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Participação política: uma revisão dos modelos de classificação.

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Paricipação Políica: uma

revisão dos modelos de

classiicação

Julian Borba1

Resumo: Considerando o intenso debate teórico e metodológico existente na Sociologia Políica sobre paricipação, nosso objeivo será realizar um mapeamento da literatura internacional sobre as diferentes propostas de ipologias classiicatórias das modalidades de paricipação políica. O arigo destaca que os desdobramentos de tal debate são de fundamental importância para o aperfeiçoamento da capacidade analíica da disciplina em perceber as transformações no universo da paricipação. Finaliza com um conjunto de proposições em termos de caminhos metodológicos para o avanço nas pesquisas da área.

Palavras-chave: Paricipação Políica, Cultura Políica, Políica Comparada.

Introdução

F

enômenos, como o declínio generalizado nos índices de comparecimento eleitoral e de aivismo paridário, a emergência e expansão dos movimen

-tos de protesto e de novas formas de ação políica não diretamente ligadas ao momento eleitoral, têm levado a uma crescente preocupação dos cienistas políicos com o tema da paricipação.

Os esforços vão desde a deinição conceitual, passando pelos condicionantes do engajamento políico, chegando às ipologias classiicatórias. Considerando a existência de certo consenso nas recentes deinições de paricipação políica (TEORELL, TORCAL & MONTERO, 2007; PASQUINO, 2010; BRADY, 1999) e de al

-guns esforços recentes no senido de mapear os determinantes do engajamento (VERBA, SCHOLOZMAN & BRADY, 1995; NORRIS, 2007; DALTON, 2002; DALTON, SICKLE & WELDON, 2009; ALDRICH, 1993; LEIGHLEY, 1995; WHITELEY, 1995)2,

nos deteremos, neste arigo, no mapeamento da literatura internacional sobre as diferentes propostas de ipologias classiicatórias das modalidades de pari -cipação3.

Trata-se de uma área onde se tem veriicado um intenso e rico de

-bate teórico e metodológico, cujos desdobramentos são de fundamen

-tal importância, seja na capacidade analíica da disciplina em perceber as transformações no universo da paricipação, veriicadas no tempo e no

Recebido: 12.09.11 Aprovado: 10.04.12

1. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosoia e Ci

-ências Humanas, Departamento de Sociologia e Ciência Políica.

E-mail: julian@ch. ufsc.br

2. Os trabalhos lis

-tados acima, em geral, abordam os determinantes do engajamento no nível individual.

Para um estudo

que toma os países como unidade de análise, ver Newton e Girebler (2008).

3. Por razões de espaço, não trata

-remos, no presente arigo, do imenso debate que tem ocorrido no Brasil sobre o tema da paricipação po

-líica. Em outros trabalhos, ivemos a oportunidade de analisar tal litera

-tura. Ver, em espe

-cial, Ribeiro e Borba (2010a), Ribeiro e Borba (2010b), Bor

(2)

espaço (VAN DETH, 2001), seja na possibilidade de construção de instrumentos que sejam capazes de mensurar tais transformações (BRADY, 1999; TEORELL, TORCAL & MONTERO, 2007). Ainal de contas, como nos alerta Henry Brady, a tarefa de classiicar e nomear os fenômenos do mundo social está diretamente relacionada com a forma como atribuímos senido a ele. Nas suas palavras:

(…) Nomear, disinguir e contar frequentemente são conside

-radas tarefas cieníicas prosaicas – cabíveis para curadores de museu, amadores reinados, bibliotecários e estaísicos do governo, mas não para cienistas de primeira linha. Essa perspeciva modiicou-se conforme ilósofos da ciência, lin

-guistas, psicólogos cogniivos e cienistas praicantes mostra

-ram como as nossas conceitualizações, taxonomias e classii

-cações subjazem às nossas visões de mundo. O modo como nomeamos e classiicamos as coisas tem muito a ver com o modo como as compreendemos. Para os cienistas sociais, essa visão é duplamente importante, porque devemos nos preocupar com as categorias naturais – com o modo como as pessoas comuns nomeiam e classiicam as coisas e com

-preendem o mundo – além de com o modo como nosso em

-preendimento cieníico nomeia e classiica as coisas. (BRADY, 1999, p. 740)

O arigo está organizado em três partes, além desta. Na primeira, abordamos brevemente alguns conceitos de paricipação políica. Na segunda, nos dete

-mos num balanço das principais ipologias de classiicação, para, então, nas considerações inais, propor alguns caminhos metodológicos para o avanço nas pesquisas sobre paricipação políica.

O Conceito de Paricipação

Desde o seminal trabalho de Milbrath (1965), tem-se assisido a uma profu

-são de conceitos de paricipação. Tais deinições, como bem destacou Van Deth (2001), estão diretamente ariculadas ao contexto em que os próprios atos de paricipação operam. Se, nos anos de 1960, a deinição se estruturava, sobretu

-do, em função das modalidades eleitorais, os novos repertórios que começam a fazer parte da ação coleiva, desde então, (protestos, boicotes, etc.) obrigam que sejam, de alguma maneira, incorporados pelas deinições de paricipação. A tradição de pesquisas que inicia com Milbrath (1965), de início, deinia a par

(3)

por paricipação políica deve-se entender “(…) aividades realizadas por cida

-dãos privados que buscam, de modo mais ou menos direto, inluenciar a seleção dos funcionários governamentais e/ou as ações que eles tomam” (p. 2). De ma

-neira similar, para Hunington e Nelson (1976), trata-se de uma aividade “rea

-lizada por cidadãos privados com o objeivo de inluenciar a tomada de decisão do governo” (p. 17).

Tal deinição é por demais restriiva, seja ao deinir a inluência como o único repertório “políico”, bem como ao colocar o “governo” como desinatário, por excelência, do ato políico (PASQUINO, 2010; TEORELL, TORCALL & MONTERO, 2007). Ora, a literatura de movimentos sociais tem exemplos variados para mos

-trar que, desde os anos 1960, assiste-se a uma ampliação signiicaiva naquilo que poderíamos chamar de repertórios políicos, para além da simples tentaiva de inluenciar as decisões governamentais; além do mais, como mesmo chegam a reconhecer Verba e colaboradores, nem toda ação políica está direcionada ao governo, podendo ser desinada a desinada a “alocações de valores para uma sociedade” (VERBA & NIE, 1972, p. 2)4.

Assim, parecem mais apropriadas deinições como as de Boot e Seligson (1976, p. 6), que a conceituam como “um comportamento que inluencia ou tenta in

-luenciar a distribuição dos bens públicos”. Mais recentemente, considerando também as mudanças no âmbito da paricipação políica, Brady a deiniu como “a ação de cidadãos comuns com o objeivo de inluenciar alguns resultados po-líicos” (1999, p. 737, grifos no original)5. Veja-se que os dois conceitos acima

elencados já não deinem um desinatário dos atos paricipaivos (se governo ou não). Mesmo assim, pode-se perceber alguns limites em tal deinição, ao delimi

-tar a “inluência” como único objeivo da paricipação, excluindo, por exemplo, a ação direta exercida por determinados grupos. (TEORELL, TORCALL & MONTERO, 2007, p. 336)6. Para nossos propósitos, porém, ela é suiciente para podermos

avançar em nosso mapeamento da literatura.

As Modalidades de Paricipação

Os conceitos de paricipação apresentados acima se materializam em diferentes indicadores empíricos, os quais, por sua vez, se transformam em medidas de paricipação passíveis de ser veriicadas empiricamente7. Tais medidas se ma

-terializam em modalidades de paricipação, das quais, com a posse dos dados empíricos, temos a possibilidade de veriicar sua frequência, evolução, comparar países, ideniicar determinantes, etc.

A leitura dos trabalhos (e a discussão que apresentaremos abaixo) procurou sis

-temaizar três dimensões do debate. Em primeiro lugar, o método e as técnicas

4. Um dos exem

-plos de ação políica listados por vários autores, como Teo

-rell, Torcal e Mon

-tero (2007) e Van Deth (2007), que não é direcionado aos governantes, é o boicote de certos produtos.

5. Pasquino oferece deinição seme

-lhante, de alguma maneira incluindo a ação direta. Em suas palavras: “A paricipação políica é o conjunto de ac

-ções e de compor

-tamentos que as

-piram a inluenciar, de forma mais ou menos direta e mais ou menos legal, as decisões dos de

-tentores do poder no sistema políico ou em organizações políicas paricu

-lares, bem como a própria escolha da

-queles, com o pro

-pósito de manter ou modiicar a estrutu

-ra (e, consequente

-mente, os valores) do sistema de in

-teresses dominan

-te” (2010, p. 74), grifos no original.

6. Nesse senido, um aspecto impor

-tante a ser destaca

-do com essas dei

-nições é que todas elas estão situadas no âmbito das ins

-itucionalidade do modelo democrá

-ico representaivo e, portanto, são congruentes com determinadas con

(4)

de pesquisa uilizados na análise; em segundo lugar, os componentes da ipo

-logia proposta e, por im, o diagnósico quanto à dimensão uni ou mulidimen

-sional dos atos paricipaivos. Quanto a este úlimo aspecto, signiica diferen

-ciar os atos paricipaivos entre um coninuum (visão unidemensional), onde os indivíduos exerceriam as diferentes modalidades em função de habilidades ou custos para a paricipação, ou percebê-los como consituídos por diferentes modalidades que possuem padrões de recrutamento, bases aitudinais e socio

-demográicas disintas em termos dos seus paricipantes (BRADY, 1999).

Devemos salientar, também, que nosso trabalho foi facilitado pela existência de um balanço de literatura já realizado por Brady (1999), o qual procedeu a uma ampla resenha sobre algumas das principais pesquisas, que resultaram nas grandes obras sobre o tema (MILBRATH, 1965; VERBA & NIE, 1972; VERBA, NIE & KIM, 1978; BARNES & KASE, 1979; VERBA, SCHLOZMAN & BRADY, 1995)8. Des

-sa forma, nos limitaremos a apresentar de maneira muito breve tais trabalhos (a - os estudos clássicos), para nos concentrar nos desenvolvimentos observados a parir da década de 1990 (b - novas ipologias).

a) Os Estudos Clássicos

Como já comentado acima, talvez o primeiro esforço de elaboração de uma ipologia das modalidades de paricipação possa ser encontrado em Milbrath (1965)9. Para esse autor, os comportamentos paricipaivos ocorreriam no se

-guinte coninuum, em termos de custos e complexidade:

1) expor-se a solicitações políicas; 2) votar;

3) paricipar de uma discussão políica;

4) tentar convencer alguém a votar de determinado modo; 5) usar um disinivo políico;

6) fazer contato com funcionários públicos;

7) contribuir com dinheiro a um parido ou candidato; 8) assisir a um comício ou assembleia;

9) dedicar-se a uma campanha políica; 10) ser membro aivo de um parido políico;

11) paricipar de reuniões onde se tomam decisões políicas; 12) solicitar contribuições em dinheiro para causas políicas; 13) candidatar-se a um cargo eleivo;

14) ocupar cargos públicos.

Veja-se que a ideia de um coninuum de custos e complexidade leva a uma Outras deinições

de democracia

im-plicam que outros conceitos e práicas sejam incorporados ao conceito de par

-icipação (cf. TEO

-RELL, 2006).

7. Não é por de

-mais lembrar que a literatura de que estamos tratando aqui é fundamental

-mente tributária dos desenvolvimentos metodológicos ex

-perimentados pela Ciência Políica, a parir dos anos 1940 e 1950, em especial com o desenvolvi

-mento das técnicas

de amostragem e

das pesquisas de opinião pública, as quais possibilitaram a guinada compor

-tamentalista no âmbito da discipli

-na, cujos trabalhos precursores podem ser encontrados em Lazersfeld et al.

(1948), Berelson (1952), Campbell (1960) e Almond e Verba (1989).

8. Brady (1999) faz sua resenha a parir das pesquisas que

deram origem aos

trabalhos mencio

-nados.

9. A base empírica de tais trabalhos é

o American Naio

-nal Elecion Survey, uma pesquisa nacio

(5)

percepção da paricipação políica como um fenômeno unidimensional, ou seja, para Milbrath, paricipar é um ato singular, mesmo que algumas de suas medidas empíricas demonstrassem o baixo nível de relacionamento entre algumas das va

-riáveis, em especial, entre o “voto” com as demais modalidades de paricipação (BRADY, 1999, p. 745). No seu modelo, os cidadãos são divididos em três grupos, de acordo com o nível de engajamento. Teríamos os passivos (que não pari

-cipam), os espectadores (envolvimento mínimo) e os “gladiadores” (aivistas). Tais níveis seriam cumulaivos e formariam uma pirâmide, onde as aividades mais complexas seriam aquelas desenvolvidas pelos cidadãos mais centrais da estrutura social. Daí a formulação de Milbrath ser denominada de “modelo da centralidade” (MILBRATH, 1965).

Uma segunda abordagem ao estudo da paricipação foi desenvolvida por Ales

-sandro Pizzorno, uma das mais ambiciosas construções teóricas até hoje iden

-iicadas no âmbito de uma teoria da paricipação. O centro de seu argumento situa-se no quesionamento do modelo da centralidade. Como contraponto a esta, defende o modelo da consciência de classe, onde a paricipação seria pro

-duto da idenidade políica comparilhada pelos atores. Deriva da construção do seu modelo, uma ipologia de paricipaçao alternaiva àquela formulada por Milbrath, a qual, Pizzorno considera reducionista, por estar essencialmente li

-gada à realidade norte-americana, não conseguindo cobrir a sua expressão em outros contextos. Enim, trata-se segundo Pizzorno, de conferir um “conteúdo mais geral” (1967, p. 125) às ipologias da paricipação. Sua proposta de classii

-cação, conforme apresentada abaixo prevê quatro modalidades de seu exercício, as quais são dividas segundo o ipo de solidariedade dominante (se privada ou pública) e pelo contexto da ação (se estatal ou não). A primeira forma de ação “estatal” com “solidariedade políica” seria o proissionalismo políico10. A segun

-da mo-dali-dade seria aquela com ação, também estatal, mas com “soli-darie-dade privada dominante”. Nesse caso, teríamos a “paricipação civil na políica”11. Já

onde impera a ação extraestatal com solidariedade políica, temos a paricipa

-ção através de movimentos sociais12. Por im, tem-se a paricipação através de

“subcultura”13, onde predomina a solidariedade privada com ação extraestatal.

Tabela 1 – Tipologia da Paricipação Políica de Alessandro Pizzorno

A solidariedade políi

-ca é prevalente A solidariedade priva

-da é prevalente Ação inserida no

sistema estatal

Proissionalismo

poliico Paricipação civil na políica Ação extraestatal Movimento Social Subcultura

Fonte: Pizzorno (1966, p. 125)

10. Nesse caso, a paricipação dei

-ne-se pelo fato de o paricipante “vi

-ver da políica” (p. 125), cujas origens podem ser encon

-tradas numa espe

-cialização funcional vivenciada pelas

sociedades

demo-cráicas ocidentais. A ação do proissio

-nal da políica deve operar de acordo

com a solidariedade

políica dominante num determinado momento, e não com os interesses

da sociedade civil (idem).

11. Seria o ipo de paricipação que surge a parir da “s o l i d a r i e d a d e ” dos “interesses pri

-vados”. É exercida pelos círculos mais centrais da estru

-tura social. Atua em conformidade

com os valores da estrutura social

existente, cujos indicadores mais ípicos seriam a adesão a um “par

-ido de opinião”, o pertencimento a associações volun

-tárias integradas ao sistema, o perten

-cimento a grupos corporaivos, etc.

(idem, p. 127).

12. A paricipação no movimento

social seria uma

“empresa coleiva” desinada a “trans

-formar a socieda

(6)

Apesar do elevado nível de abstração, da falta de clareza com relação a algu

-mas deinições em que sua proposta foi construída, e da diiculdade de sua operacionalização empírica (PASQUINO, 2010), o modelo de Pizzorno teve o grande mérito de antecipar, em pelo mais de dez anos14, o debate das mo

-dalidades não convencionais de paricipação (BARNES & KAASE, 1979), ao colocar a paricipação em movimentos sociais como uma das modalidades de paricipação políica. Além disso, ao inserir o tema da idenidade, o autor também estava antecipando muitos dos achados de Verba, Schlozman e Brady (1995), quando propuseram que a paricipação políica seria função de recursos possuídos pelos indivíduos (em especial, tempo, dinheiro e habilidades). Veja-se que a idenidade, na forma como deinida por Pizzorno, estando relacionada a uma dimensão organizacional da vida associaiva, seria, sobretudo uma forma de adquirir habilidades, mesmo diante da falta dos recursos de tempo e dinhei -ro15. Por im, sua teoria trata a paricipação como um fenômeno essencialmente

mulidimensional.

Os primeiros esforços de abordagem empírica comparaiva do fenômeno da paricipção vão ser desenvolvidos em Verba, Nie e Kim (1971), Verba e Nie (1972) e Verba, Nie e Kim (1978)16, onde ao invés do coninuum do modelo de

Milbrath, propõem que a paricipação políica se estruturia através de quatro modalidades (como em Pizzorno)17. São elas: voto, aividade de campanha, con

-tato políico e aividade cooperaiva18 (Tabelas 1 e 2, abaixo). Tais dimensões

foram extraídas a parir de testes de correlação interna entre as variáveis e de análises fatoriais que permiiram seu agrupamento nas dimensões acima19.

Tabela 2 – Variáveis e ipologias de paricipação em Verba e Nie (1972)

Variáveis Modalidades de paricipação

Persuadir outros para votar Aividades de campanha Trabalhar aivamente para parido ou candidato Aividades de campanha Paricipar de reuniões políicas ou comícios Aividades de campanha Contribuir dinheiro para parido ou candidato Aividades de campanha Membro de clubes políicos

Votou nas eleições presidenciais de 1964

Voto

Votou nas eleições presidenciais de 1960 Voto

Frequência de votos nas eleições locais Voto

Trabalhou com outros para resolver problemas

locais

Aividade cooperaiva e contato

social

idenidades políi

-cas com idenidades privadas. Trata-se de uma forma “não estável de parici

-pação”, que surge e modiica-se de acor

-do com o contexto

(idem, p. 127).

13. A paricipação como “subcultura” nasce de uma iden

-iicação “natural” do indivíduo com os grupos no qual ele está inserido. Trata-se de uma ideni

-dade políica dada, não construída e, à diferença da pari

-cipação civil “esta é excluída dos canais normais que se ar

-iculam com as ins

-ituições estatais, e comunicam-se com essas só através de intermediários (o

boss, o organizador

do parido de massa que não é mais mo

-vimento, etc.” (idem, p. 127, tradução mi

-nha).

14. O texto original de Pizzorno, “Intro

-duzione allo studio della partecipazione poliica” foi publi

-cado originalmen -te em Quaderni di

Sociologia 3/4, pp. 231-287, no ano de 1966. Uma interes

-sante discussão em torno desse trabalho pode ser encontrada na entrevista de Pi

-zzorno (2007).

15. O mais curioso é que o trabalho de Pizzorno passe despercebido pela

maioria da literatura

que trata do tema da paricipação po

(7)

Formou um grupo de trabalho sobre problemas

locais

Aividade cooperaiva e contato

social

Paricipou aivamente em organizações comuni

-tárias para resolução de problemas Aividade cooperaiva e contato social

Manteve contato com lideranças locais – refe

-rência social Aividade cooperaiva e contato social

Manteve contato com lideranças nacionais –

referência social Aividade cooperaiva e contato social

Manteve contato com lideranças locais – refe

-rência personalizada Contato personalizado

Manteve contato com lideranças nacionais –

referência personalizada Contato personalizado

Fonte: Adaptação de Verba e Nie (1972, p. 72)

Tabela 3 – As dimensões das aividades políicas e modos de aividade

Modo de

aividade InluênciaTipo de Alcance dos resultados Conlito

Iniciaiva

requerida Cooperação com outros

Voto

Alta pres

-são/baixa

informação Coleivos Conlitual Pequena Pequena

Aividade de campanha

Alta pres

-são/ baixa a alta infor

-mação

Coleivos Conlitual Alguma Alguma ou muita

Aividade comunitária

Baixa a alta pressão/ alta infor

-mação

Coleivos Talvez sim/ Talvez não Alguma ou muita Algum ou muito

Contato personali

-zado

Alta pres

-são/Alta

informação Paricular

Não conli

-tual Muita Pequena

Fonte: Verba, Nie e Kin (1978, p. 55)

O grande mérito das referidas pesquisas foi, além do aspecto comparaivo, sua busca por uma análise desagregada dos atos de paricipação. Com essa abor

-dagem, puderam chegar a conclusões muito disintas daquelas de Milbrath, de que a paricipação operaria num coninuum. Para esses autores, ao invés de um

coninuum, teríamos múliplos níveis, onde os paricipantes incluídos em cada um deles, teriam atributos sociodemográicos e aitudinais disintos20.

16. O próprio Mil

-brath, em estudo posterior (MILBRA

-TH & GOEL, 1977), acaba incorporando

a ideia de um

mo-delo mulidimen

-sional.

17. As dimensões propostas por Ver

-ba e colaboradores estão relacionadas a alguns elementos diferenciadores dos atos paricipaivos. São eles: o ipo de inluência exerci

-da sobre os líde -res (em termos de

pressão e informa

-ção); o alcance dos

resultados (toda a

sociedade ou ape

-nas o indivíduo); o grau de conlito; a quanidade de ini

-ciaiva que requer e a quanidade de co

-operação que a ini

-ciaiva requer (essa úlima dimensão foi incluída no estudo de 1978).

18. O estudo in

-cluía, em suas questões, além de perguntas relaivas à paricipação elei

-toral e contato com governantes, o en

-volvimento em gru

-pos (poliicos e não políicos) e aivida

-des cooperaivas no nível local.

19. Os estudos de 1971 e 1978 abran

-geram sete países, sendo eles Áustria, Índia, Japão, Holan

-da, Estados Unidos e Ioguslávia.

20. A abordagem proposta por Ver

-ba e colaborado

(8)

O problemáico nas classiicações propostas nos trabalhos de Verba e colabora

-dores é o seu reducionismo. Como bem destaca Norris (2007), o modelo analí

-ico por eles desenhado previa apenas o engajamento polí-ico do ipo ciizen-oriented. Tal abordagem, se de alguma maneira conseguia captar os repertórios

de paricipação políica mais tradicionais, até os anos 1960, se mostrou reducio

-nista ao não computar o protesto e outras aividades políicas como modalida

-des de paricipação. Nas palavras de Norris:

As aividades orientadas para o cidadão, exemplii

-cadas pela paricipação através do voto e pela ilia

-ção a paridos, obviamente coninua sendo impor

-tante para a democracia, mas hoje representam uma conceitualização estreita demais do aivismo, que exclui al

-gumas das metas mais comuns do engajamento cívico, que se tornaram convencionais e predominantes.(2007, p. 639)

O reconhecimento das modalidades de protesto políico nos estudos de par

-icipação somente vai receber um tratamento empírico sistemáico, em Poli-ical acion, de Barnes e Kaase (1979). O ponto de parida desse trabalho é o reconhecimento das “ondas de protesto políico que varreram as democracias industriais avançadas no inal da década de 1970” (BARNES & KASE, 1979, p. 13, grifos no original). A importância desse reconhecimento está relacionada ao fato de que, até então, o fenômeno da paricipação massiva e da mobilização políica na forma de protestos era associado ao contexto de instabilidade polí

-ica dos países em desenvolvimento. A maior expressão desse diagnósico está binômio paricipação/insitucionalização, de Samuel Hunington (1975), bem como nos seus trabalhos especíicos sobre paricipação políica em tais contex

-tos (HUNTINGTON & NELSON, 1976)21.

Ao reconhecer as aividades de protesto e contestação como uma modalidade de paricipação políica, percebendo-as não como uma anomalia ípica dos paí

-ses subdesenvolvidos, mas como fenômenos que estavam acontecendo naque

-les contextos centrais, em termos de desenvolvimento políico e econômico – e sem necessariamente apontar para uma crise de legiimidade das democracias, como chegou a ser apontado em alguns estudos –, tal projeto levou a uma re

-formulação das próprias formas de mensurar e classiicar a paricipação políica, como veremos abaixo.

O projeto Poliical Acion teve início em 1971, reunindo cienistas sociais em tor

-no de um estudo que abrangeu a realidade de cinco países (Áustria, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos e Alemanha Ocidental22). A obra, de 1979, apresenta

os resultados de tal pesquisa. Para os nossos propósitos, interessa destacar a ipologia de paricipação políica que é elaborada em tal estudo – e que passa a ser incorporada ao vocabulário dos estudos de paricipação, desde então –, como é o caso do tra

-balho de Kalaycioglu e Turan (1981), ao conirmarem empi

-ricamente a valida

-de da classiicação

das modalidades de

paricipação pro

-posta por Verba, Nie e Kim (1978), num estudo que abran

-geu a Turquia, Co

-reia do Sul e Kênia.

21. Deve-se lembrar também que, no contexto dos anos 1970, a expansão da paricipação foi tra -tada como um dos

sinais da crise de governabilidade das democracias (CRO

-ZIER et al., 1975).

22. Inclui também dados de Itália, Suí

(9)

que é aquela divisão entre as “modalidades convencionais” e “não convencio

-nais”. No rol das modalidades convencionais, teríamos aquelas já apresentadas acima, constantes dos modelos de Verba e Nie (1972)23. Já, como aividades não

convencionais, teríamos as relacionadas aos atos de protesto, as quais, numa escala de complexidade (e custos), são: assinar um abaixo-assinado, paricipar de manifestações legais, paricipar de boicotes, recusar-se a pagar aluguel ou impostos, ocupar ediícios ou fábricas, bloquear o tráfego com demonstrações de rua, paricipar de greves24.

A ipologia proposta em Poliical Acion percebe a relação entre paricipação convencional e não convencional não como excludentes, mas como “repertóri

-os”25 mobilizados pelos aivistas, dependendo do contexto. A paricipação aqui,

volta a ser vista como um fenômeno unidimensional, cujas modalidades fazem parte de repertórios, que são mobilizados pelos indivíduos num coninuum que envolve custos e complexidade crescentes26. Tal coninuum foi sistemaizado

pelos autores numa escala, a “ipologia do repertório de ação políica”, a qual classiica os indivíduos, entre inaivos27, conformistas28, reformistas29, aivistas30 e protesters31. A escala está apresentada no quadro abaixo:

Tabela 4 – Tipologia do repertório da ação políica

Escala de Paricipação Políica Convencional (PC)

Escala potencial de protesto (PNC) Nenhu -ma das aivida -des (0) Ler sobre políica nos jornais (1) Discuir políica com os amigos (2) Traba -lhar com outras pessoas na comu

-nidade (3) Trabalhar para paridos políicos ou candi -datos (4) Convencer outros a votar da mesma forma que você (5) Paricipar de campa

-nhas po

-líicas ou comícios (6) Contato com funcio -nários públicos (7) Nenhuma das aividades (0)

INATIVOS (PC = 0 a 1 / PNC = 0 a 1) CONFORMISTAS (PC = 2 a 7 / PNC = 0 e 1)

REFORMISTAS (PC = 2 a 7 / PNC = 2 a 3) ATIVISTAS (PC = 2 a 7 / PNC = 3 a 7) PROTESTERS (PC = 0 a 1 / PNC = 2 a 7) Abaixo-Assina -dos (1) Manifestações legais (2) Juntar-se a boicotes (3) Recusar-se a

pagar taxas ou aluguéis (4) Ocupar prédios ou fábricas (5) Bloquear o tráfego com demonstrações (6) Paricipar de greves (7)

Fonte: adaptado de Barnes e Kaase (1979, p. 154)

23. Além das mo

-dalidades já men

-cionadas em Verba e Nie (1972), os au

-tores incluem “ler sobre políica nos jornais” e “discuir políica com os ami

-gos”, o que leva a um quesionamen

-to de Brady (1999), se tais ações real

-mente poderiam ser enquadradas

como modalidades

de paricipação po

-líica.

24. Reconhecendo-se a diiculdade de mensurar aivida

-des episódicas e ir

-regulares, como as de protesto, os au

-tores desenvolvem uma complexa me

-todologia, que com

-bina a paricipação em aividades de protesto com a pro

-pensão à paricipar (BARNES & KAASE, 1979). Para uma análise detalhada

da metodologia de

Poliical Acion, Bra

-dy (1999).

25. A ideia de “re

-pertórios” da ação coleiva vai ganhar tratamento siste

-máico na obra de um conjunto de

autores situados

em torno da teoria

do processo políi

-co, entre os quais, Charles Tilly, Sidney Tarrow e Douglas Macdam. Para uma visão de tal pers

-peciva aplicada ao

estudo dos

movi-mentos sociais, ver Tarrow (2009) e Tilly e Tarrow (2007).

26. A metodo

(10)

Como amplamente reconhecido pela literatura, Poliical Acion foi um divisor de águas nos estudos sobre paricipação, ao incluir as modalidades não conven

-cionais (BRADY, 1999, VAN DETH, 2001, VERBA, SCHLOZMAN & BRADY, 1995)32.

Em termos metodológicos também realizou inovações, ao aricular a dimensão das aitudes e comportamento na criação de uma escala de paricipação não convencional. Em que pese tais avanços, o estudo sofreu críicas principalmen

-te em função de uma in-terpretação homogeneizan-te dos atos paricipaivos (BRADY, 1999, p. 754) e pelo fato de ser obscuro quanto às disinções internas às disintas modalidades (TEORELL, TORCAL & MONTERO, 2007, p. 334). Outra críica é quanto à própria disinção entre paricipação convencional e não con

-vencional, que, se era uma denominação adequada para o contexto dos anos de 1970, já não seria apropriada para diferenciar as modalidades de paricipação hoje, pois a maioria dos atos “não convencionais” daquele contexto, teriam se “convencionalizado” nas realidades das democracias do século XXI (VAN DETH, 2001, DALTON, SICKLE & WELDON, 2009). Um úlimo comentário sobre Poliical Acion é que o estudo foi replicado em 1979 - 1981, em pesquisa realizada em três países (Holanda, Alemanha e Estados Unidos) e cujos resultados estão em Jennings et alli (1990).

A grande inovação posterior a Poliical Acion é sem dúvida o trabalho de Verba, Schlozman e Brady (1995)33. Tal trabalho incorpora a paricipação não conven

-cional como modalidade de paricipação, mas também inclui modalidades não enderaçadas ao “governo”. Exemplo são as formas “sociais” de paricipação, como o “voluntariado”. Como bem destaca Van Deth (2001), essa nova amplia

-ção das medidas de paricipa-ção foi resultante do revival dos argumentos Toc

-quevilleanos, em especial pelas robustas evidências empíricas apresentadas pe

-los trabalhos de Robert Putnam (1996, 2002 e 2003). Nas palavras de Van Deth:

A linha enfraquecida entre as esferas políicas e não políicas da sociedade moderna e o ressurgimento das abordagens to

-cquevilianas e comunitárias levaram a uma expansão da par

-icipação políica, com aividades ‘civis’ como o voluntariado e o engajamento social. (VAN DETH, 2001, p. 6)

Nesse senido, Verba, Schlozman e Brady (1995a) vão desenvolver aquilo que foi denominado de modelo do “voluntarismo cívico”, onde o processo de en

-gajamento políico é visto como mediado pela relação entre custos e recursos, sendo a paricipação resultante das moivações e das capacidades dos indiví

-duos para paricipar, as quais são mediadas pelas “redes de recrutamento”34.

Os recursos mais signiicaivos seriam o tempo, o dinheiro e as “habilidades” individuais.

Em termos de classiicação das modalidades de paricipação, o estudo em escala de parici

-pação em Poliical Acion foi a escala de Gutmann. Para maiores detalhes so

-bre tal metodologia, vide Marsh (1974) e Brady (1999).

27. Em termos de dados empíricos, os inaivos seriam em número de 17,9% na Holanda, 30% no Reino Unido, 12, 3% nos EUA, 26,6% na Alemanha e 34,9 na Áustria.

28. Seriam de 11,1% na Holanda, 15,4% no Reino Unido, 17,5% nos EUA, 13,5% na Alemanha e 19,2% na Áustria.

29. Seriam de 19,8% na Holanda, 21,9% no Reino Unido, 36,0% nos EUA, 24,6% na Alemanha e 20,9% na Áustria.

30. Seriam de 19,3% na Holanda, 10,2% no Reino Unido, 14,4% nos EUA, 8% na Alemanha e 5,9 na Áustria.

31. Em número de de 31, 9% na Holan

-da, 22,4% no Reino Unido, 19,8% nos EUA, 27,3% na Ale

-manha e 19,1% na Áustria.

32. A disinção entre paricipação “con

-vencional” e “não convencional” tem sido recorrente

-mente uilizada nos principais trabalhos que se ocupam do comportamento po

(11)

questão, ao incorporar novas modalidades, chega a uma ipologia composta por nove elementos, reairmando a mulidimensionalidade do fenômeno. Tais dimensões seriam: votar, trabalhar em campanhas políicas, contribuição para campanhas, contato com oiciais, protesto, trabalho informal na comunidade, membro de um conselho local, iliação a uma organização políica e contribuição a uma causa políica. O esquema classiicatório, com seus correlatos de reque

-rimentos de recursos, informações e variação do volume estão apresentadas na tabela abaixo35.

Tabela 5 – Os atributos das aividades políicas

Aividade transmiir informaCapacidade para

-ção Variação no volume Requerimentos

Voto Baixo Baixo Tempo

Trabalho de cam

-panha Misto Alto Tempo e Dinheiro

Contribuição para

campanha Misto Alto Dinheiro

Protesto Alto Médio Tempo, Habilidades

Contato com agen

-tes públicos Alto Médio Tempo

Trabalho informal

na comunidade Alto Alto Tempo, Habilidades

Membro de um

clube políico local Alto Alto Tempo, Habilidades

Filiação a uma organização pari

-dária

Misto Alto Tempo, Habilida

-des, Dinheiro

Contribuição a uma

causa políica Misto Muito alto Dinheiro

Fonte: Verba, Scholozman & Brady (1995a, p. 48)

O trabalho de Verba, Scholozman e Brady (1995a) pode ser considerado o maior esforço teórico e metodológico no âmbito da construção de uma teoria da par

-icipação políica empiricamente orientada. Seus resultados têm ido desdobra

-mentos tanto em novas pesquisas empíricas (VERBA, BARNS & SCHLOZMAN, 2001; LIPHART, 1997), como também no debate normaivo ocorrido no âmbito da disciplina (VERBA, 2006; DAHL, 2006)36.

em especial, In

-glehart e Welzel (2009); Dalton e Klingemann (2007), Topf (1995a e 1995b), Norris (2002; 2007), Clark e Hofman (1998), Dalton (2002).

33. Como desta

-ca Brady (1999, p. 758), tal estudo também foi repli

-cado na Estônia e Rússia.

34. Uma discussão sobre o modelo te

-órico proposto en

-contra-se em Verba, Scholozman e Brady (1995b).

35. As modalidades de paricipação po

-líica classiicadas por Verba, Scho

-lozman e Brady (1995a) são extraí

-das de um conjunto formado por 32 per

-guntas do quesio

-nário elaborado no contexto do projeto Citzen Paricipaion.

36. O volume 91, número 2, de 1996,

da American Polii

-cal Science Review, dedicou várias re

(12)

Especiicamente no âmbito da pesquisa empírica, o estudo reairmou o conteú

-do mulidimensional da paricipação e promoveu uma ariculação daquilo que a literatura tradicionalmente tratava de forma diferenciada, que é relação entre paricipação políica e paricipação social. Por outro lado, essa ampliação do escopo do conceito e dos indicadores de paricipação políica deu margem para críicas como as de Van Deth (2001), ao destacar que a incorporação de novos elementos (modalidades) classiicados como “políicos” nos estudos de parici

-pação – que ocorreu de forma conínua ao longo dos úlimos anos –, se, por um lado, é um indicaivo de que os fenômenos em questão são historicamente cons

-ituídos e, dessa forma, tal ampliação seria um sinal de vitalidade desse campo de pesquisas em sua capacidade de acompanhar o desdobramento daquilo que acontece na história. Por outro, essa ampliação conceitual é problemáica, pois coloca o risco de se perder a referência sobre as linhas demarcatórias daqui

-lo que seria um conceito mínimo de paricipação políica. O risco, nesse caso, como airma Van Deth (2001), é sua ampliação rumo a uma “teoria do tudo”!

Por im, cabe destacar que, para além das classiicações existentes, outros auto

-res têm proposto denominações mais especíicas para as modalidades de pari

-cipação, que, de alguma maneira, são contempladas nos estudos anteriores. Nos limitaremos a mencionar tais estudos. O primeiro deles é do Ronald Inglehart e Chrisian Welzel (2009). Como se sabe, o autor foi um dos colaboradores de Po-liical Acion (1978) e tem uilizado a disinção entre paricipação convencional e não convencional em seus estudos37. Porém, Inglehart também tem feito uso

de outras denominações, como aquela que diferencia as modalidades de par

-icipação segundo sua relação com as elites da sociedade. Assim, teríamos as ações “elite directed”, onde os cidadãos paricipam através de organizações hie

-rárquicas, como os paridos, sindicatos, etc. Tais modalidades, segundo o autor, estariam em declínio em praicamente todos os contextos democráicos. Já as ações “elite challenging”, seriam aquelas formas de ação diretas, não insitucio

-nalizadas, cujos exemplos mais representaivos seriam as realizadas através de protestos ou boicotes. Segundo a teoria do inglehariana, tais ações, estariam em ascensão, sendo um dos indicadores da emergência de valores pós-mate

-rialistas (INGLEHART & WELZEL, 2009, INGLEHART & CATTERBERG, 2002)38. Do

mesmo modo, Pippa Norris (2007) propõe a diferenciação entre ações “cause oriented”, exempliicada também pelos movimentos sociais e as aividades de protesto, e aquelas “ciizen oriented” cujos exemplos seriam a políica paridária e a paricipação em eleições. Por im, ainda nessa diferenciação entre “novas” e “velhas” modalidades de paricipação, temos aquela proposta por Cabral (2009) entre “automobilização” e paricipação através de pertencimento a organiza

-ções, ou “paricipação associaiva”. A diferenciação entre as duas modalidades seria equivalente àquela realizada por Inglehart e Norris, automobilização sen

-do equivalente à “cause oriented” e “elite-challenging”. 37. Ronald Inglehart

tem coordenado um dos mais ambiciosos projetos intelectuais no âmbito das ciên

-cias sociais.

Trata-se do World Value

Survey, cujos dados já compreendem amostragem repre

-sentaiva de mais de 85% da população mundial. Para maio

-res informações ver www.worldvalues

-survey.org/.

38. Para maiores esclarecimentos so

-bre a teoria do

pós-materialismo e sua

validade empírica, considerando a re

-alidade laino-ame

(13)

b) Novas Tipologias

Concomitantemente a essas grandes pesquisas desenvolvidas sobre paricipa

-ção, foram-se estabelecendo novas iniciaivas metodológicas visando proceder uma melhor compreensão sobre como as diferentes modalidades de paricipa

-ção se ariculam entre si, no senido de precisar melhor o argumento de que a paricipação é um fenômeno mulidimensional, bem como a validar e/ou refutar as classiicações já existentes na literatura.

Um dos primeiros esforços, nesse senido, foi feito por Sabucedo e Arce (1991). Seu ponto de parida é a airmação da necessidade de deinição e classiicação corretas dos fenômenos sociais. Os autores quesionam se uma análise mais detalhada sobre os vínculos entre as disintas modalidades de paricipação não levaria a ampliar o seu diagnósico de um fenômeno heterogêneo, possibilitan

-do-se estabelecer novas classiicações (p. 94).

Para veriicar a questão, realizam uma invesigação empírica orientada para a busca da ideniicação da representação que os próprios atores fazem sobre as relações entre suas diferentes aividades políicas. Seus dados empíricos foram oriundos de um survey realizado com 77 estudantes da Universidade Saniago de Compostela39.

Através da aplicação da análise de cluster, uilizando-se de métodos hierárqui

-cos, veriicou-se que as variáveis formaram dois grupos que internamente se dividiam em dois subgrupos cada. Um grande grupo formado pelas aividades “legais” e outro por aividades “ilegais”. O primeiro tem uma divisão interna, agrupando (1) as aividades de persuasão e inluência que acontecem durante as campanhas eleitorais e “são evidentemente afetadas pela iliação paridária” – paricipar de campanhas políicas e tentar convencer outros sobre o voto (p. 99). Em (2) estão agrupadas as aividades de envolvimento políico em formas disintas e incluiu o “voto”, “escrever para jornais”, “paricipar de protestos au

-torizados” e “paricipar de greves autorizadas”. O segundo cluster (aividades ilegais) também produziu dois subgrupos. Um deles que agrupou as aividades consideradas violentas (atentar contra a propriedade e violência armada) e um segundo que agrupou modalidades não violentas: boicotes, greves não autori

-zadas, protestos não autorizados, ocupação de prédios e interrupção do tráfego de veículos.

O estudo permiiu aos autores proporem uma forma de classiicação para as modalidades de paricipação que denominam de “persuasão eleitoral”, “paricipação convencional”, “paricipação violenta” e “paricipação direta e não violenta”. Segundo eles, tal classiicação permiiria sair da “arbitrarie

-dade” das disinções comumente apresentadas na literatura. Além do mais,

39. Foram usados 30 ipos de par

-icipação como esímulo, os quais produziram 78 pa

-res (de relações). Com esses pares foi construída uma es

-cala de nove pontos para avaliar a dis

-similaridade entre cada par de esímu

-los. A parir disso foi aplicado o standard

rotaing method para ordenar tais pares de esímulos. Adicionalmente, os sujeitos foram interrogados sobre uma escala de julga

-mento de 29 pontos e, inalmente, se posicionaram numa escala de idenii

(14)

40. Trata-se do pro

-jeto Ciizenship, Involvement, Demo

-cracy (CID), cujas pesquisas desen

-volvem-se nos Esta

-dos Uni-dos (htp:// www8.georgetown. edu/centers/cdacs/ cid/) e na Europa, através da aricula

-ção entre pesqui

-sadores de várias universidades. Para maiores informa

-ções, ver htp:// www.mzes.uni-man

-nheim.de/projekte/ cid/.

41. O quesionário pergunta se, nos úl

-imos doze meses, o respondente par

-icipou de: (a) Voto: votou em eleições parlamentares, se absteve do voto como forma de pro

-testo; (b) Envolvi

-mento em paridos políicos: membro de parido parici

-pou em aividades paridárias, doou dinheiro, prestou trabalho voluntá

-rio; (c) Ações para inluenciar a socie

-dade: contato com políicos, contato com organizações, contato com servi

-dores públicos, tra

-balhou num parido políico, trabalhou numa ação políica de grupos, traba

-lhou em outras or

-ganizações, usou ou exibiu algum crachá, assinou um abaixo-assinado, paricipou de demonstrações públicas, paricipou de greve, boico

-tou determinados produtos, comprou certos produtos, doou dinheiro, re

-colheu dinheiro,

(...) nossos resultados mostram que há uma disinção precisa entre diferentes formas de paricipação violenta e diferentes formas de paricipação não violenta. Paricularmente, acredi

-tamos ter ideniicado disinções importantes dentro da ca

-tegoria que tradicionalmente tem sido vista como ‘não con

-vencional’ ou ‘ilegal’. (SABUCEDO & ARCE, 1991, p. 100-101)

Entendemos que a importância do trabalho de Sabucedo e Arce (1991) se deu, sobretudo, no senido de chamar a atenção para disinções analíicas no tocan

-te às modalidades de paricipação. Acreditamos, assim, que o mérito do traba

-lho está essencialmente no plano metodológico, ao uilizar técnicas de análise que posteriormente foram incorporadas a outros estudos classiicatórios. Outra contribuição está no fato de recolocarem a ideia de paricipação não convencio

-nal num outro plano, cuja disinção se daria no caráter violento ou não da ação. Além disso, transferem algumas modalidades idas como não convencionais para a “convencionalidade”, como escrever a um jornal e paricipar de protestos e greves autorizadas. Os limites do trabalho estão relacionados, principalmente, ao universo pesquisado (estudantes universitários), um grupo bastante restrito e homogêneo, em geral, com aitudes e padrões vinculados à dimensão gera

-cional (DALTON, 2008), o que impossibilita qualquer ipo de generalização de tal classiicação.

Um trabalho mais recente que se detém, especiicamente, na proposta de uma ipologia classiicatória para as modalidades de paricipação é o de Teorell, Tor

-cal e Montero (2007). Os autores, após uma exausiva análise sobre modelos existentes e uilizando dados do CID Survey40, abordam um grande conjunto de

modalidades de paricipação e ação políicas, divididas em aividades relacio

-nadas ao voto, paridos, aividades de protesto e também o uso políico da In

-ternet41.

Sua proposta de ipologia toma como ponto de parida o diagnósico de que os aivistas optam por determinadas modalidades de paricipação, de modo que “(…) aividades de cluster especíicas formam uma dimensão disinta de parici

-pação políica” (2007, p. 340). Para realizar a classiicação, procedem de modo a organizar as modalidades de paricipação a parir de duas dimensões: o canal de expressão e o mecanismo de inluência. O canal de expressão pode ser uilizado através do uso dos canais de representação (voto e a aividade paridária) ou extrarrepresentação (protesto e a “consumer paricipaion”). Uma modalida

-de mista -de expressão seria o “contato políico”. Já o mecanismo -de inluência poderia se dar através de estratégias de “saída” (voto, a “consumer paricipa -ion”42) e ou “voz”43 (aividade paridária, protesto e contato). O resultado é

(15)

Canal de Expressão

Representacional Extra Representacional

-Mecanismo de

Inluência

“Saída” Voto Consumer Paricipa

-ion

“Voz” Aividade Paridá

-ria

(non-targeted)

Aividade de Protesto

(non-targeted)

Contato

(non-targeted)

Fonte: adaptado de Teorell, Torcal e Montero (2007, p. 341)

Sua ipologia, como os próprios autores reconhecem é bastante próxima daque

-la de Verba e Nie (1972), porém, incluindo os canais extrarrepresentaivos de expressão poliica, como o protesto ou o “consumer paricipaion”. O teste em

-pírico da ipologia, foi conduzido com os dados dos 13 países paricipantes do

CID Survey, através da técnica da “análise dos componentes principais”. Os re

-sultados conirmam a validade da classiicação para todos países, com exceção

de Portugal44, cujo modelo produziu um agrupamento disinto para as variáveis,

o que leva os autores a concluírem que:

O fato de que o padrão dimensional é quase idênico nesses conjuntos, em outros aspectos disintos, de esferas políicas, econômicas e culturais é um argumento forte a favor da medi

-ção da equivalência entre nossos quatro modos de aividade. Este resultado corrobora o argumento de que a mulidimen

-sionalidade da paricipação políica está imbricada na nature

-za paricular de cada modo de paricipação e não responde a conigurações insitucionais especíicas de uma nação. (p. 348)

A classiicação apresentada acima, elaborada por Teorell, Torcal e Montero (2007) pode ser considerada uma das mais soisicadas construções metodoló

-gicas no campo da sociologia da paricipação, seja pela complexidade do con

-junto de questões incluídas no CID Survey (25 perguntas), seja por incorporar novas modalidades de paricipação, como é o caso da “consumer paricipaion”. Além disso, avança na compreensão do caráter mulidimensional do fenômeno, ao separar as modalidades conforme seus canais de expressão e os mecanis

-mos de inluência, cuja diferença interna se relaciona aos custos envolvidos nos diferentes atos. Por im, tais indicadores foram validados nos testes empíricos realizados. O limite do trabalho está no fato de se concentrar empiricamente

contactou a mí

-dia, paricipou em protestos ilegais, reuniões políicas, outras; (d) uso da internet para in

-luenciar a socieda

-de. Ao todo, são 28 perguntas no ques

-ionário que são relacionadas para desenvolver sua ipologia da parici

-pação (VAN DETH, 2001).

42. A incorporação do “consumer par

-icipaion” como

uma modalidade de

paricipação políica está relacionada às aividades de boi

-cote ao consumo de determinados pro

-dutos, por razões de ordem ecológica ou social. Veriicam-se também campa

-nhas de esímulo a determinados hábitos alimenta

-res e ao consumo de determinados ipos de produtos (p. ex. os alimentos orgânicos). Sobre o tema, ver Michelei (2005).

43. Os autores fa

-zem uso da clás

-sica ipologia de Albert Hirschmann (1970) que estuda o comportamento de consumidores e cidadãos a parir das estratégias de “saída”, “voz” ou “lealdade”.

44. O caso de Por

-tugal, segundo os autores, “a mobi

-lização paridária parece obstruir a presença de dimen

-sões disintas da ai

(16)

do consumidor” (p. 355).

45. Disponível em htt p : / /ci n efo go . cuni.cz/

46. O ISSP (

Interna-ional Social Survey Programme) é um programa coní

-nuo de pesquisas comparaivas, com amostragens nacio

-nais. As pesquisas estão organizadas em módulos ixos e módulos que são incluídos em ro

-dadas especíicas.

Para maiores

de-talhes, ver htp:// www.issp.org/page. php?pageId=4

na realidade das democracias europeias, onde, em que se pese as diferenças entre os países, não consegue captar muitas outras diferenças de contexto. Os próprios autores (p. 343) reconhecem tal limite quando comparam sua ipologia àquela formulada por Verba e Nie (1972).

Um terceiro conjunto de trabalhos foi produzido no âmbito de uma discussão realizada no Workshop “Methodological Challenges in Cross-Naional Parici -paion Research”45. Do conjunto de trabalhos apresentados, três deles nos são

de paricular importância. Comecemos por Mitja Hafner-Fink (2009) em “Using cluster analysis to discover poliical paricipaion typologies in a comparaive context”. Uilizando-se de dados do ISSP (2004)46, o autor vai buscar construir

não propriamente uma ipologia da paricipação, mas dos “cidadãos que pra

-icam várias formas de paricipação políica” (HAFNER-FINK, 2009, p. 2). Para tanto, faz uso da técnica da análise de cluster (hierarchical cluster analysis) e

principal components analysis. O estudo faz uso de várias modalidades de par

-icipação, divididas em três níveis analíicos:

1. Aividade Políica, dividida em a) comunicação (contato com políi

-cos, contato com os meios de comunicação, paricipação em fóruns da Internet); b) paricipação direta em ações (boicotes, paricipação em demonstrações, paricipação em comícios); e c) suporte à projetos polí

-icos (abaixo-assinado, doações de dinheiro).

2. Membro de Organizações, dividido em a) paridos, b) sindicatos e organizações proissionais, c) organizações religiosas e d) sociedades e organizações voluntárias.

3. Interesse em Políica, dividido em a) um indicador de interesse em políica e b) dois indicadores de discussão de assuntos políicos.

Num primeiro momento, o autor procedeu ao teste da classiicação das moda

-lidades, buscando veriicar se a disinção entre paricipação insitucionalizada

versus paricipação individualizada se veriicava empiricamente. Hafner-Fink ideniicou que as três formas de comunicação se agruparam com paricipa

-ção em demonstrações e comícios. Já boicotes, peições e doações produziram outro agrupamento próprio. Com esses dois grupos de aividades políicas, ele parte para uma segunda análise, incluindo na análise de cluster, a paricipação em organizações e o interesse por políica. Com isso, o autor chega a uma nova ipologia da paricipação (agora a parir dos grupos de indivíduos). Os resulta

(17)

e pertencentes a outras organizações. Além desses, cria a categoria dos “exclu

-ídos/observadores”. Internamente a tais categorias são criados subagrupamen

-tos e os dados são apresentados e agrupados por país (p. 11).

Trata-se de uma análise bastante complexa, que aricula a dimensão da ação políica com a dimensão organizacional da paricipação (BRADY, 1999). Assim, de modo inverso a Teorel, Torcall e Montero (2007), que buscam construir sua i

-pologia a parir de uma estratégia deduiva, Hafner-Fink (2009) aricula dedução e indução. A primeira quando busca aricular as modalidades de paricipação em “insitucionalizadas” e “individualizadas”. A segunda, ao veriicar como os grupos de indivíduos se distribuem entre os disintos campos para aí construir sua ipologia do engajamento (que se dá entre diferentes combinações entre o cidadão “alienado” e aquele que combina paricipação insitucionalizada com paricipação paridária).

O limite de tal análise é que ela não consegue produzir uma ipologia propria

-mente dita dos atos políicos, mas uma ipologia dos aivistas políicos. Com isso, cai-se novamente na críica que já era feita ao trabalho de Barnes e Kaase (1979), de tratar a paricipação como um fenômeno unidimensional (mesmo que esse não seja o objeivo do autor).

Por im, temos o trabalho de Albacete (2009)47, que se debruça sobre a tentaiva

de construir medidas equivalentes de paricipação políica que sejam úteis para a pesquisa comparaiva48. Seu ponto de parida é que a comparação entre países

exige a construção de medidas equivalentes entre as variáveis em análise (PR

-ZEWORSKI & TEUNE, 1970, VAN DETH, 2009). Propõe, dessa forma, comparar a “estrutura latente” das modalidades de paricipação, uilizando, para isso, a escala de Mokken (MSA), a qual permite a ordenação das diferentes variáveis, a parir de critérios predeterminados, onde as dimensões em teste são veriicadas através de um processo cumulaivo de análise49. O interessante do uso de tal es

-cala é que ela possibilita fazer a equivalência de dados para pesquisas aplicadas em contextos disintos. Dessa forma, consegue-se proceder com a comparação a parir de “medidas equivalentes” (sem ter que usar as variáveis relacionadas às modalidades de paricipação, de forma individualizada).

Os resultados do estudo com o conjunto de países da amostra indicaram a exis

-tência de duas escalas de paricipação: uma que inclui formas convencionais e outra que compreende as aividades de protesto. A escala é bastante semelhan

-te àquela de Barnes e Kaase (1979) e, em que pese o autor defender uma visão mulidimensional da paricipação, seus resultados são bastante reducionistas, ao considerar a estrutura e as bases da paricipação como compostas de apenas duas modalidades (formas insitucionalizadas versus aividades de protesto).

47. O uso da escala de Mokken já havia sido aplicado por Van Deth (1986) num estudo de

-dicado à mesma temáica. Nesse trabalho, Van Deth (1986) chega à con

-clusão de que seria pouco apropriado o uso da disinção entre paricipação convencional e não convencional, pois

os resultados dos

testes empíricos apontavam para uma unidimensio

-nalidade na escala de paricipação. A disinção que o au

-tor considera mais apropriada seria aquela entre aivi

-dades direcionadas ao governo e aivi

-dades não direcio

-nadas ao governo (como, p. ex. as aividades políicas dos sindicatos).

48. A discussão so

-bre a importância de medidas equiva

-lentes nos estudos de paricipação é salientado por Van Deth (1986), ao lembrar que deter

-minadas perguntas (que são aplicadas de maneira iden

-ica nos diferentes países) têm signii

-cados disintos, de

-pendendo do con

-texto linguísiico em que são aplicadas. Em suas palavras: “O conceito germâ

-nico de Biirgeriniia

-ive, por exemplo,

tem muito em

co-mum com o que se chama inspraak, em

holandês. Ambos referem-se a modos de paricipa

(18)

Considerações Finais

O balanço da literatura, apresentado nas páginas acima, nos permiiu chegar a algumas constatações com relação ao que se passa no universo dos estudos sobre paricipação políica, em especial no que se refere às propostas classii

-catórias.

Em primeiro lugar, é inegável o crescimento quanitaivo e qualitaivo desse campo de pesquisas. Desde 1965, quando surge o trabalho de Milbrath, am

-pliaram-se constantemente o número de pesquisadores envolvidos na temá

-ica, a quanidade de publicações e o número de bases de dados que incluem baterias de questões sobre modalidades de paricipação. Hoje, praicamente todas as grandes pesquisas comparaivas na área de opinião pública possuem módulos ixos dedicados ao tema da paricipação50. Nesse caso,

considerando-se apenas aquilo que é coberto pelo WVS, teríamos dados longitudinais sobre paricipação, cobrindo mais de 85% da população mundial. Outro indicador da vitalidade da área é que boa parte dos Handbooks na área de Ciência Políica

tem dedicado ao menos um capítulo sobre a temáica (LIPSET, 1995; GOODWIN & KLINGEMANN, 1996; DALTON & KLINGEMANN, 2007; BOIX & STOCKES, 2007; ROBINSON, 1999, KATZNELSON & MILNER, 2002).

Tal crescimento da área, veio acompanhado da crescente soisicação dos ins

-trumentos de coleta51 e das técnicas de análise dos dados, de modo a que temos

evidências as mais robustas sobre determinantes individuais e contextuais da paricipação políica nas mais diferentes modalidades de paricipação. Outro elemento também a ser destacado é que a pesquisa na área foi ampliando o conteúdo do próprio conceito de paricipação, de modo a incorporar novas mo

-dalidades que foram surgindo no âmbito das democracias (VAN DETH, 2001). Em que pese tais avanços, a coninuidade das pesquisas sobre paricipação colo

-ca a necessidade de se resolver alguns graves problemas. O primeiro deles é de ordem metodológica. Como já destacamos acima, são diversos os empreendi

-mentos comparaivos na área de paricipação; o problema é que não existe uma uniicação de linguagem, seja na redação da maioria das perguntas que consi -tuem os surveys (BRADY, 1999), seja nos próprios indicadores do que deve ser considerado como paricipação (VAN DETH, 2001). Tais situações têm diiculta

-do o avanço de comparações (longitudinais ou entre países) e provoca-do sérias distorções na interpretação de alguns resultados das pesquisas. Um exemplo é a controvérsia em torno do declínio ou não das taxas de comparecimento eleito

-ral nos Estados Unidos. As pesquisas têm chegado a resultados disintos, alguns deles com divergências brutais em relação às estaísicas oiciais (BRADY, 1999).

Acreditamos, porém, que o problema mais grave seja de ordem teórica. Nesse menos novos e não

eleitorais. Mas os conceitos certamen

-te não são idêni

-cos. Como não há um correspondente literal em holandês para o Biirgeriniia

-ive germânico, não se pode fazer uma comparação dos níveis de paricipa

-ção nesses países quando são usadas traduções literais. Desse modo, ou abandonamos todas as referências a mo

-dos de paricipação especíicos de uma nação ou período, ou tentamos estabe

-lecer instrumentos equivalentes em vez

de idênicos”.

49. Segundo Alba

-cete (2009, p. 5-6) a MSA é uma combi

-nação de um mode

-lo de medição e um procedimento pa

-drão de análise in -dividual de cada

res-posta a um conjunto de itens que são pro

-jetados para ser in

-dicadores da dimen

-são latente de uma única variável. Ela se diferencia da análi

-se de componentes principais (PCA) ou análise de coniabi

-lidade, pois os dois primeiros métodos pressupõem que os itens podem ser considerados pa

-ralelos, ou seja, ter a mesma frequên

-cia de distribuição (a mesma média e desvio padrão), o que torna diícil a interpretação dos dados quando se faz análise fatorial com dados dicotô

(19)

senido, parece que a críica feita por Johnson (2005) em relação à tradição de pesquisas sobre cultura políica pode ser transferida aos estudos sobre parici

-pação (cuja origem intelectual é mesma, diga-se de passagem). Para esse autor, tal tradição careceria propriamente de uma teoria, tendo-se preocupado muito mais com as estratégias de coleta e análise dos dados, do que na resolução de problemas conceituais. É viável supor que boa parte das discordâncias classi

-icatórias que ivemos a possibilidade de resenhar ao longo desse texto estão relacionadas a problemas conceituais não resolvidos.

Como derivação desse problema, assisimos ao que Huxin e Denk (2009) deno

-minam de o “problema da caixa-preta”52 nos estudos sobre paricipação. Os au

-tores uilizam tal metáfora, pois airmam que apesar da literatura ter consegui

-do acompanhar as transformações vivenciadas pelo seu objeto de invesigação, em especial aquelas ligadas à emergência das modalidades não convencionais, o tratamento analíico que se deu a tal questão foi bastante precário, pois os estu

-dos se limitaram a ampliar as classiicações e colocar os indivíduos em algumas das “caixas”; porém, pouco se deiveram a descobrir o que se passaria dentro delas. Os estudos têm mapeado quem são os cidadãos que paricipam, onde paricipam e a intensidade de sua paricipação, mas pouco dizem sobre como os indivíduos fazem suas escolhas (HUXTIN & DENK, 2009 p. 12). Concluem os au

-tores, que o privilégio de determinadas medidas comparaivas, num crescente repertório de ações políicas, se deu à custa de um reinamento qualitaivo das dimensões da paricipação. Como alternaiva, apontam um caminho metodoló

-gico no senido de explorar as trajetórias do engajamento políico (como se deu a entrada, os antecedentes, as condições, experiências e resultados) (p. 17) e destacam os exemplos de algumas pesquisas que estão trilhando tal caminho. Entre os quais, o de Whiteley e Seyd (2002), num estudo sobre militância pari

-dária na Grã-Bretanha, ao construir uma escala de intensidade de paricipação, com oito itens, que representam três dimensões (contato políico, campanhas e representação), através do uso de um modelo de equações estruturais (apud

HUXTIN & DENK, 2009), ou o do Stolle, Michelei e Hooghe (2005), que aplicam a análise fatorial para construir um índice de “poliical consumerism”, baseado em itens como conhecimento, comportamento e moivação, frequência e hábito. O diagnósico de Husin e Denk (2009) parece ser coerente com certo descon

-forto que perpassa a literatura sobre paricipação, no senido de que esta tem se estruturado em torno de propostas classiicatórias e ipologias que não têm conseguido captar a complexa dinâmica que envolve os atos paricipaivos, des

-de o recrutamento dos aivistas, até o resultado produzido pelas ações, prin

-cipalmente, no senido de ideniicar o que se passa dentro de cada uma das dimensões e modalidades de paricipação (as “caixas pretas”).

Comungamos com suas preocupações e acreditamos na importância de

MSA, “Presume-se que cada sujeito tenha um valor cer

-teiro e esconhecido na dimensão laten

-te. Para cada item, a probabilidade de uma resposta posi

-iva aumenta com essa variável des

-conhecida. Nesse caso, presume-se que cada respon

-dente possa ser co -locado em uma

es-cala de paricipação políica. A probabili

-dade de um indiví

-duo ter paricipado de uma ação espe

-cíica – por ex., uma manifestação polí

-ica – será maior se ele iver paricipado de uma aividade menos exigente (ou mais fácil), tal como votar. Em segundo lugar, a MSA per

-mite uma aborda

-gem conirmatória, ou seja, avaliação de um conjunto de itens como uma escala cumulaiva. Assim sendo, pode

-remos examinar as propriedades de uma tal escala. Como resultado, poderemos testar a pressuposição de que os diversos modos de parici

-pação podem ser ordenados de ações mais fáceis para mais diíceis, em uma escala depar

-icipação políica. Finalmente, a MSA oferece a possibi -lidade de testar a

escala (ou escalas) em diversos grupos e, desse modo, ve

-riicar se o instru

-mento de medição é válido em diferen

Imagem

Tabela 1 – Tipologia da Paricipação Políica de Alessandro Pizzorno A solidariedade políi
Tabela 3 – As dimensões das aividades políicas e modos de aividade Modo de
Tabela 4 – Tipologia do repertório da ação políica Escala de Paricipação Políica Convencional (PC)
Tabela 5 – Os atributos das aividades políicas

Referências

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