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Incontinência urinária e os critérios de fragilidade em idosos em atendimento ambulatorial.

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Academic year: 2017

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Incontinência urinária e os critérios

de fragilidade em idosos em

atendimento ambulatorial

URINARY INCONTINENCE AND THE CRITERIA OF FRAILNESS AMONG THE ELDERLY OUTPATIENTS

INCONTINENCIA URINARIA Y LOS CRITERIOS DE FRAGILIDAD EN ANCIANOS EN ATENCIÓN AMBULATORIA

RESUMO

Este estudo teve como objetivos verificar a ocorrência de incontinência urinária (IU) e suas características em idosos pré-frágeis e frágeis atendidos em um ambulatório de geriatria, comparar a presença dos critérios de fragilidade entre os idosos com e sem IU e identificar entre os critérios de fragilidade a chance de risco para IU nesses idosos. Par-ticiparam do estudo 100 idosos, com média de idade 76,2 anos; 65 idosos relataram IU, 71,3% desses apresentavam três ou mais cri-térios de fragilidade. A ocorrência de IU foi superior nos idosos frágeis (p=0,0011). A análise multivariada mostrou que os critéri-os lentidão (OR=4,99) e exaustão (OR=4,85) apresentaram relação estatisticamente sig-nificativa com IU. A ocorrência de IU foi ele-vada e aqueles idosos que apresentam len-tidão têm chance risco quase cinco vezes maior de apresentar IU e os que referem exaustão tem chance de risco cinco vezes maior de IU quando comparados aos que não apresentam esses critérios.

DESCRITORES Incontinência urinária Idoso fragilizado Saúde do idoso Enfermagem geriátrica

1 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, Brasil. vanisabreu@hotmail.com 2 Professora Associada do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Universi-dade Estadual de Campinas. Campinas, SP, Brasil. mariadio@uol.com.br 3 Enfermeira. Residente do Programa de Residência em Cardiologia do Instituto

A

R

TIGO

O

RIGINAL

Vanessa Abreu da Silva1, Katia Lacerda de Souza2, Maria José D’Elboux3

ABSTRACT

The objectives of this study were to verify the occurrence of urinary incontinence (UI) and its characteristics in pre-frail and frail elderly patients of a geriatrics outpatient clinic, compare the presence of frailness cri-teria among the elderly with and without UI and identify among the frailty criteria the chance of risk for UI among those elderly outpatients. Participants were 100 elderly individuals, with an average age of 76.2 years; 65 participants reported UI, 71.3% of which presented three or more frailness criteria. The occurrence of UI was greater in frail par-ticipants (p=0.0011). Multivariate analysis showed that the criteria slowness (OR=4.99) and exhaustion (OR=4.85) has a statistically significant relation with UI. The occurrence of UI was high and participants who pre-sented slowness have a risk almost five times greater to presenting UI while those report-ing exhaustion have a risk five times greater for UI compared to those without these cri-teria.

DESCRIPTORS Urinary incontinence Frail elderly Health of the elderly Geriatric nursing

RESUMEN

Estudio que objetivó verificar la ocurrencia de incontinencia urinaria (IU) y sus caracte-rísticas en ancianos pre-frágiles y frágiles atendidos en ambulatorio de geriatría, com-parar la presencia de criterios de fragilidad entre ancianos con y sin IU e identificar en-tre los criterios de fragilidad la chance de ries-go para IU en estos ancianos. Participaron del estudio 100 ancianos, con edad media de 76,2 años; 65 ancianos refirieron IU, 71,3% de ellos presentaban tres o más criterios de fragilidad. La ocurrencia de IU fue superior en ancianos frágiles (p=0,0011). El análisis multivariado mostró que los criterios lenti-tud (OR=4,99) y agotamiento (OR=4,85) pre-sentaron relación estadísticamente significa-tiva con IU. La ocurrencia de IU fue elevada y aquellos ancianos con lentitud tienen chance de riesgo casi cinco veces mayor de presen-tar IU, y los que refieren agotamiento tienen chance de riesgo cinco veces mayor de IU comparados con los que no presentan esos criterios.

(2)

INTRODUÇÃO

A temática incontinência urinária (IU) pouco tem sido investigada pelos profissionais de saúde e são escassos es-tudos sobre sua prevalência e incidência na literatura naci-onal(1), apesar de estudiosos a apontarem como um

pro-blema de saúde pública(2).

IU é definida como queixa de qualquer perda involun-tária de urina(3) e é uma condição frequente na população

em geral, acometendo cerca de 19% das mulheres e 10% dos homens com mais de 60 anos. Sua ocorrência aumen-ta exponencialmente com o avanço da idade frente a mo-dificações funcionais e estruturais no sistema urinário e com o comprometimento da independência funcional. Por-tanto, estima-se que, com o crescimento da população de idosos, aumente consideravelmente a ocorrência de IU(2-3).

Estudos internacionais mostram que a IU está presen-te em aproximadamenpresen-te 30% dos idosos residenpresen-tes na co-munidade, 40,0 a 70,0% nos hospitalizados e

50,0% nos institucionalizados. Representa um grande peso econômico, à medida que one-ra recursos financeiros de cuidado à saúde, além de aumentar expressivamente o risco de institucionalização, fragilidade, fraturas e depressão(3).

Além disso, a IU é considerada uma das mais importantes e recorrentes síndromes geriátricas(4-7), na medida em que muitos são

os seus impactos na vida dos idosos. Mere-cem destaque as implicações negativas nas esferas emocional, social e econômica, tanto para o indivíduo incontinente, bem como para seus familiares e cuidadores(1).

Evidências de pesquisas apontam a IU como um sinal precoce de pré-fragilidade e fragilidade no idoso. Também está associada ao risco aumentado de declínio funcional(8-9).

O termo fragilidade, relacionado a idosos, raramente era citado antes de 1980. Referia-se ao idoso fraco, com défice cognitivo e físico, incapacitado, doente e que vivia em condições socioeconômicas desfavoráveis. Ainda há ausência de um consenso sobre a definição e a identifica-ção da síndrome da fragilidade, o que representa um dos maiores obstáculos para as pesquisas clínicas(10).

Entretan-to duas correntes de pesquisa se mostram mais consolida-das. Entre os estudiosos que pesquisam sobre a síndrome da fragilidade nos idosos, salienta-se nos Estados Unidos, o grupo de pesquisadores coordenado por Linda Fried(11),

que propôs uma lista de critérios objetivos e mensuráveis que compõem o modelo unidimensional de fragilidade, considerando como prioritários os aspectos fisiopatológicos da síndrome. No Canadá, sobressaem-se os pesquisadores do grupo de Kenneth Rockwood, que consideram a fragili-dade uma síndrome multidimensional, incluindo aspectos

sociais, psicológicos, biológicos e econômicos, e acentuam a complexidade de sua etiologia, que compõe esse mode-lo, propondo a utilização de índices de fragilidade elabora-dos a partir da avaliação geriátrica abrangente(10).

Uma das definições mais aceitas hoje é que a fragilida-de é uma síndrome caracterizada pela diminuição da re-serva energética e pela resistência reduzida aos estresso-res(11).Ocorrem três mudanças fisiológicas relacionadas à

idade que são subjacentes à síndrome da fragilidade, co-nhecidas como tripé da fragilidade:alterações neuromus-culares, desregulação do sistema endócrino e disfunção imunológica(11).

Baseados nessas alterações, os pesquisadores do mo-delo unidimensional de fragilidade elaboraram um fenóti-po de fragilidade comfenóti-posto fenóti-por cinco critérios: perda de peso não-intencional no último ano, exaustão, lentidão, fraqueza muscular e baixo nível de atividade física(11). Para

ser considerado frágil, o idoso deve apresentar três ou mais critérios do fenótipo. A presença de um ou dois crité-rios caracteriza pré-fragilidade, dado gran-de risco gran-de o idoso gran-desenvolver a síndrome da fragilidade(12).

Outrossim, ressaltam a importância da identificação precoce dos critérios de fragili-dade, tendo em vista a prevenção de eventos adversos como descompensação de doenças crônicas, quedas, institucionalização, incapa-cidade e morte(12). Além disso, estudos

apon-tam que, na fase pré-frágil, a síndrome pode ser revertida(8).

Na literatura pesquisada, observou-se es-cassez de trabalhos voltados ao estudo da presença de IU em idosos com critérios de fragilidade. Sendo assim, a relevância do pre-sente estudo está na necessidade de verifi-car essa ocorrência, considerando que a IU pode ser um sinal de alarme para a síndrome da fragilida-de, que por sua vez é um problema de saúde pública.

OBJETIVOS

Verificar a ocorrência de IU e suas características em idosos pré-frágeis e frágeis atendidos em um ambulatório de geriatria.

Comparar a presença dos critérios de fragilidade en-tre os idosos com e sem IU.

Identificar entre os critérios de fragilidade a chance de risco para a ocorrência de IU nesses idosos.

MÉTODO

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e de corte transversal, realizado no Ambulatório de Geriatria do Hos-...a incontinência

urinária é considerada uma das mais

importantes e recorrentes síndromes geriátricas na medida em que muitos são os seus impactos na vida dos idosos. Merecem

destaque as implicações negativas nas esferas emocional,

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pital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campi-nas (Unicamp). O Ambulatório situa-se no terceiro andar do hospital e, às quintas-feiras no período vespertino, sua equipe multiprofissional presta atendimento aos idosos com idade > 80 anos ou acima de 60 anos e com depen-dência física ou cognitiva.

A coleta de dados foi realizada de fevereiro a agosto de 2009. A amostra dessa pesquisa foi de conveniência, com-preendida por 100 idosos atendidos no Ambulatório e que atenderam aos seguintes critérios de inclusão: idade míni-ma de 60 anos; concordância em participar do estudo, com assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclareci-do; em condições de comunicação; pontuação no Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) > 13 (para analfabetos), > 18 (1 a 7 anos de escolaridade), > 26 (igual ou superior a 8 anos)(13), e que apresentaram pelo menos um, entre os

cinco critérios de fragilidade do modelo unidimensional de fragilidade(11). Como critérios de exclusão foram

conside-rados: idosos que não apresentaram condições de comu-nicação oral, presença de défice cognitivo ou pontuações inferiores no MEEM citadas nos critérios de inclusão e au-sência de critério de fragilidade adotado no estudo.

Para a avaliação da fragilidade, foi utilizado o modelo unidimensional de fragilidade(11), composto por cinco

cri-térios, aqui já descritos. Para isso, foi necessário efetuar adaptação em três deles, pois no período em que o instru-mento foi elaborado (2002), para a realização de um pro-jeto temático, não foi possível obter na literatura informa-ções pormenorizadas sobre o procedimento de avaliação de cada critério. Assim, a exemplo de outros estudos en-contrados na literatura, tentou-se ajustar os critérios des-te estudo aos critérios publicados posdes-teriormendes-te por pes-quisadores deste modelo, conforme segue:

Perda de peso involuntária no último ano: em caso de perda de peso superior a 4,5 quilos ou mais de 10% do peso corporal no último ano, atribuiu-se pontuação positi-va para este critério, sendo que no modelo original é con-siderada perda superior a 5% do peso corporal;

Exaustão: avaliada por duas questões da escala de ras-treamento de depressão The Center for Epidemiologic Studies – Depression (CES-D) para detecção do número de vezes, na última semana, o entrevistado sentiu que teve que fazer es-forço para dar conta das tarefas habituais e que não conse-guiu levar adiante suas coisas(14). Se a resposta para ambas

for afirmativa por três dias ou mais da semana anterior, atri-buiu-se pontuação positiva, conforme o modelo original;

Lentidão: avaliada pela velocidade da marcha dimi-nuída, ou seja, tempo cronometrado para percorrer duas vezes uma distância de 4,0 metros, selecionando o menor tempo, ajustado por sexo e altura. Foram pontuados os resultados maiores ou iguais a 7 segundos para homens com altura menor ou igual a 173cm e 6 segundos para ho-mens com altura menor que 173cm; já para as mulheres resultados maiores ou iguais a 7 segundos, para aquelas

gundos, para aquelas com altura maior que 159cm; no modelo original a distância utilizada é 4,5 metros;

Fraqueza muscular: avaliada por meio da força de preensão palmar, medida por meio do dinamômetro ma-nual portátil na mão dominante, com o idoso na posição ortostática. Foi utilizado o maior valor de três medidas, re-alizadas em um intervalo aproximado de 5 minutos entre elas. Os resultados foram estratificados por sexo e índice de massa corpórea (IMC). Atribuí-se pontuação de acordo com os critérios apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 - Critérios de fragilidade para fraqueza muscular - for-ça de preensão palmar - Campinas - 2010

Pontos de corte para fragilidade em Kgf

29 2 <

30 <

31 <

32 <

IMC em Kg/m2

Homens

< 24

24,1 a 26

26,1 a 28

> 28

Mulheres

< 23

23,1 a 26

26,1 a 29

> 29

17 <

17,3 <

18 <

21 <

Fonte: Adaptado do modelo unidimensional de fragilidade(11).

Baixo nível de atividade física: perguntou-se ao parti-cipante se praticava atividade física e a sua frequência. Em caso de resposta negativa ou de frequência uma ou duas vezes por semana, pontuou-se para fragilidade. No mode-lo original, é realizada avaliação do dispêndio energético semanal, baseado no auto-relato de atividades e exercíci-os físicexercíci-os avaliadexercíci-os pelo Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire e ajustado de acordo com o sexo.

A coleta de dados foi feita por meio de entrevista estru-turada, utilizando-se os seguintes instrumentos: 1) Carac-terização sociodemográfica, para a coleta de informações relacionadas à caracterização da amostra. Para avaliar a sua adequação à proposta de investigação, o instrumento foi submetido à validade de conteúdo e avaliado por um comi-tê de quatro juízes experts nas áreas de Geriatria e Geron-tologia, bem como na área de IU; 2) O International Consul-tation on Incontinence Questionnaire-Short Form (ICIQ-SF), para a avaliação da IU, é um instrumento adaptado e vali-dado para a língua portuguesa do Brasil(15). O ICIQ-SF é

(4)

Após a avaliação dos idosos quanto à fragilidade, con-forme os critérios adotados neste estudo, foram obtidos dois grupos: um com 41 (41,0%) sujeitos com um ou dois critérios, ou seja, considerados pré-frágeis, e outro com-posto por 59 (59,0%) sujeitos com três ou mais critérios, identificados como frágeis.

As análises estatísticas utilizadas nesse estudo estão descritas a seguir:

Análise descritiva para as variáveis sociodemográfi-cas, para os escores do ICIQ-SF e critérios de fragilidade;

Coeficiente Alfa de Cronbach para avaliação da con-sistência interna do instrumento ICIQ-SF - este coeficiente é utilizado para verificar a homogeneidade dos itens, ou seja, sua acurácia. O alfa de Cronbach do ICIQ-SF foi consi-derado satisfatório com valor de 0.84 para a questão três, 0,86 para a questão quatro, 0,88 para a questão cinco e o alfa Cronbach ponderado foi de 0,89 (Critérios satisfatórios

= 0,70)(16).

Teste Qui-Quadrado ou Exato de Fisher para compa-rar os idosos com e sem IU e os critérios de fragilidade.

Análise de Regressão Logística Univariada e Multivariada para estudar a relação entre IU e os critérios de fragilidade.

O nível de significância estatística adotado para os tes-tes foi 5%, ou seja, p<0,05.

Este estudo integra o projeto temático intitulado Qua-lidade de vida em idosos: indicadores de fragiQua-lidade e de bem-estar subjetivo, que foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) da FCM-UNICAMP (Pa-recer CEP 210/2003) bem como o adendo referente à ava-liação de IU (Parecer CEP 240/2003).

RESULTADOS

No período de coleta de dados, foram atendidos 143 idosos no Ambulatório de Geriatria, dos quais 100 deles corresponderam aos critérios de inclusão. Conforme apre-sentado na Tabela 1, as características predominantes da amostra foram: sexo feminino (74%); idade superior a 70 anos (78,0%) com média de 76,6 anos (±7,8); procedência do município de Campinas (54%) e baixa escolaridade (49,0%).

Referiram perda involuntária de urina 65,0% dos ido-sos entrevistados, ou seja, obtiveram escore maior ou igual a três no ICIQ-SF, o que significa que o idoso refere perda urinária uma vez por semana ou menos e em pequena quantidade. Do total de 65 idosos com IU, 40 (61,4%) rela-taram perda de urina diversas vezes ao dia e em pequena quantidade. O escore referente ao impacto da IU na vida diária dos idosos, avaliado pela questão cinco do ICIQ-SF, variou de zero a 10 (média 4,85) e quase metade dos ido-sos (49,2%) a consideraram muito grave (Tabela 2).

Características N %

Variação Mínimo -máximo

Média (Desvio padrão) Sexo

Masculino 26 26,0

Feminino 74 74,0

Faixa Etária 60 - 93 76,6 (±7,8)

Procedência

Campinas 55 55,0

Outros municípios 45 45,0

Escolaridade

< 4 anos 49 49,0

>4 anos 9 9,0

Analfabetos/ Sabe ler e escrever

42 42,0

Fragilidade 1 – 2 critérios 3 – 5 critérios

41 59

41,0 59,0

1 - 5 2,9 (±1,16)

Tabela 1 - Caracterização sociodemográfica e de fragilidade dos idosos do estudo - Campinas - 2010

Nota: (n=100)

Tabela 2 - Distribuição dos idosos que referiram perda urinária de acordo com as questões do ICIQ-SF - Campinas - 2010

ICIQ-SF

Frequência de perda urina 1x por semana ou menos 2x ou 3x por semana 1x por dia

Diversas vezes ao dia Tempo todo

Quantidade de perda urinária Pequena quantidade

Moderada quantidade Grande quantidade

Interferência na vida diária Nada (0)

Leve (1-3) Moderado (4-6) Grave (7-9) Muito grave (10)

Causas ou situações de perda involuntária de urina* Antes de chegar ao banheiro

Ao tossir ou espirrar Ao dormir

Ao realizar atividades físicas Ao se vestir após urinar Sem razão óbvia O tempo todo

N %

4 6,0

11 17,0

7 11,0

40 61,5

3 4,5

40 61,5

13 20,0

12 18,5

10 15,4

6 9,2

6 9,2

11 17,0

32 49,2

50 76,9

37 56,9

11 16,9

12 18,4

16 24,6

9 13,8

6 9,2

* O idoso poderia responder mais de uma alternativa. Nota: (n=65)

As principais causas ou situações de perda urinária apontadas pelos 65 idosos foram antes de chegar ao ba-nheiro (50%) e perda ao tossir ou espirrar (37%).

(5)

significa-tiva (p=0,001) quanto ao número de critérios, ou seja, 62,8% dos idosos sem IU apresentaram um a dois critérios (pré-frá-geis), enquanto, 70,7% dos idosos com IU apresentaram três ou mais critérios (frágeis). Assim, verificou-se que os idosos estudados com IU pontuaram maior número de critérios de fragilidade, quando comparados aos idosos sem IU.

Em relação a cada critério adotado no estudo, todos apre-sentaram diferença significativa entre os idosos com e sem IU, com exceção do critério perda de peso involuntária no último ano. Os critérios baixa atividade física e lentidão foram os mais pontuados pelos idosos com e sem IU, 88,0% e 65,0% respec-tivamente. Entretanto, houve maior número de idosos com IU, diferença esta estatisticamente significativa (Tabela 3).

Tabela 3 - Comparação entre idosos com IU (n=65) e sem IU (n=35) de acordo com os critérios de fragilidade - Campinas - 2010

C Com IU N (%)

Sem IU N (%)

Total N (%)

p-valor*

19 (29,2) 22 (62,8) 41 (41,0)

46 (70,8) 13 (37,2) 59 (59,0) 0,0011

18 (27,7) 10 (28,6) 28(28,0) 0,9256*

40 (61,5) 13(37,1) 53(53,0) 0,0197*

49 (75,3) 15(42,8) 65(65,0) 0,0012*

42 (64,6) 11(31,4) 53(53,0) 0,0015*

Critérios de Fragilidade

Número de critérios

1 ou 2 critérios (Pré-frágeis) 3 ou mais critérios (Frágeis)

Critérios***

Perda de peso involuntária Fraqueza muscular

Velocidade da marcha diminuída

Exaustão

Baixa atividade física 61 (93,8) 27(77,1) 88(88,0) 0,0223**

* teste Qui-Quadrado ** teste Exato de Fisher *** O idoso poderia apresen-tar mais de um critério. Nota: (n=100)

Como houve diferença estatística na comparação en-tre os grupos com e sem IU e os critérios de fragilidade foi realizada Análise de Regressão Logística Univariada e Múl-tipla para estudar a relação entre IU e os critérios de fragi-lidade, conforme apresentados nas Tabelas 4 e 5.

Variável Categorias p-valor OR* IC 95% OR**

Perda de peso involuntária

Não (ref.) Sim

---0,925

1,00 0,96

---0,38–2,39

Fraqueza muscular Não (ref.)

Sim

---0,021

1,00 2,71

---1,16–6,33

Lentidão Não (ref.)

Sim

---0,002

1,00 4,08

---1,70–9,80

Exaustão Não (ref.)

Sim

---0,002

1,00 3,98

---1,66–9,57

Baixa atividade física

Não (ref.) Sim

---0,021

1,00 4,52

---1,25– 16,30

Tabela 4 - Resultados da Análise de Regressão Logística Univariada para IU em idosos frágeis e pré-frágeis - Campinas - 2010

* OR (Odds Ratio) = Razão de risco para incontinência urinária; (n=35 sem incontinência e n=65 com incontinência). **IC 95% OR = Intervalo de 95%

Tabela 5 - Resultados da Análise de Regressão Logística Multivariada para IU em idosos frágeis e pré-frágeis - Campinas - 2010

Variáveis Selecionadas

Lentidão Não (ref.)

Sim

---0,001

1,00 4,99

---1,90 – 13,12

Exaustão Não (ref.)

Sim

---0,001

1,00 4,85

---1,85 – 12,73

Categorias p-valor OR* IC 95% OR**

* OR (Odds Ratio) = Razão de risco para incontinência urinária; (n=35 sem

incontinência e n=65 com incontinência). **IC 95% OR = Intervalo de 95% de confiança para a razão de risco. Critério Stepwise de seleção de variá-veis. Nota: (n=100)

Pelos resultados da Análise Multivariada com critério Stepwise de seleção de variáveis, verificou-se que os crité-rios lentidão e exaustão foram estatisticamente significati-vos, ou seja, os idosos que apresentavam velocidade de marcha diminuída tinham risco quase cinco vezes maior de IU comparados com os que não apresentavam (OR=4,99), e os idosos que apresentavam exaustão tinha risco aproximado cinco vezes maior de IU comparados com os que não apresentavam (OR=4,85).

DISCUSSÃO

A ocorrência de IU foi de 65% na amostra idosa investi-gada, valor esse muito superior ao descrito na literatura nacional e internacional, especialmente entre idosos resi-dentes na comunidade. Entretanto, foi mais próximo aos resultados de estudos com idosos institucionalizados. No Brasil, destaca-se o estudo realizado no município de São Paulo com 2.143 idosos da comunidade em que os pesqui-sadores encontraram uma ocorrência de IU de 11,8% em homens e 26,2% em mulheres(17). Entre idosos com

demên-cia, considerados frágeis pela essência de seu diagnóstico, em acompanhamento ambulatorial a ocorrência de IU en-contrada foi de 33,3%(18). Por outro lado, em amostras de

idosos com maior vulnerabilidade, ou melhor, em situa-ções de seguimento assistencial à saúde ou institucionali-zados, situações que procedem a síndrome da fragilidade, esses valores aumentam(4). A IU em idosos frágeis constitui

um modelo sindrômico com interação de múltiplos fatores de risco, tais como alterações psicológicas e cognitivas re-lacionadas à idade e comorbidades(9).

No que diz respeito às características da IU, não há con-senso na literatura sobre a frequência e a quantidade da perda urinária, uma vez que é consequente a diversos fa-tores, tais como o tipo de IU, o estado de saúde do sujeito, comorbidades, grau de dependência funcional, entre ou-tros. No presente estudo, 61,5% referiram perda de urina diversas vezes ao dia em pequena quantidade. Resultados semelhantes foram obtidos em estudo com idosas institucionalizadas. Em investigação internacional, os au-tores descreveram que 31,8% das idosas perdiam urina di-versas vezes ao dia(19). Outro estudo realizado em Hong Kong

(6)

mos-do que três vezes por semana, 12,5% diariamente e 4,2% de três a seis vezes por semana(18).

O impacto da IU na vida diária foi considerado pela maio-ria dos participantes como muito grave, apesar do predomí-nio de relatos de perda em pequena quantidade de urina. O mesmo também encontrado em estudo internacional onde 81,0% dos idosos relataram grande impacto na qualidade de vida decorrente das perdas urinárias(18). Esta perda causa uma

interferência negativa na vida diária dos idosos, vinculada à perda da independência para frequentar festas de família, igreja, mercado, entre outros locais, frente ao medo e vergo-nha de perder urina e exalar odores característicos(20).

As situações mais freqüentes em que ocorre a perda urinária, antes de chegar ao banheiro e aos esforços, suge-rem a presença de IU tipo urge-incontinência e IU aos es-forços na maioria dos idosos entrevistados, confirmando achados nacionais e internacionais quanto aos tipos mais comuns de IU na velhice.A principal causa da IU tipo urge-incontinência está relacionada ao aumento da frequência de hiperatividade detrusora, de acordo com estudos sobre a avaliação urodinâmica em idosos(18).

Os resultados revelaram que, em idosos pré-frágeis e frágeis, há expressivo aparecimento de IU, uma vez que, entre os 100 idosos com critérios de fragilidade, 65% apre-sentaram IU. Destaca-se, ainda, que a presença de IU foi mais comum entre os idosos com três ou mais critérios de fragilidade, quando comparados com aqueles que apresen-taram até dois critérios. Isto sugere que, na medida em que aumenta o número de critérios de fragilidade, há mai-or risco para o desenvolvimento de IU.

Entre os critérios de fragilidade, a Análise de Regressão Logística Multivariada mostrou significância estatística en-tre os critérios lentidão e exaustão, ou seja, os idosos com lentidão têm risco cinco vezes maior de IU comparados com os que não apresentam, e os idosos com exaustão têm ris-co 4.9 vezes maior de IU ris-comparados ris-com os que não apre-sentam. Na literatura pesquisada, são escassos os estudos que descrevem a presença de IU em idosos com critérios de fragilidade, porém o tripé da fragilidade(11) aponta que

as alterações neuromusculares relacionadas à idade são subjacentes à síndrome da fragilidade(8,12) e sabe-se que a

lentidão está associada com alterações de mobilidade que podem dificultar o acesso do idoso ao banheiro e favore-cer a ocorrência de IU, especialmente em caso de urge-incontinência(11). Muitos estudos apresentaram associação

entre IU e mobilidade em idosos(17-18).

Além disso, a lentidão tem estreita relação com de física, podendo ser consequência da redução da ativida-de física ou até mesmo sua causa. Estudos indicam que re-dução de atividade física pode ser fator de início da IU em idosos frágeis(8), portanto a manutenção da atividade física

pode retardar o início da IU nessa população, uma vez que essa redução já está estabelecida é necessário realizar rea-bilitação física no sentido de melhorar essa condição e, con-sequentemente, prevenir o desenvolvimento de IU. A esse

respeito, destaca-se a investigação realizada no Japão em que os autores obtiveram significativa taxa de cura de IU após melhora da velocidade de marcha em idosos com IU submetidos a tratamento com exercícios físicos(21).

Quanto à exaustão, acredita-se que esta condição pode contribuir para IU na medida em que pode provocar desâ-nimo e falta de motivação para ir ao banheiro.

Os resultados deste estudo enfatizam necessidade de implementação de medidas práticas que melhorem a for-ça muscular e, consequentemente, a lentidão, tais como exercícios físicos. Além disso, medidas como fortalecimen-to da musculatura do soalho pélvico e alterações compor-tamentais relacionadas à alimentação, ingesta hídrica e aos hábitos de eliminação urinária, são estratégias que irão fa-vorecer a redução da IU a priori urge-incontinência e IU aos esforços, tipos de maior ocorrência nesse estudo.

Assim como a fragilidade pode resultar a morte, a IU está associada a aumento do risco de mortalidade em ido-sos(22). Portanto, a Sociedade Internacional de Continência

(International Continence Society) recomenda que seja re-alizada investigação de IU em todos idosos com critérios de fragilidade(9).

Tendo em vista os resultados obtidos, destaca-se a con-tribuição do estudo no sentido de subsidiar o desenvolvi-mento de estratégias de intervenção pela equipe de saú-de, com a finalidade de recuperação e da prevenção de agravos à saúde. Os idosos pré-frágeis são menos inconti-nentes, o que remete para a necessidade de programar ações precoces, visando à prevenção da IU e da síndrome da fragilidade no idoso. Com a regressão desse quadro, consequentemente, será possível obter redução do ônus econômico, social e psicológico.

CONCLUSÃO

A IU nos idosos deste estudo foi elevada (65%) e a quei-xa mais frequente foi de perda urinária em pequena quan-tidade e diversas vezes ao dia. Com exceção do critério perda de peso involuntária, todos os critérios de fragilida-de apresentaram relação estatisticamente significativa com IU e, entre os idosos com critérios de fragilidade, aqueles que apresentam lentidão, têm risco quase cinco vezes maior de apresentar IU e os que referem exaustão têm risco apro-ximadamente cinco vezes maior de IU quando compara-dos aos icompara-dosos que não tiveram esses critérios.

Este estudo possui algumas limitações, dentre elas o fato de que não foi possível avaliar detalhadamente o gas-to energético semanal por meio do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire. Por se tratar de um estudo trans-versal, seria interessante realizar um estudo longitudinal para acompanhar idosos com IU a fim de verificar se estes desenvolvem a síndrome da fragilidade.

(7)

am-plamente utilizado na literatura para esse propósito, a ava-liação da IU não deve-se limitar a ele. Outros aspectos de-vem ser considerados tais, como anamnese, exame físico

geral e específico, do ponto de vista neurológico e genitu-rinário, avaliação do diário miccional e avaliação urodinâ-mica, além de outras avaliações específicas para IU.

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