1
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA
NELSON MORATO PINTO DE ALMEIDA
O Ensino Profissional Técnico de nível médio no Brasil e no Chile.
Convergências e Divergências na Formação Profissional e no
Trabalho
São Paulo, SP
2
NELSON MORATO PINTO DE ALMEIDA
O Ensino Profissional Técnico de nível médio no Brasil e no Chile.
Convergências e Divergências na Formação Profissional e no
Trabalho
São Paulo, SP
2010
Tese apresentada ao Programa de
Integração da América Latina
–
PROLAM
da Universidade de São Paulo para a
obtenção do Título de Doutor em
Integração da América Latina
Orientadora:
3
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho,
por qualquer meio, convencional ou eletrônico, para fins de
estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogação da Publicação
Serviço de Documentação
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
VERSO DA FOLHA DE ROSTO
Almeida, Nelson Morato Pinto de
O ensino profissional técnico de nível médio no Brasil
e no Chile / Nelson Morato Pinto de Almeida ; orientadora
Maria Cristina Cacciamali.
–
São Paulo, 2010.
257 f. ; Il.
Tese (Doutorado)
–
Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Programa de Integração da América Latina
–
PROLAM.
1.
Ensino profissional e técnico. 2. Formação
Profissional. 3. Ensino Médio. 4. Mercado de Trabalho.
Título. II. Cacciamali, Maria Cristina.
5
DEDICATÓRIA
Dedico todo esforço e trabalho empenhados nesta tese de doutorado:
À minha esposa Beth, com muito amor, admiração e gratidão por sua compreensão,
carinho, presença e, principalmente pelo incansável, irrestrito e decisivo apoio tão
importantes durante o período de elaboração desta pesquisa.
Aos meus filhos Luis Gustavo e Mário Augusto, que juntos como duas fontes de
pura energia, iluminaram o meu caminhar transmitindo amor e carinho, foram
presenças importantes e decisivas durante o período de elaboração deste trabalho. .
À minha neta Maria Vitória, pela sua alegria de vida e inocência dos seus dois
anos e poucos meses, que fez brotar o sorriso e a descontração deste escriba, nos
momentos angustiantes do desenvolvimento da tese.
6
As pessoas esquecerão o que você disse.
As pessoas esquecerão o que você fez.
Mas elas nunca esquecerão
Como você as fez sentir.
7
AGRADECIMENTOS
Muitos são aqueles que gostaria de agradecer publicamente pela atenção, interesse e
envolvimento durante o transcorrer dos trabalhos desta pesquisa. Sei que alguns não
serão lembrados neste espaço por uma única questão: o momento final e encerramento
deste trabalho. Mas antes de nomear pessoas, gostaria publicamente de externar meus
sinceros agradecimentos àqueles que me auxiliaram nas ações, orientações,
fornecimento de materiais e informações contribuindo para o desenvolvimento da tese.
Agradeço à Professora Doutora
Maria Cristina Cacciamali
pelo empenho, dedicação e
instigação ao caminhar para estágios mais elevados na elaboração deste trabalho e pelo
apoio e crédito concedido à este pesquisador;
Às Professoras Doutoras
Maria de Fátima José Silva
e
Lúcia Emília Nuevo Barreto Bruno
,
pela participação na banca de qualificação, contribuições e orientações formuladas
naquele momento, assim como pelas informações transmitidas, que muito auxiliaram na
retomada do desenvolvimento do presente estudo;
À
Adriana Miranda de Oliveira Maria
, secretária da Faculdade de Economia e
Administração da Universidade de São Paulo, pela atenção, cuidado e mediação para o
encaminhamento das ações em diferentes fases deste trabalho;
À
Raquel Martins Carvalho
e
Wiliam Almeida dos Santos
funcionários da secretaria do
Programa de Integração da América Latina, pela atenção, nas indicações sobre os
procedimentos acadêmicos pertinentes à conclusão deste trabalho;
Ao
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- Capes
pelo apoio
financeiro na concessão de bolsa de estudos para a realização do doutorado;
À Universidade de São Paulo
e ao
Programa de Integração da América Latina
pelo auxílio
financeiro à viagem de estudos realizada no Chile no período de 28 de abril à 08 de maio
do corrente ano;
Ao Professor Doutor
Guillermo Arancibia Canales
da Faculdad de Ciencias Básicas
–
Departamento de Matemática da Universidad Metropolitana de Ciencia de la Educación,
do Chile pela dedicação, atenção, disponibilidade e acompanhamento às visitas realizadas
nas escolas da região metropolitana de Santiago (CL);
8
atenção e acompanhamento às visitas realizadas nas escolas da região metropolitana de
Santiago (CL);
Aos
Diretores, Coordenadores de curso, Assistentes pedagógicos,
que durante minhas
visitas às unidades escolares no Brasil e no Chile, forneceram informações, documentos,
orientações, indicações de egressos e proporcionaram a obtenção dos dados necessários
ao desenvolvimento da pesquisa;
À minha querida prima
Niva Gomes Naggy
, pelo interesse e dedicação na leitura e
correção deste trabalho, deixando de dar atenção aos seus familiares e principalmente
aos netos, para dar conta desta tarefa;
À srª
Vanessa Arévalo Sciaraffia
, Coordenadora Técnico Profissional e Educação
Tecnológica da Unidade Currículo e Avaliação do Ministério de Educação do Chile,
MINEDUC, pela presteza, atenção às solicitações e ao atendimento prestados a este
pesquisador durante a visita ao Ministério da Educação do Chile realizada em abril do
corrente ano;
Ao Professor Doutor
Fernando Leme do Prado
, pela interlocução acerca do Ensino
Técnico Profissional, fornecendo importantes informações sobre este nível escolar no
Brasil.
Aos colegas das disciplinas cursadas durante a fase teórica do doutorado, nos debates e
discussões acerca das atividades em estudo, cujas sugestões auxiliaram e possibilitaram o
aprendizado coletivo do grupo e deste pesquisador.
Aos que, direta ou indiretamente contribuíram para o andamento deste trabalho,
fomentando discussões acerca do tema proposto ou estabelecendo ligações que
proporcionaram um aprender sobre a Educação Profissional Técnica de Nível Médio.
Meus agradecimentos e muito abrigado a todos.
9
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é investigar a formação específica para atuar em
manutenção industrial dos alunos das escolas técnicas profissionais de nível médio do
Brasil e do Chile, identificar suas articulações com as políticas públicas de educação e se
essa formação propicia o desenvolvimento de competências e habilidades para atuação
profissional no mercado de trabalho de manutenção industrial. Para tal, apoiado nas
ideias de Druker, Senge, Enguita, Ferretti, Rifkin, Dowbor, Godim, Bridges, Saviani,
Hargreaves, Valente, Castells, SINGER, Harvey, entre outros, estabeleceu-se a base
teórica da pesquisa, para subsidiar as análises das legislações educacionais de cada país,
as pesquisas de campo junto aos recrutadores e selecionadores de mão de obra e aos
egressos de cursos profissionais técnicos de nível médio dos dois países. O
desenvolvimento da metodologia foi baseado na pesquisa qualitativa, com ênfase na
análise documental e fonte de dados os documentos oficiais dos ministérios da educação
para a construção da etapa de pesquisa
–
formação, bem como na pesquisa quantitativa
que analisou os dados da coleta de campo junto aos recrutadores de mão de obra
constituindo a etapa de pesquisa
–
mercado de trabalho. Articulado às duas etapas, a
investigação de campo também englobou os egressos de cursos técnicos de nível médio.
As respostas alcançadas pelo estudo indicam que os governos buscam propiciar a
formação dos alunos nos preceitos de competências e habilidades para atuar no mercado
de trabalho de manutenção industrial, assim como os egressos informam que no curso
realizado tais competências e habilidades foram alcançadas, porém os recrutadores de
mão de obra questionam a formação educacional dos candidatos em relação às
demandas do mercado. Esta incompatibilidade de respostas mostra haver um hiato entre
a formação educacional e o mercado de trabalho talvez provocado pela demora da
implementação de ações educacionais face à rápida mobilidade desse mercado. Aspectos
importantes ressaltaram das conclusões: Brasil e Chile mostram características diferentes
em relação ao desenvolvimento da educação profissional voltada ao segmento de
mecânica industrial, pois no Chile observa-se rigidez estrutural da matriz curricular,
enquanto o Brasil há aspectos indicativos de uma flexibilização e abertura para o acesso
em diferentes momentos para quem não cursou as séries escolares nas idades previstas
e integrou os programas de formação profissional inicial com a educação de jovens e
adultos. Tal fato é visto como correção de uma distorção histórica da educação
profissional, mas é uma maneira de recuperar o tempo perdido e alcançar índices que o
referencie junto a outros países. A educação profissional estudada tanto no Brasil como
no Chile permanecem engessadas pelas políticas governamentais.
10
ABSTRACT
The aim of this work is to investigate the specific development required for
technical school students applying for work in industrial maintenance in Brazil and Chile,
identify its relationship with public educational policies and verify whether it provides the
development of competencies and skills for professional performance in the industrial
maintenance market. Based on the ideas of Druker, Senge, Enguita, Ferretti, Rifkin,
Dowbor, Godim, Bridges, Saviani, Hargreaves, Valente, Castells, Singer, Harvey, among
others, the theoretical basis of this research was established to support the analysis
between the educational laws of each country, the field work with recruiters, job
interviewers, and those who finish technical courses at high school level in both
countries. Methodology development was based on qualitative research with emphasis
on documental analysis using the official documents from Educational departments as
data sources to build the steps of legislation-development goals, and on quantitative
research that analyzed the field data collected with the labor recruiter to build the labor
market goals. Coupled with these two goals, the field research also encompassed the
students finishing technical courses at high school level. The answers gathered in this
stud i di ate that gove
e ts a e seeki g to p ovide stude ts develop e t u de the
principles of competencies and skills in order to perform in the market of industrial
maintenance labor. In the same way, students themselves claim such competencies and
skills were achieved in the attended course, but the workforce recruiters doubt the
appli a ts edu atio al develop e t
eets the
a ket s e ui e e ts. This
incongruence in the answers shows there is a gap between educational development and
the labor market, perhaps due to the delay in implementing educational actions to face
this rapidly evolving market. Some important aspects raised from the conclusions: Brazil
and Chile reveal different characteristics regarding the improvement of professional
development oriented to industrial mechanics because, in Chile, a rigid, structured
curricular frame was observed, whereas in Brazil there are indications of some flexibility
and openness to allow access to those who did not go to Primary schools at the expected
ages and went to adult education programs for their initial technical education. Such a
fact is seen as a correction for a historic misconception of technical education, and a
means to recover wasted time and try to achieve indicators that would bring the country
to the same level as others.
KEY WORDS: Technical schools, technical courses, professional development, technical
courses at high school level, labor market.
11
RESUMEN
El objetivo del presente trabajo consiste en estudiar la formación específica para
actuar en el mantenimiento industrial de los alumnos de las escuelas técnicas
profesionales de nivel medio de Brasil y de Chile, identificar sus articulaciones con las
políticas públicas de educación y si esa formación propicia el desarrollo de competencias
y habilidades para la actuación profesional en el mercado de trabajo de mantenimiento
industrial. Para ello, apoyado en las ideas de Druker, Senge, Enguita, Ferretti, Rifkin,
Dowbor, Godim, Bridges, Saviani, Hargreaves, Valente, Castells, Singer, Harvey, entre
otros, se estableció la base teórica del estudio, para subsidiar los análisis entre las
legislaciones educativas de cada país, los estudios en campo con los reclutadores y
seleccionadores de mano de obra y con los egresados de cursos profesionales técnicos de
nivel medio de ambos países. El desarrollo de la metodología se basó en el estudio
cualitativo, con énfasis en el análisis documental y fuente de datos de los documentos
oficiales de los ministerios de educación para la construcción de las etapas de las metas
de la legislación
–
formación, así como en el estudio cuantitativo que analizó los datos de
la colecta en campo con los reclutadores de mano de obra constituyendo las metas del
mercado de trabajo. Articulado a las dos metas, el estudio en campo también englobó a
los egresados de cursos técnicos de nivel medio. Las respuestas alcanzadas por el estudio
indican que los gobiernos buscan propiciar la formación de los alumnos en los preceptos
de competencias y habilidades para actuar en el mercado de trabajo de mantenimiento
industrial, así como los egresados informan que en el curso realizado se alcanzaron tales
competencias y habilidades, sin embargo, los reclutadores de mano de obra cuestionan la
formación educativa de los candidatos con relación a las demandas del mercado. Esa
incompatibilidad de respuestas muestra que existe un hiato entre la formación educativa
y el mercado de trabajo, provocado tal vez por la demora en la implementación de
acciones educativas debido a la rápida evolución de ese mercado. Algunos aspectos
importantes se destacaron en las conclusiones: Brasil y Chile muestran características
diferentes en lo que se refiere al desarrollo de la educación profesional dirigida al
segmento de mecánica industrial, pues en Chile se observa rigidez estructural de la matriz
curricular, mientras que en Brasil hay aspectos indicativos de una flexibilización y
apertura para permitir el acceso, en diferentes momentos, a quien no logró cursar las
series escolares en las edades previstas e integró los programas de formación profesional
inicial en la educación de jóvenes y adultos. Tal hecho se considera una corrección de una
distorsión histórica de la educación profesional, pero es una manera de recuperar el
tiempo perdido y alcanzar índices que lo equiparen con otros países.
12
RELAÇÃO DE TABELAS
TABELA 1 –ATIVIDADES APÓS A CONCLUSÃO DO CURSO TÉCNICO. ... 77
TABELA 2 –ÁREA EM QUE DESEMPENHA SUAS ATIVIDADES APÓS A CONCLUSÃO DO CURSO TÉCNICO. ... 78
TABELA 3 –GRAU DE SATISFAÇÃO COM O CURSO, ATUAÇÃO NO MERCADO E REMUNERAÇÃO RECEBIDA. ... 79
TABELA 4 –ATIVIDADES QUE EXERCE ATUALMENTE. ... 80
TABELA 5 –EXIGÊNCIA DA SUA CAPACITAÇÃO EM RELAÇÃO AO CURSO TÉCNICO DE SUA FORMAÇÃO. ... 80
TABELA 6 –GRAU DE SATISFAÇÃO COM A ÁREA PROFISSIONAL DO CURSO TÉCNICO EM QUE SE FORMOU. ... 80
TABELA 7 –CONTINUIDADE DOS ESTUDOS PARA NÍVEL SUPERIOR. ... 81
TABELA 8 –RELAÇÃO ENTRE A ÁREA DO CURSO SUPERIOR E A ÁREA DO CURSO TÉCNICO. ... 82
TABELA 9 –TIPO DE GRADUAÇÃO QUE O SEU CURSO SUPERIOR OFERECE OU OFERECEU. ... 82
TABELA 10 –AVALIAÇÃO EM RELAÇÃO À INSTITUIÇÃO, À INFRAESTRUTURA, E AO CURSO TÉCNICO CONCLUÍDO. ... 83
TABELA 11 –AVALIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS E A QUALIFICAÇÃO DOCENTES.. ... 83
TABELA 12 –AVALIAÇÃO EM RELAÇÃO AO CURSO TÉCNICO QUE VOCÊ CONCLUÍDO. ... 84
TABELA 13 –NÍVEL DE ESCOLARIDADE ATUAL. ... 84
TABELA 14 –FAIXAS SALARIAIS EM QUE A REMUNERAÇÃO ATUAL SE SITUA. ... 85
13
RELAÇÃO DE QUADROS
QUADRO 1 –PORCENTAGEM DAS PROFISSÕES MAIS ESCASSAS POR SETOR PRODUTIVO. ... 25
QUADRO2 –EGRESSOS POR REGIÃO DO PAÍS ... 32
QUADRO3 –RELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA QUALITATIVA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .. 34
QUADRO4 –COMPARATIVO DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DO BRASIL E DO CHILE DE 1920 ATÉ 1990 ... 45
QUADRO5 –ÁREAS PROFISSIONAIS E CARGAS HORÁRIAS MÍNIMAS ... 49
QUADRO6 –RESUMO DO CATÁLOGO NACIONAL DE CURSOS TÉCNICOS POR EIXOS TECNOLÓGICOS ... 51
QUADRO7 –NOVA ESTRUTURA DA EDUCAÇÃO DE NÍVEL MÉDIO. ... 54
QUADRO8 –CARGA HORÁRIA MÍNIMA POR SETOR ECONÔMICO CONFORME ACORDO Nº 001/2009. ... 55
QUADRO9 –COMPARATIVO DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DO BRASIL E DO CHILE DE 1990 ATÉ 2010. ... 57
QUADRO10 –COMPETÊNCIAS PREVISTAS A SEREM DESENVOLVIDAS ... 64
QUADRO11 –TEMAS A SEREM ABORDADOS NA FORMAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS DOS ALUNOS. ... 65
QUADRO12 –INFRAESTRUTURA RECOMENDADA PARA O DESENVOLVIMENTO DA FORMAÇÃO. ... 66
14
RELAÇÃO DE ANEXOS
ANEXO 1
–
TABELAS COMPLETAS
ANEXO 1 – TABELAS COMPLETAS 1 - RESUMO DO CATÁLOGO NACIONAL DE CURSOS TÉCNICOS ... 105
ANEXO 1– TABELAS COMPLETAS 2 - ESPECIALIDADES POR SETOR ECONÔMICO - CONFORME DS nº 220 - 1998 ... 109
ANEXO 1 – TABELAS COMPLETAS 3 - ESPECIALIDADE POR SETOR ECONÔMICO CONFORME DS nº 254-2009 ... 111
ANEXO 2
–
LEGISLAÇÃO DO BRASIL
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 1 - LEI Nº 9.394 DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 ... 113ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 2 - DECRETO Nº 2.208 DE 17 DE ABRIL DE 1997 ... 131
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 3 - PARECER CNE 17/97 DE 08 DE DEZEMBRO DE 1997 ... 133
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 4 - RESOLUÇÃO Nº 4/99 DA CNE/CEB DE 8 DE DEZEMBRO DE 1999 ... 138
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 5 - DECRETO Nº 5.154 DE 23 DE JULHO DE 2004 ... 154
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 6 - DECRETO Nº 5.622 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2005 ... 156
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 7 - DECRETO Nº 5.840 DE 13 DE JULHO DE 2006 ... 164
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 8 - DECRETO Nº 6.301 DE 12 DE DEZEMBRO DE 2007 ... 166
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 9 - LEI Nº 11.114 DE 16 DE MAIO DE 2005 ... 168
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 10 - LEI Nº 11.330 DE 25 DE JULHO DE 2006 ... 169
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 11 - LEI Nº 11.274 DE 6 DE FEVEREIRO DE 2006 ... 170
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 12 - LEI Nº 11.700 DE 13 DE JUNHO DE 2008 ... 171
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 13 - PARECER CNE/CEB Nº 11/2008 ... 172
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 14 – PORTARIA Nº 870, DE 16 DE JULHO DE 2008 ... 180
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 15 - LEI Nº 11.741 DE 16 DE JULHO DE 2008 ... 181
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 16 - LEI Nº 12.061 DE 27 DE OUTUBRO DE 2009 ... 183
ANEXO 2 - LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 17 – EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 59 DE 11 DE NOVEMBRO DE 2009 ... 184
ANEXO 3
–
LEGISLAÇÃO DO CHILE
ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO CHILENA 1 - LEY ORGANICA CONSTITUCIONAL DE ENSEÑANZA Nº 18.962 DE 7/3/1990. ... 187ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO CHILENA 2 - TEXTO DA LEY Nº 19.876 DE 07 DE MAYO DE 2003 ... 203
ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO CHILENA 3 - DECRETO SUPREMO DE EDUCACIÓN Nº 220 ... 204
ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO CHILENA 4 - DECRETO SUPREMO DE EDUCACIÓN Nº 254/ (Imagem scaneada) ... 208
ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO CHILENA 5 - ACUERDO Nº 001/2009 DEL CONSEJO SUPERIOR DE EDUCACIÓN ... 212
ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO CHILENA 6 - ACUERDO Nº 028/2009 DEL CONSEJO SUPERIOR DE EDUCACIÓN ... 214
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 16
CAPÍTULO 1 – O CONTEXTO DA PESQUISA: TRABALHO E FORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL... 21
O desenvolvimento técnico, tecnológico, as novas tecnologias e a educação. ... 22
Trabalho e formação profissional. ... 24
As mudanças no trabalho e na formação profissional ... 27
CAPÍTULO 2 – CONCEPÇÃO DA PESQUISA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 31
Fundamentos e características da pesquisa qualitativa... 33
Dados analisados ... 35
Temas da Formação ... 35
Temas do Mercado de Trabalho ... 36
Instrumentos de coleta das informações dos egressos. ... 36
Instrumentos de coleta das percepções dos selecionares de mão de obra. ... 37
CAPÍTULO 3 – A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL MÉDIO NO BRASIL E NO CHILE ... 39
A Educação Profissional Técnica de nível médio no Brasil a partir do ano de 1990. ... 46
A Educação Técnica Profissional de Nível Médio no Chile a partir do ano de 1990 ... 51
Comparações entre as políticas educacionais para o nível médio – geral e técnico - do Brasil e do Chile a partir de 1990 ... 55
CAPÍTULO 4 – O ENSINO PROFISSIONAL TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO – FORMAÇÃO ... 58
Legislação da Formação ... 58
CAPÍTULO 5 – A PERCEPÇÃO DOS SELECIONADORES DE MÃO DE OBRA PARA O MERCADO DE TRABALHO ... 70
Aderência da Formação ao Mercado ... 71
CAPÍTULO 6 – A PERCEPÇÃO DOS EGRESSOS DO ENSINO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO SOBRE A SUA FORMAÇÃO ESCOLAR. ... 77
Empregabilidade... 77
Formação e continuidade dos estudos ... 81
Percepção da formação recebida ... 82
Perfil do entrevistado ... 84
CONSIDERAÇÕES FINAIS... 87
Legislação da Formação técnica de nível médio ... 87
Temas do Mercado de Trabalho ... 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 94
LEIS, DECRETOS E RESOLUÇÕES ... 97
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ... 100
ANEXOS ... 103
ANEXO 1 – TABELAS COMPLETAS ... 104
ANEXO 2 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ... 112
ANEXO 3 – LEGISLAÇÃO CHILENA ... 186
APÊNDICES ... 241
Apêndice 1 – Questionário dos selecionadores de mão de obra - Brasil ... 242
Apêndice 2 – Questionário dos selecionadores de mão de obra - Chile ... 245
Apêndice 3 – Questionário dos egressos brasileiros ... 248
16
INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem dois objetivos: Investigar a formação profissional dos alunos das
escolas técnicas profissionais de nível médio do Brasil e do Chile do curso de Mecânica
Industrial para atuar no segmento da manutenção industrial e, identificar se o conteúdo e
a operacionalização do curso atendem às necessidades do mercado.
O estudo parte dos anos 1990 que aprofundaram, especialmente no Brasil,
mudanças econômicas e sociais, alteraram a estrutura produtiva, as tecnologias
empregadas e, em muitas situações, as relações de trabalho. Os governos buscam
fomentar políticas públicas de geração de novos postos de trabalho, de inclusão digital da
população e do uso das tecnologias para propiciar o enfrentamento dos requisitos do
mercado de trabalho ao desenvolver ações que criem condições de empregabilidade,
desenvolvimento pessoal e profissional.
Segundo Lima (2007), os sistemas de ensino e formação profissional consistem em
ofertas de educação socialmente organizadas para o mercado de trabalho, porém nem
sempre são capazes de garantir a efetiva aprendizagem, a inclusão e permanência nesse
mercado. Isto porque as constantes mudanças na ordem produtiva e no uso de
equipamentos tecnológicos requerem uma formação diferenciada, contínua e ao longo
da vida de forma a manter as pessoas preparadas para o trabalho, exigindo flexibilidade,
abertura e qualificação. Não há mais como se afastar dessas mudanças e da presença da
tecnologia nas atividades profissionais. A necessidade de compreender tais mudanças
para a ocupação dos cargos e vagas disponíveis no mercado de trabalho demanda
diferentes e complexas competências e qualificações técnicas dos profissionais que
atuam ou pretendem atuar nesse mercado.
O conhecimento na sociedade globalizada, segundo Druker (2001),deve estar
focado na qualificação do sujeito, e não no equipamento ou na empresa. Assim,
entende-se que há necessidade de investir na formação das pessoas para que elas possam
desenvolver-se e consigam atingir a autonomia em um nível que lhes permita adaptar-se
às contínuas transformações provocadas pela evolução das tecnologias, da ciência e da
produção. Senge (1997, apud Aires de Geus) destaca que as empresas na era da
17
aprendente) e a qualidade da sua produção está na capacitação e competencia de seus
colaboradores que se desenvolve, adotando uma postura distinta daquelas empresas dos
anos de 1950, em que a força de trabalho impulsionava suas atividades (empresa como
máquina, operada por alguém). Na mesma direção de Druker e Senge, Enguita (2007)
explana que a produção do conhecimento e o desenvolvimento de competências
profissionais provocam mudanças de atitudes e o aprimoramento do trabalhador ao
mesmo tempo em que determinam seu compromisso com o objeto fim do seu trabalho.
Por mais que pesquisadores e estudiosos mostrem caminhos, sentidos e direções
para a obtenção do emprego, no contraponto está o desemprego, fato inerente ao
sistema capitalista que oscila conforme ciclos econômicos dependendo mais do
crescimento econômico de um país do que de decretos e leis específicas. Mesmo assim, o
aprimoramento de qualificações profissionais e o desenvolvimento de competências, são
instrumentos que aumentam a probabilidade de encontrar ou criar o seu próprio
emprego. (MASCARO Apud SINGAL, 2009, p.1).
E seu a tigo Fo ação p ofissio al e efo a do E si o T
i o o B asil ,
Ferretti (1997), destaca dois pontos que surgem a partir das transformações recentes na
produção e na economia: o primeiro advindo das transformações dos setores produtivos
e de serviços, e, devido à leitura apressada dessas mudanças, elas impactam a formação
técnica, mas não são tratadas como um processo em contínua evolução, e sim como algo
pronto, acabado e definitivo; o segundo ponto está relacionado com as ligações entre
tecnologia e qualificação, estabelecidas como relações causais entre progresso técnico,
mudança nos conteúdos, processos de trabalho e qualificação profissional, que são
enfatizados nos treinamentos dos setores operacionais e nas definições de atributos
desejáveis aos novos trabalhadores, desconsiderando a complexidade intrínseca que se
evidencia nas inter-relações e na retroalimentação entre todos esses aspectos.
Saviani (2007), ao analisar o ensino médio e a relação com o trabalho, discorre que
ele deve ser tratado diferentemente do ensino fundamental, pois no ensino profissional
há uma relação explícita e direta entre a formação educacional e a preparação para o
trabalho. As mudanças nos processos industriais, a inserção das novas tecnologias de
informação e comunicação e a implantação de equipamentos com eletrônica embarcada
18
sistemática para a manutenção desses equipamentos, exigindo que os responsáveis por
esse trabalho possuam formação profissional atualizada que lhes permita conhecer o
equipamento e prover ações destinadas à correção de falhas.
A velocidade das mudanças dos componentes eletrônicos utilizados nos
equipamentos empregados nos processos industriais não permite que a formação
profissional seja desenvolvida a partir dos trâmites legais das ações educacionais e nem
definida como um modelo para ser aplicado nos currículos das instituições de ensino.
Essas instituições formadoras não podem continuar centradas em um modelo definido e
aplicado por regras e ações educacionais estanques, baseadas em um formato engessado
de currículo e à margem do mercado. É preciso buscar a participação das empresas, tanto
as que produzem equipamentos como aquelas que os utilizam, para que, junto com as
instituições de formação profissional, possam se dedicar ao estudo das novas concepções
de ensino e trabalho no dinamismo das demandas industriais.
Fundamentalmente este trabalho é de natureza documental e qualitativa centrado
em dois temas de pesquisa que orientam o desenvolvimento do estudo:
Formação:
que tem foco na legislação da formação profissional caracterizando
como ela se estrutura e se desenvolve no Brasil e no Chile, especificamente a
educação profissional técnica de nível médio na área de manutenção industrial;
Mercado de Trabalho
: que estuda as demandas do mercado de trabalho para o
preenchimento de vagas disponíveis articuladas com o que as escolas profissionais
técnicas de nível médio oferecem como formação especifica para a área de
manutenção industrial nos dois países.
As informações sobre o primeiro tema foram selecionadas de documentos oficiais
dos Ministérios de Educação de cada país. Além disso, foram feitas visitas às escolas
localizadas nas regiões metropolitanas de São Paulo e Santiago, definidos como campo de
estudo, com a finalidade de compreender o contexto pesquisado e o modo de operação
dessas escolas tanto no Brasil como no Chile.
Os dados para o segundo tema foram extraídos de duas fontes de pesquisa; a
primeira fonte foi buscada junto aos recrutadores de mão de obra a partir de
questionário enviado à empresas privadas de intermediação de mão de obra,
reconhecidas localmente pela eficiência de sua prestação de serviços, das regiões
19
inserção de técnicos de nível médio no mercado de trabalho do segmento de
manutenção industrial. A segunda fonte tem foco nos egressos brasileiros e chilenos para
identificar sua percepção sobre a adequação da formação profissional recebida em
relação às necessidades do mercado.
Os dados sobre os egressos brasileiros originam-se da Pesquisa Nacional de
Egressos dos Cursos Técnicos da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica
(PATRÃO; FERES; 2009) referente à área industrial da região Sudeste do Brasil; e para os
egressos chilenos, eles procedem de estudo de caso realizado na Região Metropolitana
de Santiago, onde foi aplicado instrumento de campo idêntico à pesquisa brasileira, tendo
em vista que não existia pesquisa similar naquele país.
O trabalho encontra-se estruturado em seis capítulos. No
capítulo 1
, além da
abordagem teórica, foi contextualizada a pesquisa, citando as principais alterações que o
mundo experimenta, as mudanças na formação e no trabalho advindas da inserção das
novas tecnologias em distintos segmentos de atividades. Este capítulo
aborda ainda
sinteticamente as novas formas de organizações e trabalho, o redesenho do trabalho e do
emprego, as discussões acerca do modelo de qualificação profissional, as novas formas de
preparação profissional sob a ótica da organização do trabalho, bem como o impacto
dessas mudanças nas escolas de ensino profissional e nos cursos profissionais técnicos de
nível médio.
O
capítulo 2,
objetivou especificar o percurso metodológico desenvolvido, definir
sua fundamentação teórica e as características das pesquisas qualitativa e quantitativa
utilizadas, objetivos e questões de investigação, os principais temas de pesquisa e seus
subtemas e estabelecer os procedimentos metodológicos realizados no presente estudo.
O
capítulo 3,
discorreu sobre a historicidade da educação profissional do Brasil e do
Chile, abrangendo dois períodos temporais: o primeiro, como relato histórico da
educação profissional no período de 1920 a 1990, e o segundo abrange a fase atual a
partir de 1990 até o ano de 2010. Deste segundo período, selecionou-se os principais
documentos do nível educacional estudado nos dois países, e elaborar relatórios
sistematizados das respectivas legislações.
20
análise das legislações educacionais do nível nível médio profissional de acordo com os
pontos do Tema da Formação explicitado no capítulo 2 deste trabalho.
No capítulo 5
buscou-se analisar as respostas dos questionários aplicados aos
recrutadores dos dois países e identificar na visão desses profissionais de recursos
humanos se a qualificação dos egressos dos cursos profissionais técnicos de nível médio
atende às demandas do mercado de trabalho no momento da seleção e da contratação, e
quais seriam as sugestões de melhoria na estrutura das escolas como forma desses
egressos serem (re)inseridos nesse mercado.
O
capítulo 6
, a partir dos dados dos questionário aplicado aos egressos do Chile e
dos dados da Pesquisa Nacional de Egressos, aborda na visão de ex-alunos aspectos sobre
empregabilidade, formação e continuidade dos estudos, a avaliação que fazem dos cursos
concluídos e seu perfil pessoal no sentido de criar referências destinadas às análises com
os dois temas de pesquisas tratados no capítulo 2.
Nas
Considerações Finais
, buscou-se saber se os dados sistematizados responderam
às questões de investigação. Para isso, foram resgatadas as observações teóricas, as
sínteses dos capítulos e, a partir desses elementos, elaborou-se as articulações e a
21
CAPÍTULO 1
–
O CONTEXTO DA PESQUISA: TRABALHO E FORMAÇÃO NA
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Neste capítulo são apresentados os fatores que orientam o desenvolvimento do
tema da formação profissional oferecida pelas escolas técnicas profissionais de nível
médio do Brasil e do Chile em um trabalho que articula a educação profissional com as
exigências do mercado de trabalho neste final da primeira década do século XXI.
Embora esse tema possibilite diversos olhares e infinitas variáveis, o foco do
presente estudo visa à formação profissional de nível médio para atuar no segmento de
manutenção industrial, e como essa formação técnica vem sendo tratada para preparar o
aluno para a convivência com o desenvolvimento técnico e tecnológico, e da presença das
novas tecnologias como elementos presentes no cotidiano de sua atuação profissional.
Neste foco de trabalho, procurou-se tratar do desenvolvimento tecnológico, do
pensamento de estudiosos e pesquisadores a respeito do aprendizado e da formação
neste final de primeira década do século XXI, e desenvolver o objetivo da pesquisa nos
dois países estudados sob dois aspectos: legislação educacional vigente e realidade do
mercado de trabalho. Essa última dimensão, por sua vez, foi analisada em relação às
exigências de formação profissional e das competências necessárias para a (re)colocação
nesse mercado.
Portanto, na abordagem deste capítulo, buscou-se fazer uma contextualização do
desenvolvimento técnico, tecnológico e das novas tecnologias do referido período.
Buscou-se explicitar as políticas públicas da educação promulgadas e implementadas nos
anos 2000 a 2009 nos dois países. Quando necessário, faz-se menção a aspectos que
emergem das legislações educacionais em vigor, para o nível educacional estudado, ainda
que digam respeito a anos anteriores ao período estudado bem como as características
22
O desenvolvimento técnico, tecnológico, as novas tecnologias e a
educação
.
Os equipamentos dotados de novas tecnologias de informação estão presentes no
cotidiano das pessoas nos diversos segmentos profissionais e no uso pessoal. Assim,
computadores pessoais (
desktop e notebooks
), equipamentos de telefonia móvel, GPS,
veículos automotores, aparelhos médicos de diagnósticos não invasivos, máquinas de
lavar roupas, equipamentos de gerenciamento e controle de máquinas operatrizes, de
envasamento ou de produção contínua, e ainda outros equipamentos, todos estão
incorporados na cultura contemporânea, e as pessoas que os utilizam já não se espantam
com o desenvolvimento tecnológico que os mesmos apresentam e que evoluem
continuamente. Tais tecnologias incorporam-se à vida e ao trabalho e estruturam de
forma tão intensa as atividades que as pessoas só se dão conta de sua presença quando
enfrentam problemas com o seu funcionamento.
A manutenção desses artefatos exige pessoal habilitado, equipamentos especiais
para diagnóstico dos defeitos, aplicação de conhecimentos em diversas áreas para a
solução dos problemas apresentados, demandando das pessoas envolvidas nesse
trabalho uma constante atualização profissional.
A habilitação desses profissionais é realizada por meio de processos formativos que
podem e devem estar voltados tanto para o desenvolvimento de competências e
habilidades necessárias ao seu desempenho no trabalho como devem propiciar a
formação de cidadãos críticos, ativos e que saibam tomar decisões.
Hargreaves (2004), Lima (2007), Drucker (2001) e Valente (1999) apontam para a
importância da aprendizagem ao longo da vida e para a necessidade de formação que
supere o exercício do fazer e esteja voltada à aprendizagem, uma vez que as mudanças
exigem profissionais capazes de aprender continuadamente.
Desta forma, o conhecimento sobre o equipamento em manutenção e a utilização
de equipamentos tecnológicos auxiliares para diagnóstico dos defeitos evidenciam, ao
responsável pela manutenção, um aprender diferente daquele dos conceitos da
Administração Científica de Taylor, onde o conhecimento era alcançado pela constante
23
busca de obter novas fontes, novos saberes e atualização em relação às mudanças
tecnológicas e procedimentos envolvidos no trabalho.
Entretanto, segundo Hargreaves (2004), essa tecnologia pode trazer benefícios e
malefícios dependendo da sua utilização: pode servir para auxiliar uma formação
emancipadora como facilitadora e desenvolvedora de aspectos formativos, ou estar a
serviço de rígidos controles e maciça padronização que coloca fim à criatividade e à
inventividade.
O pesquisador português Lima (2007) alerta com propriedade sobre a
responsabilidade do Estado em desenvolver políticas públicas que proporcionem
condições de formação profissional condizente com as características do mercado de
trabalho.
Esse posicionamento profissional e pessoal é fruto da mudança curricular,
flexibilização da formação e humanização que o uso da tecnologia pode auxiliar e
potencializar, pois ela está presente no mundo moderno e incorporada ao fazer
profissional.
Enguita, (2007) defende que equipamentos dotados de novas tecnologias exigem
profissionais com formação educacional diferenciada e atualizada. A capacitação para tal
fim, segundo esse autor, deve estar alicerçada no contínuo aprendizado,
desenvolvimento de habilidades e competências pertinentes, proatividade das ações e
capacidade própria de buscar novos conhecimentos com autonomia e criatividade. Esses
múltiplos desenvolvimentos devem ter o objetivo de ressignificar os conhecimentos
apreendidos e construir um saber diferenciado e um fazer consciente próprio. Esse
processo, para Enguita, caracteriza o tempo presente da terceira revolução industrial.
Com relação a esses pontos Duarte (2008), Valente (1999) e Mizukami (2001) (apud
VALENTE, 1999, p. 29) propõem que se busque compreender como essas transformações
das ciências e do trabalho e as mudanças de paradigma deveriam ser incorporadas na
educação e em suas práticas pedagógicas. Pois neste campo as organizações educacionais
atuam na prática diferentemente da retórica: apregoam uma abordagem construtivista e
emancipadora enquanto praticam, cotidianamente, uma abordagem pedagógica
24
A mudança pedagógica referenciada por esses autores exige que a formação de
pessoas críticas, criativas e com autonomia para produzir novos conhecimentos esteja
relacionada com a mudança de uma educação baseada na transmissão da informação e
na instrução, para a criação de ambientes de aprendizagem construtivistas nos quais o
aluno realiza atividades e constrói o seu conhecimento (VALENTE, 1999).
Outros autores, como Santos (2001), indicam a necessidade de repensar os sistemas
educacionais em seu todo, pois permanece uma questão não resolvida: a articulação
entre educação e trabalho ao afirmar que as reformas educacionais não estão vinculando
essas duas realidades. O foco educacional raramente ultrapassa o âmbito pedagógico
enquanto a formação para o trabalho não apresenta enriquecimento dos currículos com
componentes propriamente educacionais.
A dicotomia entre educação e trabalho mostrada por Santos reflete o que ocorre
com o desenvolvimento dos currículos do ensino médio no início da presente década, e
indicam que as posições durante a elaboração do currículo formal do ensino profissional
de nível médio são antagônicas e transformam em ponto de estrangulamento a
consolidação das leis que regulamentam esse nível de ensino. De um lado, os currículos
tratam do sistema de competências para o desenvolvimento humano, e de outro, da
inserção do educando no sistema produtivo sem estabelecer um diálogo entre os dois
lados que atenda aos princípios gerais da proposta do Conselho Nacional de Educação
que é a preparação do aluno para o trabalho.
Trabalho e formação profissional.
Ao se falar de trabalho, empregabilidade, emprego e (re)colocação profissional
sempre surge, na sociedade globalizada, o contraponto ao assunto
–
a formação
profissional.
É comum encontrar reportagens veiculadas nos principais meios de comunicação
abordando que a formação profissional de qualquer nível é a solução para o emprego ou
para a (re)colocação profissional dos aspirantes a uma vaga ou a determinado cargo.
Entretanto, o que se denota, e os estudiosos apontam, é que esses dois parâmetros
–
25
dicotomizados e distintos, e desse modo a formação profissional não é garantia intrínseca
para o trabalho.
Segundo Saviani (1994) a relação educação e trabalho pode ser entendida sob duas
perspectivas: a primeira é que não existe relação entre educação e trabalho e a segunda,
que a educação está diretamente ligada à qualificação profissional e esta qualificação
contribui para o trabalho e o desenvolvimento econômico.
No entanto, os meios de comunicação vêm mostrando que a falta de qualificação
profissional no país é um fato real e que vários segmentos econômicos se mostram
preocupados com a carência de profissionais para preencher as vagas disponíveis no
mercado de trabalho.
Mas não só as reportagens da mídia jornalística e televisa trazem o alerta ou
mostram essa problemática do Brasil. Em 2009, a Fundação Dom Cabral publicou um
estudo de o i ado Reto ada dos I vesti e tos P s
-
C ise , o ual ap ese ta fa etas
interessantes dessa relação dicotomizada entre a formação e
o
trabalho. O estudo mostra
que as maiores empresas brasileiras e as melhores empresas de logística, classificadas de
acordo com o
ranking
da Revista Exame
–
2009 buscam mão de obra qualificada e não a
estão encontrando no mercado de trabalho brasileiro.
As empresas citadas no estudo foram responsáveis por 12,45% do Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro do ano de 2008 e, em conjunto, o faturamento delas foi superior a
US$ 207 bilhões, no mesmo período.
O Quadro 1 adiante, reproduzido a partir das informações do estudo da Fundação
Dom Cabral mostra, resumidamente, a distribuição da escassez de profissionais por setor
produtivo no Brasil.
Quadro 1 - Porcentagem das profissões mais escassas por setor produtivo
PROFISSÃO AUTOMOBI-LÍSTICO CONSUMO BENS DE ELETRÔNICOS ELETRO- CONSTRUÇÃOINDÚSTRIA METALURGIA SIDERURGIA TRANSPORTES MÉDIA
Engenheiro 20 40 29 50 18 34,75
Analista 3 0,5
Supervisor 6 25 20 6 16 12,7
Técnico 7 22 20 29 25 22 20,1
Pessoal operacional 40 25 20 29 22 22,5
Motorista 9 3 2,0
TOTAL 73 81 100 93 75 84
26
Pelo Quadro 1 apresentado, pode-se notar que para as funções de Técnico e
Pessoal Operacional, nas quais o egresso dos cursos profissionais técnico de nível médio
pode profissionalmente se encaixar, há uma deficiência média por volta de 21,00% para
ambas as funções.
Outro fato destacado é a realidade desconsiderada no país até há pouco tempo
atrás: a importação da mão de obra de outros países com qualificação para suprir a
escassez no Brasil, ou a busca por serviços em outros países. Em reportagem jornalística
do jornal O Estado de São Paulo, (Pereira, 2010), sobre a falta de mão de obra qualificada
no Brasil, mostra relatos de empresários e associações de empresas que confirmam a
busca de mão de obra em outros países ou fora da região de atividades das empresas.
Esse fato, de a o do o Au lio Sa t A a, p eside te do Si di ato
da Indústria do
Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná, já é sentido pelas empresas do ramo: a
sofisticação e a inserção de tecnologias nos equipamentos industriais e a falta de
operários e técnicos que possam compreender os manuais desses equipamentos têm
obrigado as empresas a lançar buscas de mão de obra especializada, ou melhor
preparada, na Argentina e no Uruguai.
Gerson Schimitt, presidente da Associação Brasileira de Empresas de
Software
(
ABES), fala que, pela falta de profissionais na área de desenvolvimento de
software,
já há
empresas indianas captando trabalhos no Brasil para serem desenvolvidos no exterior, o
que cria dependência profissional e baixo desenvolvimento dessa área no país.
Neri (2010), baseado em estudo recente sobre formação profissional desenvolvido
pela Fundação Getúlio Vargas e Instituto Votorantim, e por ele coordenado, concluiu que
a probabilidade de um egresso de curso profissional técnico de nível médio estar
empregado é de até 48,2%; e com carteira assinada, de 38,0% e cujo salário pode ser até
13,0% maior do que o do egresso do ensino médio propedêutico.
Neri (2010), ainda em outra entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (2010),
aborda a questão salarial dos egressos dos cursos profissionais à distância e verificou que
os egressos desses cursos têm seus salários impactados da mesma forma que os egressos
27
As mudanças no trabalho e na formação profissional
Ao tratar do desenvolvimento da humanidade, os termos trabalho e técnica
permeiam toda a história, sob diversas formas, mostrando seu papel fundamental na
evolução das sociedades.
A evolução humana provém de conquistas alcançadas a partir do trabalho e do
desenvolvimento das técnicas, das ciências e da tecnologia. A evolução do trabalho
relaciona-se à estrutura socioeconômica e cultural e desempenha papel importante na
construção das etapas do desenvolvimento das sociedades, na concepção das
organizações produtivas que determinam o seu modo de vida e no estabelecimento de
parâmetros de diferenciação entre elas.
O trabalho nas fábricas e nas organizações burocráticas dos países industrializados
introduziu o conceito de emprego. Em importantes períodos ao longo da história, o
desenvolvimento econômico modificou a evolução das sociedades e, em épocas de crises
tanto sociais como econômicas, ameaçou o emprego. Tal fato provocou, e ainda provoca,
questionamentos sobre a importância e significado do emprego nas relações sociais e
econômicas.
Os parâmetros tradicionais do mercado de trabalho capitalista, entretanto, estão
ruindo, segundo Dowbor (1998), e com ele certas epistemologias, mas, segundo o autor,
muitas modificações referem-se à transformação do conteúdo das atividades produtivas
e à inclusão de novas tecnologias, conhecimentos e ao trabalho indireto, proporcionando
a oferta de uma gama de serviços que, anteriormente, não existiam.
As mudanças em andamento que acompanharam a inserção das novas tecnologias
alteraram profundamente as relações entre trabalhadores e trabalho. De acordo com
Rifkin (1995), as novas tecnologias e a racionalização do trabalho introduziram novas
idéias e geraram dois resultados: de um lado o aumento de produtividade, dos lucros, da
competitividade na sociedade globalizada; de outro, o desemprego.
Castells (1999), referindo-se ao surgimento da nova estrutura social associada à
reestruturação produtiva, afirma que a economia está caracterizada por cultura e por
instituições específicas, mas não está mais relacionada a uma única e determinada
28
América do Norte à China, passando pelos mais variados pontos do planeta, exercendo
influência em todos os países e produzindo uma estrutura de referências multiculturais:
[...] o processo de trabalho situa-se no cerne da estrutura social. A transformação tecnológica e administrativa do trabalho e das relações produtivas dentro e em torno da empresa emergente em rede é o principal instrumento por meio do qual o paradigma informacional e processo de globalização afetam a sociedade em geral. (CASTELLS, 1999, p. 224)
Assim, as novas tendências tecnológicas e organizacionais indicam que as antigas
formas rígidas começam a ser flexibilizadas dando passagem a um novo regime de
acumulação, que alguns autores denominam especialização flexível
ou acumulação
flexível
. O ovo odelo p odutivo :
[...] se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrão de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. (HARVEY, 1996, p. 140)
Esse autor ainda afirma
a es a p gi a ue a a u ulação fle ível e volve:
[...] rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como em regiões geográficas, criando, por exemplo, um
vasto ovi e to o e p ego o ha ado seto de se viços , e
como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas.
So a gide da a u ulação fle ível , o velho odelo ta lo ista/fo dista esta ia
se do su stituído po u ovo odelo de o ga ização do t a alho ujas a a te ísti as
principais seriam a produção em pequenos lotes, a reintegração das atividades de
execução e planejamento, e ainda o emprego de trabalhadores mais qualificados para o
desenvolvimento de um trabalho mais variado (LEITE, 1996).
Neste contexto, a concepção de qualificação profissional também deve ser alterada
adequando-se ao novo momento econômico. O conceito de qualificação profissional foi
utilizado principalmente a partir do período entre 1950 e 1960 no intuito de adequar a
formação escolar às demandas dos contratantes de mão de obra. Esse conceito está
29
medir o retorno dos investimentos em educação e para atender às necessidades de mão
de obra dos modelos industriais existentes. Como acontecido no mundo, o Brasil também
se enquadrou nesse conceito de qualificação para a formação profissional sob a ótica da
preparação de mão de obra especializada para enfrentar as demandas do mercado de
trabalho.
Para Paiva (1995), não se pode mais pensar no modelo
de qualificação desse
período onde a economia e a educação estavam ligadas por meio das demandas da
indústria de transformação. O planejamento para a obtenção de qualificação profissional
era fixado pelas metas produtivas de determinado setor da atividade econômica.
Atualmente o mercado exige que profissionais sejam qualificados de tal forma que
possam adaptar-se às diferentes e rápidas mudanças da tecnologia e mudanças dos
ramos econômicos.
Por muitas décadas, a economia e o planejamento da educação trabalharam com a qualificação formal. Planejava-se a maneira de obter um número x de diplomas em determinadas áreas ou setores profissionais, de acordo com projeções de demanda. Calculava-se a taxa de retorno através de diferenciais de rendimentos (salários) em função de anos de escolaridade ou da posse de um diploma, media-se a relação custo-benefício social dos investimentos em educação, fosse por meio de considerações globais sobre o atendimento de metas econômicas nos países socialistas, fosse por meio de indicadores indiretos nos países capitalistas. Nestes, o mercado requeria força de trabalho diplomada, atestados de conclusão de curso. (PAIVA, 1995, p. 76)
No mercado de trabalho do modelo de acumulação flexível, o conceito que norteia
a qualificação profissional é o de competências. Segundo Hirata (1994), a noção de
competência é ainda imprecisa e decorre da necessidade de se avaliar e classificar
conhecimentos e habilidades a partir das novas exigências de trabalho, associando-as aos
novos modelos de produção e gerenciamento que substituíram a noção de qualificação
anteriormente utilizada.
Nesse sentido, segundo Ropé e Tanguy (1997),
o odelo de o pet
ias
centrado em saberes e habilidades possuídos pelos trabalhadores tiveram inicialmente a
sua aplicação em grandes empresas multinacionais ou transnacionais e vieram
acompanhadas por um conjunto de ações sociais que lhe deram forma e objetividade
30 [...] são justificados pela ideia de racionalização reivindicada pelos diferentes protagonistas que estão na sua origem e que vão desde os empresários, as autoridades governamentais, os construtores de referenciais, passando pelos cientistas convocados para dar legitimidade às práticas e representações que estão sendo construídas. (ROPÉ; TANGUY,1997, p. 31).
As empresas buscam definir essas competências como saber agir, intervir, decidir
nas situações críticas, e não mais como a capacidade, o conhecimento e as habilidades
em executar ou tomar decisões.
O conceito mais utilizado no mundo empresarial e acadêmico deriva de estudo da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2003), no qual, o
te o o pet
ia defi e a a uisição de o he i e tos e ha ilidades e u ível de
conhecimento suficiente para ser capaz de executar atividades adequadamente em um
a
ie te t a alho .
(OCDE, 2003, p. 34).
Segundo Dubar (1998), as instituições ao se apropriarem desse conceito mudaram
as características de seus profissionais, pois a negociação e o contrato de trabalho
passaram a ser individuais, ao contrário do modelo de qualificação tradicional que, muitas
vezes, envolvia processos de negociação coletiva. Além disso, o modelo de competências
tende a apagar o fato de que o reconhecimento salarial é o resultado de uma relação
social dinâmica, e não de um encontro face a face entre indivíduo
a prior
i provido de
atributos produtivos e de uma empresa que reconhece nele suas competências,
transformando-as em desempenho mais ou menos suscetível de ser medido (DUBAR,
1998, p. 100).
Desse modo, o modelo OCDE além de ser mais aderente às mudanças tecnológicas
em andamento, é notadamente mais adequado a um sistema econômico construído sob
a égide do mercado.
No próximo capítulo, abordam-se a metodologia e os procedimentos de pesquisa
31