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Artigo
original
Questionário
dos
Conhecimentos
da
Diabetes
(QCD):
propriedades
psicométricas
Maria
Rui
Sousa
a,∗,
Teresa
McIntyre
b,
Teresa
Martins
ae
Elsa
Silva
c aUnidadedeInvestigac¸ão,EscolaSuperiordeEnfermagemdoPorto(UNIESEP),Porto,PortugalbTexasInstituteforMeasurement,EvaluationandStatistics(TIMES),DepartmentofPsychology,UniversityofHouston,Houston,
EstadosUnidosdaAmérica
cCentroHospitalardoTâmegaeSousa,E.P.E.,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa21defevereirode2014 Aceitea9dejulhode2014 On-linea2deabrilde2015 Palavras-chave: Conhecimentosnadiabetes Diabetesmellitus
Questionáriodosconhecimentosna diabetes
r
e
s
u
m
o
EsteartigodescreveaspropriedadespsicométricasdoQuestionáriodosConhecimentosda Diabetes(QCD),desenvolvidoporSousaeMcIntyre(2003)equevisaavaliaros conhecimen-tosquepessoasdiagnosticadascomdiabetespossuemsobreasuadoenc¸aetratamento.O QCDtemcomoreferencialteóricoomodelodeautorregulac¸ãodeLeventhal.Oquestionário foiaplicadoa249indivíduosinscritosemcentrosdesaúdedodistritodoPorto,comdiabetes
mellitustipo2diagnosticadahámaisde12meses.Comafinalidadededeterminara fideli-dadeteste-retesteavaliou-seumasubamostrade123pessoasnumsegundomomento,com umintervalode30dias.Osparticipantespossuíamumaidade≥40anos,eram maioritaria-mentedosexofemininoeencontravam-senãoativosprofissionalmente.Aversãofinaldo QCDconsisteem20questõesagrupadasem3dimensões(Tratamento,controloecomplicac¸ões, CausaseDurac¸ão).OsresultadosindicamqueoQCDéfiáveleválidoparaapopulac¸ãoem estudo.
©2014TheAuthors.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.emnomedaEscolaNacional deSaúdePública.EsteéumartigoOpenAccesssobalicençadeCCBY-NC-SA (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/).
Diabetes
Knowledge
Questionnaire
(DKQ):
Psychometric
properties
Keywords:
Diabetesknowledge Diabetesmellitus
Diabetesknowledgequestionnaire
a
b
s
t
r
a
c
t
ThispaperdescribesthepsychometricpropertiesoftheKnowledgeaboutDiabetes Ques-tionnaire(QCD)developedbySousaandMcIntyre(2003)onthebasisoftheself-regulation modelofLeventhalandcolleagues.Itspurposeistoassesstheknowledgethatdiabetics haveabouttheirdiseaseandtreatment.Thequestionnairewasadministeredto249patients diagnosedwithType2DiabetesMellitusformorethan12months,enrolledinhealthcenters intheOportodistrict.Inordertodeterminetest-retestreliability,asecondadministration wasconducted30dayslaterinasubgroupof123patients.Participantswere≥40yearsold, weremostlyfemaleandweren’tprofessionallyactive.ThefinalversionoftheQCDconsists
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:mariarui@esenf.pt(M.R.Sousa). http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2014.07.002
0870-9025/©2014TheAuthors.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.U.emnomedaEscolaNacionaldeSaúdePública.EsteéumartigoOpen AccesssobalicençadeCCBY-NC-SA(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/).
of20itemsdistributedbythreedimensions(Treatment,controlandcomplications,Causesand
Duration).TheresultsshowthattheQCDisreliableandvalidinthepopulationunderstudy. ©2014TheAuthors.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.U.onbehalfofEscolaNacional deSaúdePública.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-SAlicense (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/).
Adiabetesmellituséumadoenc¸acaracterísticadospaíses desenvolvidoseemviasdedesenvolvimento,representando umdosprincipaisproblemasdesaúdequecausa incapaci-dadeemortalidade1.Calcula-seque10%dosgastosglobais
emsaúdesejamutilizadosnotratamentodestapatologia2.
Torna-se, por isso,necessária uma intervenc¸ãoefetiva por partedosprofissionaisdesaúdenoquerespeitaàprevenc¸ão etratamentodestadoenc¸a.
Oconhecimentoeaadesãoaoregimeterapêuticoéum aspetofundamentalparaumeficazcontrolodadiabetes,em queoindivíduo temumpapel ativoecolaborativono pla-neamentoeimplementac¸ãodoregimedetratamento.Vários fatoresinterferemnaadesãoaoregimeterapêutico. Gonder--Frederick, Cox eRitterband3 identificaram3 categoriasde
variáveis: individuais, sociais e ambientais. As variáveis individuais incluemascrenc¸aspessoaisde saúde,as com-petênciasdecoping,apsicopatologia,odistresspsicológico,a personalidadeeascaracterísticasdemográficas.Asvariáveis sociaisintegramosuportesocial,ascaracterísticasdafamília, asresponsabilidadesparentais,asinterac¸õescomos profissio-naisdesaúde,oimpactodadiabetesnaspessoassignificativas eosfatoressociodemográficos.Porúltimo,asvariáveis ambi-entaiscontemplamosistemadesaúde,oambientegeral,o ambientenotrabalho/escola,osprogramascomunitárioseos fatoresculturais.Aadesãoaoregimeterapêuticoda diabe-tesmellitusimplicafrequentementealterac¸õesnosestilosde vidadoindivíduoemdiferentesáreas,comonaalimentac¸ão, namedicac¸ãoenoexercíciofísico4,comimplicac¸õesdiretas
noseuquotidiano.Acomplexidadedotratamentodadoenc¸a constituiumabarreiraàadesãoaoregimeterapêuticoe contri-buiparaumineficazcontrolodadoenc¸a,sendo«umtratamento
extremamentedesafiantepelograudeenvolvimentoativoforado comumqueexigeaodoente»(p.34)5.
Oconhecimento que oindivíduo possui sobreos deter-minantes da saúde é fundamental para que possa tomar decisõesconscientestendocomo objetivocomportamentos saudáveis.Omesmoéválidoparaadoenc¸aetratamento,em queoconhecimentoéfundamentalparaodesenvolvimento decompetênciasnagestãodoregimeterapêutico.Como refe-remAlmeidaeMatos6,«dadaacomplexidadedocuidadodiário
dadiabetes,odoenteeafamíliaprecisamdesabercomolidarcom adoenc¸a,desdeoexecutar diáriode tarefasaosaberfazer ajus-tamentosnoregimede insulinaounadieta» (p.63). Apesardo conhecimento,porsisó,nãosersuficienteparaamudanc¸a comportamental,a literatura tem demonstrado que este é essencialnaadesãoaoregimeterapêutico1,7,8.
Umadasteoriasmaisvalidadasnacompreensãodos com-portamentos associados à doenc¸a e tratamento é a teoria deautorregulac¸ãodeLeventhaletal.9.Combasenesta
teo-ria,aspessoasformamcrenc¸aspessoaissobreasuadoenc¸a etratamento quesepodemagrupar emvárias dimensões: identidade,causa,consequências,durac¸ão, curaecontrolo,
eestadoemocional.Osconhecimentossobreadoenc¸ae tra-tamentosãopassíveisdeinfluenciareserinfluenciadospor estascrenc¸as,estandocomprovadoqueestasafetam igual-menteaadaptac¸ãoàdoenc¸a10,11.Assim,uminstrumentode
medidabaseadonestateoriapoderáserumamais-valiana compreensãoeadequac¸ãodaspráticasclínicas,privilegiando umaabordagemcentradanocliente.Aavaliac¸ãodos conhe-cimentosdapessoaacercadasuadoenc¸aetratamentoéum passoimportantenaidentificac¸ãodassuascrenc¸ase recur-sos,possibilitandoumplanodetratamentopersonalizadoe eficaz.Nocasodadiabetes,aidentificac¸ãodeáreasde des-conhecimentoacercadadoenc¸aetratamentopodeajudara orientaraeducac¸ãodoclienteeaidentificarcrenc¸asque pode-rãoprejudicarasuarecuperac¸ão.Existemváriasescalasque permitemidentificaroníveldeconhecimentossobrea diabe-tes,masquesãodirigidasapessoascomníveisdeliteracia maiselevados.Apesardeseencontraremreferênciasna lite-raturaaumaescalatraduzidaparaportuguês,estaestámais focadaemaspetosclínicos,nãocontemplandoasdimensões queformamascrenc¸aspessoais12.
Combasenestespressupostos,SousaeMcIntyre11
desen-volveram o Questionário dos conhecimentos da diabetes (QCD)quevisaidentificarosconhecimentosqueoindivíduo possuisobreadoenc¸aetratamento.Opresentetrabalhovisou avaliarascaracterísticaspsicométricasdoQCD,nosentidode verificarseestereúneoscritériospsicométricosnecessáriosà suautilizac¸ãocomseguranc¸anainvestigac¸ãonodomínioda diabetesenapráticaclínica.
Método
ParticipantesNesteestudoparticiparam249indivíduosinscritosemcentros desaúdedodistritodoPorto,comdiabetesmellitustipo2 diag-nosticadahámaisde12meses,comidadeigualousuperiora 40anosequeaceitaramparticiparnoestudo,tendoporbase umaamostrasequencialedeconveniência.Aparticipac¸ãofoi voluntáriaesujeitaaconsentimentoinformado.
Foramestudados166(66,7%)participantesdosexo femi-ninoe83(33,3%)dosexomasculino,comumaidademédia de 66,4 anos (DP=10,5), não havendo diferenc¸as estatisti-camente significativasna idade entre homens emulheres (t[247]=0,38;p=0,703).Noqueserefereaoestadocivil, veri-ficámos que 53,0% das mulheres e 89,2% doshomens são casados.Oshomensapresentammaiorescolaridade(M=4,36; DP=2,79) do que as mulheres (M=2,84; DP=2,11), apre-sentando estadiferenc¸a significado estatístico (t[246]=4,79; p=0,0001).Quantoàsituac¸ãolaboral,agrandemaioria,quer dosexofeminino(88,0%)querdosexomasculino(80,7%),já nãoseencontraativa.
Relativamenteàcaracterizac¸ãoclínicada amostra,mais especificamente à idade do diagnóstico da diabetes, não se encontraram diferenc¸as significativas entre os 2 sexos (t[246]=-1,09; p=0,278), sendo que nas mulheres a idade médiafoide56,1anos(DP=11,9)enoshomensde57,8anos (DP=11,1).Adurac¸ãomédiadadoenc¸anosparticipantesfoi de9,7anos(DP=8,2;Min.=1;Máx.=44).Dototaldaamostra, 234pessoasfaziamantidiabéticosorais.Éderealc¸arque49,2% dosparticipantes referiramnãoterqualquerajudafamiliar notratamentodasuadoenc¸a,relatandodificuldadesna ges-tãodoregimeterapêuticonacomponentealimentac¸ão24,6% dosdiabéticos,nacomponentemedicac¸ão5,9%eno exercí-ciofísico29,7%.Acomparac¸ãodestasdificuldadesentreos participantesfemininosemasculinosevidenciouqueapenas noexercíciofísicoasmulheresmostrarammaiordificuldade (2=3,85;p=0,03).Questionadosacercadeoutrosproblemas desaúde,71,5%referiuproblemasdevisão,55,8%hipertensão arterial,48,2%hipercolesterolemia,38,2%diminuic¸ãona sen-sibilidadedosmembrosinferiores,32,5%hipertrigliceriemia, 30,5%problemasdocorac¸ão,24,9%problemasrenaise14,1% antecedentesdeAVC.Contudo,apenasumapequena percen-tagemdeparticipantesrelacionouestesproblemasdesaúde comasuadiabetes.Amaiorpartedaamostra(54,6%)referiu antecedentesfamiliaresdediabetes.
Instrumentos
Utilizaram-se os seguintes questionários: o questionário sociodemográficoeclínico11 eoQCD11.Oquestionário
soci-odemográficoeclínicocontém13 itensdeformatovariado (perguntasfechadas eabertas) quequestionam acerca dos aspetosidade,sexo,estadocivil,escolaridade,situac¸ão labo-ral,profissãoatual ouanterior,agregadofamiliar, idade do diagnóstico, iníciodo tratamento com antidiabéticosorais, dificuldadesespecíficassentidascomotratamento,apoiode pessoassignificativas,problemasdesaúdeexistentes, famili-arescomdiabetesmellituseseuparentesco.
OQCDfoidesenvolvidocomvistaaavaliaroconhecimento daspessoasacercadadoenc¸aetratamento.Como foi refe-rido,adefinic¸ãodosdomíniosdoconhecimentoaavaliarteve porbaseomodelodeautorregulac¸ãodeLeventhal,quedefine várias dimensões de representac¸ão cognitiva da doenc¸a: identidade, consequências, causa, durac¸ão, controlo/cura e reac¸õesemocionais13.Estasdimensõesinspiraramasfacetas
deconhecimentosobreadiabetesavaliadaspeloQCD.A ver-sãooriginaldoQCDde35itensfoiobjetodeumestudopiloto queproduziuumaversãoinicialde28itensorganizadosnas seguintesdimensões:Identidade,Causas,Durac¸ão,Tratamento,
Limitac¸ões, Controlo eComplicac¸ões da diabetes. Nopresente estudo,quevisouumaanálisemaisaprofundadadas carac-terísticaspsicométricasdoQCD,optámospelaaplicac¸ãoda versãooriginal,quecontinha 35itens,umavezquealguns dositenseliminadospareciamterpertinênciaclínica(tabela 1).Estesitenstinhamsidorevistosporumpaineldeperitos queopinousobreasuarelevânciaecorrec¸ãoclínica,assim comooformatoderesposta.
OsitensdoQCDusadosnesteestudoapresentamum for-matocom3opc¸õesderesposta,talcomonaversãooriginal:
verdadeiro(V),falso(F)enãosei(NS).Ototaldasrespostas corre-tas(somadasrespostasVeFcorretas)constituiumamedida
dosconhecimentossobreadoenc¸aetratamento.Aanálise dasrespostaspordomínioemtermosderespostas incorre-tase«nãosei»,permiteidentificaráreasdedesconhecimento acercadadoenc¸aetratamento.
Paraqueosresultadosdecadadimensãovariassementre 0-100, facilitandoa suainterpretac¸ão ecomparabilidade, a pontuac¸ãodecadaparticipantenasdiferentesdimensõesem análise foi calculadaatravés de uma fórmula [
/Mx*100], sendoosomatóriodasrespostascorretasdoparticipante nadimensão;eoMxapontuac¸ãomáximapossíveldeobter nessadimensão.Procedimento
Todososparticipantesnoestudoforamdevidamente esclare-cidossobreoobjetivodomesmoesobreaconfidencialidade dosdados.Assegurou-seaparticipac¸ãovoluntáriaeo consen-timentoinformado.
Devidoao baixonível de escolaridadedosparticipantes o preenchimento do questionário foi efetuado, na maioria (81,1%)porheterorrelato.Osinvestigadoresforamorientados anãoinfluenciaremasrespostasdosparticipantes,sendo ape-naspermitidaarepetic¸ãodoitem2vezes.
Oestudodefidelidadefoirealizadoatravésdocálculodos coeficientesdeconsistênciainterna(Cronbachalfas)edo coefi-cientedecorrelac¸ãoteste-reteste(intervalode30dias),numa subamostra de 123pacientes. Avalidadede constructo foi estudadaatravésdeanálisesfatoriaisexploratóriaseanálises fatoriaisconfirmatórias.Aanálisefatorialexploratóriaincluiu aanálisede componentesprincipaisatravés dométodode rotac¸ãoVarimax.Paraavaliarseaestruturafatorialencontrada semostravaajustadaaummodeloteórico,procedemosauma análisefatorialconfirmatóriacomrecursoaoAMOS(versão 21,SPSS-IBM).Seguimososíndiceserespetivosvalores des-critosporMarôco14paraavaliaraqualidadedoajustamento
domodelo(CFI,PCFI,TLIeRMSEA).
Resultados
Apresentaremosdeseguida,osresultadosrelativosaoestudo devalidade(análisesfatoriaisexploratóriaseconfirmatórias), seguidos dosresultados relativos à fidelidade(consistência internaeteste-reteste).
Estudodevalidade
Para testaravalidadedeconstructodoQCDprocedeu-sea análisesfatoriaisexploratóriaseconfirmatórias.Omodelo ini-cial,obtidoporanálisefatorialexploratóriacomototaldos35 itensesemfixac¸ãodonúmerodefatores,gerouumamatriz de11componentesqueexplicavam60,69%davariâncianos valores doQCD. Todavia,a composic¸ãodos 11 fatoresnão erasuportadaporummodeloteóricocoerente.Procedeu-sea umasegundaanálisefatorialexploratória,forc¸andoa7 fato-res,paraanalisarasobreposic¸ãocomomodelosugeridopelos autoresnoestudodaversãooriginal11,nãosereproduzindoa
estruturafatorialdoQCDnasuaversãooriginal.Avariância explicadaporestasoluc¸ãofatorialfoide47,86%.Foram reali-zadasanálisesexploratóriassubsequentes,comindicac¸ãode
Tabela1–Questionáriodosconhecimentosnadiabetes–versãooriginalde35itens
Dimensões Itens
Identidade
1.Adiabetesédefinidaporterac¸úcaramaisnosangue
2.Adiabetesédefinidaporapessoatermuitasede
3.Adiabetesédefinidaporonossocorpoproduzirsempreinsulinaamais
4.Adiabetesédefinidaporhaverperdarápidadepeso
Causas
1.Adiabetespodesercausadaporcomermuitosdoces
2.Adiabetespodesercausadaporterpesoamais
3.Adiabetespodesercausadaporfazerumaalimentac¸ãopoucosaudável
4.Adiabetespodesercausadaporterpoucaatividadefísica
5.Adiabetespodesercausadaporterfamiliarescomdiabetes
6.Adiabetespodesercausadapornãodescansarosuficiente
Durac¸ão
1.Adiabeteséumadoenc¸aquedurapoucotempo
2.Adiabeteséumadoenc¸aquecuracompletamente,seodoentetomaramedicac¸ãoreceitadapelomédico
3.Adiabeteséumadoenc¸aqueédelongadurac¸ão
4.Adiabeteséumadoenc¸aquevaidurarparaorestodavida
5.Adiabeteséumadoenc¸aqueapareceedesaparece
Tratamento
1.Notratamentodadiabetesumaalimentac¸ãosaudávelétãoimportantecomoamedicac¸ãoreceitadapelo
médico
2.Notratamentodadiabetesodiabéticosódevecomer3vezespordia(aopequenoalmoc¸o,almoc¸oejantar)
3.Notratamentodadiabetesnormalmentetemquesetomarsempreamedicac¸ãoreceitadapelomédico
4.Notratamentodadiabeteséimportanteandarapé(tipomarcha)diariamenteecercade20minutos
5.Notratamentodadiabetesnãosedevecomermassas
Limitac¸ões
1.Odoentediabéticonãopodefazerginástica
2.Odoentediabéticonãopodenuncacomerbolos
3.Odoentediabéticonãopodeestarmuitashorassemcomer
4.Odoentediabéticonãopodefazerviagenslongas
Controlo
1.Paraadoenc¸anãopiorardevepraticar-seexercíciofísicováriasvezesporsemana
2.Paraadoenc¸anãopioraraquantidadedeac¸úcarnosanguedeveestarpróximodosvaloresnormais
3.Paraadoenc¸anãopioraréimportantevigiaratensãoarterial
4.Paraadoenc¸anãopiorarénecessáriofazerapicadanodedoparasaberosvaloresdeac¸úcarnosangue
5.Paraadoenc¸anãopiorarosvaloresdeac¸úcarnosanguedevemestarmuitobaixos
6.Paraadoenc¸anãopioraréimportanteavaliaraacetonanaurina
Complicac¸ões
1.Devidoàdiabetes,outrosproblemasdesaúdepodemacontecersóaosdiabéticosquefazeminjec¸õesde
insulina
2.Devidoàdiabetes,outrosproblemasdesaúdepodemcausardoenc¸asnosolhos
3.Devidoàdiabetes,outrosproblemasdesaúdepodemserevitadosouatrasadosseadoenc¸aforvigiadaebem
controlada
4.Devidoàdiabetes,outrosproblemasdesaúdepodemsurgirsemodiabéticodarporisso
5.Devidoàdiabetes,outrosproblemasdesaúdesópodemsertratadosdepoisdodoenteternotadosintomasou
sinais
4,5e6fatores,quetambémnãoproduziramsoluc¸ões coeren-tes.
Asoluc¸ãofatorialmaisconsistentedopontodevista empí-ricoeconceptualfoide3fatores,aqualpassamosadescrever. Estasoluc¸ãoimplicouaeliminac¸ãode11dos35itensda ver-sãooriginal(itens2,3e4dadimensãoIdentidade;itens1e6da dimensãoCausas;itens2e5dadimensãoTratamento;item4da dimensãoLimitac¸ões;itens1,3e5dadimensãoComplicac¸ões)
porapresentaremcarga fatorialinferiora0,40,seguindo as recomendac¸õesdePestanaeGageiro15.Analisandoarelac¸ão
decadaumdositenscomarespetivadimensão, considerou--se ainda oportuno a eliminac¸ão de mais 4itens por não apresentaremcoerênciaconceptualcomosrestantesitensdo fatoremqueestavamalocados(ositens1,2e3dadimensão
Limitac¸õeseoitem1dadimensãoControlo).Natotalidade,15 dos35 itensoriginaisforam eliminadosnaversão atualde validac¸ão.
A estrutura trifatorial final contempla 20 itens e apre-sentaumavariânciaexplicadade42,75%(tabela2),tendoa dimensãoTratamento,controloecomplicac¸ões10itens(variância explicadade24,33%),adimensãoDurac¸ão5itens(variância explicadade9,61%)eadimensãoCausastambém5itens (vari-ânciaexplicadade8,81%).Verifica-sequeoitem6,«Devidoà diabetes,outrosproblemasdesaúdepodemsurgirsemo dia-béticodarporisso»saturaem2dimensões(Tratamento,controlo ecomplicac¸õeseCausas),contudo,comumacargafatorial supe-riornadimensãoTratamento,controloecomplicac¸ões,peloque foiaíalocado.
Tabela2–Resultadosdaanálisefatorialexploratóriacomcomponentesprincipaiserotac¸ãoVarimaxdoQCD–20itens
(n=249)
Itensdoquestionário Componentes
Fator1 Tratamento controloe complicac¸ões Fator2 Durac¸ão Fator3 Causas
1-Paraadoenc¸anãopiorardevefazerapicadanodedoparasaberosvaloresde
ac¸úcarnosangue
0,830
2-Notratamentodadiabetesnormalmentedevetomarsempreamedicac¸ão
receitadapelomédico
0,722
3-Paraadoenc¸anãopioraraquantidadedeac¸úcarnosanguedeveestar
próximodosvaloresnormais
0,662
4-Paraadoenc¸anãopioraréimportantevigiaratensãoarterial 0,657
5-Devidoàdiabetes,outrosproblemasdesaúdepodemcausardoenc¸asnos
olhos
0,634
6-Devidoàdiabetes,outrosproblemasdesaúdepodemsurgirsemodiabético
darporisso
0,486 0,368
7-Notratamentodadiabeteséimportanteandarapé(tipomarcha)diariamente
ecercade20minutos
0,467
8-Paraadoenc¸anãopioraréimportanteavaliaraacetonanaurina 0,424
9-Paraadoenc¸anãopiorarosvaloresdeac¸úcarnosanguedevemestarmuito
baixos
0,383
10-Notratamentodadiabetesumaalimentac¸ãosaudávelétãoimportantecomo
amedicac¸ãoreceitadapelomédico
0,368
11-Adiabeteséumadoenc¸aquedurapoucotempo 0,804
12-Adiabeteséumadoenc¸aquevaidurarparaorestodavida 0,739
13-Adiabeteséumadoenc¸aqueédelongadurac¸ão 0,737
14-Adiabeteséumadoenc¸aquecuracompletamente,seodoentetomara
medicac¸ãoreceitadapelomédico
0,616
15-Adiabeteséumadoenc¸aqueapareceedesaparece 0,576
16-Adiabetespodesercausadaporfazerumaalimentac¸ãopoucosaudável 0,717
17-Adiabetespodesercausadaporterpoucaatividadefísica 0,640
18-Adiabetesédefinidaporterac¸úcaramaisnosangue 0,591
19-Adiabetespodesercausadaporterpesoamais 0,529
20-Adiabetespodesercausadaporterfamiliarescomdiabetes 0,352
Variânciaexplicada(total=42,75%) 24,33% 9,61% 8,81%
Valoresprópriosouespecíficos(Eigenvalue) 4,87 1,92 1,76
Adicionalmenteprocedeu-seaanálisefatorial confirmató-riaparatestaraadequac¸ãodomodelotrifatorialencontrado paraoQCD.Omodelorevelouumaqualidadedeajustamento razoável,mascom possibilidadede omelhorar(CFI=0,801; PCFI=0,704;RMSEA=0,076).Apósaeliminac¸ãodeoutliersea correlac¸ãodoserrosdemedida entreositens2,7e4com oitem1,eainda correlacionadososerrosdositens2com o9, eo 5com o 6,todos pertencentes àcomponente Tra-tamento,controloecomplicac¸ões,foipossívelobterummelhor ajustamento que suporta a validade fatorial deste instru-mento(CFI=0,908;PCFI=0,774;TLI=0,892;RMSEA=0,052).A figura1apresentaosvaloresdospesosfatoriais estandardiza-doseafiabilidadeindividualdecadaumdositensnomodelo final.
Aindacomoestudodavalidadedeconstructo, realizaram--secorrelac¸õesdeSpearmanentreas3subescalasdoQCD.O
Tratamento, controloecomplicac¸õesapresenta umacorrelac¸ão comaDurac¸ãoders=0,28;p=0,000ecomasCausasders=0,28; p=0,000.ADurac¸ãoapresentaumacorrelac¸ãocomasCausas
ders=0,18;p=0,005.Verifica-sequeestasdimensões apresen-tamcorrelac¸õesbaixasamoderadasentresi,oqueapoiaa especificidadedasmesmas.
Estudodefidelidade
Para avaliaraconsistência internados valoresobtidos nos itensdoQCD,calculou-seocoeficientealfadeChronbachpara as3subescalas(tabela3).Osvalores alfadeCronbach obti-dosforamde0,75paraasubescaladeconhecimentosaonível do Tratamento, controlo ecomplicac¸ões,de 0,74 para a subes-calaDurac¸ãoede0,61paraasubescalaCausas.Estesvalores indicamumaconsistênciainternaadequadaemboraos coefi-cientesalfasejamrelativamentemodestos(<80).Istodeve-se provavelmenteaofacto dehaverbaixavariância dositens, havendoumviéspositivonosentidodeconhecimentos ele-vadosnasváriasdimensões.Ovalormaisbaixodasubescala
Causaspoderáteraindaavercomomenornúmerodeitens destasubescala.
Relativamenteàfidelidadeteste-reteste,aestabilidade tem-poraldoQCDfoiavaliadaatravésdecoeficientesdecorrelac¸ão deSpearmanentreosvaloresdecadadimensãoeosvalores encontrados nointervalode30 dias. Osresultados demos-tramqueacorrelac¸ãoentreosconhecimentosnadimensão
Tratamento,controloecomplicac¸õesforamders=0,91;p=0,0001. AestabilidadenadimensãoDurac¸ãofoiders=0,93;p=0,0001
Item 10 e10 e9 e8 e7 e6 e5 e4 e3 e2 e1 e15 e14 e13 e12 e11 e20 e19 e18 e17 e16 Causas Duração ,52 ,46 ,27 Item 2 Item 7 Item 3 Item 4 Item 1 Item 9 Item 8 Item 5 Item 6 Item 11 Item 14 Item 13 Item 12 Item 15 Item 19 Item 16 Item 17 Item 20 Item 18 ,35 ,40 ,63 ,60 ,49 ,46 ,66 ,74 ,60 ,69 ,49 ,58 ,39 ,38 ,70 ,53 ,65 ,59 ,55 ,37 Tratamento controlo complicaçães
Figura1–ModelotrifatorialgeradopelaanálisefatorialconfirmatóriadoQCD-20itens;pesosfatoriaisestandardizadosde cadaitem.
enadimensãoCausasfoiders=0,97;p=0,0001,valores indi-cativosdeumaestabilidadetemporalelevada.
Estatísticasdescritivaseinfluênciasdemográficas eclínicas
Caracterizou-seaamostraemrelac¸ãoaosníveisde conhe-cimentos acercada doenc¸a etratamento de acordocom o QCD.Tendoemcontaqueomáximodecotac¸ãopossívelde alcanc¸aremcadasubescalaéde100,aanálisedas estatísti-casdescritivas(médiaedesviopadrão)das3subescalasdo QCD,mostra queosparticipantes apresentammais conhe-cimentosespecíficosnoTratamento,controloecomplicac¸õesda diabetes(M=88,07;DP=16,76),seguidopelosaspetos relaci-onadoscom aDurac¸ãoda doenc¸a(M=83,94; DP=25,19).Por outrolado,questõesrelativasàsCausas,nomeadamenteoque originaadiabetes,foiadimensãoondeaspessoas evidencia-rammaisdesconhecimento(M=74,94;DP=26,25),porémcom valores ainda elevadosde conhecimentos nesta dimensão. Analisandoasmedidasdetendênciacentralnestasvariáveis, constatamos queamoda emcada umadas dimensõesfoi de100 equea medianasesituaentre amédiaea moda, dandoaindicac¸ãodequesetratadeumadistribuic¸ão assi-métricapositiva(MedTratamento,controlo ecomplicac¸ões=90; MedDurac¸ão=100;MedCausas=80).
Procedeu-se ao estudoda relac¸ão entrevariáveis socio-demográficaseclínicas eosvaloresdoQCD emtermos da
idade, escolaridade,sexoetempodedoenc¸a (tempo decor-rentedesde odiagnósticoda doenc¸aatéàavaliac¸ãoatual). Realizaram-se coeficientes decorrelac¸ãode Spearmanentre as variáveis contínuas e testes t de Student para a variá-vel categórica (sexo). Constatou-se que a idade da pessoa nãoapresentacorrelac¸õessignificativascomasdimensõesdo QCD.Verificou-seumacorrelac¸ãobaixasignificativaentrea escolaridadeeasdimensõesTratamento,controloecomplicac¸ões
(rs=0,20;p=0,002),eaDurac¸ão(rs=0,17;p=0,008),sugerindo queparticipantes maisescolarizados têmmaiores conheci-mentosacercadadiabetesnasdimensõesreferidas.
Analisandoosresultadosemfunc¸ãodosexo,verificou-se que apenas nadimensão Tratamento,controlo ecomplicac¸ões
asmulheresdemonstrammenosconhecimentos (M=86,45; DP=17,30)doqueoshomens(M=91,33;DP=15,30),com resul-tadosestatisticamentesignificativos(t[247]=2,18;p=0,03).Em termos da variável clínica considerada, não se encontrou correlac¸ãosignificativaentreotempodedoenc¸aeosníveis deconhecimentoemqualquerdimensãodoQCD.
Discussão
OQCDfoidesenvolvidocomoobjetivodeavaliaros conhe-cimentos que aspessoas comdiabetes possuemacerca da sua doenc¸a etratamento, abordando as principais dimen-sõesqueomodeloderepresentac¸õesdedoenc¸adeLeventhal
Tabela3–ValoresdamédiaedesviopadrãoecoeficientesdeconsistênciainternadositensdoQCD-20(n=249)
Dimensões/itens M(DP) Correlac¸ão
item–Total
AlfadeCronbachseitem eliminado
Tratamento,controloecomplicac¸ões(alfatotal=0,75)
1-Paraadoenc¸anãopiorardevefazerapicadanodedopara
saberosvaloresdeac¸úcarnosangue
0,97(0,18) 0,578 0,715
2-Notratamentodadiabetesnormalmentedevetomarsemprea
medicac¸ãoreceitadapelomédico
0,96(0,19) 0,458 0,724
3-Paraadoenc¸anãopioraraquantidadedeac¸úcarnosangue
deveestarpróximodosvaloresnormais
0,89(0,32) 0,577 0,697
4-Paraadoenc¸anãopioraréimportantevigiaratensãoarterial 0,99(0,11) 0,442 0,735
5-Devidoàdiabetesoutrosproblemasdesaúdepodemcausar
doenc¸asnosolhos
0,92(0,27) 0,515 0,710
6-Devidoàdiabetesoutrosproblemasdesaúdepodemsurgir
semodiabéticodarporisso
0,81(0,39) 0,462 0,716
7-Notratamentodadiabeteséimportanteandarapé(tipo
marcha)diariamenteecercade20minutos
0,95(0,22) 0,429 0,724
8-Paraadoenc¸anãopioraréimportanteavaliaraacetonana
urina
0,64(0,48) 0,388 0,743
9-Paraadoenc¸anãopiorarosvaloresdeac¸úcarnosangue
devemestarmuitobaixos
0,72(0,45) 0,383 0,738
10-Notratamentodadiabetesumaalimentac¸ãosaudávelétão
importantecomoamedicac¸ãoreceitadapelomédico
0,96(0,20) 0,313 0,737
Durac¸ão(alfatotal=0,74)
11-Adiabeteséumadoenc¸aquedurapoucotempo 0,87(0,33) 0,587 0,666
12-Adiabeteséumadoenc¸aquevaidurarparaorestodavida 0,91(0,29) 0,536 0,690
13-Adiabeteséumadoenc¸aqueédelongadurac¸ão 0,92(0,28) 0,576 0,681
14-Adiabeteséumadoenc¸aquecuracompletamente,seo
doentetomaramedicac¸ãoreceitadapelomédico
0,79(0,41) 0,504 0,698
15-Adiabeteséumadoenc¸aqueapareceedesaparece 0,71(0,45) 0,417 0,747
Causas(alfatotal=0,61)
16-Adiabetespodesercausadaporfazerumaalimentac¸ão
poucosaudável
0,80(0,40) 0,471 0,498
17-Adiabetespodesercausadaporterpoucaatividadefísica 0,62(0,49) 0,478 0,483
18-Adiabetesédefinidaporterac¸úcaramaisnosangue 0,89(0,32) 0,257 0,601
19-Adiabetespodesercausadaporterpesoamais 0,63(0,48) 0,364 0,556
20-Adiabetespodesercausadaporterfamiliarescomdiabetes 0,82(0,39) 0,259 0,603
preconiza.Oestudodascaracterísticaspsicométricasdo ins-trumentonapresenteamostra resultounuma versãode20 itenscombonsíndicesdevalidadeefidelidade.Oinstrumento emestudoteve umaboaaceitac¸ão juntodosparticipantes, mostrando-seútilparapessoasmaisidosasecommenos lite-racia.
Aanálisefatorialexploratória nãoconfirmouas dimen-sõespropostasporLeventhaletal.indicandoqueaspessoas nestaamostratêmumaperspetivamenosdiferenciadados conhecimentossobre asuadoenc¸a etratamento. Assim, a soluc¸ãofatorialencontradaengloba3dimensõesemvezdas 7esperadas:Identidade,Causas,Durac¸ão,Tratamento,Limitac¸ões, ControloeComplicac¸ões.Ositensrelativosaotratamento, con-troloe complicac¸ões concentram-se numa só dimensão, o que pode ser explicado pela informac¸ão disponível acerca da doenc¸a, em que estes 3 aspetos estão habitualmente associados.Isto é, o controloda doenc¸a está intimamente relacionadocomotratamentoecomasconsequênciasque podemadvir.Parecequeestesaspetosdadiabetessão per-cecionados conjuntamentepelos participantes,o que pode também indicar alguma falta de diferenciac¸ão, por exem-plo, em relac¸ão ao significado do que está englobado no tratamentoda doenc¸a,versusoseu controlo.Este controlo
refere-seconcretamente àmonitorizac¸ãode algunsvalores comoaglicemia,cetonúriaetensãoarterial.Seráimportante queosprofissionaisenfatizemaimportânciadevigiarestes parâmetros,não comoumafinalidadeemsi,pois somente o atodemonitorizarnãoinfluenciadiretamente noestado da diabetes,masantescomo ummeiode adequaro trata-mento,deformaamanteradiabetescontrolada,evitandoou atrasandoassuasconsequências.Istoporqueanossa prá-ticaprofissionaltemreveladoqueestescomportamentosde autovigilância, emborafundamentais,são porvezes sobre-valorizadospelosutentes,remetendoparasegundoplanoos comportamentosdeautocuidado,relacionadosefetivamente comotratamento.
Asrestantesdimensõesreportam-seàscausaseàdurac¸ão da doenc¸a,correspondendo às categorias maisvalorizadas pelosprofissionaisdesaúdeemaisdistintasdopontodevista dosconhecimentosqueaspessoastêmacercadadoenc¸a.
Os valores de fidelidadeencontrados são indicativos de uma boa consistência interna para 2das suas subescalas. Os valores encontrados para a subescala Causas, embora aceitáveis, são maisbaixos, provavelmentedevido à baixa variabilidade narespostaaos itenseao menornúmero de itens,oqueafetaoscoeficientesdecorrelac¸ão.
Ascorrelac¸õesteste-retesteindicamqueoQCDapresenta umaelevadaestabilidadetemporal,tendosido encontrados valoresdecorrelac¸ãosuperioresa0,90aointervalode30dias, sugerindoqueosníveisdeconhecimentosacercada diabe-tessãobastanteestáveisnotempo.Nestecaso,osbonsníveis deconhecimentosapresentadospelos participantesna pri-meiraavaliac¸ãonãoparecemdiminuirnoespac¸odeummês,o queéumespac¸orazoável.Seriaimportante,emestudos futu-ros,avaliaraestabilidadedoQCDemperíodosdetempomais alargados(porexemplo,aos6meses)etambémemtermos doimpactodeprogramaseducacionaisdirigidosaoaumento dosconhecimentosdapessoaacercadasuadoenc¸ae trata-mento.SeráimportantedeterminarseoQCDésensívelauma intervenc¸ãoeducativa.
Tal como em estudos anteriores, os participantes da amostra revelaram bons níveis de conhecimentos sobre a diabetes11,16,17.Emgeral,verifica-seumabaixavariâncianos
valoresmédiosdassubescalas,quesãobastanteelevadosnas medidasdetendênciacentral(médiaemoda).Istosugereque estaamostratemconhecimentoselevadosacercadadoenc¸a etratamentoequeébastantehomogéneaaestenível.Será pertinente,nofuturo,realizarem-seestudoscomoQCDem amostrasmenoshomogéneas.
Noqueserefereàsdiferentesdimensões,os participan-tesdemonstrarammaioresconhecimentossobreoTratamento, controloecomplicac¸õesemenoresconhecimentosrelacionados comasCausas,resultadostambémencontradosporSousa11,
Paceet al.18 eHu, Gruber,Liu, ZhaoeGarcia19. Os
resulta-dos poderão estar relacionados com o tipo de informac¸ão queosprofissionaisdesaúdepriorizam,ouseja,aênfaseem aspetospráticosrelacionadoscomagestãodoregime tera-pêutico.Poroutrolado,osutentespoderãotambémvalorizara informac¸ãocomaplicabilidadenodia-a-dia.Contudo,os estu-dossobreasrepresentac¸õesdedoenc¸aqueusamomodelo deautorregulac¸ãotêmindicadoquearepresentac¸ãocognitiva queaspessoastêmsobreascausasdadoenc¸atemimplicac¸ões naadesão ao regimede tratamento20, o quesugere que a
educac¸ãoparaasaúdedapessoacomdiabetesdevetambém considerarestadimensão.
Algumas variáveis sociodemográficas demonstraram ter influêncianosconhecimentosacercadadiabetes.Verificámos queosdiabéticoscommaiorníveldeinstruc¸ãosabemmais sobreasuadoenc¸a.Fitzgeraldetal.21e,maisrecentemente,
Hu et al.19 também confirmaram maiores conhecimentos
sobre a diabetes nas pessoas com mais formac¸ão acadé-mica.Umestudoefetuadocomumapopulac¸ãodepessoas não diabéticas, mas onde esta doenc¸a tinha elevada pre-valência geográfica, revelou que as pessoas com maior níveleducacionaltinhammaioresconhecimentosacercada patologia22.
Nesteestudo,asmulheresevidenciarammenos conheci-mentos,oquepoderáestar relacionadocomomenornível de escolaridadedas mesmas, sendo essa diferenc¸a apenas significativanadimensãoTratamento,controlo ecomplicac¸ões.
Al-Sarihinetal.23tambémencontraramdiferenc¸asnos
conhe-cimentos acerca da diabetes entre homens e mulheres, argumentandoqueabaixaliteraciaqueelaspossuemestará nabasedessesresultados.
O tempo de convívio com adoenc¸a não influenciouos conhecimentosglobaisacercadadiabetes.Frequentemente,
nestapatologia,nãoseverificaumadeteriorac¸ãovisíveldo estadodesaúdeacurto/médioprazo.ComoreferemLeventhal eBenyamini9,aformacomoaspessoaspercecionamosseus
sintomasinfluenciaoseucomportamento.Éassimde espe-rarque,perantepoucasintomatologiadadoenc¸a,aspessoas nãosesintammotivadasaprocurarmaisinformac¸ão, prin-cipalmentequandoconsideramquejápossuemanecessária paralidarcomadoenc¸anodia-a-dia.Aspolíticasdesaúde têmvindoareforc¸aranecessidadedeproporcionaraos clien-tesrecursosinformativosquelhespermitamcompreendera suadoenc¸aetomardecisõesesclarecidas.Estaapostapode refletir-senumapopulac¸ãomaisesclarecidaacercada diabe-tes.Assim,nocasodestaamostra,osconhecimentosacerca dadoenc¸aforamelevados,independentementedoestádioda doenc¸a.
Osresultadosrelativosàinfluênciadefatores demográfi-cosnosníveisdeQCDpermitemidentificargrupos-alvopara intervenc¸ãoeducativa.Asmulhereseosutentescommenor escolaridadeparecemnecessitardemaisatenc¸ãoemtermos educacionaisacercadadiabetes.
Estequestionário,tendocomoreferencialteóricoomodelo de autorregulac¸ãode Leventhal,permite avaliaros conhe-cimentos que as pessoas têm sobre a sua diabetes em 3 dimensões importantes da sua doenc¸a:Tratamento, controlo ecomplicac¸ões,CausaseDurac¸ão.Estasdimensõestêm com-provadarelevânciaemtermosdascrenc¸asacercadadoenc¸a etratamentoesubsequentemente,noscomportamentosde adesão terapêutica, quesão essenciaisà gestão econtrolo da doenc¸a. OQCD pode seruminstrumentoimportante a utilizarpelostécnicosdesaúdeparaidentificaráreasde des-conhecimentoacercadadiabeteseorientarasintervenc¸ões educativas.
Através deste trabalho foi possível verificar que o QCD revela ser um instrumento fiável e válido para avaliar os conhecimentos gerais que as pessoas possuem sobre a sua diabetes. As opc¸ões metodológicas assumidas na realizac¸ãodesteestudoseguemasrecomendac¸õesmais clás-sicas de avaliac¸ão de instrumentos de medida24. Porém,
o estudo dos aspetos psicométricos deveria ser ponde-rado com o cruzamento de aspetos mais clinimétricos25.
Seriamdesejáveisnovosestudos,emamostrassemelhantes, quecomprovassemosresultadosapurados naanálise fato-rial confirmatória, para assim confirmar o modelo teórico tridimensional. Na prática clínica poderá ser um instru-mento útil para orientar a educac¸ão para a saúde. Em termos de futuros estudos, será importante continuar a testar a validade do QCD, especialmente com populac¸ões commaiorvariabilidadedeníveldeconhecimentossobrea doenc¸a.
Investigac¸ões futuras sobre o impacto de campanhas comunitáriasouintervenc¸õesindividuaisoudegrupo, desti-nadasaaumentarosconhecimentosdapessoacomdiabetes sobreasuadoenc¸aetratamento,poderãobeneficiardouso doQCDparaavaliarosconhecimentospréepós-intervenc¸ão.
Conflito
de
interesses
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