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Significados de cuidado para crianças e adolescentes vítimas da violência doméstica.

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Academic year: 2017

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SIGNIFICADOS DE CUIDADO PA CRIANÇAS E ADOLESCENTES

TIMAS DA lOL�NCIA DOMÉSlCA1

TH E M EANING OF "CARE" FOR CHILDREN AND ADOLESCENTS WHO

HAVE S U FFERED DOM ESTIC VI OLENCE

LOS S I GNI FICADOS DE C U I DADO PARA NI NOS Y ADOLESCENTES

VíCTI MAS DE LA VIOLENCIA DOM ÉSTICA

Acione Lete da Silva 2 Cistina Vogel J Mirela Schmidt irgílio 4

RESUMO: Trata-se de um estudo fenomenológico hermenêutico, que teve como objetivo desvelar os significados de cuidado a partir da experiência vivida por crianças e adolescentes vítimas da violência doméstica. Foi desenvolvido em duas Casas-Lares, em Florianópolis, que funcionam em regime de abrigo temporário e excepciona l , para crianças e adolescentes do sexo masculino e feminino vítimas da violência doméstica . As descrições, obtidas nas respostas e desenhos de dezoito crianças e adolescentes do sexo feminino e masculino, possibilitou-nos caracterizar "o cuidado como forma de promoção da vida, de expressão do ser, de relação com o meio ambiente e , de negação de experiências vividas e de resistência para sobreviver."

PALAVRAS-CHAVE: cuidado, significados, violência doméstica

INTRODUÇÃO

o cuidado vem se tornando, na ú ltima década, u m tema presente na agenda de pesqu isa de mu itas/os enfermeiras/os brasileiras/os. Até o in ício da década de 90, este i nteresse era pouco evidente , tendo em vista o nú mero inexpressivo de estudos sobre o cuidado na literatura da enfermagem brasileira. Contudo, apesar do número crescente de estudos na área, podemos constatar a i nda a necessidade de investi mentos em estudos que contemplem as perspectivas ontológ i cas , e p i stemológ icas e meto d o l ó g i c a s na rea l i d a d e b ra s i l e i ra . Estudos q u e , ta mbém , extra polem a realidade hospita lar, trazendo contri buições para a vida e m fa m ília e em sociedade.

Pesq uisas que busquem a identificação da natureza , significação do cuidado na infância e adolescência podem nos auxiliar a entender o modo de vida de uma sociedade, a refletir sobre os valores hu ma nos fu ndamentais daquela sociedad e e a esta belecer estratégias de ação transformadora frente às necessidades q u e o viver impõe. Neste sentido, estes estudos podem,

1 Prêmio Edth Magalhães Fraenke, . luga; 52° CBEn, 2000.

2 Enfermeira. Doutora em Flosofia de Enfermagem. Professora itular do Depto. De Enfermagem da UFS. Coordenadora DIdático-Pedagógica do Curso de Doutorado em Enfermagem da UFSC e Coordenadora do Núleo de Pesquisa Cuidando-Confotando: Tecnologias Inovadoras pró Ser e er Saudáve.

3 Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da UFS. Membro do Núleo de Pesquisa CIdando-Confotando: ecnologias Inovadoras pró Ser e er Saudáve.

4 Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da UFS, Bolsista de Iniiação Científca (PIBIC). Membo do Núleo de Pesquisa Cuidando-Confotando: Tecnologias Inovadoras pró Ser e

í·ver Saudáve.

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ta mbém, abrir novos espaços de atuação para enfermei ras/os .

O cuidado guard a estreita relação com as nossas experiências de ser cuidado e cuidar, podendo, portanto , ser a prendido/ensinado. Várias/os a utoras/es concordam que a capacidade para cuidar pode ser estim u lada ou inibida pelas experiências d a criança ( Gaylin, 1 979, Roach, 1 987). Como bem refere Gaylin ( 1 979), a percepção d a criança - a experiência d e a mor e carinho ou a falta dela - i nfluencia e modela a maneira na q u a l a cria nça se relacionará com outros q u ando adu lto. Conseqüentemente, se a criança aprende a cuidar através da experiência de ser cuidad a , ela a prende a lição crucial em sua jornada em direção ao pleno desenvolvimento h u mano. Os significados q u e temos do cuidado podem emerg i r na i nfância , ou talvez a partir até mesmo d a vida i ntra-uteri na, pois mesmo sendo o feto incapaz de agir, ele não é inca paz de perceber e com esta percepção está aprendendo lições que nunca esq uecerá . Seg u ndo Gaylin ( 1 979), entre as l ições , a mais crucial é aquela que liga dependência , cuidado e sobrevivênci a . Estes significados , advindos das experiências na gestação e i nfância , n o s acom panhará n a v i d a ad u lta , podendo i nfluenciar a nossa forma de s e r e de c u i d a r do outro ( Silva, 1 998) .

Contudo há u ma i mensa lacuna acerca d e estudos nesta área . E mbora o cuidado venha sendo estudado em outras disciplinas ( Silva, 1 997), é na E nfermagem q u e estes estudos se sobressa e m , tendo em vista o fato d e ser ele a sua essência e razão maior de sua existência , enquanto d isci plina e profissão. Os estudos sobre a natureza e significação do cuidado para crianças e adolescentes, no â mbito nacional e i nternaciona l , são raros . N o Brasil, estes estudos têm foca lizado, basicamente, as percepções das/os cuidadoras/es e clientela em institu ições de saúde (Boemere Valle, 1 988, Silva, 1 998 , Waldo, 1 998, Gonzaga e Neves-Auda, 1 998a, b). Só recentemente a atenção é direcionada para crianças e adolescentes hospitalizados ( Gonzaga e Neves-Arruda, 1 998a, b ) .

Considerando as lacunas existentes e o fato de ser esta uma de nossas áreas de interesse, desenvolvemos , a nteriormente , u ma pesqu isa q u e teve como objetivo desvelar os significados do cuidado na perspectiva d e cria nças e pré-adolescentes, considerados sad ios ( Silva, Bellaguarda; Voge, 1 998). Os sign ificados encontrados relacionara m-se a promover e dar signiicado à vida, expressar o ser, educar para a vida e tomar conhecimento de si e do meio ambiente , os q u a i s a p a recera m i n t i m a mente relaci o n a d o s . Contu d o , estes significados, além de refletirem a concepção de u m número red uzido de crianças e adolescentes, relacionaram-se a uma clientela da camada média para alta , evidenciando os limites da a mostra . Naquele estudo, aventamos a possibilidade destes significados d iferirem sobremaneira daqueles tidos por crianças e adolescentes vítimas da violência doméstica o que nos motivou a desenvolver este estudo.

D u ra nte os ú ltimos a nos, constata mos u m i nteresse crescente acerca do problema d a violência contra crianças e adolescentes . A violência fa miliar é aquela q u e ocorre dentro do l a r e este vem sendo u m local m u ito com u m para a expressão da violência contra crianças e adolescentes, à med ida q u e nele se estabelece o confronto s u bjetivo e cotid iano da d isciplina, dominação e resistênci a , sendo, então , o lugar propício para manifestações de violência física , sexu a l , psicológica e da negl igência ( Camargo ; Burall, 1 998).

Violência orig i n a-se d o lati m violenfia e designa o ato de violentar, q u a lidade do q u e é violento, força empregada abusivamente contra o direito natura l , constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obrigá-Ia a praticar a lgo (Ferreira, 1 986).

Chauí caracteriza a violência a partir de duas vertentes :

E m primeiro lugar, como conversão de uma diferença e de uma assimetria n u m a relação hierárquica de desigualdade com fins de dominação, exploração e de opressão, ou seja, a conversão dos diferentes em desiguais e a desigualdade na relação entre superior e inferior. Em segu ndo lugar, como uma ação que trata o ser h umano, não como sujeito, mas como coisa . Esta se caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silêncio , de modo que q uando a atividade e a fala de outrem são impedidas ou anuladas, há violência. ( 1 985, p .28)

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Seg u ndo definição adotada pelo M i nistério d a Saúde (BRAS I L , 1 993), a violência familiar caracteriza-se por uma violência i ntra-classes socia i s , mas que permeia todas as classes sociais e está diretamente relacionada com a posição do poder adulto frente à criança , podendo configurar-se na forma de violência física , sexual , psicológica , bem como na forma de negligência , as q u a i s , ao nosso ver, estão i ntima mente relacionadas. A violência ísica corresponde ao uso da força física no relacionamento com a cria nça ou adolescente por parte dos pais, ou por quem exerce a utoridade no âmbito familiar. A violência sexual relaciona-se a todo ato ou jogo na relação hetero ou homossexua l , entre um ou mais adu ltos e u ma criança ou adolescente , tendo por finalidade estimulá-Ias/os sexualmente ou utiliza-Ias/os para obter estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa . Já a violência psicológica consiste em uma interferência negativa do adu lto sobre a criança e sua com petência socia l , conformando um padrão de comportamento destrutivo; tendo como formas mais comuns: rejeitar, isolar, aterrorizar, ignorar, corromper e cria r expectativas i rrea is ou extremadas sobre a cria nça e o adolescente. Por ú lti mo , a negligência caracteriza-se pela omissão da fam ília em prover as necessidades físicas e emocionais de uma cria nça ou adolescente , não decorrentes da carência de recu rsos sócio­ econômicos.

No Brasi l , pelo n ú mero de víti mas que vem prod uzi ndo, a violência contra a criança é considerada por mu itos a utores como u m problema de Saúde Pública . As estatísticas atribuem à violência o índ ice de 46 , 5% das mortes na fa ixa etária de 5 a 14 anos e 64 ,4% das mortes de jovens de 1 5 a 1 8 a nos (Melo Jorge; Minayo, citados em Camargo; Buralll; 1 998). No entanto, só recentemente foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA- Lei Federal 8 . 069 de 1 3/07/90) , que i nfel izmente , a i nda está mais no papel do que no corpo da sociedade.

Abordagens contemporâ neas da violência doméstica procu ra m entendê-Ia não como . uma fata lidade d a herança biológica , nem como decorrência de d i sfu nções sociais, na linha das teses ambientalistas de "cu ltu ra da pobreza" , marg i n a l ização, carência cultura l , dentre outras, mas como resu ltado de u ma interação entre fatores ind ividuais (biológicos e psicológicos) e sociais (econômicos, pol íticos e cu ltura i s ) (Azevedo, 1 997). N este sentido, pesq u isas i nternacionais ind icam que os maus-tratos existe m , ao menos e m potencia l , em todas as camadas soci ais e na maior parte das fa m í l ias ( Stevo, 1 999). Deste modo, concorda mos com Azevedo e Guerra ( 1 997) q u a ndo caracterizam a violência doméstica enqua nto fenômeno multifacetado, dependente da interação indivíduo-sociedade quanto à sua produção. Isto significa reconhecer que toda violência é social, histórica e, portanto, capaz de ser controlada e erradicada caso haja vontade pol ítica para ta l (Azevedo, 1 997).

Se a fa m í l ia é o lugar onde vivemos as pri meiras experiências de cuidado, isto é de ser cuidado e de cuidar, através da qual se dá, entre outros aspectos , a identificação socia l , o processo de social ização, a expressão da afetivid ade; se a capacidade para cuidar está diretamente relacionada às experiências de ser cuidada na i nfância e; se o cuidado é essencial para a expressão do ser, que concepções de cuidado teriam as crianças e adolescentes vítimas da violência doméstica? Em outras palavras, como uma cria nça que sofreu ou sofre algum tipo de violência entende ou percebe o que seja "ser cuidada"? Deste modo, o presente estudo tem por objetivo desvelar os significados de cu idado para a criança e adolescente vítima da violência doméstica .

METODOLOGIA

Este estudo foi desenvolvido com base na fenomenolog ia hermenêutica do educador norte-america no. Em u m am'plo sentido, a fenomenolog i a , para Van Manen ( 1 990), é a filosofia ou teoria do único; ela está interessada no que é essencialmente insu bstitu ível ; a hermenêutica , seg u ndo o autor, é o estudo interpretativo das expressões e objetificações dos textos da experiência vivida , na tentativa de determinar os seus significados; a fenomenologia descreve

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como alguém s e orienta para a experiência vivida , a hermenêutica descreve como alguém i nterpreta os "textos" da vid a . Apresenta mos , a seg u i r, as eta pas deste estudo.

F E NÔM E N O E PERSPECTIVA DO ESTU DO

O fenômeno escolhido para o estudo foi o cuidado, a partir de sua d i mensão ontológica . Ass i m , buscamos i nvestigar os significados do cuidado advi ndos das experiências vividas por crianças e adolescentes víti mas da violência doméstica . Alg u mas q uestões fora m priorizadas: Quem cuida de você? Como é este cuidado? Você poderia desenhar este cu idado? Você poderia explicar o seu desenho? Você poderia falar de situações em que as crianças não são cuidadas?

CONTEXTO DO ESTU DO

Este estudo foi rea l izado nas Casas-Lares5 São João da Cruz e Nossa Sen hora do Carmo, em Florianópolis-SC, q ue abrigam crianças e adolescentes do sexo masculino e feminino, respectivamente. O Projeto Casa-Lar constitu i-se numa a lternativa de atendi mento a crianças e adolescentes em regi me de abrigo de natureza residencial , provisório e excepcional, dentro dos d itames legais, estabelecidos pelo Estatuto da Criança e Adolescente . É desti nada a abrigar crianças e adolescentes que têm seus direitos básicos ameaçados ou violados , seja por omissão ou abuso dos pais ou responsáve l , seja pela sociedade ou mesmo por parte do Poder Público . Deste modo, a Casa-Lar é u m lugar q u e oferece proteção às crianças e adolescentes e d eve propiciar-lhes oportu nidade de participar na vid a da com u n idade loca l , como também util izar recursos que ela oferece , como escolas, áreas de lazer, centros méd icos , dentre outros q u e oferece proteção à cria nças e adolescentes .

Conforme determina o artigo 92 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (BRAS I L , 1 99 1 ), o Projeto Casa-Lar adota o s seg u i ntes critérios : 1 ) preservação d o s vínculos familiares ; 2) i ntegração em família su bstituta , q u a ndo esgotados os recursos de man utenção na fa mília de origem; 3) atendimento personalizado e em pequenos grupos; 4) desenvolvimento de atividades de reg i me de co-ed ucação; 5) não-desmembramento de grupos de i rmãos; 6) preservação , sempre q u e poss íve l , da cria nça e adolescente n u m ú n ico abrigo, evita ndo-se, dessa forma , sua transferência para outra instituição; 7) participação na vida da comunidade loca l ; 8) preparação gradativa para o desligamento ; 9) participação de pessoas da comu nidade no processo educativo. A Casa-Lar tem por objetivos : 1 ) asseg u rar à criança e ao adolescente a i ntrojeção de va lores sociais e cu lturais n u ma rea lidade mais próxima poss íve l no contexto fa miliar, a fim de q u e se torne agente de seu próprio processo d e desenvolvimento ; 2) gara ntir a apl icação dos princípios constantes no ECA; 3) s u bstitu i r o paternal ismo pela postu ra de orientação a partir da necess idade i n d ivid u a l ; 4) a d otar a d eq u ad a m e nte o conceito de respo nsa b i l i d a d e , principa lmente pela rea lização de tarefas na Casa-Lar; 5) com promissar a comu nidade na participação do processo educacional da criança abandonada e ; 6 ) priorizar a freq üência da cria nça e do adolescente à escola e à profissiona lização.

As crianças e adolescentes são encaminhadas à Casa-Lar através do J u izado da I nfância e da J uventude, ou do Conselho Tutelar, sendo que neste ú ltimo caso, a autoridade jud iciária deve ser com u n icada até o seg u ndo dia úti l .

CARACTE RíSTI CAS DAS/OS PART I C I PANTES DO ESTUDO

Participaram do estudo ci nco crianças d e ci nco a d ez anos, das quais duas era m do sexo feminino e três do sexo mascu lino, e treze adolescentes de onze a q u i nze anos, sendo

5 O estatuto da Criança e do Adolescente não utIiza essa terminologia, sendo esta utilizada no Projeto desenvolvIdo em Santa Catarina.

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seis d o sexo fem i n i no e sete d o sexo mascu l ino, total izando dezoito crianças e adolescentes6. O tipo de admissão das crianças e adolescentes nas Casas-Lares foi d ecorrente na sua quase totalidade de violência física , somando-se no caso de duas adolescentes a exploração no tra b a l h o . As a g ressões físicas fo ram comet i d a s p e l a m ã e , p a i , tios e p a d ra sto , respectivamente . Foram inclu ídos no estudo dois meninos com tipo de admissão por morte de ambos os pais e abandono/rejeição da mãe e, uma menina por abandono/rejeição do pai , a pós a morte da mãe .

Todas as crianças e adolescentes a brigadas nas Casas-Lares desenvolvem d iversas atividades. Dentre elas destacamos a freqüência a escola pública, atividades esportivas (escola de futebol , natação), partici pação em cursos (reciclagem de papel, computação e reforço escolar), atividades rel ig iosas (cateq ueses e missa). Um fato q u e nos chama a atenção é q u e das/os dezoito crianças e adolescentes , somente três delas e um deles fazem acompanhamento psicológ ico e participam em terapias de grupo. Somente uma das meninas trabalha como babá . Todas/os de um modo gera l desenvolvem tarefas na Casa-Lar, inclu indo, no caso das/os ma iores, o auxilio no cu idado das/os menores .

O gau de escolaridade variou d a primeira a sexta série, sendo que u m menino cursava supletivo do pri meiro gra u . A g rande ma ioria das cria nças e adolescentes de a m bos os sexos apresenta atraso escolar que variam de um a oito anos, com uma méd ia em torno de dois i três anos. De um modo gera l , evidenciam d ificuldades em expressar suas idéias por escrito e de forma ora l , demonstrando também pouca capacidade na expressão estética de seus desenhos , quando considerados a idade e o n ível de escolaridade.

Embora as Casas-Lares se caracterizem pela forma de atendimento provisório, verificamos q u e o tempo de permanência das crianças e adolescentes variou de oito meses a oito anos, sendo a média para as meninas e men inos em torno de dois a três anos.

DESCRiÇÕES EXPERI ENCIAIS DO C U I DADO

Para Van Manen ( 1 990 ) , o processo de obtenção das descrições experienciais do fenômeno envolve observação e entrevista . A observação envolve uma atitude de proximidade, mantendo, contudo, um estado de alerta em relação à situação, que nos permita constantemente voltar atrás e refletir sobre o seu significado. A entrevista , por sua vez, é u m meio para explorar e obter narrativas experienciais e um veícu lo para se estabelecer u m diálogo com participantes sobre os significados da experiência .

No período esti p u l a d o , as e ntrevistadoras permanecera m no loca l , sol icita ndo a a utorização das/dos responsáveis e convidando as crianças e adolescentes a participarem. No primeiro momento, após as apresentações, foram explicados o objetivo, metodologia e possíveis contri bu ições do estud o , bem como asseg u rado o anoni mato das/dos partici pantes e a confidencial idade das i nformações. As identificações e as informações, obtidas nas entrevistas, foram registradas pelas entrevistadoras no lado oposto da folha do desenho, e gravados com a a utorização das/os participantes . As entrevistas foram tra nscritas cuidadosamente para evitar poss íveis erros e , ass i m , a preender com exatidão o teor das descrições .

REFLEXÃO FENOMENOLÓG I CA H ERMEN ÊUTICA

O propósito d a reflexão fenomenológica é tentar desvelar o significado essencial de u m fenômeno. Esta etapa incl u i dois momentos : desenvolver u m a análise temática e identificar os temas essenciais. Van Manen ( 1 990, p. 90) definiu o tema como uma descrição da estrutura da

6 O crléio para a definição do peíodo que caracteizou a infânia e adolescênia foi adotado da OM.O nome das crianças e adolescentes apresentados no estudo foi alterado para assegurar o anonimato .

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experiência vivida: "metaforicamente falando, o s temas são mais como nós n a s teias de nossas experiências, ao redor das quais certas experiências são tecidas e , assi m , vividas através d e u m todo sign ificante" .

Esta etapa foi precedida pela leitura e releitura das descrições , ju ntamente com a análise dos desenhos, em grupo, para que todas as pesquisadoras tivessem uma visão geral do conjunto. Com base nas d escrições , identifica mos os s u b-temas, os q ua i s fora m agrupados em suas especificidades, nos possibilitando identificar os temas pri ncipais. A a n á l ise temática e a identificação dos temas nas descrições foram acompanhadas de revisão cu idadosa e repetidas das informações. Neste processo, procuramos manter u ma constante orientação para o fenômeno do cuidado, bem como para as partes e o tod o .

ESCRITA FENOMENOLÓG I CA HERMEN ÊUTICA

Seg u ndo Van Manen ( 1 990), o ato de escrever a pesq u isa não constitu i u ma eta pa final do processo d a pesq u is a , mas permei a todo o processo. Para o autor, escrever sign ifica criar relações significantes em q u e o padrão sign ifica nte destas relações se condensa em um d iscu rs ivo todo , q u e nós podemos chamar de "teoria" . Contudo, a teoria tem de ser teoria do ú n ico , do particular, daq u i lo q u e é essencialmente insu bstit u ível . Para o autor, a escrita é o m é t o d o e está p rox i m a m e nte l i g a d a à a t i v i d a d e d e p e s q u i s a e à refl e x ã o e m s i . Conseqüentemente, a escrita medeia a reflexão e a ação. A escrita envolve uma reflexão textual, no sentido de separar e confrontar-nos com o q u e con hecemos, d ista nciando-nos do m u ndo vivido, descontextual iza ndo nossas preocupações d a ação imediata , a bstra i ndo e objetiva ndo nossa compreensão vivida , a partir de nosso envolvimento concreto .

Escrever e re-escrever as descrições do fenômeno nos proporcionou u ma compreensão lingü ística dos significados do cuidado, exigindo um constante retorno às d escrições . A reflexão sobre os dados facilitou o processo de articu lação e re-articulação dos significados . N este processo , buscamos o a poio na l iteratu ra de enfermagem e de o utras áreas correlatas.

P R I N C íP I OS ÉTI COS DA PESQ U I SA

Este projeto foi su bmetido e aprovado pelo Comitê de Ética e m Pesq u isa com Seres H u ma nos , respeitando, ass i m , as d i retrizes e normas da Reso l u ção n ° . 1 96 e 251 .

SIGNIFICADOS DE CUIDADO

A análise temática das descrições fornecidas pelas crianças e adolescentes, possibilitou­ nos evidenciar q uatro temas essenciais, que caracteriza m o cuidado como forma de promoção da VIda, de expressão do se, de relação com o meio ambiente, de negação das expen'ênias viVIdas e de resistênia para sobrevive, os q uais apresentamos a seg u i r.

O C U I DADO COMO FORMA D E PROMOÇÃO DA V I DA

O cuidado emerge enquanto u m conceito complexo q u e se traduz em uma mu ltiplicidade de perspectiva s . Embora os desen hos pouco expressem o cuidado, é na entrevista que ele toma form a , ora expressa através de frases afirmativas acerca do que é o cuidado, ora através de frases negativas, apontando o q u e o c/dado não é. Soma m-se a estas d i m ensões as respostas acerca do q u e se constitu i o não cuidado. M u itas das cria nças e adolescentes de a m bos os sexos , após especificarem sua compreensão sobre o cuidado , term i n a m por d izer q u e não sabem o q u e é o cu idado, man ifestando d úvidas acerca de suas respostas.

As concepções d e cuidado aparecem d e u m modo geral ligadas à vida na Casa-Lar e

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particularizadas e m situações concretas d o cotidiano. Nestas circunstâncias, fica pouco evidente na fala das crianças e adolescentes, i ndependente do sexo, a ligação do cuidado com a fam ília de origem.

Para as cria nças e adolescentes , o cuidado está direta mente l igada à satisfação de um conj unto de necessidades indispensáveis à vid a , q u e incluem alimentação, higiene, vestuário, social ização, lazer, educação e org a nização da casa onde vive m . Estas características do cuidado se ressaltam mesmo q u a ndo q u estionadas acerca do não cuidado. Deste modo ,

CIdado é uma casa. Uma casa a gente tem cuidado. Não morre de fome, tem cobeto; tem travesseiro, tem comida, estudo, tem dia de bincá. CIda do outro também ( Mário, 1 0 anos).

Aqui elas lavam as nossas roupas, ela faz a nossa comida, tem horáio de estuda; horário de ir pro banho. las cIdam de nós (Al ice, 1 3 anos ) .

Quando ela não liga para outra pessoa, não dá comida, não dá roupa; quando a pessoa ta doente não le va no médco, não dá roupa e outras coisas (Mari n a , 1 2 a nos ) .

Q u a n d o relacionado à ed ucação, o cuidado tem a fi nalidade de prepará-los/as para o futuro , para u ma vida mel hor. E m bora , para u m peq ueno número d e crianças e adolescentes , os pais sejam citados como sendo aqueles q ue real izam as ações ed ucativas, muitos/as deles/ as não têm este a ntecedente e m suas h i stórias de vid a . Neste sentido , pa rece mais como sendo u ma ação que deveria ser real izada por eles .

Os pais cuidando do ilho, o ilho não biga na escola sempre, oientando ele pra estudar bem, prá quando crecê não ser que nem essas pessoas que tão debaixo da ponte (Adriano, 1 2 anos).

As ações ed ucativas englobam as perspectivas fomal e infomal e se situam na dimensão temporal e espacial, que se restringem ao tempo de permanência na Casa-Lar. Destaca­ se na infomal a d efi nição de l i m ites e de deveres , tais como o esta belecimento de horários para as d iferentes atividades, bem como a d ivisão de tarefas relacionadas à organ ização do ambiente e de cuidado com as/os menores . Para as crianças e adolescentes em fase escolar, as ações se estendem para o auxílio nas tarefas escolares, realizadas por volu ntárias, e incentivo à educação formal . Ressa ltamos, aq u i , o fato destas ações não ocorrerem em circu nstâncias carregadas de emoção e afetividade, como foi encontrado em estudo anterior de SIlva, Bellaguarda e Vogel( 1 998 ) , com crianças sem a ntecedentes de violência doméstica .

O cuidado aparece com muita freqüência l igado ao atend imento em situações de doença ou acidente (queda ) , na forma de encaminhamento ao méd ico e hospita l . Como nas situações anteriores , a pessoa citada é aquela q u e cuida na Casa-Lar. A elevada freq üência com que esta dimensão do cuidado aparece, no estudo, contrasta com a pequena freqüência com que aparece no estudo de SIlva, Bellaguarda e Vogel( 1 998). Talvez este fato se deva às melhores cond ições de vid a , por se tratarem de crianças e adolescentes de classe méd ia para a lta .

Enquanto no estudo de Silva, Bellaguarda e Vogel( 1 998) a mãe assume, para as crianças e adolescentes , um papel de destaq ue na garantia direta da manutenção e desenvolvimento da vid a , neste estudo, as tias ocu pam este lugar. No entanto , háa consciência da tempora l idade destas pessoas em suas vidas e delas não fazerem parte d a suas fa mílias de origem . F ica , assim, evidente na fala de algumas cria nças e adolescentes , o fato delas não ocu parem o papel que deveria ser assumido pela própria mãe.

No entanto , para várias das cria nças e adolescentes, a mãe se configura naquela que o

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agride fisicamente , ou q u e o a bandona e o coloca em situações de violência por parte d o s tios , ou q u e silencia , manifestando a a usência de qualq uer movimento para i mpedir a agressão física cometida pelo pai ou padrasto . I sto parece decorrer do fato de não termos nos deparado com s itu ações de violência sexu a l , em q u e os estudos a ponta m o pai como principal agressor

( Camargo e Bura//, 1 998 ) .

E m g r a n d e parte das vezes em q u e a mãe é a agressora , ela t e m novo parceiro e com mais fil hos dele. Aq u i , o cuidado aparece , ta mbém, como proteção contra a mãe .

Se eu tivesse com a minha mãe agora eu taria ruim (An a , 1 0 a nos ) .

Quando a mãe ganha neném daí às vezes abota o u dà pra Casa Lar cuidar assim, não cuidardo neném, é não cIdado (Al ice , 1 3 anos ) .

Se eu tivesse com a minha mãe, a tia visse, não falasse nada. la não taia cIdando de mim (An a , 1 0 a nos) .

Percebemos , neste estudo, que em todos os casos de violência física , o/a agressor/a faz parte do sistema fa m i l iar, convive com as crianças e adolescentes, ma ntém com eles/as laços de a utoridade, no papel de mãe, pai , padrasto ou tios . O sistema fa miliar, por sua vez, se caracteriza pela pobreza, desajustes, separações e violência. Estas características são relatadas

por Daro e Stevo ( 1 999), q u a ndo referem q u e cada vez mais, as crianças encamin hadas ao

serviço de proteção vêm de situações fa m i l iares problemáticas e caótica s ; abuso paterno , parceiros violentos e vários outros fatores de risco pessoa l e a mbienta l , tornando cada vez mais d ifíci l , para as agências do bem-estar da criança , gara ntir a segura nça de u ma cria nça em seu lar. No entanto , este fato i ndepende da camada social, como afirma m Azevedo e Guerra ( 1 997), tendo em vista o relato de fu ncionárias do Serviço de Proteção à Criança e Adolescente , q u e afirmaram , também, atenderem casos de violência advindos de classe méd ia e a lta , sendo que estes são "a bafados" e resolvidos pelos fam i l iares, não tendo , portanto , o mesmo desfecho daquele das classes mais baixas.

A família traz em seu bojo u m papel determi nado no desenvolvimento d a sociabilidade, do bem-estar físico e d a afetividade dos indivíd uos, sobretudo dura nte os períodos da i nfância e adolescência ( Camargo e Bura/!; 1 998 ) , q u e se constitue m em etapas de vulnerabilidade na vida d e cria nças e adolesce ntes . Contu d o , para as/os participa ntes d este estud o , esta vulnera bilidade se acentua face à cond ição de excl usão da fa m ília de origem pela violência física, abandono/rejeição, bem como pelas péssimas condições de nutrição, educação, habitação, dentre outras.

No enta nto , a Constitu ição Federal ( B RAS I L , 1 988), no seu artigo 227, determ i n a : " É dever da Família, da Sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com a bsoluta prioridade, o d i reito à vid a , à saúde, à a l i mentação, à ed ucação, ao lazer, à profissional ização, à cu ltura , à dignidade, ao respeito , à l i berdade, à convivência fa miliar e comu n itária , além d e colocá-los a salvo de toda forma de negligência , d iscriminação , exploração, violência , crueldade e opressão."

Verificamos, então, a utopia desta Constitu ição , principal mente q uando as condições a q u e está s u bmetida uma parcela considerável das crianças e adolescentes brasileiras/os se contrapõem frontalmente ao estabelecido por lei. Deste modo, à negligência d a família soma-se a omissão d a socied ade, que se forta lecem pela falta de com prom isso do Estado, que não cumpre seu papel de garantir os direitos fundamentais de desenvolvimento físico, menta l , mora l , espiritua l e social da pop u lação i nfanto-j uven il (Barbosa, 1 999).

A crise econômica , pol ítica e social sofrida pela sociedade brasileira vem a u mentando seu em pobrecimento , agravando a exclusão socia l e privando de d i re itos fu ndamentais uma

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parcela cada vez maior d a população . I sto s e d eve à concentração d e riq uezas por parte de uma m i noria em detri mento da q u a l idade de vida da maioria (Barbosa, 1 999). F ica , ass i m , evidente que o problema da vitimização n ã o t e m ra ízes apenas no p l a n o fa miliar, m a s faz parte de um contexto social mais amplo e profu ndamente i nj usto e desig u a l .

Mesmo diante d a s experiências d e violência e exclusão familiar, a compreensão do cu idado é expressa como sendo vita l para a promoção d a vida das cria nças e adolescentes , a q u a l se relaciona a mu itos dos d i reitos q u e constam no artigo 277. Como refere Angélica , uma menina deste estudo, d e cinco a nos: CIdar é a Vida, é cldar da vida direito, oucomo afirma Colliêre ( 1 989, p.27), .. . " é preciso 'tomar conta d a vida' para que ela possa permanecer. "

o C U I DADO COMO FORMA D E EXPRESSÃO DO S E R

A expressividade do ser, ao s e r valorizada pelas cria nças e adolescentes , aparece diretamente associada à promoção da vida . Como notara m Silva, Bellaguarda e Vogel( 1 998), esta associação parece ser uma característica cultura l , ou diríamos mesmo humana do cu idado, tendo em vista que aparece em outros estudos desta natu reza , como os de Silva ( 1 998) e de

Gonzaga e Neves-Armda ( 1 998a ,b).

As formas de expressividade a pontadas são dar carinho e a mor e, dar a poio e proteção. As referências do cuidado como afetividade aparecem com maior freqüência na fala das crianças e adolescentes do sexo masculino, em detri mento do feminino. Tal fato parece estranho quando é cu lturalmente reconhecida esta forma·de expressão e valorização, como sendo fem i n i n a . Esta remos vivenciando muda nças n o s padrões de expressão d e gênero , cultura l mente estabelecidos?

Segu ndo Silva, Bellaguarda, Vogel ( 1 998 ) , a valorização da capacidade do ser em expressar afetividade, em apoiar e incentivar o viver amoroso é justificável dada a sua importância não somente no desenvolvimento do ser humano, como também no desenvolvimento do cuidado do ser h u mano. Gaylin ( 1 979) ta mbém refere q u e o período i nfa nto-juvenil é crucial para o desenvolvimento de u ma pessoa q u e ama e é amada, q u e tem emoções , e q u e é capaz de altru ísmo e esperança . Contudo, u m pouco menos da metade das/os participantes se referem a esta característica do cuidado, o que contrasta com as cria nças e adolescentes sem história de violência doméstica , estudados por Silva, Bellaguarda e Vogel( 1 998). Considerando o exposto, podemos s u por a possibilidade de m u itas das crianças e adolescentes, deste estudo, terem suas capacidades de expressar sua afetividade e de cuidar de si e do outro comprometidas, em fu nção das experiências vividas.

Tal suposição encontra apoio em estudos que apontam os conflitos familiares, a negligência e as punições físicas como geradores, nas crianças e adolescentes, de medo ou raiva permanente contra os adu ltos , além de afetar a sua auto-estima (Barbosa, 1 999). Soma-se a isto, como afirma o autor, o fato da criança e adolescente tentar, com freq ü ência , seg u i r os padrões de comportamento violento ou auto-destrutivo dos pais ou do n úcleo fa miliar onde crescera m . Constatamos, no histórico de alguns adolescentes do sexo mascu lino, comportamentos de violência d irigidos contra a professora e outras pessoas de seu círculo famil iar.

Quando a expressão afetiva emerge na fa la de cria nças e adolescentes , tanto do sexo mascu lino como feminino, aparece ligado à fig u ra das tias da Casa-Lar. Somente as poucas crianças e adolescentes , ófãos de mãe, se referem à ela como aquela que cuid ava , que dava carinho, a ntes de ir para a Casa-La

.

Fazi a m , assim , q uestão de enfatizar: ela nunca me bateu.

A expressão afetiva emerge como necessidade h u ma n a , q u e confere à existência u m sentido de segurança e de va lorização do outro . Chama a atenção aqui a ênfase em frases negativas.

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Porque uma pessoa também precisa de amo; cainho, respeito, preisa de um monte de coisa. Então se a gente não dá isso pra essa pessoa ela ica assim sem cuidado. Por

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exemplo, se não tem respefo por mim eu não posso ter respefo pela outra pessoa (Juliana, 13 anos).

Édexarjogado na rua, não dar carinho, roupa (Marina , 1 2 a nos).

o cuidado enq u a nto proteção é m u ito valorizado pelas crianças e adolescentes , dada a freq üência com q u e emerg e , d e u m modo gera l , nas fa las. No entanto, a pesar da freq ü ência elevada , tal concepção parece mais evidente na fa la das crianças e adolescentes do sexo fem inino, em relação ao mascu l i n o . Deste modo , enquanto a d i mensão afetividade é mais verbal izada pelos meninos, a proteção se sobressai u m pouco mais na fala das meninas. Neste sentido , o cuid ado como forma de proteção extra pola a vida das cria nças e adolescentes para englobar outros seres e o meio ambiente .

CIdar é proteger os outros, a natureza, os animais, você (Ana , 1 0 a nos ) .

Destaca-se a ambivalência q u e permeia a fala de u m n ú m ero pouco significativo d e crianças e adolescentes, quando, a o conferirem a o cuidado o sentido de estar protegido, seguro , o atri buem como responsa bilidade da mãe, mesmo q u a ndo esta se constitu i na agressora , naquela q u e o/a violentou fisica mente e o/a abandono u .

Cuidar é proteger o outo, como a mãe protege o filho (An a , 1 0 a nos).

C h a mou-nos a atenção o fato de q u e enq uanto m u itos dos sign ificados, expressos e m frases afirmativas, estejam l igados à vida atua l na Casa-Lar, o s expressos de forma negativa ou na forma de não cuidado parecem estar vincu lados às experiências de a meaça à vida .

CIdar é não mexer em coisas peigosas, e. faca, arma ( Rose , 1 3 a nos ) .

Cuidar é não deixar a gente se queima. ratar a gente bem. Não tratar a gente com violênia(Letícia , 1 4 anos) .

Por exemplo, a mãe tá atravessando a rua daí ela larga o ilho. O ilho morre atropelado (An a , 1 0 anos).

Tanto as expressões negativas de cuidado como as de não cuidado evidenciam a percepção de vul nera b i l idade das crianças e adolescentes e de dependência dos adu ltos.

Bater nas pessoas, não cuida; assim, bate nas pessoas quando a pessoa não faz nada ( Roberto, 7 anos).

É assim se alguém se machuca assim, deixa ele machucado, ele se machuca e eles não cIdam. Assim, deixa apronta um monte assim, pode se machucá, pode até morrer (Augusto , 1 4 anos).

Não cIdá é quando uma pessoa tiver assim doente, pedindo socorro e a outra pessoa nem liga e nem dá bola (Saulo, 7 a nos).

Não cuidaré bater nas pessoas, não cldardirefo das pessoas, é fazer o mal(Carl a , 1 4 anos).

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Quando uma pessoa mata outra pessoa, então não tá cidando ( M á rio, 1 0 anos ) .

A família é u ma organização por excelência para o desenvolvimento e aprend izagem d o cuidado, uma vez que e l a é ( o u deveria ser) o local da concretização da afetividade, amizade e solidariedade ( Silva, Be//aguarda, Voge, 1 998). No entanto , para os/as participa ntes deste estudo, a fa mília emerge enqua nto loca l da violência , do aba ndono e da rejeição, o que se reflete na ausência do ambiente fa miliar e de expressões de afetividade nos desenhos , bem como à pouca referência em suas falas, quando comparado aos participantes do estudo daqueles autores . N este sentido, fica a mensagem do ú n ico menino, deste estudo, q u e desenha uma coração para representar a necessidade de amo, pa, sossego e amizade (Alex, 1 2 a nos) .

o C U I DADO COMO FORMA D E RELAÇÃO COM O M E I O AM B I E NTE

O C u idado é fu nda menta l nos pri meiros a nos de vida , em que a cria nça i n icia suas pri meiras incursões na tomada de consciência de si e do seu meio a mbiente . No estudo de

Silva, Be//aguarda e Voge/( 1 998), com cria nças e adolescentes sem a ntecedentes de violência

doméstica , este significado do cuidado é basta nte evidente . Os desenhos obtidos por elas retratam seus lares , seus pais, evidenciando situações vividas e a afetividade presentes nelas, através do desenho de corações, interpretados pelas crianças e adolescentes como sentimentos de amor, de afeto. Ao falarem sobre aquele "lugar" , elas deixavam evidente não se tratar somente de uma casa ou residênci a , mas como sendo um "lar" , o "seu l ugar" no mundo, que parecia dar às suas vidas u ma estabi lidade básica .

N este estudo, chama a atenção os desenhos da q u ase total idade das cria nças e adolescentes, independente do sexo. Os desenhos retratam elementos da natureza , sem qualquer vínculo com pessoas ou acontecimentos de suas vidas, seja na família ou na Casa-Lar. Assim, as poucas pessoas que aparecem em alguns desen hos são estranhas, sem vínculo com eles/ aS. A ú nica criança que desenhou u ma pessoa fam i l iar, no caso sua mãe, tinha sete anos. Seu desenho evidencia uma m u l her tota l mente deformad a , com poucas características h u ma nas. Quando sol icitada a falar de seu desenho refere não se lembrar da mãe, q u e a viu só u ma vez e que está a l i por que ela mando u . Contudo, em sua compreensão do cuidado ele refere : cidá

é fica, assim, peto da mãe (Beto , 7 a nos) .

Esta percepção j u stifica-se pela desestrutu ração e afasta mento d e seus lares. Para eles/as, parece não haver u m lugar seguro , no q u a l a estabilidade possa dar u m sentido em suas vidas. Têm consciência da transitoriedade de sua situação na Casa-Lar, apesar de terem uma média de permanência em torno de dois a três a nos. M u itas não têm como retornar a seus lares e algumas man ifesta m sua recusa erl fazê-lo e , então , aguardam u ma possível ad oção . Deste mod o , suas condições de vida se ca racteriza m pela i nsta b i lidade, pelo desconhecido, que reafirmam sua cond ição de não ser, de não pertencer a seus pais e mesmo ao seu ambiente atu a l .

Deste modo , mesmo d ispondo de algum conforto , d ivid i ndo c o m outros ou outras o mesmo q uarto , a mesma casa, esta não lhe pertence , nem os objetos q u e a compõem. Por outro lado, as tias, que se revezam no cuidado d eles/as, são tra nsitórias, na medida em que são contratadas para este serviço. Convivem com a ausência das mães, dos pais quando os têm , e principal mente dos/as irmãs, sendo q u e m u itos deles/as estão ta mbém em casas similares, ou já foram adotados/as por outras fam ílias.

M u itas crianças e adolescentes deixa m evidente em suas falas, a sua cond ição de vulnerabil idade em relação às pessoas ou mesmo em relação ao meio, a qual emerge de suas experiências vividas que se mostram a meaçadoras. Na história d e vida de a lg u mas destas crianças e adolescentes há s itu ações de envolvi mento de d rogas pelos pais ou por um deles , de prisão e de assassinato da m ã e na sua presença , d o s irmãos e das irmãs .

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Cuidaré tá vendo se não vem ninguémpra matar(Sa manta , 1 4 anos).

A gente tem que se cuidar e cuidar dos amigos. A gente se protege, por exemplo, quando a gente sabe, assim, que o lugar onde a gente ta morando é peigosos, a gente não tranca apota?(Marta , 1 0 anos).

Para algu mas crianças e adolescentes , face a indeterm inação de suas vidas futuras, convivem com a a mbivalência de terem a poss i b i l idade d e u m novo lar, se adotadas, e d e desejarem ter pod ido estar com s u a s fam ílias. Perpassa, assi m , em s u a s falas o desejo de q u e tudo pud esse ter s i d o d iferente . Mesmo frente a possibilidade d e u m novo lar, expressa m n ã o saber como serão cuidadas neles.

Na Casa-Lar, crianças e adolescentes aprendem a conviver com uma nova realidade, que manifestam , na sua maiori a , gostar. Aprendem a ter responsa bil idade por tarefas, a seg u i r horários pré-esta belecidos e a conviver c o m outros/as de d iferentes idades e vindos/as d e cond ições semel hantes . Convive m , também, c o m a responsa bilidade d e auxiliar no cuidado dos/as menores .

Algumas meninas arrumam o meu guarda oupa. As vezes quando eu tô com muita pressa e eu não posso fazer assim, hoje, de eu arruma a cozinha, ai se eu não posso r

vai outra menina no meu luga, ai quando aquela menina não puder eu vô no lugar dela outro dia (Rita, 13 anos).

Na Casa-Lar, recebem i n ú meras visitas e s u pervisões , e convivem com pessoas q u e exercem trabalho voluntário, n e m sempre permanentes. Convivem, também , com a preocu pação das tias com a organização, devendo sempre estar tudo arru mado. Deste modo, a característica do ambiente d ifere em m u ito de u m lar, em q u e nem sempre há uma grande freq üência d e pessoas , mu itas vezes estranhas, nem a preocu pação excessiva com a organização . Ass i m , embora n ã o ten h a m como fazer comparação , a Casa-Lar a i nda se constitu i na melhor possibilidade existente , face às condições a nteriores , d e pobreza , necessidade e violênci a .

Se cuidar do "lugar de todos o s d ias" aj uda a percebê-lo como extensão de s i e , ass i m , a perceber-se como u m s e r ligado ao outro e ao m e i o ( SIlva, Bellaguarda e Voge, 1 999), no caso das crianças e adolescentes, deste estudo, tal consciência parece prejudicada , na medida em que as condições de vida existentes não propicia um senso de estabilidade e de pretença em seu viver.

o CUIDADO COMO FORMA DE NEGAÇÃO DAS EXPERI ÊNC IAS VIVI DAS E DE RESISTÊNCIA PARA SOB REVIVER

Como observara m Silva, Bellaguarda e Vogel ( 1 998 ) , o recon hecimento das ações d e cuidado fu ndamenta-se n a s experiências i nteriorizadas e vividas pelas cria nças e adolescentes . N este sentido, verificamos q u e m u itos dos sign ificados de cuidado relacionados à satisfação de necessidades vita is para a sobrevivência e para o desenvolvimento do ser aparecem ligados à sua vida na Casa- Lar. F ica , ass i m , evid ente que mu itas das falas deles/as restringem-se a u ma realidade d i retamente acess íve l à percepção e à manipu lação . N estas situações, elas se coloca m como s ujeitos q u e recebem a ação d e cuidado.

Este fato se contra põe às experiências negativa s , nas q u a i s suas pos ições são indeterminadas , ou as ações são d irigidas a outras pessoas, não se colocando, como sujeitos que recebem a ação de não cuidado. M u itas ao serem q u estionadas sobre o não cuidado apontam-no como sendo mItas coisas, mas eu não me lembro (Marcelo, 7 anos). Verificamos

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ta mbém a alegação d e outros motivos que não a violência física para estarem n a Casa-Lar, ta is como, minha mãe mudou de casa ou ela preisou me colocar aqI; mas logo virá me busca. Verificamos, a í , a negação da situação vivida , de uma situação que causa dor e vergonha . Neste sentido, negar aquilo que não podemos enfrentar pode ser também uma forma de cuidar de si, de proteger-se de u ma rea lidade d ifícil de ser revivida . No depoimento das tias , ficou evidente que as crianças e adolescentes não gostam de falar sobre suas experiências, ficando em silêncio ou mudando de assu nto q u ando q u estionadas acerca das mesmas.

Contudo, elas conti nuam suas vidas, desenvolvendo i n ú meras atividades, participando da nova realidade e se preparando para um futuro incerto, evidenciando uma força que as fazem resistir para poderem sobreviver. Podemos , assim, d izer que mesmo nas cond ições em que se encontram , demonstra m esperanças, q u e são retratadas na grande maioria dos desen hos e verbalizadas por eles/as, através do cuidado que a natureza nos proporciona , do sol que bilha e faz bem, das ávores que dão frutos e matam a fome, do arco-iis que tona o céu mais bonito.

CONSIDEAÇOES FINAIS

I nvestigamos, neste estudo, os sign ificados de cuidado para crianças e adolescentes víti mas de violência doméstica , retirad as do pátrio poder e a brigadas em Casas-Lares. Os sign ificados encontrados caracterizara m o cuidado como forma de promoção da vida, de expressão do ser, de relação com o meio ambiente, de negação das experiências vividas e de resistência para sobreviver. Considerando o fato de não termos encontrado estudos desta natureza na literatu ra nacional e i nternacional, tomamos o estudo de Silva,

Bellaguarda e Vogel ( 1 998) como parâ metro de correlação dos sign ificados encontrados ,

princi palmente por ter a mesma natu reza deste , como , ta mbé m , por eleger como participa ntes crianças e adolescentes de classe média para alta , sem antecedentes de violência doméstica . Neste sentido, três dos sign ificados encontrados por elas , aq u i , ta mbém a parecem como o cIdado como forma de promoção da vida, de expressão do ser e de relação com o meio

amiente. Embora haja algu mas similaridades na descrição destes significados, as q u ais

aparecem mais como devendo ser, se destacam as diferenças nas percepções dos moradores da Casa-Lar , q u e evidenciam uma outra realidade de cu idado e de vida para eles/as e que permeara m as descrições dos temas. Tais constatações nos fazem afirmar ser o cuidado vita l para a vida em família e em sociedade, auxil iando o ser a preparar-se para a vida , a ser capaz de responder aos desafios que o viver em um mu ndo onde a violência e a i nj u stiça parecem tomar conta do viver cotidiano ( Silva, Bellaguarda, Voge, 1 998). Neste sentido, as cria nças e adolescentes, privados/as do cuidado em fa mília , te ndem a ter o seu futu ro comprometido, através do comprometimento da sua capacidade de ser, de cuidar d e si e do outro .

Dados os limites da amostra do estudo e a importância de investigações desta natureza , com vistas a tornar visível a real idade de cuidado em nossa sociedade, destacamos a necessidade de outros estudos em outros contextos. Se o cuidado é imprescind ível à vida e à construção de uma sociedade mais justa e , se constitui na essência da Enfermagem , então, ele necessita ser investigado nas suas mais d iferentes perspectivas ( Silva, Bellaguarda e Voge, 1 998) .

ABSTRACT: This i s a phenomenological a n d hermeneutic study. Its objective i s t o reveal the meaning

of "care" for children and adolescents who have suffered domestic violence. The investigation was carried out in two casas-lares (orphanage houses) in Florianópolis. These houses functioned as temporary shelters for either girls or boys who had suffered some kind of violence in their homes. The descriptions obtained th rough the answers and drawings of eighteen children and adolescents enabled us to characterize "care " as a way of promoting life, expressing oneself, relating to the

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environment, denying past experiences a n d resisting in order to survive.

KEWORDS : care, meanings, domestic violence

RESUMEN: Se trata de un estudio fenomenológico hermenéutico que tuvo como objetivo desvelar los significados de cuidado a partir de la experiencia vivida por los ninos y adolescentes víctimas de la violencia doméstica. Se desarrolló en dos Casas-Hogares en Florianópolis, que funcionan en régimen de albergue temporario y excepcional para ninos y adolescentes de sexo masculino y femenino víctimas de la violencia doméstica. Las descripciones obtenidas en las respuestas y en los dibujos de los dieciocho ninos y adolescentes nos han posibilitado caracterizar el cuidado como forma de promoción de la vida, de expresión dei ser, de relación con el medio ambiente y de la negación de las experiencias vividas y de resistencia para supervivir.

PALABRAS CLAVE : cuidado, significados, violencia doméstica

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Recebido em outubro de 2000 Aprovado em/unho de 200 1

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