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Educação tecnológica: por que ela não é pertinente para a área da saúde.

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Academic year: 2017

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REFLEÃO

EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA: POR QUE ELA NÃO É PERTINENTE PARA

A ÁREA DA SAÚDE

TEC H N OLOG I CAL E D U CAT I O N : WHY IT I S N OT R E L EVANT TO T H E H EALTH F I ELD

E D U CAC I ÓN T E C N O L Ó G I CA : P O RQ U E NO E S P E RTI N E N T E EN EL CAM P O DE LA SAL U D

Maria Henriqueta Luce Kruse 1 Maria Natividade Gomes da Silva Teixeira Santana 2

RESUMO: São enfocadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de n ível Tecnológico e sua implementação na área da saúde, mais especificamente da enfermagem. O assunto é abordado a partir "de três tópicos, a saber: a contextualização da educação tecnológica, a fundamentação legal, e a formação dos recursos humanos para o SUS. Como conclusão, destaca-se que u m novo profissional fragmentaria, ainda mais, o trabalho na Enfermagem e que esta formação, voltada apenas para o trabalho, não atende ao estágio atual da assistência à saúde tendo em vista a complexidade dos problemas, os avanços do conhecimento, bem como o aumento da população.

PALAVRAS-CHAVE: educação profissional, recursos humanos para o SUS, educação em enfermagem

ABSTRACT: This study discusses the National Curriculum Policies for professional education in technology, and its implementation in the health field , more especifically in the nursing field. The matter is approached from three diferent topics: 1 ) the contextualization of technological education , 2) the legal rationale, 3) the creation of human resources for SUS (Public Health system). As a concl usion , the study points out that the nursing professional would have his/her work even more fragmented than it already is. According to the study, this kind of education does not meet the needs of assistance in the present days, considering the complexity of problems related to it , the advancement of knowledge, and population growth.

KEYWORDS: professional education , human resources for SUS, nursing education

RESUMEN: Trata el estudio de las Directrices Curriculares Nacionales para la Educación Profesional de nivel Tecnológico y la implementación en el campo de la salud. EI asunto está tratado a partir de tres tópicos: la contextualización de la educación tecnológica, la fundamentación legal y la formación de los recursos humanos para el SUS. Como conclusión, se advierte que un nuevo profesional fragmentaría, aún más el trabajo en Enfermería, cuya formación, dirigida apenas para el trabajo, no atiende el estagio actual de la asistencia a la sallud, si se tiene en cuenta la complejidad de los problemas, los avances de conocimientos y el aumento de la población.

PALABRAS CLAVE: educación profesional, recursos humanos para el SUS, educación en enfermería

Recebido em 03/06/2002 Aprovado em 1 6/08/2002

1 Enfermeira. M estre em E nfermagem . Doutoranda em Educação d o PPGED U/U FRGS. P rofessora Adj u nta da Escola de Enfermagem da U F RGS. D i retora de Ed u cação d a ABEn RS . Membro da Comissão Permanente de G rad uação da ABEn Nacional. 2 Enfermeira . Su plente d a P residente d a Associação B rasileira d e Enfermagem - ABEn -Gestão 200 1 -2004 , no Fórum d e Entidades Nacionais d o s Trabalhadores da Área d e Saúde -FENTAS. Conselheira Titu lar d o Conselho Nacional d e S a ú d e -C NS, representando o FENTAS. Mem bro da Com issão I ntersetorial d e Recu rsos H u m a nos para o S US/C N S . Mestre em Ed ucação pela U niversidade d e Brasíl ia-U n B . P rofessora substituta do Departamento d e E nfermagem - U n B .

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o Conselho Nacional de Educação (CNE) está elaborando e d iscutindo, em aud iências públicas, uma proposta de Resol u ção sobre D i retrizes C u rricu lares Nacionais para a Educação Profissional de nível Tecnológico. O objetivo destas diretrizes é criar cursos de graduação de nível tecnológico para várias áreas, inclusive para a área de enfermage m , i nserida na á rea 1 7 : S a ú d e . Os cursos propostos teriam a duração de 1 .600 a 2.400 horas, acrescida do tempo para os estágios curriculares, podendo os mesmos serem oferecidos e m i n stitu i ções d e ensino superior, orga nizados por eta pas o u m ó d u los, ou como cu rso seqüencial por campo do saber. Tam bém está previsto o aproveitamento de competências profissionais adq uiridas anteriormente até um limite de 50% da carga horária mínima do curso, a critério do estabelecimento de ensino. Quanto aos docentes devem possuir formação acadêmica exigida para a docência no n ível superior ou (grifo nosso) experiência profissional relevante na área do curso, sendo q ue, no pa rág rafo d esse a rti g o , é referido q u e a experiência profissional deverá ter importância preponderante sobre o requisito acadêmico. Ao final da proposta são caracterizadas 21 grandes áreas profissionais que, segundo o texto, "se encontram em revisão por especialistas especial mente convidados". Dentre estas se acha a área profissional 1 7, saúde, que está assim descrita :

C o m p re e n d e a s a ç õ e s i n t e g ra d a s d e p ro t e ç ã o e p reve n ç ã o , e d u ca ç ã o , r e c u p e ra ç ã o e rea b i l i t a ç ã o refe rentes à s n e c e s s i d a d e s i n d i v i d u a i s e coletiva s , visando a promoção d a s a ú d e , c o m base e m modelo q u e u l t ra p a s s e a ê n f a s e n a a s s i st ê n c i a m é d i co ­ hospitalar. A atenção e a assistência à saúde abrangem tod a s as d i m e n s õ e s do s e r h u m a n o - b i o l ó g i c a , p s i co l ó g i c a , s o c i a l , e s p i ri t u a l , e co l ó g i ca - e s ã o dese nvolvi d a s p o r m e i o d e ativi d a d e s d iversifica d a s , d entre as q uais: biodiag nóstico, e nfermagem, estética , farmáci a , n utrição, rad iolog ia e d iagnóstico por imagem em saúde, reabilitação, saúde bucal, saúde e segurança no trabalho, saúde visual e vigilância san itária. As ações i n t e g ra d a s d e s a ú d e s ã o r e a l i z a d a s e m estabelecimentos especificos d e assistência á s a ú d e , t a i s como posto s , c e n t ro s , h o s p i ta i s , l a b o ratórios e consu ltórios profissionais, e e m outros ambientes como d o m i c i l i o s , e s co l a s , c re c h e s , c e ntros co m u n itá r i o s , e m presas e d e m a i s l o c a i s d e t ra b a l h o ( M E C / C N E , Proposta d e D i retrizes C u rri c u l a res Nacionais para a ed u cação p rofissi o n a l d e n ivel tecno lóg i co ( B RAS I L , 2002 b ) .

Os representantes das entidades nacionais da área de saúde reunidos no fóru m específico - FENTAS3, a partir da publicação pelo CNE da proposta acima referida, iniciaram u ma ampla discussão sobre o assu nto. Solicitaram às entidades partici pantes q u e consolidassem p ropostas relacionadas ao tema e ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) que o pautasse junto à Comissão I ntersetorial de Recu rsos H u manos C I RH/C N S e ao Plenário para , na seqüência, deliberar e discutir o assunto com vistas a um posicionamento junto ao CNE. A partir de contribuições oriundas de um texto - base (KRUSE, 2002) e de documento encaminhado ao CNE (SANTANA, 200 1 ), por ocasião da

u ltima aud iência pública para d iscussão das diretrizes curriculares dos cu rsos de graduação da área de saúde e ainda dos dois debates, o primeiro com a representante da ABEn, professora Maria Henriqueta Luce Kruse, e o segundo com o Conselheiro do CNE, Professor Francisco Aparecido Cordão e ainda de contribuições do Conselho Federal de Serviço Social -CFESS, do Conselho Federal de Odontologia -CFO e do Conse l h o Federa l de Biologia, coube-nos sistematizar o assunto para servir de contribuição para este importante debate.

Nosso objetivo é fazer algumas considerações a respeito dessas diretrizes, principalmente no que concerne a s u a i m p l e m e n t a ç ã o na á re a da s a ú d e e, m a i s es pecifi c a m e n te n a d a e n fe rm a g e m . Desta fo rm a , pretendemos q u e seja mais u m subsidio para a discussão do assu nto que envolve todos os trabalhadores da saúde, a l é m d a categoria de e nfe rm a g e m . Para faci l itar a compreensão, dividi mos a abordagem em três tópicos. No pri me i ro , trata mos d a contextual ização da educação tecnológica , no seg u nd o tópico fazemos considerações acerca da fundamentação legal utilizada para a proposta e, no tercei ro, discutimos a formação dos recursos humanos para o SUS, na ótica do controle social .

CONTEXTUALIANDO

P a rt i n d o d o p r e s s u posto q u e o s m o d e l o s pedagógicos s e constituem historicamente, a partir das mudanças que ocorrem no mundo do trabalho e das relações sociais, faz-se necessário lançar um olhar sobre a educação para o trabalho e como ela vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos, q uando a formação dos trabalhadores e dos cidadãos se constituiu a partir de uma dualidade estrutural, com uma n ítida demarcação da trajetória educacional , entre aqueles que iriam desempenhar funções intelectuais e os q u e i ri a m d e s e m p e n h a r fu n ções i n stru menta i s . Esta dualidade prod uziu dois caminhos bem distintos, um para a formação dos dirigentes, cujo caminho é a versão acadêmica e p ro g re s s iva m e nte s e l etiva q u e co n d u z poucos à universidade, e outro para a formação de trabalhadores, com alternativas variadas, na maioria das vezes "aligeiradas". Esta pedagogia marca uma clara divisão de fronteiras, entre ações intelectuais e ações instru mentais, e determina funções a serem desenvolvidas pelos variados atores sociais. Desta forma, a dualidade estrutural que parecia estar vencida pelas propostas governamentais que vigoraram a partir de 1 96 1 , foi novamente reposta pelo decreto 2.208/97(KUENZER, 1 999).

A discussão sobre a formação mais rápida e voltada para o atendimento de necessidades do mercado de trabalho remete à discussão sobre cursos seqüenciais, ocorrida recentemente, quando observamos os riscos de se pensar a educação de um país exclusivamente a partir do sistema prod utivo e da relação l inear entre formação, demandas sociais e novas tecnolog ias. Esta visão economicista , atualmente reinante na educação , tem no mercado de trabalho o seu referente principal em relação às opções

3 Fóru m d e Entidades N acionais dos Trabalhadores d a Área d e Saúde - F E N TAS.

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Educação tecnológica: por que .. .

públicas e privadas d e investimento educacional. Antes, a educação era vista como fator de desenvolvimento. Agora, se trata de considerá-Ia como fator de competência, com vistas à atuação em um mercado competitivo, com pouca ou limitad íssima expansão. Nesse contexto, o desafio vem da proposição de uma "formação" para competir em u m mercado d e trabalho cada vez mais restrito. Trata-se não só de uma flexibilização da oferta de cursos, mas de uma flexibilização da educação superior. De fato, antes da defesa do acesso amplo à ed ucação superior, o que está em causa parece ser a possibilidade de difundir para o interior da educação superior, as relações de livre mercado, o que bem poderia produzir uma ainda maior liberalização dos mercados educacionais, tão em voga em nosso país atual mente (KRUSE, 2000).

O futuro da educação superior e, em conseqüência, da sua legitimidade está em contribuir na formação humana, profissional e tecnológica das atuais e futuras gerações: tratando, portanto, de não colaborar na formação dos já chamados "deficientes cívicos" que recebem uma instrução que se constituirá em um ganha-pão em sua l uta pela sobrevivênci a . Seg u n d o j u stifica K u e nzer ( 1 9 9 9 ) , a su bstituição de um modelo de educação tecnológica média por cursos pós-médios e básicos traz várias armadilhas. A primeira delas é a constatação de que não se faz formação profissional competente, em face das novas demandas do mu ndo do trabalho, a não ser sobre sól idas bases de ed ucação gera l , o q u e não ocorre no país. Outra é a configuração de uma estratégia elitista e contendora dos anseios de continuidade ao ensino superior; portanto orgânico às atuais pol íticas educacionais determinadas pela redução dos empregos formais e dos fundos públicos, na lógica da racionalidade financeira, de só financiar com recursos públicos o que tem retorno. Além disso, a mesma autora relata dados de pesquisa realizada na região metropolitana de Curitíba, onde está demonstrado que estes cursos não garantem empregabilidade, uma vez que o mercado de trabalho, devido à alta seletividade, já determina a sua exclusão, mesmo dentro da escola. Em relação aos alunos que se matriculam nestes cu rsos, 25% são oriundos do ensino médio daquela região, sendo que 50% dos matriculados abandonam os c u rsos nas fa ses i n i ci a i s , por não v i s l u m brare m a possibilidade de conseguirem ocupação. Além do equ ívoco de imaginar que um curso rápido de formação profissional, sem escolaridade básica competente, resolve o problema da inserção do trabalhador no mundo do trabalho, esta proposta cria a falsa idéia de que escolarização resolve o problema do emprego, de q u e por meio da educação resolveremos o problema do emprego, num país onde postos d e tra b a l h o são escassos . D e ste ponto d e vi sta , a empregabilidade que deve ser o resultado da ação do Estado é transferida para o i n d ivíd u o , o q u e determ ina uma competitividade ainda maior pelos postos de trabalho.

O p rocesso de t ra b a l h o em s a ú d e p o s s u i características peculiares. A maioria dos trabalhadores que nele atuam são profissionais com o ensino e o exercício profissional regulamentado por lei. Além disso, o Sistema Único de Saúde (SUS), cuja gestão é do Estado,

constitui-se no grande empregador, constitui-seja direta ou indiretamente, como comprador das ações e serviços prestados por instituições privadas, cabendo - lhe por determinação legal a ordenação da formação dos seus recursos humanos, assunto que aprofundaremos mais adiante. A Comissão Intersetorial de Recursos H umanos para o SUS, do Conselho Nacional de Saúde, na q ualidade de assessora do Plenário, deve apresentar estudos de novas necessidades ocupacionais ou profissionais para o S U S , considerando as mudanças estruturais e tecnológicas que vêem ocorrendo no mundo do trabalho, considerando as necessidades dos usuários do Sistema e os princípios de u niversalidade, equidade, e integralidade das ações de saúde.

DISCUTINDO A FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

O principal argumento legal para fundamentar a educação tecnológica não está na Lei de Oiretrizes e Bases da Educação Nacional - LOB (n.9394/96), está no Decreto Federal n.2.208/97, quando, ao definir os níveis da educação profissional , a saber, básico, técnico e tecnológico enfatiza que este n ível "corresponde a cursos de n ível superior na área tecnológica , destinados a egressos do ensino médio e técnico" (art. 3°, alínea I I I). Este decreto também trata de incluir a educação tecnológica na educação superior (art. 1 O), contrariando o art. 44 da LOB n.93 94/96, que estabelece como cursos integrantes da educação superior apenas os cursos seqüenciais de graduação, de pós-graduação e de extensão, não fazendo, pois, menção neste nível de educaão aos cu rsos tecnológícos.

Gostaríamos, aqui, de fazer um questionamento a respeito da pertinência , ou não, do decreto em tela ter a possibil idade legal d e , ao reg u l amentar os artigos da Educação Profissional constantes dos art. 36 e 39 a 42, da LOB, criar uma nova modalidade de educação superior, a educação tecnológica. Pensamos que o decreto não possui tal prerrogativa sendo, neste aspecto, questionável a sua constitucionalidade.

Em relação às finalidades da educação tecnológica e da educação s u perior4 entendeu-se também que as mesmas não apresentam uma correspondência chegando, inclusive, a serem contraditórias. Senão, vejamos o que está estabelecido em relação à educação profissional :

Ar!. 2° - A e d u cação profissional de n ivel tecnológico, i ntegrada às diferentes formas de educação, ao traba lho,

à ciência e à tecnologia, objetiva garantir ao cidadão o d i reito ao permanente desenvolvimento de competências pa ra a vida socia l e prod utiva .

Quanto às finalidades enunciadas para a educação superior, os aspectos de abrangência e de densidade apresentam-se bem mais amplos. Basta o exemplo de duas destas finalidades para se depreender que uma formação rápida e menos densa , ao estilo que se propõe, não irá propiciar ao educando as possibilidades previstas nos itens a seguir:

I - esti m u l a r a criação cultura l e o desenvolvi mento do espírito científico e d o pensamento reflexivo;

4 Previstas, respectiva mente, no a r!. 43 da LOB e no d ecreto 2208/97.

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I I I - i n centivar o tra b a l ho d e pesq u i sa e i nvestigação científica, visa ndo ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e d a criação e d ifusão d a cu ltura , e , d esse modo , desenvolver o ente n d i mento do homem e do meio em que vive ;

Relacionamos, a seguir, os demais itens do Art. 43 que tratam das finalidades da educação superior, também, a nosso ver, não contempladas nos pressupostos da proposta de diretrizes para a educação tecnológica:

I I - fo rm a r d i p l o m a d o s n a s d i fe re n t e s á re a s d e co n h e c i m e n t o , a pt o s p a ra a i n s e rç ã o e m s e t o r e s profissionais e para a partici pação no desenvolvimento da sociedade b ra s i l e i ra , e cola borar na s u a formação contí n u a ;

IV - promover a d ivu lgação d e conhecimentos culturais, cient íficos e técn i co s q u e constit u e m patri m ó n i o da h u manidade e com u n icar o saber através do ensino, d e publicações ou d e outras formas d e com u n icação;

V - su scitar o desejo perm a n ente d e aperfeiçoa mento cu ltural e profi s s i o n a l e possi b i l itar a corresponde nte concretiza ção, i nteg ra n d o os co n h eci m e ntos que vão s e n d o a d q u i ri d o s n u m a e s t ru t u ra i n t e l e ct u a l sistematizadora d o conhecimento d e cada geração;

VI - esti m u l a r o con heci mento dos problemas do m u ndo presente, em particu lar os nacionais e regionais, prestar serviços especi a l izados á co m u n id a d e e esta bel ecer com esta u m a relação d e reciprocidade;

V I I - promover a exte n s ã o , a b e rta á partici pação da p o p u l a ç ã o , v i s a n d o á d i f u s ã o d a s co n q u i s t a s e benefícios resu lta ntes d a criação cultu ra l e da pesq u isa científica e tecnológica geradas na i n stitu ição.

Ao analisarmos estas finalidades, concl u ímos que dificilmente um curso superior, por si só, propiciará ao aluno o desenvolvimento das competências acima relacionadas. Desta forma, entend e-se que o pressu posto maior da educação superior é o aprofundamento dos conhecimentos, de forma a possibilitar ao cidadão a intevenção e modificação da realidade social , por meio de comportamento crítico­ relexivo, cientificamente e socialmente fundamentado e não, apenas, o desenvolvimento de competências que privilegiem a laboralidade.

DISCUTINDO A FORMAÇÃO DE RECU RSOS HUMANOS PARA O SUS

o planejamento e a implementação das pol íticas de formação de recursos h umanos em saúde deve incluir refl exões acerca d a s pol iticas p ú bl icas d e e d u cação, em termos gerais, e estar inseridas nas pol íticas de gestão do SUS, no contexto maior das pol íticas públicas de emprego e renda e no processo de trabalho em saúde. Os mesmos estão d i reta mente s u bo rd i nados à conj u ntura sócio­ econõmica do país. Assim , ao nos ocuparmos deste tema precisamos considerar as transformações ocorridas no mundo do trabalho, como a mundialização do capital, bem como as diferentes realidades geográficas e ambientais, culturais, epidemiológicas, e o utras que i nfluenciam o processo de viver e ser saudável.

. Dadas às pecu l iaridades e especificidades que diferenciam o processo de trabalho em saúde dos processos

de trabalho em outros setores e a urgente necessidade de transformação do modelo de assistência, a formação deve ser planejada para atender às necessidades dos usuários do SUS. Esta relexão é necessária para que se compreenda a formação no conju nto das políticas governamentais e do ponto de vista histórico e ideológico, assim como a sua inserção na realidade do processo de prod ução de bens e de serviços, considerado o modelo de gestão de estado neoliberal e a intencionalidade do conjunto de suas políticas. Porta nto , identifica r as necessidades de formação d e recursos humanos para o SUS pressupõe preliminares que situem esses aspectos no modelo de atenção à saúde vigente e a necessidade de transformação desse modelo, com vistas à implementação do SUS, segundo os princípios constitucionais básicos de u niversalidade, eqü idade e integralidade das ações de saúde.

As autoridades gestoras do SUS e as autoridades responsáveis pela direção do sistema educacional não conseguiram, ainda, elaborar articuladamente propostas que cum pram os d ispositivos constitucionais, com vistas à formação dos trabalhadores para atuarem no SUS, de forma a atender as necessidades requeridas pelos usuários do sistema. Pensamos que as lacunas existentes podem estar associadas a esta falta de entrosamento que impede a ambos de incorporarem necessidades mútuas, que inegavelmente trariam avanços ao processo de formação e de trabalho em saúde.

A especificidade da formação de recursos humanos para o setor saúde é conhecida e regulamentada a partir da Constituição de 1 988, que determina: "Ao Sistema Único de Saúde, além de o utras atribuições nos termos da lei , compete: Ordenar a formação de Recursos Humanos para a Saúde" (art. 200, inciso I I I).

Ainda, a lei Orgânica da Saúde, preconiza como objetivos e atribuições do Sistema Único de Saúde:

Art. 6 , I n ciso I I I - a ordenação d e formação de recu rsos hu manos na á rea de saúde;

Art. 15 - A U n ião, os Estados, o Distrito Federal e os M u n icípios exercerão e m seu â m bito a d m i n istrativo as s e g u i n t e s a t r i b u i çõ e s ; i n c i s o IX - P a rt i c i p a ç ã o n a form u lação e n a execução da pol ítica d e formação e d esenvolvi m ento d e recu rsos h u manos para a saúde;

Art. 16 -Á d i reção do Sistema Único d e Saúde - SUS compete: I nciso I X - promover a a rti cul ação com os órgãos e d u ca c i o n a i s e de fiscal ização d o exerc í c i o p rofi ss i o na l , b e m c o m o e n t i d a d e s re prese ntativas d e formação d e recu rsos h u ma nos na área d e sa úde;

Art. 27 - A pol itica d e recu rsos h u manos na área de saúde será form a l izada e executa d a , a rticulad amente, pelas d i ferentes esfe ra s d o gove r n o , e m c u m p ri m e nto dos seg u intes o bjetivos: I n ciso I : organização d e u m sistema d e formação d e recu rsos h u m anos em todos os n íveis d e ensino, inclusive de pós-g ra d uação, d e permanente aperfe i çoa m ento de pessoal .

Os usuários do SUS têm q uestionado a respeito da necessidade do Estado, (que não conseguiu, ainda, resolver os problemas de saúde da população) intervir de maneira eficaz, por meio de pol íticas públicas que sejam capazes de traçar diretrizes para a formação de profissionais com uma outra visão do q u e sej a saúde e d e q u a i s sejam as

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Educação tecnológica: por que .. .

necessidades dos usuários, para atuarem dentro d e novos parad igmas com d iferentes com petências, além d a s trad icionais e requeridas competências técnicas.

No relatório da 11 a Conferência Nacional de Saúde

consta a seguinte avaliação:

A ed ucação na á rea de sa úde n u nca foi tão enfatizada; não se trata mais de formar profissionais, apenas tecnicamente competentes, mas profissionais que tenham vivido e refletido sobre o acesso universal, a q ualidade e humanização na atenção à saúde, com controle social . Os participantes da 1 1 a CNS entendem que a formação dos

profissionais não está orientada, hoje, para o atend imento da população usuária do SUS. Há deficiência técnica e ética na formação do profissional que chega ao serviço, que precisa ser mais bem preparado quanto à humanização. O Ministério da Educação precisa adequar o currículo das escolas de profissionais de saúde, incluindo como prioridade a ações de atenção básica (CNS, 2000, p. 46).

Já em 1 996, os participantes da 1 0a Conferência Nacional de Saúde ( B RAS I L , 1 996), recon hecendo os problemas que afetam a gestão de recursos humanos no âmbito do SUS, determinaram ao Ministério da Saúde, e ao Conselho Nacional de Saúde a elaboração de uma Norma Operacional Básica5 de Recursos H u manos que pudesse instrumentalizar os gestor?�, trabalhadores, formadores e usuários para o trato adequado com as questões relativas ao processo de trabalho e aos trabalhadores do SUS. Deste modo, os principios e diretrizes gerais da NOB (BRAS I L , 2002a) referem-se ao desenvolvi mento do trabalhador contemplando a sua formação e abrangendo aspectos relacionados desde a educação fundamental, à educação profissional de nível técnico, à graduação, pós-graduação, até a ed ucação perm a n e nte, e n foca n d o i n c l u s ive a competência dos gestores nas três esferas de gestão de governo em educação e saúde, ousando inclusive a dar sugestões para o Ministério da Educação e Conselho Nacional de Educação, as quais espera - se pactuar com vistas ao seu acatamento,

Os principais pontos constantes do documento das D i ret rizes p a ra a N O B/ R H /S U S , co m o p ro p o st a s relacionadas à formação d o s profissionais para atuarem n a área de saúde dizem respeito a :

1 . Interlocução sistemática, entre a s áreas d e saúde e educação nas três esferas de Governo, por meio dos M i n i stérios da Saúde e E d u cação e suas i n stâncias

descentra l izadas; d o s Conselhos d e S a ú d e e do Conselho

Nacional de Educação e respectivos órgãos descentralizados nas demais esferas de Governo (Estados e Municípios)

2. Acatamento, por parte dos órgãos responsáveis pela educação, das propostas oriundas das instâncias deliberativas do SUS, respectivamente: Conferência Nacional de Saúde, Conselho Nacional de Saúde (que representam a sociedade civil o rg a n izad a , u s u á rios, tra b a l hadores , gestores, formadores e Ministério Público) e do Ministério da Saúde, gestor federal do SUS.

3. Adequação das diretrizes curriculares com vistas à transformação do atu al modelo de atenção à saúde (centrado na doença, no hospital, na medicalização, na figura do profissional médico) num modelo de atenção que privilegie a prevenção de doenças, o cuidado com a saúde e que respeite as prioridades expressas pelo perfil epidemiológico da população, q u e contemple as d iferenças regionais g e o g ráficas e cu l t u ra i s , q u e respe ite os p ri n c í pios constitucionais e legais de u niversalidade, integralidade, paticipação, resolutividade, entre outros; e que principalmente privilegie a humanização do atendimento ao usuário, o acesso igualitário e a q ualidade da assistência prestada, bem como as ações básicas de saúde e a saúde da família como estratégias estrutu rantes para a transformação do modelo.

4. Interdisciplinaridade, trabalho em equipe, ética e respeito às necessidades do usuário, tanto individual como coletivamente, como princípios basilares para a formação do trabalhador.

5 . I m plementação de pol ítica para capacitação docente orientada para o SUS, visando a formação de gestores capazes de romper com os atuais paradigmas de g e s tã o , e g a ra n t i a d e re cu rsos necessários a o desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão.

PROPOSTAS PARA CONCLUIR A DISCUSSÃO

As d i retri z e s c u rri c u l a re s p a ra a fo rmação tecnológica, se aprovadas, levariam a inclusão de mais um/ a profissional na equipe de enfermagem, a/o tecnólogo/a , com uma formação mais rápida do que a da/o enfermei ra/o e com atri buições diversas daquelas da/o técnica/o de enfermagem e da/o enfermeira/o, o que acarretaria uma fragmentação das atividades de enfermagem, uma vez que, para que sua existência fosse j u stificada, lhe seriam atribu ídas outras competências. Ao contrário, a discussão nos órgãos de classe tem sido sempre no sentido de diminuir a fragmentação, uma vez que a enfermagem já tem uma divisão técnica expressiva que dificulta , muitas vezes, a organização do trabalho assistencial. Em relação a esse assunto, entendemos que o aproveitamento de estudos, por parte dos profissionais de enfermagem que já se encontram no mercado de trabalho, possibilitaria outros itinerários de formação, mantendo o nível superior com um só profissional , a/o bacharel enfermeira/o.

P o r o u tro l a d o , co n s i d e ra n d o o a v a n ço d o s

conhecimentos em saúde, o aumento da população e a ampl iação d a com plexidade dos p roblemas, torna-se

necessária uma intervenção cada vez mais diferenciada e

com petente , principalmente em relação aos recu rsos humanos em saúde. Assim, entendemos que em face da complexidade e especificidade do trabalho em saúde, busca­ se um trabalhador com formação superior em bases sólidas,

tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista

humanista, o que não nos parece possível nesta proposta

5 N O B : e n t e n d e-se p o r N o rm a O p e ra c i o n a l B á s i c a , d o ravante d e n o m i n a d a N O B , o i n stru m e n to normativo d e operacionalização dos p receitos d a legislação q u e rege o Sistema Único d e Saúde ( S U S ) . Até o momento, foram ed itadas a s NOB de 1 99 1 , 1 993 e 1 996, e 2000, sendo que N O B d e recu rsos h u manos está sendo objeto d e normatização, a partir das di retrizes aprovadas na 1 1 a Conferência de Nacional d e Saúde e homologadas pelo Conselho Nacional d e Saúde.

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de formação a penas voltad a p a ra o trabalho. Ass i m , pensamos q u e a s diretrizes do tecnólogo, ora propostas, poderiam ser adequadas a outras áreas, mas não nos parecem aplicáveis à área da saúde.

REFERÊNCIAS

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