Avaliação anatômica e radiográfica da região distal dos membros torácicos
de asininos (Equus asinus) utilizados como veículo de tração animal
FLÁVIO RIBEIRO ALVES
Avaliação anatômica e radiográfica da região distal dos membros
torácicos de asininos (
Equus asinus
) utilizados como veículo de
tração animal
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências
Departamento:
Cirurgia
Área de Concentração:
Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres
Orientador:
Profa. Dra. Arani Nanci Bomfim Mariana
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO-NA-PUBLICAÇÃO
(Biblioteca da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)
T.1550 Alves, Flávio Ribeiro
FMVZ Avaliação anatômica e radiográfica da região distal dos membros torácicos de asininos (Equus asinus) utilizados como veículo de tração animal / Flávio Ribeiro Alves. – São Paulo : F. R. Alves, 2005.
102 f. : il.
Dissertação (mestrado) - Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Departamento de Cirurgia, 2005.
Programa de Pós-graduação: Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres.
Área de concentração: Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres.
Orientador: Profa. Dra. Arani Nanci Bomfim Mariana.
Nome: ALVES, Flávio Ribeiro
Título: Avaliação anatômica e radiográfica da região distal dos membros torácicos de asininos (Equus asinus) utilizados como veículo de tração animal
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências
Data: _____/______/2005.
Banca Examinadora
Prof. Dr. ___________________________ Instituição: _______________________
Assinatura _________________________ Julgamento: ______________________
Prof. Dr. ___________________________ Instituição: _______________________
Assinatura _________________________ Julgamento: ______________________
Prof. Dr. ___________________________ Instituição: _______________________
A professora Arani Nanci Bomfim Mariana, pela confiança em mim depositada na
orientação deste trabalho, conselhos, grandes ensinamentos. Por toda uma lição de vida e
acima de tudo pela grande amizade que construímos.
Ao Professor Porfírio Candanedo Guerra e a Profossara Rita de Maria Seabra
Nogueira de Candanedo Guerra, grandes exemplos de pesquisadores e mais do que isso,
grandes amigos; sempre com palavras de apoio em todos os momentos. Por toda ajuda
oferecida, fundamental para a concretização de mais esta etapa.
A Professora Alana Lisléa de Sousa, pelos ensinamentos, pela confiança e
oportunidade oferecidas na busca pelo conhecimento.
Ao Professor Raimundo Alves Barrêto Júnior, mais que professor, um amigo sempre
pronto a ajudar nas horas difíceis.
A Professora Maria Angélica Miglino, pelo crédito e confiança para a concessão da
Ao tio Manuel Quinzeiro e a tia Socorro, por toda ajuda, dedicação a esta causa e por
a todo instante sempre manifestando palavras de carinho e incentivo, mais do que amigos,
mas uma extensão da minha família
Ao meu irmão Talmir Quinzeiro Neto, grande amigo em todos os momentos;
companheiro fiel com o qual comecei a sonhar tudo isto, naquela feira de anatomia.
Ao meu irmão Pedro Paulo Machado, grande guerreiro, grande amigo e exemplo de
dedicação e força para concretização de um sonho. Por toda ajuda oferecida na dissecação
das peças anatômicas.
Ao meu grande amigo Carlos Eduardo Cruz Pinto (Cadu), sempre brincalhão e
descontraído. Pela ajuda essencial na dissecação das peças anatômicas.
A Silvana (Serviço de Radiologia), por todos os ensinamentos, por me mostrar mais
além do que apenas tons de cinza nesta especialidade a qual amamos; paciência e palavras de
incentivo e atenção.
Aos meus amigos de pós-graduação Margareth, Vanessa, Alex, Tais, Fernando
(cabelinho), Guilherme Buzon, Thiago, Priscilla (Camilinha), Fabiana (Fabi), Myrian,
aptos ajudar quando necessário.
Ao Jefferson, a Claudinha, a tia Clarice (maizona) e a Priscila (irmanzinha), pela
atenção e carinho a cada instante.
A minha nova família em Cristo, a Igreja Evangélica em Cidade Universitária,
pessoas abençoadas com quem tenho a oportunidade de compartilhar momentos belíssimos de
louvor e adoração ao nosso DEUS.
A Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, pelo apoio logístico a pesquisa
Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus pensamentos serão estabelecidos
ALVES, F. R. Avaliação anatômica e radiográfica da região distal dos membros torácicos de asininos (Equus asinus) utilizados como veículo de tração animal. [Anatomical and radiographic evaluation of the distal forelimb region in donkey (Equus asinus) used to traction role]. 2005. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
A espécie asinina (E. asinus) teve sua origem há milhares de anos, se desenvolvendo a partir de um tronco comum ao do eqüino doméstico que conhecemos. Vem passando por um processo adaptativo, apresentando características distintas, quando os observamos em diversas partes do planeta. Na região nordeste do Brasil, desenvolve um papel fundamental, influenciando diretamente na renda das famílias locais. Tendo em vista o grande número de afecções locomotoras e a falta de cuidados a que estão submetidos, realizou-se um estudo anatômico e radiográfico da região distal de seus membros torácicos, buscando-se subsídios a prática clínica e cirúrgica dedicada a esses animais, bem como a compreensão de sua maior resistência a lesões locomotoras, quando comparado ao eqüino. A avaliação anatômica revelou características musculares semelhantes as já descritas para eqüinos. O exame radiográfico evidenciou lesões severas, caracterizadas por osteíte podal e áreas de reabsorção óssea e remodelamento na margem solear, associadas à rotação da falange distal. Ainda na avaliação radiográfica, caracterizaram-se os principais vasos arteriais dessa região através de técnica angiográfica. Não se observou correlação entre o ângulo de inclinação da muralha do casco e falange distal, com a área de secção transversal dos tendões dos músculos flexores. As maiores secções transversais para o tendão flexor digital superficial, profundo e interósseo, mostraram coincidência com os pontos de maior estresse articular, caracterizando, assim, a resistência dos asininos à lesões nestas estruturas em seu aparelho locomotor.
SUMMARY
ALVES, F. R. Anatomical and radiographic evaluation of the distal forelimb region in donkey (Equus asinus) used to traction role. [Avaliação anatômica e radiográfica da região distal dos membros torácicos de asininos (Equus asinus) utilizados como veículo de tração animal]. 2005. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
The asinine species was originated thousands of years ago from the same branch of the domestic equine. The asinine have been undergoing to a great adaptation resulting in different characteristics of each population of asinine around the world. In the northeast region of Brazil, they play an essential role in the income of the local families. Due to a large number of locomotor disorders and a lack of professional care, an anatomic and radiographic study of the distal forelimb region of the asinine was carried out in order to gather information to improve the clinical and surgical practice in this species, and to explain the less susceptibility to locomotor disorders compared to equines. The anatomical study showed that asinine have similar muscular characteristics already described for equines. The radiographic exam showed severe lesions, characterized by pedal osteitis, bone reabsorption areas and remodelling of sole margin associated to the distal phalanx rotation. The radiographic study also showed the characterization of the main arterial vessels. No significant correlation was observed between the angle of the hoof wall and the angle of the distal phalanx with the cross section area of the flexor tendons. The larger cross section areas of the superficial digital flexor tendon, deep digital flexor tendon and interosseus tendon were coincidental with the great articular stress, explaining the greater resistance of the asinines to lesions in those structures of their locomotor apparatus.
Figura 1 – (a) e (b) Fotografias de dissecação da vista lateral da musculatura distal do membro torácico de asinino demonstrando disposição da divisão extensora (músculo extensor digital comum (1), m. extensor digital lateral (2), m. extensor carpoulnar (3)) e, da divisão flexora [m. flexor digital superficial (4) e m. flexor digital profundo (5)]... 85
Figura 2 – Fotografia de dissecação da vista lateral do membro esquerdo de um asinino demonstrando a passagem do tendão extensor digital comum (1) e extensor digital lateral (2) ao nível da cápsula articular cárpica e retináculo extensor (circulo)... 86
Figura 3 – Fotografia de dissecação da extremidade distal do metacarpo direito de um asinino, demonstrando o ponto de inserção das fibras tendíneas (circulo) do tendão extensor digital comum (1) e o trajeto do tendão extensor digital lateral sobre esse osso... 86
Figura 4 – Fotografia de dissecação da (a) vista medial da articulação e (b) vista lateral da articulação metacarpofalangeana demonstrando o ponto de encontro (seta) entre o tendão do extensor digital comum (1) e o tendão interósseo (2)... 87
Figura 5 – Fotografia de dissecação da vista dorsal do membro torácico esquerdo de um asinino, demonstrando a inserção divergente do tendão extensor digital lateral (2) na extremidade distal do terceiro osso metacarpiano (círculo), em relação ao extensor digital comum (1)... 87
Figura 6 – Fotografia de dissecação da vista caudal da região carpiana (a) de um asinino demonstrando a passagem do tendão flexor digital superficial (1) e flexor digital profundo (2) pelo retináculo flexor (circulo vermelho) e, vista palmar (b) do ponto de inserção do tendão flexor digital superficial (setas)... 88
Figura 8 – Fotografia de dissecação da superfície palmar do metacarpo e articulação metacarpofalangeana de um asinino, demonstrando a relação entre os tendões flexor digital superficial (1), flexor digital profundo (2) e interósseo (3)... 89
Figura 9 – Corte sagital da região distal do membro torácico de um asinino evidenciando o ponto de inserção do tendão flexor digital profundo (cabeça de seta), e bolsa podotroclear (círculo)... 90
Figura 10 – Fotografia de dissecação da vista palmar do membro torácico de um asinino evidenciando o tendão interósseo (seta) e sua bifurcação (cabeça de seta) sobre a superfície abaxial dos ossos sesamóides proximais... 90
Figura 11 – Fotografia de dissecação da vista palmar do membro torácico de um asinino em dissecação profunda mostrando a inserção proximal (circulo vermelho) e distal (círculo azul) dos ligamentos sesamóideos reto (1) e oblíquos (2)... 91
Figura 12 – Fotografia de dissecação da vista lateral do membro torácico de um asinino evidenciando o ligamento palmar da articulação interfalangeana proximal (1) e o ligamento colateral medial (2)... 91
Figura 13 – Fotografia de radiografia em projeção dorsoproximal-palmarodistal com ângulo de 65º da região distal do membro direito de um asinino (a), demonstrando osteíte severa associada à destruição óssea da falange distal (cabeças de seta azuis) e latero-medial (b), demonstrando destruição severa da margem solear, áreas de rarefação óssea na superfície flexora do osso sesamóide distal (cabeças de seta brancas) e grau de rotação da falange distal (ângulo α)... 92
vermelha) e das artérias metacárpicas palmares II (cabeça de seta branca) e III (cabeça de seta azul), emitindo os ramos dorsais para o terceiro osso metacarpiano (círculos vermelhos)... 94
Figura 16 – Fotografia de radiografia em (a) projeção dorso-palmar e (b) latero-medial da região distal do membro torácico direito de um asinino evidenciando o aspecto angiográfico da artéria digital palmar comum (cabeças de seta) originando as artérias digital palmar lateral (1) e medial (2)... 95
Figura 17 – Fotografia de radiografia em (a) projeção dorso-palmar e (b) latero-medial da região distal do membro torácico direito de um asinino evidenciando a origem dos ramos dorsais da falange proximal (círculos)... 96
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Medida da área de secção transversal (mm2) do tendão do músculo
flexor digital superficial em sete zonas da região metacarpiana de asininos utilizados em trabalhos de tração... 97
Tabela 2 – Medida da área de secção transversal (mm2) do tendão do músculo flexor digital profundo em sete zonas da região metacarpiana de asininos utilizados em trabalhos de tração... 98
Tabela 3 – Medida da área de secção transversal (mm2) do tendão interósseo
Gráfico 1 – Variação da secção da área transversal das diferentes regiões do tendão flexor digital superficial direito dos animais estudados... 100
Gráfico 2 – Variação da secção da área transversal das diferentes regiões do tendão flexor digital superficial esquerdo dos animais estudados... 100
Gráfico 3 – Variação da secção da área transversal das diferentes regiões do tendão flexor digital profundo direito dos animais estudados... 101
Gráfico 4 – Variação da secção da área transversal das diferentes regiões do tendão flexor digital profundo esquerdo dos animais estudados... 101
Gráfico 5 – Variação da secção da área transversal das diferentes regiões do tendão interósseo direito dos animais estudados... 102
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO... 23
2 REVISÃO DE LITERATURA... 30
3 MATERIAL E MÉTODO... 54
4 RESULTADOS... 57
4.1 DESCRIÇÃO ANATÔMICA... 57
4.2 AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA... 61
4.2.1 O exame radiográfico... 61
4.2.2 A técnica angiográfica... 61
4.3 ÁREA DE SECÇÃO TRANSVERSAL DOS TENDÕES... 63
5 DISCUSSÃO... 66
6 CONCLUSÕES... 74
REFÊRENCIAS... 76
Introdução 23
1 INTRODUÇÃO
O cavalo teve sua origem norteada tanto no território americano como no lado
oriental do planeta. Em estudos paleontológicos foram observados indícios da sua
existência em ambos territórios (RUMUSZKAN; JUNQUEIRA, 1980). Em 1967
encontrou-se um esqueleto numa rocha da época eocena do sul dos Estados
Unidos. De acordo com as observações de Torres e Jardim (1983), se tratava do
Equus ohippus, antepassado mais próximo do eqüino atual, a partir do qual pode ter
ocorrido um desenvolvimento por um período de 60 milhões de anos, até o
surgimento do Equus caballus (há cerca de 1 milhão de anos). Diversos autores
como Rumuszkan e Junqueira (1980) e Torres e Jardim (1983) relataram que o
E.ohippus era aproximadamente do tamanho de uma raposa, apresentando quatro
dígitos nos membros torácicos, três nos membros pélvicos e que sua pelagem era,
possivelmente, mosqueada ou listrada para que ele pudesse camuflar-se no seu
ambiente.
Entretanto, na era glacial foi marcada por uma intensa transição do eqüino
antigo para as áreas da Europa e Ásia, tendo esse processo chegado ao fim 10 mil
anos mais tarde, quando o cavalo desapareceu do Continente Americano
(ASSOCIAÇÃO PARA O ESTUDO E PROTEÇÃO DO GADO ASININO, 2004). De
fato, por ocasião do descobrimento das Américas já não existia nenhum eqüino vivo
no continente, embora seja incontestável a existência desde animais em grande
abundância desde a Patagônia até a América do Norte, devido a presença de
fósseis que marcam todas as suas fases evolutivas (GOVERNO DA REPÚBLICA DE
Em um novo ambiente, desenvolveram-se, então, quatro cavalos primitivos. O
cavalo das estepes, na Ásia, E. przehevalski, conhecido hoje como cavalo selvagem
da Ásia (Cavalo de Przehevalski), considerado uma sub-espécie do cavalo
doméstico (ASSOCIAÇÃO PARA O ESTUDO E PROTEÇÃO DO GADO ASININO,
2004; CAMAC, 1997; GOVERNO DA REPÚBLICA DE HUÍLA, 2004). Segundo
Camac (1997), mais a oeste desenvolveu-se o cavalo Tarpan, animal de ossatura
mais fina e membros mais afilados que o primeiro. Surgiu ainda ao norte da Europa,
o cavalo das florestas, sendo mais pesado e vigoroso que os demais. Por fim, ao
noroeste da Sibéria, verificaram-se evidências de um tipo primitivo conhecido como
cavalo da Tundra.
Relatos realizados por Torres e Jardim (1983) sugerem que o jumento
doméstico (E. asinus vulgaris) provavelmente originou-se do mesmo tronco
filogenético que deu origem ao cavalo. Dados paleontológicos remontam fósseis
antigos desses animais datando da era Terciária, período Pliocênico, descobertos na
Ilha Pianosa, no Mar Adriático Meridional. Rumuszkan e Junqueira (1980) também
relatam a existência de fósseis na região da Argélia, considerada terreno da era
Quaternária, onde foram designados como E. asinus atlanticus.
Podem ser encontrados atualmente em áreas lacustres da Suíça, como um
tipo já domesticado, havendo possibilidade de ancestralidade dos mesmos para os
jumentos do tipo braquicéfalo encontrados na Europa (E. a. europeus), embora
pinturas da arte egípcia, que mostram fases da caça e domesticação do asinino,
também revelem animais braquicéfalos (ASSOCIAÇÃO PARA O ESTUDO E
Introdução 25
Os jumentos dolicocéfalos caracterizaram aqueles animais que habitavam
todo litoral do Mediterrâneo, ao norte da África e dos quais acredita-se provir o
jumento Nubiano ou Onagro (E. a. africanus). Esses animais foram disseminados,
levados pelas ações de conquistas e invasões observadas nesse período,
passando, então, a habitar áreas como ilhas do mediterrâneo, Itália e Espanha
(GOVERNO DA REPÚBLICA DE HUÍLA, 2004).
Ainda hoje existem duas espécies que se preservam em estado selvagem na
região da Ásia Ocidental: o primeiro trata-se do asno Persa (E. a. hemhipus), que
habita a Síria, Arábia, Pérsia e Índia. Citado em referências históricas como um
animal de fácil domesticação, excelente para montaria, dotado de grande agilidade,
força e vigor, sendo hoje bastante utilizados em cruzamentos com o jumento
doméstico (GOVERNO DA REPÚBLICA DE HUÍLA, 2004; RUMUSZKAN;
JUNQUEIRA, 1980; TORRES; JARDIM, 1983).
O segundo, chamado Kiang ou Kulan (E. a. hemionus) pode ser encontrado
desde a Síria, passando por Pérsia, Tibet, Mongólia até chegar à Sibéria. Por serem
animais que migram conforme sua necessidade alimentar, apresentaram resistência
ao cativeiro, embora algumas vezes também sejam utilizados em processos de
cruzamento (RUMUSZKAN; JUNQUEIRA, 1980).
Após ter passado por esse intenso processo evolutivo, nos dias atuais o
eqüino pode ser enquadrado na Classificação Zoológica da seguinte forma: classe
dos mamíferos, ordem Perissidactyla, sub-ordem Hippoidea, família Eqüídea e
jumento ou asno (E. asinus), os hemi-asnos; Quiangue (E. kiang), Onagro
(E.onager), Emiono (E. hemionus) e por fim as zebras (E. burchelli, E. grevyi e E.
quagga) (ASSOCIAÇÃO PARA O ESTUDO E PROTEÇÃO DO GADO ASININO,
2004; GOVERNO DA REPÚBLICA DE HUÍLA, 2004; RUMUSZKAN; JUNQUEIRA,
1980).
Consoante aos relatos de Torres e Jardim (1983), na América, o cavalo foi
introduzido por Colombo, em sua segunda viagem, a Ilha de São Domingo. Em
1534, por D. Ana Pimentel, esposa de Martim Affonso de Souza, na Capitania de
São Vicente e no mesmo ano na Argentina (Buenos Aires) por Pedro Mendonça,
aparecendo ainda notações de sua introdução por Ojeda no Chile em 1535.
No Brasil, nossos primeiros exemplares foram trazidos pelos donatários
Duarte Coelho, Martim Affonso de Souza e Tomé de Souza, em 1535 em
Pernambuco, 1543 em São Paulo e 1549 na Bahia. Quanto aos asininos, estes
foram trazidos pela primeira vez por Martim Affonso de Souza em 1534, da Ilhas da
Madeira e das canárias para São Vicente. Um pouco mais adiante, em 1549, Tomé
de Souza trouxe para Bahia, na caravela “Galfa”, animais oriundos da Ilha de cabo
Verde (RUMUSZKAN; JUNQUEIRA, 1980;TORRES; JARDIM, 1983). Nos anos
subseqüentes, entre as grandes invasões e o período colonial, foram introduzidos
animais europeus, entre eles jumentos portugueses e espanhóis, e aqueles de
origem africana. Mais recentemente, a partir de 1915, foram realizadas importações
de jumentos espanhóis e italianos, solicitadas pelos imigrantes e pelo Maranhão
Introdução 27
A disseminação do gênero pelo globo, quer por fatores evolutivos, quer por
questões de expansão territorial, tornou-se realidade consolidada. O
desenvolvimento de altas tecnologias utilizadas no melhoramento genético desses
animais têm proporcionado o desenvolvimento de animais mais altos, robustos e
especializados para determinadas atividades, tais como os muares (CAMAC, 1997;
ASSOCIAÇÃO PARA O ESTUDO E PROTEÇÃO DO GADO ASININO, 2004;
GOVERNO DA REPÚBLICA DE HUÍLA, 2004; RUMUSZKAN; JUNQUEIRA, 1980).
No Brasil, até o último censo do IBGE, em 2003, existiam cerca de 5.828.376
eqüinos registrados, correspondendo à região nordeste apenas uma parcela de
24,11% desse contingente, com maior concentração na região Sul e Sudeste do
país, que juntas somaram a um total de 45,79%. Ao contrário, o gado asinino
apresentou uma população de 1.208.660, verificando-se uma concentração desses
animais centralizada na região Nordeste, caracterizada por 91,55% da população,
tendo a Bahia o maior rebanho, seguida pelo Piauí, Ceará e Maranhão, o que define
bem o panorama econômico da região, onde a agricultura familiar e o baixo nível
tecnológico ainda persistem.
Segundo esse mesmo censo, embora tenha se observado um declínio da
população de asininos na região Nordeste, em torno de 0,62%, esta ainda
representa um papel sócio-econômico fundamental, visto que estes animais são
amplamente utilizados em trabalhos quer nas zonas urbanas de algumas capitais,
atrelados a carroças, executando trabalhos de tração, quer nas zonas rurais, onde
exercem a função primordial de montaria, auxiliando no manejo do gado que é
Os asininos, em particular o “jumento nordestino”, apresentam características
que são extremamente desejáveis ao trabalho que realizam. Na região Sul e
Sudeste do país observa-se uma preferência pelo cruzamento de asininos com
éguas destinadas a produção de um “híbrido” conhecido como muar, utilizado
também em trabalhos de tração e montaria (ZANELLA; HELESKI; ZANELLA, 2003).
Pela maior resistência na execução dessas tarefas e a admirável habilidade para
percorrer terrenos irregulares, tanto o asinino quanto o muar foram usualmente
substituindo os eqüinos nessas atividades, ocupando hoje em dia um lugar de
eleição (CAMAC, 1997; HOVELL, 1997; REILLY, 1997; STARKEY, 1987; WELLA;
KRECEK, 2001).
Por esta grande capacidade de trabalho, o asinino ainda é o animal de eleição
para várias finalidades na região Nordeste. Contudo, não raro é submetido a
esforços físicos freqüentes e em intervalos de tempo demasiadamente curtos, o que
resulta muitas vezes em lesões do seu aparelho locomotor, em particular da região
distal dos membros torácicos.
Embora estes tipos de problemas venham acontecendo com muita
freqüência, e os clínicos estejam tentando resolvê-los, falta um conhecimento mais
aprofundado da anatomia dessas estruturas, o que nos instigou a desenvolver esta
pesquisa com o objetivo de realizar um estudo anatômico e radiográfico da região
distal dos membros desses animais, caracterizando suas particularidades ou
semelhanças dentro do mesmo gênero, gerando subsídios à prática clínica e
2 REVISÃO DE LITERATURA
No Brasil, o asinino é constantemente utilizado na realização de trabalhos de
transporte e tração, submetendo rotineiramente seu aparelho locomotor a tensões
diversas, que culminam em lesões de graus variados, levando a problemas que os
impossibilitam de realizar suas funções de forma eficiente (ZANELLA; HELESKI;
ZANELLA, 2003).
Com o intuito de melhor localizar tais lesões, Stashak (1994) lembra que para
o estudo radiográfico das alterações que ocorrem na região distal dos membros
anteriores de eqüinos, deve-se obter inicialmente a história clínica, bem como a
realização de um exame físico bem apurado. Posteriormente deve-se fazer uma
correlação entre esses dados, para chegar-se a um diagnóstico. Dyson (1997)
verificou que a técnica de bloqueio anestésico pode ser utilizada, como forma de
identificação do ponto de origem da lesão, podendo este protocolo ser realizado nas
avaliações de asininos.
Utilizando técnicas de injeção de contraste radiográfico, autores como Said et
al. (1983) e Breit (1996) determinaram a origem, inserção, posição, relações e
mensuração de bainhas tendíneas dos principais músculos que compõem a região
distal dos membros torácicos dos asininos, bem como o estudo das articulações
adjacentes a essa região, classificando-os e sugerindo sua nomenclatura, facilitando
o acesso regional para exame diagnóstico e medidas terapêuticas. Quando
comparados com os eqüinos observaram alguma similaridade, com relação às
Revisão de Literatura 31
Inúmeras são as alterações que podem acometer as estruturas da região
distal dos membros torácicos de eqüinos e asininos, destacando-se a laminite,
osteítes, calcificações das cartilagens alares, bem como as fraturas do processo
extensor (HOOD, 2002; RUOHONIEMI, 1997). Nesse contexto, Dyson (1997)
percebeu a importância do conhecimento anatômico e radiográfico desta região,
como uma ferramenta para a observação da morfologia das estruturas encontradas,
seu grau de comprometimento e suas conseqüências para a locomoção.
A região distal dos membros anteriores dos eqüídeos inicia-se a partir da
extremidade proximal dos ossos metacarpianos, englobando também ossos
sesamóides proximais, articulações interfalangeanas proximal e distal, bem como o
osso sesamóide distal (navicular) (DYCE; SACK; WENSING, 1997).
Ainda de acordo com esses autores, anatomicamente, a região distal dos
membros torácicos de eqüinos é formada por uma série de estruturas que
contribuem direta ou indiretamente para manutenção do equilíbrio desse animal.
Segundo as observações realizadas por Getty (1986); Nickel et al. (1986) e Clayton
et al. (1997), a articulação metacarpofalangeana é uma articulação do tipo gínglimo,
sendo formada pela superfície articular do terceiro osso metacarpiano com a
extremidade proximal da falange proximal e os dois ossos sesamóides, ligados pelo
ligamento metacarpointersesamóide palmarmente. König (2004) e Getty (1986),
descreveram a cápsula articular como estando inserida ao redor das margens das
superfícies articulares. Sendo espessa e ampla, apresenta uma bolsa interposta
entre ela e os tendões extensores digitais, contudo os últimos também se encontram
estendendo-se proximalmente entre os ossos metacarpianos e tendão interósseo,
até seu ponto de bifurcação. Lateralmente, a cápsula apresenta um reforço extra,
proporcionado por dois ligamentos colaterais.
Vários ligamentos também se encontram associados ao mecanismo de
sustentação, muitas vezes denominados de aparelho suspensório. Dentre eles o
ligamento metacarpointersesamóide ocupando o espaço entre os ossos sesamóides
e emitindo contribuições para a articulação do boleto (CLAYTON et al., 1997;
GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986). Os ligamentos colaterais, que surgem ao lado
da eminência distal do terceiro metacarpiano seguem até uma área rugosa distal, a
margem da superfície articular da falange proximal, cobertos por porções do
ligamento suspensório ou sesamóideo superior (CONSTANTINESCU, 1991;
SMALLWOOD, 1992). O tendão interósseo ou ligamento suspensório surge em sua
maior parte no sulco metacárpico, no qual forma uma faixa espessa, inserido
parcialmente na superfície proximal do terceiro metacarpiano e fileira distal dos
ossos do carpo, dividindo-se em dois ramos divergentes no quarto distal desse osso
que se insere na porção abaxial dos ossos sesamóides proximais (FRANDSON,
1967; KÖNIG, 2002).
Descrições realizadas por Frandson (1967); Constantinescu (1991) e
Smallwood (1992) revelaram que em dissecações mais profundas podemos
evidenciar os principais ligamentos sesamóideos distais: o ligamento sesamóideo
reto e ligamento sesamóideo oblíquo. O primeiro apresenta-se como uma faixa
plana, e mais largo proximalmente que distalmente, apresentando uma inserção
Revisão de Literatura 33
fibrocartilagem complementar da extremidade proximal da falange média. O segundo
apresenta uma característica triangular e inserindo-se também com uma área de
inserção proximal na base dos ossos sesamóides e ligamento palmar e sua inserção
distal na superfície palmar da falange proximal. Por último, o ligamento palmar da
articulação interfalangeana proximal adota uma orientação dorsopalmar, surgindo no
terço médio da falange proximal, inserindo-se distalmente no aspecto palmar da
extremidade distal da falange média. Os ligamentos colateral lateral e medial
apresentam sua inserção proximal em uma eminência rugosa e na depressão que se
encontra de cada lado da extremidade distal da falange proximal e sua inserção
distal na extremidade proximal da falange média.
A articulação interfalangeana distal é formada pela extremidade distal da
falange média e proximal da falange distal. Apresenta um encaixe preciso
dorsalmente e dos lados, onde se une ao tendão do músculo extensor digital comum
e os ramos extensores do tendão interósseo (GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986).
Em sua superfície palmar, se observa uma discreta bolsa reforçada pelo ligamento
sesamóideo reto. Outros ligamentos de menor importância, como os ligamentos
colaterais, observados de cada lado da articulação e palmares, que consistem de um
par central e duas faixas lateral e medial, auxiliam na estabilização dessa articulação
(CONSTANTINESCU, 1991; GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986).
Por fim, a articulação interfalangeana distal. Apresenta uma cápsula articular
que se insere ao redor das margens das superfícies articulares. Dorsal e
lateralmente é tensa, encontrando-se unida com o tendão do músculo extensor
Descrições realizadas por Getty (1986) demonstraram que como contribuição
para estabilidade do aparelho locomotor dos eqüinos, estes apresentam
grupamentos musculares bem distintos que geram um equilíbrio harmônico entre as
forças de extensão (divisão extensora) e flexão (divisão flexora) tanto no membro
torácico quanto no pélvico. Nickel et al. (1986) observaram que para o membro
torácico, em particular, à exceção dos músculos extensor radial do carpo, músculo
abdutor longo do dedo I, músculo flexor carporadial e flexor carpoulnar, todos os
demais influenciam diretamente no movimento e estabilidade da região distal desse
membro. Originam-se nas partes mais altas do membro e se inserem distalmente, ao
nível das articulações e acidentes ósseos regionais.
De acordo com Constantinescu (1991), o músculo extensor digital comum é
participante fundamental nesse conjunto, constituído por uma porção umeral e outra
menor, surgida essencialmente do rádio e da ulna. Tem como principal ação para
essa região a extensão da articulação digital e cárpica. Getty (1986); Dyce e Sack e
Wensing (1997) demonstraram que a porção umeral apresenta um tendão que surge
ao meio do seu ventre de disposição penada, orientando-se através da parte cranial
da extremidade distal do rádio e sobre a cápsula articular cárpica. Para Frandson
(1967) e könig (2002) passa distalmente sobre a superfície dorsal do terceiro
metacarpiano, inclinando-se medialmente, até alcançar a linha média do membro
próximo à articulação metacarpofalangeana. Torna-se mais largo na extremidade
distal da falange proximal por encontrar-se com o tendão do ligamento interósseo
nesse ponto, até inserir-se no processo extensor da falange distal. Algumas vezes
recebe contribuição distal da porção menor do músculo, que também segue sobre o
Revisão de Literatura 35
Outro músculo que exerce papel importante nesse contexto é o músculo
extensor digital lateral. Embora seja menor do que o primeiro, auxilia no mecanismo
de suporte articular de extensão do dígito e do carpo. Apresenta um tendão que
passa através do processo estilóide lateral, na extremidade distal do rádio e sobre o
carpo (CONSTANTINESCU, 1991; GETTY, 1986; NICKEL et al., 1986). Inclina-se
gradativamente sobre a superfície dorsal do terceiro metacarpiano, mas não chega a
atingir a linha média do osso. Distalmente ao carpo torna-se mais largo e nesse
ponto recebe contribuição da porção radial do músculo extensor digital comum
(SMALLWOOD, 1992).
A divisão flexora apresenta três músculos de importância básica para a região
distal dos membros torácicos: o músculo flexor digital superficial, o músculo flexor
digital profundo e o tendão interósseo (GETTY, 1986; KÖNIG, 2002; NICKEL et al.,
1986). Para Frandson (1967) o primeiro apresenta-se localizado no meio do grupo
flexor. Seu ventre é multipenado e parcialmente fundido com o do músculo flexor
digital superficial. Apresenta um tendão espesso que passa distalmente ao nível do
canal cárpico, envolvido por uma bainha sinovial em comum com o músculo flexor
profundo dos dedos. Segundo Nickel et al. (1986) e König (2002), distal ao carpo,
torna-se achatado e mais largo, alargando-se ainda mais próximo ao boleto, onde
forma um anel de passagem para o músculo flexor digital profundo dos. Em suas
observações, Constantinescu (1991) verificou que na extremidade distal da falange
proximal este tendão se divide em dois ramos que divergem até seus pontos de
inserção na extremidade proximal e distal da falange média, palmar aos ligamentos
Ainda na divisão flexora, o músculo flexor digital profundo é composto por três
porções: umeral, ulnar e radial, das quais a primeira possui maior contribuição no
trabalho muscular (DYCE; SACK; WENSING, 1997; GETTY, 1986). As descrições
realizadas por Getty (1986) demonstram que porção umeral apresenta um tendão
que aparece cerca de 8 a 10 cm próximo ao carpo, onde se une ao tendão das
outras duas porções. Esse conjunto passa através do canal cárpico e a partir da
metade do terceiro osso metacarpiano é envolvido pelo ligamento acessório. Ainda
segundo relatos desses mesmos autores, esse tendão ocupa toda largura entre o II
e IV ossos metacarpianos, se relacionando dorsalmente com o tendão interósseo e
palmarmente com o flexor digital superficial. Passa através do anel do músculo flexor
superficial do dedo até sua inserção na linha semilunar e superfície adjacente da
cartilagem da falange distal, formando uma expansão terminal em forma de leque.
Segundo Dyce, Sack e Wensing (1997); König (2002) e Nickel et al. (1986) ocorre
ainda uma cavidade denominada bolsa podotroclear do osso sesamóide distal
(navicular), que pode ser observada entre este tendão e o sesamóide distal, das
proximidades desse osso até a inserção do tendão.
O último músculo do grupo é o interósseo médio. Este faz parte de um grupo
muscular, do qual participam ainda o interósseo lateral e médio. Contudo, estes dois
últimos não representam importância relevante do ponto de vista da funcionalidade,
por serem pequenos e possuírem tendões delicados que se perdem nas fáscias da
articulação metacarpofalangeana. O tendão interósseo caracteriza-se como um
conjunto de fibras dispostas longitudinalmente que apresenta uma inserção proximal
Revisão de Literatura 37
extensores junto ao tendão do músculo extensor digital comum (GETTY, 1986;
DYCE; SACK; WENSING, 1997).
Conforme as observações de Dyce, Sack e Wensing (1997), tal qual o estudo
anatômico das estruturas musculares do eqüino, compreensão do sistema
circulatório da região distal dos membros torácicos desses animais é fundamental
para um bom entendimento das ramificações vasculares e sua sintopia com outras
estruturas encontradas na mesma região. Getty (1986) e Dyce, Sack e Wensing
(1997), descreveram a artéria subclávia como o ramo que dá origem ao sistema que
vasculariza o membro torácico, que após emitir a artéria cervical superficial torna-se
axilar. Descrições Nickel et al. (1981); Getty (1986) e könig (2002) demonstraram
que a artéria axilar surge da borda cranial da primeira costela e segue até a
cavidade torácica através da metade ventral da entrada do tórax.
König (2002) relata que a artéria torácica externa é emitida na superfície
ventral da artéria axilar. Frandson (1967) e Constantinescu (1991) relataram que
eqüinos observa-se a artéria supra-escapular surgindo da parede dorsal da artéria
axilar, no mesmo nível da origem da torácica externa. De acordo com Ashdown,
Done (1987) e Clayton e Flood (1997), nos animais domésticos a artéria
subescapular também surge da parede dorsal da artéria axilar, seguindo seu curso
caudal a borda da escápula. Com exceção dos suínos, observa-se uma curvatura
distal da artéria axilar ao nível da região flexora da articulação escápulo-umeral,
originando a artéria circunflexa umeral cranial. A partir daí continua-se como artéria
A artéria braquial segue um percurso reto até o nível da articulação
umero-rádio-ulnar, forame supracondilar transverso e sobre a cobertura do músculo peitoral
transverso (SMALLWOOD, 1992). Ao longo de seu curso emite ainda outros ramos;
a artéria braquial profunda e subseqüentemente a artéria colateral ulnar
(ASHDOWN; DONE, 1987; CLAYTON; FLOOD, 1997). A artéria bicipital é um vaso
calibroso que vasculariza a metade distal do músculo bíceps braquial. Outros de
seus ramos podem seguir para as regiões vizinhas, particularmente o músculo
coracobraquial e articulação do cotovelo (GETTY, 1986). Em eqüinos pode ser
observada, ainda, a artéria nutrícia umeral, que segue distalmente a artéria bicipital
(NICKEL et al., 1981).
De acordo com Getty (1981); Dyce, Sack e Wensing (1997) e König (2002),
após dar o ramo da artéria interóssea comum, próximo ao espaço interósseo, a
artéria braquial segue como artéria mediana. Junto ao nervo e veia do mesmo nome,
segue caudomedialmente ao longo do rádio, em uma direção distal, onde é coberto
por fascias do músculo flexor radial do carpo. Em suas observações, Nickel et al.
(1981) descreveram que na fossa formada entre o tendão do músculo flexor digital
superficial e profundo, esta continua sobre o aspecto flexor da articulação cárpica e
região metacarpiana passando a seguir um trajeto paralelo ao eixo desse osso.
Neste nível, esta contribui para a formação do arco palmar, do qual origina-se a
artéria digital palmar comum.
Estes mesmos autores ainda relatam que nos eqüinos o arco palmar é
formado pelo ramo palmar profundo da artéria radial e pelo ramo palmar profundo do
Revisão de Literatura 39
artéria metacárpica palmar II e III que terminam junto da artéria digital lateral. Ramos
perfurantes proximais e distais podem estar presentes. Seguem perifericamente ao
redor da cabeça do segundo e quarto ossos metacarpianos formando dois ramos
comunicantes através de anastomoses para as artérias metacarpicas dorsais.
A rede carpal dorsal é formada pelo ramo carpal dorsal da artéria radial
proximal, pelo ramo distal da artéria ulnar transversa e pelo ramo carpal da artéria
interóssea cranial e artéria colateral ulnar (DYCE; SACK; WENSING, 1997; NICKEL
et al., 1981). A partir desta rede originam-se as artérias metacárpicas dorsais II e III
que terminam ao nível da cabeça do segundo e quarto ossos metacarpianos
(GETTY, 1986; KÖNIG, 2002).
O ramo superficial da artéria radial termina na artéria mediana, na parte
proximal do metacarpo (ASHDOWN; DONE, 1987; CLAYTON; FLOOD, 1997). Um
ramo palmar superficial muito delgado, que algumas vezes junta-se a artéria
mediana, forma o arco palmar superficial. Quando isto acontece, este se localiza ao
longo do ramo comunicante do nervo palmar, que se continua diretamente para a
artéria digital palmar comum III. Havendo ou não um arco palmar superficial a artéria
mediana continua-se como artéria digital palmar comum, mais tarde originando as
artérias digital palmar lateral e medial, que irão emitir ramos dorsais para a falange
proximal após a articulação metacarpofalangeana. A superfície dorsal da
extremidade distal do membro é vascularizada pelos ramos proximal, médio e distal
das duas artérias digitais próprias emitidas para a falange média e distal (NICKEL et
al., 1981). Esses mesmos ramos foram denominados ramos dorsais e ramos
Todo o conjunto desenvolvido a partir da interação existente entre o sistema
muscular, agente realizador das funções mecânicas, e pelo sistema circulatório,
agente responsável pela manutenção desse conjunto contribuem para o equilíbrio
biodinâmico corpóreo do eqüino. Nesse contexto, os tendões e ligamentos têm uma
função primordial durante o estado de estação ou movimento, visto que atuam como
transmissores de forças e coaptares da articulação, envolvidos especialmente na
suspensão do boleto (DENOIX, 1994). De acordo com Riemersma (1988) por
apresentarem propriedades elásticas, têm como maior função à absorção de
impactos, apresentando, ainda, a característica de armazenar ou liberar energia,
reduzindo assim o gasto de energia na locomoção, especialmente em velocidades
mais elevadas.
Em suas observações, Denoix (1994) verificou que em membros torácicos de
eqüinos adultos dentre diversas raças e individualmente, a área de secção
transversal do tendão flexor digital superficial, flexor digital profundo e tendão
interósseo varia consideravelmente na direção proximodistal. Conforme as
observações de Riemersma e Schamhardt (1985) e Riemersma; Schamhardt e
Hartman (1988), existe uma correlação inversa entre a secção de área transversal, o
número de fibras tendíneas e a quantidade de colágeno, sugerindo que a área de
secção de área transversal não seja representativa de força para os tendões em
eqüinos.
Descrições realizadas por Denoix (1994) demonstraram que a correta
orientação do membro é controlada pelo tendão flexor digital superficial que induz a
Revisão de Literatura 41
no final da fase de suspensão. Durante essa ação o tendão extensor digital lateral e
digital comum mantêm a articulação do boleto estendida. Silver, Brown e Goodship
(1983) observaram que em pôneis, ao caminhar, a atividade muscular precede o
contato do membro com o solo, cujo principal objetivo é de prevenir a distensão e
vibração no tendão, sendo esta prevenção particularmente auxiliada pela fáscia
metacarpal palmar e ligamento anular.
Durante a máxima extensão o boleto induz alta tensão no tendão flexor digital
superficial e em seu ligamento acessório. Dessa forma, todo o aparelho suspensório
fica sobre alto estresse (DYSON, 2003). Em acordo com este ultimo, Denoix (1994)
verificou como conseqüência, alta distensão do tendão interósseo, ossos
sesamóides e ligamento sesamóide distal. A flexão da articulação interfalangena
distal é limitada pela tensão da parte distal do tendão extensor digital comum e ramo
extensor do tendão interósseo, que contribui para a estabilização da articulação
interfalangeana proximal. Evans e Barbenel (1975) lembram que embora se observe
uma importante contribuição para a estabilização interfalangeana e suspensão do
boleto, por parte do tendão flexor digital superficial e seu ligamento acessório, a
maior contribuição dar-se-á através da ação do tendão interósseo e tendão flexor
digital profundo.
Rooney, Quddus e kingsbury (1978) em seus estudos com eqüinos
observaram que durante o último período da fase de suspensão, que promove uma
verticalização da articulação interfalangena proximal, a elevação do boleto é
induzida pelo comportamento elástico passivo do aparelho suspensório, tendões
fase de máxima extensão, havendo ainda uma contribuição adicional promovida pela
contração dos ventres do músculo flexor digital. Evans; Barbenel (1975) acreditam
que no final da propulsão, a flexão do boleto é acompanhada por um relaxamento do
aparelho suspensório. Por causa do deslocamento proximal do osso sesamóide
proximal, o tendão interósseo torna-se relaxado, também devido à extensão da
articulação interfalangeana distal.
De acordo com a condição estática observada tanto em eqüinos vivos, quanto
em membros isolados, modificações da orientação do membro em seu plano sagital,
induzem deslocamento articular distal e rearranjo das tensões dentro dos tendões
flexores e aparelho suspensório (DENOIX, 1994; LECH, 1983).
A elevação do talão promove a flexão da articulação interfalangeana distal,
induzindo um parcial relaxamento do tendão flexor digital profundo (BUSHE et al.,
1988; DENOIX, 1985). Assim, a contribuição desse tendão para a suspensão da
articulação do boleto diminui e a articulação estende (RIEMERSMA;
SCHAMHARDT, 1988). Essa extensão é responsável por uma grande participação
do aparelho suspensório na suspensão do boleto (KEEGAN, 1991; RIEMERSMA;
SCHAMHARDT, 1988; THOMPSON; CHEUNG; SILVERMAN, 1992).
A avaliação da distensão do tendão interósseo durante o movimento
demonstrou que tal distensão encontra-se positivamente correlacionada com o
ângulo de inclinação da muralha do casco quando esta assume valores acima de 65
graus e que um aumento de 10 graus na muralha do casco corresponde a um
Revisão de Literatura 43
BERTHELET, 1987; KEEGAN, 1991; RIEMERSMA; SCHAMHARDT; HARTMAN,
1988).
Estudos realizados por Rooney (1978); Lochner et al. (1980) e Denoix (1994),
constataram que, In vivo, a mensuração da distensão do tendão de cavalos adultos
em posição de estação e, enquanto caminhavam, demonstrava uma diminuição na
tensão do tendão flexor digital profundo, quando se aumentava a angulação da
muralha casco. Contudo, não se verificou modificações apreciáveis no tendão flexor
digital superficial e tendão interósseo, quando esse ângulo variou entre 40 e 70
graus.
Com a evolução dos meios diagnósticos dentro da Medicina Veterinária,
houve um crescimento substancial no estudo dos tecidos ósseos e partes moles
(DYSON, 2003; STASHAK, 1994).
Em eqüinos, o uso da avaliação radiográfica tornou-se rotina na Clínica
Médica e tem ajudado a elucidar problemas associados ao aparelho locomotor
desses animais (DYSON, 2003). Encontra-se disponível uma série de técnicas de
exame diagnóstico, tal como a angiografia, que consiste na injeção de contrataste
iodado por via endovenosa ou arterial, realizando-se radiografias seqüenciais para
observar a angioarquitertura dos membros e correlacioná-las a manifestações
clínicas, como as osteítes, laminites, fraturas ou abscessos soleares, em seus
Em um estudo utilizando 20 asininos, dentre eles 15 sadios e 5 que sofreram
algum tipo de processo patológico no aparelho locomotor, Said et al. (1983)
realizaram uma avaliação angiográfica da região distal do membro torácico,
descrevendo o caminho percorrido pelas artérias dessa região e sugerindo padrões
normais e anormais de tortuosidade para esses vasos ao exame radiográfico após a
injeção de contraste. Segundo as observações de Breit e König (1996), a artéria
digital comum apresenta um diâmetro de 0,5 centímetros, bifurcando-se no terço
final dos ossos metacarpianos, formam um arco terminal, que emite de 12 a 14
seguimentos para dentro do corium laminar e solear, ponto este extremamente
acometido por processos inflamatórios de caráter agudo ou crônico diagnosticados
na rotina clínica.
Dentre estas afecções, Stashak (1994) caracterizou a osteíte podal como um
processo inflamatório da falange distal, que evolui para um processo de
desmineralização e enrugamento das bordas soleares desta falange, muitas vezes
associadas a laminite. Clinicamente a claudicação torna-se evidente em toda a
andadura do eqüino. Ao exame físico o animal revela dor difusa ou localizada na
superfície da pinça. Trata-se da alteração mais comumente observada, onde a
remodelação óssea da margem solear é evidente. As alterações são mais
contundentes e observadas na projeção dorsoproximal-palmarodistal. A margem
solear do osso possui delineamento opaco devido a sua mineralização. Contudo, em
casos severos de osteíte, pode haver aumento de radioluscência, devido ao
processo de reabsorção óssea, resultando em uma dilatação aparente dos canais
Revisão de Literatura 45
Em uma projeção médio-lateral, a remodelação óssea da falange distal é bem
observada. A margem solear apresenta delineamento irregular, projetando-se
dorsalmente. Com a evolução do processo, podemos verificar reações periosteais na
superfície dorsal da falange distal (KAINER, 1989). Tais alterações são verificadas
em eqüinos que sofreram excesso de pressão prolongado sobre a sola ou naqueles
com sola irregular. Reações periosteais na cortical dorsal da terceira falange,
quando presentes, são sempre consideradas anormais. Reações leves podem ser
observadas em vistas oblíquas, na porção média da mesma córtex, sem estar
provocando laminite ou sem ser de significância clínica (REYNOLDS, 2000).
Em um estudo clínico e radiográfico da região distal dos membros torácicos
de 17 asininos utilizados em tração animal, Alves et al. (2003) verificou níveis de
osteíte podal severa ao exame radiográfico, com grandes áreas de osteólise, porém
sem sinais clínicos compatíveis com a severidade da lesão, embora tenha
observado sensibilidade dolorosa ao nível de tendões e ligamentos tanto ao exame
clínico como pelo exame radiográfico, o que demonstra o grau de adaptação desses
animais a situações de grande estresse locomotor.
Smith et al. (2004) estudando radiografias da região distal do membro torácico
de 76 eqüinos de diversas raças, correlacionaram o ângulo de inclinação da falange
distal e as lesões observadas no tendão do músculo flexor digital profundo, e
observaram que embora não tenham encontrado diferenças significativas em
algumas raças testadas, em um grupo estudado, o ângulo de inclinação da falange
distal influenciava diretamente na tensão exercida sobre o tendão do músculo flexor
Em um estudo de 100 cadáveres de eqüinos da raça Finnhorse, Ruohoniemi
et al. (1997), sugeriram que o ângulo ideal de inclinação da região distal do membro
torácico estaria variando entre 50 a 54 graus, como uma forma de manter o
paralelismo entre as falanges e o equilíbrio entre as forças tensoras que agem na
região. Stashak (1994) estimou este ângulo como sendo de 49 graus. Outros
autores como Baradly (1946); Stump (1967) e Getty (1986) têm estimado este
ângulo variando entre 45 e 50 graus. Em asininos, apenas Hifny e Misk (1983)
realizaram trabalhos com o objetivo de mensurar tal inclinação, onde sugeriu um
ângulo de 55 graus para esses animais. Conforme as descrições feitas por Fowler
(1995), a inclinação dos membros dos asininos é pelo menos 5 a 10 graus menor do
que a verificada em eqüinos. Segundo estudos de Clayton (1987), ângulos de
inclinação do membro muito baixos predispõem a maiores acometimentos por
diversos tipos de claudicação do que aqueles com angulações maiores.
Em referências sobre a laminite, esta é descrita como doença provocada por
um distúrbio circulatório, causado por uma hiperemia do casco. Contudo, em
pesquisas realizadas por Goetz (1989); Green et al. (1991); Hood et al. (1993) e
Hunt, Kobluk e Steckel (1995), acrescenta-se ainda uma isquemia das laminas
regionais, atribuindo-se a denominação de laminite a um complexo de doenças
causadoras destas alterações.
Clinicamente, observa-se pulsação arterial digital aumentada, calor no casco
e dor evidenciada na pinça do casco, na fase aguda. O animal reluta em andar, de
acordo com o grau da laminite, muitas vezes não consegue suportar seu próprio
Revisão de Literatura 47
laterais, onde se observa deslocamento da falange distal em direção a sola, ou
ainda um deslocamento paralelo, com um aumento da distância entre a muralha do
casco e a falange (BUTLER et al., 2000; TANAKA et al., 2002). Algumas vezes,
observam-se cavitações da parede do casco, proliferações ósseas na falange distal
e descalcificação da borda solear (KUWANO et al., 1997). De acordo com Stick
(1982), em estudo de 96 casos de laminite, determinou-se o prognóstico para esta
alteração através dos graus de rotação da falange distal. Animais que apresentarem
graus iguais ou menores que 5,5°, estariam aptos a retornar as atividades
esportivas, enquanto aqueles que apresentarem rotação superior a 11,5° estariam
impossibilitados de retornarem as atividades.
Tais lesões podem ser visualizadas através de posicionamentos específicos,
onde se destacam as radiografias em projeções oblíquas, o que possibilita a
observação de mais de uma face da estrutura óssea, visto que em eqüinos a grande
espessura e densidade de algumas dessas estruturas, podem mascarar lesões e
levar o clínico a incidir em um erro de diagnóstico (BUTLER et al., 2000; THRALL,
1998).
Em situações realizadas por Colles (1977); Coffman (1983) e Molyneux et al.
(1994) verificou-se que é freqüente uma alteração locomotora em um membro levar
a manifestação de problema semelhante ou mais grave no mesmo membro ou
contralateral, devido a mecanismos compensatórios. Grande parte das lesões que
acometem eqüinos são usualmente verificadas nos membros torácicos e
percentualmente, podem chegar de 60 a 65% dessas observações. Vale a pena
região do carpo ou abaixo dela. Dyson (2003) relata que desta forma,
proporcionalmente, para cada claudicação encontrada no membro pélvico
verificam-se três no membro torácico. Uma explicação para isso poderia verificam-ser o fato de que a
massa do eqüídeo encontra-se localizada no meio do gradil costal, imediatamente
caudal a linha que separa o terço cranial e médio do corpo, deslocando seu centro
de gravidade mais cranialmente, imprimindo maior trabalho para as articulações
desse membro (STASHAK, 1994).
A arquitetura do osso navicular foi bem estudada por Gabriel (1998) e tem
demonstrado grande importância na compreensão dos processos patológicos que
podem acometer essa região, em algumas raças e tipos de cavalos. A doença do
navicular tem se mostrado degenerativa e de caráter crônico, acometendo cavalos
entre quatro e 15 anos (STASHAK, 1994), algumas vezes estendendo-se à bolsa
navicular e tendão flexor digital profundo (ACKERMAN et al., 1977; ADAMS, 2002;
LOWE, 1976; NUMAN, 1973; VADEZ, 1978). Estudos recentes realizados por
Ruohoniemi (1998), demonstraram um comprometimento da articulação
interfalangeana distal, com o aparecimento de lesões na borda proximal e nas
cartilagens alares da terceira falange, quando foram observadas irregularidades do
osso sesamóide distal. Em todos os casos os animais encontravam-se submetidos a
constante atividade física ou trabalhos de tração.
A ossificação das cartilagens alares é constantemente observada em animais
de idade avançada ou superiores a 12 anos, sendo mais comum em éguas
finlandesas e garanhões (MELO e SILVA, 2002). Contudo, Bengtsson (1983),
Revisão de Literatura 49
de idade. A característica da calcificação pode variar; cavalos que apresentam
conformação anatômica torácica fechada de frente tendem a calcificação da
cartilagem alar lateral, enquanto naqueles que apresentam conformação anatômica
aberta de frente, torna-se mais freqüente a calcificação da cartilagem alar medial
(STASHAK, 1994). Ruohoniemi (1993) e Verschooten et al. (1996), em seus
achados, observaram o aparecimento da calcificação da cartilagem alar como uma
característica comum em cavalos utilizados em trabalhos de tração. Melo e Silva
(2002), estudando 163 cavalos de hipismo verificaram o aparecimento desta mesma
lesão em 93% desses animais. Ruohoniemi (1993), correlacionou a coexistência
freqüente entre a ossificação da cartilagem alar e processos patológicos do osso
navicular. Traumas gerados por aferroamento também podem levar a ossificação
dessa cartilagem.
Os graus de desmineralização também são observados comumente e
particularmente em raças de animais pesados (GABRIEL et al., 1999; GIBSON,
1990; MELO e SILVA et al., 2002; RUOHNIELMI et al., 1998). A ossificação ou
mineralização da cartilagem alar progride desde a face distal da cartilagem até a
superfície proximal do osso navicular, sendo normal em animais de dois anos ou
mais (BUTLER et al., 2000; KUWANO et al., 1997; TANAKA et al., 2002). Esta
alteração é comumente assintomática, mas algumas vezes pode levar a graus de
claudicação variados (HOOD, 2002). A região proximal da cartilagem alar
encontra-se direcionada axialmente; a ossificação da mesma ocorre da a baencontra-se para a
proximal, promovendo o aparecimento de uma linha radioluscente entre as duas.
Algumas vezes torna-se difícil diferenciar esta alteração de uma fratura na
podem causar claudicação que se resolve sem tratamento (THRALL, 1998;
VERSCHOOTEN et al., 1996).
Embora, rotineiramente seja utilizado o exame radiográfico para a avaliação
das doenças do aparelho locomotor em eqüinos, o exame ultrassonográfico já
constitui um protocolo específico quando existem suspeitas clínicas de
comprometimentos de tendões e ligamentos (RANTANEN, 1989). Como uma
alternativa prontamente estabelecida, apresenta dados diagnósticos confiáveis e que
podem ser obtidos precocemente, sem necessariamente haver visualização de
edema local ou ainda claudicação. Inúmeras lesões tem sido encontradas em
exames rotineiros quando se buscam outras alterações durante o exame clínico do
membro torácico em eqüinos, contudo, identificadas antecipadamente podem
prevenir complicações clinicas que tenderiam a evoluir para um caráter clinicamente
significante futuramente (REIMER, 1998).
A técnica para a realização do exame é fácil e consiste da divisão da região
metacarpal palmar ou metatarsal plantar em sete; ou mesmo oito zonas, quando
também se acrescenta o aspecto medial do carpo na mensuração, visto que devido
a disposição dos ligamentos e tendões, algumas dessas regiões possuem
características anatômicas próprias (PASIN et al., 2001). O objetivo é de caracterizar
de forma detalhada as estruturas visualizadas durante o exame ultrassonográfico,
fazendo-se uso de um transdutor de 7,5 Mhz (DYSON, 2003).
A zona 0 corresponde a região que se encontra ao longo do aspecto medial
Revisão de Literatura 51
estende-se, aproximadamente de 0,5 a 4 cm de distância do osso acessório do
carpo. Nesse ponto o tendão flexor digital superficial apresenta-se disposto
levemente medial, de aspecto elíptico e próximo a linha média. A zona IB,
estende-se de 4 a 7 cm de distalmente do osso acessório do carpo, não existindo estruturas
que caracterizem essa região de forma particular (PASIN et al., 2001; REEF, 2002).
A zona IIA segue estendendo-se entre 7 a 10 cm distalmente ao osso acessório do
carpo. A zona IIB encontra-se de 10 a 14 cm de distância do osso acessório do
carpo, sendo caracterizada pela presença de um ramo do nervo medial palmar, que
cruza obliquamente a região (NYLAN, 1995; REEF, 2002; REIMER, 1998). A zona
IIIA encontra-se localizada de 14 a 18 cm distalmente do osso acessório do carpo,
tendo como principal característica ser o ponto de eleição para a manifestação da
tenossinovite. A região IIIB é a maior entre todas já citadas e contem o local onde
ocorre a bifurcação do ligamento suspensório em seus ramos lateral e medial. A
última região é a IIIC, que dista de 23 a 28 cm do osso acessório do carpo, sendo
caracterizada por apresentar ao exame ultrassonográfico a sombra dos ápices dos
ossos sesamóides proximais (DYSON, 2003; NYLAND, 1995; PASIN et al., 2001).
O exame ultrassonográfico tem mostrado um valor inestimável, do ponto de
vista confirmativo, para aquelas lesões que não podem ser definidas apenas com a
utilização do estudo semiológico regional do membro torácico do eqüino,
tornando-se, ainda uma alternativa plenamente justificável do ponto de vista econômico
(GENOVESE, 1986). Desta maneira, torna-se imperativo o conhecimento não
apenas das características ultrassonográficas dos ligamentos e tendões da região
tamanho e sintopia de tais estruturas, que possibilita sua distinção durante o exame
ultrassonográfico (STEYN; LLWRAITHC; RAWCLIFF, 1991).
A estrutura ultrassonográfica da região metacarpal palmar ou metatarsal
plantar podem ser mais ou menos diferenciáveis, de acordo com o seu grau de
ecogeneicidade, o que pode algumas vezes dificultar a delimitação perfeita da
mesma durante a avaliação, como no caso do ligamento interósseo, que apresenta
problemas na identificação de suas bordas, devido a sua ecogeneicidade irregular
(CUESTA, 1992).
Cuesta et al. (1995) realizaram um estudo comparativo de cinco regiões do
aspecto palmar do metacarpo de 23 eqüinos, através de estudo ultrassonográfico e
anatômico da região, onde verificaram valores de mensuração, na dissecação,
semelhantes a aqueles observados durante o estudo in vivo.
Pasin et al. (2001) quando estudaram 67 cavalos de diversas raças
observaram que a área de secção transversal do tendão flexor digital superficial
apresentou valores médios entre 80,75 ± 2,72 mm2 e 126,29 ± 3,11; o tendão flexor
digital profundo apresentou valores entre 87,36 ± 3,06 e 178,75 ± 5, 42, o que
possibilitou um certo grau de padronização dos valores dimensionais das estruturas
da região distal dos membros de eqüinos, gerando subsídios para identificação de
3 MATERIAL E MÉTODO
Durante a fase experimental deste estudo foram analisados os membros
torácicos de 15 asininos, de diferentes sexos e idades. Os animais pesavam em
média 150 kg, eram alimentados com ração volumosa e utilizados em veículos de
tração animal, submetidos, portanto, às mesmas condições de manejo. Todos
vieram a óbito seja por processos patológicos ou por envolvimento em acidentes e
as peças foram encaminhadas ao laboratório de Anatomia da Universidade Estadual
do Maranhão – UEMA pela Secretaria de Transporte e Urbanismo do Estado do
Maranhão – SEMTURB.
Após a higienização dos membros, realizaram-se radiografias, baseadas nos
protocolos utilizados para eqüinos, em projeções dorsoproximal-palmarodistal em
ângulo de 45° e 65º e lateromedial, utilizando-se um aparelho portátil de Raios-X,
MinXrays, modelo HF 100, de 40 – 100 KVp e 20mAs de potência, calibrado com
distância foco-filme de 80 cm e técnicas de exposição de 45 kVp e 0,5 mAs, chassis
metálicos 24x30 cm, com telas intensificadoras CRONEX HI1 plus e filmes
RP-X-OMAT2. Os filmes radiográficos foram revelados e fixados em Processadora
Automática RPX-OMAT Processor3.
Em seguida, a artéria mediana foi canulada utilizando-se um cateter 22G,
procedendo-se a perfusão vascular dos membros, com solução salina a 0,9% a e a
40°C de temperatura, para a limpeza do sistema arterial, retirando-se coágulos e
debris celulares. Posteriormente, prossegui-se com a aplicação de técnica
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DU PONT NEMAVES E Co.
Material e Método 55
angiográfica através da injeção de contraste iodado não-iônico Henetix 3504
(iobitridol) até o preenchimento de todo o leito vascular. Em cinco dos membros que
foram submetidos à avaliação radiográfica, utilizando-se projeções dorsopalmar e
latero-lateral, as quais permitiram a visualização da angioarquitetura local.
Após as primeiras avaliações, as peças foram fixadas em solução de
formalina a 10% por um período mínimo de 48 horas. Passado esse período, foram
lavadas em água corrente e submetidas à dissecação, que se caracterizou pela
individualização dos tendões e seus ventres musculares, bem como dos ligamentos
de maior contribuição para a região estudada. Foram realizados cortes longitudinais
da região distal dos membros torácicos desses animais, com vistas a auxiliar a
identificação os pontos de origem e inserção dos principais ligamentos e tendões em
asininos, bem como evidenciar a extensão de suas bolsas articulares.
Utilizando-se paquímetro de precisão 0,05 mm, foi realizada a mensuração
dos tendões do músculo flexor superficial dos dedos, músculo flexor profundo dos
dedos e tendão interósseo médio. As medições foram tomadas aferindo-se a largura
e espessura destes tendões em sete zonas pré-definidas, buscando calcular sua
área transversal, através do programa matemático WebCalc, e seguindo o protocolo
utilizado em eqüinos. Os achados foram anotados para a descrição dos resultados e
adequada avaliação estatística, onde se utilizou, t de student e a correlação linear de
Pearson. Algumas peças foram fotografadas para a devida documentação. Todos os
termos anatômicos empregados foram orientados segundo a Nômina Anatômica
Veterinária (NAV, 1994).
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