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A evolução do emprego formal industrial nas cidades médias do estado do Ceará (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) no período de 1990 a 2010

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Maria Nivania Feitosa Barbosa

A Evolução do Emprego Formal Industrial nas Cidades Médias

do Estado do Ceará (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) no

período de 1990 a 2010.

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Maria Nivania Feitosa Barbosa

A Evolução do Emprego Formal Industrial nas Cidades Médias

do Estado do Ceará (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) no

período de 1990 a 2010.

Dissertação submetida à

Coordenação do Curso de

Pós-Graduação em Economia da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de mestre.

Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio

Nunes Pereira

Natal, RN

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Barbosa, Maria Nivania Feitosa.

A evolução do emprego formal industrial nas cidades médias do estado do Ceará (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) no período de 1990 a 2010 / Maria Nivania Feitosa Barbosa. - Natal, RN, 2013.

113 f.

Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio.

Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Economia.

1. Economia - Dissertação. 2. Emprego formal - Dissertação. 3. Indústria - Dissertação. 4. Salários - Dissertação. 5. Ceará - Dissertação. I. Eufrásio, William. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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A Deus fonte de minha inspiração, à meu esposo, pelo

apoio incondicional; aos meus pais Oliveira e Graça por

me prepararem para a vida; aos meus irmãos, pelo

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as conquistas alcançadas.

Ao meu esposo Dyme Karter, pelo seu amor, companheirismo, amizade, paciência e confiança. Nós sabemos o quanto foi difícil os anos de mestrado.

Aos meus pais, José Oliveira Barbosa e Maria das Graças Barbosa, meus maiores tesouros – pelo amor, conselhos e confiança.

Ao meu cunhado Dhonison, por todo apoio. É maravilhoso saber que posso contar com você. Muito obrigada por tudo.

Ao meu professor e orientador, Dr. William Eufrásio, pela dedicação, paciência, incentivo, orientação, amizade, carinho, simplicidade. Enfim agradeço por tudo e mais alguma coisa. Não imagino como teria aproveitado esses anos de mestrado sem a sua ajuda.

Ao Grupo de estudos em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade (GEPETIS). Inicialmente, agradeço aos professores doutores William Eufrásio, Marconi Gomes e Denílson Araújo pela oportunidade de trabalharmos juntos em eventos realizados pelo grupo, pelos constantes debates e pela amizade que construímos. Agradeço também pelas palavras incentivadoras de Isabel Caldas, Aline, Carol e Ana Cristina. Agradeço especialmente a Isabel e Aline, juntas descobrimos o verdadeiro significado de uma amizade.

Aos professores doutores Marconi Gomes e Denílson Araujo, agradeço pelas valiosas sugestões e debates que mantive no GEPETIS e na ocasião da qualificação da dissertação.

Não poderia deixar de agradecer ao Grupo de estudos em Desenvolvimento Territorial da Universidade Regional do Cariri–URCA, pelos intensos debates e pelos incentivos dados à reflexão mais profunda, à pesquisa. Agradeço em particular ao Prof. Ms. Lima Júnior, que contribuiu muito para a minha maneira de pensar e por todos os incentivos à realização dos meus objetivos e a eterna busca do conhecimento. Ao Prof. PhD. Micaelson, por dedicar seu tempo à leitura e sugestões para esse trabalho.

Agradeço a todos os professores pelas preciosas contribuições durante o mestrado, em especial aos professores doutores, André Lourenço, André Mattos, Jorge Luiz, João Matos, Maria do Socorro, Maria Lussie, Janaina e Valdênia Apolinário.

Aos meus colegas de mestrado: Daniela, Fátima, Mônica, Jonilson, Káritas, Janaina e em especial a Danilo, Ana e Jessé, pois juntos passamos momentos inesquecíveis de muita luta, persistência e companheirismo.

A secretária do curso de mestrado Veruska, sua dedicação e competência.

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RESUMO

O presente trabalho constitui-se em uma abordagem sobre a evolução do emprego formal industrial nas cidades médias do estado do Ceará no período de 1990 a 2010, posto que esse período foi marcado por importantes mudanças. Ressalta-se que com o propósito de alcançar tal intuito, foi realizado um levantamento da literatura relevante sobre a temática, bem como a utilização de estatísticas da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), publicada pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A questão central a ser considerada neste estudo é saber como evoluiu o emprego formal da indústria nas cidades médias (Juazeiro do Norte, Crato e Sobral) do estado do Ceará. O pressuposto que norteia este trabalho é que as políticas econômicas dos anos de 1990 e 2000 estimularam a relocalização com implicações importantes no emprego industrial formal nessas cidades. No que concerne aos resultados obtidos na pesquisa, constatou-se que o setor industrial dessas cidades, apresentou considerável dinamismo no que refere-se à expansão dos estabelecimentos. Quando se observa em termos percentuais as cidades médias (345,5%) tiveram o maior crescimento do número de estabelecimentos na década de 1990 com taxas mais elevadas que a região Nordeste (285,9%) e o Brasil (167,5%). O destaque foi para a cidade de Juazeiro do Norte, com maior concentração de micro e pequenas empresas calçadistas do estado. No que concerne a quantidade de empregos formais criados nas cidades médias, o mesmo passou de 6.596, em 1990, para 41.660 mil empregos formais em 2010, apresentando uma taxa de crescimento de 532%. O setor que mais contribuiu para geração de emprego foi o calçadista. Ainda, quanto o nível de salarial, a década de 1990 registrou os menores níveis. Nos anos 2000, houve ganhos em todas as cidades. Entretanto, não foi suficiente para evitar que ao final do período estudado as CMs-Ceará apresentassem níveis salariais relativamente baixos.

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The work consists in a discussion of the evolution of formal employment in the industrial cities of Ceará state averages from 1990 to 2010, since this period was marked by important changes. It is emphasized that in order to achieve this aim, the present study was based on a survey of relevant literature on the subject, as well as the use of the Annual Report of Social Information (RAIS), published by the Ministry of Labour and Employment (MTE) and the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). The central question to be considered in this study is how we evolved formal employment industry in medium-sized cities (Juazeiro do Norte, Crato and Sobral) of Ceará? The assumption that guides this work is that given the economic policies of the 1990 and 2000 these policies encouraged the relocation, thus implying significant growth in the formal manufacturing employment in these cities. Regarding the results obtained in the survey, it was found that the industrial sector of these cities, showed considerable dynamism in what refers to the expansion of establishments. When observed in percentage terms medium-sized cities (345.5%) had the highest growth in number of establishments in the 1990s with rates higher than the Northeast region (285.9%) and Brazil (167.5%). The highlight was the city of Juazeiro, with the highest concentration of micro and small footwear companies in the state. Regarding the number of formal jobs created in medium-sized cities, it went from 6.596 in 1990 to 41.660 million formal jobs in 2010, with a growth rate of 532%. The sector contributed most to employment generation was the footwear. Although the levels of minimum wages, the 1990 recorded the lowest levels. In the 2000, there were real gains in levels of minimum wages in all cities, however, it may be noted that over the decades there has been significant momentum. However, this momentum was not enough to prevent the end of the study period CMs-Ceará present low wages.

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Gráfico 1- Taxa de Crescimento do Emprego Formal e da População nas CMs-Ceará 1991 a 2010 ... 93

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Localização das Cidades Médias Cearenses. ... 63

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Características determinantes para localização da indústria brasileira (1995 a 1997) ... 46

Tabela 2-Quantidade de cidades que concederam incentivos à implantação de novas empresas (2001 a 2009)... 47

Tabela 3- População, participação relativa e taxa de urbanização das CMs-Ceará, Ceará e Nordeste (1980 a 2010) ... 60

Tabela 4- Participação Relativa e Taxa de Crescimento do PIB industrial no Ceará e nas cidades médias (1999 a 2009) ... 62

Tabela 5- Número de Estabelecimentos no setor industrial nas grandes regiões do Brasil (1990 a 2010) ... 72

Tabela 6- Estabelecimentos no setor industrial – estados do Nordeste (1990 a 2010) ... 73

Tabela 7- Estabelecimentos no setor industrial – Nordeste (1990 a 2010) ... 74

Tabela 8- Estabelecimentos no setor industrial - Ceará (1990 a 2010) ... 75

Tabela 9- Número de Estabelecimentos nas Atividades Industriais – CMs-Ceará (1990 a 2010) ... 76

Tabela 10- Número de Estabelecimentos no setor industrial – CMs Ceará (1990 – 2010)

... 76

Tabela 11- Participação Relativa do Número de Estabelecimentos de cada segmento Industrial, na indústria de cada CMs-Ceará (1990 a 2010) ... 78

Tabela 12- Número de Estabelecimentos no setor industrial nas CMs-Ceará, no estado do Ceará, na região Nordeste e no Brasil (1990 a 2010) ... 79

Tabela 13- Emprego Formal no setor industrial nas grandes regiões do Brasil (1990 a 2010) ... 81

Tabela 14- Emprego Formal no setor Industrial nos estados do Nordeste (1990 a 2010)

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Tabela 16- Empregos no setor industrial - Ceará (1990 a 2010) ... 85

Tabela 17- Número de Empregos Formais nas Atividades Industriais Econômicas – CMs-Ceará (1990 a 2010) ... 86

Tabela 18- Participação Relativa do Emprego Formal de cada segmento Industrial, na indústria de cada CMs-Ceará (1990 a 2010) ... 88

Tabela 19- Empregos no setor industrial – CM Ceará (1990 – 2010). ... 89

Tabela 20- Emprego Formal no setor industrial nas CMs-Ceará, no estado do Ceará, na região Nordeste e no Brasil (1990 a 2010) ... 91

Tabela 21- Grau de Industrialização nas CMs-Ceará no período de 1990 a 2010. ... 94

Tabela 22- Número de Salários Mínimos* dos trabalhadores formais no Setor Industrial de cada região do Brasil (1990 a 2010) ... 95

Tabela 23- Análise do emprego formal X número de salários mínimos em cada segmento industrial nas cidades médias do Ceará (1990 A 2010) ... 97

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BEC Banco do Estado do Ceará

BNB Banco do Nordeste do Brasil

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CED Centro de Estratégia de Desenvolvimento

CEPAL Comissão Econômica para América Latina e o Caribe

CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

CIC Centro Industrial do Ceará

CIDÃO Companhia Industrial de Algodão e Óleo

CMs Cidades Médias

CNI Confederação Nacional da Indústria

CVRD Companhia do Vale do Rio Doce

FDI Fundo de Desenvolvimento Industrial do Ceará

FHC Fernando Henrique Cardoso

FIEC Federação das Indústrias do Estado do Ceará

FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

HRC Hospital Regional do Cariri

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

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ISS Imposto Sobre Serviços

MTE Ministério do Trabalho e do Emprego

PAC Plano de Aceleração do Crescimento

PGC Projeto Grande Carajás

PIB Produto Interno Bruto

PITEC Política Industrial, Tecnológica e de Comércio

PAIG Plano de Ação Integrado do Governo

PLAGEC Plano do Governo do Estado do Ceará

PLAME I Plano de Metas Governamental

PLAMEG II Plano de Metas Governamental

PLANDECE Plano de Desenvolvimento do Ceará

PLANED Plano Estadual de Desenvolvimento

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

RMF Região Metropolitana de Fortaleza

QL Quociente Locacional

SUDAM Superintendência do desenvolvimento da Amazônia

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

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INTRODUÇÃO ... 14

1 A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO NORDESTE E CEARÁ ... 22

1.1O Complexo Econômico da Região Nordeste ... 22

1.2- O processo de industrialização brasileira e as consequências para a região Nordeste. ... 25

1.3-As Primeiras Políticas Intervencionistas no Nordeste ... 30

1.4 Políticas de Intervenção Governamental no Ceará ... 33

2. O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A GUERRA FISCAL ... 36

2.1 Reestruturação Produtiva no Brasil ... 36

2.2-O Nordeste no Contexto da Reestruturação Produtiva ... 41

2.3- Os Incentivos Fiscais e a disputa por investimentos no Nordeste ... 43

2.4 Os Incentivos Fiscais concedidos pelo estado do Ceará ... 48

3. DESENVOLVIMENTO URBANO INDUSTRIAL NAS CIDADES MÉDIAS ... 54

3.1. As cidades médias do Ceará. ... 58

3.1.1 Crato ... 64

3.1.2 Juazeiro do Norte ... 66

3.1.3-Sobral ... 68

4. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E DO EMPREGO INDUSTRIAL NAS CIDADES MÉDIAS DO CEARÁ ... 71

4.1 Análise do número de estabelecimentos no setor industrial no Brasil, Nordeste, Ceará e CMs-Ceará. ... 71

4.2 Análise do número de empregos formais no setor industrial no Brasil, Nordeste, Ceará e CMs-Ceará. ... 80

4.3 - Grau de Industrialização nas CMs-Ceará. ... 93

4.4- Remuneração salarial dos trabalhadores com emprego formal no setor industrial das grandes regiões do Brasil e nas CMs-Ceará ... 94

4.5- Concentração Industrial nas cidades médias cearenses: a especificidade de um setor dentro de uma região ... 98

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 103

(15)

INTRODUÇÃO

Desde épocas remotas o homem tem o hábito de dividir o espaço de acordo com as características que apresentam suas várias porções, levando em conta as condições naturais e aproveitamento dos seus recursos. São utilizadas formas pouco precisas para designar porções do espaço como: área, região, zona, terra (ANDRADE, 1987). Assim, diferente da noção abstrata dos matemáticos, surge a concepção muito concreta de espaço formulada pelos geógrafos. Estes juntam o traçado dos acidentes físicos, configuração de continentes e mares, cadeias de montanhas, cursos de rios, desenhando uma primeira rede auxiliar.

A partir do século XIX e começo do século XX os geógrafos desenvolveram a noção de região e estudaram a organização territorial das sociedades. Os estudos voltados para esse programa específico, denominado economia espacial, foram formulados para responder aos problemas levantados pela região ou divisão das atividades (BENKO, 1999). Esses problemas são relacionados inicialmente com as disparidades econômicas (estrutura econômica, rendimento, nível de vida, produção entre outros). Essa análise é feita entre diferentes regiões de um mesmo espaço nacional.

O economista Von Thunen é considerado o fundador da economia espacial, seu modelo procura determinar o ponto de maximização da renda da terra em diferentes localizações, em condições de mercado, levando em consideração o custo de transporte. O seu modelo mostrou que a produção agrícola seria uniformemente distribuída, no entorno da cidade, em função dos custos de transportes. Os custos de transportes assumem, portanto, importância vital na análise de Von Thunen (AZZONI, 1985). Os Anéis de Thunen consistem nas diversas composições das culturas agrícolas no entorno da cidade.

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Santos (1988) foi um dos principais pensadores brasileiros sobre a teoria do espaço. Procurou discutir o espaço em toda a sua totalidade, considerando os seus mais variados elementos: os homens, as firmas, as instituições, as infraestruturas e o meio ecológico. Como estes elementos são mutáveis e se inter-relacionam entre si, o espaço influencia e é influenciado pelos processos sociais.

Para Benko (1999) muitas interpretações são possíveis para a palavra região tais como distrito, território ou espaço. É a partir da década de 1950, após profundas transformações que ocorreram no processo de desenvolvimento dos países que os economistas e os politólogos sujeitam-se a conceituar e a tornar operacional a palavra região.

Os problemas econômicos, políticos e sociais tornam-se cada vez mais complexos e as teorias convencionais que explicam o processo de desenvolvimento das dimensões espaciais não conseguem dar respostas adequadas. As próprias teorias elaboradas até então foram sendo adaptadas e ou substituídas por teorias que explicassem melhor a realidade. É na década de 1950 que entram em cena discussões como desequilíbrios regionais, polos de crescimento, jogo das forças econômicas.

Na intenção de superar esses obstáculos muitos estudiosos passaram a estudar esse tema voltando-se para os principais problemas. Talvez a maior influência tenha partido das formulações de Hischmann (1958), que analisou o processo de desenvolvimento econômico e como o mesmo pode ser transmitido de uma região ou país para outro. Esse autor via o processo de desenvolvimento como uma cadeia de desequilíbrios e estudou profundamente o problema das regiões e países industrialmente atrasados desenvolvendo o conceito de ligações para frente e para trás. Através destes efeitos a implantação de uma indústria-chave pode induzir o surgimento de várias outras.

Conforme Myrdal (1960) o desenvolvimento de uma região ou nação pode ser dificultado por uma série de círculos viciosos entrelaçados. A sua contribuição mais conhecida para o desenvolvimento/subdesenvolvimento está no princípio do círculo vicioso que ele denominava de causação circular acumulativa, pelo qual um fator negativo é, simultaneamente, causa e efeito de outros fatores negativos, assim o jogo das forças econômicas de mercado opera no sentido da desigualdade.

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como um campo de forças; c) espaço econômico como um conjunto homogêneo. Assim resultam os três tipos de regiões econômicas: a) a região plano, b) a região polarizada e c) a região homogênea. Esta se baseia na ideia de que as unidades espaciais separadas podem ser reunidas porque mostram determinadas características uniformes. Para Richardson (1981) as regiões polarizadas se compõem de unidades heterogêneas, mas estas unidades estão relacionadas umas às outras funcionalmente. A região plano é definida em termos de coerência e unidade no que se refere ao processo de tomada de decisões. A implementação de uma política regional exige uma capacidade de atuação que, na maioria dos casos, está nas mãos de governos.

É consenso para estes autores supracitados a necessidade da regulamentação e intervenção do Estado como forma de evitar abusos de poder econômico e conter as forças de mercado que tenderiam a acentuar os níveis de desigualdades regionais.

O papel exercido pelo Estado como organizador e ator social alcançou importante destaque no período compreendido entre o pós-segunda Guerra Mundial e a década de 1970.

“A intervenção governamental na economia passou a ser vista como

indispensável em diversas áreas, pois Estados ativos constituíram elementos-chave em qualquer esforço bem-sucedido para construir modernas economias de mercado, contribuindo para um rápido crescimento industrial” (LIMA; SIMÕES, 2009, p.26).

A separação dos espaços de produção, dos espaços de gestão e as inovações tecnológicas no sistema de comunicação reduziram o tempo e a distância, alterando as escolhas locacionais de empresas, que não colocam como prioridade a proximidade da matéria-prima ou do mercado de consumo (AMORA, 2002). Priorizam-se os incentivos fiscais, a não sindicalização e o custo da mão de obra. As cidades assumiram novos papéis na rede urbana brasileira e o espaço intra-urbano foi reestruturado em função da demanda dos novos empreendimentos.

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aperfeiçoamento das técnicas. Assim, elas não estão isoladas e mantêm relações entre si, sobretudo econômicas (SANTOS, 1988). Concordando com Santos, Braga (2004) enfatiza que a cidade surgiu quando a evolução da agricultura permitiu a produção e estocagem de excedentes e as sociedades tornaram-se mais complexas com o surgimento das classes sociais baseadas na divisão social do trabalho.

Muitas são as definições do que se constitui uma cidade, mas a maioria desses conceitos igualam-se num ponto: trata-se de uma aglomeração humana, de um conjunto de pessoas vivendo próximas umas das outras. Muitas discussões giram em torno do mínimo dessas aglomerações, para alguns algo em torno de 2 mil habitantes, para outros 5 mil e assim por diante. Portanto, a cidade é constituída por uma população relativamente grande habitando num pequeno território (SINGER, 1973).

O urbano complementa e consolida a noção mais ampla do que conhecemos como cidade. Santos (1992, p. 241) diferencia a cidade do urbano afirmando que a “cidade é o concreto, o conjunto de redes, enfim a materialidade visível do urbano,

enquanto que este é o abstrato, porém o que dá sentido e natureza à cidade”. Pode-se

pensar então que a cidade e o urbano se interpenetram.

Para Singer (1973) o fato de um país ou região apresentar variações nas quantidades de grandes cidades, cidades médias e na maioria das regiões um grande número de cidades pequenas é devido a razões históricas decorrentes do processo histórico de povoamento desse território. Santos (1988) discorre que para entender a evolução global da população mundial é essencial compreender três dados fundamentais. Primeiro, a distribuição dessa população entre as diversas áreas do globo e dentro de cada país que evolui de forma diferente; segundo deve-se levar em conta as migrações internas e internacionais muito freqüentes; e por último, as porções de território ocupado que aos poucos exigem uma nova definição.

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Aliado à urbanização, profundas transformações estruturais acontecem na sociedade e na economia brasileira a partir dos anos de 1950. Não é só o território que acelera o processo de urbanização, mas é a própria sociedade brasileira que se torna cada vez mais urbana. Essa grande transformação acompanhará o processo de industrialização da economia brasileira, seu marco inicial foi na segunda metade da década de 1950 e intensifica-se com a expansão dos sistemas de transportes e dos meios de comunicação de massas. Nesse momento a economia camponesa cedia lugar ao grande capital.

A migração interna em geral foi um dos elos mais importantes entre as profundas mudanças estruturais e a grande transformação urbana. Para (BRITO;

MARQUES, 2005, p. 3) “O intenso crescimento da economia urbano-industrial, depois

do Plano de Metas até o final dos anos de 1970 foi, do ponto de vista espacial e social,

extremamente desequilibrado”. Concentrado no estado do Rio de Janeiro e, mais ainda

em São Paulo, o desenvolvimento da economia ampliou os desequilíbrios regionais, inclusive entre cidade e campo, que não conseguia gerar o número de empregos que atendesse ao crescimento da sua força de trabalho.

Houve uma preocupação com a desigualdade regional em meio a um forte processo de concentração industrial em São Paulo, mais precisamente na região metropolitana. No intuito de atuar sobre esse problema, configurou-se no Brasil uma política de desenvolvimento regional, concretiza-se na criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e de um conjunto de outros órgãos, como o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), que deveriam conduzir políticas de desenvolvimento nas regiões do Norte e Nordeste. Os principais instrumentos utilizados foram os incentivos fiscais e creditícios para investimentos industriais nessas regiões. Além disso, principalmente nos anos de 1970, foram utilizados os investimentos públicos como forma de desconcentrar a atividade econômica, tanto em infraestrutura (rodovia, portos, energia etc.) como no desenvolvimento de novos setores produtivos, impulsionados pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). A estratégia de desenvolvimento regional baseava-se na desconcentração industrial, uma vez que a concentração do emprego e da renda era associada à concentração industrial (AZEVEDO; TONETO JÚNIOR, 2001).

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tiveram impactos sensíveis sobre o emprego industrial no Brasil. Houve forte retração do emprego industrial formal entre os anos 1990 e 1993. O processo de reestruturação pautou-se pela intensificação do trabalho desacompanhada de novos investimentos e pela terceirização motivada pela redução de custos trabalhistas. Após 1994/1998 a estabilidade monetária houve uma recuperação, com importante impacto no emprego industrial (AZEVEDO; TONETO JÚNIOR, 2001).

O processo de abertura comercial, a alteração do papel do Estado na economia e outras mudanças acabaram por influenciar a evolução e a estrutura do emprego no Brasil. Foi observada estagnação do emprego formal na indústria no período de 1985 a 2002, tendo em vista o crescimento médio anual de apenas 0,2% ao ano. Como consequência, a indústria, que respondia por um terço do emprego formal em 1985, passou a representar apenas um quarto dos postos de trabalho formais em 2002 (CONSTANZI, 2004).

Ao se analisar esses dados por região, constata-se que a estagnação do emprego formal foi fenômeno localizado na região Sudeste. Enquanto todas as demais regiões tiveram crescimento do emprego formal nesse período, com a criação de 800 mil postos de trabalho formais, no mesmo período, houve eliminação de cerca de 570 mil postos de trabalho na região Sudeste. O fraco desempenho do emprego formal na indústria no Brasil deve-se à retração do emprego na indústria de transformação da região Sudeste, que anulou o incremento do emprego industrial das outras regiões (CONSTANZI, 2004).

As regiões que apresentaram maiores taxas de crescimento do emprego formal industrial nos anos 2000 foram: Norte (114,2%), Centro-Oeste (113,2%) e Nordeste (99%). Nesse sentido, as políticas regionais ganhariam destaque no âmbito da geração de emprego e renda. O emprego formal industrial em setores intensivos em trabalho migrou para regiões com baixos salários.

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Ceará tem se destacado. O aumento do emprego foi ainda mais significativo ao ser comparado com a forte queda nos outros estados mais importantes dessa região Pernambuco e Bahia. No final da década de 1990, o Ceará caminhava para o primeiro lugar no emprego industrial do Nordeste (SABOIA, 2001).

Nesse contexto busca-se entender a realidade que consubstancia nas cidades médias do Ceará. Nas últimas décadas expressivas mudanças de caráter econômico e socioespacial foram responsáveis por transformar essas cidades em importantes centros do estado, responsáveis por expansão produtiva, aumento de emprego e alterações importantes na organização do espaço.

O objetivo geral deste trabalho é analisar a evolução do emprego formal industrial nas cidades médias do estado do Ceará no período de 1990 a 2010. Em termos específicos, tem-se como objetivos: 1)Descrever a evolução no emprego industrial formal nas cidades médias; 2) Identificar os principais subsetores do emprego industrial formal nas cidades médias do Estado do Ceará; 3) Identificar os níveis salariais pagos em cada subsetor; 4) Correlacionar empregos e salários, visando identificar os subsetores que mais contribuíram para a formação da renda nas cidades médias.

A questão central a ser considerada neste estudo é saber: como evoluiu o emprego formal na indústria nas cidades médias do estado do Ceará? O pressuposto que norteia este trabalho é que dadas as políticas econômicas dos anos de 1990 e 2000 as mesmas estimularam a relocalização implicando, assim, no crescimento significativo do emprego industrial formal nessas cidades.

A escolha das cidades médias é baseado no conceito de Serra (1998) que propõe um critério de tamanho da população. É definido como cidade de porte médio aquelas com população urbana entre 100 a 500 mil habitantes no Censo Demográfico de 2000 e não pertencentes a regiões metropolitanas, evitando o efeito de transbordamento exercido pela região.

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estudo foram Crato, Juazeiro do Norte e Sobral. Essas cidades passaram por muitas transformações e ao longo dos anos o grau de importância em solucionamento do processo de acumulação capitalista tem se destacado.

Com o intuito de desenvolver a presente pesquisa no que refere-se à perspectiva metodológica, esta ancora-se no levantamento da literatura mais relevante sobre a temática, bem como a sistematização dos dados retirados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), publicada pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro de cada ano.Utilizou-se dados macroeconômicos do Brasil, Nordeste, Ceará e das cidades médias em estudo. Ressalta-se quanto aos dados que a RAIS pode ser considerada um

censo do mercado de trabalho formal. A partir de 1994 os dados passaram a ser online e

os testes econométricos mostraram que desde 2000os dados contemplam mais de 95% do total de ocupados estimado pelo Censo. É preciso lembrar, entretanto, que com exceção do setor da construção civil e alguns setores da indústria de transformação a indústria brasileira possui um mercado de trabalho relativamente formalizado (SERVO et alii, 2006).

As informações quantitativas expressas em valores foram organizadas sistematicamente e tratadas com métodos estatísticos. Foram analisados dados de estabelecimentos, empregos e salários. As séries de valores sobre os salários do setor industrial foram devidamente organizadas e deflacionadas com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

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1 A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO NORDESTE E CEARÁ

1.1

O Complexo Econômico da Região Nordeste

As estruturas econômicas e sociais da região Nordeste se formaram desde a ocupação inicial. A ocupação do Brasil iniciou-se pelo espaço nordestino na época da expansão colonial européia. A economia exportadora nordestina surgiu, então, na primeira metade do século XVI. O primeiro produto de exportação nacional foi o açúcar que era produzido próximo à úmida zona litorânea do Nordeste brasileiro.

Historicamente, durante os séculos XVI e XVII, o Nordeste brasileiro foi a região da colônia que mais acumulou riquezas. Foi lucrativo para vários agentes econômicos, como fazendeiros e aqueles envolvidos na comercialização, financiamento, expedição, comércio de escravos e importação.

Conforme Mendonça e Pires (2002) foi nos atuais estados da Bahia e de Pernambuco, a partir de meados do século XVI, que a produção alcançou grande escala, contribuindo para o desenvolvimento da colônia. Outro centro que logrou êxito foi o de São Vicente (São Paulo), mas em desvantagem, pela distância em relação à Europa. O açúcar tornou-se o produto de maior valor no comércio mundial desde fins do século XVI. Teve papel decisivo no financiamento do Império Português para sustentar a coroa e garantir-lhe a posse da colônia e na definição do modelo de colonização do Brasil, baseado na grande propriedade rural, na vinculação dependente ao exterior, na monocultura de exportação e na escravidão.

A economia nordestina passou por um atrofiamento a partir do final do século XVII, com um declínio de sua renda per capita, o resultado foi o afrouxamento do efeito dinâmico externo sobre a pecuária que levou a se apoiar cada vez mais no setor de subsistência, com repercussões sobre a divisão do trabalho no interior dessa economia, acontecendo um efetivo atrofiamento da economia monetária (GUIMARÃES NETO, 1989).

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das minas de ouro em Minas Gerais, a da borracha na Amazônia, a do algodão no Maranhão, a da pecuária na parte meridional do país e a do café em São Paulo. Furtado destacou a formação de outro Nordeste: o da pecuária. Que se organizou na porção mais interior da região (estendendo-se para o Agreste e o Sertão, partindo do Nordeste oriental na direção do Ceará e do Piauí, descendo até a Bahia) onde a ocupação das terras também se dá de forma extensiva.

O ciclo de exportação do ouro mudou o centro de atividade econômica do Brasil para o Sudeste, gente do litoral mudou para o interior. Com essa nova atividade as cidades destacaram-se por possuir uma estrutura ocupacional mais complexa e assim possibilitou a ocupação de um extenso território no interior do país provocando a articulação da economia e da sociedade de diferentes regiões da colônia. A alimentação para milhares de pessoas na região das minas foi principalmente através do gado, além da pesca e de roças de subsistência. Então muitos tornaram-se tropeiros, tangendo tropas de gado do interior do Nordeste ou do Rio Grande do Sul. Essa demanda por alimentos nas cidades e centros de mineração estimulou a produção agrícola.

Para Furtado (2007) foi após a Revolução Industrial no século XVIII que o algodão se tornou a principal fibra têxtil do mundo e o produto mais procurado nas Américas. No começo do século XIX o algodão surgiu como segundo produto das exportações brasileiras. A produção do algodão havia se tornado um excelente negócio para alguns estados nordestinos como o Maranhão, a Bahia, o Ceará e o Nordeste Oriental, alavancando o cultivo da fibra nessa região nordestina. O produto era vendido a preços extremamente elevados, pois transformou-se na principal matéria-prima do comércio mundial. Porém, com a entrada dos Estados Unidos no mercado mundial e sua produção cada vez maior a produção brasileira entrou rapidamente em decadência.

Oliveira (1981) chama a atenção para a imagem desse país durante quatro séculos: um arquipélago de regiões. As economias regionais se articulavam muito mais com o exterior do que com o espaço nacional. Vale ressaltar que a dinâmica regional era definida a partir dos mercados externos e da produção predominante de cada região.

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Segundo Guimarães Neto (1989) foi a partir do desenvolvimento industrial que se instaurou uma competição inter-regional que provocou acomodação das regiões às novas condições econômicas e foram criadas nos diversos mercados as bases de serviços comerciais e financeiros. A periodização do processo de articulação inter-regional foi dividida em três fases: a fase inicial de busca de alternativas de colocação dos produtos nordestinos; a fase intermediária da expansão industrial articulada ao setor externo e a consolidação do mercado interno do país.

Na fase inicial segundo Guimarães Neto (1997) quando a iniciativa da articulação pertenceu ao produtor e exportador nordestino, o que se buscou foi a complementaridade com a economia regional cuja atividade estava centrada na produção do café e dotada de grande dinamismo, mas altamente especializada no início do processo.

Guimarães Neto (1997) ressaltou que a presença do capital mercantil, em grande parte de origem extra-regional, implicou na subordinação dos produtores do açúcar nordestino ao capital mercantil que, na intermediação entre os produtores nordestinos e os consumidores do Sudeste e do Sul, apropriou-se de grande parte da mais-valia obtida na produção e na realização do açúcar regional. Por conta disto, muitos dos produtores regionais passaram a adaptar seus processos produtivos às exigências do mercado interno, em razão do domínio das refinarias do Sudeste.

O segundo momento do processo de articulação comercial inter-regional com a expansão da indústria, a competição inter-regional passou a ocorrer não só nos mercados das demais regiões nas quais o Nordeste colocava parte de sua produção, mas no seu próprio mercado regional. Nesse momento, já se fazia presente a indústria paulista que, estimulada inicialmente pela demanda local e das demais regiões e, posteriormente, pela necessidade de ocupar sua capacidade instalada, se direcionou cada

vez mais para os demais mercados do país (CANO, 1977, apud GUIMRAES NETO,

1997). Assim, o Nordeste passou a sofrer tanto a perda dos mercados que detinha fora da região quanto a perder espaço econômico no interior de sua própria economia com a entrada de produtos do Sudeste no seu mercado. Isso ocorreu, sobretudo com relação à produção de bens não-duráveis de consumo.

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substanciais nesse processo de intermediação; perda de mercados ocorrida quando as regiões que constituíam destino da produção regional diversificaram sua atividade produtiva e deslocaram a produção nordestina; formação e constituição do mercado interno brasileiro, a partir do desenvolvimento industrial do Sudeste e de São Paulo, o qual, em sucessivas fases, foi ajustando a estrutura das demais regiões periféricas pela competição, definido espaços econômicos possíveis para a produção regional. (GUIMARÃES NETO, 1997, p.08)

A fase que teve início após a crise de 1929 definiu o contorno da função que a indústria passaria a desempenhar na articulação das regiões brasileiras. Foi a partir da década de 1930 que o Estado, em consonância com os interesses dos grupos industriais – concentrados no Sudeste, particularmente em São Paulo, passou a intervir cada vez mais na economia, criando condições para o avanço da atividade industrial.

1.2- O processo de industrialização brasileira e as consequências para a região Nordeste.

Segundo Pereira (1983) o decênio de trinta marca a arrancada definitiva da industrialização brasileira. A decolagem dessa economia tem antecedentes bem definidos. O desenvolvimento do ciclo do café tem características diversas do ciclo do açúcar ou do ouro, pois com o café, começou a ser usado em grande escala o trabalho assalariado, ao invés de trabalho escravo. Os cafeicultores logo descobrem ser mais vantajoso pagar pelo trabalho dos colonos, geralmente por um sistema de meação, permitindo assim a formação de um incipiente mercado interno. A importância fundamental da expansão desse mercado assalariado junto com a expansão da cultura e das exportações do café faz surgir as condições básicas para instalação de uma indústria nacional orientada para o mercado interno.

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para depois destruí-lo. Mas foi isso que garantiu a geração de renda, que por sua vez aqueceu o mercado interno, garantindo o nível de empregos ligados ao setor exportador, mantendo a economia com altas taxas de crescimento e consequentemente criando todo um cenário favorável para a realização de novos investimentos.

As reformas cambiais operadas no país a partir dos anos 1950 tiveram o intuito de acelerar o desenvolvimento econômico. Como o Nordeste estava em atraso industrial, os prejuízos ocorreram na razão inversa ao Centro-Sul. Ressalte-se que o entrelaçamento das economias regionais notadamente as que constituem a periferia Norte e Nordeste não se dá, até a década de 1960 a não ser pelo comércio, e a transferência do capital produtivo do espaço onde está concentrado para as demais áreas, em busca de novas fontes de investimento. O que predominou foi o escoamento da produção, a busca de mercado, a comercialização da produção industrial concentrada no Sudeste.

Tavares (1998) chama o período 1933 a 1955 de industrialização restringida no qual falta uma definição clara e coerente do papel do Estado. De acordo com ela:

Não parece ser por falta de capital nacional ou estrangeiro que a industrialização fica restringida e não se implanta a indústria pesada sem a intervenção decisiva do Estado. Apenas, como se recordará não tinha um potencial interno de acumulação em escala nacional, pois estava apoiada apenas em um eixo regional de expansão enquanto as demais regiões exportadoras se encontravam em decadência. (TAVARES, 1998, p. 138-139).

Vale salientar a grande disparidade em relação ao movimento de acumulação nas relações entre Nordeste e Sudeste. Conforme Oliveira (1981) há um predomínio de mercadorias desta última região a ritmo crescente e implica no final, num predomínio em relação ao Nordeste, em todos os setores. O Nordeste açucareiro perde posição de forma alarmante, o setor têxtil entra em decadência, o Nordeste algodoeiro-pecuário perde terreno para o algodão produzido no Sudeste. As mercadorias dessa região se via favorecida por medidas político-institucionais e pela melhoria dos transportes. Nesse caso o efeito inicial foi destruidor para o Nordeste que tinha um espaço próprio de reprodução.

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vigentes, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial, reduziram o ritmo do desenvolvimento industrial, pois este estava ainda na dependência de importações de equipamento, pois a indústria de bens de capital era ainda incipiente. No entanto, a década 1945-1955 foi uma época de grande prosperidade para a economia brasileira. Esse crescimento se deve principalmente a conjuração de dois fatores. O primeiro deles foi a disponibilidade de reservas cambiais que o país dispunha para importar equipamentos que a indústria nacional necessitava. O segundo foi uma grande melhoria nos termos de troca do país ocorridos na mesma década. O grande responsável por esta melhoria dos termos de troca do país foi a elevação no mercado externo do preço do café.

No momento da industrialização restringida o Estado ao superar as formas oligárquicas e regionais de pressões e de intervenção buscou meios e caminhos para a centralização, para a efetiva constituição de uma forma mais avançada de Estado capitalista e burguês. O processo de centralização ocorreu através da construção de um complexo e diversificado aparelho burocrático administrativo que tem como funções básicas a intervenção, regulação e controle da economia e da sociedade em nome do interesse geral (GUMARÃES NETO, 1997).

No que se refere ao aparelho social do Estado, a sua ampliação e diversificação ocorreu, notadamente, na área da saúde, educação e previdência social através de políticas sociais. Quanto ao aparelho econômico estatal, a partir dele o Estado passou a atuar sobre os pontos-chaves da vida econômica e social, elaborando políticas de caráter nacional. A regulação e intervenção passaram a existir, com maior grau de articulação, na área do câmbio, moeda, crédito, juros, salários, conforme (GUIMARÃES NETO 1997).

No que se refere ao sistema de transporte, houve, nesta fase, um avanço substancial na articulação entre os diversos espaços econômicos do país. Embora não se tenha progredido mais no tocante ao sistema ferroviário, o sistema rodoviário ampliou consideravelmente o seu raio de ação.

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grande parte da frota possibilitavam muito mais as ligações nos mercados do Sudeste, com prolongamentos para o Sul, do que em relação às demais regiões.

Analisando as repercussões sobre as economias regionais, particularmente sobre o

Nordeste, o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN1)

assinalou que as indústrias manufatureiras nordestinas deixaram de acompanhar a expansão do mercado sudestino e, ademais, perderam parte do mercado que ali detinham (GTDN ,1967).

No entanto, a compreensão maior desse momento de articulação e de suas repercussões pode ser obtida a partir de uma maior qualificação dessas constatações do GTDN. Em primeiro lugar, não se trata só de perdas de faixas de mercados, localizadas no Sudeste e no Sul, tradicionalmente reservadas às empresas nordestinas, mas de perda de mercado no interior do próprio Nordeste, com a intensificação da invasão de alguns segmentos do seu mercado por produção extra regional, inclusive bens de consumo não duráveis (GTDN, 1967).

O GTDN, sem desconhecer a presença marcante do Estado na economia nordestina, não deixou de destacar o papel assistencialista da sua intervenção, sem uma correspondente ação no desenvolvimento da atividade produtiva ou na retenção, no Nordeste, do excedente gerado pela atividade privada.

Do exposto, fica evidente que, nesta fase, simultaneamente com o aumento da concentração industrial em São Paulo ocorreu uma intensificação da competição inter-regional. No que se refere ao Nordeste os efeitos da competição orientaram-se, seguramente, para as atividades industriais voltadas para os bens de consumo não duráveis, notadamente têxtil e a produção de alimentos, inclusive o açúcar que foi gradativamente deslocado dos mercados sulistas. No tocante às relações Nordeste/Sudeste, este momento da industrialização restringida, caracterizou-se por uma articulação comercial que se tornou bem mais intensa no interior das referidas regiões do que entre elas.

A partir de 1956, o quadro industrial brasileiro começou a passar por um amplo processo de transformação. Supera-se a fase de industrialização restringida. O novo Governo que passa a conduzir o país assumiu um compromisso integral com o

11Em 1956, o Banco do Nordeste (BNB) criou o escritório do Nordeste (ETENE), dentro do qual

foi instituído o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN). Esses estudos serviram

de base para o famoso relatório “Uma Política para o Desenvolvimento do Nordeste”, que serviu de guia

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desenvolvimento nacional. O planejamento passou a fazer parte da política econômica do país. O Plano de Metas deu um grande impulso ao setor de bens de consumo duráveis e no setor de bens de capital. Contudo, a indústria concentrava-se no Sudeste. Houve assim uma clara consciência de que o espaço regional havia ficado à margem do processo de industrialização o que agravou as desigualdades regionais.

Reconhecendo o efeito centrípeto sobre o Nordeste da concentração financeira no Sudeste, o governo, a partir de 1960, passou a incentivar a transferência de capital produtivo para o Nordeste. Isso foi possível graças à política de desenvolvimento regional conduzida pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).

Segundo Guimarães Neto (1989) criou-se um pacote de estímulos financeiros para a migração dos investimentos produtivos para o Nordeste. Estes estímulos eram constituídos de uma série de incentivos fiscais. Dentre eles, podem ser destacados o 34/18, a redução progressiva do imposto de renda e até a isenção completa, para empresas dispostas a investirem nos projetos selecionados pela SUDENE para o desenvolvimento do Nordeste, empréstimos facilitados no Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS) com aval da SUDENE e posteriormente o próprio Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR). Segundo o mesmo autor, o montante destes incentivos chegaria a 94% dos investimentos totais, ficando a cargo dos empresários apenas a contrapartida de 6% do montante global. Com esta política, a rentabilidade dos investimentos no Nordeste cresceu e houve na região um grande aporte de capital produtivo oriundos do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Os resultados foram favoráveis ao Nordeste neste período, com o aumento da migração do capital produtivo. Guimarães Neto (1989) destaca que entre 1961-1967, a economia Nordestina cresce mais que a brasileira, resultado obtido a partir da criação da SUDENE no final de 1959, notadamente no que se refere à estratégia de ampliação e coordenação dos investimentos públicos na região.

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encarado com euforia, pois este crescimento se refletiu no aumento das disparidades sociais dentro da região.

1.3-As Primeiras Políticas Intervencionistas no Nordeste

Há quase que um consenso entre estudiosos como Celso Furtado, Albert Hirschaman, entre outros, quando refletem sobre a intervenção do Estado no combate às secas, como primeira evidência do planejamento da atividade governamental para resolver os problemas da economia regional. Porém, Oliveira (1981) ressalta que seria apressado demais afirmar que isso aconteceu sem levar em consideração a emergência de um padrão planejado da reprodução econômica e social e a falta de uma teoria sobre planejamento. Contudo, foi no Ceará que se verificou as primeiras ações governamentais contra as secas:

É somente a partir da grande seca de 1877 que o governo brasileiro passa a encarar as secas nordestinas como um problema que, embora regional, exige uma interferência federal. Dentro desse prisma, a grande solução que se apresenta ao Governo para o Nordeste passa a ser a irrigação, feita através de construção de açudes e barragens, bem como a destinação de verbas para socorros especiais, por ocasião das grandes estiagens. Data de 1884 o início da construção do primeiro grande açude na região, o de Quixadá; em 1900 é assinado decreto estipulando fundos especiais de socorro a serem empregados especialmente em obras públicas. (KON, 1976, p. 57-58).

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A construção de barragens não proporcionou grandes êxitos para a região, houve alguns erros iniciais que resultaram em barragens que não tinham bacias irrigáveis como o açude Coremas na Paraíba e o açude do Cedro no Ceará. Muitas dessas barragens ficaram apenas no papel e outras foram construídas para benfeitoria de grandes propriedades e sua forma de financiamento chegou a se constituir em outro pilar da força e do poder político. O açude Coremas foi considerado o maior açude do Brasil na época em que foi construído. Posteriormente, perdeu posição para o açude de Orós construído no Ceará em 1961. Outros programas foram realizados como é o caso da construção de uma rede de estradas não-pavimentadas e o Nordeste semi-árido contava com uma rede de estradas superior em quantidade e qualidade à do resto do país, em proporção à sua área. Essas estradas serviam, sobretudo para a circulação do algodão, predominante no período e circulação da produção agrícola, estas em pequenas quantidades e representavam culturas de subsistência (OLIVEIRA, 1981).O Ceará se caracterizou como:

Um espaço de atividades extrativistas (...) que reforçou-se inclusive no começo do século pela descoberta da utilização da cera de carnaúba, nativa em vastas porções do estado cearense e também no Piauí, sobretudo em sua metade Nordeste. O algodão reunir-se-á com a pecuária e carnaúba para transformar o Ceará num vasto algodoal segmentado em milhares de pequenas plantações, e a imbricação latifúndio-minifúndio, comerciante-fazendeiro, fazendeiro-exportador, não ocorreu em nenhum outro lugar do Nordeste com maior profundidade que ali. As primeiras grandes obras da IFOCS e do DNOCS foram no Ceará (...). Falar do DNOCS no Ceará, era o mesmo que falar da oligarquia (OLIVEIRA, 1981, p. 56).

No período 1956 a 1961 deu-se a adoção no país do nacional desenvolvimentismo, qualquer país só se desenvolveria caso se industrializasse. Existia uma preocupação por parte do governo com a industrialização brasileira, com os investimentos em infraestrutura, estímulos a burguesia nacional e abertura às multinacionais.

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A partir de 1956 uma série de medidas passaram a tornar viável o planejamento regional. Pelo decreto de 40.554, de 1956, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, criou o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), resultando em estudo exaustivo da região. O relatório final de avaliação ficou sob o título “Uma

política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste2”. Em uma tentativa de

diminuir as disparidades e a miséria da região, o estudo propunha um Plano de Ação para tentar solucionar os problemas existentes. Os pontos que tiveram destaque foram:

 Intensificação dos investimentos industriais, visando criar no Nordeste

um centro autônomo de expansão manufatureira;

 Transformação da economia agrícola da faixa úmida, com vistas a

proporcionar uma oferta adequada de alimentos nos centros urbanos, cuja industrialização deverá ser intensificada;

 Transformação progressiva da economia das zonas semi-áridas no

sentido de elevar a produtividade e torná-la mais resistente ao impacto das secas;

 Deslocamento da fronteira agrícola do Nordeste, visando incorporar à

economia da região às terras úmidas do hinterland, maranhense, que estavam

em condições de receber os excedentes populacionais criados pela organização da economia da faixa semiárida. (GTDN, 1967, p. 58).

Em 1959 foi criado o órgão de planejamento regional – a Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Este novo órgão passou a funcionar em março de 1960. (KON, 1976). Para Celso Furtado:

Com a criação da SUDENE, o Governo Federal equipou-se para formular a sua política de desenvolvimento do Nordeste dentro das diretrizes unificadas. Os investimentos federais serão agora submetidos a critérios de essencialidade, consubstanciados num Plano Diretor a ser apresentado pelo Sr. Presidente da República ao Parlamento Nacional, que poderá assim exercer o seu trabalho crítico de forma mais fecunda (FURTADO, 1989, p. 81)

2

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É importante ressaltar que os planos diretores colocados em prática seguiam uma diretriz comum: promover o desenvolvimento regional, norteados pelo diagnóstico elaborado pelo GTDN.

Para Pereira Júnior (2011) a SUDENE foi essencial por estabelecer relações com estados do Brasil, a indústria sofreu importante avanço e aperfeiçoou o seu sistema produtivo, ampliando a produção e a contratação de mais força de trabalho, atingindo fortemente os fluxos e a circulação de riqueza na cidade e na região.

1.4 Políticas de Intervenção Governamental no Ceará

As políticas de intervenção governamental possibilitaram não só um surto industrial como preparou toda uma gama de técnicos, estudiosos e administradores os quais seriam igualmente aproveitados nas gestões de governos estaduais. As mudanças estruturais ocorridas na economia e sociedade nordestina desde 1950 criaram condições para a emergência de novas elites. No Ceará, um grupo com fortes vínculos com os setores modernos da economia, chegou ao poder e conseguiu influenciar a política em âmbito nacional.

O que atrasou o avanço da industrialização cearense foi o domínio secular das oligarquias, a concentração fundiária, a Ditadura Militar e o ciclo dos coroneis que durante várias décadas detinham o domínio político do Ceará.

Para Teixeira (1995) a partir dos anos 1960, o Ceará, se tornou o terceiro maior absorvedor de recursos da SUDENE para o desenvolvimento industrial. Nas décadas 1960 e 1970 aconteceram profundas alterações estruturais na economia cearense. Foi no governo de Vírgílio Távora, época dos coroneis, que o Ceará recebeu um aporte infraestrutural significativo. Foram construídas rodovias que cortavam o território estadual, houve a chegada da energia de Paulo Afonso, foi instalado o terceiro polo metal-mecânico do estado, bem como o sistema de telecomunicações, a universalização do ensino médio e a arrancada no processo da industrialização. Assim, aos poucos o Ceará foi se industrializando, em geral com fábricas do setor tradicional (indústrias têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos), possibilitando o fortalecimento político da burguesia local.

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quadro político-econômico do Ceará iniciou-se com um grupo de jovens empresários que assumiram o comando do estado nas eleições de 1986 (FARIAS, 2007). O Centro Industrial do Ceará (CIC), criado objetivando reunir os proprietários de estabelecimentos fabris do Ceará para juntos tratar de assuntos de seu interesse e assim buscar possibilidades de novos empreendimentos na tentativa de promover o desenvolvimento do estado.

Na busca de efetivar algumas mudanças, uma série de medidas foram adotadas pelo governo. As primeiras priorizavam o saneamento da máquina estatal, como cortes de despesas e enxugamento do quadro de pessoal com a finalidade de se fazer uma reforma no estado recuperando finanças e a capacidade de investimento. Em seus discursos responsabilizavam o domínio dos coronéis pelo atraso do estado frente ao país.

As ações do governo do estado passaram a ocorrer, mediante parceria com o capital privado, isso a partir da segunda metade da década de 1980, época em que se iniciou no Brasil o processo de abertura econômica. O papel do estado nesse momento, segundo Pereira Júnior (2005), era o de fomentar a abertura de espaços para assegurar a consolidação do capital industrial do Ceará. Na década de 1990 foi eleito presidente Fernando Collor de Melo, período em que se dá a efetiva abertura econômica e as medidas adotadas foram: diminuição as barreiras não tarifárias e redução das alíquotas de importações, além de iniciar os programas de privatizações (estes na tentativa de saldar a dívida pública).

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Salienta-se que foi com a implantação da política de atração de investimentos, que permitiu a instalação de novas empresas industriais de diversos segmentos industriais no interior do estado.

O governo do Estado tem desenvolvido grande esforço para atrair novos investimentos industriais e descentralizar sua instalação nas cidades do interior, através da execução de programas de apoio ao setor. O resultado desse trabalho está traduzido na atração de 310 novas indústrias, no período de 1995 a 1997, sendo 111empreendimentos para o interior e 177 para a região metropolitana de Fortaleza (exclusive a capital) e apenas 22 para Fortaleza (OLIVEIRA, 1999, p. 42)

Maia e Cavalcante (2010) ressaltam que, apenas durante a década de 1990, após a abertura comercial brasileira, a política industrial supracitada passou a dar resultados mais significativos, sobretudo após o Plano Real que possibilitou aumento nas importações. Apesar disso, o grau de abertura do estado ainda é reduzido e apresentou em 2009 como principais produtos na sua pauta de exportações, os calçados, a castanha de caju, couros e peles, frutas e produtos têxteis, enquanto que na sua pauta de importações, destacaram-se, máquinas e equipamentos, produtos químicos, trigo e têxteis, respectivamente. Vale salientar que essas evidências revelam um setor industrial ainda gerador de bens de baixo valor agregado e com forte dependência de produtos com grande necessidade de tecnologia de produção.

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2. O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A

GUERRA FISCAL

2.1 Reestruturação Produtiva no Brasil

No pós-segunda Guerra Mundial o sistema capitalista organizou-se produtivamente a partir do sistema fordista-taylorista de produção nos países desenvolvidos. Para Cattani (1997), o fordismo não se confunde com o taylorismo. Este último caracteriza-se pela intensificação do trabalho, tendo como objetivo eliminar os movimentos inúteis através da utilização de instrumentos de trabalho mais ajustados à tarefa. O fordismo é uma estratégia mais abrangente de organização de produção, envolve extensa mecanização, com o uso de máquinas-ferramentas especializadas, linhas de montagem e de esteira rolante e crescente divisão de trabalho. O taylorismo pode ser aplicado em firmas médias e pequenas, já o fordismo em grandes empresas produtoras de bens de consumo duráveis.

Com referência à literatura nacional especializada na temática do trabalho há um destaque para o estágio atual de transição do modelo taylorista-fordista para novas formas de organização da produção e de gestão de mão de obra, a partir de transformações na estrutura produtiva e no padrão de concorrência intercapitalista nas economias avançadas. No final do século XX essa transição seria produto da constituição de uma nova empresa, esta operaria cada vez mais em rede, mais adaptada às crescentes variações do mercado e voltada à diferenciação dos produtos num ambiente de acirrada e desregulada concorrência (POCHMANN, 2006).

Para que a empresa moderna tenha condição mais adequada para conviver num cenário de forte concorrência e crescente instabilidade econômica precisa focar na produção, terceirizar atividades ligadas aos serviços de apoio à produção. Esse novo desempenho empresarial se daria com ampla integração nas fábricas, maior flexibilidade produtiva e inovadores processos produtivos, nos quais se destacam: Just-in-time, sistema de informação, células de produção e minifábricas (POCHMANN, 2006).

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diferenciados de acordo com as demandas de diferentes segmentos. A nova firma precisa torna-se flexível, capaz de responder, rapidamente, às frequentes mudanças de demanda de mercado. Dessa forma, a nova empresa necessitaria de novas tecnologias e novas formas de utilizar a força de trabalho, bem como acesso intensificado a informação acompanhada de redução nos custos.

O princípio - padrão de organização - do fordismo falece e aparece o regime de acumulação flexível mais bem integrado ao aproveitamento do processamento rápido e barato da informação e ao capital financeiro (MARQUES, 1998). Para Harvey (1998, p. 140), um novo padrão surge nos fins da década de 1960, o de acumulação flexível, este se consolidou a partir das experiências desenvolvidas no Japão. Essa acumulação

flexível se apóia “na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho,

dos produtos e padrões de consumo”, esse novo sistema caracteriza-se pelo “surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação

comercial e tecnologia”. Essa nova fase fica marcada por um confronto com a rigidez

do fordismo. A recessão de 1973 pôs em movimento nos países avançados processos que esgotaram o paradigma fordista-taylorista e em consequência, naqueles países, as décadas de 1970 e 1980 foram períodos de reestruturação econômica e reajustamento social e político.

Segundo Marques (1998), o aceleramento da informatização não deixou de fortalecer em primeira instância o capital financeiro. Os novos sistemas de comunicação disponíveis em todo o planeta e integrados aos computadores criaram as condições de

viabilidade de uma flexibilização. Por isso, para Harvey (1998, p. 155), “a acumulação

flexível evidentemente procura o capital financeiro como poder coordenador mais do que o fordismo o fazia.”

O formidável aumento da capacidade de processar e transmitir informações, acompanhado de uma não menos formidável redução dos custos, não se faria também acompanhar de grandes transformações econômicas, sociais e culturais associadas à informática e às telecomunicações nas ultimas décadas (MARQUES, 1998, p. 51).

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da modernidade e, consequentemente, excluídos e desqualificados, todos os que não se

adaptarem à nova reciclagem e reconfiguração (CASTEL, 2005; PAUGAM, 2003 apud

PEREIRA, 2008).

Para entender o processo de reestruturação produtiva de capital é fundamental compreender o processo do sistema de acumulação flexível, este introduz nos diversos espaços produtivos, novos métodos, tecnologias, técnicas e cultura do produzir. Essas novas tecnologias permitem um salto na produtividade. Assim, a reestruturação produtiva inicia-se na década de 1970 nos países desenvolvidos e consolida-se na década de 1980. Porém, é a partir de 1980 que inicia-se nos países em desenvolvimento (PEREIRA, 2008).

Na primeira metade da década de 1980, as tentativas de reestruturação produtiva no Brasil praticamente não existiram. Todas as atenções estavam voltadas para a crise da dívida externa e a recessão econômica (baixo crescimento econômico, déficits no balanço de pagamentos e nas contas públicas, alta inflação) e o segundo choque do petróleo. No entanto, na segunda metade dessa década ocorrem impulsos significativos para reestruturação produtiva. Com a intensificação da busca de inovação tecnológica e organizacional inicia-se o processo de reestruturação produtiva no Brasil na segunda metade da década de 1980 (PEREIRA, 2008).

No Brasil, no final da década de 1980, dada a recessão econômica e o esgotamento do Modelo de Substituição de Importações (MSI), o governo brasileiro dá início ao processo de reestruturação da economia, caracterizada pela abertura comercial e financeira, adoção de câmbio flutuante, reformas fiscais e administrativas e privatizações estatais, buscando adequar a economia a nova ordem econômica (GIAMBIAGI, 2005).

Segundo Antunes (2005) existem três causas principais para o processo de reestruturação produtiva no Brasil. A primeira refere-se a necessidade das empresas brasileiras competirem internacionalmente em nível agressivo e concorrencial. A segunda consiste na implementação, por parte das multinacionais, de novas tecnologias de gestão e produção. A terceira consiste da necessidade das empresas nacionais corresponderem à maior competição nacional e internacional.

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em um processo de demissão, que atingiu os trabalhadores e suas lideranças sindicais (ALVES, 2000).

Foi somente na década de 1990 que consolidou-se a reestruturação produtiva no Brasil, com a abertura comercial que fez crescer o nível de competição das empresas brasileiras com as internacionais. Para isso, foi necessário as empresas nacionais se reestruturassem, ampliando a produtividade, cortando custos e implantando novas tecnologias poupadoras de mão de obra e produtoras de bens e serviços de elevada qualidade. Esse processo se fez junto com uma elevação do desemprego estrutural, que foi acentuado com a política deflacionária do Plano Real.

Nesse momento houve uma intensa procura por inovações para aumentar a produtividade e competitividade internacional, mas também uma preocupação nesse período por parte das empresas, pela qualidade dos produtos ofertados. Assim, entraram em cena os Programas de Qualidade e os produtos ficam sujeitos as normas de ISO 9000. A abertura comercial expôs as empresas nacionais à concorrência internacional, assim as empresas nacionais precisavam buscar a modernização para adquirir fatias de mercado ou até mesmo continuar no mercado.

Frente a essa concorrência internacional, o parque industrial brasileiro se modernizou. O setor industrial flexibilizou a organização do trabalho e da produção, desverticalizou e desconcentrou a produção (impondo uma nova divisão regional do trabalho), também introduziu novas formas de contratação de trabalho, aumentando a instabilidade dessas relações. Contudo, transformações na estrutura e organização da indústria brasileira bem como a política de estabilização do Plano Real reduziram a capacidade do setor industrial gerar empregos e elevou a taxa de desemprego no país, em 1989 esta atividade respondia por 27% do emprego formal existente, reduzindo para

20,1% do total em 1999 (ARAÚJO et alii, 2011). Levando-se em consideração o

período de 1990 a 1998, a maior queda aconteceu na região Sudeste, atingindo 20,6% sendo o estado do Rio de Janeiro com maior perda em relação ao emprego, com redução de quase 29%. As regiões que apresentaram maior crescimento industrial foram Centro-Oeste (41,1%) e Sul (2,79%) (LIMA, 2011).

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Tabela 3- População, participação relativa e taxa de urbanização das CMs-Ceará, Ceará  e Nordeste (1980 a 2010)
Tabela 4- Participação Relativa e Taxa de Crescimento do PIB industrial no Ceará e nas  cidades médias (1999 a 2009)
Figura 1- Localização das Cidades Médias Cearenses.
Tabela 5- Número de Estabelecimentos no setor industrial nas grandes regiões do Brasil  (1990 a 2010)
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Referências

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