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Percepção do pai sobre sua presença no nascimento do filho

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Academic year: 2017

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CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

RAIMUNDA MARIA DE MELO

PERCEPÇÃO DO PAI SOBRE SUA PRESENÇA NO NASCIMENTO DO FILHO

(2)

Raimunda Maria de Melo

PERCEPÇÃO DO PAI SOBRE SUA PRESENÇA NO NASCIMENTO DO FILHO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção de título de Mestre em Enfermagem.

Área de Concentração: Enfermagem na

Atenção à Saúde.

Linha de Pesquisa: Enfermagem no cuidado à

saúde da família em situação de gravidez, parto, nascimento e puerpério em diferentes níveis de complexidade.

Grupo de Pesquisa: Enfermagem na atenção

à saúde da população em diferentes fases da vida.

Orientadora: Profª. Dra. Rosineide Santana de Brito

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Catalogação da Publicação na Fonte - UFRN

Biblioteca Setorial Especializada em Enfermagem Profª Bertha Cruz Enders

M528 Melo, Raimunda Maria de.

Percepção do pai sobre sua presença no nascimento do filho / Raimunda Maria de Melo. – 2011.

95 f.

Orientadora: Rosineide Santana de Brito.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Enfermagem, 2011.

1.Enfermagem obstétrica - Dissertação. 2. Humanização da assistência - Dissertação. 3. Parto humanizado - Dissertação. I. Brito, Rosineide Santana de. II. Título.

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Raimunda Maria de Melo

PERCEPÇÃO DO PAI SOBRE SUA PRESENÇA NO NASCIMENTO DO FILHO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção de título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em: ____/____/____

___________________________________________________ Profª Drª Rosineide Santana de Brito (Presidente)

Departamento de Enfermagem da UFRN

___________________________________________________ Profª Drª Cleide Maria Pontes

Departamento de Enfermagem da UFPE

____________________________________________________ Profª Drª Akemi Iwata Monteiro

Departamento de Enfermagem da UFRN

______________________________________________________ Profª Drª Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho

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Dedico este estudo aos meus pais Manoel e Maria de Lourdes (In memorian).

Sem o carinho, esforço e incentivo de vocês eu não teria realizado mais um sonho. A você minha mãe que mesmo não estando mais conosco, parece ser uma luz no meu caminho. Nesse momento desejaria que estivesse acompanhando e comemorando comigo mais uma vitória na vida. E a você meu pai querido que sempre se mostrou incansável, sempre me apoiando, dedico-lhe com muito carinho esta dissertação.

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AGRADECIMENTO ESPECIAL

A Deus, pai celeste que nunca me abandonaste. A ti Senhor agradeço pela vida e sabedoria. A Professora Drª Rosineide Santana de Brito, minha orientadora, pessoa muito especial em minha vida. Agradeço por estar sempre disponível, por acreditar na minha capacidade, pela sinceridade e simplicidade, atributos pessoais que lhes confere o dom de ajudar seus orientandos a encontrar os caminhos que conduzem ao conhecimento/ensino. Obrigada pela preocupação e pelo cuidado com que me tratou durante esse tempo. Muito obrigada!

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AGRADECIMENTOS

A meu pai pelo apoio e incentivo, obrigada por ter me guiado em busca do conhecimento, o que foi determinante para que eu buscasse conquistar meus objetivos.

A meus irmãos Francisca, José Vicente, Gilson, João, Verônica e Manoel Filho, muito obrigada pelo carinho, amor, admiração e incentivo.

A minha querida sobrinha Giovanna, bebê da titia, afago nos momentos de solidão.

As Professoras Drª Cleide Maria Pontes, Drª Akemi Iwata Monteiro e Drª Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho pela contribuição dada em prol da qualidade deste estudo.

A direção geral e direção acadêmica do Hospital Universitário Ana Bezerra, representadas pelas enfermeiras e professoras Ms Maria Cláudia Medeiros Dantas R. Costa e Ms Simone Pedrosa de Lima, obrigada pelo apoio e incentivo.

Aos funcionários do HUAB, pessoas queridas que encontrei nesse momento da minha vida, muito obrigada por me ajudarem no momento da coleta de dados, bem como pelo carinho. Aos funcionários do Departamento de Enfermagem da UFRN pela disponibilidade e amizade. Aos amigos de mestrado, em especial a João Mário, Janile, Jaqueline, Vannucia, Fernando e Jocely, pessoas com que compartilhei tanto os momentos felizes quanto as angustias e os medos oriundos da vivência acadêmica.

A Leo e a Dany, pessoas queridas que sempre se disponibilizaram a mim ajudar.

A Adriana Suassuna, obrigada pelo incentivo e apoio nesse momento.

Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, obrigada pela oportunidade de cursar o mestrado.

Aos Professores Dr. Francisco Arnoldo Nunes de Miranda e Drª Clélia Albino Simpson, pessoas maravilhosas com quem compartilhei alguns momentos do mestrado.

Ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), pela confiança e concessão da bolsa no segundo ano do mestrado.

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RESUMO

MELO, Raimunda Maria de. Percepção do pai sobre sua presença no nascimento do filho. 2011. 95 f., Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2011.

Diante do reconhecimento da importância do acompanhante no parto, o estudo teve como objetivo analisar a percepção de homens quanto à sua presença na sala de parto durante o nascimento de seu filho. Trata-se de uma pesquisa do tipo exploratório e descritivo de natureza qualitativa. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob protocolo de nº 041/11. A coleta dos dados foi realizada no Hospital Universitário Ana Bezerra em Santa Cruz/RN, Brasil. Participaram da pesquisa homens/companheiros que estiveram presente na sala de parto no momento do nascimento do filho. A coleta de dados ocorreu entre os meses de junho a agosto de 2011, por meio de entrevista semiestruturada, após aquiescência da direção da instituição e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos entrevistados. Os depoimentos foram tratados de acordo com a análise de conteúdo segundo Bardin. Por meio da leitura exaustiva dos depoimentos foram identificadas as unidades de registro que passando por um processo de codificação e categorização deram origem a três categorias temáticas e seis subcategorias: importância da presença do homem na sala de parto; percepção do homem acerca do processo parturitivo e conhecimentos do homem relativos ao trabalho de parto e nascimento. A análise dos resultados teve como base os princípios do interacionismo simbólico segundo Blumer. Os resultados apontam que a unanimidade dos participantes expressou a importância do homem estar presente em sala de parto e acompanhar o nascimento de seu filho, com isso, recomendaram a presença de outros homens durante o processo da parturição de suas respectivas companheiras. Os depoentes afirmaram que a sua presença na sala de parto os levou a ter uma nova visão sobre a mulher. Ao acompanhá-la durante o trabalho de parto e parto os depoentes compreenderam esses períodos como algo que conduz a companheira a sofrimento físico e por envolver-se com a parturição passaram também a sentir os desconfortos oriundos do trabalho de parto. Portanto, em uma abordagem interacionista os entrevistados perceberam a sua presença na sala de parto como momento importante para a mulher, criança e para ele próprio. Mediante os resultados se faz necessário valorizar a presença do companheiro no contexto parturitivo, pois é o acompanhante ideal para a parturiente, visto que a sua presença em sala de parto garante o estabelecimento da interação com a mulher no momento em que ela mais precisa de apoio e de cuidados.

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ABSTRACT

MELO, Raimunda Maria de. Perception about his father’s presence in the child’s birth.

2011. 95 f., Dissertation (Nursing Master) – Federal University of Rio Grande do Norte, Natal, 2011.

Due of the importance of having a companion during labor, the study aimed to analyze the perception of men about their presence in the Delivery Room during the birth of his son. It´s an exploratory and descriptive qualitative approach, developed at University Hospital Ana Bezerra, in Santa Cruz/RN, Brazil. The project was approved by the Ethics Committee in Research of Universidade Federal do Rio Grande do Norte under protocol number 041/11. The participants were men/partners who were present in the Delivery Room at the time of birth. Data collection occurred from June to August 2011, through semi-structured interview, after authorization by direction of the institution and signing the consent form by the interviewees. The speeches were treated according to content analysis according to Bardin. After exhaustive reading of the speeches were identified units of record through, a process of coding and categorization originated three thematic categories and six subcategories: “The importance of man's presence in the Delivery Room”; “Perception of the man on the parturition process” and “Knowledge of man for to labor and birth”. The analysis was based on the principles of Symbolic Interactionism, according to Blumer. The results revealed that all participants expressed the importance of man be present in the Delivery Room, following the birth of his son. Therefore, they recommended the presence of other men during the process of parturition of their respective companions. The respondents said that their presence in the delivery room has led to a new vision of the woman. After accompanying his partner during labor and delivery, the interviewees understood these periods as something that leads to physical suffering and the partner to be involved with childbirth also started to feel the discomfort coming from labor. So, in an interactionist approach, respondents noted their presence in the Delivery Room as a significant moment for women, child and himself. From the results it is necessary to value a partner in the context of parturition, because he´s the ideal companion for women, since his presence in the delivery room promotes the establishment of interaction with her when she most needs support and care.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

HUAB - Hospital Universitário Ana Bezerra OMS - Organização Mundial de Saúde

OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde

PAISM - Programa de Atenção Integral a Saúde da Mulher

PNAISM - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher PHPN - Programa de Humanização do Parto e Nascimento

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...12

2 REVISÃO DE LITERATURA...19

2.1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ASSISTÊNCIA À MULHER NO PARTO...19

2.2 HUMANIZAÇÃO E INTEGRALIDADE NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER...22

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...30

3.1 TIPO DE ESTUDO...30

3.2 LOCAL DO ESTUDO...30

3.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA...32

3.4 COLETA DE DADOS...32

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS...33

3.6 ANÁLISE DOS DEPOIMENTOS...34

3.7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...36

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...38

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA...38

4.2 AS CATEGORIAS TEMÁTICAS E SUBCATEGORIAS ...39

4.2.1 Importância da presença do homem na sala de parto...39

4.2.1.1 Decisão de acompanhar a mulher em sala de parto...39

4.2.1.2 Atitude do homem na sala de parto...45

4.2.2 Percepção do homem acerca do trabalho de parto e parto...50

4.2.2.1 O trabalho de parto como sofrimento...50

4.2.2.2 Percebendo a assistência prestada à mulher quando presente na sala de parto...54

4.2.3 Conhecimentos do homem relativos ao trabalho de parto e nascimento...58

4.2.3.1 Sinais de trabalho de parto...58

4.2.3.2 Choro do RN como sinal de vida...61

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...65

REFERÊNCIAS...68

APÊNDICES

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1 INTRODUÇÃO

A gestação constitui um episódio no qual leva à mulher vivenciar importantes modificações fisiológicas, emocionais e psicossociais em determinada fase de sua vida. Embora essas alterações digam respeito ao organismo feminino e a vida da mulher, traz repercussões aos familiares,sobretudo aqueles que habitam com a gestante, em especial o seu companheiro.

No contexto da gravidez, a dinâmica da relação afetiva do casal é marcada por expectativas que envolve anseios e temores, especificamente, quando se trata do nascimento do filho. Sobre esse assunto, Brito (2001) e Carvalho (2005) ressaltam que a gravidez, o trabalho de parto e o parto trazem para a mulher sentimentos diversos, dentre eles o medo e a insegurança que podem ser minimizados, quando o homem/companheiro encontra-se presente nessas fases.

Esse entendimento considera que a presença do homem no momento do parto traduz-se em apoio emocional e físico à parturiente. Além disso, favorece a corresponsabilização do homem e da mulher com o processo parturitivo e nascimento do filho(a), que por sua vez fará nascer um novo homem, um novo pai. Desse modo, compreende-se que o processo de parturição relaciona-se diretamente com transformações emocionais e físicas, predispondo a parturiente experimentar diversos sentimentos e sensações, tais como: medo, angústia, prazer, tristeza e/ou alegria. (MALDONADO; DICKSTEIN, 2010).

Segundo Pereira e Moura (2008), o parto como um evento natural na vida reprodutiva da mulher, deve ocorrer de modo fisiológico, livre de intervenções medicalizantes que lhe negam o direito de participar ativamente desse fenômeno. Em conformidade com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), o parto normal é aquele em que o concepto nasce pela via vaginal, constituindo-se em um evento mais seguro para a mulher e criança. Enquanto isso, o parto cesariano embora envolva riscos pode trazer benefícios para aqueles que o vivenciam, dependendo de cada situação. Assim, é imprescindível que profissionais e gestantes evitem escolha antecipada sobre o tipo de parto, pois isso não é questão de preferência pessoal, e sim de necessidade.

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parto. É imperativo esclarecer que a cesárea é justificada mediante a presença de intercorrências ou complicações que ponham em risco a vida da mãe e/ou do filho.

Com o intuito de incentivar a volta do parto normal, várias iniciativas tem sido implementadas. Para o Ministério da Saúde é importante que se garanta à mulher uma assistência de qualidade durante o parto. Isso sugere o alcance de satisfação das suas necessidades nesse processo, quais sejam: o controle adequado da dor no trabalho do parto e a garantia de um acompanhante de sua preferência, que pode ser o homem/companheiro, que dará apoio emocional a mulher no processo da parturição. “O parto quando é vivenciado com dor, angústia, medo e isolamento pode levar a distúrbios psicológicos, afetivos e emocionais podendo influenciar no relacionamento mãe/filho, além de sua vida afetiva e conjugal”. (BRASIL, 2003, p. 64).

Visto isso, é importante a mulher ser acompanhada por alguém que faça parte de seus vínculos afetivos proporcionando-lhe confiança e ajuda no decorrer do trabalho de parto. A presença confortante do companheiro, de um familiar próximo ou mesmo de uma amiga, representa suporte psíquico e emocional para a parturiente. A pessoa que a acompanha nesse momento está compartilhando medo e ansiedade como também, somando forças e estimulando-a a superar os desconfortos advindos do processo da parturição. (BRASIL, 2003).

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1996), admite que o apoio empático e contínuo dos prestadores de serviços e de acompanhantes trazem benefícios para a parturiente e o concepto, tais como: trabalho de parto mais curto, menos uso de medidas intervencionistas como medicações e analgesia epidural, redução de Apgar menor que 7, menos cesarianas, redução da ansiedade da parturiente e maior probabilidade da mulher continuar a amamentar após as 6 semanas correspondente ao pós parto.

Todavia, na maioria das vezes, a mulher quando admitida em trabalho de parto é afastada de seus familiares, concomitantemente, submetida a intervenções clínicas, sobre as quais não recebe sequer algum esclarecimento. De modo geral, os profissionais tendem a prestar assistência que se adéqua a protocolos da instituição hospitalar, deixando de lado os desejos e anseios da parturiente. (DIAS; DESLANDES, 2006).

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Dessa forma, o homem/companheiro também vivencia momentos com emoções e necessidades.

Entende-se que a atenção concedida à mulher e ao seu companheiro requer afeto e cuidado, considerando o parto um estágio de transição e resolução da gravidez, no qual a futura mãe precisa ser apoiada e compreendida, a fim de poder assumir uma posição de sujeito ativo nesse processo. (BRASIL, 2001).

Sabe-se que o apoio dado a mulher pelo seu companheiro durante a fase parturitiva ultrapassa os cuidados técnicos dispensados nas maternidades pelos profissionais de saúde, pois envolve laços de vínculo e interesse para com o nascimento do filho. Assim sendo, faz-se necessário que o homem, no âmbito da sala de parto, seja considerado agente ativo do processo da parturição.

Entretanto, Maldonado (2002) ressalta o fato do pai também ficar excluído do processo parturitivo, devido a fatores relacionados à própria estrutura organizacional que presta assistência à mulher no processo do trabalho de parto. Quando isso ocorre, o homem fica a mercê de informações repassadas por membros da equipe de saúde que anuncia o nascimento do seu filho. Dessa forma, percebe-se a carência de acolhimento ao homem na sala de parto. De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2006a), o ato ou efeito de acolher expressa, sobretudo, uma ação que visa à aproximação com o outro. É uma atitude inclusiva estabelecida por meio de interação entre sujeitos.

Ressalta-se que o acolhimento consiste em uma diretriz relevante prevista pela Política Nacional de Humanização norteada pela ética, estética e política. (BRASIL, 2006a). Esses princípios devem ser apreendidos por parte daqueles que militam na área da saúde e são responsáveis direto por acolher a parturiente, seu companheiro e sua família no momento do parto. Nesse propósito, a atitude de acolher o homem/companheiro no momento do nascimento de seu filho(a) implica aproximação do profissional de saúde com o casal grávido. Além disso, permite ao companheiro sentir-se corresponsável pelo nascimento.

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Tendo em vista os benefícios advindos da presença do homem/companheiro no contexto do parto, cabe aos profissionais de saúde acolher, incentivando-o desde o pré-natal até a ocasião do nascimento, na perspectiva de minimizar medos e anseios possíveis de serem experienciados pelo casal com o fenômeno do nascimento do filho(a).

O interesse pela temática, por parte da pesquisadora, iniciou-se quando ainda, graduanda em enfermagem, tentava discutir com os enfermeiros das instituições que atendiam a mulher durante a gestação e parto, sobre a importância da inserção do homem como agente ativo durante o processo de parturição da sua companheira. Argumentava também, sobre a Lei do Acompanhante, sancionada em abril de 2005, no entanto, esses profissionais afirmavam que a instituição não tinha espaço físico adequado para atender esse tipo de solicitação. Somava-se a esses argumentos, a questão dos gestores locais não empenhar-se em melhorar o acolhimento a essas mulheres e aos seus companheiros.

Recorda-se que o início da vivência do exercício profissional da pesquisadora deu-se mediante um contrato provisório como enfermeira preceptora de alunos do curso de graduação em Enfermagem, da disciplina Enfermagem em Obstetrícia e Neonatologia, especificamente, no alojamento conjunto e centro obstétrico de uma instituição privada, do interior do estado do Rio Grande do Norte.

A partir dessa vivência, despertou-se, dentre outros aspectos, a importância do homem/companheiro no momento do parto. Além disso, observou-se que a maioria das parturientes ao chegar no setor, logo se dirigiam a enfermeira, a fim de pedir consentimento para que o companheiro pudesse assistir a esse momento tão significativo na vida de ambos, o nascimento do filho. Porém, quase sempre a resposta obtida era negativa, sob a justificativa de que as normas da instituição não permitiam a presença de acompanhante. Entretanto, por vez chegavam pais, proveniente de família abastada, sem restrições a sua entrada naquele local, denotando discriminação social daquele homem.

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À medida que várias buscas eram realizadas na literatura pertinente a essa área, novos conhecimentos acerca dos benefícios advindos da presença do acompanhante na sala de parto eram adquiridos. Todavia, sobre o objeto de estudo constatou-se escassez nas bases de dados consultadas, como LILACS, SCIELO e Biblioteca Virtual da Saúde. Esse fato reforçou ainda mais o interesse pela temática em apreço.

Nessa linha de pensamento, é oportuno ressaltar Behruzi et al (2010), quando defendem a presença do companheiro como fator condicionante para um parto humanizado. Esses autores ressaltam que alguns pais/companheiros, embora tenham participado de cursos preparatórios durante o pré-natal de sua companheira, ainda assim, encontram barreiras dificultando sua entrada na instituição hospitalar durante o processo de parturição. As mesmas autoras dão relevo a preocupação de profissionais quanto à presença do companheiro durante o parto, muitos alegam que seria um caos, permitir a todos os pais presenciar esse momento, mesmo reconhecendo os benefícios para a parturiente advindos da presença do seu companheiro.

Por outro lado, é concebido que mesmo diante dos benefícios para a parturiente, o companheiro pode não querer compartilhar esse momento com a mulher, contrariando assim, o preconizado pelos órgãos governamentais, quando se referem ao homem como acompanhante na sala de parto. Tal fato, pode trazer transtornos conjugais frente ao desejo e necessidade da parturiente de ter ao seu lado o cônjuge. Mediante esse entendimento, faz-se necessário apreender percepções do homem/companheiro sobre sua presença no momento do parto. Pois, admite-se que ao incentivá-lo a vivenciar essa fase, o profissional, sobretudo, o enfermeiro, deve estar atento a acepção que o homem tem sobre sua presença durante o nascimento do filho.

Baseando-se no exposto, pressupõe-se que o homem/companheiro considera importante estar presente à sala de parto e compartilhar com a mulher a chegada do filho. Contudo, receia vivenciar essa ocasião sob justificativas de ordem diversas, por exemplo: medo, não gostar de ambiente hospitalar, não desejar ver sangue e devido ao horário de trabalho. Entretanto, acredita-se que as causas apontadas mantem relação com o sentimento de significância que o homem atribui a sua presença no momento do parto.

Sob essa ótica, questiona-se: qual a percepção do homem/companheiro acerca de sua presença no momento do parto e nascimento de seu filho?

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preferentemente os homens, para que estes se sintam responsáveis por apoiar a mulher nesta fase de sua vida, considerando a gravidez e o parto eventos sociais que agregam a vivência reprodutiva de homens e mulheres. Trata-se de um processo singular, uma experiência especial para a mulher, seu parceiro, seus familiares e a comunidade. (BRASIL, 2001).

A relevância social da pesquisa é concebida a partir do momento em que os resultados, oportunizam aos profissionais de saúde, melhor entendimento do direito da parturiente a ter um acompanhante durante o processo parturitivo. Além do mais, poderá subsidiar reflexão sobre a humanização da assistência à mulher, em cada estágio do trabalho de parto, parto e puerpério imediato.

A pesquisa em realce, ainda oferece subsídio para os enfermeiros planejar suas práticas de modo a favorecer a presença de homens/companheiros em sala de parto. Assim sendo, será estabelecida uma relação terapêutica com a parturiente e seu companheiro, de modo que a comunicação e a escuta ativa constituam eixos para o conhecimento de suas queixas e anseios. Nesse sentido, a atenção à parturiente será respaldada pelos princípios da humanização do parto e nascimento, na integralidade e demais princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso favorecerá uma relação de empatia e preocupação com a parturiente e seu companheiro.

Acredita-se que os resultados referentes à investigação em apreço venham desvelar outras temáticas de interesse ao campo da enfermagem, sobretudo, a obstétrica na perspectiva da humanização da assistência ao casal grávido.

No que diz respeito ao homem/companheiro, o estudo serve de incentivo para sua participação efetiva não apenas durante o parto e nascimento, mas, sobretudo no ciclo gravídico puerperal.

Buscando responder a questão pesquisada foi traçado o seguinte objetivo:

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Neste item, dar-se ênfase aos aspectos envolventes na assistência a mulher no processo parturitivo, bem como a humanização do pré-natal e nascimento.

2.1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ASSISTÊNCIA À MULHER NO PARTO

Reportando-se ao longo da história o processo de parto fisiológico é considerado um evento natural, mobilizador e marcante na vida da mulher e de sua família. (BRASIL, 2003; GUALBA, 1998). Também pode ser definido como aquele sem intercorrência obstétrica e neonatal, com baixo risco no início do trabalho de parto, permanecendo assim, durante todo o processo, até a expulsão da criança da cavidade uterina. Esse nascimento acontece espontaneamente, em apresentação cefálica, de vértice, entre 37 e 42 semanas de idade gestacional. Desta forma, após o parto, mãe e concepto estarão em boas condições vitais. (OMS, 1996).

Nesse entendimento, salienta-se que ao longo dos anos, o parto vem sendo considerado como fenômeno relevante, porém, no período pré-histórico era tido como solitário. Entretanto, há controvérsia a respeito dessa declaração, quando em achados históricos relata-se acerca da presença do homem no parto, a fim de apoiar a mulher durante o evento do nascimento. (CECAGNO; ALMEIDA, 2004).

Sobre esse assunto, Resende Filho (2005), expressa que a presença masculina no parto dava-se através do costume de povos primitivos chamados Couvade. Nessa cultura o homem representava um ser ativo no momento do nascimento, e as atividades que ficavam sob sua incumbência eram: fazer compressão no abdome da parturiente, a fim de facilitar a expulsão fetal, seccionar o cordão umbilical, além de acolher a criança em seus braços. O cuidado prestado pelo homem à mulher tinha a finalidade de proteger e ajudar sua companheira e o filho.

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A experiência das parteiras com o processo de parturição e a disponibilidade a assistir a mulher nesse momento, era de fundamental importância, embora não dispusessem de conhecimentos científicos para tanto. O parto acontecia no contexto domiciliar, a mulher tinha o acompanhamento de seu companheiro que, embora não estivesse presente no quarto onde ocorria o nascimento, estava sempre por perto para apoia-la, após o parto, achegando-se da mulher e do filho. (CARVALHO, 2005).

As parteiras ou comadres conheciam empiricamente o processo de nascimento e ajudavam as mulheres a parirem. Assim, a ocorrência do parto no contexto domiciliar oferecia à mulher o privilégio de ter familiares por perto em um momento ímpar de sua vida. (CARVALHO et al, 2009). Entretanto, com o surgimento da obstetrícia esse cenário mudou, ocorrendo à introdução do homem/médico durante o parto. Isto se deu em virtude da criação do parto fórceps obstétrico pelo médico Peter Chamberlen. É oportuno lembrar que concomitante a instituição da presença do médico, no processo de parturição, acontecia a expansão das parteiras tradicionais, a fim de promover maior conforto à mulher nesse momento de sua vida. (REZENDE FILHO, 2005).

A partir da década de 1940, ocorreu a institucionalização do parto, objetivando reduzir os índices de mortalidade materna e infantil. Com isso, o nascimento deixava de ser um fenômeno natural em virtude da introdução de medicamentos para induzir o parto e diminuir o tempo de ocorrência desse fenômeno. (BRUGGEMANN; PARPINELLI; OSIS, 2005).

Continuando nessa abordagem, em 1960, instalou-se no Brasil um modelo de assistência à mulher no momento da parturição, cuja característica principal foi a medicalização e uso abusivo de práticas invasivas. Esse modelo, apregoava o intervencionismo e a cura. Dessa forma, o parto foi transferido da casa da mulher para um ambiente hostil, o hospital, fazendo com que a parturiente e o feto perdessem o papel de protagonistas nesse processo e assumissem a função de agentes passivos. (MAMEDE; MAMEDE; DOTTO, 2007). Conforme o Ministério da Saúde o parto é visto como um fenômeno não mais individual e subjetivo da mulher, mas um momento no qual o médico decide o que é mais prático e adequado para aquela ocasião. (BRASIL, 2005a).

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institucionalização, percebe-se que o homem/companheiro e demais familiares ainda estão afastados desse fenômeno (BRASIL, 2001).

No final do século XIX, ascende na sociedade vigente o modelo tecnicista adotado na assistência obstétrica, cuja representação principal é o aumento de cesarianas. Nesse momento histórico as taxas de mortalidade materna, já haviam caído consideravelmente, em virtude da descoberta de medidas de antissepsia, anestesia e de melhorias nas técnicas de sutura, representando importante conquista da obstetrícia moderna, pois contribuiu para a redução de mortes maternas e perinatal (DIAS, 2008).

Com vista à melhoria da assistência a mulher no processo parturitivo, em 1985 a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) reuniram-se e, a partir de então, foi elaborada uma série de recomendações tendo como base evidências científicas que dizem respeito à assistência ao parto normal. Na perspectiva de efetivar o recomendado, a OMS publicou um guia para a assistência, estabelecendo algumas prioridades a serem seguidas por aqueles que acolhem a parturiente. Nesse documento, prioriza-se o cuidado humanizado ao parto, com o mínimo de intervenções possíveis, como também, postula a presença do companheiro ou alguém de escolha da mulher para ficar ao seu lado durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. (OMS, 1996).

As indicações da OMS (1996) embasam a prática profissional humanizada. Dessa forma, salienta-se aqui, algumas recomendações contidas no guia Maternidade Segura:

 condutas consideradas úteis e que devem ser praticadas pelos profissionais de saúde - plano individualizado à mulher, elaborado em conjunto com a mesma e comunicado ao seu parceiro e à sua família, avaliação sobre o risco gestacional, ofertar líquidos à mulher durante o trabalho de parto, respeito a privacidade e individualidade da parturiente e respeito à escolha da gestante quanto ao seu acompanhante;

 condutas prejudiciais ou ineficazes que devem ser eliminadas - uso de enema e tricotomia, uso das posições decúbito dorsal e litotomia e administração de ocitocina;  condutas sem evidência científica que deveriam ser usadas com precaução até que pesquisas comprovem o seu benefício para a mulher e o concepto -amniotomia precoce, no primeiro estágio do trabalho de parto, pressão no fundo uterino no estágio expulsivo e clampeamento precoce do cordão umbilical;

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correção da dinâmica uterina com a utilização de ocitocina e exploração manual do útero no pós parto imediato.

Mediado por essas recomendações surge um novo paradigma baseado em novas relações entre profissionais e usuários. Soma-se a isso a necessidade de possibilitar à mulher e ao seu acompanhante o direito a informação, e de decidir sobre as ações de saúde que lhes serão direcionadas. Destarte então, a decisão sobre a assistência e procedimentos a serem adotados deve ser compartilhados entre os envolvidos. Para tanto, faz-se necessário os profissionais assumirem uma postura favorável ao resgate da humanização do parto e o modelo tecnocrático de assistência seja superado. (DINIZ, 2001).

Considerando a relevância da humanização do parto, em 7 de abril de 2005, foi sancionada no Brasil a Lei Nº 11.108, que trata do direito da mulher em ter um acompanhante de sua escolha durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). (BRASIL, 2005b). Nesse sentido, o suporte do companheiro ou de alguém de escolha da parturiente é reconhecido pela OMS como uma evidência que reduz a dor do parto. Assim sendo, constitui-se um método não farmacológico essencial ao bem estar da mulher no processo da parturição. (OMS, 1996).

De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005a) e OMS (1996) a presença do pai no nascimento da criança traz contribuições relevantes para o processo de parturição, assim como, revela questões relacionadas ao exercício dos direitos reprodutivos tanto de homens quanto de mulheres. Além disso, envolve mudança de concepções de gênero, pois a introdução do homem na sala de parto evidencia desafio e possibilidade de construção de uma assistência qualificada durante o nascimento, requerendo reflexão sobre uma perspectiva respeitosa à vida humana. (CARVALHO, 2003).

2.2 HUMANIZAÇÃO E INTEGRALIDADE NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA MULHER

Nas primeiras décadas do século XX, as políticas nacionais de saúde pública direcionadas à população feminina eram restritas à visão biológica, à gravidez e ao parto. Demandas advindas do desenvolvimento populacional, apontavam mudanças significativas no cenário da assistência à saúde da mulher, melhores condições de trabalho, lazer e vida social ativa. (BRASIL, 2009).

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de saúde. A mulher foi contemplada por tal programa que restringia-se ao ciclo gravídico puerperal, além de dedicar-se a área de planejamento familiar. Porém, as atividades para esse fim resumiam-se em aconselhamento e orientação quanto ao tempo de uma gestação para outra. Após alguns anos, em 1978, o programa supracitado lança o Manual de Normas de Identificação e Controle do Risco Obstétrico e de Infertilidade, o que marcou a efetiva implantação do planejamento familiar no país, embora limitado a grupos de risco. (COSTA, 19--?).

No início dos anos 1980, o movimento de mulheres organizava-se no Brasil e reivindicava assistência à saúde integral, contemplando da infância à velhice e não mais enfocando, apenas o período reprodutivo. Requeria-se acesso à informação, aos meios contraceptivos, ao conhecimento do seu próprio corpo, além de tratamento para infertilidade. (COSTA, 19--?). Nesse contexto, em 1983, surgiu o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), criado pelo Ministério da Saúde representando, sobretudo, o marco legal de uma nova e diferenciada abordagem à saúde da mulher, ou seja, atenção voltada para a integralidade e equidade. (BRASIL, 1984).

O PAISM, prioriza ações básicas de assistência integral em todos os níveis de atenção, dentre as quais destacam-se: o planejamento familiar, assistência pré-natal, prevenção do câncer de colo do útero e de mama, doenças sexualmente transmissíveis, parto e puerpério. Este programa representa, sobremaneira, a contrapartida do estado brasileiro ao déficit de ações voltadas para a saúde da mulher. (BRASIL, 1984).

O PAISM fez cessar a abordagem demográfica e controlista sobre a saúde feminina. Além disso, tornou-se a alavanca precursora na ruptura da concepção materno-infantil, outrora existente. Propala um novo conceito de atenção à saúde integral da mulher. Nesse modelo, a mulher é percebida não mais como objeto reprodutivo, mas como sujeito ativo no cuidado de sua saúde, nos diferentes ciclos da vida. Por conseguinte, a reprodução humana é entendida como um direito da mulher e não um dever. O programa em questão também representa um avanço no âmbito da saúde, pois até então a saúde da mulher era vista apenas sobre o ângulo da reprodução humana, deixando despercebido que há um corpo que não pode ser fragmentado e todo um contexto que é meio/instrumento do seu processo saúde-doença. (BRASIL, 1984; BRASIL, 2005b; NEGRÃO, 2008).

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respaldado pelos eixos da atenção integral, promoção, proteção e recuperação da saúde. (BRASIL, 2004).

Ainda ressalta-se que o PAISM foi criado na efervescência do Movimento Sanitário Brasileiro (MSB), e tem como princípio basilar a integralidade da atenção, o qual constitui-se base desse programa. Evidencia-se na proposta do PAISM que, pela primeira vez, o Estado brasileiro oficializou a preocupação com o controle da natalidade e incluiu o planejamento familiar entre suas diretrizes gerais. Tais diretrizes previam a capacitação de profissionais para atender as demandas de saúde da população feminina, exigindo-se da equipe de trabalho a compreensão do conceito de integralidade da assistência.

O programa dedicava dois itens ao planejamento familiar, ambos requeriam que a equidade e a integralidade da atenção estivessem indissociáveis. O primeiro referia-se à equidade do acesso a informações no tocante à saúde reprodutiva, enquanto o segundo evidenciava ações relacionadas ao planejamento familiar, porém não resolveria os problemas sociais e econômicos do país (BRASIL, 1984).

Concomitante aos direitos da mulher, o PAISM representa a instituição de um atendimento digno, de qualidade e respaldado no princípio da integralidade da atenção que, mais tarde, viera a ser incorporado aos princípios basilares do SUS. Esse programa destaca, em parte, as aspirações da Reforma Sanitária Brasileira, bem como o ideário da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986. Desta feita, sua implantação representou grande avanço no que concerne à atenção à saúde reprodutiva no Brasil. (BRASIL, 2009).

A implantação do referido Programa demandou a adoção de um novo paradigma de atenção por parte dos trabalhadores da saúde, exigindo uma postura focada na integralidade da atenção, nas necessidades dos sujeitos e na sua subjetividade. A atenção à saúde da mulher vinha sendo respaldada na fragmentação dos sujeitos, impossibilitando um olhar para o todo, ou seja, o sujeito, o processo saúde/doença que o envolve e o meio social que conduz a sua vida. Esse programa passou a conceber a mulher enquanto ser que está envolvida por um contexto determinante do seu processo saúde/doença. Assim, ele foi pioneiro, não apenas no Brasil, mas no cenário mundial, a propor o atendimento integral à saúde reprodutiva das mulheres, em detrimento de ações isoladas em planejamento familiar. (BRASIL, 1984).

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Visto isso, no ano 2000, o Ministério da Saúde lançou o Programa de Humanização do Parto e Nascimento (PHPN), por meio das Portarias GM/MS nº 569, 570, 571 e 572, tendo como fio condutor o modelo de assistência embasado na humanização do pré-natal, parto e nascimento. O PHPN tem como objetivo melhorar o acesso, a cobertura e a qualidade da atenção pré-natal, assistência ao parto, puerpério e ao recém-nascido, na perspectiva dos direitos humanos e cidadania. (BRASIL, 2002; BRASIL, 2010). Estabelece ainda, que estados, municípios e serviços de saúde cumpram seu papel, propiciando a mulher o direito de dar à luz e receber uma assistência humanizada, de qualidade e respaldada nos princípios do SUS. (BRASIL, 2002).

Nesse contexto, o Ministério da Saúde conceitua atenção humanizada como um fenômeno amplo e complexo que envolve saberes, práticas e atitudes que visem à promoção do parto e nascimento seguro e saudável, bem como, a prevenção da morbidade e mortalidade materna e perinatal. Esse conjunto articulado de ações deve iniciar no pré-natal e garantir que a equipe de saúde tenha discernimento para realizar procedimentos benéficos à mulher e ao feto, evitando assim, intervenções desnecessárias. Além disso, a garantia da privacidade e da autonomia da mulher deve ser considerada. (BRASIL, 2010).

Preconiza-se que a humanização da atenção ao parto e nascimento seja norteada pelos seguintes princípios e diretrizes (BRASIL, 2001; BRASIL, 2006):

 resgate dos processos de gestação, do parto, do puerpério e do nascimento como experiências humanas naturais e significativas, estimulando o envolvimento do homem/parceiro, família e comunidade;

 a mulher e sua família devem ser vistas pelos profissionais de saúde como centros da atenção para as ações que envolvem o ciclo gravídico puerperal;

 o respeito à autonomia, a privacidade e à fisiologia da gestação, parto, nascimento e puerpério.

Visto isso, cabe aos profissionais, no âmbito do SUS e do sistema privado de saúde atuar de forma que consolidem práticas e garantam atenção humanizada para as mulheres e familiares. Nessa perspectiva, dentre alguns aspectos contidos na portaria GM/MS nº 569/2000, ressaltam-se a organização, a regulação e a disponibilidade de investimentos para a assistência obstétrica e neonatal, de forma a promover o desenvolvimento de condições favoráveis à humanização do parto e nascimento. (BRASIL, 2009).

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É impreterível ressaltar o conteúdo estabelecido pela portaria 569/2000/GM ao estabelecer os seguintes direitos da gestante e recém-nascido:

toda gestante tem direito ao acesso a atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério; toda gestante tem direito de saber e ter assegurado o acesso à maternidade em que será atendida no momento do parto; toda gestante tem direito à assistência ao parto e ao puerpério e que esta seja realizada de forma humanizada e segura, de acordo com os princípios gerais e condições estabelecidas na prática médica; todo recém-nascido tem direito à assistência neonatal de forma humanizada e segura. (BRASIL, 2002, p. 6).

A implantação do PHPN teve como princípio norteador a diminuição da morbidade e mortalidade materna, utilizando, para isso, a humanização da assistência à mulher na vigência do ciclo gravídico-puerperal. Conforme preconiza o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005a), o pré-natal deve iniciar tão logo seja diagnosticada a gravidez, com o objetivo de fortalecer a adesão da mulher a essa assistência e, consequentemente, prevenir os fatores de risco gestacional.

Ainda, segundo o Ministério da Saúde, o número de consultas no pré-natal deve ser igual ou superior a seis, visto que preconiza-se uma atenção de qualidade e humanizada a mulher, cuja abordagem garanta a integralidade das ações durante o pré-natal, parto e puerpério. Recomenda-se também, o monitoramento da atenção pré-natal e puerperal por meio do Sistema de Informação sobre o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (SISPRENATAL), disponibilizado pelo DATASUS. Esse programa tornou-se obrigatório nas unidades de saúde com o objetivo de avaliar a atenção a partir da assistência prestada a cada gestante. (BRASIL, 2005a).

A humanização do pré-natal, parto e nascimento possui caráter complexo e processual, assim, cabe à equipe de saúde acolher a mulher de forma digna, levando-a, ao patamar de agente ativa no processo parturitivo. Entretanto, o Ministério da Saúde faz a seguinte advertência: para a assistência humanizada concretizar-se é preciso reestruturar as unidades de saúde com equipamentos necessários à assistência ao parto, incentivar a presença de um acompanhante, devidamente preparado, além de mudanças de atitudes dos profissionais de saúde e das gestantes. (BRASIL, 2002).

Sobre esse assunto, Lima e Siebra (2006, p. 82) salientam que

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Para que haja verdadeiramente humanização na assistência ao parto torna-se necessário superar a adoção de técnicas tradicionais, bem como normas e rotinas enraizadas nas práticas de alguns trabalhadores de saúde. Reconhecer as necessidades dos sujeitos, sua subjetividade e individualidade são gestos que primam pela humanização da assistência. É imprescindível os profissionais estabelecerem vínculo com a parturiente e, com isso, perceber suas necessidades e sua capacidade de lidar com o processo do nascimento (BRASIL, 2001).

O Ministério da Saúde ao denotar a real situação que envolve a saúde da mulher, instituiu no ano de 2003 a Política Nacional de Humanização a qual agrupa princípios e diretrizes, como o acolhimento, a ambiência e a escuta ativa. Fundamentada nesses preceitos, em 2004, foi criada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), voltada para a população feminina nos diversos ciclos de vida. Assim, essa política visa abranger diferentes grupos sociais, incorporando aspectos que diz respeito a gênero, raça e etnia, excedendo os limites da saúde reprodutiva. Dentre as estratégias da PNAISM a atenção obstétrica e neonatal é prevista como qualificada e humanizada, devendo incluir a assistência ao abortamento, de modo a evitar que a mulher seja submetida a condições inseguras de saúde, além de garantir assistência às adolescentes. (BRASIL, 2004).

Em 2005, o Ministério da Saúde, por meio da portaria nº 1067, implantou a Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal, esta constituiu um marco na atenção à saúde direcionada à mulher, tendo por objetivo o desenvolvimento e ampliação de ações voltadas para a promoção, prevenção e assistência à saúde de gestantes e recém-nascidos. Além disso, visa garantir o acesso das gestantes a essas ações, bem como a melhoria da qualidade da assistência obstétrica e neonatal, promovendo a organização e regulação no contexto do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2005c).

Nesse direcionamento, em 2011, o Ministério da Saúde com a Portaria 1.459 criou a Rede Cegonha no âmbito do SUS. Trata-se de uma rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e atenção humanizada durante o ciclo gravídico puerperal. A portaria dispõe também sobre a garantia à criança do direito ao nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis. Dessa forma, o programa tem como objetivo central a assistência à mulher e à criança em todos os níveis de atenção constituídos no SUS. (BRASIL, 2011).

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avaliando e prestando conta dos resultados clínicos e econômicos alcançados, bem como, das mudanças ocorridas no estado de saúde do grupo populacional que recebeu cuidados sob a dinâmica da rede. (OPAS, 2011).

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Compreende-se que a metodologia é o caminho do pensamento e da prática exercida na abordagem dos fenômenos. Também pode ser entendida como o conjunto de técnicas que permite a construção da realidade, bem como a criatividade do investigador. (MINAYO, 2008).

3.1 TIPO DE ESTUDO

Com o intuito de compreender a percepção de homens acerca de sua presença em sala de parto durante o processo de parturição, a pesquisa em apreço constitui-se como exploratória, descritiva e de natureza qualitativa.

Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007) a pesquisa exploratória não requer a elaboração de hipóteses, restringe-se na definição de objetivos e busca informações que contemplem o objeto de estudo. Assim, a pesquisa exploratória, objetiva familiarizar-se com o fenômeno, a fim de obter novas percepções e, ao mesmo tempo, descobrir novos conceitos.

Enquanto isso, a pesquisa descritiva presta-se a observar, registrar, analisar e correlacionar fatos e/ou fenômenos sem manipulá-los. Esse tipo de investigação busca conhecer a precisão e a frequência com que um fenômeno ocorre, bem como a sua relação com outros, sua natureza e características afins. “Os estudos descritivos, assim como os exploratórios, favorecem, na pesquisa mais ampla e completa, as tarefas da formulação clara do problema e da hipótese como tentativa de solução [...]”. (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007, p. 62).

De acordo com Minayo (2008), a pesquisa qualitativa responde a perguntas que não podem ser expressas em números, pois objetiva descrever significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes de cada indivíduo. Nesse plano, a escolha pela pesquisa qualitativa baseia-se em possibilidades de compreender valores culturais e representações de determinados grupos sociais sobre um tema específico.

3.2 LOCAL DO ESTUDO

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atende gestantes e crianças da região supracitada e adjacências, prestando atendimento às mulheres provenientes de algumas cidades do estado da Paraíba. O seu rol de recursos humanos compõe-se: de enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos ginecologistas, obstetras, pediatras, fisioterapeutas, farmacêuticos, nutricionistas, fonoaudióloga, entre outras especialidades. Vale ressaltar que os diversos profissionais atuantes na copa, limpeza, recepção e serviços gerais são contratados por uma empresa terceirizada especializada nesses serviços.

Dentre os serviços prestados pelo HUAB destacam-se aqueles de atenção à saúde da mulher e da criança, tais como:

ambulatório - pré-natal, ginecologia, atendimento pediátrico, puericultura, prevenção

do câncer ginecológico, nutrição, clínica geral e assistência odontológica;

enfermarias - pediatria, obstétrica, ginecologia (clínica e cirúrgica), clínica médica

feminina;

urgências obstétricas.

A escolha pela unidade hospitalar para ser lócus da pesquisa deveu-se ao fato da mesma desenvolver o Programa de Humanização do Parto e Nascimento. Assim sendo, ao homem/companheiro é permitido estar junto à mulher durante o trabalho de parto e parto. Dessa forma, a unidade de saúde em apreço, ofereceu condições necessárias à coleta de informações, as quais foram indispensáveis à realização do presente estudo.

É relevante enfatizar que o HUAB recebe acadêmicos de enfermagem, medicina, farmácia e odontologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, permitindo a estes um estágio prático e colaborativo, respaldado sob o prisma da humanização e qualidade da assistência prestada à comunidade. Essa instituição, por destacar-se no estado do Rio Grande do Norte, na assistência obstétrica, conquistou no ano 2000 o Prêmio Galba de Araújo.

Vale salientar que, o Prêmio Galba de Araújo, foi instituído pelo Ministério da Saúde em 1998 e, representa uma das medidas importantes para instigar mudanças nas práticas obstétricas no âmbito do SUS. Dessa forma, leva-se em conta os esforços e as ações realizadas pelas instituições de saúde voltadas para a humanização do parto e nascimento. (BRASIL, 1998).

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obstétricas recomendadas pela OMS, entre as quais, o incentivo a participação do homem/companheiro no contexto do parto e nascimento.

Dentre as condutas adotadas pelos trabalhadores do HUAB para incentivar o companheiro a estar junto à mulher no processo parturitivo e nascimento, ganham destaque: a visita do casal ao centro obstétrico ainda durante a gestação e acolhimento e valorização, por parte dos profissionais, no tocante à presença do companheiro durante o parto.

3.3 PARTICIPANTES DA PESQUISA

Participaram da pesquisa 12 homens/companheiros que estiveram presentes em sala de parto e acompanharam o nascimento do filho. A inclusão destes no estudo obedeceu a critérios específicos: homens acima de 18 anos de idade, acompanhante da mulher no parto normal e que apresentaram condições favoráveis à compreensão da questão norteadora. Dessa forma, aqueles que estavam com idade inferior a 18 anos, não assistiram ao parto da companheira e não apresentaram condições para responder ao questionamento foram excluídos do estudo.

O número de participantes foi estabelecido pelo critério de saturação dos dados, o qual se refere à constatação de que os depoimentos não trazem novas informações. (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).

3.4 COLETA DE DADOS

Na pesquisa delineada, a técnica adotada na coleta de dados consistiu em entrevista semiestruturada, mediante um roteiro contendo questões sócio-demográficas com a finalidade de caracterizar a população estudada e também a questão norteadora da pesquisa: como o Sr. ver a presença do homem/companheiro na sala de parto no momento do nascimento de seu filho? Ressalta-se aqui, as entrevistas duraram em média 40 minutos, sendo estas gravadas em aparelho MP4 com aquiescência do entrevistado.

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mais amplamente as questões de pesquisa, desde que se tenha abertura para tal. Já o painel, consiste em repetir perguntas aos mesmos entrevistados, objetivando comparar a evolução das respostas.

Anteriormente à fase de coletar os dados, obteve-se autorização da diretora do HUAB (ANEXO 1), parecer positivo do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (ANEXO 2) e anuência do entrevistado, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE 3).

Informa-se que os princípios éticos envolvidos em pesquisas com seres humanos foram respeitados, quais sejam: a autonomia dos sujeitos da pesquisa, a beneficência, a não maleficência e a garantia da justiça e da equidade social em conformidade com a Resolução 196/96. (BRASIL, 1996). Como forma de preservar o anonimato dos participantes foram atribuídos nomes fictícios a eles.

A aproximação entre pesquisadora e entrevistado ocorreu após o parto, quando a companheira era transferida para a unidade de puerpério. Nessa ocasião o homem já tinha vivenciado o nascimento do filho, logo, era convidado a participar do estudo mediante explicações quanto ao objetivo e importância de sua participação no mesmo. De acordo com a positividade da resposta, a entrevista efetivou-se em uma sala reservada, tranquila sem interferência de outrem. Desse modo, o entrevistado sentiu-se à vontade para responder aos questionamentos. Salienta-se que os homens contatados mostraram interesse e não houve nenhuma recusa em participarem da investigação.

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS

Os depoimentos foram tratados em consonância com os preceitos da análise de conteúdo de acordo com a técnica de análise categorial. Essa análise busca descobrir os núcleos de sentido que estão contidos na comunicação e sua frequência de aparição representa partes de maior significado para o objeto que se pretende analisar. (BARDIN, 2011).

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enumeração, permitindo a representação do conteúdo dos depoimentos em determinado contexto.

Uma vez codificados, os dados foram dispostos, originando três categorias temáticas e seis subcategorias. Vale destacar que no presente estudo a categorização foi realizada respeitando a semântica das unidades identificadas.

3.6 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados obtidos dos depoimentos foram analisados com base nos princípios do interacionismo simbólico, proposto por Blumer (1969). Essa teoria tem suas raízes no Século XIX, com George Herbert Mead, Charles Horton Cooley e W. I. Thomas, todavia, foi em 1937, que Herbert Blumer deu cunho ao termo intercionismo simbólico. (HAGUETTE, 2007).

Os precursores do interacionismo simbólico compartilham alguns pontos em comum: a sociedade como processo, o indivíduo e sociedade estabelecem interação promovendo influência um sobre o outro, auferindo destaque a valorização da subjetividade humana como parte indispensável à formação do self social, bem como de seu grupo na sociedade. Nessa discussão, a sociedade é entendida a partir de aspectos cooperativos que indivíduos criam diante de relações com o outro. Visto isso, é através das relações estabelecidas entre humanos que cada sujeito passa a perceber a intencionalidade de outrem e com isso, constrói respostas embasadas em gestos simbólicos e passíveis de interpretações. (HAGUETTE, 2007).

Segundo Blumer, o interacionismo simbólico fundamenta-se em conceitos basilares. O primeiro diz respeito à natureza do ser humano, que é agente da ação. O segundo revela que a natureza da ação humana é consequência de um processo de interpretação. E o terceiro apresenta a identificação da atividade humana como centro regulador da vida social. (BLUMER, 1980).

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De acordo com Blumer (1969), o interacionismo simbólico apoia-se na compreensão das interações humanas, assim, tenta entender como os humanos interagem e interpretam a realidade.

Com base nessa linha de pensamento vale destacar alguns conceitos relevantes para a compreensão do interacionismo simbólico, segundo Blumer (1969):

o símbolo é o conceito central da teoria interacionista. Símbolos são uma classe de objetos sociais, usados para pensar, comunicar e representar, sem eles não ocorre interação entre os sujeitos, são atribuídos a uma realidade vivenciada. Ressalta-se que o ato de comunicar só é simbólico quando possui significação e intencionalidade. Os símbolos são desenvolvidos através das interações estabelecidas socialmente;

a self é um objeto que se origina na sociedade porque é definido mediante o processo de interação com os outros. Além disso, se define como objeto porque tem relação com aquele que interage. Segundo Mead interpretado por Haguette (2007) o self diz respeito à interação do sujeito com o grupo social, bem como com ele próprio. O self envolve duas fases analíticas: o eu e o mim. O “eu” é o aspecto impulsivo, desorganizado e não socializado da experiência humana. O “mim” é a representação

do outro aliado ao indivíduo. Desta forma, representa o consciente organizado do humano, é o outro generalizado. O “mim” se funda da percepção dos outros acerca do indivíduo;

a mente representa a interação simbólica com o self a partir do momento em que as interações humanas geram significados. O cérebro é necessário à mente, porém, ele sozinho não constrói a mente. As interações que ocorrem no cerne da sociedade são fundamentais a formação da mente. A mente é social quando se manifesta a partir do instante em que o sujeito interage consigo mesmo por meio de símbolos, bem como, surge da comunicação que o sujeito estabelece com os outros;

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enfim, a sociedade, é um processo dinâmico, originada através de consenso, compreensões e, sobretudo, de sentidos compartilhados por meio das interações estabelecidas. Assim sendo, o humano pode num processo de interação ser objeto de suas próprias ações. Desta forma, a sociedade é o lócus onde o self se funde e desenvolve suas potencialidades.

Dupas, Oliveira e Costa (1997) salientam que quando os indivíduos agem coletivamente constroem uma sociedade. As autoras ainda evidenciam que através da interação estabelecida com outros sujeitos é possível apreender o significado que o ser humano confere a sua própria experiência. Para Brito e Enders (2011) a interação com o outro acontece através de símbolos, ou seja, os sujeitos ao interagirem transmitem intenções para o outro usando os gestos, e ao atingir um senso comum, um elemento linguístico se transforma em símbolo. Os gestos para serem símbolos precisam ter significados para ambos os envolvidos no processo interativo.

Dessa forma, os depoimentos dos participantes deste estudo tiveram seu conteúdo expresso e interpretado e por fim analisados à luz do interacionismo simbólico proposto por Blumer.

3.7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA

A apresentação de dados sociodemográficos e reprodutivos dos depoentes objetiva informar os leitores sobre aspectos característicos, porém sucintos dos atores sociais da investigação.

A pesquisa contou com a participação de 12 homens que estiveram presentes à sala de parto durante o nascimento do filho, com idade entre 22 e 45 anos de idade, predominando a faixa etária de 22 e 29. Nesse sentido, os entrevistados encontravam-se na fase adulta, levando a crer que estes têm maior responsabilidade com os aspectos inerentes à reprodução e atividades trabalhistas. No que diz respeito ao número de filhos, 5 entrevistados afirmaram ser pai pela primeira vez, os demais estavam assumindo a paternidade pela segunda vez.

No que concerne à renda familiar, ganhou destaque aqueles que recebiam de ½ a 1 ½ salário mínimo. Ressaltando que o valor do mesmo era de 545,00 reais. Os demais entrevistados relataram que a sua renda era até 3 salários mínimos. Logo, evidenciou-se que os participantes detinham uma renda baixa, característica da região onde foi realizada a pesquisa, visto que parte da população vive de trabalho informal, especificamente da agricultura familiar.

A profissão de agricultor sobressaiu-se entre os depoentes, porém outras foram citadas, entre elas servente hospitalar, eletricista, técnico em agropecuária, balconista de farmácia, agente de segurança penitenciária, servente de pedreiro e mecânico geral. Também abordou-se o nível de escolaridade, merecendo realce o ensino fundamental completo, e uma parcela mínima possuía nível médio.

Os homens pesquisados também estão apresentados aqui de acordo com o seu estado civil. Nesse sentido, eles afirmaram conviver em união estável, sendo alguns casados. Quando indagados sobre a experiência de já ter acompanhado o parto e nascimento de um filho, apenas 2 responderam positivamente. Dessa forma, 10 participantes estavam vivenciando o nascimento do filho pela primeira vez.

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4.2 AS CATEGORIAS TEMÁTICAS E SUBCATEGORIAS

QUADRO 1 – Categorias temáticas e subcategorias. Natal/RN, 2011.

CATEGORIAS TEMÁTICAS SUBCATEGORIAS

Importância da presença do homem na sala de parto

Decisão de acompanhar a mulher em sala de parto

Atitude do homem na sala de parto

Percepção do homem acerca do processo parturitivo

O trabalho de parto como sofrimento

Sentindo-se acolhido na sala de parto Conhecimentos do homem

relativos ao trabalho de parto e nascimento

Sinais de trabalho de parto

Choro do RN como sinal de vida Fonte: Dados da própria pesquisa

4.2.1 Importância da presença do homem na sala de parto

4.2.1.1 Decisão de acompanhar a mulher em sala de parto

Os depoimentos evidenciaram o fato dos participantes optarem por acompanhar a mulher em sala de parto durante o nascimento do filho. Visto essa decisão ter partido deles, admite-se que perceberam a importância da sua presença durante um evento considerado importante para a vida do casal. O fato dos depoentes decidirem por acompanhar a mulher na sala de parto decorre de um processo no qual foi estabelecido interação deles com eles mesmos como pai e companheiro. Essa determinação, em alguns casos, foi incentivada pela companheira, já que desejava estar com o companheiro presente no momento do parto.

Acho extremamente importante devido o apoio psicológico à mulher. A mulher

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a mulher, é de suma importância, tranquiliza mais a mulher. E, eu tenho certeza que

ela se sente 50% mais confortável com a presença do marido. (LUIS)

Minha esposa me incentivou. Eu não pensava muito nessa questão não. Ela já

falava para mim. Aí eu fiquei pensando, pensando, aí aceitei e não me arrependo

não. [...] Pra mim foi uma das melhores decisões que eu tomei em minha vida.

(GABRIEL)

A presença em sala de parto durante o nascimento do filho, faz com que o homem sinta-se pai, permitindo aflorar sua sensibilidade ao ponto de perceber quão importante e reconfortante é a sua presença para a companheira. Dessa forma, concebe-se que dar apoio e estar junto da parturiente nesse momento foi para os entrevistados, envolver-se e responsabilizar-se pelo nascimento. Conforme Ramires (1997), não é concebível que a paternidade seja vista apenas do ponto de vista biológico.

O homem contemporâneo vem buscando construir uma paternidade ativa e isto contribui para fortalecer sua vivência como pai e seu relacionamento com o filho que vai nascer. Acredita-se que essa realidade o motiva a querer assumir um protagonismo cada vez maior diante do fenômeno do parto. (BRANDÃO, 2009). Entretanto, a decisão masculina em estar presente na sala de parto e acompanhar o nascimento do filho foi justificada pelo fato de não haver outro familiar disponível para acompanhar a parturiente. Os depoentes, ainda mencionaram a ansiedade de ver o filho imediatamente ao nascimento.

Eu acompanhei ela na sala de parto [...]. Não tinha outro familiar por perto e só eu

podia ficar aqui no momento do parto, aí foi o jeito eu participar [...]. (MANOEL)

[...] na hora me bate aquela ansiedade de ver logo, aí decidi. Também pensei que

ela gostaria que eu acompanhasse, aí tomei coragem e fui [...]. (JOSÉ)

Analisando as falas à luz do interacionismo simbólico, o companheiro/pai interage com ele próprio, com a esposa e com o filho ainda no ventre materno, o que determina a sua decisão de acompanhar o nascimento. Para Carvalho (2005), isso está vinculado à definição que o homem atribui ao fenômeno do nascimento. Desta feita, ele define situações e passa a agir em conformidade com o contexto no qual está inserido, ou seja, o nascimento do filho.

Eu acho muito importante a presença do homem nesse estágio, não apenas para

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A decisão de acompanhar o parto partiu de mim. Eu tinha vontade de acompanhar

ela. Eu tinha vontade de olhar a menina nascendo, mas é melhor a gente ficar do

lado dela mesmo, pegado na mão, porque é mais positivo pra ela, dá mais uma

força pra ela. [...] A pessoa acompanhando deixa ela muito mais a vontade,

confiante pra ganhar o bebê e ser tudo normal e não correr risco. (JOÃO)

Evidencia-se nos depoimentos que a decisão do homem em acompanhar a esposa durante o trabalho de parto e parto ocorreu mediante a vontade de querer promover conforto e disponibilizar apoio emocional a parceira. Sobre esse assunto, Lindner e Coelho (2006) constataram que quando o homem decide participar do processo parturitivo ele está vitalmente interessado e envolvido com o nascimento. Nesse sentido, traz-se as concepções de Motta e Crepaldi (2005) que ressaltam a participação do homem no nascimento do filho como um direito, cabendo a ele exercê-lo se assim o desejar. Dessa forma, entende-se que essa participação não pode ser forçada e o apoio emocional a parturiente não deve ser visto como uma tarefa obrigatória. No entanto, ele pode ser orientado a participar.

Outro fator que merece destaque, diz respeito à presença dos entrevistados como possibilidade de a mulher não correr risco obstétrico e/ou a reduzir o coeficiente de mortalidade materna.

Evita muitas coisas, evita de morrer, o marido influi muito estando perto da mulher.

[...] Aí a pessoa estando perto, ela fica vendo que você tá ao lado dela, aí corre tudo

bem. (JOÃO)

A fala desse entrevistado envolve aspectos intersubjetivos relevantes, isto é, o cuidado com o outro. Essa maneira de se conceber tem raízes no âmago do depoente. Sob a luz da interação simbólica pode-se denotar a emissão de respostas que supervalorizam a sua presença na sala de parto. Os entrevistados perceberam que durante o parto os riscos são iminentes, levando-os a reconhecer a necessidade de apoiar e passar segurança para a mulher, e assim valorizaram a sua presença no cenário da parturição. Os aspectos elucidados nos depoimentos corroboraram com a concepção de que a vivência do momento do parto é intensa, porém os benefícios advindos da participação do acompanhante nesse processo são incalculáveis. (ALEXANDRE; MARTINS, 2009).

Referências

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