• Nenhum resultado encontrado

ASSISTÊNCIA PRIMÁRIA E PREVENÇÃO DA DOENÇA - EXPERIÊNCIA EM UMA COMUNIDADE NORDESTINA.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "ASSISTÊNCIA PRIMÁRIA E PREVENÇÃO DA DOENÇA - EXPERIÊNCIA EM UMA COMUNIDADE NORDESTINA."

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

ReBEn, 33 : 495-507, -1980

P A G I N A D O E S T U D A N T E

ASS I ST Ê N C IA P R IMÁRIA E P R EVE NÇÃO DA DO E N ÇA

EXPER I Ê N C IA EM U MA COM U N I DA D E N O R D ESTI NA

Egberto Leinhardt Montarroyos Júnior

Cesar Cavalcanti da Silva

Dione Paiva de Sousa

Rej ane Santa de Oliveira

ReBEn / 12

MONTARROYOS JÚNIOR, E.L. - Assistência primária e prevenção da doença. Experiên ­ cia em uma comunidade nordestina. Rev. Bras. Enf. ; DF, 33 : 495-507, 1980.

ITRODUÇAO

A marcante desigualdade que existe no nível de saúde dos povos, provocada por fatores condicionantes dos mais va­ riados e caracterizado de modo peculiar em cada sociedade, faz com que o Go­ verno, as organizações internacionais e a comunidade mundial tenham como preocupação primordial metas em suas políticas de saúde como atividades de planej amento e execução de ações de saúde que visem a um melhor padrão de higidez. Em qualquer comunidade, prin­ cipalmente nas de baixo poder aquisi­ tivo e de classe social média baixa, constituem e requerem atenção maior dos interessados na saúde da população, como também, na nossa compreensão,

o problema situa-se no âmbito da pró­ pria comunidade em busca de resolu­ ções de seus problemas, tornando-a res·· ponsável, no que diz respeito à melho­ ria de suas condições sócio-cultural, econômica e sanitária. A assistência primária de saúde é o ponto básico de partida para que sej a alcançada maior assistência de cobertura às populações, a fim de que atinj amos a meta pro­ posta na IV Conferência Nacional de Saúde.

A assistência primária, no nosso entendimento, baseia-se em cuidados essenciais de saúde calcados em méto­ dos e técnicas práticos com fundamen­ tos científicos, de modo que os serviços desenvolvidos sej am acessíveis ao indi­ víduo, família e comunidade, mediante

(2)

MONTARROYOS JúNIOR, E.L. - Assistência primária e prevenção da doença. Experiên­ cia em uma comunidade nordestina. Rev. Bras. Enr. ; DF, 33 : 495-507, 1980.

uma conscientização da situação real, de seu potencial de auto-suficiência e autoconfiança, num processo de auto­ transformação dos indivíduos em fun­ ção de suas próprias necessidades e da coletividade, contribuindo para o desen­ volvimento da sociedade em que vivem, proporcionando o bem-estar geral.

Hoj e, mais do que em qualquer ou­ tra época, a Assistência Primária e a Prevenção das doenças na comunida­ de são atividades prioritárias e reco­ mendadas por todos os organismos na­ cionais e internacionais e todos as ins­ tituições de saúde, que assumem um compromisso com a sociedade no to­ cante a esse aspecto. A ação do pro­ fissional enfermeiro é de grande re­ levância dentro desse importante pro­ cesso, haj a visto que se posiciona como líder de sua equipe, considerando sua responsabilidade de prestar toda assis­ tência ao indivíduo, família e comuni­ dade, prevenindo as doenças, j á que a vida e a saúde situam-se entre os bens supremos do homem.

Nós, discentes de Enfermagem, preo­ cupados com a problematização de saú­ de existente nas comunidades nordes­ tinas e sentindo que a saúde não é um fator que deverá ser visto isoladamente, procuramos realizar um trabalho sim­ ples, porém substancioso e significativo que envolvesse uma equipe multipro­ fissional em formação, pela oportuni­ dade que nos é dada a realizar nesse estágio, no qual atualmente nos defron­ tamos como estudantes universitários, o qual nos propomos a divulgá-lo no XXXII CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM.

O trabalho em lide tem como obj e­ tivo oferecer subsídios para uma im­ plantação sistematizada da Assistência Primária e da Prevenção das Doenças na Comunidade, tomando como base uma pequena comunidade rural

nordes-tina,

j á

que suas necessidades são Idên­ ticas às coletividades periféricas e mar­ ginais das áreas urbanas, suburbanas e rurais.

Relatamos uma situação atual, onde procuramos levar em conta as condições sócio-econômicas e características cul­ turais e sanitárias, ao mesmo tempo que enfatizamos estratégias e perspec­ tivas para implantar a assistência cura­ tiva ou preventiva, pretendendo, assim, contribuir na medida em que o plano assistencial for executado, para eleva­ ção, conseqüentemente, do nível de saú­ de da comunidade trabalhada.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

Considerando a saúde como um di­ reito fundamental do homem, basean­ do-se na "Declaração Universal dos Di­ reitos Humanos", aprovada em 1948 pe­ la CNU, que no artigo 25 z : "Toda pessoa tem direio a um nível de vida adequado que lhe assegure, assim como à sua família, a saúde e o bem-estar, em especiai a alimentação, o vestuário, a habitação, a assistência médica e os serviços sociais necessários ; tem ainda direito aos seguros em caso de desem­ prego, doença, invalidez, viuvez e outros casos de perda de seus meios de sub­ sistência por circunstâncias indepen­ dentes de sua vontade. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e

assistência especiais ; todas as crianças

nascidas do casamento ou fora do casa­ mento têm direito a igual proteção so­ cial" 1 .

Na XXIII Assembléia Mundial de Saúde, realizada em 1970, em Alma Ata (URSS) , foi declarado que a saúde é um direito fundamental do homem ; em conseqüênCia foi àprovada na mesma Assembléia uma resolução com obj etivo de, a longo prazo, a OS "alcançar pa­ ra todos os povos o grau mais alto pos­ sível de, saúde", e aponta como

(3)

MONrRROYOS

úNI�R,

E.L. - Assistência primária e prevenção da doença. xperiên­ CIa em uma comudade nordestina. Rev. Bras. Enf.; DF, 33 : 495-507, 1980.

ção, o estabelecimento de sistemas na" cionais de saúde com a devida eficácia em todos os países" 2.

Partindo dessas premissas, vários paíse's, como Canadá, Colômbia, Vene­ zuela, países da América Central e Bra­ sil, j á realizaram experiências demons­ trando uma estratégia atualmente bas­ tante utilizada para a melhoria dos ní­ veis de saúde de suas comunidades, que tem sido o de desenvolver ações pri­ márias de saúde, visando à al>lia­ ção de cobertura em larga escala na maioria da população, sendo utilizada tecnologia simplificada, viável pelo pes­ soal auxiliar de diversas áreas de saú­ de, contando com orientação e super­ visão de profissionais multissetoriais.

Há alguns anos, no Brasil, várias medidas vêm sendo adotadas visando modificação do quadro nosológico, qua­ dro este que se altera um pouco de região para região, porém apresentam sempre os mesmos problemas, já que so­ frem inexistência ou deficiência de con­ dições urbanísticas como : ausência de casas de alvenaria, de áreas calçadas, drenagem de água pluvial, luz elétrica, abastecimento público de água e esgo­ tos, sanitários domiciliares para desti­ no dos dej etos. Diante desse quadro, o Ministério da Saúde, através, da Fun­ dação SESP e em colaboração com as Secretarias de Saúde dos Estados, estão desenvolvendo vastos proj etos de inte­ riorização de ações de saúde, por exem­ plo : Monte Claro (RN) , Caruaru e Vi­ tória (PE) . Não poderíamos omitir co­ mo órgão do sistema de saúde o ,PIASS - Programa de Interiorização de Ações de Saúde e Saneamento, que tem como obj etivo congregar esforços no sentido de melhorar as estruturas sanitárias das regiões carentes da população de baixa renda familiar, situadas em zonas rurais, conclamando a comunidade a participar efetivamente das ações de saúde; o POLONORDESE -

progra-ma de Desenvolvimento de Areas Inte­ gradas do Nordeste, que tem como obj e­ tivo elevar o nível de saúde da popula­ ção, melhorando o seu bem-estar, am­ pliando sua capacidade produtiva e au­ mentando o consumo próprio da região. Desenvolvido pelas Secretarias de Saú­ de dos Estados e pela EMATER � Em­ presa de Assistência Técnica de Exten­ são Rural - em seus diversos níveis técnicos-administrativos estadual, re­ gional e local. E como órgão de apoio técnico-financeiro, contamos na região nordeste com a SUDENE, que visa ao bem-estar da comunidade e o desen­ volvimento de recursos humanos. Po­ demos citar, também, o INAN - Insti­ tuto Nacional de Alimentação e Nutri­ ção, criado com a aprovação do PRONAN - Programa Nacional de Alimentação e Nutrição, cuj a finalidade é viabilizar os programas de alimentação e nutrição, para proteção do grupo Materno-Infan­ til. Entre outros órgãos encarregados da assistência, o

p

apel do SINP AS - Sis­ tema Nacional de Previdência e Assis­ tência Social, que engloba os seviços do INPS - Instituto Nacional de Pre­ vidênCia Social ; LBA - Legião Brasi­ leira de Assistência ; FUNABEM - Fun­ dação Nacional do Bem-star ao Me­ nor ; DATAPREV - Empresa 'de Pro­ cessamento de Dados da Previdência e Assistência Social; lAPAS - Instituto de Administração Financeira da Pre­ vidência e Assistência Social. Vale sa­ lientar que o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural - PRORL, cuj a gestão estava entregue ao UN­ RURAL" também foi incorporado ao SINP,S'

Mar�os Conceituais de Assistência Primária

Cuidados primários de saúde so os cuidados essenciais baseados em méto­ dos práticos, cientificamente bem

(4)

MONTARROYOS JÚNIOR. E.L. - Assistência prmária e prevenção da doença. Experiên­ cia em uma comunidade nordestina. Rev. Bras. _Enf. ; DF. 33 : 495-507. 1980.

damentados e socialmente aceitáveis e em tecnologia de acesso universal para os indivíduos e suas famílias na comu­ nidade

;

e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento. dentro do es­ pírito de autoconfiança e autodetermi­ nação. 8

Assistência primária de saúde é o conj unto de ações que se põe ao alcance do indivíduo. família e comunidade para satisfazer suas necessidades básicas de saúde. tanto em aspectos de promoção e conservação da mesma. como preven­ ção e recuperação da enfermidade.

4

A assistência primária de saúde é uma estratégia para expansão da co­ bertura dos serviços de saúde. consiste na conj ugação de atividades destnadas ao atendimento das necessidades bá­ sicas das comunidades no que se refere à saúde. ssim é parte de uma família que reúne no âmbito da comunidade e em função de suas características só­ cio-econômica e cultural. os elementos necessários para produzir considerávei impaco na saúde e no bem-estar de seus membros. I

Diante do acurado estudo sobre os conceitos de assistência primária. po­ demos chegar ao entendimento que se­ j am ações pouco complexas mais efe­ tivas ou um conj unto de estratégias para a expansão da cobertura dos ser­ viços de saúde. que se coloca à dispo­ sição do indivíduo. família e comuni­ dade. para promover. fomentar. pre­ venir e repará-la. Consiste na sua con­ j unção de atividades destinadas ao aten­ dimento das necessidades básicas das comunidades no que se refere à saúde. Consideram-se as peculiaridades e carac­ terísticas sócio-econômIca-cultural e sa­ nitárias . � o meio. através do qual se facilita o acesso do usuário à assistên­ cia em níveis de complexidades

dife-rentes com relação à assistência dos serviços prestados e aos custos, enfo­ cando relevada importância da parti­ Cipação comunitária forma integral, organizada. levando, assim, a autocon­ fiança com que indivíduos. família e

comunidade devem assumir a respon­ saUdade por sua própria saúde.

A natureza multiprofissional para o desenvolvimento da saúde reconhece a comunidade como um fator funda­ mental para a extensão de cobertura dos seus serviços de prevenção das do­ enças na comunidade. A comunidade passa a" se constituir de habItantes fí­ sicos ou provenientes de fluxos imigra­ tórios com uma organização que diverge de uma parte para outra no que toca às características sócio-econômica-cul­ tural e sanitárias com problemas. inte­ resses e aspirações comuns entre as quais incluiria a saúde. A cobertura de um determinado serviço a uma comu­ nidade tem por finalidade um processo de autotransformação de seus inte­ grantes ; provocando "feed-back", de­ monstrado pelo desencadeamento do processo de desenvolvimento em todas as suas amplitudes. bem como a parti­ cipação ativa, consciente. responsável. delierada. organizada e contínua de todos os participantes da comunidade. A assistência primária deve ser pla­ nej ada. levando em conta a acessibili­ dade geográfica. financeira. cultural e funcional. observando a sistematização e execução de ações baseada nas ne­ cessidades dos indivíduos. familia ou mesmo a comunidade ; neste contexto a participação da comunidade tem re­ levada importância para obtenção de melhor cobertura.

Para desenvolver-se a cobertura em uma determinada área deve-se levar em conta alguns requisitos básicos, como : a) levantamento da comunidade

abran-3 . Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde. Alma Ata. URSS. 1978. 4 . SOBREIRA, N. R. S. - Marco Conceitual de Saúde Comunitária. Rev. Bras. Enr. DF.

32 :369-374. 1979.

(5)

MONTARROYOS JúNIOR, E.L. - Assistência primária e prevenção da doena. xperiên­

cia em uma comunidade nordestina .. Rev. Bras, Enf. ; DF, 33 : 495-507, 1980.

gendo os aspectos fisiográfico, demo­ gráfico, sociológico, econômico e cultu­ ral para detectar suas necessidades prio­ ritárias ; b) identificar o índice de afec­ ções provenientes de falta de infra­ estrutura condizente para uma boa saú­ de ; c) em conseqüência do que já foi observado, podemos estruturar ações de assistência primária, estabeleendo me­ tas e diretrizes visando ao preparo adequado dos profissionais destinados a prestar tal serviço.

O desenvolvimento de estratégia e a formulação de um programa de assis­ tência primária devem estar ligados aos problemas de saúde, oferecendo serviços de romoção, prevenção, cura e reabili­ tação a partir de evoluções dos valores sociais e econômicos. Os meios comu­ mente usados para a cobertura de um programa de tal natureza prevêem : "Promoção da nutrição apropriada e adequada provisão de água de boa quali­ dade, saneamento básico, assistência ao grupo materno-infantil, incluindo pla­ nej amento familiar, imunização contra as principais doenças infecciosas, pre­ venção e controle de doenças endêmi­ cas, educação no tocante a problemas de saúde e aos métodos para sua pre­ venção e controle e o tratamento apro­ priado de doenças e lesões comuns" . Orie tação da população sobre aspectos de saúde, visitas doiciliares, prestação de primeiros socorros, oientação e con­ trole de parteiras leigas, coletas e re­ gistro de dados bio-estatístico.

A prestação de serviços dentro da assistência primária apresenta resulta­ dos satisfatórios. Para isso tornam-se in­ dispensáveis as atividades destinadas ao atendimento das necessidades básicas e assim obtenção de melhores níveis de saúde do indivíduo, família e comuni­ dade.

Visão da Enfermagem

A sociedade brasileira hodierna se caracteriza como uma sociedade em

transição, refletindo de maneira consi­ derável, em diversos setores, inclusiv

e

no setor de saúde. Como na maioria dos países, os recursos educacionais de­ senvolvem-se de maneira desordenada, trazendo sérias conseqüências às diver­ sas profissões que nascem empirica­ mente, e a Enfermagem ão foi uma exceção.

Relacionada, desde os primórdios da civilização brasileira, como uma profis­ são que se prendia aos cuidados de en­ fermos, tendo galgadO seus períodos críticos ; porém, quanto à atual política de saúde, tem desempenhado um papel relevante na saúde de comunidade. Po­ demos inferir que os bons serviços de saúde prestados pelas Unidades Sani­ tárias decorrem, principalmente, pela enfermagem. O enfermeiro é responsá­ vel pelo planej amento assistencial à

comunidade, como também pelo de­ senvolvimento dos recursos humanos atuantes de Enfermagem .

DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA

Caracterização da Comunidade Trabalhadora

No diagnóstico da comunidade em análise levamos em conta o índice de mortalidade, condições sociais, econô­ micas e sanitárias, enfocando os aspec­ tos a seguir :

Aspecto isiográfico - A área tra­ balhadora constitui 9 km2 circundados pelas comunidades dos lugarej os de Mangabeira, Praia Jacarapé e Timbó, todas localizadas na periferia da Gran­ de João Pessoa. Seu relevo é caracte­ rizado com vasta planície e terrenos arenos, possuindo áreas férteis ba­ nhadas pelos ios Nossa Senhora da Pe­ nha, Timbó, Riacho do Cabelo e La­ ranj eiras. Vegetação rasteira de peque­ no porte, com presença de roçados des­ tinados a uso próprio.

Aspectos Demográfico e Sócio-Eco­ nômico - Com uma população de

(6)

MONTARROYOS úNIOR, E.L. - Assistência primária e prevenção da doença. Experiên­ cia em uma comunidade nordestina. Rev. Bs. Enf. ; DF, 33 : 495-507, 1980.

aproximadamente 1.800 habitantes, apre­ senta um incremento populacional bas­ tante acentuado devido ao fluxo migra­ tório, segundo dados estatísticos,

58 %

provêm das zonas rurais em procura de melhores condições de vida na zona urbana, só conseguindo localizar-se na periferia; em conseqüência,

42%

da o­ pulação da capital conseguem localizar­ se na ZOna suburbana. (Quadro I)

Segundo levantameno realizado em plena década de 80, numa pequena co­ munidade como a de Agua Fria, encon ­ tra-se um elevado percentual de pes­ soas sem qualquer nível de instrução ;

cerca de

46,6%

e

53,4%

com nível ele­

mentar, geralmente possuindo o antigo

primário incompleto. A maioria dos che­

fes de família se constitui de agricul­ tores ou pedreiros analfabetos, sendo

raro os moradores que possuem o 1.0

grau completo. s crianças aj udam na

lavoura, maior meio de subsistência da localidade, deixando a escola de lado por diversas razões, como : distância de estabelecimento, falta de condições fi­ nanceiras, falta de conscientização, ne­ cessidade de mão-de-obra, etc. Obser­ va-se que o nível de escolaridade é mui­ to baixo, apresentando, ainda, uma percentagem elevada de familias cuj os filhos não freqüentam escolas. (Qua­

dro 2)

A população dessa área é bastante

diversificada. Foi verificado que

62,5%

dos chefes de família compõem uma

faixa etária de

22

a 40 anos, observan­

do, assim, familias que variam de

4

a

10 filhos num percentual de

53,4%

com

uma faixa etária de O a

7

anos em sua

maioria. (Quadro 3 )

Sociologicamente falando, a comu­ nidade em estudo não apresenta orga­ nização em termos de sociedade por ser muito rarefeita. A familia nuclear em boa parte,

88,6% ,

encontra-se estrutu­ rada e

11,4%

desestruturada. No tocan­ te às lideranças organizadas, nada te­ mos a registrar, o que constitui um problema em sua organização.

500

Aspectos Sanitário e Sócio-Econô­

mico - A situação de saneamento bá­

sico na área é bastante precária, uma

vez que não existe saneamento, con­

tudo, se considerarmos a existência de fossas sépticas, esta situação evolui, pois pode-se constatar que

67%

as pos­

suem. De

33 %

restantes da população,

não possuem nenhum tipo de instalação sanitária, o que nos leva a concluir que estas famílias, nãó podendo dar um destino adequado aos despej os, lan ­ ça-os na superfície. ( Quadro

4 )

Um outro fato que merece grande importância diz respeito ao lixo : COns­ tatamos que

69,3 %

das famílias pesqui­ sadas não dão destino adequado ao mes­ mo, lançando-o no solo, e apenas

31,7 %

desta removem-no, enterrando-o ou queimando-o. (Quadro

5)

N a comunidade, vamos notar uma situação bastante precária no que diz respeito ao abastecimento de água, pois não existe uma rede de distribuição.

A população é abastecida por cacimbas, poços, cisternas ou rio. É de se cons­ tatar, também, que

56,8 %

ingerem água da mesma maneira que esta é colhida, trazendo como conseqüência um dos fatores que contribuem para o índice de mortalidade elevar-se. Conseqüente­ mente, apenas

43,2 %

tomam água trata­ da. Observa-se, ainda, que

8

1

%

d po­ pulação procedente da ZOna urbana uti­ lizam a água para ingerir tratada, de­ duzindo-se que os fatores econômicos e

educacionais vêm influir nas condições de saúde de uma comunidade, pois nas cidades é baixo o índice de mortalidade em relação às ZOnas ruçais. Na ZOna rural este fato é relativamente inver­ tido, pois

6

1

%

ingerem água não tratada conseqüentemente, podemos observar as enterites, diarréias e outras doenças, como um dos sintomas dos estados mór­ bidos que atingem a faixa etária de

(7)

ge-MONTARROYOS JNIOR, E.L. - Assis tência primária e prevenção da doença. Expeiên� Cla em uma-comunidade nordestina. Rev. Bras. Enf' l DF, 33 : 495-507, 1980.

ral, podendo ser controlados, pOis são doenças evitáveis por um saneamento básico, o que não existe. (Quadro 6 )

Quanto à s condições d e habitação, sem levar em conta que os terrenos são aforados, ou sej a, pertencentes à Pre­ feitura, 61,4% dessas famílias possuem domicílio próprio, 26,1 % alugados, e

12,5 % cedidos . A maioria desses domi­

cílios são habitações pre cárias, predo ­ minando a construção com aproveita­ mento de recursos próprios da área, tais como taipa ou mesmo palha . No que diz respeito à cobertura, 86,4 % são cobertas de telhas, devido ao fácil aces­ so à olaria. O piso geralmente é de ci­ mento fino, pouco conservado, predo­ minando também o barro batido. Par­ tindo desses dados constata-se que a maioria dessas pessoas residem em pe­ quenas casas, sem o mínimo de con­ forto ou mesmo condições habitacionais.

Um outro ponto que merece ser sa­ lientado, tendo como base as 88 famí­ lias levantadas na população de Agua Fria, diz respeito à renda mensal, onde constatamos uma crítica situação fi­ nanceira : 30,7 % das familias pesquisa­ das recebem mensalmente cerca de Cr$ 1 .500,00, e apenas 22,7 % das famí­ lias possuem o salário mais alto da co­ munidade, o qual varia entre Cr$ 3.500,00 a Cr$ 8.000,00. Considerando o elevado-número de membros nas famí­ lias e a precária renda mensal, uma média por família na ordem de Cr$ 2.800,00, torna-se evidente a dificll sI­ tuação sócIo-econômica, que influencia diretamente sobre a qualidade de

con-s AUTORES AGRADEEM :

dições habitacionais, nutriCionais e sa­ nitárias, sendo uma questão social plau­ sível de uma solução adequada. (Qua­ dro 7)

CONCLUSAO

Após estudo da situação das famí­ lias da área programática, conclui-se que de um modo geral estas fallias são realmente carentes, existindo diver­ sos fatores como a baixa renda fami­ liar, o baixo nível de instrução, o ele­ vado número de membros. na família, falta de mão-de-obra es

p

ecializada, fal­ ta de acesso ao saneamento, que vêm intervir direta ou indiretamente na si­ tuação �ócio-econômica e condições de saúde dessa comunidade. Estes fatores refletem notadamente no grupo mater­ no-infantil, pois no mesmo observa-se a falta de resistência física e orgânica suficiente para responder imunologica­ mente as doenças, contribuindo, assim,' como uma das causas de mortalidade . .

infantil na região.

Apresentamos, assim, uma síntese diagnóstica de uma comunidade subur­ bana em sua real situação, a fim de obter uma visão global da situação de saúde e também observar alguns com­ ponentes indispensáveis que nfluencia­ ram na elaboração de um plano de as­ sistência primária.

O presente trabalho, realizado por este grupo discente, terá aplicação pelo grupo posteriormente, onde teremos oportunidade de aprofundar os no�sos conhecimentos.

- Ao

Departamento de Enfermagem, pela colaboração prestada

para o desenvolvimento deste trabalho.

- Aos

estagiários de Saúde Pública I, ela

p

arti

c

i

p

o

durante

a

realzação da pesquisa.

- Aos

nossos pais,

elo

incentivo dado durante a realização do

(8)

I

. >

,.N 1 .

2 .

3 . 4 .

5 ,

6 . 7 .

P L A N O

.

A 8 8 1 8

T

,

E

N C I A L

PROBLEM

DEECTDOS

Desorganização da comunidade' por

1

1 ,

falta de líderes .

/

Uso de água não otável, geral­ mente retir.da de rios, cacimbas, poços e cs�rnas.

Acúmulo de iixo, or falta de orien­ tação, em te,rrenos próximos às re­ sidências .

2 .

3 .

Precaríssimas con

l

ições habitacio- I

4 ,

nais sem o Ínimo de conforo ne­ cessário .

Ausência da· reda; de fossa e es-

I

5 ,

goto'. '

Crianças em 'idade ,escolar, prestan-

I

6 .

do serviços hlaçais: .

OBJVO

Organizar a comunidade para so-

1 1 .

lucionar seus próprios problemas

Informar a necssidade de se usar

1 2

água fervida, e a importância de . seu uso na saúde .

Informar os problemas de saúde

1 3

ocasionados pela falta de higiene .

ambiental . Mosquitos, baratas, ra-tos, etc.

Melhorar as condições habitacio­ 1ais .

Levar ao conhecimento da popula­ ção a importância do destino ade­ quado dos dej etos, veículos de trans­ missão de várias doenças .

Motivar os pais no que diz respeito

à necessidade de formação intelec­

tual dos filhos .

4 .

5 .

6 .

7 . Dar conhecnmento à população aa

1 7 .

importância de imunizar .

Imunização.

AÇÕES DE EFERMAGEM

Realizar reUDloes na comunidade com a finalidade de estabelecer grupos nucleares sociais. Pedir aj u­ da dos vários organismos existentes na região para aj udar na organi­ zação da comunidade.

Realizar campanhas de orienta­ ção juntamente com a EMATER/ SUCM. Demonstrar o artifício da fervura como método de purificação caseiro da água.

Realizar campanhas de orientação e educação à população. Orientar no sentido de dar um destino ade­ quado ao lixo através de queimadas. soterramento, etc.

Suscitar lideranças para encabeçar movimentos de trabalho conj unto.

Realizar campanhas de educação sanitária e solicitar ajuda dos ór­ gãos SUCAM/EMATER para incen­ tivar a construção de fossas sépti­ cas, de baixo custo.

Levar as professoras locais a rea­ lzarem palestras para a comunida­ de no sentido de mostrar aos pais a necessidade de encaminharem os seus filhos à escola.

Planej ar e executar uma sistemá­ tica de vacina prevendo uma maior cobertura ,

O

� �

n �

S c

� O

S

l· ' " 0

> l

o ..

S

�. � Z

e· Õ

- c

. . n l

g �

..

� I

. >

j :

n i'

� �

� >

� �.

' O

1 :!.

l

S

J ­

s t "" "

J > j O

. @

> <

> >

. . g

" ,. 0 0 11

' .

: "

J . .. 0

0 > ) j 0 0

. "

l

(9)

MONTARROYOS JúNIOR, E.L. - Assistência primária e prevenção da dença. Expeiên­ cia em uma comunidade nordestina. Rev. Bras. Enf. ; DF, 33 495-507, 1980.

(10)

MONTARROYOS JúNIOR, E.L. - Assistência primária e prevenção da doença. Experiên­ cia' em ma comunidade nordestina. Rev. Bras. Enf. ; DF, 33 : 495-507, 1980.

{

"

"r �

' o � ..

. ' � -o �

!

l .: .

; I' O l\ .,

� :1 O " � ;

O /'

N

I' " "

,

cl

, r

" 0

"

,

,

,

I: , •. , , " ,

,

� ==== ;=<

" " ..

f�·1l'rJ JS/.

9; § �.�

_o. t i

-I�

� ::

. .� .�;;

==

J

= ;

(11)

MONTRROYOS JúNIOR, E .L. - Assistência primária e prevenção da doença. Experiên­ cIa em uma comunidade nordestina . Rev. Bras. Enf. ; DF, 33 : 495-57, 1980.

REGIAO

RRAL URBANA

TOT AL

GRAU DE INSTRUÇAO

Q U A D R O 1

PROCED:NCIA

N.o DE FMíLIAS

5 1 37

88

Q U A D R O 2

ESCOLRIDADE

N.O DE FAMíLIAS

ANFBETOS 41

FABETIZDOS 47

---

-T O -T A L M

Q U A D R O 3

IDDE DOS CEFES DE FAMíLIA

IDADES EFES DE FAMíLIA

15-20 2 1-30

31-40

41-50 51-60 61 a mais

TOT A L

N.O DE FMíLIAS

07 25 30 14 03 09

88

Q U A D R O 4

INSTALAÇõES SANITARIAS

LOCL DO DESPEJO

SOLO

FOSSA

T O T A L

N.O DE FAMíLIAS

29 59

88

PERCENTAGEM

58 % 42 %

100 %

PERCTAGEM

46,8 % 53,4 %

100,0 %

PERCENTAGEM

8,0 % 28,5 % 34,0 % 15,9 %

3,4 % 10,2 %

100,0 %

PERCETAGEM

33% 67 %

10%

(12)

MONTARROYOS )NIOR, E.L. - Assistência primária e prevenção da doença. Experiên­ cia em uma comunidade nordestina. Rev. Bras. Enf. ; DF, 33 : 495-507, 1980.

CONDUTA

REMOVE SOLO QUEIMA ENTERRA

T O T A L

CONDIÇÕES FERVIDA FILTRDA

DIRETO DA CACIMBA DIRETO DO RIO T O T A L

RENDA

1 . 5DO

1 . 501-2 . 500

2 . 50 1-3 . 500

3 . 501

a mais

T O T A L

Q U A D R O

5

DESTINO DO LIXO

N.O DE FAMíLIAS

07

61

17

03

88

Q U A D R O 6

USO DA AGUA

N.o DE FAMíLIAS

26

24

35

03

==

88

Q U A D R O

7

RENDA FAMILIAR

N.o DE FAMíLIAS

27

27

14

20

88

R E S U M O

PERCENTAGEM

7,9 %

69,3 %

19,3 %

3,5 %

100,0%

.

PERCENTAGEM

29,5 %

27,3 %

39,8%

3,4%

100,0 %

PERCETAGM

30,7%

30,7%

15,9 %

22,7%

100,0 %

ASSIST:NCIA PRIMARIA E PREvENÇAO DE DOENÇAS - EPERI:NCIA

M UMA COMUNIDADE NODESTINA

O presente trabalho procura enfatizar a Assistência Primária e Prevenção da Doença em seus diversos níveis, tecendo várias considerações, marcos.. con­ ceituais e descrevendo a atuação de Enfermagem .

Expliclta a experiência de implantar um Plano Assistencial em uma comu­ ntdade rural, que, para isto, fez um diagnóstico da mesma, através de ques­ tionários, para, em seguida, elaorar planos de ssistência e conclusão.

(13)

---

-MONTARROYOS JúNIOR, E.L. - Assistência rimana e prevenção da doença. Experiên­ cia em uma comunidade nordestina. Rev. Bras. Enf. ; DF, 33 : 495-507, 1980.

BIBLIOGRAFIA

01 . CONFE:NCIA ITENACIONAL SO­ BRE CUIDADOS DE SAúDE . Cui­ dados Primários de Saúde . Alma Ata, RSS, 6-12 setembro, 1978 .

02 . MINIST:RIO DA SAúDE . Anais da VI Conferência Nacional de Saúde . Brasília, DF, 1 a 5 de agosto de 1977.

03 _ ASSOCIAÇAO BRASILEIA DE EN­

FERMAGEM . Anais do XXX Con­ gresso Brasileiro de Enfermagem . Belém, 16 a 22 de j ulho de 1978 . 04 . AZEVEDO, A. C. de - Política Na­

cional de Saúde . Apresentado na VI Conferência Nacional de Saúde. Brasília, 1977 - Tema IV.

05 . CAMARGO, E. José de Castro - Es­

tdo de Problemas Brasileiros . Rio

de Janeiro, Biblioteca do Exército, 3.a edição, 1979.

06 . LEAVEL, H. & CAK, E . G. - Me­ dicina Preventiva . Editora M:-Graw­ HU do Brsil Ltda./MEC .

07 . ANDRADE, O. Barros de - Progra­ mação das Ações te Saúde do

Ser-viço Especial e Saúde de Arara­

quara . São Paulo. 1979 .

08 . ORGANIZAÇAO PAN-AMERICAA DE SAúDE . Extesão da Cobertura dos Serviços de Saúde baseada nas Estratégias de Assistência Primári. e Participação da Comunidade . Re­ partição Sanitária Pan-Americana, Escritório Regional da Organização Mundial de Saúde, ESA 4/4 Rev. 1 (Port.) , 13 de j ulho de 1977 .

09 .

10 .

1 1 .

MINIST:RIO DA SAúDE . Anais da IV Conferênria Nacional de Saúde . Interiorização dos Serviços de Saú­ de . Brasília, 1977 - Tema IH .

SOBREIRA, N. R. S. - Marco Concei­

tual de Saúde Comunitária . Rv.

Bras. Enl. DF, 32 : 369-374, 1979 .

SPERINTEND�NCIA VOLVIMENTO DO

DE DESEN­ NORDESE .

índice de Nomenclatura . Folha SB . 25-Y -C-HI- 1 -SE Escala : 1 : 25.000 Nossa Sehora da Penha . Edição 1974 .

Referências

Documentos relacionados

O objetivo, tal como visto anteriormente, era traçar um modelo de quadro descritivo para a emissão da ‘Opinião Desfavorável’ em português do Brasil que pudesse servir de suporte

C U L T U R A D E C É L U L A S 3401 Inserto de 12 mm em Policarbonato Transwell Inserto de 75 mm em Embalagem de Insertos de Membrana de Poliéster e Policarbonato Transwell

O v olume de produç ão projetado, as s oc iado a um crescimento de 0,50% previsto para o consumo de combustíveis leves no País, apontam para uma retração próxima de

Evento pelo Edital/Scajho “Novos Talentos – Centenário” um Edital lançado pela Scajho em homenagem ao Centenário de Joaçaba.. Apresentação da Academia de Dança: Espaço Bela

2.3 Para candidatos que tenham obtido certificação com base no resultado do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens

Promover medidas judiciais e administrativas visando responsabilizar os causadores de poluição ou degradação ambiental e aplicar as penalidades administrativas previstas em

especimens. Outras informag5es de ordem biologica foram detectadas, com apoio de pescadores e moradores ribeiri nhos. Com base nas observaçaes de campo e de 1aborat6- rio, levamos

Nos Ensaios 02 e 04 foram utilizados 65% de umidade inicial e percebeu-se que para essa condicao obteve-se uma maior atividade enzimatica quando a adicao de fonte de nitrogenio foi