interesse inter e multidisciplinar, que transita pelos campos das várias ciências sociais, humanas e até mesmo filosófica, entretanto, entende que foi na administração que esse debate, conceitual e prático, ganhou corpo.

A questão da RSC nasce basicamente da relação dos projetos com os seus intervenientes, que podem ser divididos, segundo Valle (et al, 2007), em três grupos: (1) os

sponsors; (2) os participantes; e (3) os externos. Este estudo será restringido à relação dos

dois últimos grupos, uma vez que as externalidades são causadas porque participa do projeto e sofridas pelos externos.

(22)

concorrência e proteção da propriedade, e que as empresas deveriam buscar a maximização do lucro, geração de empregos e pagamento de tributos.

De acordo com Tenório (2006):

A visão clássica da responsabilidade social empresarial incorporava os princípios liberais, influenciando a forma de atuação social das empresas e definindo as principais responsabilidades da companhia em relação aos agentes sociais da época.

Em 1951, Frank Abrams, presidente do conselho da Standart Oil, publicou um artigo na Harvard Business Review, conclamando a alta classe de gestores a se tornarem “bons

cidadãos” e contribuírem mais enfaticamente com soluções para os mais complexos

problemas da sociedade.

Assim como toda história possui dois lados, os questionamentos levantados nos estudos iniciais sobre RSC tiveram sua voz de oposição como a de Theodore Levitt e a de Milton Friedman.

Levitt e Friedman acreditavam que falar sobre Responsabilidade Social de uma empresa era algo que, no mínimo, feriria a doutrina da livre sociedade, além de tentar criar um novo fim para as empresas do que aqueles estabelecidos por seus fundadores.

Levitt (1958) afirmava que RSC seria uma nova ortodoxia, uma tirania que prejudicaria os interesses comerciais das organizações. Friedman (1970) afirma que a responsabilidade social da empresa é a de aumentar lucros, tratando a RSC como um movimento a caminho do socialismo.

Tal visão, conhecida como dos Shareholders, tem um ponto verdadeiro, o de entender que, em sendo o homem de negócio um funcionário da empresa, possui, primeiramente, responsabilidade para com seus acionistas, assim, devem gerir a organização segundo os desejos dos mesmos.

Friedman (1970) afirma que:

[...] a corporate executive is an employee of the owners of the business. He

has direct responsibility […] to conduct the business in accordance with

their desires, which generally will be to make as much money while conforming to the basic rules of the society, both those embodied in law and those embodied in ethical custom.

(23)

pensamento pós-industrial, se inicia a busca pelo aumento da qualidade de vida, valorização do ser humano e o respeito ao meio ambiente.

Tenório (2006): “nessa nova concepção do conceito, há o entendimento de que as companhias estão inseridas em ambiente complexo, onde suas atividades influenciam ou têm impacto sobre diversos agentes sociais, comunidade e sociedade”.

A partir de 1970 os trabalhos ganham maior destaque com os debates internacionais sobre as alterações climáticas e os perigos da industrialização (ALMEIDA, 2010). A questão da RSC passou a ser mais propagada com a academia a cada dia levantando novas questões e definições, e a área empresarial, sendo cada vez mais cobrada e buscando se utilizar deste novo campo para agregar valor ao seu produto ou serviço.

Embora o campo do estudo sobre RSC esteja em constante crescimento, ainda não se tem uma definição exata, ou um consenso sobre a realidade do que venha a ser de fato a responsabilidade social. O estudo de RSC engloba entender as complexas relações entre as empresas, sociedade, governo e outros entes envolvidos, ou seja, entender o papel da empresa na sociedade, como ela deve responder as expectativas da sociedade (OLIVEIRA, 2008).

Oliveira (2008) ainda afirma que:

O impacto social das empresas não é só na produção, que é importante, mas não é o único. Empresas podem ter impacto nos preços e acessibilidades dos produtos aos consumidores, na taxa de câmbio com transferência de lucros, exportação e importação, e mesmo no desenvolvimento local com a possibilidade de gerar ou não novos negócios a partir das atividades da empresa.

As novas definições de RSC vão de encontro ao pregado por Friedman, pois percebem que as ações de RSC também podem ser importantes para as empresas. Uma dessas razões é o impacto que as questões ligadas a RSC possuem sobre o valor econômico da empresa (OLIVEIRA, 2008).

(24)

É nesse contexto que a RSC passa a ser considerada como um diferencial competitivo, aumentando assim o poder econômico das organizações, além de ser um fator diferencial para os acionistas e também para o mercado financeiro.

De acordo com Oliveira (2008):

Uma empresa, ou até mesmo setor econômico, com uma marca ruim em termos de RSC pode ser sujeita a mais regulações do estado ou ter maior rejeição de seus produtos por parte da população ou de governantes. Ninguém quer ter por perto um vizinho com uma má fama.

Percebe-se que a RSC possui uma benesse para as duas maiores partes envolvidas, os

shareholders, e aqueles que recebem a ação, os envolvidos, seja sociedade, grupo de

interesse, governo, meio ambiente - stakeholders. Porém, alguns pesquisadores buscam entender o background que está por trás das decisões das empresas de investir em ações de RSC.

Oliveira (2008) apresenta quatro correntes principais de análise do tema, conforme a figura 1.

Figura 1. Correntes de Análise de RSC

Fonte: (OLIVEIRA, 2008).

(25)

A terceira corrente, a de Recursos Ambientais e Empresa, tenta, por sua vez, entender as consequências ambientais e seus impactos na sociedade, buscando saber se existe uma relação positiva entre a boa gestão, o desempenho ambiental e resultados financeiros.

A quarta e última corrente, a Empresas e Sociedade, busca compreender como as empresas devem agir para buscar legitimidade na sociedade, estudando as respostas das empresas às demandas da sociedade e como esta reage às ações das empresas.

Oliveira (2008) levanta uma questão que explica, de certa forma, o porquê da necessidade de se buscar entender o que está por trás das ações de RSC, afirmando que: “se uma empresa faz ação social, [...], mas ao mesmo tempo polui o meio ambiente ou trata mal seus empregados, essa ação social não poderia significar que a empresa age com responsabilidade social”.

Davis e Blomstron (1975) apresentam um modelo bem simples sobre RSC, afirmando que as responsabilidades das empresas se expandem desde aspectos técnicos e econômicos, passando por questões trabalhistas e ambientais inerentes ao business até, finalmente, buscar o engajamento em atividades não inerentes a ele.

Dessa forma, a empresa e os gestores, à medida que buscam essas responsabilidades, passariam a arcar com crescentes preocupações, além das relacionadas às técnico-econômicas. A figura 2 busca representar essa definição.

Figura 2. Modelo de Devis e Blomstrom

Fonte: (OLIVEIRA, 2008).

(26)

Seu modelo propõe uma forma de hierarquia de responsabilidades, onde, para se subir na escala, as necessidades inferiores devem ser satisfeitas, conforme figura 3:

Figura 3. Modelo de RSC proposto por Carroll

Fonte: (OLIVEIRA, 2008).

As responsabilidades econômicas são fundamentais, pois, sem elas, as empresas não existem em médio prazo. Percebe-se aqui que os princípios de Friedman também são incorporados (CARROLL, 1991).

Porém, devido às diferenças de contexto, definição, interpretação e período analisado, as interpretações e ações de RSC variam de acordo com o local e o setor de atividades. Por exemplo, em um setor de atividades que causa um alto impacto ambiental, a interpretação de RSC poderá vir com um viés ambiental mais forte, por outro lado, em uma sociedade onde as organizações sociais possuem força expressiva, RSC poderá ter um viés social, pois os stakeholders possivelmente terão um poder de diálogo maior com a empresa e o poder político.

Em função desses diversos vieses, que influenciam a maneira como as organizações interagem com os stakeholders, surge a necessidade de aperfeiçoamento das maneiras de se comunicar e trabalhar com RSC, como o marketing social, projetos sociais, gestão de conflitos, pesquisas de opinião entre outros.

(27)

3.2 MOVIMENTOS SOCIAIS - INTERVENIENTES EXTERNOS

Os movimentos sociais não são um fenômeno novo, desde a antiguidade pode-se encontrar relatos de tentativas de se arregimentar setores sociais em atividades permanentes ou eventuais em prol de alcançar objetivos da sua própria condição.

Ainda é incerta a definição do que são movimentos sociais. Segundo Gohn (2011):

“para alguns os movimentos são fenômenos sempre empíricos; para outros, são objetos analíticos, teóricos, e não necessariamente com formatos e sujeitos definidos”.

Tal conceito é difícil de definir, pois muitos autores tentam isolar aspectos empíricos dos fenômenos coletivos, afirmando que tais diferenciações estariam no sistema de referências de cada ação, e que a base para se entender o conceito de movimentos sociais estaria na solidariedade, no conflito e no rompimento dos limites do sistema em que ocorrem as ações (MALUCCI, 1994).

Dessa forma, Malucci (1994) conceitua o conflito como “uma relação entre atores opostos, lutando pelos mesmos recursos”.

Os movimentos sociais fluem e acontecem em espaços não consolidados das estruturas e organizações sociais, pois, em sua maioria, as razões destes movimentos são exatamente para questionar essas estruturas, propondo novas formas de organização (GOHN, 2012).

No Brasil, o início dos movimentos leva-nos para o período colonial quando a sociedade se organiza para realizar lutas armadas em prol de um bem comum. Exemplo disso é a Confederação dos Tamoios, primeira rebelião que se tem notícia no Brasil, ocorrida em 1562 quando os índios Tamoios, com o apoio dos franceses, se revoltam contra os portugueses, tendo este movimento sido apaziguado pelos padres jesuítas Manuel de Nóbrega e José de Anchieta.

Outros tantos movimentos surgiram ao longo da história do Brasil-colônia até a sua independência, república e dias atuais. A inconfidência mineira em 1789, a guerra de canudos em 1896, guerra dos mascates entre 1710 e 1711, revolução praieira entre 1848 e 1849, revolta da armada entre 1893 e 1894 e a Revolução de 1964 são exemplos de outros movimentos sociais que ocorreram no Brasil colonial, império e república.

(28)

contestam a ordem estabelecida pela Ditadura Militar, em vigor no Brasil (ALMEIDA; GEHLEN, 2005). Durante o processo de democratização dos anos 80, tais movimentos ganharam força na busca pela democracia, almejando conseguir a participação da sociedade nos processos decisórios da gestão de políticas públicas sociais.

É nos anos 90, com o estreitamento dos laços entre os movimentos sociais e o Estado, que se passou a entender tais movimentos como possíveis parcerias. Entidades privadas e filantrópicas passam a trabalhar em conjunto, possivelmente em consequência da evolução do conceito de responsabilidade social que emergia no Neoliberalismo.

Hoje, são inúmeros os movimentos sociais que se tem conhecimento, sejam locais, regionais, nacionais ou mundiais, que lutam por diversas questões, principalmente, contra as ações tidas como inapropriadas ou inadequadas, das corporações. Greenpeace, MST – Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra, MAB - Movimentos dos Atingidos por Barragens, WWF - World Wide Fund for Nature, são exemplos desses movimentos.

É fato que hoje a questão da responsabilidade social corporativa está em alta na administração. Em um mundo globalizado, a questão do valor da marca tem crescido cada vez mais e, juntamente com isso, a questão de ser uma marca responsável, no que diz respeito à sustentabilidade, questões ambientais e sociais.

No Brasil, por sua vez, tal questão está em evidência devido ao grande número de ações e publicidade envolvendo os movimentos sociais e os principais projetos de desenvolvimento do país, principalmente na questão de infraestrutura, onde os assuntos a respeito do meio ambiente e sociedade estão sendo questionados, alterações e soluções para os problemas causados, reivindicadas.

Nos projetos hidrelétricos suas aparições foram e continuam marcantes. Como será visto mais adiante, muitas das externalidades foram combatidas através da formação de movimentos sociais, mesmo que sem organização formal, mas que buscaram de uma forma conjunta solucionar problemas causados pela construção das usinas.

3.3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

(29)

entende por desenvolvimento e como a RSC pode contribuir ou como se relaciona com tal teoria.

A teoria do desenvolvimento ainda estaria em formação dentro das ciências sociais contemporâneas. Sua problemática vem demonstrando que não consiste apenas numa reprodução dos mesmos processos da revolução industrial em outros lugares e em outros períodos (PINTO; BAZZANELLA, 1967).

O crescimento econômico é entendido apenas como o aumento contínuo do ingresso

per capita, e que, no passado, os economistas tiveram que considerar tal processo como

natural, pressupondo que o fracasso no progresso fosse causado por alguma barreira econômica peculiar. O crescimento econômico requer que os progressos técnicos, grandes ou pequenos, apresentem uma distribuição ampla e recorrente em toda a economia (HAGEN In: PINTO; BAZZANELLA, 1967).

Ainda segundo Hagen (In: PINTO; BAZZANELLA, 1967) a ideia de que “no passado [...] foi necessário inventar novas técnicas, enquanto nos países que hoje se estão

desenvolvendo é possível simplesmente adotar as técnicas avançadas que existem” é uma

opinião incorreta, o que foi corroborada por Furtado (1983) ao analisar a questão brasileira.

Segundo Furtado (1975), a literatura sobre esse assunto no último século dá um exemplo sobre o papel dos mitos nas ciências sociais afirmando que “noventa por cento do que aí encontramos se fundamenta na ideia, [...] segundo a qual o desenvolvimento econômico, [...], pode ser universalizado”.

Mas como universalizar algo que tem uma vertente histórica bastante importante, ao ponto de tornar diferente uma análise de outra, pelo simples fato de se estar em tempos ou épocas distintas? Ao se desenvolver, cada economia enfrenta problemas que lhe são específicos, embora muitos deles sejam comuns, como os recursos naturais, os processos migratórios, o grau relativo de desenvolvimento da própria economia, tornam por singularizar cada fenômeno histórico nesse processo (FURTADO, 1983).

Quando o problema do desenvolvimento econômico se tornou popular utilizava-se a

palavra “atrasada” para descrever aqueles países que haviam ficado para trás na corrida

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aumento da produtividade das organizações individualmente que se interessa estudar nessa teoria (FURTADO, 1983).

Furtado (1983) ainda afirma que “não se deve, portanto, confundir aumento de produtividade - no plano microeconômico - com desenvolvimento, o qual dificilmente se poderia conceber sem elevação da renda per capita”.

Assim, a teoria do desenvolvimento econômico explica, numa estrutura macroeconômica, o aumento persistente da produtividade do trabalho e suas repercussões na organização produtiva e na forma de distribuição e utilização do produto social (FURTADO, 1983). Podendo ser explicado por duas vertentes, no primeiro momento através de modelos abstratos, que seriam necessários para analisar o mecanismo propriamente dito, no segundo, por uma abordagem histórica, onde o estudo crítico se encontra confrontando a realidade das categorias definidas pela análise abstrata.

Na base do processo de desenvolvimento está o simples fato de se conseguir apropriar-se do excedente de produção permanente ou ocasional, uma vez que entende que se o fruto do excedente de produção fosse absorvido pelo consumo, haveria uma melhora, mesmo que momentânea, das condições de vida da população, sem a necessidade de nenhuma alteração na capacidade produtiva (FURTADO, 1983).

Os clássicos da economia classificam três elementos da produção, a saber: a terra, o capital e o trabalho, onde se atribui ao trabalho a origem de todo o valor agregado. Adam Smith, considerado o pai da economia moderna, atribuiu à divisão do trabalho o aumento da produtividade, enxergando aí uma forma de se substituir a mão de obra pelo capital.

Segundo Schumpeter (1988), o desenvolvimento econômico é simplesmente o objeto da história econômica, sendo meramente uma parte da história universal, que foi separada do resto para fins de explanação, pois o mesmo entende que o desenvolvimento é causado por

“mudanças da vida econômica que não lhe foram impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria iniciativa”.

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Dessa forma, o desenvolvimento econômico não é algo que precise ser explicado economicamente, mas as causas e explicações devem ser procuradas fora do grupo de fatos que são descritos pela teoria econômica (SCHUMPETER, 1988). Com as mudanças, emergindo da própria esfera econômica, mudam-se os dados e, consequentemente, a economia se adapta em um processo contínuo.

Todo processo concreto de desenvolvimento repousa finalmente sobre o desenvolvimento precedente, tornando-se assim um fenômeno distinto, estranho ao que se observa no equilíbrio, uma mudança espontânea e descontínua, resultando na alteração definitiva deste estado previamente existente (SCHUMPETER, 1988).

Portanto, o desenvolvimento econômico é responsável por uma reorganização produtiva onde novos dados passam a fazer parte do processo, produtivo ou decisório e, consequentemente, responsável por gerar valor e maior acúmulo que, neste caso, é medido através do capital.

A incorporação de tais alterações e mudanças foi algo decorrente da história e avanço econômico, político e acadêmico. Foi-se aos poucos entendendo e criando formas e teorias para satisfazer as necessidades surgidas desse processo.

O desenvolvimento é fruto de um impulso pela melhoria da qualidade de vida da sociedade através de atividades produtivas, sendo seu processo inerente à capacidade humana. Enxerga o ser humano como um agente transformador do mundo, sendo este o responsável por conduzir o avanço da sociedade (VIEIRA, 2012).

Segundo Sachs (2000) o objetivo do crescimento econômico “deveria ser o do estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentável da natureza em

benefício das populações locais [...]”, o que deveria levar em consideração a conservação da

biodiversidade como uma estratégia de desenvolvimento, sendo necessário, para tanto, a adoção de padrões negociados e contratuais.

Dessa forma, o desenvolvimento econômico deveria vir acompanhado pelo desenvolvimento social, uma vez que se pressupõe que o desenvolvimento econômico implica em distribuição, aumento da qualidade de vida e pelos desenvolvimentos políticos, social e sustentável (FURTADO, 1983).

(32)

3.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Os movimentos socioambientais surgem com a mudança da sociedade para a era pós-industrial, questionando cada vez mais o setor industrial pelos seus impactos (OLIVEIRA, 2008). Surgindo a nível local, conseguiram tamanha força que passaram para as esferas estaduais, federais e mundiais. Porém, ao mesmo tempo em que tais movimentos ganhavam força, um dilema pairava sobre esse assunto, o de como combater os problemas ambientais.

Se por um lado tinham-se as organizações afirmando que os impactos eram consequências naturais da produção, desde os tempos da revolução industrial:

De acordo com Oliveira (2008): “[...] se você produz, vai ter poluição e problemas sociais. Assim, se a população quer altos padrões materiais terá, consequentemente, de suportar altos padrões de contaminação ambiental”.

De outro lado, tinha o Estado, não sabedor de como conciliar a questão da produção com a preservação, visto que dependia das organizações à medida que necessitava dos empregos e dos impostos pagos para movimentar a economia.

Neste ambiente, as organizações não governamentais ou simplesmente ONG´s ganham poder para simplesmente defender os interesses da sociedade civil. Com o crescente poder sobre esse assunto, a comunidade internacional passou a melhor se organizar, exemplo disso são as Conferências das Nações Unidas, que tiveram seu início em 1972 em Estocolmo, na Suécia.

Nessa primeira conferência da ONU, os debates foram trazidos principalmente pelos países industrializados na época, pois, na visão desse período, esses países possuíam os problemas mais graves e os protestos mais organizados.

Marcada pela discussão dos problemas ambientais, principalmente a poluição industrial e seus impactos nas populações vizinhas, a agenda de Estocolmo teve boa parte de suas soluções baseadas em ideias de proteção ambiental, na qual se entendia que para melhorar a qualidade ambiental era necessário diminuir o ritmo do crescimento econômico.

A conferência de Estocolmo foi responsável pela institucionalização do debate sobre a questão ambiental e por iniciar o processo para que empresas e governo passassem a tomar ações internas para gerirem tais efeitos.

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dos países em desenvolvimento mostravam que os problemas ambientais em seus territórios eram causados principalmente pelo não desenvolvimento econômico do local.

Outro forte ponto foi o de experiências nas quais empresas e comunidades haviam conseguido melhorar a qualidade ambiental sem estacionar ou piorar o desenvolvimento econômico, pelo contrário, conseguiu, ao mesmo tempo, uma melhora, mostrando assim que os dois conceitos, outrora tidos como altamente excludentes, poderiam sim, caminhar juntos.

É em função dessa nova arrumação, de ideias e conceitos, que novamente levam a ONU a repensar os resultados da Conferência de Estocolmo. Cria-se a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou mundialmente conhecida como Comissão de Brundtland.

Tal comissão debateu o assunto ao redor do mundo durante anos, chegando em 1987 às suas conclusões finais que foram consolidadas em um relatório, conhecido como “Nosso

Futuro Comum”, onde afirmavam que o crescimento econômico e a proteção ambiental não

são incompatíveis. Questões como pobreza e sociais são incorporadas na discussão, além do tempo, presente e futuro. Surge então o que é o conceito de Desenvolvimento Sustentável.

Dentre todos os termos usados na linguagem de RSC, o desenvolvimento sustentável é o que mais se destaca, sendo muito utilizado hoje nas falas das grandes corporações que afirmam praticar ações de Responsabilidade Social.

O conceito mais aceito hoje é o do Relatório Brundtland, publicado em 1987, mostrando, diferentemente das visões tidas na primeira conferência da ONU em Estocolmo, que o crescimento econômico e a preservação ambiental não eram incompatíveis e poderiam ocorrer ao mesmo tempo, além de inserir no contexto, as questões sociais e a pobreza, antes apenas voltadas para as questões ambientais e econômicas.

The term, sustainable development, was popularized in Our Common Future, a report published by the World Commission on Environment and Development in 1987. Also known as the Brundtland report, Our Common

Future included the ‘classic’ definition of sustainable development:

‘development which meets the needs of the present without compromising

the ability of future generations to meet their own needs’ (UNITED

NATIONS, 2010).

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O pilar social envolve o contexto humanitário do negócio, relacionando as questões como pobreza, doenças, educação etc. O terceiro pilar trata da sustentabilidade ambiental, considerando os impactos causados pelos negócios/organizações na qualidade e quantidade dos recursos naturais, conceitos ecológicos e produção de energia alternativa.

Percebe-se que a sustentabilidade é formada por três interações: a organização, a sociedade e o meio ambiente. A relação entre essas três esferas é complexa e caracterizada por uma dialética entre a responsabilidade dos negócios em maximizar seus lucros e retornos aos acionistas (Shareholders) e os benefícios para uma parcela da sociedade envolvida (Stakeholders), incluindo-se nesta o ambiente em que está inserido (FREIDMAN, 1970).

Segundo o relatório, este conceito embute a ideia de que o desenvolvimento deve ocorrer em três esferas, a ambiental, social e econômica, sendo possível um melhoramento em cada esfera, ao mesmo tempo. Mostrava também que existia uma quarta interferência, a política, que mostraria mais claramente os processos e a participação. A figura 4 retrata como seria esse conceito (OLIVEIRA, 2008).

Figura 4. Conceito de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: (OLIVEIRA, 2008).

Elkington (2004) cria o termo triple bottom line para se referir as três dimensões envolvidas na sustentabilidade: as pessoas, o planeta e o lucro. Sua ideia tinha como cerne o conceito de que as empresas deveriam avaliar o seu sucesso não somente pelo desempenho financeiro, ROI ou valor do acionista, seria necessário também avaliar o impacto sobre a economia, meio ambiente e sobre a sociedade em que a empresa atua.

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marco para os debates socioambientais. São frutos da Rio 92 vários documentos, dentre os quais o Protocolo de Florestas, a Carta da Terra e a Agenda 21. Sendo importante para o desdobramento de outros fatores externos, como o Protocolo de Quioto e o de Cartagena.

Oliveira (2008) mostra que, por um lado, o conceito do desenvolvimento sustentável se popularizou, pelo menos nos discursos, em governos, empresas e organizações da sociedade civil e por outro, a conferência sediada em Johanesburgo, no ano de 2002,

conhecida como Cúpula Global, mostrou que, “dez anos após a Rio 92, apesar dos avanços

institucionais [...], os resultados mostravam que a situação continuava agravante até mais do

que em 1992” (OLIVEIRA, 2008).

Dessa forma, pode-se perceber que a cada avanço na sociedade, com novas descobertas, novos questionamentos, o conceito de RSC vai se tornando mais amplo e abrangente. Oliveira (2008) destaca que, nos anos 90, todas as tendências de movimentos da sociedade civil, governos e empresas passaram a convergir em um movimento maior, que seria a Responsabilidade Social Corporativa (ou Empresarial), que envolveria as múltiplas dimensões dos movimentos organizados, o que faz com que hoje, seja “difícil para qualquer

um movimento [...] falar em uma dimensão sem levar em consideração as outras”.

Lemos (2013) nos mostra que a sustentabilidade possui três desafios, o primeiro seria os recursos naturais, que consiste em conseguir garantir a disponibilidade dos recursos que transformamos em bens e serviços, e que “estaríamos usando os recursos renováveis de acordo com o conceito do desenvolvimento sustentável quando respeitamos a velocidade de

renovação desses recursos”.

O segundo desafio seria o limite da biosfera para assimilação dos resíduos e poluição e, por fim, a questão social que se resumiria basicamente a erradicação da pobreza (LEMOS, 2013).

O conceito apresentado no Relatório de Brundtland envolve dois aspectos. O primeiro é a respeito das necessidades essenciais, afirmando que essas necessidades, principalmente dos mais pobres, devem ser priorizadas (PEREIRA, 2011).

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Pereira (2011) ressalta que:

O mundo deve desenhar, rapidamente, estratégias que permitam que as nações saiam de seu processo de crescimento e desenvolvimento atual, geralmente destrutivo, em direção ao desenvolvimento sustentável. Isso vai exigir uma reorientação das políticas públicas em todos os países, tanto no que diz respeito ao próprio desenvolvimento e a seus impactos sobre o desenvolvimento de outras nações.

(37)

4 HIDRELÉTRICAS BRASILEIRAS

4.1 UMA BREVE HISTÓRIA

A história da eletricidade tem seu primeiro registro na Grécia, quando se descobriu a força de atração e repulsão que duas varas de âmbar tinham quando friccionadas entre si (MÜLLER, 1995). Porém, seu uso prático é mais recente. A pilha, por exemplo, foi inventada por Volta no século XIX, Faraday descobriu o dínamo só em 1831 e Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica apenas em 1879.

No Brasil, a história da energia elétrica se inicia em 1879, quando D. Pedro II inaugura, na cidade do Rio de Janeiro, a iluminação da estação D. Pedro II, atual estação Central, com seis lâmpadas.

Em 24 de Junho de 1883, o então Imperador, inaugurou a Usina Termoelétrica de Campos, tornando a cidade de Campos a primeira do Brasil e da América do Sul a receber iluminação elétrica pública.

É também no ano de 1883, na bacia do Jequitinhonha, no município de Diamantina, interior de Minas Gerais, que se construiu a primeira Hidrelétrica Brasileira, chamada Ribeirão do Inferno. Segundo Müller (1995):

[...] nos primórdios da hidreletricidade, há relatos de muitas outras usinas, de pequena potência e destinadas a usos privados em moinhos, serrarias e algumas tecelagens. A grande concentração dessas usinas ocorreu em Minas Gerais, disseminando-se na direção sudeste, até chegar a São Paulo.

A partir de 1900, com os avanços tecnológicos norte-americanos, aumentou-se a utilização de tais tecnologias no então incipiente setor elétrico brasileiro. É graças ao desenvolvimento tecnológico e a instalação de empresas estrangeiras no Brasil, que o setor elétrico teve seu impulso inicial.

Com o golpe de 1937, a criação do estado novo e consequente nova Constituição, que proibia qualquer novo projeto hidrelétrico por empresa estrangeira, é que o governo (estadual e federal) passa a intensificar sua participação como acionária das empresas do setor (geradoras e distribuidoras).

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organizar a interligação de usinas aos sistemas elétricos, controlar os concessionários, impor tributos e proceder a regulamentação do Código de Águas.

No caso brasileiro, a Hidroeletricidade assume uma importância especial, por vários motivos, seja custo, disponibilização ou riscos. Segundo Müller (1995), “a hidroeletricidade é

a base do suprimento energético do Brasil”.

Segundo o site do Governo Brasileiro, a Matriz energética do país é a mais renovável do mundo com 45,3% de sua produção proveniente de recursos hídricos, de biomassa, etanol, energia solar e eólica. As fontes hídricas são responsáveis por aproximadamente 77% da energia gerada no país (BRASIL, Empresa de Pesquisa Energética, 2013).

De acordo com o mesmo site, a previsão do Plano Decenal de Energia é que o País venha a ter 71 novas usinas até 2017, sendo 15 na bacia do Amazonas, 13 na bacia do Tocantins-Araguaia, 18 no rio Paraná e 8 no rio Uruguai.

Não é à toa que o Brasil investe tanto em geração hídrica. Além de ser uma fonte considerada limpa pelas entidades governamentais nacionais e internacionais, é gerada através de uma riqueza abundante no Brasil, água doce. O Brasil concentra em torno de 12% da água doce do mundo disponível em rios e abriga o maior rio em extensão e volume do Planeta, o Amazonas.

Outro ponto favorável ao desenvolvimento de projetos hídricos é o seu custo-benefício. Segundo Rosa, Sigaud e Rovere (1995), a hidroeletricidade é considerada a melhor solução técnica e econômica, em face dos riscos ambientais e dos custos se comparada com a energia nuclear, por exemplo, sendo também a melhor alternativa quando comparada com a termoeletricidade, a combustíveis fósseis, pois tem como vantagens o fato de ser renovável e disponível no país a um custo menor.

É neste contexto, histórico e político, que o Brasil desenvolveu seus projetos e megaprojetos no setor de hidrelétricas, tendo como maior deste o de Itaipu, cujas obras se iniciaram em 1976. Atualmente, com o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento, o Brasil vive um momento de investimento em grandes projetos nesse setor, visando, sobretudo, garantir o fornecimento de eletricidade para as projeções de crescimento industrial, comercial e populacional.

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Grosso e Pará e a maior de todas, a Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no interior do Pará.

Para tanto, este trabalho apresentará dois desses projetos, o de Itaipu e o de Santo Antônio, e se propõe a entender/comparar como foi/é a relação desses dois projetos com o que foi anteriormente apresentado sobre RSC, buscando analisar se ainda estamos vivenciando os mesmos problemas de outrora.

4.2 ITAIPU BINACIONAL

4.2.1 Antecedentes históricos

Datada de 1898 as primeiras informações sobre estudos de viabilidade energética dos rios da Bacia do Prata (no qual o Rio Paraná, onde está instalada a Hidrelétrica de Itaipu, faz parte), segundo estudo do IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social e publicado em 1977, sobre os efeitos econômicos e sociais da Hidrelétrica de Itaipu.

Os primeiros estudos são datados do início da década de 1960, quando a solução apresentada pelo então engenheiro militar, o Capitão Pedro Henrique Rupp, vislumbrou a possibilidade de um represamento que geraria 25 mil Mw (Megawatts - unidade de medida de energia), através de um desvio do rio Paraná (IPARDES, 1977).

Porém, em meio a problemas políticos e econômicos, em função da localização e dos impactos simplesmente econômicos para os estados vizinhos, o projeto sofreu pressões para não ocorrer, oriundas da Argentina e do Paraguai, forçando o Brasil a adiar a execução do projeto e buscar outras formas de viabilizar o mesmo.

Embora em 1969 tenha sido assinado o Tratado da Bacia do Prata, no qual se estabelecia as diretrizes para o aproveitamento de rios sucessivos, o impasse na viabilização de Itaipu não teve o seu fim decretado:

[...] Ao Estado que realiza o aproveitamento das águas de um rio sucessivo, no trecho que está sob sua jurisdição, cabe o dever de prevenir e evitar razoavelmente todo prejuízo sensível que possa causar a outros Estados da mesma bacia e, a respeito destes, o dever de suportar os inconvenientes menores que possam derivar-se da operação desses aproveitamentos.

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a Itaipu Binacional, formalmente constituída em 17 de Maio de 1974, após a designação pelos respectivos governos dos seus representantes nos órgãos dirigentes de Itaipu.

Porém, antes mesmo da legítima criação e assinatura dos acordos, Itaipu já mobilizava trabalhos a serem feitos. Em 1973 iniciou-se a escolha do local para a construção

da maior hidrelétrica do mundo na época. Itaipu, que no tupi quer dizer “pedra que canta”,

está localizada no rio Paraná, exatamente na fronteira entre o Brasil e Paraguai, como nos mostra a figura 5.

Figura 5. Tríplice Fronteira - Itaipu

Fonte: (IPARDES, 1977).

Suas obras iniciaram em 1974 e, após oito anos de construção, em 5 de Novembro de 1982, os então presidentes do Brasil, João Figueiredo, e do Paraguai, Alfredo Stroessner, acionaram o mecanismo que levantaria automaticamente as 14 comportas do vertedouro, liberando a água represada do rio Paraná e, assim, inauguraram oficialmente a maior hidrelétrica do mundo, da época, em capacidade instalada.

Segundo artigo publicado na revista a Defesa Nacional, em 1981, o assunto Itaipu foi citado e obteve uma visão na tentativa de se conseguir responder as questões que foram desde perguntas políticas até financeiras, inerentes aos projetos de uma grande hidrelétrica.

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uma hidrelétrica Binacional; a segunda por ter a maior potência instalada - 12,6 milhões de kw (Quilowatt); e, a terceira, por sua capacidade de produção, 75 bilhões de kwh/ano (Quilowatt-hora), ou sejam, 450 mil barris de petróleo por dia. Em 1997, Itaipu atingiu seu ápice, segundo dados da própria empresa, com o atendimento de 26% da demanda elétrica nacional do ano.

O artigo a Central Hidrelétrica de Itaipu conclui que:

Itaipu, além de outros méritos, despertou nos povos brasileiro e paraguaio a conscientização e a convicção de possuírem, em potencial ou em poder efetivo, os requisitos técnicos, financeiros, gerenciais e administrativos, para não só levar a cabo de forma associada o majestoso empreendimento energético [...] como também para prosseguir, [...], na construção dos respectivos destinos (DEFESA NACIONAL, 1981).

E por se colocar dessa forma no âmbito nacional e internacional, torna-se Itaipu um divisor de águas, seja para questões técnicas da área de engenharia, seja da área administrativa, onde se pode tentar observar questões de Responsabilidade Social Corporativa, objetivo deste trabalho.

4.2.2 Itaipu e RSC

Embora Itaipu tenha sido uma realidade que veio a atender uma demanda de crescimento econômico e financeiro do país, a grande questão que hoje está sendo muito

discutida e difundida nos demais projetos de mesma espécie é a respeito das “externalidades”

que, neste trabalho, serão consideradas como todos os impactos causados pelo projeto em estudo nos âmbitos sociais e ambientais.

Dessa forma, ao se perguntar a custa de quem, ou do que, pode-se ter uma primeira visão do que se pretende abordar neste trabalho. Segundo o IPARDES (1977) “[...] a construção de Itaipu pouco tem a ver com o desenvolvimento regional e estadual, com exceção de algumas impulsões positivas, acompanhadas simultaneamente de outras externalidades negativas a serem absorvidas pela região e pelo Estado”, pode-se perceber claramente que a necessidade do ente maior, o país, e o crescimento econômico se sobrepõem à necessidade dos conhecidos como Stakeholders, estes últimos, aqueles que serão responsáveis por absorver tais externalidades e impactos causados pelo projeto.

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construção da usina, chegou a registrar 100 mil trabalhadores ao longo da construção, tendo em seu pico aproximadamente 40 mil trabalhadores diretos.

Entre 1975 e 1978, mais de 9 mil moradias foram construídas nas duas margens para abrigar os funcionários que lá trabalhavam. Foz do Iguaçu era uma cidade com aproximadamente 20 mil habitantes e em dez anos a população deu um salto para mais de 100 mil habitantes (Ver quadro 1).

Quadro 1. Decomposição da projeção da população urbana residencial *

Pode-se perceber que o crescimento urbano tido como “normal” foi crescente sem grandes impactos, porém a mão de obra direta e indireta em função de Itaipu gera um crescimento abrupto em 1976 com a chegada de mais de 32 mil pessoas para a cidade de Foz do Iguaçu. O que isso pode gerar? Qual o impacto dessa alteração no meio ambiente? Essas respostas serão respondidas ao longo deste trabalho.

Por outro lado, tem quem levante outra bandeira, pois a construção de Itaipu Binacional não traz à tona apenas aspectos sociais e ambientais. A economia do Paraguai, por

Anos "Norma l "1 Ins ta ntâ nea

(Turi s mo)2

Di r./Indi r.

Cons t. Ita i pu 3 Tota l

1970 18.605 2.084 - 20.689

1971 19.982 2.560 - 22.542

1972 21.462 3.130 - 24.592

1973 23.050 3.650 - 26.700

1974 24.757 3.840 - 28.597

1975 26.589 4.400 6.240 37.229

1976 28.558 5.050 34.050 67.658

1977 30.672 5.780 36.635 73.087

1978 32.942 6.550 37.635 77.127

1979 35.381 7.350 38.515 81.246

1980 38.000 8.200 39.360 85.560

1981 40.862 9.050 40.350 90.262

1982 43.941 9.800 41.390 95.131

1983 47.249 10.600 43.830 101.679

1984 50.811 11.400 44.970 107.181

1985 54.639 12.150 45.805 112.594

* Dado s do P DU - P lano de Desenvo lvimento Urbano e do P lano Direto r de Desenvo lvimento Urbano de Fo z do Iguaçu (1974)

1 A té 1980 P DU - P lano de Desenvo lvimento Urbano ; a partir de 1981 co m base do P lano de Obras e Edificaçõ es - SVOP

2 - P ro jeção cf Hipó tese I - Quadro A uxiliar nº 10 - P lano Direto r de Desenvo lvimento de Fo z do Iguaçu (1974)

3 - Co m base no Quadro

(43)

exemplo, teve um considerável incremento, o PIB que havia aumentado 5% em 1975 cresceu 10,8% em 1978 (BRAGA, 2010).

A jornada de trabalho durante a construção da usina chegou a ser de 12 horas diárias e o índice de acidentes do trabalho alto (LIMA, 2006). Entretanto, como se tratava de uma empresa binacional, os cuidados com a segurança melhoraram significativamente, sendo fruto dessa regulamentação a atual legislação de segurança no trabalho vigente no Brasil, as

chamadas NR’s - Normas Regulamentadoras.

A precariedade dos primeiros refeitórios, sem a devida estrutura para atendimento à crescente demanda e fluxo de profissionais que os primeiros anos demandaram, gerando assim muitos pequenos acidentes (LIMA, 2006).

Um hospital de médio porte foi construído para atender aos funcionários da usina.

Atualmente, o referido hospital, de nome “Ministro Costa Cavalcanti”, é aberto ao público e considerado referência regional (LIMA, 2006).

Se por um lado o desenvolvimento econômico e financeiro veio para o país, por

outro, os atingidos pela barragem sofreram as consequências desse “desenvolvimento” para a

nação.

Itaipu possui um lago, criado em detrimento do represamento do rio Paraná, de 1.350 km2 (ou 135 mil ha). Apenas para fins de comparação, representa quatro vezes o tamanho da Baía de Guanabara no Rio de Janeiro. O enchimento desse reservatório, que deu origem a então maior hidrelétrica do mundo, foi também responsável por interferir na paisagem em seu entorno. Os moradores de Foz veem o rio esvaziar a jusante (área posterior a barragem seguindo-se o fluxo do rio) da barragem por causa do fechamento das comportas, enquanto Guaíra lamenta o alagamento, a montante (área anterior da barragem seguindo-se o fluxo do rio), das Sete Quedas, até então a maior cachoeira do mundo em volume de água.

Corroborando com o descrito no IPARDES (1977), a forma como Itaipu foi conduzida trouxe uma inquietação no ambiente político local, uma vez que todas as negociações e iniciativas a respeito desse projeto foram tomadas na esfera Federal. Porém, algumas vozes se ergueram, como a de Gernote Kirinus, que na CPI da “despanarização”, segundo Germani, (2003) afirmou:

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Figura 1. Correntes de Análise de RSC
Figura 2. Modelo de Devis e Blomstrom
Figura 3. Modelo de RSC proposto por Carroll
Figura 4. Conceito de Desenvolvimento Sustentável
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Referências

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