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Os próximos 30 anos

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Os próximos 30

anos

O

que fazer para garantir a sobrevivência da ABEP, para que ela possa

comemorar 60 anos? Em primeiro lugar, é preciso garantir, do ponto de vista demográfico, a reprodução dos associados.

José Alberto Carvalho – (...) há algo absolutamente notável, e isso foi muito bem chamado à atenção pela Carmen Miró no último encontro, que são as gerações novas. Na maior parte dos países da América Latina, principalmente depois da desativação do ensino no Celade, a comunidade de demógrafos é uma comunidade de terceira idade. Hoje, a pirâmide tem aquele pico, só tem lá em cima, nada para baixo, muito pouca gente. O México é melhor nesse sentido, mas eu acho que as comunidades brasileiras, os nossos encontros mostram bem isso, os jovens hoje são maioria. O que significa isso? Significa, primeiro, a capacidade da comunidade de se reproduzir. Isso, para o demógrafo, nós sabemos que é absolutamente fundamental. Segundo, não somente formalmente são

ATIVIDADES ABEPIANAS

- Reunião Técnica sobre o Censo de 1991. Belo Horizonte, 4 de fevereiro de 1992.

“Organizada por iniciativa da ABEP, com o decisivo apoio da Secretaria de Planejamento de Minas Gerais, essa reunião, realizada na Fundação João Pinheiro, teve por objetivos: - dialogar com representantes do IBGE, a fim de se obter informações mais objetivas e detalhadas sobre o andamento dos trabalhos do Censo 91;

- ouvir a opinião dos demógrafos presentes sobre os resultados parciais já divulgados pela imprensa;

- reunir subsídios para alicerçar uma eventual tomada de posição da ABEP em relação às notícias divulgadas pela imprensa sobre o Censo.” (Informativo Abep, n°42, janeiro-abril/1992, p. 10).

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distribuídos títulos de mestres, doutores, essas pessoas se formam e a grande maioria continua envolvida na área. E é um pessoal que faz questão de ir aos encontros, e deles participar a todo vapor. Isso, para mim, é o mais fundamental de tudo. Por quê? Significa que nós vamos garantir o futuro. Há países em que a situação é absolutamente lamentável. Eu acho isso extremamente importante. Coleta Oliveira – (...) hoje eu vou à ABEP, metade das pessoas que estão lá, ou mais da metade, eu não conheço. O que é fantástico, porque antes você conhecia cada qual. Os encontros da ABEP eram momentos, a cada dois anos, de encontrar os amigos. Hoje em dia não, eu não conheço aqueles jovens todos, animadíssimos. É fantástico.

Para que esta reprodução possa acontecer, é preciso formar jovens demógrafos. Desde os tempos do Cedip e dos cursos de curta duração oferecidos pela ABEP, sobretudo nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, tem havido capacitação de novos quadros. Atualmente, os três programas de pós-graduação em Demografia – Cedeplar, Nepo e ENCE – têm feito a sua parte. Há, ainda, o curso de especialização em Demografia da UFRN, criado em 2004. Há, ainda, os especialistas na área de Demografia Histórica, no Cedhal e na UFPR. Além destes, é preciso também difundir a demografia através de disciplinas ofertadas em cursos de graduação. Afinal, são os bacharéis que avançam rumos às pós-graduações. Mais ainda, disciplinas de graduação são uma forma de sensibilizar os futuros profissionais das mais diversas áreas sobre a importância de se levar em consideração os aspectos demográficos, o que pode motivar, no futuro, uma maior contratação de demógrafos, a fim de suprir esta demanda.

Paulo Paiva – Creio, se me lembro um pouco ainda, que na segunda metade dos anos 70, início dos anos 80, foi feito um esforço de fazer cursos de especialização em diferentes regiões do Brasil. Era um pouco treinar as pessoas PRIMEIRA EDIÇÃO INTERNACIONAL DA Rebep

“Durante a realização da XXIII Conferência Mundial da IUSSP, em outubro passado, foi distribuído o número inaugural do Brazialian Journal of Population Studies. Esta publicação é iniciativa da Diretoria da ABEP, que tem publicado a Revista Brasileira de Estudos Populacionais- Rebep, desde 1984, com a importante colaboração do IBGE.” (Informativo Abep, n°53, setembro-dezembro/1997, p. 2).

AGENDA PARA A CONFE-RÊNCIA DO CAIRO- 1994 Outubro de 1993: Diana Sawyer e Neide Patarra entregaram ao Itamaraty o Relatório Síntese dos resultados dos seminários preparatórios para o Documento Brasileiro para a Conferência do Cairo. (Informativo Abep, n°42, janeiro-abril/1992, p. 3).

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das universidades e no setor público para que utilizassem os instrumentais da demografia para suas análises, principalmente no caso do planejamento no setor público, na definição de políticas públicas, desenvolvimento urbano, desenvolvimento regional etc., que teve um desenvolvimento. E que perdeu um pouco o seu momento com a crise dos anos 80, em que planejamento deixou de ter papel importante, passou a uma preocupação mais de curto prazo, de ajuste, de crise da economia e de ajuste. Acho que essas coisas se perderam um pouco.

Neide Patarra – Uma coisa vocês [Cedeplar] estão fazendo, o Nepo começou a fazer também, que é a inserção da demografia nas graduações das Ciências Sociais. Isso, eu acho que é o caminho a ser explorado. Tem que fazer parte da formação de (...) Geografia, da Economia, da Sociologia, de repente até na Antropologia. Isso eu não tenho a menor dúvida.

Jair Santos – Eu estava mudando da USP de São Paulo para a USP de Ribeirão Preto, para a Faculdade de Medicina, foi em 2002 que eu assumi. Essa mudança começou em 2001, assumi em 2002. Pouco antes de assumir,

O XI ENCONTRO

Segundo mensagem da sessão de abertura do XI Encontro, este fora, até aquele momento, o maior da história da ABEP, com 350 inscritos até a solenidade inicial. (Informativo Abep, n°55, maio-agosto/1998).

XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, Caxambu, Minas Gerais, 2004

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perto da época que já estava tudo aprovado, eu estava muito preocupado porque iam começar vários cursos novos na faculdade de medicina, na faculdade para onde eu ia, curso de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, nutrição e metabolismo, informática biomédica. E mais tarde ia começar ciência da informação e documentação. Eu estava muito preocupado, querendo influir na grade curricular desses cursos novos, para que tivesse pelo menos uma disciplina parecida com demografia. A minha surpresa, quando cheguei na comissão de graduação para pedir a grade curricular, para poder sugerir, já estava a demografia. Eles nem tinham professor ainda. Não tiveram que contratar, porque eu cheguei, mas estava a demografia, com uma ementa um pouco feita por leigo, mas já estava lá. Eu acho isso muito marcante, numa escola que está começando cursos novos, nunca teve uma tradição em demografia, nem na medicina, enfim, eu acho que a gente acaba vendendo o peixe.

O ensino de demografia nos leva a pensar no passo subseqüente: o mercado de trabalho. Haverá trabalho para todos os demógrafos que vêm sendo formados nos cursos de pós-graduação? Há divergências de opinião.

Daniel Hogan – (...) nós [as universidades públicas] não vamos poder absorver essas pessoas [doutores que estamos formando]. Nem os mais brilhantes deles. Então, eles vão, uma parte para o setor privado, infelizmente, mas também vão para outras universidades, outros departamentos. Vão começar a criar grupos mais densos, um demógrafo na estatística, outro demógrafo na história, outro demógrafo...

EDITORIAL

“A avaliação do XIII Encontro da ABEP, realizado em novembro último, é destacada neste informativo através do relatório dos GTs e Comitês. O informativo inclui também outras notícias referentes aos pré-eventos realizados, o componente internacional do evento, além da prestação de contas substantiva desta gestão, lida na assembléia geral. Mesmo aceitando a máxima de que quantidade não significa necessariamente qualidade, o significativo número de 470 participantes inscritos, além da diversidade temática, refletiu uma proposta deliberada desta gestão na direção da abertura de novas frentes de atuação para a associação. Também merece especial atenção a elaboração do documento de Ouro Preto durante o XIII Encontro, propondo a criação da Associação Latino-Americana de População (ALAP). O documento é publicado neste informativo. Outro ponto de destaque foi a elaboração de uma Mini-Plenária conjuntamente com a Population Association of America (PAA), contando com a coordenação do Joe Potter e a participação de dois presidentes da PAA (Philip Morgan e Paul Demeny)”. (Informativo Abep, n°68, setembro-dezembro/2002).

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Paulo Paiva – Esse é um tema realmente mais complicado. Empregabilidade aqui no Brasil é um fenômeno muito complicado. Felizmente, hoje eu não tenho mais tanta responsabilidade pública com essa questão. Acho que o demógrafo, puro e simples, que tenha uma formação simplesmente com os instrumentais da demografia, sem complemento com outras disciplinas, possivelmente tem um mercado de trabalho muito mais restrito, porque o mercado de trabalho acaba sendo ou em instituições estatísticas, como IBGE, Seade, Fundação João Pinheiro, ou na academia. A capacidade de ter uma formação um pouco mais erudita, que utiliza a análise demográfica com economia ou com ciências sociais, eventualmente isso te abre um campo de mercado maior. Por exemplo, eu acho que o economista, com formação econômica e com uma formação demográfica, tem alguns nichos de mercado, principalmente com relação à possibilidade de trabalhar com instituições financeiras que têm preocupações com fundos de pensão, questões dessa natureza.Eu acho que do ponto de vista do mercado de trabalho, nosso mercado de trabalho requer profissionais mais polivalentes. Acho que aí frustra um pouco a pessoa, que vai à escola, aprende todo um instrumental, e acha que vai no mercado e o mercado vai te absorver dessa forma. Não é desse jeito que funciona o mercado. O mercado hoje está mais, existe um mercado com mais facilidade para o trabalhador polivalente, para quem chega no mercado e seja capaz de trabalhar com várias coisas simultaneamente, e seja flexível para se ajustar às soluções, às demandas

Sessão da PAA no XIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 2002. Ouro Preto. André Caetano, Phil Morgan, Paul Demeny e Joe Potter.

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EDITORIAL

“Iniciamos hoje uma etapa de nossa jornada, utilizando os meios eletrônicos à nossa disposição para lançarmos o Informativo Eletrônico ABEP. Esta iniciativa acolhe críticas e sugestões feitas por nossos associados que de um lado, apontavam para a necessidade de um instrumento de comunicação ágil e, de outro, que fôssemos capazes de transmitir informações relevantes, em tempo hábil, para que todos pudessem fazer o melhor uso delas”. ( Informativo Eletrônico- Ano 1, n.01/03, p. 1).

e às alterações que ocorrem dentro da empresa ou dentro (...) pensando especificamente no mercado de trabalho no setor privado. Penso um pouco dessa forma. No setor público também hoje ainda os concursos para o setor público seguem as profissões tradicionais. Tem mais vaga para economistas, ou para cientistas sociais, do que para demógrafos ou para alguma posição de uma área com escopo mais restrito.

Diana Sawyer – Até agora, eu acho que ninguém teve problema de empregabilidade depois (...) da universidade. Eu acho que durante, ainda, esse período, até a população do Brasil se estabilizar, estacionar, porque vai estacionar lá para 2050, acho que o demógrafo vai ser uma criatura necessária em quase todos os setores de políticas públicas. Acho que é o momento mesmo (...) agora, depois que estabilizar, não sei o que vai ser. Mas nos próximos 50 anos, eu tenho certeza que um demógrafo, com formação em demografia, vai ter emprego. A gente vê pelas demandas. (...) a hora que a gente menos espera, pede projetos para a gente relacionados com a demografia, em termos de demanda, do que vai acontecer. Essa parte, eu não me preocupo.

Neide Patarra – Quando você coloca uma reflexão para frente, eu digo para você que essa coisa me preocupa muito. (...) Me preocupa muito o mercado de trabalho, (...) me preocupa muito a ausência da demografia no delineamento das grandes políticas. Eles usam o trabalho da gente. (...) adoidado. Mas [demógrafo] não é parte constitutiva do organograma oficial (...) nem na academia, nem nos órgãos de ciência e tecnologia. Eu acho que foi o Eduardo que levantou essa coisa da demografia na empresa privada. Eu acho que tem algum espaço na empresa privada, mas o conhecimento que eles querem (...) dinâmica populacional (...) melhor projeção é essa, agora você faz o que quiser com ela. Não é (...) nós temos compromissos. E como vamos fazer.

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Encontro Regional e ALAP

“É com enorme satisfação que anunciamos o sucesso de nossa chamada de resumos para o XIV Encontro Nacional. Tivemos nada menos que 488 resumos submetidos! Isto coloca nosso Encontro na lista dos mais concorridos entre as associações científicas com eventos desse porte. (...) O Congresso da ALAP será realizado em Caxambu, nos dias 18 a 20 de setembro, ou seja, imediatamente antes do nosso Encontro Nacional, portanto uma ótima oportunidade para a participação em ambos os eventos.” (Informativo Eletrônico - Ano 2, n.01/04, p. 1).

Como os presidentes vêem o futuro da ABEP?

Diana Sawyer – A ABEP hoje já é uma associação consolidada, grande, não é aquela coisa que a gente ia. (...) hoje a ABEP é um lugar para você discutir o que está acontecendo na demografia. Acho que daqui a 30 anos vai continuar assim.

Daniel Hogan – O que eu vejo é que nós vamos, em 10 anos, 20 anos, vamos ter uma ABEP muito mais diversa, em termos das participações institucionais. E não só porque aquela antropóloga da Unicamp, que estuda família, acha interessante participar da ABEP, porque tem uma interlocução aqui sobre família, que é interessante, mas o demógrafo do departamento de antropologia de qualquer universidade, de não sei onde, vai para lá. Eu acho que isso é fatal. O que vão fazer todas as pessoas que estão se formando? Não vão largar a demografia. Fazem doutorado na área, é um investimento forte. A ABEP vai servir de ponto de apoio, identidade profissional para essas pessoas, mesmo se estiverem num departamento isolado (...).

George Martine – É muito difícil dizer. Mas eu esperaria ter um período dentro do qual realmente haverá uma maior integração das atividades do dia-a-dia dos associados com, digamos, a essência da atividade econômica e social do país. Comprometimento com a melhoria das condições de vida da população. Certamente a questão ambiental vai estar no centro, cada vez mais. Inevitavelmente. Até agora, a gente não percebeu muito a gravidade do assunto, mas é inevitável. (...) e outras questões, relacionadas com a desigualdade, a redução da desigualdade. Eu acho que também é um tema. Raça, etnia, religião. Acho que tudo isso inevitavelmente vai fazer parte da preocupação social, e portanto do núcleo, da essência das atividades da instituição.

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Comentário sobre os encontros Regionais e ALAP

“(...) Aprendemos com a maturidade da comunidade de estudos da população. Dadas as crescentes e conhecidas dificuldades, consideramos um grande êxito o cumprimento de nossa programação científica que contou com 75 trabalhos apresentados nas 19 Sessões Temáticas no Congresso da ALAP e 198 trabalhos nas 48 Sessões Temáticas da ABEP. (...) Apesar da complexidade que a realização conjunta dos dois eventos trouxe, pudemos tirar proveito dela do ponto de vista do intercâmbio com nossos colegas da América Latina. Além da intensa troca intelectual que o Congresso da ALAP nos permitiu, foi também nesta oportunidade que teve lugar a Assembléia Constitutiva da Associação Latino-Americana de População, a qual elegeu sua primeira Diretoria e aprovou seu Estatuto. Desse modo, termos hoje uma associação Latino-Americana de estudos sócio-demográficos plenamente constituída e reconhecer o papel crucial da ABEP nesse processo é o retorno de todo o esforço adicional na realização dos dois eventos simultâneos.” (Informativo Eletrônico - Ano 2, n.09/04, p. 2).

Coleta Oliveira – Eu vejo a ABEP [daqui a 30 anos] ainda como um núcleo institucional. Mas eu tenho a impressão, isso é um palpite, que a gente vai ter que evoluir para um modelo de rede. (...) que, no fundo, essas forças centrífugas, que são os GTs, ou as áreas de interesse na verdade, ganhem mais autonomia, não no sentido de que dependem da ABEP como um todo, mas no sentido de serem o nó de uma rede mais ampla, esses grupos. Quer dizer, dentro de uma mesma associação, de um mesmo organismo institucional, mas que elas mesmas sejam o nó de outras redes. E que tenham seus programas de atividade, ainda que com a chancela da ABEP, mas que tenham mais autonomia. Se a área crescer, eu acho que é por aí. Eu acho que será um modelo de rede.

Eduardo Rios-Neto – Difícil imaginar. (...) Provavelmente, daqui a 30 anos a ABEP vai ser cada vez mais virtual. Como tem essas redes de discussão agora. Talvez eu imagine uma ABEP com mega encontros virtuais, redes de discussão, todo mundo com telões, ou da própria casa, uma coisa mais interativa. Eu consigo imaginar uma coisa assim. Nesse contexto, se a ABEP for bem sucedida, porque isso não tem como ter limite de estado-nação, a não ser o da língua, provavelmente a ABEP será uma líder global nisso, como acho que a ABEP já é uma líder global. (...) Então, nesse mundo virtual, eu acredito que a ABEP, e pela força que eu vejo na demografia brasileira, independente da força que o Brasil tenha, que é diferente, em termos geopolíticos, eu sou menos otimista em relação a isso. Eu sou mais otimista com a consciência de

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demografia do que com a força geopolítica do Brasil. E acho que a ABEP pode ser um líder global. Talvez você tenha encontros virtuais, muito mais do que encontros reais, em 30 anos. Mas eu não tenho dúvida que a ABEP, qualquer que seja o resultado, a ABEP vai estar forte. Se os encontros forem no molde dos atuais, vão continuar sendo encontros fortes.

Elza Berquó – Quanto mais ela [a ABEP] preservar o caráter plural que ela tem, ela sobreviverá. No momento em que ela se transformar num braço político, seja lá de quem for, ou de que partido for, ou de que ideologia for, aí ela está perdida. A meu ver, o que garante a sobrevivência da ABEP, e outras associações, é o fato dela não se transformar em braço absolutamente de coisa nenhuma, a não ser o conhecimento. A divulgação do conhecimento, a difusão do conhecimento, a incorporação cada vez mais desse grupo jovem que vai entrando para o campo, lutar para dar condições para que as pesquisas (...) tudo bem, a ABEP tem o papel de cobrar do CNPq, da Capes, isso sim. É o papel dela. Por quê? Porque esses recursos são fundamentais para que a pesquisa sobreviva. E ela sempre tem que lutar, como está lutando, para ter recursos para seus encontros. E esses recursos, as origens dos recursos não podem de forma alguma comprometer a sua performance. Se isso for preservado, cada vez mais o futuro dela será ampliado. Porque esse tema, população, não sai da agenda. Pelo contrário, ele se torna cada vez mais complexo, e não há dúvida nenhuma que a associação tem que estar aberta para incorporar toda essa complexidade. Mas jamais perder a pluralidade. Jamais.

Ao final de cada entrevista6, solicitei aos presidentes que deixassem

uma mensagem para os jovens demógrafos. Apesar de terem sido pegos de surpresa diante de tanta responsabilidade, eles não decepcionaram.

Paulo Paiva – Não havia pensado nessa coisa. Eu acho que, primeiro, como é fascinante, através da dinâmica demográfica, você conhecer a história das transformações que ocorreram com a sociedade nos últimos, pelo menos nos últimos 200 anos. Mudanças interessantes, porque demografia, o estudo da população, (...) a longo prazo, te permite ver processos mais longos, que o nosso horizonte não nos permite. Você ter uma visão mais de longo prazo. E da relatividade de algumas coisas que a gente acredita que são mais definitivas.

 Exceto nas duas primeiras, Elza Berquó e Daniel Hogan, nas quais esta pergunta, lamentavelmente,

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A segunda, eu acho que nós temos grandes desafios pela frente no nosso país, e que o conhecimento da relação de crescimento populacional, dinâmica e transformações da população, e a economia e as políticas públicas podem te ajudar a buscar soluções para melhorar o bem-estar da população brasileira. (...) Eu acho que conhecer a inter-relação entre a dinâmica demográfica e esses processos de crescimento econômico e de políticas públicas, eu creio que te ajuda muito a tentar procurar intervir nas decisões, no sentido de melhorar o nosso país.

Diana Sawyer – Que mensagem a gente pode dar para o jovem demógrafo? Eu acho que é importante para o jovem demógrafo é que eles se sintam demógrafos. Eu acho que esse é o ponto principal. Não perder perspectivas, seu objeto de estudo, com essa ramificação toda que tem aí.

Eduardo Rios-Neto – O que eu deixo de mensagem para os jovens demógrafos é nunca deixar de praticar os fundamentos. Se eles tiverem os fundamentos bem feitos, sejam eles na base demográfica pura ou na interface com qualquer das áreas de ciências humanas, eles sempre vão ter uma questão interessante para tratar. Esse é o lado interessante da demografia. Como a demografia se refere à população, ou seja, se refere ao ser humano na sociedade, isso irrita as outras áreas, o demógrafo é como se fosse um oportunista, porque muda a temática, o primeiro a chegar lá é o demógrafo. Se a temática é criança, é o demógrafo. Se a temática é o idoso, é o demógrafo. Se a temática é família, é o demógrafo. Se é ruptura de família, é o demógrafo. Se é HIV, é o demógrafo. Então, eu acho que um demógrafo bem preparado no fundamento, ele consegue sobreviver à moda e agüentar o tempo. Isso que é o futuro.

Coleta Oliveira – Duas coisas eu acho importantes. Uma, não buscar e nem pretender unanimidade. Isso não existe, e cada vez menos existirá. O que não quer dizer que não haja propostas vencedoras, propostas bem sucedidas. EDITORIAL

A ABEP vai completar 30 anos em 2006 e a atual Diretoria tem centralizado seus esforços para dar continuidade às atividades da Associação e, simultaneamente, fazer um balanço da trajetória dessas três décadas de vida. (...) Como parte de nossa agenda abepiana, e em meio a essas reflexões, decidimos, conjuntamente com o nosso Conselho Consultivo, que o XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais está centrado em torno do tema ‘Desafios do Crescimento Zero’”. (Informativo Eletrônico- Ano 3, n.01/05, p. 1).

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Revista Brasileira de Estudos da População-REPEB Nota do Editor

“Este número especial da Revista Brasileira de Estudos de População- cuja apresentação é motivo de muita satisfação para nós - resulta de uma idéia concebida por ocasião da comemoração do 20º aniversário da publicação”.(...) O projeto editorial contemplou uma pauta dedicada à evolução do campo da demografia no Brasil, buscando o testemunho de estudiosos especialmente convidados, incluindo todos os presidentes da Associação Brasileira de Estudos Populacionais-Abep.” (Informativo Eletrônico- Ano 4, n.03/06, pp. 1,2). Mas não buscar unanimidade. Segundo, a articulação fora da ABEP, fora da

demografia, no sentido de aprender com os outros e trazer para dentro. Eu acho que isso é super importante.

George Martine – Eu acho que não deve haver preocupação com o political correctness [politicamente correto]. Acho que tudo tem que ousar, enfrentar os conservadorismos, as velharias. E não ter medo de se expressar.

José Alberto Carvalho – A mensagem que posso deixar a eles é a seguinte: as gerações mais velhas conseguiram, ainda que muitas vezes por razões fortuitas, criar uma área de conhecimento da demografia no Brasil, a associação, as instituições. E nós estamos passando para eles essa herança, que vai depender totalmente deles. Muitas vezes, para o jovem isso pode parecer fácil, as coisas estão construídas. Mas foi com muito sacrifício, dedicação, e principalmente com muita solidariedade, lealdade entre nós. Cabe a eles continuar esse legado, a responsabilidade agora é deles. Eu espero que aproveitem os ensinamentos do passado, as críticas que fiz aqui, que procurem não repetir [os erros].

Neide Patarra – (...) a gente não deixou para eles tudo que as nossas batalhas sonharam em deixar. Porque nessa luta, em muitos momentos nós fomos perdedores. Perdedores como sociedade, perdedores como país, perdedores num contexto internacional difícil. Se isso é verdade, por outro lado (...) uma trajetória institucional brasileira, nas ciências sociais, na estatística, (...) de uma qualidade humana, intelectual, científica, que é específica do Brasil. (...) o nível da produção dos intelectuais da academia nessas áreas. Não só nessas áreas, nós somos ótimos em física, nós somos ótimos em biologia. Mas nas ciências sociais a gente também (...) juntando ciências exatas (...) a gente criou um caldo de cultura, e nesse caldo de cultura (...) tinha um nível de excelência, uma

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Fachada do Sheraton Rio Hotel & Towers, no Leblon.

busca de um nível de excelência intelectual, mas um compromisso (...) como cidadãos (...). A ABEP concentrou na trajetória de profissionais, de pessoas absolutamente comprometidos com as questões sociais, políticas do país. (...) eu acho que eles [os jovens] vão, seguramente, [continuar esta trajetória] (...).

A ABEP, no fundo, nada mais é do que uma expressão do que é a demografia brasileira hoje.

Jair Santos – Talvez usando uma certa nostalgia, na verdade eu tenho a impressão de que a gente não sabia, mas tinha a intuição de que estava construindo realmente uma coisa grande e duradoura, que é a nossa demografia brasileira de hoje.

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