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3 MARCO TEÓRICO

3.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Os movimentos socioambientais surgem com a mudança da sociedade para a era pós- industrial, questionando cada vez mais o setor industrial pelos seus impactos (OLIVEIRA, 2008). Surgindo a nível local, conseguiram tamanha força que passaram para as esferas estaduais, federais e mundiais. Porém, ao mesmo tempo em que tais movimentos ganhavam força, um dilema pairava sobre esse assunto, o de como combater os problemas ambientais.

Se por um lado tinham-se as organizações afirmando que os impactos eram consequências naturais da produção, desde os tempos da revolução industrial:

De acordo com Oliveira (2008): “[...] se você produz, vai ter poluição e problemas sociais. Assim, se a população quer altos padrões materiais terá, consequentemente, de suportar altos padrões de contaminação ambiental”.

De outro lado, tinha o Estado, não sabedor de como conciliar a questão da produção com a preservação, visto que dependia das organizações à medida que necessitava dos empregos e dos impostos pagos para movimentar a economia.

Neste ambiente, as organizações não governamentais ou simplesmente ONG´s ganham poder para simplesmente defender os interesses da sociedade civil. Com o crescente poder sobre esse assunto, a comunidade internacional passou a melhor se organizar, exemplo disso são as Conferências das Nações Unidas, que tiveram seu início em 1972 em Estocolmo, na Suécia.

Nessa primeira conferência da ONU, os debates foram trazidos principalmente pelos países industrializados na época, pois, na visão desse período, esses países possuíam os problemas mais graves e os protestos mais organizados.

Marcada pela discussão dos problemas ambientais, principalmente a poluição industrial e seus impactos nas populações vizinhas, a agenda de Estocolmo teve boa parte de suas soluções baseadas em ideias de proteção ambiental, na qual se entendia que para melhorar a qualidade ambiental era necessário diminuir o ritmo do crescimento econômico.

A conferência de Estocolmo foi responsável pela institucionalização do debate sobre a questão ambiental e por iniciar o processo para que empresas e governo passassem a tomar ações internas para gerirem tais efeitos.

Porém, no decorrer dos anos 70, novas visões surgiram e muitas delas questionavam a direta relação entre o desenvolvimento econômico e a questão ambiental. Questionamentos

dos países em desenvolvimento mostravam que os problemas ambientais em seus territórios eram causados principalmente pelo não desenvolvimento econômico do local.

Outro forte ponto foi o de experiências nas quais empresas e comunidades haviam conseguido melhorar a qualidade ambiental sem estacionar ou piorar o desenvolvimento econômico, pelo contrário, conseguiu, ao mesmo tempo, uma melhora, mostrando assim que os dois conceitos, outrora tidos como altamente excludentes, poderiam sim, caminhar juntos.

É em função dessa nova arrumação, de ideias e conceitos, que novamente levam a ONU a repensar os resultados da Conferência de Estocolmo. Cria-se a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou mundialmente conhecida como Comissão de Brundtland.

Tal comissão debateu o assunto ao redor do mundo durante anos, chegando em 1987 às suas conclusões finais que foram consolidadas em um relatório, conhecido como “Nosso

Futuro Comum”, onde afirmavam que o crescimento econômico e a proteção ambiental não

são incompatíveis. Questões como pobreza e sociais são incorporadas na discussão, além do tempo, presente e futuro. Surge então o que é o conceito de Desenvolvimento Sustentável.

Dentre todos os termos usados na linguagem de RSC, o desenvolvimento sustentável é o que mais se destaca, sendo muito utilizado hoje nas falas das grandes corporações que afirmam praticar ações de Responsabilidade Social.

O conceito mais aceito hoje é o do Relatório Brundtland, publicado em 1987, mostrando, diferentemente das visões tidas na primeira conferência da ONU em Estocolmo, que o crescimento econômico e a preservação ambiental não eram incompatíveis e poderiam ocorrer ao mesmo tempo, além de inserir no contexto, as questões sociais e a pobreza, antes apenas voltadas para as questões ambientais e econômicas.

The term, sustainable development, was popularized in Our Common Future, a report published by the World Commission on Environment and Development in 1987. Also known as the Brundtland report, Our Common

Future included the ‘classic’ definition of sustainable development: ‘development which meets the needs of the present without compromising

the ability of future generations to meet their own needs’ (UNITED

NATIONS, 2010).

A sustentabilidade está firmada sobre três pilares: econômico, social e ambiental. O econômico é fundamental para o sucesso financeiro da organização, pelo simples fato de que, em longo prazo, uma organização não poderá existir se tiver suas despesas/custos maiores que suas receitas (HAUGH; TALWAR, 2010).

O pilar social envolve o contexto humanitário do negócio, relacionando as questões como pobreza, doenças, educação etc. O terceiro pilar trata da sustentabilidade ambiental, considerando os impactos causados pelos negócios/organizações na qualidade e quantidade dos recursos naturais, conceitos ecológicos e produção de energia alternativa.

Percebe-se que a sustentabilidade é formada por três interações: a organização, a sociedade e o meio ambiente. A relação entre essas três esferas é complexa e caracterizada por uma dialética entre a responsabilidade dos negócios em maximizar seus lucros e retornos aos acionistas (Shareholders) e os benefícios para uma parcela da sociedade envolvida (Stakeholders), incluindo-se nesta o ambiente em que está inserido (FREIDMAN, 1970).

Segundo o relatório, este conceito embute a ideia de que o desenvolvimento deve ocorrer em três esferas, a ambiental, social e econômica, sendo possível um melhoramento em cada esfera, ao mesmo tempo. Mostrava também que existia uma quarta interferência, a política, que mostraria mais claramente os processos e a participação. A figura 4 retrata como seria esse conceito (OLIVEIRA, 2008).

Figura 4. Conceito de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: (OLIVEIRA, 2008).

Elkington (2004) cria o termo triple bottom line para se referir as três dimensões envolvidas na sustentabilidade: as pessoas, o planeta e o lucro. Sua ideia tinha como cerne o conceito de que as empresas deveriam avaliar o seu sucesso não somente pelo desempenho financeiro, ROI ou valor do acionista, seria necessário também avaliar o impacto sobre a economia, meio ambiente e sobre a sociedade em que a empresa atua.

O crescente embate sobre esse novo tipo de desenvolvimento, levou a ONU a organizar a sua segunda conferência, agora no Rio de Janeiro, em 1992, que até hoje é um

marco para os debates socioambientais. São frutos da Rio 92 vários documentos, dentre os quais o Protocolo de Florestas, a Carta da Terra e a Agenda 21. Sendo importante para o desdobramento de outros fatores externos, como o Protocolo de Quioto e o de Cartagena.

Oliveira (2008) mostra que, por um lado, o conceito do desenvolvimento sustentável se popularizou, pelo menos nos discursos, em governos, empresas e organizações da sociedade civil e por outro, a conferência sediada em Johanesburgo, no ano de 2002,

conhecida como Cúpula Global, mostrou que, “dez anos após a Rio 92, apesar dos avanços

institucionais [...], os resultados mostravam que a situação continuava agravante até mais do

que em 1992” (OLIVEIRA, 2008).

Dessa forma, pode-se perceber que a cada avanço na sociedade, com novas descobertas, novos questionamentos, o conceito de RSC vai se tornando mais amplo e abrangente. Oliveira (2008) destaca que, nos anos 90, todas as tendências de movimentos da sociedade civil, governos e empresas passaram a convergir em um movimento maior, que seria a Responsabilidade Social Corporativa (ou Empresarial), que envolveria as múltiplas dimensões dos movimentos organizados, o que faz com que hoje, seja “difícil para qualquer

um movimento [...] falar em uma dimensão sem levar em consideração as outras”.

Lemos (2013) nos mostra que a sustentabilidade possui três desafios, o primeiro seria os recursos naturais, que consiste em conseguir garantir a disponibilidade dos recursos que transformamos em bens e serviços, e que “estaríamos usando os recursos renováveis de acordo com o conceito do desenvolvimento sustentável quando respeitamos a velocidade de

renovação desses recursos”.

O segundo desafio seria o limite da biosfera para assimilação dos resíduos e poluição e, por fim, a questão social que se resumiria basicamente a erradicação da pobreza (LEMOS, 2013).

O conceito apresentado no Relatório de Brundtland envolve dois aspectos. O primeiro é a respeito das necessidades essenciais, afirmando que essas necessidades, principalmente dos mais pobres, devem ser priorizadas (PEREIRA, 2011).

O segundo retrata as limitações do desenvolvimento, lembrando que existem limitações, impostas pelo estágio em que se encontra o desenvolvimento tecnológico e pela organização social, na capacidade do meio ambiente em atender as necessidades presentes e futuras.

Pereira (2011) ressalta que:

O mundo deve desenhar, rapidamente, estratégias que permitam que as nações saiam de seu processo de crescimento e desenvolvimento atual, geralmente destrutivo, em direção ao desenvolvimento sustentável. Isso vai exigir uma reorientação das políticas públicas em todos os países, tanto no que diz respeito ao próprio desenvolvimento e a seus impactos sobre o desenvolvimento de outras nações.

Sendo assim, a questão da Responsabilidade Social Corporativa e também da sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável, requer uma mudança na atitude das empresas, com visões de longo prazo mais estruturadas e menos voltadas para os lucros em curto prazo, mas também exige uma mudança da sociedade como um todo.

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