DUPLA MENINGOCELE NA COLUNA VERTEBRAL
EHRENFRIED O . WITTIG *
A coluna vertebral em seu desenvolvimento embrionário, derivada do
mesênquina e envolta por tecido mesodérmico, passa por três fases2
>9 . No estado mesenquimatoso ou membranoso, próximo à terceira semana, o esclerótoma modifica sua estrutura celular, constituindo o arco neural no interior do qual se encontra a corda dorsal. O arco neural progressiva-mente envolve a medula formando, na porção posterior, apófises que, ini-cialmente duplas, tendem a se unificar. N o segundo mês tem início o período cartilaginoso ou de condrificação que se completará ao final do quarto mês. O período ósseo, ao término do terceiro mês, principia por um ponto de ossificação no corpo vertebral e dois apofisários que, progressiva-mente, se aproximam; por ocasião do nascimento estão juntos, mas não totalmente ossificados. Do fechamento das massas espinhosas resultará a apófise espinhosa. O fechamento apofisário tem início na parte cefálica da coluna vertebral. A fusão do tubo neural se inicia do 20.° ao 22.° dia e se completa, no polo caudal, aproximadamente no 30.° dia. Assim, o pe-ríodo entre o 20.° e o 30.° dia, corresponde à etapa crítica para as malfor-mações raqueana. Alterações patológicas poderão ocorrer nesta fase do desenvolvimento 5
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impedindo a união das massas espinhosas e produzindo espinha bifida. Esta eventualidade poderá associar-se à protusão das me-ninges (meningocele) que, por sua vez, poderá, ou não, conter elementos nervosos. Esta malformação freqüentemente se associa a outras, motivo pelo qual é incluída no grupo das disrafias. As espinhas bífidas são mais freqüentes nos pontos de transição das curvaturas, podendo ser isoladas ou múltiplas e manifestar-se com ou sem meningocele, em qualquer parte da coluna raqueana. Registramos um caso de dupla meningocele na coluna vertebral.
O B S E R V A Ç Ã O
A . M . L . , com dois meses de idade, sexo feminino, b r a n c a , internada em 761963 ( R . G . 024.011). R e l a t a a m ã e que, ao nascimento, a paciente j á a p r e -s e n t a v a d u a -s tumoraçõe-s ao nível da coluna v e r t e b r a l . Antecedente-s — P a r t o n o r m a l a termo; entre o 4.° e 5.° mês de gestação a m ã e apresentou hemiparesia esquerda transitória; os pais n ã o são consanguíneos. Exame físico — P e r í m e t r o cefálico 41 cm; distâncias ânteroposterior 25 cm e b i a u r i c u l a r 23,5 cm. F o n t a -nelas não tensas; a anterior com diâmetros de 10 X 8 cm e a posterior com
C O M E N T A R I O S
Embora sejam numerosos os trabalhos publicados3
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sobre
meningo-cele, poucos 8
fazem referências a dupla meningocele na coluna vertebral. Bastante conhecida é sua freqüência nos níveis de transição (côncavo-con-vexo) das curvaturas dos segmentos da coluna e, também, a possibilidade de sua formação em qualquer lado do processo ósseo vertebral e, mesmo, ao nível do crânio. Muitas vezes pacientes, aparentemente normais ou com hidrocéfalo compensado, com ou sem tais malformações, apresentam aumen-to brusco do perímetro cefálico, espontaneamente ou quando submetidos a exames neuroradiológicos ou à cirurgia plástica da meningocele. N o caso relatado, dias após a pneumoventriculografia tal fato ocorreu. Para com-pensar o hidrocéfalo foi decidido fazer a drenagem do líquido cefalorraquea-no mediante derivação ventrículo-peritoneal.
R E S U M O
É relatado caso de dupla meningocele de coluna vertebral, respectiva-mente nas regiões cervico-torácica e tóraco-lombar, no qual ocorreu hidro-céfalo após pneumoventriculografia. Para a compensação do hidrohidro-céfalo foi feita drenagem ventrículo-peritonial.
S U M M A R Y
Double spinal meningocele
A case of double spinal meningocele in thoraxic vertebral column in which occurred hydrocephalus after a pneumo-encephalographic examination is reported. T o compensate the hydrocephalus a ventricle-peritoneal deri-vation was performed.
R E F E R Ê N C I A S
1 . B R A S O N , A . J. — R a d i o l o g i c a l s t u d i e s o f spina b i f i d a c y s t i c a . T h e p h e n o -m e n o n o f c o n g e n i t a l l u -m b a r k y p h o s y s . B r i t . J. R a d i o l . 38:294, 1965.
2 . C A N E L A S , H . M . ; Z A C L I S , J. & T E N U T O , R . A . — C o n t r i b u i ç ã o a o e s t u d o das m a l f o r m a ç õ e s o c c í p i t o - c e r v i c a i s . A r q . N e u r o - p s i q u i a t . ( S ã o P a u l o ) 10:407, 1952.
3 . C A M P B E L L , J. — C o n g e n i t a l a n o m a l i e s o f t h e n e u r a l a x i s . A m e r . J. S u r g . 75:231, 1948.
4 . D E K A B A N , A . — N e u r o l o g y o f I n f a n c y . T h e W i l l i a m s & W i l k i n s C o . , B a l t i -m o r e , 1959.
6. G A R E I S O , A . & E S C A R D Ó , F . — N e u r o P s i q u i a t r i a . E d i t o r i a l E l A t e n e o , B u e -nos A i r e s , 1956.
7 . I N G R A H A M , F . D . & M A T S O N , D . D . — N e u r o s u r g e r y o f I n f a n c y a n d c h i l d -h o o d . C -h a r l e s C. T -h o m a s , S p r i n g f i e l d ( I l l i n o i s ) , 1961.
8. S I L V A , M . U . M . — E s t u d o c l í n i c o , c i r ú r g i c o e o r t o p é d i c o da r a q u i s q u i s i s . T e s e , R i o de J a n e i r o , 1921.
9 . T A U R E , M . — A n a t o m i a del D e s a r r o l l o . E d i t o r i a l C i e n t í f i c o M é d i c a , B a r c e l o n a , 1947.