CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: MODELO DE GESTÃO, INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E AS BARREIRAS CULTURAIS
DIANTE DAS MUDANÇAS
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
SANDRA MARCELLO VALLADÃO
CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: MODELO DE GESTÃO, INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E AS BARREIRAS
CULTURAIS DIANTE DAS MUDANÇAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR SANDRA MARCELLO V ALLADÃO
~ROVADAE~
~/r03/200)
PELA COMISSAO EXAMINADORA
partilhando dos meus silêncios durante os meus momentos de busca e reflexão diante do desafio "do escrever compromissado".
Araújo, pelas sugestões, atenção e tranquilidade com que soube me conduzir durante todo o processo de pesquisa, lendo os meus desabafos, aconselhando-me e incentivando a continuar a jornada;
ao Dr. César Ricardo Maia de Vasconcelos, que me presenteou com a sua atenção, num gesto de aceitação imediata, quando do meu convite para a participação da minha Banca Examinadora;
ao Des. Manoel Alves Rabelo, pela abertura que me proporcionou junto ao Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo, além da ajuda com materiais e informações pertinentes ao tema pesquisado;
ao Vice-presidente do Egrégio Tribunal de Justiça, Des. Pedro Valls Feu Rosa, e ao Corregedor, Des. Adalto Dias Tristão, pela atenção, inteligentes comentários, indicação de caminhos, e, ainda, por permitirem a pesquisa no âmbito do Poder Judciário e Corregedoria do Estado do Espírito Santo, dispondo dos seus assessores, para o fornecimento de materiais e informações inerentes ao tema abordado;
ao Juiz da Vara Criminal, Dr. Tasso de Castro Lugon,
pela atenção, quando do fornecimento de dados fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa;
ao Juiz Criminal, Dr. Sérgio Luiz da Silva, diretor do F órum do município da Serra, pela atenção e permissão para a pesqUisa;
aos Juízes e serventuários dos Fóruns da Grande Vitória (tomando-se difícil mencioná-los por serem inúmeros), que participaram com informações importantes ao desenvolvimento da pesquisa;
ao meu companheiro Carlos Wilson Lugon e aos amigos
Hildebrando Bucher e Gildásio Klippel, pelas horas dedicadas à leitura desta pesquisa, analisando-a criticamente e fazendo perguntas e sugestões pertinentes, demonstrando companheirismo e dedicação.
As organizações - reproduzindo e aperfeiçoando a fónnula de
substituição do trabalho do século XIX - estão investindo em novos
modelos de gestão e tecnologias modernas, com o objetivo de reduzir seus
custos, aperfeiçoar os seus produtos e agilizar os seus serviços.
Sentindo a necessidade de se inserir nesse contexto~ o Estado,
assim entendido como um todo, e, especialmente, o Poder Judiciário do
Estado do Espírito Santo, tem buscado adaptar-se a tais mudanças, visto que
o seu modelo administrativo e jurisdicional há muito tempo encontra-se
ultrapassado, necessitando de novas abordagens. Entretanto, muitas têm
sido as resistências à modernização administrativa e tecnológica, tanto por
parte de uma corrente de juristas tradicionalistas, que, constantemente
promovem um movimento de retomo a padrões e conceitos antigos, quanto
pela escassez de recursos financeiros .
A inovação envolve sempre o elemento de incerteza e, embora
a história da humanidade detenha, durante a sua trajetória, registros de
inovações em modelos de gestão e significativos avanços tecnológicos,
atualmente eles vêm exigindo um maior percentual de conhecimentos
diversificados, quebrando paradigmas que influenciam no comportamento
A relevância desta pesquisa residiu em analisar o modelo de
gestão e a inovação tecnológica do Poder Judiciário do Estado do Espírito
Santo, a partir das transformações mundiais, além da sua importância nos
mecanismos jurisdicionais, seja instantaneamente ou após um período de
aprendizado combinado com a aceitação da inovação. Pretendeu-se, ainda,
conhecer os efeitos dessas mudanças na cultura da instituição, tais como
possíveis causas de resistência.
The organizations - reproducing and improving the formula of
replacing the work in XIX century - are investing in new methods of
organizational practices and modem technologies, aiming to reduce the
costs, improve their products and make the services faster.
Feeling the need of being part of this context, the State,
understood as a whole, and, specially, the Judiciary of the Estado do
Espírito Santo, has tried to adapt itself to such changes, because its
managerial and jurisdictional model has been outmoded for so long, being
necessary new approaches. However, both, well established functional
groups, such traditional judges, promoting a constant movement of return
to established ancient pattems and concepts, and the lack of financiaI
resources, has impaired the administrative and technological modemization.
The innovation involves always the uncertainty element and,
although the history of mankind shows, during its trajectory, registers of
innovations in organizational practices and significant technological
advances, current1y they has required a larger amount of diversified
knowledge, breaking paradigms that influence the behavior of
organizationslinstitutions, in an irreversible process of dynamic growth.
Espírito Santo, from worldwide changes, moreover its relevance in
jurisdictional mechanisms, either instantaneously or after a period of a
combined learning with the acceptance of the innovation. It' s a goal of this
research to know the effects of these changes in the culture of the
institution, for instance, some possible causes of resistance.
INTRODUÇÃO ... 1
1 PODER JUDICIÁRIO ... 6
1.2 A NATUREZA MUTANTE DO CONTROLE ORGANIZACIONAL ... 19
1.3 AMBIENTE ORGANIZACIONAL ... 26
1.4 AUTONOMIA DO PODER JUDICIÁRIO ... 29
2 A TECNOLOGIA E O PODER JUDICIÁRIO ... 34
2.1 ATRASO TECNOLÓGICO SISTEMA JUDICIÁRIO BRASILEIRO 46 2.2 FATORES QUE AGILIZAM E LIMITAM A PRESTAÇÃO JURISIDICI-ONAL NO ESTADO DO E. SANTO ... 51
2.2.1 A evolução dos sistemas de acesso à Justiça Capixaba ... 61
2.2.2 Projetos implantados na Justiça Capixaba visando a melhoria da qualidade e produtividade ... 63
2.2.2.1 Juizados Especiais ... 64
2.2.2.2 Arbitragem ... 68
2.2.2.3 Justiça Volante ... 69
2.2.2.4 Juiz Eletrônico ... 70
2.2.2.5 Justiça sobre Rodas ... 71
2.2.2.6 Vice-presidência na Internet ... 73
2.2.2.7 Audiência pela Internet. ... 74
2.2.2.8 Gerenciador de Mandados ... 77
2.3 INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NO MOVIMENTO PROCESSUAL .79 2.3.1 Cíve1. ... 79
2.3.2 Litigação Pena1. ... 81
3 MUDANÇAS ORGANIZACIONAIS ... 86
3.1 A NECESSIDADE URGENTE DE MUDANÇAS ... 87
3.2 BARREIRAS CULTURAIS DIANTE DAS MUDANÇAS NO AMBIEN-TE INAMBIEN-TERNO DO PODER JUDICIÁRIO DO E.E.SANTO ... 99
CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 113
REFERÊNCIAS ... 117
ANEXOS
I Palácio da Justiça e a história do Poder Judiciário do E.E.Santo ... 123
H Salão do Pleno e Salão Nobre ... 124
IH Sistema de audiência tradicional ... 125
Este trabalho constitui-se numa tentativa de sistematizar uma
reflexão sobre as evoluções tecnológicas ocorridas no Poder Judiciário do
Estado do Espírito Santo, identificando a sua cultura, bem como as barreiras
culturais advindas deste processo e, ainda, avaliar a sua importância para o
jurisdicionado.
Para tal, lançou-se mão de subsídios fornecidos por um estudo
exploratório, buscando diagnosticar a cultura existente, o modelo de gestão
utilizado, verificar as inovações tecnológicas implantadas e a sua real
importância para a sociedade capixaba, num cenário que aponta para uma
nova realidade, onde se desenvolve uma convivência entre o tradicional e o
pós-moderno.
O trabalho foi desenvolvido, procurando sempre deixar claro
pleno conhecimento da situação concreta, e as autoridades envolvidas no
processo possam, fazendo uma profunda reflexão, trabalhar cada vez mais
em prol de uma prestação de serviço que corresponda as aspirações da
sociedade.
Se esta comprovação ocorrer de forma positiva, mais esforços
ainda deverão ser desenvolvidos, no sentido de modernizar cada vez mais o
sistema judiciário. Por outro lado, todas as deficiências manifestadas
através desta pesquisa deverão ter a atenção necessária para que o processo
organizacional atinja o grau máximo de importância/qualidade, com
produtividade, pois estes são conceitos fundamentais desta dissertação.
É patente o descrédito nas instituições públicas, visto que este é um fato que vem sendo comprovado através de diversas pesquisas, artigos e
entrevistas, realizadas em todos os segmentos da sociedade brasileira.
Sendo o Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo uma
destas instituições, tem também a sua Imagem comprometida,
principalmente pela morosidade com que os conflitos são solucionados,
quer seja pela deficiência de pessoal, quer pela incapacidade técnica e
tecnológica, ou, ainda, pelo acúmulo de processos atribuídos a um juízo.
A situação vem se agravando a tal ponto que contingentes de
direitos (fundamentais) quando não por razões também de uma verdadeira
deseconomia em face de tantos obstáculos financeiros, tempo, custas
processuais e honorários profissionais e outras privações advindas do
precário status social deste mesmo contingente.
Tal problema passou a ser uma profunda preocupação do
Judiciário brasileiro e, por que não dizer, de toda a sociedade, vez que, aos
poucos, imperando a injustiça, vem a insegurança e daí a justiça com as
próprias mãos, contribuindo, por fim, para um perigoso estado de convulsão
social, do qual tem-se podido presenciar decepcionantes amostras.
Para encontrar soluções harmoniosas e modernizantes para os
problemas apresentados, como um primeiro estágio à espera de outros
prováveis arranjos organizacionais, possibilitados por novas descobertas
tecnológicas, foram criados e implantados no Poder Judiciário do Estado do
Espírito Santo, por uma corrente de magistrados, os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais, a justiça volante, o juiz eletrônico, a justiça sobre rodas
(substituída em parte pelos convênios entre as Faculdades), com a
responsabilidade de atender aos cidadãos, de forma mais rápida e a custos
menores. Além destes, buscou-se também conhecer o novo sistema em
comprovar os seus beneficios/efeitos, tanto para o Judiciário, quanto para o
jurisdicionado.
Estes sistemas pesquisados apontam para respostas às
necessidades de aperfeiçoamento, além de situar o tipo de cultura
institucional existente e as tendências de desintegração e conflitos diante da
quebra de paradigmas.
Pela característica da instituição pesquisada, foram utilizadas as
técnicas metodológicas da observação documental, observação estruturada e
entrevistas semi-estruturadas (uma das técnicas de pesquisa qualitativa),
gravadas em fitas cassetes de 60 minutos. Esta última consiste na fonte
primária de dados, obtidos em pesquisa de campo.
Os dados secundários, provenientes de materiais informativos
disponíveis, tais como revistas especializadas, periódicos, dissertações,
teses, publicações e documentos da própria instituição orientaram as
entrevistas. Esses dados também VIsaram retratar o ambiente da
organização.
Toda a pesqUIsa, portanto, foi precedida por uma revisão dos
materiais informativos disponíveis, objetivando nortear as etapas de campo.
desenvolvimento das atividades do Poder Judiciário, sua história e o seu
ambiente, conforme preconizado por Child e Smith (1987).
Dividiu-se o trabalho em três etapas: a primeira, traça um perfil
do Judiciário, descrevendo o papel por ele exercido na trajetória da história
humana, tendo sido explorados os fundamentos teóricos que embasaram a
pesquisa; a segunda, analisa a importância das inovações tecnológicas para
o atual contexto jurisdicional e a implantação de projetos voltados para a
melhoria da qualidade e da produtividade dos serviços prestados; a terceira,
identifica a necessidade de mudanças e a existência de barreiras culturais no
ambiente interno, principalmente diante das inovações, flexibilidade e
Nos primórdios da humanidade o homem era independente
para satisfazer todos os seus anseios. Ao conviver em grupos, foram
surgindo os conflitos e daí a necessidade de normas que regulassem a
convivência para preservar a continuidade da sua existência.
Partindo desta necessidade foram editadas várias leis, sendo a
mais antiga o Código de Hamurabi, grafado em bloco de pedra, na região da
Caldeia, 2085 anos a.C.
Também os romanos tinham o cuidado de legalizar todos os
atos praticados pelo seu povo. Foi nesta época que surgiu a figura do juiz
itinerante, que viajava pelas cidades mais distantes de Roma com a missão
de julgar as demandas encontradas ao longo de seu caminho.
Nos Estados antigos, monárquicos, não havia uma divisão de
concentravam-se nas mãos do monarca, que legislava, administrava e
julgava as lides. Porém, já nestes Estados, surgia a idéia de limitação do
poder, visando evitar abusos por parte de quem estava governando.
Platão, o filósofo, já defendia a idéia da limitação do poder.
Dizia ele que "não se deve estabelecer jamais uma autoridade demasiada poderosa e
sem freio nem paliativos" (Maluf, 1993 :205). Aristóteles já esboçava tal
pensamento. Em sua obra intitulada Política, chegou a dividir o poder em
"legislativo, executivo e administrativo" (id.ibid). Embora idealizasse esta
diferenciação, tal idéia jamais significou a existência de outro poder, que
não o soberano do Estado.
John Locke, pensador inglês (op. cit., p. 206), chegou a propor
uma divisão ainda maior: 4 (quatro) Poderes, com o intuito de evitar a
concentração de poderes nas mãos de uma só pessoa.
Dentre as pessoas que pensaram a divisão do Poder,
Montesquieu destacou-se, criando o sistema conhecido e aplicado nos dias
de hoje: Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Embora esta doutrina tenha sido acolhida pelos Estados liberais
- e foi os Estados Unidos da América do Norte o primeiro a utilizá-la (o
primeiro Estado da Virgínia a utilizá-la, em 1776), tendo sido seguida por
trabalho de Montesquieu repousa não na identificação da distinção entre as
três funções, uma vez que a mesma sempre existiu, mesmo em tempos onde
o absolutismo vigorou. A grande inovação de sua teoria foi a afirmação de
que as funções distintas deveriam corresponder a órgãos distintos e
autônomos.
Montesquieu, portanto, formulou uma divisão orgânica, de
modo a complementar a divisão funcional. Concebia, assim, ao declarar a
divisão orgânica como subjacente à divisão funcional, uma técnica posta a
serviço da contenção do poder pelo próprio poder, pois nenhum órgão
poderia desviar-se de suas atribuições a ponto de invadir competência
alheia, instaurando a perseguição e o arbítrio (Bastos, 1992 In Ferreira,
1999).
Montesquieu procurou, enquanto sociólogo de seu tempo,
esclarecer que o perigo, quando apreciada a questão estatal, encontra-se no
fato certo de que todo poder induz ao abuso e, portanto, a concentração
precisa ser evitada por intermédio de um mecanismo de controle (Zaffaroni,
1995 In Ferreira, 1999).
A teoria de Montesquieu sofreu algumas modificações, pois a
divisão funcional apoiada em uma divisão orgânica jamais funcionaria, se a
nas ações estatais. Por outro lado, em razão da autonomia conferida aos
órgãos representativos de cada função, houve-se por bem admitir que
desempenhassem, cada um, atividades atípicas às que lhe emprestavam a
natureza. Assim, por exemplo, aos órgãos que desempenhassem atividades
judiciais foi permitido a execução de atividades administrativas ou
legislativas, estranhas, num primeiro momento, à sua competência (Bastos,
1992 In Ferreira, 1999).
A divisão dos poderes visava, principalmente, não permitir que
tiranos se formassem no poder, conforme deixa claro o autor:
Os três poderes devem ser independentes entre si, para que se fiscalizem mutuamente, (. .. ) e impeçam a usurpação dos direitos naturais inerentes aos governados. O parlamento faz as leis, cumpre-as o executivo e julga as infrações delas o tribunal. Em última análise, os três poderes são os serventuários da norma jurídica emanada da soberania nacional (op. cit, p.
205).
A doutrina de Montesquieu também foi utilizada na Revolução
Francesa, de acordo com a Declaração dos Direitos do Homem: "Toda
sociedade na qual a garantia dos direitos não estiver assegurada, nem determinada a
separação dos poderes, não tem constituição" (op. cit, p. 207).
Este princípio da divisão de poderes é tratado de forma
especial na Declaração dos direitos do homem, sendo considerado um
francesa de 1848, reafirmou o princípio: "A separação dos poderes é a primeira
condição de um povo livre" Cid ibid).
o
Brasil sofreu a influência do pensamento de Montesquieu,como se verifica através da Constituição Imperial de 1824, que adotou,
segundo Ribeiro C 1985: 17),
o Estado unitário como forma de governo, a monarquia constitucional hereditária ( ... ) Mas nenhuma independência assegurou ao Poder Judiciário, eis que ficou sob o tacão do quarto Poder - o Moderador, privativo do Imperador, que nulificava as prerrogativas do Judiciário como Poder, órgão da soberania nacional.
Nesta época, a independência do Poder Judiciário era
desprezada e ao Imperador preocupava apenas assuntos sem relevância,
bem como a nomeação do Presidente da Corte.
A Carta Magna de 1824 só veio a ser alterada, parcialmente,
em 1834, concedendo "maior autonomia às províncias" Cid ibid, 18).
A Constituição de 1891 assegurou a independência do
Judiciário e a de 1934, ampliou e defrniu as suas garantias. A Carta de
1937, chamada "Polaca", unificou o Judiciário e excluiu a Justiça Eleitoral
e os Juízes Federais. A Carta Política de 1946 manteve a unificação da
Justiça, preocupando-se em reduzir "a carga de serviço do Superior Tribunal de
A Carta Magna de 1988 deu ao Poder Judiciário total
independência financeira; também espelhou um início de democracia ao
inserir no seu artigo 9°: "A divisão e harmonia dos poderes políticos é o princípio
conservador dos direitos dos cidadãos, e o mais seguro meio de fazer efetivar as
garantias que a Constituição oferece". Na verdade, o mais correto seria dizer
separação de funções, pois o poder é um só; o que se triparte em órgãos
distintos é o seu exercício.
O poder de soberania é uno e indivisível. Este poder é exercido
através de três órgãos distintos, pois não se pode ter duas ou mais
soberanias dentro de um mesmo estado; admite-se, porém, que haja órgãos
diversos da manifestação do poder de soberania.
Examinando, portanto, a história do Direito, desde o início da
humanidade, verifica-se que conceitos e regras, criados e implantados na
Antigüidade, são, ainda no século XXI, utilizados, embora todas as
transformações sofridas pela sociedade. Exemplo disto são os institutos do
matrimônio, dos contratos, dos testamentos e outros. Permanece, também, o
mesmo cuidado conferido pela Igreja Católica, na Idade Média, na
elaboração e aplicação de Leis.
As atividades desenvolvidas pelo Poder Judiciário são de suma
indivíduos buscam a defesa de seus interesses, motivados por um conflito,
que esperam ver dirimido~ analisando este aspecto, verifica-se que o
Judiciário precisa estar num processo de constante auto-renovação pessoal
e institucional, para que as relações entre os indivíduos seja harmoniosa.
Camelutti Apud Alvim (1993), ao falar sobre as relações entre
indivíduos deixa claro que este fenômeno associa quatro variáveis
fundamentais em sua determinação: "a) a necessidade; b) o bem; c) a utilidade; e
d) o interesse".
Este mesmo autor descreve a necessidade como um estado de
carência ou desequilíbrio bio-psíquico, afirmando que ela é a ausência de
alguma coisa que induz o indivíduo a procurar meios que restabeleçam o
equilíbrio perdido. Seguindo tal contexto, o bem, como segundo fator
apresentado, promove a satisfação da necessidade que foi manifestada. Esta
capacidade do bem para satisfazer a necessidade manifestada é a utilidade.
Assim, segundo ainda o mesmo autor, nasce o interesse como uma relação
entre o homem que experimenta a necessidade e o ente "bem" apto a
satisfazê-la.
De acordo com Ferreira (1999:78), os conflitos de interesse
entre interesses individuais, que devem ser entendidos como os relativos a pessoas fisicas e jurídicas, quer de Direito Privado ou Direito Público~
entre interesse individual e coletivo, como no caso em que o interesse de alguém se contrapõe à defesa do território nacional, por exemplo~ e entre dois interesses coletivos, quando houver contraposição de um interesse à educação pública, frente a um interesse de defesa pública, se o Estado não dispuser de meios suficientes para garantir ambos.
Quando o conflito de interesses não se dilui no meio social, os
contendores são levados a disputar certo bem para a satisfação de suas
necessidades, quando então delineia-se a pretensão, que é a exigência de
subordinação do interesse de um indivíduo ao interesse de outrem.
1.1 CONTROLE ORGANIZACIONAL
Em muitos aspectos o Poder Judiciário brasileiro ainda se
encontra respaldado em um modelo organizacional primário, das
organizações como máquinas. ''Para operar de acordo com os pressupostos estabelecidos na modernidade, fazia-se necessária uma estrutura organizacional rígida, centralizada e com fronteiras de atribuições bem definidas" (Moraes, 2000:35), como apresentado nos organogramas a seguir, utilizados pelo Poder
ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
I
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAI
I
I
T
I
JUSTIÇA JUSTIÇA JUSTIÇA JUSTIÇA JUSTIÇA
FEDERAL ESTADUAL MILITAR TRABALHO ELEITORAL
I
I
I
I
TRF TJUSTIÇA SUPERIOR TRIBUNAL TRIBUNAL
TRIBUNAL SUPERIOR DO SUPERIOR
JUÍZEs JUÍZEs MILITAR TRABALHO ELEITORAL
FEDERAIS ESTADUAIS
JUIZADOS AUDITORIAS TRIBUNAIS TRIBUNAIS
ESPECIAIS MILITARES REGIONAIS DO REGIONAIS
TRIBUNAL TRABALHO ELEITORAIS
DO JÚRI
JUSTIÇA DE JUNTAS DE JUÍZEs
PAZ CONCILIAÇÃO ELEITORAIS
TRIBUNAIS E
DE ALÇADA JULGAMENTO JUNTAS
ELEITORAIS
rI
I
-
r--
'---ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO
PRESIDÊNCIA
I
I
I
I
VICE- CONSELHO TRIBUNAL CORREGEDO
PRESIDÊNCIA MAGISTRA- PLENO RIA GERAL GABINETES
I
I
cÂMARAS CÍVEIS REUNI-DAS SERV SOCIAL SESTAm PATRI-MÔNIO COMPRA ALMOX MANUT ZELADTURA mSTIçA
I
cÂMARAs cÂMARAS cÂMARAS
CRIMI- CÍVEIS CRIMINAIS
NAIS ISOLADAS ISOLADAS
REUNI-DAS
r
FORUM FORUM FORUM
1 a ENTRÂN- 2 a
ENTRÂN CIA ENTRÂN
CIA ESPECIAL CIA
DIRETORIA GERAL
SEGU- ARQUI- EDIÇÃO
I - - RANÇA VO ~ PUBU- I
-GERAL CAÇÃO
SUB-DIRETORIA DISTRI- R.
f-- CPD
BUIÇÃO I - - RUMA-
r--NOS
TAQUI-f-- GRAFIA DIR.
TRANS-ECON. I - - PORTES I
-FINANC. ENG.
L o - PROJE
TO BmUO-
PAGA-TECA f-- MENTO I
Analisando este modelo hierárquico, verifica-se que a rigidez de
regras e seu detalhamento, são uma total contradição com o que prega a
realidade social e os novos modelos de controle organizacional, em que,
basicamente, se tem um controle exercido pelo destinatário dos serviços,
pelo cliente, pelo funcionário e por mecanismos formais automatizados,
como assevera Martins (1998: 60).
"A pós-modernidade precisa de organizações com estruturas flexíveis,
descentralizadas e com definições indistintas e difusas" (Moraes, 2000:35)
O controle interno, realizado pelo Judiciário do Estado do
Espírito Santo, materializa-se em regras como aquela, que estabelece uma
produção mínima para as Varas de suas diversas Comarcas, englobando,
portanto, o trabalho de juízes e seus auxiliares diretos (escrivães, oficiais de
justiça) e eventuais (peritos, depositários).
Materializa, também, este controle os procedimentos
administrativos das Corregedorias de Justiça, na investigação da ação de
seus juízes, que deve ser pautada pela correção e imparcialidade. São
incentivos, ainda, ao desempenho correto e ao destaque dos juízes, as
promoções levadas a cabo por merecimento, com alternância com o critério
o
outro vértice dessa estrutura é o controle externo, exercidopela OAB, Ministério Público e pela sociedade, como destinatária dos seus
serviços, através do sistema recursal.
Dentro de uma nova perspectiva organizacional, surge com
grande força a idéia de um novo controle externo do Judiciário, defendido
principalmente pela classe política, com o objetivo de trazer mais
transparência dos atos jurisdicionais para a sociedade. Esta idéia veio da
França, porém o sistema judiciário francês é radicalmente diferente do
brasileiro. A França é um país que não tem Poder Judiciário, visto só existir
o Poder Legislativo e Executivo.
De acordo com o atual Vice-presidente do Tribunal de Justiça
do Estado do Espírito Santo, Des. Pedro Valls F eu Rosa, o que seria o
Poder Judiciário da França, na verdade, é um serviço administrativo
vinculado ao Ministério da Justiça
Surgiu na França a idéia do controle externo em seguida a um
caso de grande repercussão, no qual o Ministro da Justiça determinou a um
juiz que julgasse um dado processo, diversamente de outro que já havia sido
julgado. O fato é que este processo, que envolvia vários políticos franceses
de expressão, foi arquivado em 24 horas. Em função disto, criou-se um
controle externo da atividade jurisdicional para proteger o juiz francês do
político.
No Brasil, a classe política está querendo criar um órgão de
fiscalização externa, que eventualmente irá sujeitar o juiz a algum político.
Controlar o judiciário externamente, portanto, principalmente se pelo Poder
Político, constitui uma séria ameaça, na medida em que o Poder Judiciário
toma-se refém de uma classe. A independência judicial é o equilíbrio
institucional e democrático, que garante a legitimação do Estado de Direito.
Se o Poder Judiciário tomar-se tutelado por outros Poderes,
além de perder a sua autonomia, elimina sentenças independentes. A
sociedade precisa de um Poder Judiciário forte e ético, que possa conter os
abusos aos cidadãos e em quem ele possa confiar para julgar os seus
1.2 A NATUREZA MUTANTE DO CONTROLE ORGANIZACIONAL
o
crescimento da sociedade e a conseqüente expansão eincremento de suas instituições públicas e privadas, exigem uma maior
organização e eficácia. Tal assertiva tem fulcro no aumento de exigências. e
na discussão da qualidade e maior produtividade, que se exige de todos os
serviços prestados e bens vendidos, num meio social que se expande
continuamente e no qual "o saber de hoje de manhã já se encontra obsoleto
hoje à tarde". Existe mais nesta afirmação do que o que parece à primeira
vista.
As transformações estão ocorrendo de forma variada e em
velocidade acelerada. A tecnologia da informação, através de seus recursos,
está transformando a visão organizacional e novos conceitos estão sendo
formados, voltados ao conhecimento e a flexibilização organizacional.
Exemplos práticos da vida mostram ser tal axioma verdadeiro.
A contínua evolução da sociedade tem de ser acompanhada pelo
desenvolvimento da indústria e dos serviços, tanto públicos quanto
estruturados na mente do cidadão, provocando a obsolescência dos
produtos, serviços e, ainda, na forma de conduzir e fazer negócios.
o
desenvolvimento da tecnologia alçou patamares superiores,elevando o desejo do ser humano de cada vez mais buscar respostas, antes
mesmo de surgIrem os questionamentos. Novos paradigmas surgiram,
fornecendo modelos de problemas e soluções, compartilhados com a
sociedade, para a compreensão de uma anomalia vinda à tona: os antigos
comportamentos já não correspondem às expectativas atuais.
No que tange aos direitos individuais e sociais fundamentais,
houve a descoberta e necessidade de proteção jurídica do patrimônio
genético da humanidade.
As mudanças ocorridas têm gerado teorias e técnicas
intervencionistas nos sistemas organizacionais que, segundo Martins (1988:
41) são "como um meio de defesa contra surpresas inesperadas e desagradáveis".
Tais teorias, sob diferentes enfoques e pontos de vista, demonstram muitos
dos fatores elencados como responsáveis pelas atuais mudanças sociais a
exigir um novo modelo organizacional.
São o desenvolvimento e novas realidades experimentadas pela
coletividade, aliadas ao exponencial aumento da população brasileira que
levam o indivíduo a uma maior necessidade de contínuo e profundo
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desenvolvimento da sua capacidade de produção em geral, seja pela grande
demanda, seja pela crescente exigência de melhores serviços.
Atingir, efetivamente, os ideais ou metas, em qualquer ramo de
produção moderna, significa estar atento à realidade e vicissitudes
modernas, numa era que está a exigir uma nova forma de pensar, em que
abstraindo-se um pouco da realidade estatal nacional, passa-se a pensar a
vida inserida no plano mundial.
A competição, inerente ao mundo capitalista, abrange novas
fronteiras, paradoxais graus de desenvolvimento e aptidões. O Poder
Judiciário do Estado do Espírito Santo, contudo, não completou, sequer, o
estágio do equilíbrio, diante desta realidade, tomando-se, desta forma, um
sistema esgotado. Dentro dessa realidade, não é permitido descansar em
louros e simplesmente esperar o porvir. Modelos tradicionais devem ser
continuamente melhorados e transformados, no intuito de oferecer uma
resposta mais eficaz às exigências da sociedade.
O controle organizacional judiciário capixaba apresenta
dificuldades de adaptação às mudanças que ocorrem no ambiente externo,
porque o sistema existente foi criado para funcionar de forma mecanizada,
padronizadas e não há inovação diante do imprevisto, já que todas as
soluções são pré-fabricadas.
A gestão organizacional, que deveria ser continuamente
desenvolvida e aplicada, acaba sendo ignorada, já que não são aceitas
soluções inovadoras, o que agrava ainda mais o imobilismo, as distorções e
a falta de cooperação existentes.
A lentidão e a alienação tão comuns no profissional de épocas
remotas e que está longe dos padrões de qualidade e produtividade
atualmente exigidos, ainda são moda e fator de sobrevivência no Poder
Judiciário do Estado do Espírito Santo. A diferença, ou a tentativa de busca
de idéias inovadoras, é, com algumas exceções, premiada com a
marginalidade e, então, a criatividade que mal desponta é de imediato
amortecida.
o
fato, ainda, do controle organizacional ser mutante eocupado por pessoas que entendem pouco de administrar, embora muito de
aplicar as leis, cria um vínculo maior com as regras tradicionais, não
permitindo que os espaços sejam abertos para mudanças, já que elas são
imprevisíveis e precisam de soluções imediatas.
Na análise de toda a conjuntura exposta percebe-se que o
um, arraigado ao sistema antigo - com mentalidade tradicional, todo um
conjunto de preconceitos e de idéias prontas para justificar e legitimar os
atos dos seus administradores - e, outro, buscando consonância com a
mundialização - reconhecendo uma realidade e conduzindo a uma
abertura de seus modelos, visando melhorar a sua produtividade, gerando,
implantando e exportando novos modelos de controle e organização, que
atendam às expectativas da sociedade em relação as mudanças por ela
experimentada. Ou seja, uma parte do Poder Judiciário do Estado do
Espírito Santo vem identificando maneiras de melhor utilizar os seus
recursos e potencialidades; o que, sem dúvida alguma, tem sido, para os
inovadores, um desafio intelectual e emocional constante, não só pelas
mudanças velozes e contínuas, como por terem que enfrentar um sistema
solitário, desunido, dissimulado, pessimista e cético.
Fóruns e Tribunais são administrados por homens que estudam
e dedicam-se às leis, assumindo o duplo papel de administrar e julgar. Com
as prateleiras constantemente abarrotadas de processos que não param de
chegar, num trabalho incansável, essas pessoas - magistrados
-temporariamente gestores de Fóruns e Tribunais, são obrigados a dividir-se
entre os problemas administrativos rotineiros e o ato de julgar. É claro, que
sempre para "mais tarde". Não há tempo para elaborar planos de gestão,
para ouvir serventuários (quem são eles!?!) insatisfeitos ou priorizar
problemas do quotidiano.
Como conseqüência, encontra-se um ambiente de insatisfação,
com autômatos - robôs humanizados a serviço das leis - , desenvolvendo
atividades de forma arcaica, desatualizada e morosa. Enrolados num
modelo tradicionalista e altamente burocrático, muitos funcionários
atendem mal e alguns administradores de Fóruns se colocam como
detentores de todo o saber, ignorando as dissonâncias que se multiplicam
pelos corredores e, mais grave, os seus agentes.
Estas têm sido questões de fundamental abordagem no
Judiciário e dizem respeito também a falta de capacitação dos seus
servidores. Não há uma constância de cursos de desenvolvimento /
treinamento direcionados para o aperfeiçoamento dos recursos humanos. Os
candidatos às diversas funções do Judiciário do Estado do Espírito Santo,
após processo seletivo, são "remetidos" aos seus postos de serviço, sem o
conhecimento das bases mínimas para o desempenho das suas atividades.
Alguns candidatos à função de magistratura, quando selecionados e após
assumirem as suas funções, perdem-se em estrelismos, talo despreparo para
Torna-se inevitável um repensar por parte dos gestores do
judiciário capixaba, para o fato de que a melhora de atendimento e
agilização dos processos também passa pela capacitação dos seus
servidores, produzindo uma interação dinâmica e equipes de criação do
conhecimento, visando a geração de novos modelos de criação com base no
ambiente local. A importância do desenvolvimento de empregados é prática
universal nas organizações e leva a uma maior qualidade aos serviços
oferecidos.
Cohen (1998) dá ênfase ao treinamento como garantia de
excelência dos serviços, quando afirma que "devemos treinar, treinar e treinar", pois só a constância do treinamento permitirá o conhecimento do indivíduo
em si mesmo e do produto a ser oferecido.
Segundo Nonaka~ Takeuchi (1997: 5),
Tofller (1990) corrobora a afirmação de Drucker, proclamando que o conhecimento é a fonte de poder de mais alta qualidade e a chave para a futura mudança de poder. Tofller observa que o conhecimento passou de auxiliar do poder monetário e da força fisica à sua própria essência e é por isso que a batalha pelo controle do conhecimento e pelos meios de comunicação está se acirrando no mundo inteiro.
Os magistrados, em sua maioria, preocupam -se apenas com o
conhecimento representado pela análise das leis (o que, de certa forma, os
conhecimento), negligenciando todo um contexto de mudanças contínuas.
Perdem o dinamismo e esquecem-se de que o conhecimento é, na verdade,
uma combinação de modelos mentais voltados para as necessidades da sua
organização, cujas rotinas vêm traçando uma trajetória de evolução
tecnológica.
O Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo enfrenta um
paradigma neste século XXI, que é o de desenvolver um novo conceito de
renovação e mudança, identificando competências essenciais para
integrá-las ao coletivo, disseminando novas habilidades voltadas para a tecnologia,
qualidade e maior produtividade.
1.3 AMBIENTE ORGANIZACIONAL
A natureza mutante do ambiente e das relações da organização
com o ambiente têm modificado os padrões de comportamento de grupos de
pessoas e de organizações, criando culturas organizacionais que refletem a
missão e as metas, além de influenciar nas tomadas de decisão.
As empresas tradicionais viam a eficácia e o sucesso como
organizações têm precisado se adaptar às condições externas mutantes, para
sobreviverem de forma eficaz, ou seja, têm enfrentado o desafio recorrendo
a unidades autogerenciáveis. Para tanto, precisam de pessoas detentoras de
conhecimento, com alto índice de autodisciplina e responsabilidade
individual e aptos a transformar informações em estratégias de negócios.
Nem todos os ambientes organizacionais, entretanto, estão
inseridos nesse contexto, porque, além de não terem concorrentes não
dispõem de novidades tecnológicas, como ocorre com o Poder Judiciário,
considerado como um ambiente estável (permanece o mesmo por um longo
período de tempo) que por ser um sistema relativamente fechado, com
pensamento administrativo clássico, não conseguiu ainda adaptar-se
totalmente ao ambiente externo atual, mantendo um vínculo com o passado,
tanto em questões de tecnologia, quanto de procedimentos administrativos.
Embora os Tribunais de Justiça, como estrutura organizacional
do sistema judiciário, sejam instituições importantes das democracias
modernas, para alguns setores da sociedade são conhecidos apenas pelo seu
caráter autoritário e imprevisível.
Bowditch (1992: 143), aponta a mudança tecnológica como um
elementos existentes fora dos limites da organização e que tenham potencial para afetar a organização como um todo ou parte dela".
Os fatores ambientais, entretanto, não vêm influenciando a
filosofia e a prática gerencial na Justiça capixaba, já que lá sobrevive ainda
o modelo de "burocracia mecanizada", com tarefas altamente rotinizadas,
regras e regulamentos muito formalizados, autoridade centralizada e uma
nítida demarcação entre as funções do juiz-administrador e dos demais
serventuários, além da falta de inovação e alienação funcional, em parte
devido a falta de comunicação, que, por ser muito verticalizada, nem
sempre chega à base. Ou, o que é pior, em sua maioria, inexiste.
As relações no Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo,
algumas vezes, transcorrem a tal distância, que os funcionários perdem a
noção da realidade organizacional e não sabem a quem recorrer para as
dúvidas que surgem no dia-a-dia.
Manter esta "burocracia mecanizada" é bem imprópria para a
Era atual, mas os magistrados e aqueles que também estão exercendo a
função de gestores não se deram conta da necessidade de se ajustar às
exigências de uma sociedade que se transforma constantemente e clama por
A falta de entendimento quanto a necessidade de uma
integração e aplicação de novos conhecimentos tecnológicos, visando um
avanço nas comunicações/infonnações, reforça o modelo institucional com
características retrógradas.
1.4 AUTONOMIA DO PODER JUDICIÁRIO
Embora a história da organização judiciária tenha a sua origem
no Brasil colônia, nesta época nem se cogitava autonomia para essa
instituição.
A criação da Casa da Suplicação do Brasil, elevou a antiga
Corte do Rio de Janeiro à qualidade de Primeiro Tribunal, o que veio a
posicioná-lo como instância superior, dando origem ao primeiro órgão de
cúpula, que atuou com o objetivo de disciplinar e revisar as decisões das
Relações (Jucovsky, 1997).
A Constituição de 1891 trouxe algumas inovações para o Poder
Judiciário brasileiro. Em razão do momento histórico da Proclamação da
República, a estrutura judiciária brasileira sofreu algumas influências
surgimento da Justiça Federal, tendo por órgão de segunda instância o então
Supremo Tribunal Federal. A Justiça Federal idealizada contava com a
existência de uma Seção Judiciária para cada Estado e Distrito Federal, sob
a responsabilidade de um juiz federal, denominado juiz de Seção, no
desempenho da função de primeira instância (Alves, 1987 Apud Ferreira,
1999).
A marca norte-americana na divisão entre justiça pertinente aos
estados-membros e Justiça da Federação, ficou na história do Poder
Judiciário brasileiro.
Quando do governo ditatorial de Getúlio Vargas, em 1937,
várias restrições foram impostas ao Poder Judiciário, principalmente no
tocante ao controle da constitucionalidade das leis. Constava da
Constituição em VIgor, que, apenas pela maioria absoluta de votos da
totalidade de seus juízes, os Tribunais poderiam declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato presidencial. Porém, mesmo que
houvesse unanimidade de votos, a decisão do Tribunal poderia tomar-se
sem efeito, caso o Presidente a compreendesse como necessária ao
bem-estar do povo ou à promoção de especial interesse nacional e obtivesse dois
terços de votos em cada uma das Câmaras a favor de sua continuidade
Verifica-se que já nesta época havia a ingerência de um Poder
sobre o outro, em assuntos de exclusiva competência, no caso, do
Judiciário, que deveria exatamente cuidar da constitucionalidade das leis.
Após a submissão do Judiciário no governo Getúlio Vargas, a
Constituição de 1946 expressou a importância da separação dos Poderes e
resgatou a força da justiça, recuperando a observância das garantias de
vitaliciedade e inamovibilidade, bem como irredutibilidade de vencimentos
para juízes.
Novamente o Poder Judiciário ganhou competência para
conhecer a inconstitucionalidade de leis, ficando, dessa forma, livre da
ingerência do Poder Executivo. Ainda esta mesma Constituição estruturou o
Poder Judiciário em: Supremo Tribunal Federal, Tribunais Federais de
Recursos, Juízes e Tribunais Militares, Juízes e Tribunais Eleitorais e
Tribunais do Trabalho. A Justiça Federal de primeira instância, extinta em
1937, entretanto, não foi recriada (Alves, 1987).
Em 1967, através da Carta Magna, o Poder Judiciário sofreu
mais uma vez uma situação de submissão com o fortalecimento do Poder
Executivo, o que só foi revertido anos mais tarde, em 1988, com a
Com o advento da Constituição de 1988, acreditou-se que os
anseios de independência do Judiciário fossem ser reconhecidos, ficando ele
com autonomia, tanto financeira quanto administrativa, pois anteriormente a
esta Constituição, vários ministros, dentre eles Xavier de Albuquerque, já se
mostravam insatisfeitos, como demonstrou em sua fala, transcrita por
Ribeiro (1994:35).
Teoricamente, o Poder Judiciário tomou-se autônomo
financeira e administrativamente, porém os seus recursos de funcionamento
não dependiam dele próprio (a dotação orçamentária era definida por outros
dois Poderes, que acreditavam que a única função do Judiciário era a de
julgar). Só há independência no ato isolado de sentenciar, quando se dispõe
de recursos próprios, e não tomando-se refém de "um sistema de
dispositivos", adotado por uma Constituição.
o
artigo 99 da Constituição Federal de 1988 trata daautonomia financeira e administrativa, conferida ao Poder Judiciário.
Art. 99 - Ao poder judiciário é assegurado autonomia administrativa e financeira.
§ 10 - Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias.
§ 20
- O encaminhamento da proposta , ouvidos os outros tribunais, compete:
II - no âmbito dos estados e no Distrito Federal e territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais.
Era esta uma antiga reivindicação do Judiciário, que se
encontrava há anos, subordinado ao Executivo, principalmente no tocante a
elaboração de seu orçamento.
A teoria da separação de poderes, proposta por Montesquieu,
previa três poderes autônomos e harmônicos entre si, porém, o Judiciário
não é plenamente autônomo.
A falta de autonomia financeira do Poder Judiciário perante os
Poderes Executivo e Legislativo reduz a capacidade de administrar a justiça
e, deste modo, também ocorre o desaparelhamento de Fóruns, ocasionando
falta de condições de trabalho para os juizes e demais servidores,
especialmente em Comarcas de interior.
Atualmente o Poder Judiciário tem autonomia para empregar
as suas verbas (sempre definidas em valores inferiores ao necessário),
respeitados os limites estipulados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Assim deve ser, para que, "nas palavras de Freidrich, 'não se inicie o caminho para
a ditadura'" (Ribeiro, 1994:34). Quando a independência do Poder Judiciário
A autonomia administrativa dos Tribunais a ele compete,
conforme estabelecido no artigo 96 da Constituição Federal:
dispor sobre a competência dos seus órgãos administrativos e jurisdicionais, organizar as suas secretarias e serviços auxiliares, prover os cargos de Juiz de Carreira da respectiva jurisdição, propor a criação de novas varas judiciárias, prover por concurso público de provas, ou de provas e títulos, os cargos necessárias à administração da justiça.
Numa reflexão, entretanto, questiona-se sobre tal autonomia, já
que olhando sobre outro prisma, encontra-se um Poder Judiciário
dependente orçamentária e administrativamente em relação aos Poderes
Executivo e Legislativo, o que o neutraliza politicamente. E, ainda,
dependente da procura dos cidadãos que formam a sociedade brasileira
o
Judiciário precisa preservar a sua independência para que osseus magistrados não sofram pressões de qualquer tipo no desenvolvimento
das suas atividades judicantes, ou seja, espera-se do magistrado que ele
judique com desinteresse os conflitos dos seus jurisdicionados, mas para
que tal ocorra ele precisa estar inserido numa instituição totalmente
Quando da expansão industrial, na década de 50, as empresas
brasileiras adotaram uma política de ênfase nos produtos, não considerando
os clientes, que, porventura, estivessem consumindo seus produtos ou
serviços como importantes para o seu negócio.
A concorrência e a diversificação de produtos à disposição dos
consumidores era pequena, o que lhes permitia pensar que todo aquele que
quisesse um produto ou serviço, deveria buscá-lo no mercado sem fazer
maiores considerações a respeito da qualidade dos mesmos. A idéia era de
que o cliente deveria adaptar-se ao produto que lhe era oferecido, conforme
qualquer cor de carro que desejassem, desde que fosse preto". Dentro deste contexto, a satisfação do cliente era irrelevante.
Entretanto, as novas realidades competitivas romperam as
fronteiras, derrubando grande parte dos padrões que norteavam a gestão das
empresas. Os produtos e serviços passaram a sofrer a influência dos
mercados e as barreiras que os limitavam foram desaparecendo com o
fenômeno mundialização. Também o cliente foi afetado e a partir daí,
buscou avaliar melhor as alternativas que lhe eram apresentadas.
Às empresas restou constatar o ambiente de turbulência e constantes mutações, bem como a necessidade de aperfeiçoar seus
processos de planejamento e gerência, enfocando novos conceitos de
qualidade / produtividade. Neste sentido, visando uma vantagem
qualitativa, grande parte das empresas brasileiras, para manterem sua
posição competitiva no mercado, buscaram, através da tecnologia, novos
modelos de trabalho.
O desenvolvimento de tecnologias foi importante como
sustentáculo de competitividade das empresas à nivel mundial. O avanço
tecnológico ocorrido nas últimas décadas, ao criar novos paradigmas,
novas formas produtivas e modificando algumas dimensões da inter-relação
do indivíduo com o mundo e da sua percepção da realidade.
A tecnologia de redes eletrônicas modificou de forma profunda
o conceito de tempo e espaço, ligando pessoas dos mais diversos lugares em
tempo real, permitindo-lhes trabalhar em conjunto, trocar informações,
aprender e ensinar, ou seja, contribuiu para a participação de um processo
de aprendizagem tecnológica .. "Aprendizagem refere-se aos vários processos pelos
quais habilidades e conhecimento tecnológico são adquiridos por indivíduos e
convertidos para a empresa" (Figueiredo: 2000:207).
Não é possível negar que a tecnologia trouxe melhorias
revolucionárias, mas é possível afirmar que ela também trouxe
desorganização de competências e de práticas organizacionais, criando
funções diversificadas e mobilizando todas as pessoas para a necessidade
crescente de um conhecimento mais especializado, com vistas para o
interior e exterior da sua instituiçã%rganização.
Fez-se necessário que as organizações desenvolvessem a
capacidade de identificar as suas deficiências, tanto nas aptidões
estratégicas quanto tecnológicas, direcionando as suas atividades para o
desempenho proativo, visando maior probabilidade de sucesso junto aos
A velocidade e descontinuidade das mudanças externas, a
necessidade de adaptação da organização ao novo ambiente, desafiou
empresas a trabalharem no sentido de transformar a cultura então existente,
formando uma nova classe de trabalhadores virtuais. A comunicação deixou
de ser linear, tomando-se sensorial e multi dimensional.
Essa corporação nova, virtual, não possui contornos, não apenas em relação aos seus parceiros estratégicos, mas também em relação aos seus empregados.
Esta é a nova geração de empregados que, por meio dos avanços em telecomunicações e computadores, está livre para trabalhar em casa ou em algum escritório distante ... e, além do mais, capaz de escolher onde será o seu local de trabalho (Malone e Edvinsson, 1998: 116-117).
Tomou-se impossível não fazer parte deste crescente universo
de inovação tecnológica e não se engajar no sistema, aliando o trabalho
desenvolvido a nova realidade virtual.
"As empresas
C .. )
que não entenderem a mensagem do mercado irão setornar obsoletas, o mesmo ocorrendo com velhos processos de trabalho e respectivas
profissões" (Vasconcelos FO, 2001 : 12).
Existe a consciência da importância da formação de um novo
grupo de trabalhadores, para que a empresa possa ajustar o seu perfil ao
século XXI.
Esse novo grupo de trabalhadores
sentir a grande pressão para seguir as instruções de um chefe que se encontra em outro continente com uma diferença de quatro fusos horários (Malone e Edvinsson, 1998: 120).
As organizações inteligentes reconhecem que para terem uma
vantagem competitiva no século atual faz-se necessário aliar o
planejamento da qualidade a tecnologias modernas, para o qual as empresas
vêm investindo, sistematicamente, dentro de uma filosofia que prima pela
satisfação do cliente interno e externo, o mais plenamente possível, o que
resulta no diferencial de uma organização que busca o sucesso e, para tanto,
insere-se num contexto mundializado.
Barros (1996), entretanto, lembra da necessidade de se fazer
uma reflexão no sentido de que não bastam máquinas modernas se não há
pessoas habilitadas para manuseá-las. Verifica-se, portanto, que a qualidade
dos serviços inicia-se pela capacitação dos funcionários/empregados e se
complementa com uma tecnologia moderna à sua disposição.
"A capacidade de utilização do conhecimento irá fazer a diferença entre
as organizações e até mesmo entre os países" (Rodriguez y Rodriguez, 2001: 14)
No meio empresarial consegue-se vislumbrar com facilidade a
importância da qualidade e de que forma esta filosofia propicia a
sobrevivência das empresas, partindo do entendimento de que o cliente
o
Poder Judiciário também pode ser visto como uma grandeempresa, cujos serviços não podem estar à margem das transformações
ocorridas, para que não seja atropelado pela história.
No século XIX, uma das principais preocupações das empresas
era garantir que um grupo de profissionais realizasse uma tarefa com igual
eficiência e esforço. Ford implementou a sua linha de produção calcada na
exigência de padronização de atividades, o que lhe garantiu o sucesso do
processo produtivo. No século XX, com a chegada intempestiva da internet,
várias barreiras foram derrubadas e o conhecimento passou a ser
compartilhado, de forma sistemática, com um maior número de pessoas,
agilizando decisões, reduzindo custos e exigindo maior aperfeiçoamento de
todos os profissionais. No século XXI " ( ... ) a aplicação de novas idéias e
conhecimentos poderá vir a ser a diferença entre o sucesso e o fracasso" (Rodriguez y
Rodriguez, 2001:95).
Dentro desta abordagem vale ressaltar que o Poder Judiciário
do Estado do Espírito Santo constitui-se numa organização cujos serviços
oferecidos são especiais, para uma clientela especial e, assim, nada mais
justo que siga o exemplo de milhares de organizações, que foram
Já que uma empresa deve reconhecer a importância do seu
consumidor por uma relação do mercado, justo também que o Poder
Judiciário capixaba reconheça a importância do cidadão, em função de uma
relação institucional que o criou, visando garantir a eficiência dos serviços
que oferece à sociedade.
Não há barreiras que impeçam a realização deste ideal.
Inserir-se na modernidade significa prestar atenção aos processos de gestão,
envolver servidores no processo de comprometimento, prestar atenção ao
cliente, tomar a burocracia mais flexível e fazer uma administração voltada
para o cidadão.
Com esta nova visão, poder-se-à resgatar a Justiça, enquanto
parte do complexo estatal, adotando-se um instrumento mais eficaz de
controle do desempenho do sistema judiciário, permitindo que qualquer
cidadão sinta-se, de fato, em condições de pleitear o que lhe é devido. Não
se pode, portanto, negar a importância de tamanha necessidade, conquanto
seja o Judiciário co-partícipe de todo o processo social, no qual exerce
parcela de responsabilidade institucional.
Os novos tempos pedem novas organizações, que terão que ter
contínuo. Na verdade, este processo de aperfeiçoamento tomou-se uma
corrida para o futuro, em que todos precisam mudar para não perecer.
c .. )
Lee Loevinger, erudito advogado de Minesota, ( ... ), na metade deste século, proclamou a necessidade de utilizarem-se métodos científicos no âmbito das ciências jurídicas, com ênfase na aplicação da elaboração eletrônica e da tecnologia da automação. Estava criada a JURIMETRIA, que distinguia a análise quantitativa do comportamento judicial, a aplicação da teoria da comunicação e da informação ao entrelaçamento jurídico, ou seja, o uso da lógica matemática no direito, a recuperação dos dados jurídicos por meios eletrônicos e mecânicos (Szklarwosky, 2000:2).Não basta, no entanto, participar desta corrida com um novo
tipo de veículo organizacional: é preciso ter a visão de onde se quer chegar,
para não correr o risco de vagar sem rumo ou ficar dando voltas sobre si
mesmo. Para tanto, faz-se necessário mudar a filosofia da organização,
submetendo-a a uma transformação radical, onde o cliente /usuário deve ter
suas necessidades atendidas da melhor forma possível.
É preciso que o Judiciário do Estado do Espírito Santo
aproveite o momento de profundas reformas administrativas, planejadas
pelo Governo, que pôs em pauta a necessidade de se repensar o sefV1ço
público brasileiro, através do Plano Diretor de Reforma do Aparelho de
Estado, onde são defendidas noções novas a serem implantadas na
administração pública, para quebrar os seus paradigmas, flexibilizando a
técnicos e tecnológicos e, desta fonna, promover o aperfeiçoamento da
máquina pública.
Fica evidente, analisando a estrutura do Poder Judiciário
capixaba, que muitas barreiras limitam as mudanças desejadas e
necessárias. Uma delas é o fato de que ele se estrutura em feudos (fóruns),
que funcionam independentes administrativamente, dispondo de uma
hierarquia própria e limitando os seus funcionários a uma rotina que não
leva a qualquer solução de problemas.
Estes feudos (fóruns) têm o foco voltado para o seu interior e,
às vezes, seus gestores entram em conflito com os gestores de outros fóruns,
pelo sucesso obtido, deixando claramente transparecer um antagonismo
forte quando da viabilização de novas tecnologias, que pennitem satisfazer,
a um custo reduzido, as exigências da sociedade.
Dentro deste contexto, alguns juízes-gestores nada têm feito no
sentido de aderir às novidades, introduzindo recursos tecnológicos que
ampliarão os limites atualmente existentes, melhorando a qualidade dos
servIços e processos.
A dependência do mundo virtual, entretanto, é inevitável,
indiscutível. Apesar deste fato ser tangível, uma questão vem demonstrando
muitos juízes têm questionado a sua validade jurídica, visto ser possível,
por meio de recursos técnicos, alterá-los sem deixar vestígios.
Por outro lado, entretanto, através da técnica da assinatura
digital, toma-se possível garantir a autenticidade e a veracidade de um
documento eletrônico e, por conseqüência, atribuir-lhe validade jurídica. "A
assinatura digital é, em síntese, uma codificação, garantida e atribuída por uma terceira pessoa por um certificado, de fonna a proteger o documento de qualquer alteração sem vestígios. Aqueles que dispõem de assinatura digital já podem efetuar troca de documentos e informações pela rede com a devida segurança fisica e jurídica" (Blum, 2000: 1).
Os questionamentos são importantes para a expansão do
conhecimento, porém a relação virtual e os seus efeitos, a adaptação e
interpretação das normas jurídicas através da internet, gerando resultados
legais sérios e enorme potencial de efeitos jurídicos já se tomou uma
realidade no sistema judiciário, como, por exemplo, a assinatura de
contratos eletrônicos entre as partes com segurança muitas vezes superior
àquela utilizada no meio fisico.
Destaque-se, ainda, o trabalho invulgar dessa nova tecnologia,
que vem sendo desenvolvido pelo atual vice-presidente do Tribunal de
Castro Lugon, apresentado em capítulo a parte, cujo desempenho tem sido
analisado e absorvido por vários Tribunais, inclusive de outros países.
As técnicas de informática em geral se aplicam a qualquer tipo de informação, independentemente do seu conteúdo, e submetem-se a determinados princípios, para ter sua validade e eficácia testados, quais sejam: a eficiência, a utilização, o grau de acesso, a velocidade operacional. (. .. ) Essa ferramenta eletrônica, indiscutivelmente, não só está facilitando o exercício das mais diversas atividades como se tomou indispensável, sem o que o homem não teria chegado à Lua nem estaria mapeando o universo, a ponto de em breve, (. .. ) estar atingindo outros planetas e civilizações, imitando, desta vez, com pleno êxito, Ícaro, o lendário ser do pássaro voador (Szklarwosky, 2000:3).
São imensuráveis os recursos proporcionados pela tecnologia
eletrônica. O Brasil, com a Lei 9800, de 26/5/99, acompanha de perto o
progresso científico e o avanço tecnológico, ao permitir às partes a
utilização de sistema de transmissão de dados e imagens para a prática de
atos processuais, que dependem de petição escrita. "Os juízes poderão praticar
atos de sua competência à vista de transmissões efetuadas na forma desta lei, tomando-se o usuário deste sistema de transmissão o responsável pela qualidade e fidelidade do material transmitido e por sua entrega ao órgão judiciário" (Szk1arwosky, 2000:4).
A Lei 6830, de 22/9/80, é pioneira na simplificação do
processo formalístico e cartorário, tendo antevisto o processo eletrônico
como veio condutor do sistema. Não se pode mais negar que o acesso à